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Academic year: 2021

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Tribunal Superior do Trabalho

ACÓRDÃO

7ª Turma DCVF/el

RECURSO DE REVISTA. GARANTIA PROVISÓRIA DE EMPREGO. INDENIZAÇÃO. DOENÇA PROFISSIONAL. MALÁRIA. O Tribunal Regional, soberano na análise da matéria fática, foi expresso ao afirmar que o autor contraiu malária durante o exercício de seu contrato de trabalho em território africano, não existindo controvérsia quanto a esse ponto. Afirmou, ainda, que não obstante a empresa tenha fornecido equipamentos de proteção e realizado prevenção com a utilização de fumacê contra o mosquito transmissor, essas medidas não se mostraram eficazes. Dessa forma, ao manter a condenação ao pagamento de indenização decorrente da garantia provisória de emprego, o TRT o fez em conformidade com a parte final do item II da Súmula n° 378 desta Corte. Recurso de revista de que não se conhece.

MULTA PREVISTA NO ARTIGO 475-J DO CPC. INAPLICABILIDADE AO PROCESSO TRABALHISTA. O entendimento predominante nesta Corte Superior é de que o artigo 475-J do CPC não se aplica ao processo do trabalho, porquanto a Consolidação das Leis do Trabalho não é omissa em relação à matéria, possuindo disciplina própria, consubstanciadas nos arts. 880 e seguintes, que preveem o prazo e a garantia da dívida por depósito ou a penhora de bens quantos bastem ao pagamento da condenação. Nesse ponto, merece reforma o acórdão regional. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista n° TST-RR-557-77.2010.5.22.0105, em que é Recorrente CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S.A. e Recorrido FRANCISCO LUCIANO SILVA SANTOS.

Em face do acórdão às fls. 357/364-seq.01, complementado às fls. 384/385-seq.01, oriundos do Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região, a reclamada interpõe recurso de revista (fls. 387/399-seq.01).

Despacho de admissibilidade às fls. 405/407-seq.01. Contrarrazões às fls. 410/411-seq.01.

Dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, nos termos do artigo 83, § 2º, II, do Regimento Interno do TST.

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É o relatório. VOTO

Presentes os pressupostos extrínsecos de admissibilidade, passo à análise dos pressupostos recursais intrínsecos.

GARANTIA PROVISÓRIA DE EMPREGO - INDENIZAÇÃO – DOENÇA PROFISSIONAL - MALÁRIA

CONHECIMENTO

A reclamada alega que não deve ser aplicada ao caso a responsabilidade objetiva. Afirma que é cabível a responsabilidade subjetiva para os casos envolvendo acidente de trabalho e doença ocupacional. Sustenta que a doença que acomete o autor é de natureza endêmica, não podendo ser considerada como doença do trabalho, portanto, não preenche os requisitos para o reconhecimento da estabilidade provisória. Afirma, ainda, que forneceu os equipamentos de proteção individual e de prevenção contra o mosquito transmissor. Aponta violação dos artigos 7°, XXVIII, da CF, 927 do CC, 20, § 1°, "d" e 118 da Lei n° 8213/91, bem como contrariedade à Súmula n° 378 desta Corte. Transcreve arestos para o confronto de teses.

Eis os fundamentos do acórdão regional:

"A parte reclamada insurge-se, ainda, em face da condenação ao pagamento da indenização decorrente de estabilidade provisória em face do ex-empregado ter adquirido malária, doença endêmica no território africano.

Conforme entendimento explanado pelo juízo de origem, a malária restou caracterizada como doença profissional, oriunda do ambiente laboral, equiparada, portanto, a acidente de trabalho, com aplicação, ín casu, da teoria da responsabilidade objetiva.

Não merece guarida o inconformismo da recorrente nesse ponto. A Lei n° 8.213/91, em seu art. 20, § 1°, alínea ‘d’, estabelece que: (...)

Não existe qualquer tipo de controvérsia em relação ao fato do trabalhador ter adquirido malária na vigência do pacto laboral. Não se discute também no feito que referida doença é endêmica no continente africano.

A exceção prevista na lei previdenciária resta configurada no presente caso, quando se comprova que a doença endêmica foi contraída pela exposição em ambiente laboral, equiparando-se a

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acidente de trabalho e, portanto, com direito à estabilidade, ante o fato do reclamante trabalhar ao ar livre, com total sujeição ao vetor da malária, o mosquito anopheles.

A parte reclamada sustenta que a responsabilidade do empregador é subjetiva e não objetiva, e que não teria o reclamante demonstrado culpa ou dolo por parte da empresa empregadora.

Não há se desprezar que o texto constitucional, ao se referir às hipóteses de culpa do empregador, remonta à convivência com o Código Civil de 1916 que, no art. 159, adotava a responsabilidade subjetiva do causador do dano. Mas a evolução protetiva dos direitos fundamentais sociais está hoje a consagrar a responsabilidade objetiva, como no art. 927, parágrafo único, do Código Civil de 2002.

A teoria objetivista, que se calca na teoria do risco profissional, dispensa o empregado de provar a culpa do empregador, porquanto o acidente decorre do risco inerente ao trabalho.

No caso em tela, a responsabilidade objetiva é perfeitamente aplicável, considerando que o local de trabalho onde o reclamante exercia suas atividades colocava o mesmo em risco permanente ao vetor da doença, com culpa presumida da empresa em caso de acidente. Ainda que a empresa eventualmente tenha fornecido equipamentos de proteção e realizado prevenção com utilização de fumacê contra o mosquito transmissor, não se mostraram as medidas eficazes e, ademais, não há exclusão da responsabilidade de quem se beneficia da atividade do trabalhador, bem como suporta os riscos do empreendimento.

Mantém-se, pois, a sentença recorrida nesse ponto." (fls. 361/362-seq.01)

O Tribunal Regional, soberano na análise da matéria fática, foi expresso ao afirmar que o autor contraiu malária durante o exercício de seu contrato de trabalho em território africano, não existindo controvérsia quanto a esse ponto. Afirmou, ainda, que não obstante a empresa tenha fornecido equipamentos de proteção e realizado prevenção com a utilização de fumacê contra o mosquito transmissor, essas medidas não se mostraram eficazes.

Assim, infirmar as conclusões a que chegou o Tribunal Regional, conforme pretende o recorrente, exigiria necessariamente o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado, nesta instância recursal, nos termos da Súmula nº 126 desta Corte.

Portanto, apesar de ter aplicado a teoria da responsabilidade objetiva, verifica-se que o Tribunal Regional acabou configurando a existência de culpa da reclamada, pois, apesar de fornecer os equipamentos de proteção e realizado prevenção com a utilização de fumacê contra o mosquito transmissor, estas medidas não impediram que o autor contraísse a doença.

A malária é considerada uma doença profissional, consoante o disposto no item XIV da lista B do anexo II do Decreto nº 3.048/99.

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A Súmula nº 378, II, desta Corte dispõe:

"ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ACIDENTE DO TRABALHO. ART. 118 DA LEI Nº 8.213/1991. CONSTITUCIONALIDADE. PRESSUPOSTOS (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 105 e 230 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a consequente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade com a execução do contrato de emprego. (primeira parte - ex-OJ nº 230 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)."

Da transcrição do acórdão recorrido, verifica-se que a doença profissional do reclamante guarda relação de causalidade com a execução do contrato de trabalho. Dessa forma, ao manter a condenação ao pagamento de indenização decorrente da garantia provisória de emprego, o TRT o fez em conformidade com a parte final do item II da citada súmula.

Nesse mesmo sentido o seguinte julgado desta Corte:

"GARANTIA DE EMPREGO. DOENÇA PROFISSIONAL. MALÁRIA. Infere-se do quadro fático apresentado pelo TRT que ficou comprovado que o reclamante, residente no Brasil, quando dispensado, estava enfermo, infestado pelo parasita causador da Malária e que adquiriu a doença, em razão do labor prestado à reclamada, em zonas endêmicas de Angola. Assim, a revisão das alegações feitas no recurso de revista, quanto ao momento da aquisição da doença e a falta de nexo causal, demandariam o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado a esta Corte, nos termos da Súmula nº 126 do TST. A malária é considerada uma doença profissional, nos termos do item XIV da lista B, do anexo II do Decreto nº 3.048/99, e segundo o Regional, ela foi adquirida pelo empregado no ambiente de trabalho, quando trabalhava em Angola, conquanto sua residência fosse no Brasil, local onde foi contratado. Embora Angola seja região endêmica da patologia, o reclamante lá não residia e ficou exposto, prestado, ao vetor da doença, em razão do trabalho realizado naquela região. Não demonstrada, neste particular, a violação direta do art. 20, § 1º, d, da Lei nº 8.213/91. Quanto à questão eminentemente de direito (estabilidade provisória), constata-se que a decisão recorrida encontra-se em sintonia com a atual jurisprudência desta Corte, consubstanciada na parte final do item II da Súmula nº 378 do TST. Recurso de revista de que não se conhece." (Processo: RR - 148800-79.2007.5.15.0034 Data de Julgamento: 07/08/2012, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 17/08/2012)

Incide o óbice do artigo 896, §§ 4° e 5°, da CLT. Não conheço.

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MULTA PREVISTA NO ARTIGO 475-J DO CPC - INAPLICABILIDADE AO PROCESSO TRABALHISTA

CONHECIMENTO

A reclamada alega que o artigo 475-J do CPC é inaplicável ao processo do trabalho. Aponta violação dos artigos 769, 876 e 890 da CLT. Transcreve arestos para o confronto de teses.

O Tribunal Regional assim decidiu: "(...)

A aplicação do normativo em apreço ao processo do trabalho já vem sendo constatada, a exemplo do aresto a seguir:

(...)

À luz do exposto, forçoso é concluir pela aplicação da multa do art. 475-J, do CPC, no processo trabalhista, mantendo-se intacta, nesse ponto, a sentença a quo." (fl .363-seq.01)

A jurisprudência desta Corte têm se firmado no sentido de que a aplicação, no processo do trabalho, da multa prevista no artigo 475-J do CPC importa violação do devido processo legal, nos termos do artigo 5º, LIV, da Constituição Federal; uma vez que não há omissão que autorize aplicação subsidiária do CPC, nos termos do artigo 769 da CLT, ante a previsão constante nos arts. 880 e seguintes da CLT para a execução dos débitos trabalhistas.

Neste sentido, cito os seguintes precedentes:

"RECURSO DE REVISTA. EXECUÇÃO. APLICABILIDADE DA MULTA DO ARTIGO 475-J DO CPC AO PROCESSO DO TRABALHO. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 5º, INCISO LIV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Inicialmente, a alegação de ofensa aos artigos 769, 880, 883 e 889 da CLT não têm o condão de impulsionar o processamento do recurso de revista em fase de execução, nos termos do artigo 896, § 2º, da CLT e da Súmula nº 266 do TST. Contudo, apesar de a invocação genérica de violação do artigo 5º, incisos II, LIV e LV, da Constituição Federal de 1988, em regra, não ser suficiente para autorizar o conhecimento do recurso de revista com base na previsão do § 2º do artigo 896 da CLT, na medida em que, para sua constatação, seria necessário concluir, previamente, ter ocorrido ofensa a preceito infraconstitucional, esta Corte, com ressalva do entendimento pessoal do Relator, tem decidido pela inaplicabilidade do artigo 475-J do CPC ao processo do trabalho, ante a existência de previsão legislativa expressa na CLT sobre o tema, porquanto os artigos 880 e 883 da CLT regulam o procedimento referente ao início da fase executória do julgado, sem cominação de multa pelo não-pagamento espontâneo

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das verbas decorrentes da condenação judicial, motivo porque sua aplicação acarretaria ofensa ao devido processo legal, de que trata o artigo 5º, inciso LIV, da Constituição Federal. Recurso de revista conhecido e provido. (...)" (TST-RR-359042-78.1996.5.09.0095; Rel. Ministro José Roberto Freire Pimenta; 2ª Turma; DEJT 02/09/2011)

"RECURSO DE REVISTA - PROCESSO DE EXECUÇÃO. ARTIGO 475-J DO CPC. INAPLICABILIDADE AO PROCESSO DO TRABALHO. OFENSA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. Segundo a jurisprudência majoritária desta Corte, o artigo 475-J do CPC é incompatível com o processo do trabalho, vez que a execução trabalhista processa-se nos termos dos artigos 876 e seguintes da CLT. Recurso de Revista conhecido e provido." (TST-RR-239900-49.2007.5.15.0153; Rel. Ministro Márcio Eurico Vitral Amaro; 8ª Turma; DEJT 19/08/2011)

"(...) PROCESSO DO TRABALHO. REGIME LEGAL SUBSIDIÁRIO. ARTIGO 475-J DO CPC. MULTA. INAPLICABILIDADE. O direito processual comum somente é aplicado subsidiariamente ao Processo do Trabalho naquilo em que este é omisso, e desde que não haja incompatibilidade entre ambos, nos termos do art. 769 da CLT. Assim, haja vista o estatuído nos artigos 880 e seguintes da CLT, os quais disciplinam a execução forçada da condenação judicial no processo trabalhista, infere-se não haver a omissão legislativa autorizadora da aplicação do direito processual comum. Outrossim, há verdadeira incompatibilidade de normas, eis que o caput do art. 880 da CLT estipula que o executado efetue o pagamento da quantia devida ou garanta a execução em 48 horas, sob pena de penhora, ao passo que o art. 475-J do CPC fixa o prazo de 15 dias para que o devedor proceda ao pagamento, aqui sujeitando-se a multa, em caso de inadimplemento. Destarte, é inadmissível a aplicação do disposto no art. 475-J do CPC ao Processo do Trabalho, sob pena de violação do art. 5º, LV e LIV, da Constituição Federal. Conhecido e, no particular, provido." (TST-RR-118300-49.2009.5.03.0113; Rel. Ministro Emmanoel Pereira; 5ª Turma; DEJT 24/06/2011)

Por todo o exposto, mostra-se viável o processamento do apelo, por violação do art. 769 da CLT, ante a ausência de omissão do diploma trabalhista quanto ao tema.

Assim, conheço do recurso de revista na forma do art. 896, "c", da CLT. MÉRITO

A consequência lógica do conhecimento do apelo, por violação do art. 769 da CLT, é o seu provimento.

Dou, pois, provimento ao recurso de revista da reclamada para afastar a aplicação da multa prevista no art. 475-J do CPC.

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ACORDAM os Ministros da Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do recurso de revista apenas e quanto ao tema "multa prevista no artigo 475-J do CPC - inaplicabilidade ao processo trabalhista", por violação do art. 769 da CLT, e, no mérito, dar-lhe provimento, para afastar a aplicação da multa prevista no art. 475-J do CPC, com ressalva de entendimento da Exma. Ministra Delaíde Miranda Arantes. Valor da condenação e custas inalteradas.

Brasília, 12 de junho de 2013.

VALDIR FLORINDO

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