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SURDEZ E APRENDIZAGEM MATEMÁTICA: UMA REFLEXÃO ACERCA DA RESOLUÇÃO DE ATIVIDADES DE RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO EM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

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SURDEZ E APRENDIZAGEM MATEMÁTICA: UMA REFLEXÃO ACERCA DA RESOLUÇÃO DE ATIVIDADES DE RACIOCÍNIO COMBINATÓRIO EM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM

SIMONE D`AVILA ALMEIDA1 – (PPGEduc/UFRRJ). ALINE TERRA SALLES 2 – (PPGEduc/UFRRJ). Resumo

O objetivo deste texto é articular as idéias apresentadas por (BAIRRAL, 2007) acerca da aprendizagem matemática em Ambientes Virtuais de Aprendizagem. Ênfase será dada a utilização do Virtual Math Teams – (VMT-Chat) que é um chat peculiar composto de duas partes fundamentais: uma destinada à inserção de mensagens gráficas e a outra a produção e interação entre seus usuários através da utilização da linguagem escrita. Utilizamos como referencial teórico a perspectiva histórico-cultural baseada nos estudos de Vygotsky (1989). O estudo foi realizado em uma escola da rede pública municipal de Duque de Caxias localizada na Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro. Participaram da pesquisa, seis alunos surdos 9º ano de escolaridade. A opção pela utilização de referencial metodológico seguindo os pressupostos da pesquisa qualitativa (MINAYO, 2000; GLAT E PLETSCH, 2009), se deu devido à necessidade de compreender o processo de aprendizagem matemática em ambientes virtuais por alunos surdos. A coleta dos dados foi realizada através da utilização dos seguintes recursos: 1) Utilização de questionário e entrevista semi-estruturados, 2) observação participante (registro em diário de campo), 3) utilização de filmagem (análise de vídeo) com foco na interação entre os alunos e 4) transcrições escritas e gráficas realizadas no próprio ambiente virtual. Os dados coletados foram submetidos à análise de conteúdo que tem como referencial Bardin (1997). Destacamos que os resultados evidenciaram a dificuldade de interpretação de enunciados matemáticos escritos em Língua Portuguesa, o mesmo não ocorrendo quando os problemas foram propostos em Libras, bem como evidenciamos a re-significação dos conceitos matemáticos efetivando, portanto, a aprendizagem significativa através da utilização de ambientes virtuais e da mediação simbólica por parte das pesquisadoras.

Palavras-chave: surdez; linguagem; aprendizagem matemática; Virtual Math Teams.

1

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEduc/UFRRJ). Professora substituta da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ/IM). Tutora do curso de Pós-graduação em D.A da UNIRIO e professora de Sala de Recursos Multifuncional para alunos surdos da rede municipal de Duque de Caxias.

E-mail: davilasimone@yahoo.com.br

2

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEduc/UFRRJ). Professora substituta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/maracanã). . E-mail: alinets.math@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO

Ser surdo predispõe a percepção do mundo através de experiências sensoriais diferenciada das que a maioria de nós ouvintes estamos habituados, pois além de dificultar ou muitas vezes impossibilitar a compreensão da fala humana dificulta também o aprendizado através de situações de oralidade as quais a comunidade ouvinte está constantemente exposta.

Em meio a esta constatação, surge a internet que se bem utilizados pode vir a contribuir para a inserção desses indivíduos em condições favoráveis em nossa sociedade de forma a auxiliá-los no processo de construção de sua autonomia e cidadania plena, através da modificação das formas de comunicação entre as pessoas (Brand apud Harasim, 2005 p. 337).

A internet oferece uma diversidade de ferramentas direcionadas ao acesso de informação e conhecimento bem como de possibilidades reais de comunicação com o mundo. No entanto, todas as possíveis vantagens atribuídas a utilização da internet estão ainda pouco acessíveis ao surdo.

Esta afirmação tem como base a constatação de que é comum as mídias possuírem uma interface que não contempla as especificidades lingüísticas atribuídas a comunidade surda usuária da Libras, justamente por estarem fundamentadas no paradigma ouvinte.

Vale destacar, que as pesquisas direcionadas a aprendizagem desses indivíduos tendo como prática pedagógica a utilização de mídias educativas ainda são muito incipientes no que tangem a sua abordagem em estudos em nível de doutorado ou mestrado.

Almeida (2013) relata a análise de 158 pesquisas em nível de doutorado e mestrado, dispostas no Banco de Teses da CAPES no período de 2008 a 2013, abordando a temática surdez. Os resultados evidenciaram dentre outro que embora tenha havido crescimento significativo, apenas quatro pesquisas, ou seja, 2,53% encontram-se diretamente relacionadas à utilização das mídias no processo de ensino aprendizagem de alunos surdos.

No que concerne a realização de pesquisas tendo como foco a utilização de ambientes virtuais para a aprendizagem matemática, tema de nossa pesquisa, Salles (2013) apresenta os dados de um estudo utilizando o mesmo banco de dados no período de 2002 a 2011, para investigar os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) utilizados e seus principais contextos. Dentre os estudos realizados nesse período, nenhum deles apresentava como sujeitos os surdos. Em outro levantamento bibliográfico realizado por Salles (op. cit.) neste mesmo local de busca foram encontrados apenas dois trabalhos em nível de doutorado abordando a temática ensino de análise combinatória – ramo da matemática pouco explorado no ensino da disciplina e com grande potencial inerentes a esses problemas – que possibilita a engenhosidade e criatividade dos envolvidos através de múltiplas formas de resolução.

2. OBJETIVOS

Este trabalho tem como objetivo contribuir com essa demanda investigando a aprendizagem matemática de alunos surdos mediados por um ambiente virtual específico: o Virtual Math Teams – VMT-Chat na resolução de problemas com atividades de introdução a combinatória. 3. METODOLOGIA

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O presente texto apresenta os resultados de um estudo que aborda o processo de

aprendizagem matemática em um ambiente virtual através da resolução de problemas de análise combinatória por alunos surdos em uma escola pública da Baixada Fluminense. Nessa direção, a análise está pautada em três aspectos que consideramos fundamentais no processo de aprendizagem virtual por alunos surdos, a saber: 1) interação aluno/aluno e a mediação do pesquisador, e 2) utilização da Língua Portuguesa escrita e da Libras aliada a pedagogia visual em ambientes virtuais.

Visando contemplar os objetivos propostos adotamos os referenciais da pesquisa qualitativa, tendo como base os pressupostos etnográficos (PLETSCH & GLAT, 2007). Desta forma, foram empregados como instrumentos de coleta de dados: 1) Utilização de questionário e entrevista semi-estruturados, 2) observação participante (registro em diário de campo), 3) utilização de filmagem (análise de vídeo) com foco na interação entre os alunos e 4) transcrições escritas e gráficas realizadas no próprio ambiente virtual. Para a análise dos dados optou-se pelo método de “análise de conteúdo3”.

Conforme já mencionado anteriormente, a pesquisa4 foi desenvolvida em uma escola pública localizada no município de Duque de Caxias, Estado do Rio de Janeiro, ao longo de aproximadamente quatro encontros de coleta de dados. Participaram da investigação: cinco alunos surdos do 8º e 9º ano de escolaridade atendidos no AEE (Atendimento Educacional Especializado) e uma professora da sala de recursos multifuncionais.

Quadro nº1. Caracterização dos alunos surdos participantes da pesquisa. Identificação

(nome fictício)

Idade Ano de

escolaridade

Breve descrição dos alunos/diagnóstico5

Cunha 14 9º Aluna com surdez neurossensorial, bilateral severa. Usuária apenas da Libras.

Silva 19 8

º

Aluno com surdez neurossensorial, bilateral profunda. Usuário apenas da Libras.

Linda

17 9º Aluna com surdez neurossensorial, bilateral severa. Usuária da Libras e da Língua Portuguesa na modalidade oral. Santos

17 9º Aluna com surdez neurossensorial, bilateral severa. Usuária da Libras e da Língua Portuguesa na modalidade oral. Souza 20 9º Aluno com surdez neurossensorial,

bilateral severa. Usuário apenas da Libras.

3

Método de interpretação dos dados utilizado seguindo a proposição de Laurence Bardin (1977). 4

A pesquisa foi realizada entre os dias 02 de agosto a 16 de agosto de 2013. 5

Os alunos surdos apresentados no quadro apresentam diferentes graus de competência linguística em função da subjetividade de cada um como, por exemplo, o grau e o tipo de surdez, a época em que a surdez foi adquirida e também e a estimulação recebida por intermédio de seus familiares.

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Quadro 2. Caracterização do professor do AEE participantes da pesquisa. Identificação

(nome fictício)

Experiência na área de surdez

Formação/Especialização Área de atuação

Sara 12 anos Graduação em Matemática e

especialização em Educação Especial com ênfase em surdez e certificado de proficiência no ensino da Libras6 em nível médio.

Classe especial para alunos surdos, AEE para alunos surdos e aula de Libras para turmas de alunos ouvintes. do 5º ano de escolaridade. 3.1. O ambiente virtual de matemática: VMT-Chat

The Math Forum @ Drexel7 é um espaço destinado a Educação e Educação Matemática na Internet que é administrado pela Faculdade de Educação da Drexel University, Philadelphia - USA, e tem como objetivo fornecer recursos, produtos e serviços para o ensino e aprendizagem de matemática. Fundado em 1992, inicialmente era apenas um fórum de geometria que foi ampliado em 1996 se tornando esse espaço de qualidade que é reconhecido pelos diversos serviços prestados como suporte na aprendizagem de alunos, professores em formação inicial e em desenvolvimento profissional, pesquisadores, pais e educadores interessados em matemática e educação matemática integrada com as tecnologias.

Desde a sua criação seus idealizadores trabalham por atualizações e melhorias no espaço virtual. Uma de suas novidades foi criado em 2003, o Virtual Math Teams (VMT-Chat), que é o ambiente virtual de aprendizagem utilizado neste estudo

Esse ambiente foi criado para que os alunos trabalhem e façam matemática online além de fazer parte de projetos de pesquisa educacional que investiga temas como: a aprendizagem colaborativa, a interação dos alunos, problemas que podem ser propostos no ambiente.

O VMT-Chat é o ambiente utilizado para a resolução do problema pelos alunos e para acessá-lo8 é necessária a realização de um cadastro para gerar nome e senha de acesso ou através de um cadastro previamente criado pelo pesquisador através das ferramentas do administrador.

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De acordo com o decreto 5.626/2005, o PROLIBRAS (exame de proficiência em Libras) é promovido anualmente pelo Ministério da Educação em parceria com o INES (Instituto Nacional de Surdos). Devendo ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes surdos e linguistas de forma a avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua, habilitando aquele que aprovado exercerá a função de intérprete, instrutor ou o professor de Libras.

7

Veja a história do The Math Forum acessando o link: http://mathforum.org/about.forum.html 8

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Figura 1 – Página para log in

Fonte: Print screen da página inicial

Com a obtenção do nome e senha de acesso é possível ingressar no site do VMT Lobby e em seguida escolher a atividade a participar.

Figura 2 – Salas virtuais

Fonte: Print screen da página inicial

Localizado o problema a ser trabalhado é preciso clicar sobre o mesmo e fazer o download da sala virtual.

O VMT é um ambiente virtual de aprendizagem singular, com diversas ferramentas interativas, a seguir apresento a sua interface:

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Figura 3 - Tela do VMT-Chat

Fonte: Print screen da tela do ambiente virtual

Constituído de duas partes fundamentais e irrestritas aos participantes em sua funcionalidade: o quadro branco (whiteboard), espaço para desenhar, inserir figuras, responder, etc. isto é, para representações gráficas e área de chat para representações textuais. Nesses dois espaços tudo o que é feito estará disponível a todos os participantes.

Após o momento para conhecer o ambiente (chamamos de ambientação) é proposto uma tarefa para ser resolvida com o grupo no chat. Terminada a sessão é possível gerar um documento com toda a transcrição escrita de todos os participantes, inclusive de seus feitos no quadro branco (whiteboard). Além disso, é possível gerar um “real player” de toda a manipulação feita no quadro branco pelos participantes em ordem cronológica.

É importante dizer que nesse ambiente as mensagens do chat e as ilustrações no quadro branco acontecem no processo interativo constantemente, não havendo predominância nem importância de um espaço em relação ao outro como sublinhado em Salles e Bairral (2010). Em razão disso, entendo que o processo interativo deve ser visto como uma conjunção (BAIRRAL; POWELL, 2008) e a inter-relação dos espaços e a natureza dual do ambiente é importante para o desenvolvimento do raciocínio matemático como sublinhou Çakir et al. (2009).

A análise dete trabalho utiliza os dados da implementação realizada com cinco alunos surdos da Escola Municipal Santa Luzia, localizada em Duque de Caxias, baixada fluminense do Rio de Janeiro. Aproveitamos o laboratório de informática da própria escola para realizar as atividades. Os participantes não conheciam o ambiente virtual. Eles interagiram (no mês de agosto de 2013) em atividades de combinatória através dos bate-papos com duração total aproximada de 2h, divididas em três sessões.

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4. DESENVOLVIMENTO: DIÁLOGO ENTRE O REFERENCIAL TEÓRICO E OS RESULTADOS DA PESQUISA

Os resultados encontrados serão gradativamente apresentados de acordo com os seguintes eixos apresentados anteriormente: (1) Interação aluno/aluno e a mediação do pesquisador através da utilização da pedagogia visual em ambientes virtuais.

(1) Interação aluno/aluno e a mediação do pesquisador através da utilização da pedagogia visual em ambientes virtuais

Como relatado anteriormente, os encontros foram realizados na sala de informática da escola, pois acreditávamos ser este o ambiente mais propício para a realização da pesquisa. O primeiro encontro foi marcado por muita curiosidade por parte dos alunos e de uma das pesquisadoras, que se encontrava pela primeira vez imersa no universo da surdez.

Estavam presentes também, mais uma pesquisadora e a professora da sala de recursos multifuncional. Ambas funcionavam como intérpretes para garantir a comunicação entre os envolvidos na pesquisa.

Inicialmente a proposta foi o reconhecimento do AVA pelos alunos surdos, de forma que pudessem conhecer o espaço e as funções possíveis dispostas em cada ícone. Os alunos demonstraram estar surpresos com a possibilidade de interação apresentada pelo ambiente, pois assim que começaram a desenhar perceberam que todos estavam compartilhando o que era exposto individualmente, vantagem ressaltada por Bolite Frant e Kindel (2013) sobre este ambiente. Outro momento interessante foi a descoberta do chat, pois já estavam habituados a estabelecer este tipo de comunicação on-line. A figura abaixo ilustra um momento de interação propiciado pelo AVA ao utilizarem o quadro branco e o chat.

Figura 4 - Tela do VMT-Chat na ambientação

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Como atividade inicial foi proposto uma tarefa visando explorar o raciocínio combinatório. Essa atividade tem como referência os estudos de Della Nina, Menegassi e Silva (2009). Problema 1:

Bruna participará da festa que está sendo organizada por uma turma da escola, mas ainda não decidiu como irá vestida. Ela retirou do seu armário 3 calças, 5 blusas, 3 vestidos e 2 pares de sapatos. De quantas maneiras diferentes ela poderá se vestir para ir à festa?

Selecionamos primeiro este problema que pode ser resolvido com o princípio fundamental da contagem para observar quais estratégias (matemáticas, comunicativas, etc..) os alunos utilizariam. Para resolver o problema eles precisariam dividí-lo em duas partes: (1) quantas maneiras podemos arrumar 3 calças, 5 blusas e 2 pares de sapato para adicionar a (2) quantidade de maneiras de arrumar 3 vestidos e 2 pares de sapato. Para a primeira situação temos: 3 opções de calças x 5 opções de blusas x 2 opções de pares de sapatos = 30 maneiras diferentes de se vestir e para o segunda situação temos: 3 opções de vestido x 2 opções de pares de sapato = 6 maneiras diferentes de se vestir. Logo, 30 maneiras de se vestir adicionados a 6 maneiras é igual a 36 looks diferentes.

Contudo, uma das pesquisadoras em diálogo com a professora do AEE percebeu que para iniciar as tarefas esta atividade seria um tanto complexa, pois exigiria maior conhecimento da Língua Portuguesa, já que a atividade não seria interpretada em LIBRAS. Decidimos em comum acordo propor então uma outra atividade correlata inicial que está descrita a seguir: Problema 2:

Rafaela participará da festa da Escola Municipal Santa Luzia, mas ainda não decidiu como irá vestida. Ela retirou do seu armário 3 calças e 5 blusas. De quantas maneiras diferentes ela poderá se vestir para ir à festa?

Este problema também pode ser resolvido com o Princípio Fundamental da Contagem. Com a possibilidade de 3 calças e 5 blusas, temos: 3opções de calças x 5 opções de blusas = 15 maneiras diferentes de se vestir.

Os alunos começaram então o processo de decodificação da situação problema. Novamente percebemos uma barreira inicial devido ao pouco domínio da Língua Portuguesa por um dos alunos. Neste momento uma das pesquisadoras iniciou um processo de mediação utilizando recursos visuais como prática cotidiana educacional (LACERDA, SANTOS & CAETANO, 2011).

É fundamental que as experiências visuais façam parte também do desenvolvimento

de ferramentas digitais, de forma que favoreçam a ampliação das possibilidades de interação. Silva (1999: p. 34), propugna que:

Ao trazer a epistemologia visual para o campo pedagógico, os surdos, ao mesmo tempo, que evidenciam as limitações do processo pedagógico centrado no som também apresentam a sua experiência visual como uma das alternativas possíveis para sua inserção e permanência no sistema de ensino brasileiro.

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Neste momento os alunos perceberam que uma das pesquisadoras estava mediando a atividade através do AVA.

Figura 5 - Tela do VMT-Chat inserção de recursos visuais

Fonte: Print screen da tela

Foi introduzido então a imagem das 3 calças e 5 camisas de forma a auxiliar na compreensão do enunciado. Após esta intervenção, uma das alunas imediatamente apresentou pelo chat o resultado da tarefa. A aluna então foi inquirida pela pesquisadora acerca de como teria chegado a tal resultado. Onde foi estabelecido o seguinte diálogo:

‒ Porque você acha isso Linda?(pesquisadora) ‒ Explique para seus colegas. (pesquisadora) ‒ Me ajuda não entendi. (Souza)

Nesse momento a aluna Linda começou a explicar aos seus colegas através da LIBRAS como chegou ao resultado, que escrevera previamente no chat:

Eu acho tb 5x3=15 mas sei lá (Linda)

O ocorrido destaca o fato de que o domínio básico da Língua Portuguesa atribuído a este grupo, atuou como agente dificultador da realização da tarefa apresentada pela pesquisadora, de forma que a aluna abandonou o AVA neste momento, como garantia de que sua explicação seria compreendida também por Souza, que demonstrava menor conhecimento da Língua Portuguesa que os demais alunos.

Simões, Zava, Silva e Kelman (2011, p.3609) destacam que é necessário que o ensino de alunos surdos se apóie em duas vertentes, o bilinguismo e o uso de recursos, baseados na experiência visual, o que nos faz compreender o fato descrito acima.

Após as intervenções da aluna, a pesquisadora inseriu um esquema de árvore de possibilidades (uma estratégia matemática para solucionar atividades de combinatória) e

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apresentou aos alunos. Eles não conheciam esse esquema e puderam conferir visualmente o resultado por eles obtido.

Figura 6 - Tela do VMT-Chat resolvendo tarefa 1

Fonte: Print screen da tela com alunos interagindo Para o segundo encontro foi proposto então a seguinte atividade:

Destacamos que este enunciado, por sugestão da professora da sala de recursos, não foi apresentado em Língua Portuguesa, mas através da utilização de um vídeo anteriormente gravado com o auxílio de um dos intérpretes da instituição. Esta proposta se deve a constatação anterior de que um dos alunos apresentou dificuldades quanto à compreensão do enunciado apresentado apenas em Língua Portuguesa.

Desta vez os alunos presentes rapidamente conseguiram encontrar o resultado correto e explicar aos outros o processo de resolução através de desenhos ou da multiplicação de um fator pelo outro.

Este episódio ilustra que o processo de ensino/aprendizagem de alunos surdos mesmo em ambientes virtuais, precisa ser mediado pela utilização da LIBRAS, de forma a garantir a total compreensão dos enunciados, favorecendo a aquisição e desenvolvimento de conceitos matemáticos fundamentais na aprendizagem também de alunos surdos.

(2) Apropriação de terminologias e utilização das mídias por alunos surdos.

Problema 3: “Em uma festa na casa de Wellington estavam presentes 4 meninas e 2 meninos. A regra criada para que todos dançassem é que os pares não poderiam se repetir. Quantos pares foram formados?”

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados apresentados, identificamos como as mídias não possuem interfaces que contemplem as especificidades lingüísticas atribuídas a comunidade surda usuária da Libras, justamente por estarem fundamentadas no paradigma ouvinte como destacado por Salles e Almeida (2013) e o quanto isto pode ser um fator dificultador para apropriação e uso. Percebemos que quanto à utilização do ambiente virtual apresentado houve interação entre os alunos e que o espaço de inserção das mensagens gráficas foi importante para a promoção da aprendizagem matemática, através da utilização de recursos visuais.

Ressaltamos que a resolução de problemas é um campo fértil para o ensino e a aprendizagem da matemática em cenários virtuais, até mesmo quando é proposto antes de uma formalização do conteúdo matemático relacionado. Em sintonia com as investigações elencadas, percebemos que atividades de combinatória podem ser exploradas nesse tipo de ambiente, pois elas estimulam a criatividade mediante as diferentes possibilidades de representação para solucionar um problema envolvendo raciocínio combinatório, conforme ilustrado na análise em Salles (2013).

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, S. D. Atendimento educacional especializado: análise das políticas e práticas para alunos surdos em uma escola municipal de Duque de Caxias/RJ. Texto de qualificação de Mestrado. Rio de Janeiro. UFRRJ, 2013.

____________. PLETSCH, M. D. O papel da sala de recursos multifuncionais para alunos surdos: análise das práticas de uma escola da Baixada Fluminense. In: V Congresso Brasileiro de Educação Especial, 2012, São Carlos. V Congresso Brasileiro de Educação Especial, São Carlos, 2012.

BAIRRAL, M. A. Discurso, interação e aprendizagem matemática em ambientes virtuais à distância. Rio de Janeiro: Edur, 2007.

BAIRRAL, M. A.; POWELL, A. B. Analysing High School Students Interacting at Distance with VMT-Chat on Taxicab Problem. Anais do II SIPEMAT, Recife, 2008. Em CD-ROM.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Editora Persona, 1977.

BOLITE FRANT, J; KINDEL, D.S. Interações discursivas em ambiente virtual síncrono: licenciandos discutem sobre o infinito. In: BAIRRAL, M. A. (org). O uso de chat e de fórum de discussão em uma educação matemática inclusiva. Rio de Janeiro:Edur, Série inovacomtic, v.5, p.113-143, 2013.

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ÇAKIR, M. P., ZEMEL, A., & STAHL, G. The joint organization of interaction within a multimodal CSCL medium. International Journal of Computer-Supported Collaborative

Learning, 4(2), 115-149, 2009.

DELLA NINA, C. T.; MENEGASSI, M. E. J.; SILVA, M. M. da A. Análise combinatória: experiências de sala de aula. Boletim Gepem(55), Rio de Janeiro, 195-208, 2009.

GLAT, R; PLETSCH, M. D. O método de história de vida em pesquisas sobre auto-percepção de pessoas com necessidades educacionais especiais. Revista Educação Especial, Santa Maria. v. 22, n. 34, p. 139-154, maio/ago. 2009.

HARASIM, L. Redes de aprendizagem: Um guia para ensino e aprendizagem online. São Paulo: SENAC, 2005.

LACERDA, C. B. F. de.; SANTOS, L. F. dos ;CAETANO, J. F. Estratégias metodológicas para o ensino de alunos surdos. In Língua brasileira de sinais – Libras uma introdução. UAB-UFSCar. São Paulo, p. 103-118, 2011.

MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 7º ed., São Paulo: Hucitec, 2000.

PLETSCH, M. D & GLAT, R. O ensino itinerante como suporte para a inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais na rede pública de ensino: Um estudo etnográfico. In: Revista Iberoamericana de Educación (online), v.41, p. 1-11, 2007.

SALLES, A. T..; ALMEIDA, S. D. Aprendizagem virtual: uma análise do desenvolvimento do raciocínio matemático em alunos surdos através da utilização do VMT-Chat. In: Anais. XII Congresso Internacional e XVIII Seminário Internacional do INES. A Educação de Surdos em Países da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 2013. Em CD-ROM.

____________. Aprendizagem no VMT-Chat: um estudo de caso focado no raciocínio combinatório de licenciandos em pedagogia. Texto de qualificação, UFRRJ, RJ, 2013.

____________.; BAIRRAL, M.A. Interações e aprendizagem matemática: um estudo de interlocuções em VMT-Chat. In: Anais. ENCONTRO NACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (X ENEM). 2010, Salvador. Anais do X ENEM, Salvador, 2010. Em CD-ROM.

SILVA, V. Relações Sociais de Exclusão no âmbito Escolar e de Trabalho: Uma Perspectiva de Mudança para os Surdos na Escola Técnica Federal de Santa Catarina. In: II Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, 1999, Curitiba. Fórum Sul de Coordenadores de Pós-Graduação em Educação - ANPED. Curitiba : UFPR/Setor de Educação, 1999. p. 480-495.

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SIMÕES, E. da S.; ZAVA, D. H.; SILVA, G. C. F. da. & KELMAN, C. A. Menos do mesmo: a pedagogia visual na construção da L2. VII Encontro da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial. Londrina, p. 3608-3616, 2011.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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