Separação dos Poderes
A teoria da separação dos Poderes foi originalmente concebida pelo filósofo
Aristóteles, em sua obra denominada política. Para o pensador, existiriam três
funções distintas a serem exercidas pelo poder soberano.
Note que Aristóteles defendia a concentração do Poder nas mãos de uma única pessoa. Desta forma, o pensador contribuiu no sentido de identificar o exercício de três funções estatais distintas, apesar de exercidas por um único
órgão (LENZA).
Sobre o tema, a CESPE considerou INCORRETA a seguinte alternativa: O princípio da separação dos poderes, que rege o ordenamento jurídico brasileiro, é originário da teoria de freios e contrapesos, desenvolvida na obra O príncipe, de Maquiavel".
Posteriormente, a visão de Aristóteles foi aprimorada pelo filósofo Francês Montesquieu, em seu livro clássico chamado O espírito das leis. A grande contribuição do pensador foi defender a ideia de existirem o exercício dos Poderes por três órgãos autônomos, distintos e independentes entre si.
Em relação ao tema, a CESPE considerou INCORRETA a seguinte alternativa: Ao ser estabelecido, no texto constitucional, que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário são independentes e harmônicos entre si, assimilaram-se ao ordenamento jurídico brasileiro as teorias da separação de poderes e de freios e contrapesos, desenvolvidas por Maquiavel, na obra O Príncipe.
Inclusive tal pensamento foi adotado na Declaração Francesa dos direitos dos Homens e cidadãos. Vejamos:
Art. 16. “Toda sociedade, na qual a garantia dos direitos não está assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem Constituição”.
Sobre o tema, a CESPE considerou CORRETA na prova da PGE-PE: "A teoria da tripartição dos poderes está presente como dogma constitucional na Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789".
A finalidade da separação dos poderes seria preservar a liberdade individual, combatendo a concentração de poder e minimizando as chances de existirem abusos no exercício dos mesmos.
Inclusive o Supremo Tribunal Federal (STF) possui vários julgados nesse sentido. Vejamos um apenas para ilustrar:
“EMENTA: (...). A essência do postulado da divisão funcional do poder, além de derivar da necessidade de conter os excessos dos órgãos que compõem o aparelho de Estado, representa o princípio conservador das liberdades do cidadão e constitui o meio mais adequado para tornar efetivos e reais os direitos e garantias proclamados pela Constituição. Esse princípio, que tem assento no art. 2.o da Carta Política, não pode constituir e nem qualificar-se como um inaceitável manto protetor de comportamentos abusivos e arbitrários, por parte de qualquer agente do Poder Público ou de qualquer instituição estatal. (...).
O sistema constitucional brasileiro, ao consagrar o princípio da limitação de poderes, teve por objetivo instituir modelo destinado a impedir a formação de instâncias hegemônicas de poder no âmbito do Estado, em ordem a neutralizar, no plano político-jurídico, a possibilidade de dominação institucional de qualquer dos Poderes da República sobre os demais órgãos da soberania nacional” (MS 23.452, Rel. Min. Celso de Mello, j. 16.09.1999, Plenário, DJ de 12.05.2000 — original sem grifos). Outro importante ponto da teoria da separação dos poderes é a teoria dos freios e contrapesos. De acordo com o Professor Lenza:
(...) estabelecendo mecanismos de fiscalização e responsabilização recíproca dos poderes estatais, conforme o desenho institucional dos freios e contrapesos.
Como exemplo desses mecanismos, podemos citar alguns expostos pelo Professor Lenza:
1) Art. 63, I e II: cabe emenda parlamentar (Legislativo) em projeto de lei de iniciativa exclusiva do Presidente da República (Executivo);
2) Art. 102, I, “a”: compete ao STF (Judiciário) declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual (Legislativo);
3) Art. 97: os juízes (Judiciário) poderão declarar a inconstitucionalidade de lei (Legislativo) ou ato normativo do Poder Público (inclusive, como exemplo, de decretos autônomos elaborados pelo Executivo).
A teoria da separação dos Poderes, elaborada por Montesquieu, foi adotada por grande parte dos países, mas de maneira abrandada. Isso porque, diante das realidades sociais e históricas, passou-se a permitir uma maior interpenetração entre os Poderes, atenuando a teoria que pregava a separação pura e absoluta deles (LENZA).
Em relação ao tema, a banca CESPE considerou CORRETA a seguinte alternativa: "A existência de mecanismos de promoção de equilíbrio entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário favorece a estabilidade política no Estado democrático".
Importante! Somente a Constituição Federal pode atribuir as funções
atípicas, sendo vedado que se faça por meio de legislação infraconstitucional.
Neste sentido, a CESPE considerou INCORRETA a seguinte alternativa: A legislação infraconstitucional pode autorizar que os poderes da União desempenhem funções atípicas, prestigiando o sistema de freios e contrapesos estabelecido pela Constituição Federal de 1988.
Desta forma, temos as funções típicas (predominantes) e as funções atípicas. Vejamos o seguinte quadro sobre o tema:
Órgão
Função Típica
Função Atípica
Poder Executivo
Atos de chefe de
Estado, governo e
de administração
Legislativa:
Medida Provisória
com força de Lei
(art. 62);
Jurisdicional: julga
defesas e
recursos
administrativos.
Poder Legislativo
Legislativa e
Fiscalização
Jurisdicional:
Julga o PR nos
crimes de
Responsabilidade
(Senado);
Administrativa:
dispõe sobre sua
organização, cria
cargos, etc.
Poder Judiciário
Julgar os conflitos
que lhe são
levados, com a
força de coisa
julgada
Legislativa:
Elaborar o seu
Regimento
Interno;
Executiva:
Administra seus
servidores,
concede licença,
férias, etc.
A separação dos poderes, de acordo com Canotilho, possui uma dupla dimensão:
Dimensão Positiva
Traça a ordenação e organização
dos poderes constituídos
Dimensão Negativa
Fixa limites e controles em
relação aos demais poderes
Para finalizar o tópico sobre a separação dos poderes, é importante mencionarmos os seguintes artigos da Constituição Federal de 1988. In verbis:Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
É importante também que os alunos do curso conheçam alguns julgados do STF sobre o tema. Vejamos alguns que considero os mais importantes:
É inconstitucional a criação, por Constituição estadual, de órgão de controle administrativo do Poder Judiciário do qual participem representantes de outros Poderes ou entidades. [Súmula 649. Muito cobrada em provas objetivas.]
Verbas estaduais não podem ser objeto de bloqueio, penhora e/ou sequestro para pagamento de valores devidos em ações trabalhistas, ainda que as empresas reclamadas detenham créditos a receber da administração pública estadual, em virtude do disposto no art. 167, VI e X, da CF, e do princípio da separação de poderes (art. 2º da CF).
[ADPF 485, rel. min. Roberto Barroso, j. 7-12-2020, P, DJE de 4-2-2021.]
Art. 10, II (...), da Lei 10.542/1997 do Estado de Santa Catarina. Normas que exigem prévia e específica autorização legislativa para operações de recolhimento antecipado do ICMS com a concessão de desconto (...). Violação à separação de poderes.
[ADI 1.703, rel. min. Alexandre de Moraes, j. 8-11-2017, P, DJE de 19-12-2017.]
As restrições impostas ao exercício das competências constitucionais conferidas ao Poder Executivo, incluída a definição de políticas públicas, importam em contrariedade ao princípio da independência e harmonia entre os Poderes. [ADI 4.102, rel. min. Cármen Lúcia, j. 30-10-2014, P, DJE de 10-2-2015.]
Vide RE 436.996 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 22-11-2005, 2ª T, DJ de 3-2-2006
A Constituição do Brasil – art. 70 – estabelece que compete ao Tribunal de Contas auxiliar o Legislativo na função de fiscalização a ele designada. Precedentes. Não cabe ao Poder Legislativo apreciar recursos interpostos contra decisões tomadas em processos administrativos nos quais se discuta questão tributária.
[ADI 523, rel. min. Eros Grau, j. 3-4-2008, P, DJE de 17-10-2008.]
Conforme entendimento consolidado da Corte, os requisitos constitucionais legitimadores da edição de medidas provisórias, vertidos nos conceitos jurídicos indeterminados de
"relevância" e "urgência" (art. 62 da CF), apenas em caráter excepcional se submetem ao crivo do Poder Judiciário, por força da regra da separação de poderes (art. 2º da CF).
[ADC 11 MC, voto do rel. min. Cezar Peluso, j. 28-3-2007, P, DJ de 29-6-2007.]
= ADI 4.029, rel. min. Luiz Fux, j. 8-3-2012, P, DJE de 27-6-2012
É importante lembrar que esses temas serão estudados também nos respectivos tópicos, mas demonstra que o tema separação dos poderes é um item indispensável aos candidatos, principalmente nas etapas discursivas dos certames.