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MASARYKOVA UNIVERZITA USO DE GERÚNDIO COM OS VERBOS MODAIS NO PORTUGUÊS DO BRASIL

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Academic year: 2021

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MASARYKOVA UNIVERZITA

Filozofická fakulta

Ústav románskych jazyků a literatur

Ľubica Šošovičková

USO DE GERÚNDIO COM OS VERBOS MODAIS NO

PORTUGUÊS DO BRASIL

Magisterská diplomová práce

Vedoucí práce: Mgr. Iva Svobodová, Ph.D.

Brno 2016

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Prehlasujem, že som magisterskú diplomovú prácu vypracovala samostatne s využitím uvedených prameňov a literatury.

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Na tomto mieste by som chcela poďakovať vedúcej práce

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Índice

1 Introdução ... 6

2 Propriedades morfológicas do gerúndio ... 8

3 Propriedades sintáticas do gerúndio ... 11

3.1 Classificação do gerúndio no ambiente sintático ... 11

3.2 Estruturas sintáticas com o gerúndio ... 12

3.2.1 Caraterística preliminar das construções perifrásticas ... 13

3.2.2 Classificação das perífrases verbais de acordo com as modalidades expressas .. 15

3.2.3 Caraterística geral da construção estar + a + infinitivo ... 17

3.2.4 Caraterística geral da construção estar + gerúndio ... 18

3.2.5 Uso das construções estar + gerúndio/infinitivo em PE e PB ... 18

3.3 Verbos modais... 21

3.4 Análise dos corpora ... 24

3.4.1 Descrição metodológica ... 24

3.4.2 Descrição do corpus CETENFolha ... 25

3.4.3 Descrição do corpus CETEMPúblico ... 31

3.4.4 Descrição de Corpus do Português ... 36

3.4.5 Descrição de Sketch Engine e corpus OPUS 2 ... 46

3.4.6 Resultados de ponto de vista diatópico ... 59

3.5 Análise de tradução das perífrases durativas ... 64

3.5.1 Tradução da perífrase estar + gerúndio ... 64

3.5.2 Tradução da perífrase estar + a + infinitivo ... 67

4 Conclusão ... 70

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1 Introdução

No presente trabalho concentrar-nos-emos na problemática do uso do gerúndio com os verbos modais nas construções perifrásticas estar + gerúndio/a infinitivo no português do Brasil. As duas variedades da língua portuguesa apresentam algumas diferenças a nível lexical, fonético, morfológico, como também a nível sintático-semântico e o uso do gerúndio é uma das áreas em que o português europeu e português falado no Brasil manifestam comportamento diferente. Em geral, pode dizer-se que no Brasil há preferência no uso do gerúndio, enquanto que no português europeu essa forma nominal do verbo não é usada com tanta frequência. Existe um grande conjunto dos estudos linguísticos que procuram explicar a origem dessa diferença atual analisando circunstâncias que afetaram, no decorrer dos séculos, o desenvolvimento da língua portuguesa. O objetivo do presente trabalho é contribuir com a análise do uso do gerúndio com os verbos modais para os estudos que monitorizam o comportamento e as tendências atualmente existentes no português. De acordo como o que foi dito mais acima, a nossa hipótese preliminar é que a ocorrência dos verbos modais na forma gerúndio que faz parte da perífrase progressiva estar + a + infinitivo vai ser mais frequente no português falado no Brasil do que no Portugal.

No que diz respeito à estrutura do nosso trabalho, este será dividido em duas partes. A primeira parte consiste na abordagem das teorias existentes que tratam o tema principal do presente trabalho e serve como o material de base para a segunda parte que representa a própria análise de corpora.

Começaremos pela caraterização geral do gerúndio português, destacando, na primeira secção, as suas propriedades morfológicas, e, na secção a seguir, as propriedades sintáticas do gerúndio e a clasificação do gerúndio de acordo com os critérios sintáticos estabelecidos por Telmo Móia e Evani Viotti (2004a), e, exemplificando cada construção com uma frase em que o gerúndio pode ocorrer, isto é, em construções perifrásticas, orações gerundivas e em orações predicativas.

Como o objetivo do presente trabalho é a análise do uso do gerúndio nas construções perifrásticas estar + gerúndio/a infinitivo do verbo modal, ocupar-nos-emos sobretudo das construções perifrásticas caraterizando, primeiramente, os seus traços específicos, classificando-as,a seguir, em perífrases temporais, aspectuais, diatéticas e modais. De entre desses grupos, dedicaremos atenção ao grupo das perífrases aspetuais, especialmente, àquelas que expressam visão de fase, porque é precisamente este tipo das perífrases verbais ao qual construções estar + gerúndio/a infinitivo do verbo modal pertencem. Os traços caraterísticos e uso dessas construções perifrásticas nas duas variedades do português vão ser apresentados na secção

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seguinte. Em seguida, sublinharemos particularidades dos verbos modais que desempenham a função do verbo principal nas construções perifrásticas em causa.

A segunda parte do presente trabalho é uma parte prática em que apresentaremos o nosso procedimento da análise dos corpora e os resultados obtidos nos corporas escolhidos. Para a nossa análise escolhimos os corpora CETENFolha e CETEMPúblico que fazem parte de centro dos recursos Linguateca, Corpus do Português que nos permite escolher a variedade do português, e, por último, o corpus OPUS 2 Portuguese e OPUS 2 Brazilian Portuguese que fazem parte de corpora Sketch Engine. Depois da breve apresentação de todos os corpora nas secções correspondentes, segue-se a análise das perífrases estar + gerúndio/ a infinitivo com os verbos modais tentar,querer, poder, precisar, desejar, pretender e necessitar acompanhada por resumo dos resultados obtidos nos respetivos corpora.

Na parte prática inclui-se também a secção dedicada à tradução das perífrases durativas para o checo, cujo objetivo é analisar que tipo dos recursos linguísticos é utilizado na língua checa para a expressão das perífrases durativas do português, como também oferecer à comunidade luso-checa as possíveis alternativas da sua tradução.

Na última secção resumiremos e avaliaremos os resultados da análise, comparando-os com as nossas hipóteses preliminares.

Estamos conscientes de que a problemática do uso do gerúndio com os verbos modais (ou com outros tipos dos verbos) no português do Brasil é muito mais complexa do que apresenta o nosso estudo e que existem outros corpora que poderiam ser consultados com o fim de oferecer uma análise mais profunda. No entanto, acreditamos que o presente trabalho pode contribuir para um melhor entendimento do uso do gerúndio na língua portuguesa e que vai estimular para outras investigações.

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2 Propriedades morfológicas do gerúndio

Na língua portuguesa, o gerúndio é uma das formas nominais do verbo que pode desempenhar função de advérbio ou adjetivo e junto com particípio, por não definir as pessoas do discurso, é considerado uma forma infinitiva. Apesar de ser uma forma verbal, o gerúndio não tem capacidade de exprimir por si só categorias verbais de modo e tempo.

O gerúndio é uma forma gramatical que no português pode ter duas formas, isto é, forma simples e composta. O gerúndio simples forma-se acrescentando desinência -ndo ao tema do verbo (radical + vogal temática). (O verbo pôr é o único verbo com gerúndio irregular: pondo)

Quadro 1: Formação do gerúndio simples

Conjugação Verbo Radical + Vogal temática Gerúndio simples

1. falar fal + a falando

2. vender vend + e vendendo

3. partir part + i partindo

O gerúndio composto é formado pelo verbo auxiliar temporal ter ou haver na forma de gerúndio e pelo particípio passado do verbo principal.

Quadro 2: Formação do gerúndio composto

Conjugação Verbo Perticípio passado Gerúndio do verbo ter

(ou haver) Gerúndio composto

1. falar falado tendo tendo falado

2. vender vendido tendo tendo vendido

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O gerúndio composto expressa geralmente uma situação que ocorre antes da situação enunciada na oração principal, mas ocorrendo depois da oração principal, gerúndio composto pode expressar também uma situação posterior em relação à situação enunciada por verbo na oração principal (Hampl 1972, p.339):

 Tendo lido as suas obras anteriores, queria conhecer também o seu último romance. (anterioridade) (Hampl 1972, p.339)

 Depois voltei para Belo Horizonte, onde passei a fazer jornalismo, tendo sido, mais tarde, levado para a burocracia. (posterioridade) (Hampl 1972, p.340):

A diferença mais significante entre as duas formas do gerúndio consiste sobretudo na oposição aspetual (+perf/-perf). Enquanto a forma composta do gerúndio tem o caráter télico, a forma simples é aspectualmente neutral, o que, consequentemente explica o fato de que ambas as formas do gerúndio podem expressar (apesar das relações simultâneas no caso do gerúndio composto) as mesmas relações temporais. A interpretação temporal do gerúndio depende assim mais da sua colocação na frase do que da sua forma (composta ou simples). (Čermák e Nádvorníková 2015, p.259)

Em geral, gerúndio pode ocorrer:

 anteposto à oração principal, exprimindo ação imediatamente anterior à ação indicada na oração principal

Ganhando a praça, o engenheiro suspirou livre. (Cunha 1986, p. 345)

 anteposto à oração principal, exprimindo uma ação com o começo antes ou no momento da ação indicada na oração principal e que ainda continua

Estalando de dor de cabeça, insone, tenho o coração vazio e amargo. (Hampl 1972, p. 346)

 colocado ao lado do verbo principal, expressando uma ação simultânea e cumprindo função de adjunto adverbial de modo

Chorou soluçando sobre a cabeça do cão. (Hampl 1972, p.346)  posposto à oração principal, indicando uma ação posterior

As trajectórias recomeçaram, processando-se a um ritmo regular. (Cunha 1986, p. 346)

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A relação semântica entre a oração principal e oração gerundiva não é signalizada formalmente, mas contextualmente.

Em português existem também construções com gerúndio preposicionado por em associadas ao valor condicional e causal, que podem expressar situação durativa ou uma situação iminente anterior a oração principal. (Čermák e Nádvorníková 2015, p.259; Móia e Viotti 2004a, p.137)

 Mas, em ocorrendo essa circunstância, os prazos, daí por diante, no recurso, passam a ser singelos. (valor condicional) (Móia e Viotti 2004a, p.137)

Eduardo Frei Ruiz Tagle (...) assumiu ontem a Presidência do Chile em meio a louvações à democracia previsíveis, em se tratando do segundo presidente eleito democraticamente depois dos 17 anos da ditadura militar chefiada pelo general Augusto Pinochet. (valor causal) (Móia e Viotti 2004a, p.137)

 Em chegando a casa, falo com ele. (anterioridade) (Čermák e Nádvorníková 2015)  Em sendo novos, tudo se faz facilemnte. (duração) (Čermák e Nádvorníková 2015)

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3 Propriedades sintáticas do gerúndio

Na língua portuguesa, o gerúndio, ao lado do particípio e infinitivo, é uma das formas nominais do verbo. Isso significa que o gerúndio, apesar do seu valor verbal, pode desempenhar a função de nomes, especialmente, do advérbio (amanhecendo, sairemos = logo pela manhã sairemos) ou do adjetivo (água fervendo = água fervente). (Bechara 2009, p. 266) Na função adjetiva “o gerúndio tem sido apontado como galicismo; porém, é antigo na língua este emprego, quando ocupou o lugar vago deixado pelo particípio presente, que desapareceu do quadro verbal português para ingressar no quadro nominal“ (Bechara 2009, p. 266)

3.1 Classificação do gerúndio no ambiente sintático

Com base no trabalho de Telmo Móia e Evani Viotti (2004a, p.112-114) podemos distinguir cinco subtipos de gerúndio no que diz respeito ao ambiente sintático em que o gerúndio ocorre:

i. Gerúndio independente

O denominado gerúndio independente não ocorre em contexto de subordinação. Esse tipo do gerúndio pode ocorrer nas orações imperativas ou orações de tipo descritivo, como por exemplo em legendas de fotografias ou reportagens televisivas (destaca-se aqui a importância de um suporte visual tipo imagem ou acontecimendo real) (Lobo 2001, p. 248):

a. Andando já para casa! (Móia e Viotti 2004a, p. 112)

b. Mulheres vendendo tapetes no mercado (legenda da fotografia) (Móia e Viotti 2004a, p. 113)

ii. Gerúndio argumental

O gerúndio pode ocorrer associado ao verbo principal, cumprindo a função de argumento de um predicado superior, como por exemplo no caso a. em que gerúndio funciona como argumento interno do verbo ver ou como argumento de um substantivo tipo situação como no exemplo b.:

a. A Ana viu [um bicho estranho escavando a terra]. (Móia e Viotti, 2004a, p. 113)

b. [Aves chocando contra aviões] não é uma situação rara. (Móia e Viotti, 2004a, p. 113)

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12 iii. Gerúndio adnominal

Às vezes, a oração gerundiva está aplicada adnominalmente, cumprindo função de modificador nominal como em a. ou aposto como em b.:

a. Foram encontradas várias caixas contendo documentos secretos. (Móia e Viotti, 2004a, p. 114)

b. O timbre da sua voz, fazendo lembrar Maria Callas, é impressionante. (Móia e Viotti, 2004a, p. 114)

iv. Gerúndio adverbial

Em struturas complexas com gerúndio adverbial, o gerúndio ocorre em posição adverbial associado ao verbo da oração principal. Sintaticamente, essas estruturas estão aplicadas adverbialmente, fato pelo qual se distinguem das estruturas referidas anteriormente. Semanticamente, a diferença consiste no fato de as orações gerundivas adverbiais envolverem uma combinação de duas proposições completas relacionadas por certo valor semântico (causal, temporal, condicional, concessivo, de modo, instrumental, resultativo, etc.):

a. A Ana abraçou o Rui, apertando-o fortemente contra o peito. (valor de modo) (Móia e Viotti 2004a, p. 114)

b. A Ana cortou a meta em primeiro lugar, recebendo o prémio de mil euros. (valor resultativo) (Móia e Viotti 2004a, p. 114)

v. Gerúndio perifrástico

O gerúndio perifrástico apresenta combinação do gerúndio com verbos auxiliares formando sequências complexas de dois elementos verbais denominadas também como construções perifrásticas verbais ou perífrases verbais:

a. O país está mudando. (Móia e Viotti 2004a, p. 114)

b. Já há muito tempo que eu venho dizendo isso. (Móia e Viotti 2004a, p. 114)

3.2 Estruturas sintáticas com o gerúndio

Sintaticamente podemos distinguir três tipos das estruturas em que o gerúndio pode aparecer: i. construções perifrásticas

Construções perifrásticas podem caraterizar-se como ligação do verbo auxiliar com uma das formas infinitivas do verbo principal (perífrases verbais, p.ex. ir cantando) ou como ligação do verbo com substantivo (construção verbonominal p.ex. dar banho). É precisamente este tipo de construções que será objetivo da nossa análise (capítulo 3.2.1.).

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13 ii. orações reduzidas

O gerúndio pode reduzir orações subordinadas adverbiais, exprimindo assim valores semânticos diferentes (valor semântico causal, de modo, temporal, condicional, concessivo ou consecutivo). Nesse tipo das orações, denominadas também orações gerundivas adjuntas, existem dois sub-grupos: orações adjuntas de predicado ou integradas (Os ladrões arrombaram a porta usando um maçarico.) (Lobo 2001, p. 248) e orações adjuntas de frase ou periféricas (Estando as crianças doentes, não poderemos ir à festa.). (Lobo 2001, p. 248 )

O gerúndio pode seguir também orações subordinadas adjetivais (São os comboios parando nestas estações.) (Čermák e Nádvorníková, 2015, p. 263).

Apesar das orações subordinadas, o gerúndio pode reduzir orações coordenadas ligadas pela conjunção e (Disse tudo ao meu pai, deixando-o assim muito surpreendido.). (Hricsina 2014, p. 387)

iii. predicados secundários

O gerúndio pode desempenhar a função de predicativo do sujeito ou do objeto:

a. O João entrou em casa cantando. (predicativo do sujeito) (Lobo 2001, p. 247) b. O João ouviu o Pedro cantando. (predicativo do objeto) (Lobo 2001, p. 247) O emprego de gerúndio como modificador de objeto direto em construções com verbos perceptivos ou de representação, equivale ao emprego de infinitivo preposicionado nas mesmas construções. (Lobo 2001, p. 247)

3.2.1 Caraterística preliminar das construções perifrásticas

No presente capítulo dedicaremos atenção às construções perifrásticas, especialmente

às construções perifrásticas verbais com estrutura de verbo auxiliar + verbo auxiliado conhecidas também como perífrases verbais. Para a nossa análise adotamos definição das perífrases verbais de Henrique Barroso e consideraremos por perífrase verbal construção que:

“reúne, quase sempre, duas formas verbais, uma flexionada (morfemas de tempo, modo, voz, pessoa e número) e outra não flexionada (infinitivo, gerúndio ou particípio), constituindo um verdadeiro sintagma verbal, semântica, paradigmática e sintagmaticamente delimitado, e uma unidade constante aos níveis da 'norma' e do 'sistema' e que tem por função expressar uma modalidade, ou seja, um valor sistemático de natureza, ou modal, ou temporal, ou aspectual, ou diatética“. (Barroso 1990, p. 40)

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As construções perifrásticas definem-se pela significação conjunta (o significado gramatical da perífrase não se adquire dos significados de cada uma das componentes da perífrase, mas da conjunção dos dois, globalmente concebidos), por terem um sujeito único e pelo comportamento em bloco diante das transformações passiva e interrogativa. (Barroso 1990, pp. 27-30).

Morfologicamente, as construções perifrásticas são formadas por um verbo auxiliar ligado ao verbo pricipal diretamente ou através duma preposição. Na construção deste tipo conjuga-se apenas o verbo auxiliar, pois o verbo principal vem sempre numa das formas infinitivas do verbo. (Hlibowicka-Wȩglarz 2004, p. 295) O verbo auxiliar funciona assim como um todo morfemático (assumindo morfemas de tempo, modo, pessoa e número) que foi submetido ao processo de gramaticalização. (Barroso 1990, p. 28). De acordo com a forma infinitiva do verbo pricipal utilizada na construção perifrástica, as perífrases verbais dividem-se em perífrases verbais de infinitivo, gerúndio ou particípio. Em português contemporâneo utilizam-se quatro tipos das perífrases verbais, isto é, verbo auxiliar + particípio (ex.: ter, harer, ser e estar + particípio), verbo auxiliar + gerúndio (ex.: ir, vir, estar, andar, etc. + gerúndio), verbo auxiliar + infinitivo (ex.: ir, vir, poder, etc. + infinitivo) e verbo auxiliar + preposição + infinitivo (ex.: começar a, ficar a, estar para, continuar a + infinitivo) (Barroso 1990, p. 30) Nesse último tipo das construções perifrásticas verbais consideramos importante destacar já no início do presente trabalho a construção verbo auxiliar + a + infinitivo, denominada também como infinitivo gerundivo (Mothé 2006, p. 1554) que indica aspeto contínuo e cuja função equivale ao uso do gerúndio. Apesar da equivalência funcional das construções verbo auxiliar + a + infinitivo e verboauxiliar + o gerúndio, o seu uso é dado pelos fatores diatópicos (geográficos): enquanto que no Português do Brasil (doravante PB) é usada a segunda construção gerundiva (estou escrevendo) , na variante europeia predomina primeira construção (estou a escrever). Existem vários estudos que analisam diferenças fonético-morfológico-sintáticas entre ambas as variantes do português, incitando polémicas sobre qual é a variedade da língua portuguesa mais inovadora e qual delas é mais conservadora.

De acordo com Celso Cunha (1986, p. 199) Conservação e Inovação no Português do Brasil, a hipótese de uma das variantes do português ser inovadora ou conservadora não pode ser inequivocamente afirmada e a questão do uso de gerúndio é um dos exemplos dos aspetos da língua portuguesa em que o português do Brasil é considerado conservador.

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15 O próprio autor diz que:

„A construção estar (andar, etc.) + gerúndio, preferida no Brasil, é a mais antiga no idioma e ainda tem vitalidade em dialetos centro-meridionais de Portugal (principalmente no Alantejo e no Algarve), nos Açores e nos países africanos da língua oficial portuguesa.“ (Cunha, 1986, p. 199)

Com base no trabalho de Núbia Graciella Mendes Mothé (2014), cujos objetivos principais eram investigar quando ocorreu o avanço para o uso da construção verbo auxiliar estar + a + infinitivo em Portugal e quais são as circunstâncias que condicionam a variação entre o gerúndio e o infinitivo gerundivo, podemos concluir que esse avanço se processou no século XX, e, no que diz respeito aos condicionamentos dessa variação, a autora destaca a importância da estrutura verbal, que favorece o uso do infinitivo gerundivo em construções analíticas.

3.2.2 Classificação das perífrases verbais de acordo com as modalidades expressas

Funcionalmente, as perífrases verbais podem classificar-se em temporais, modais, aspetuais e diatéticas. As construções por nós estudadas pertencem ao tipo de perífrases aspetuais.

De acordo com Barroso (1990, p. 24), a construção perifrástica é aquela que representa a realização óptima da categoria aspeto no português contemporâneo, porque entre o verbo auxiliar e o verbo auxiliado estabelece-se um forte elo de ligação/subordinação.

No seu estudo sincrónico sobre o aspeto verbal perifrástico em português contemporâneo, Henrique Barroso (1994, p.17), distingue sete categorias aspetuais expressas por perífrases verbais, nomeadamente, categoria de visão, fase ou grau, colocação, repetição, duração, resultado e cumprimento ou acabamento. O verbo principal das perífrases aspetuais que exprimem a fase pode ocorrer apesar da forma infinitiva também na forma gerundiva. De acordo com Jindrová (Jindrová 2012 apud Zavadil e Čermák 2010) existem três tipos básicos de fase: fase de ingressão, fase durativa e fase final:

i. Fase de ingressão

Construções perifrásticas com o sentido da ingressão podem ser subdivididas em: a. perífrases com o sentido da ingressão iminente

Este tipo das perífrases expressa o momento iminente anterior à fase inicial. A autora inclui neste grupo as perífrases seguintes: estar para + inf., andar para + inf., estar a ponto de + inf., estar prestes a + inf.

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b. perífrases com o sentido da ingressão disposicional

O processo denominado por este tipo das perífrases é percebido como o processo que começa imediatamente e é pretendido por um agente animado. Incluem-se aqui perífrases ir a + inf., ir + inf.

c. perífrases com o sentido da ingressão inicial

Construções com o sentido de ingressão inicial identificam o início real do processo em causa. Trata-se das perífrases começar a + inf., principiar a + inf., pôr-se a + inf., passar a + inf., meter-se a + inf., deitar a + inf., desatar a + inf., entrar a + inf., lançar a + inf., largar a + inf., pegar a + inf., precipitar-se a +inf., recomeçar a + inf., romper a + inf., soltar a + inf., cair + inf.

d. perífrases com o sentido da ingressão inceptiva

Este tipo das construções identifica o primeiro de uma série dos processos, isto é, o processo antecedente a outros processos: começar por + inf., principiar por + inf., começar + ger., iniciar + ger.

ii. Fase durativa

No que diz respeito a fase durativa, Jindrová (2012, p. 96-138) distingue dois tipos da duração, isto é, duração global e duração parcial. Na perspetiva da duração global, o processo é tratado com o um todo. Se apenas uma parte do processo é tomada em conta, fala-se sobre a duração parcial que pode ser expressa por perífrases estar a + infinitivo/estar + gerúndio (que enfatizam o andamento do processo), ir + ger. (com o sentido da duração parcial prospetiva), vir + ger. (com o sentido da duração retrospetiva), continuar a + inf., continuar + ger., seguir a + inf., seguir + ger., prosseguir + ger., ficar a + inf., ficar + ger. (com o sentido da duração parcial contínua), andar a + inf.,andar + ger., viver a + inf., viver + ger. (com o sentido da duração parcial distributiva, neste caso o processo não é considerado em todo o seu decurso, mas apenas em certos intervalos parciais).

É o último tipo de perífrases que constitui o objetivo do presente trabalho, especialmente, as perífrases aspetuais construídas com o verbo auxiliar durativo estar, estar a + infinitivo/estar + gerúndio que constituem as construções mais antigas da língua portuguesa e que representam o valor cursivo, quer dizer, descrevem um estado de coisas em curso. (Hlibowicka-Wȩglarz 2004, p. 299) As perífrases estar + a + infinitivo e estar + gerúndio representam duas estruturas gramaticais diferentes, contudo, o valor aspetual expresso é o mesmo, isto é, valor da visão angular, e, consequentemente, expressam o mesmo valor gramatical.

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17 iii. Fase final

O último grupo de perífrases com o sentido de fase, são perífrases que expressam a fase final dum processo. Entre as mais frequentes pertencem perífrases deixar de + inf., parar de + inf., acabar de + inf. , acabar + por + inf., terminar + por + inf.

Perífrases diatéticas exprimem valores passivos (ser + particípio). No português existe também uma outra construção do caráter diatético, estar + particípio que, contudo, secundariamente exprime conclusão ou acabamento de uma ação verbal. (Barroso 1994, p.75)

Perífrases modais são construções em que o verbo auxiliar modal combina-se com infinitivo ou gerúndio do verbo principal expressando a atitude do sujeito perante a ação. Como o objetivo do presente trabalho é a análise de uso do gerúndio com verbos modais, entraremos mais profundamente nesta problemática nos capítulos seguintes do presente trabalho.

3.2.3 Caraterística geral da construção estar + a + infinitivo

O verbo auxiliar estar é, do ponto de aspetual, um verbo atélico, isto é, indica uma situação que não tende a um fim necessário. (Travaglia 2014, p.60) A situação expressa por estar + a + infinitivo tem fronteiras disjuntas e o instante localizador, a partir do qual a situação é construída, tem de apresentar um dos momentos da situação. (Costa 2007, p.638). Com base nisto, a perífrase estar + a + infinitivo combina-se normalmente com as situações que têm fronteiras implícitas, e, por esta razão, não se costuma combinar com verbos estativos. (Alzamora 2012, p.27) Apesar disso, existem casos em que a perífrase ocorre com predicados verbais estativos anulando a incompatibilidade (o rapaz está a ser simpático). Analisando esses casos podemos concluir que a combinação da perífrase estar + a + infinitivo é possível apenas caso a propriedade predicada seja uma propriedade permanente, faseável. (Alzamora 2012, p.27)

No que diz respeito ao aspeto da forma infinitiva do verbo que co-ocorre na perífrase com verbo auxiliar estar, o infinitivo é considerado aspetualmente neutro, isto é, não exprime noção aspetual nem na forma flexionada, nem na não flexionada. O infinitivo expressa apenas a ação praticada (ou a praticar) do sujeito da perífrase e o verbo auxiliar representa a modalidade da ação expressa pelo infinitivo. (Barroso 1990, p.32).

Todas as perífrases que se formam com o verbo auxiliar estar marcam, em todos os tempos flexionais e formas nominais (com a exceção de pretérito perfeito e pretérito-mais-que-perfeito do indicativo), os aspetos imperfectivo (situação é apresentada numa das suas fases de desenvolvimento), cursivo (situação se encontra em pleno desenvolvimento), não acabado (situação apresentada em sua realização, isto é, após o momento de início e antes de momento de

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término) e durativo (situação tem duração contínua limitada). (Travaglia 2014, p.191)

No que diz respeito ao aspeto durativo, estar + a + infinitivo no presente do indicativo é o marcador da noção do presente, no entanto, temos de destacar que essa caraterística não é compatível com expressões adverbiais que quantifiquem uma duração (*ele está a escrever durante três horas/ ele está a escrever desde o meio dia), isto é, a construção estar + a + infinitivo não é compatível com duração quantificada. (Sousa 2007, p. 639-640) O mesmo acontece se o verbo auxiliar estar passa ao pretérito imperfeito estava + a + infinitivo (*ele estava a ler durante três horas). Nestes casos a incompatibilidade resulta do caráter imperfetivo da situação em coocorrência com os adverbias que representam o intervalo do tempo quantificado, delimitado. Combinando a perífrase com qualquer tempo verbal perfetivo, resolve-se o problema de incompatibilidade, mas o valor expresso é apenas durativo e não progressivo (ele esteve a escrever durante três horas). (Sousa 2007, p. 640)

3.2.4 Caraterística geral da construção estar + gerúndio

O gerúndio perifrástico está formado por duas compontentes verbais, uma dos quais é o denominado verbo auxiliar (neste caso verbo auxiliar estar) e outro o gerúndio do verbo principal. A possibilidade de combinação do verbo estar com verbos estáticos é altamente restrita no português. No entanto, o PB parece aceitar esse tipo de construção, enquanto para um falante do PE trata-se duma construção pouco habitual.

O gerúndio é normalmente considerado como um marcador dos aspetos não acabado, cursivo e durativo, mas temos de destacar que o aspeto expresso pelo gerúndio depende “do tipo de oração desenvolvida, a que a reduzida de gerúndio corresponde e do tempo flexional em que está o verbo da principal”. (Travaglia 2014, p.173).

Construção estar + gerúndio é uma das perífrases de estar e, por isso, os aspetos marcados por estar + a + infinitivo são válidos também para esse tipo da construção, isto é, os aspetos marcados com todas as flexões verbais (com exceção de pretérito perfeito e pretérito-mais-que-perfeito do indicativo) são imperfetivo, cursivo, não acabado e durativo. Se o auxiliar aparecer no pretérito perfeito ou pretérito-mais-que-perfeito do indicativo, os aspetos marcados serão o perfetivo, o acabado e o durativo. (Travaglia 2014, p.196)

3.2.5 Uso das construções estar + gerúndio/infinitivo em PE e PB

Existem vários estudos que se dedicam a análise dos fatores que condicionam o uso do gerúndio ou infinitivo nas perífrases verbais no PE e PB. Enquanto que no português europeu predomina o uso da forma infinitiva precedida por preposição a, no português do Brasil o uso do gerúndio, é mais comum.

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À primeira vista pode parecer que existe uniformidade no uso do gerúndio ou do infinitivo nas construções progressivas conforme as duas variantes apresentadas, no entanto, há estudos que relevam que não há compatibilidade total entre o uso de gerúndio e forma infinitiva do verbo precedida por preposição a (ou outra preposição de acordo com o caráter semântico de verbo). Com base na obra de Neto e Foltran (2001) em que foram analisadas as construções progressivas de forma mais profunda, na língua não canônica, podemos encontrar casos das estruturas chamadas “perífrases com auxiliares aspectualizadores” (Neto e Foltran, 2001) que no português brasileiro podem ter as formas seguintes e que apesar da diferença estrutural revelam também desvios nas interpretações:

a. Ele começou a reclamar de tudo. (Neto e Foltran 2001, p.731) b. Ele começou reclamando de tudo. (Neto e Foltran 2001, p.731)

Enquanto que, no primeiro exemplo, a interpretação seria da situação em que o sujeito começa a fazer reclamações em sequência e, por isso, trata-se de várias eventualidades, no segundo caso a situação poderia ser interpretada como o evento único que se inicia com uma reclamação generalizadora. Com base nessas observações podemos pressupor que também o português europeu dispõe de construções que expressassem significados respetivos. (Neto e Foltran 2001, p.731-732)

O caráter do verbo auxiliar é um traço relevante no que diz respeito à inclinação ao uso de uma das estruturas apresentadas. Existem vários verbos auxiliares que mostram tendências semelhantes. Os autores Móia e Viotii (2004a, p. 121), chegam à conclusão de que não há regularidade visível na distribuição do gerúndio perifrástico ou infinitivo, porque os verbos auxiliares pertencentes à mesma família semântica e sintática comportam-se diferentemente, e que, por isso, é necessário tomar em conta outras diferenças que existem entre as duas variantes em questão, especificamente, formas ou estruturas que se encontram apenas (ou essencialmente) no PE ou PB. Para resumir observações introduzidas no trabalho de Móia e Viotti (2004a), apresentaremos o quadro de cinco grupos dos verbos auxiliares consoante a preferência do seu uso com gerúndio ou infinitivo no PE e no PB e de dois grupos das estruturas que ocorrem tipicamente no PE e no PB.

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Quadro 3: Classificação dos verbos auxiliares de acordo com a preferência de ligação com o gerúndio ou o infinitivo no PE ou PB

Verbo auxiliar Gerúndio Infinitivo

Verbos auxiliares com uso predominante do infinitivo em PE e do gerúndio em PB Andar PB PE Ficar PB PE Passar a vida PB PE Começar PB PE Verbos auxiliares com uso do gerúndio ou infinitivo em PB (e com uso predominante do infinitivo em PE) Continuar PB PE, PB Acabar PB PE, PB Verobs auxiliares com uso do gerúndio ou infinitivo em PE (e com uso predominante do gerúndio em PB) Vir PB, PE PE Ter vindo PE PE Verbos auxiliares que ocorrem apenas com gerúndio tanto no PE como no PB

Ir PB, PE -

Ir (pretérito

imperfeito) PB, PE -

Verbos auxiliares que ocorrem apenas com infinitivo

preposicionado tanto no PE como no PB

Vir [a] - PE, PB

Começar [a] - PE, PB

Chegar [a] - PE, PB

Voltar/Tornar [a] - PE, PB

Passar [a] - PE, PB

Pôr-se [a] - PE, PB

[verbo] + de - PE, PB

Formas ou

estruturas típicas do PB

Viver (com função

auxiliar) PB - Terminar [por] PB PB Estar + [GER do verbo estático] PB - Ir + Estar + [GER] PB - Formas ou estruturas típicas do PE Ir + [GER do verbo estático] PE - Ter + particípio passado + [a INF] - PE

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Do quadro apresentado acima podemos ver que a possiblidade de combinação do verbo estar com verbos estáticos é altamente restrita no português. No entanto, o PB parece aceitar esse tipo da construção, enquanto que para os falantes do PE trata-se duma construção estranha. (Móia e Viotti 2004a, p. 123)

Além disso, Móia e Viotti (2004a, p. 121) destacam que os verbos auxiliares que se ligam com a preposição de (por exemplo: deixar de, parar de, cessar de, acabar de, terminar de) ocorrem em ambas variantes da língua portuguesa apenas com o infinitivo.

Conforme os estudos de Fátima Oliveira, Luís Filipe Cunha e Anabela Gonçalves (2004, p.142) sobre os verbos aspetuais no português europeu e no português do Brasil, os verbos aspetuais como estar, andar, ficar, começar, passar e continuar co-ocorrem no padrão do PE contemporâneo com o infinitivo precedido por preposição a (com exceção dos dialetos do sul de Portugal em que a construção gerundiva também pode ser encontrada), porém, no PB esses verbos aspetuais podem ocorrer com ambas as construções. Os autores destacam que a distribuição de estar + a + infinitivo/estar + gerúndio com os verbos aspetuais no PB está longe de ser homogénea. Verbos como estar, andar e ficar ocorrem preferivelmente com a construção gerundiva, contrastando, a este respeito, com verbos começar e passar que escolhem, com mais frequência, a construção infinitiva. Apesar disso, é possível encontrar o comportamento comum aos verbos aspetuais do PB na escolha de uma das construções em causa, de acordo com o contexto que pode ser de estado ou de processo. No caso do contexto estativo, os verbos aspetuais do PB inclinam mais ao uso da construção infinitiva, enquanto que nos contextos que destacam o processo, os verbos aspectuais combinam-se preferivelmente com a construção gerundiva.

3.3 Verbos modais

Os verbos modais representam uma maneira mais comum através da qual são expressos os conceitos modais nas línguas naturais. (Mateus, Brito, Duarte, Faria, 2004, p. 245) Pertencem à categoria dos verbos auxiliares, isto é, os verbos modais têm de sempre combinar-se com verbos de sentido pleno e, consequentemente, não podem isolados, formar o predicado da oração. Verbos auxiliares modais combinam-se com o infinitivo ou gerúndio do verbo principal e determinam o modo como se realiza ou se deixa de realizar a ação verbal. (Bechara 2009, p.277)

Funcionalmente, os verbos modais marcam

“o resultado duma operação mental do falante sobre acções ou estados de coisas fornecendo ao mesmo tempo uma instrução ao ouvinte de reconstruir os contextos selecionados”. (Johnen 2010, p. 79-80)

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Os verbos auxiliares modais podem combinar-se também com outros verbos modais. No entanto, esse tipo da coocorrência está sujeita a restrições, uma vez que o primeiro dos verbos modais deve possuir uma interpretação epistémica (ela deve poder sair logo). (Mateus, Brito, Duarte, Faria 2004, p. 247)

Baseando-se na classificação de Bechara (Bechara 2009, p. 277-278), os verbos modais expressam os sentidos de:

necessidade, obrigação, dever

Exemplos das perífrases verbais que expressam esses sentidos: haver + de + inf. (Hei de passar no exame.)

ter + de + inf. (Tenho de fazer compras.) dever + inf. (Deves lhe pedir desculpas.) precisar + (de) + inf. (É preciso estar atento.)

necessitar + (de) + inf. (É necessário conhecer todas as regras da ortografia.)  possibilidade ou capacidade

Exemplos das perífrases verbais que expressam esses sentidos: poder + inf. (Podes fazer isso quando quiseres.)

 vontade ou desejo

Exemplos das perífrases verbais que expressam esses sentidos: querer + inf. (Quero ler esse jornal.)

desejar + inf. (Ela deseja despertar nos alunos a vontade de estudar.) odiar + inf. (Odeio interromper a tua festa.)

abominar + inf. (Eu abomino ter que fazer isso.) tentativa ou esforço

Exemplos das perífrases verbais que expressam esses sentidos: buscar + inf. (Apenas busco inspirar a humanidade.)

pretender + inf. (Ele pretende apenas destacar o mais relevante.) tentar + inf. (O Pedro tenta melhorar a sua condição de vida.) ousar + inf. (Ouso pô-lo em dúvida.)

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23  consecução

Exemplos das perífrases verbais que expressam esses sentidos: conseguir + inf. (Não consegui identificar a razão da sua decisão.) lograr + inf. (O presidente logra obter o apoio da maioria.)

aparência, dúvida

Exemplos das perífrases verbais que expressam esses sentidos: parecer + inf. (A económica parece ter atingido o seu ponto máximo.) movimento para realizar um intento futuro (próximo ou futuro)

Exemplos das perífrases verbais que expressam esses sentidos: ir + infinitivo (A República Checa vai aceitar mais refugiados.)

 resultado

Exemplos das perífrases verbais que expressam esses sentidos: vir + a + inf. (Há muito que venho a insistir nisso.)

chegar + a + inf. (Chegaste a saber o nome dela?)

Temos de destacar que no português canónico não existe um grupo dos verbos altamente gramaticalizado que é considerado como o grupo dos verbos modais e, por isso, as definições dos verbos modais no português são heterogêneas. (Johnen 2007, p.330) Os verbos modais caraterizam-se por grande variabilidade semântica e podem receber uma significação concreta apenas no nível dos enunciados. (Johnen 2010, p.79).

Em geral, os verbos modais podem dividir-se em dois sub-grupos: os epistêmicos, isto é, os verbos modais que exprimem uma atitude do locutor perante o enunciado, apoiando-se no campo do conhecimento sobre a veracidade do enunciado e permitindo assim o valor modal de possibilidade (Maria deve falar japonês para conseguir este emprego.) e os não epistêmicos, denominados também como verbos modais de orientação acional ou verbos modais deônticos que exprimem valores de permissão e obrigação (Maria deve falar japonês senão ela não teria a coragem de trabalhar no Japão.). (Johnen 2007, p.330) Baseando-se na obra de De Haan (2005), existe uma certa interação entre a categoria do tempo e a modalidade. A este respeito, o autor destaca dois tempos que se relacionam com a modalidade, nomeadamente, o futuro e o passado. No que diz respeito ao futuro, a explicação do autor sobre esse tipo da interação, especialmente entre a modalidade epistêmica e o futuro, é que os eventos do futuro ainda não se realizaram, e, por isso, existe uma certa incerteza quanto à sua realização.

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De acordo com De Haan (2005, p.34-35), uma relação semelhante existe também no caso do tempo passado. Os eventos do passado já se realizaram, isso é incontestável, não obstante, o passado é habitualmente usado para expressar noções modais como hipoteticidade e condicionalidade.

De ponto de vista sintático, os verbos modais podem ser constituídos por apenas um elemento verbal, ligado com preposição ou não (querer, poder, desejar, dever, ter de, etc.) ou por um conjunto dos pelo menos dois elementos justapostos, ligados com preposição ou não (ser possível, ser capaz de, etc.).

O objetivo do nosso trabalho é analisar o uso dos verbos modais em perífrases verbais estar + a infinitivo/gerúndio. A nossa hipótese é que no PE o uso dessas perífrases com verbos modais é extremamente raro, porque o PE considera a construção infinitiva por construção progressiva que capta a determinada ação no seu decorrer, focalizando o progresso ou decurso – propriedades que não são inerentes aos verbos modais. No que diz respeito à forma gerundiva, como já mencionámos no presente trabalho, o gerúndio é geralmente mais usado no PB do que no PE, por isso, a nossa hipótese é que também o uso dos verbos modais com gerúndio vai ser mais frequente no PB do que no PE.

3.4 Análise dos corpora

3.4.1 Descrição metodológica

Para a análise da frequência de uso do gerúndio com verbos modais nas duas variedades do português, recorreremos aos corpora Linguateca, nomeadamente ao corpus CETENFolha e CETEMPúblico, Corpus do Português e consultaremos também corpus OPUS 2 Portuguese e OPUS 2 Brazilian Portuguese que fazem parte de corpora Sketch Engine.

Nos ditos corpora comparar-se-á a ocorrência de construção estar + gerúndio do verbo modal, tipicamente usada no PB, com a ocorrência da estrutura estar + a + verbo modal, preferivelmente usada no PE. No que diz respeito aos verbos modais, em nossa análise serão incluídos sete verbos modais mais frequentemente mencionados pelas gramáticas da língua portuguesa, isto é, o verbo tentar, querer, poder, precisar, desejar, pretender e necessitar. Trata-se dos verbos modais que expressam vontade ou deTrata-sejo (querer, deTrata-sejar), capacidade (poder), necessidade ou dever (precisar, necessitar) e tentativa (pretender, tentar). A nossa decisão de não incluir na lista dos verbos modais o verbo dever, que também pertence aos verbos modais usados com alta frequência, deve-se ao fato de o seu significado de “ter dívidas” poder distorcer os resultados da pesquisa analítica. Da nossa análise decidimos excluir também as construções que envolvem o verbo leve (ter necessidade de, ter desejo de, etc.).

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Nos capítulos à seguir apresentaremos primeiro os supraditos corpora, e, em seguida, dedicaremos a nossa atenção a cada verbo analisado, destacando o número das ocorrências consoante o tipo da construção perifrástica (estar + a + infinitivo e estar + gerúndio) como também as estruturas das frases em que essas construções ocorrem. Nas frases obtidas dos corpora observaremos se a construção perifrástica influencia a valência dos verbos modais. Depois da análise quantitativa, resumiremos, em síntese, os resultados do corpus em causa. Após a análise quantitativa de todos os corpora, procederemos à análise comparativa entre os corpora de PB e PE e apresentaremos diferenças diatópicas no uso das construções perifrásticas em questão.

3.4.2 Descrição do corpus CETENFolha

O corpus CETENFolha (Corpus de Extractos de Textos Electrónicos NILC/Folha de S. Paulo) inclui textos do jornal brasileiro de circulação nacional “A Folha de S.Paulo”, fundado em 1960, que se organiza em cadernos temáticos diários e suplementos e que a partir de 1994 existe também na versão eletrónica. O corpus inclui todas as 365 edições de “A Folha de S.Paulo” do ano 1994, como também cadernos não-diários incluídos no jornal e é dividido em 340 947 extratos, clasificados por semestre e por caderno do jornal do qual provêm. Cada extrato divide-se em parágrafos e frases, sempre acompanhados por referências bibliográficas. No corpus não foram incluídas todas as partes do jornal. Excluíram-se por exemplo os artigos de primeira página que apenas contêm títulos dos artigos principais, os textos do jornal que não tinham relevância para o corpus ou os artigos duplicados (i.e., de duas cópias do mesmo artigo, só uma foi incluída). O CETENFolha contém cerca de 24 milhões de palavras. (Linguateca, 2014)1

3.4.2.1 Análise do CETENFolha

Na presente secção dedicar-nos-emos à análise do uso das construções perifrásticas com os verbos modais acima mencionados e observaremos a sua ocorrência no corpus CETENFolha.

Verbo TENTAR

I. Construção estar + tentando

Primeiro procuraremos no CETENFolha todas as ocorrências da construção estar + gerúndio do verbo modal, de acordo com o verbo modal em questão.

Através da pesquisa [lema="estar"][word="tentando"] chegámos a obter todas as construções que incluem o verbo auxiliar estar em todas as suas flexões com o verbo tentar na

1

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forma do gerúndio. O CETENFolha ofereceu-nos 540 resultados com as seguintes construções: a construção em que a perífrase estar + tentando introduz uma oração subordinada completiva infinitiva (exemplo a) ou uma oração subordinada completiva objetiva direta (como em c) e a construção em que o complemento do verbo tentar é expresso pelo sintagma nominal (exemplo b). Todas essas construções são formadas de acordo com a valência do verbo tentar que tem o caráter do verbo transitivo direto:

a. ESTAR + TENTANDO + INFINITIVO

No entanto, a ciência está tentando vencer essa barreira e acenando com inúmeras aplicações futuras da supercondutividade .

b. ESTAR + TENTANDO + SINTAGMA NOMINAL

Até o meio-dia de ontem, o desembargador estava tentando um contato com o governador para definir se aceitava ou não o cargo.

c. ESTAR + TENTANDO + (QUE) ORAÇÃO

Com os Estados, o governo 'tá tentando que todos eles cobrem ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) apenas sobre os preços à vista, uma prática já adotada pelo Estado de São Paulo.

II. Construção estar + a + tentar

Em seguida, através de [lema="estar"][word="a"][word="tentar"] observamos a estrutura perifrástica, em que o verbo modal aparece no infinitivo precedido da preposição a. Para este caso não foram encontrados nenhumas ocorrências no PB, o que apenas confirma a informação geralmente conhecida que a estrutura estar + a + infinitivo não se usa no PB com tal frequência como no PE.

Verbo QUERER

I. Construção estar + querendo

O CETENFolha ofereceu-nos 261 ocorrências das sequências que incluem o verbo auxiliar estar e o gerúndio do verbo querer. Trata-se das construções em que a perífrase estar + querendo é seguida duma oração subordinada completiva infinitiva (exemplo a) ou simplesmente dum sintagma nominal (exemplo b). Além disso, como se pode ver no exemplo c, a perífrase estar + querendo pode introduzir uma oração subordinada completiva objetiva direta.

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O verbo querer é o verbo transitivo direto ou indireto e podemos observar que as construções com perífrase gerundiva seguem a valência do verbo querer:

a. ESTAR + QUERENDO + INFINITIVO

Está querendo se caracterizar também como o anti-povo. b. ESTAR + QUERENDO + SINTAGMA NOMINAL

Os investidores estão querendo as regras para aplicar cerca de 10 a 15 bilhões no setor», alegou Élcio.

c. ESTAR + QUERENDO + (QUE) ORAÇÃO

Está querendo que o Congresso convoque o Banco do Brasil para dar explicações

por que as outras seguradoras foram preteridas nessas associações.

II. Construção estar + a + querer

Recorremos ao corpus com a mesma pesquisa como no caso do verbo tentar para encontrar todas as ocorrências da construção perifrástica com o infinitivo preposicionado do verbo querer. A análise dos restantes verbos modais será efetuada segundo o mesmo procedimento.

Tal como no caso do verbo tentar, para o verbo querer também não foi encontrado nenhum resultado.

Verbo PODER

I. Construção estar + podendo

No corpus encontramos 27 ocorrências do uso do gerúndio com o verbo modal transitivo direto poder. Todas as ocorrências representaram as construções com uma oração subordinada completiva infinitiva e, portanto, respeitam a valência do verbo poder:

a. ESTAR + PODENDO + INFINITIVO

Os moradores de Santa Cruz do Sul 'tão podendo conhecer a lagarta taturana, cuja picada, tóxica, já provocou mortes no interior do Estado.

II. Construção estar + a + poder

No que diz respeito à construção infinitiva, como nos casos anteriores, no caso do verbo poder o corpus não nos oferece nunhum resultado.

(28)

28 Verbo PRECISAR

I. Construção estar + precisando

No caso do verbo precisar, procedemos à análise dos 94 resultados da ocorrência da perífrase estar + precisando com as construções em que o complemento do verbo poder é representado por um verbo na forma infinitiva, e, por isso, trata-se da oração subordinada completiva infinitiva (exemplo a) ou por um sintagma nominal (exemplo b). O verbo precisar é o verbo transitivo indireto, por isso, neste último caso, o complemento do verbo precisar deveria ocorrer introduzido pela preposição de. A ausência da preposição de é muito frequente sobretudo no PB, contudo, é considerada aceitável quando o complemento do verbo precisar é uma oração completiva introudzida pela preposição que como podemos observar no exemplo c. Todas as construções portanto respeitam a valência do verbo precisar. Na construção apresentada em d. podemos ver que a perífrase estar + precisando pode ser precedida por outro verbo modal, com mais frequência pelo verbo poder ou dever. Vejam-se alguns dos exemplos das frases que contém essa construção encontradas no corpus:

a. ESTAR + PRECISANDO + INFINITIVO

Dona Lúcia, mãe do cineasta, está precisando informatizar o arquivo dos 60.000 documentos de Glauber que ela mantém, quase sozinha, num casarão da Rua Sorocaba.

b. ESTAR + PRECISANDO + (DE) SINTAGMA NOMINAL

O atlas será importante também para o ensino de 1º e 2º graus, que estava

precisando de um atlas atualizado.

c. ESTAR + PRECISANDO + (QUE) ORAÇÃO

Agora, posso lhe dizer, sinceramente: se amanhã ou depois um cliente chega e não vai-lhe pagar e diz «eu não lhe pago, porque eu 'tou precisando que você me ajude nisso ou naquilo, você não tenha dúvida que eu não vou pensar duas vezes.

d. VERBO MODAL + ESTAR + PRECISANDO

Quando uma pessoa só consegue obter prazer através de uma prática sexual incomum, ela pode 'tar precisando da ajuda de um 'pecialista (terapeuta).

II. Construção estar + a + precisar

No CETENFolha não encontramos resultados para a construção com o infinitivo do verbo precisar preposicionado.

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29 Verbo DESEJAR

I. Construção estar + desejando

O CETENFolha forneceu-nos apenas cinco ocorrências com as construções em que o complemento do verbo transitivo direto desejar é expresso por uma oração subordinada completiva infinitiva, por um sintagma nominal ou por uma oração subordinada completiva objetiva direta. De acordo com isso, a valência do verbo desejar nas construções com perífrase estar + desejando é preservada. A seguir apresentaremos alguns exemplos tirados do corpus:

a. ESTAR + DESEJANDO + INFINITIVO

Ministro: Olha, o Congresso evidentemente, é autônomo e soberano, mas o que eu ouvi do Presidente e do Relator da Comissão, é que eles 'tão desejando incluir a data de 1º, já no projeto de conversão da atual medida.

b. ESTAR + DESEJANDO + SINTAGMA NOMINAL

Hoje, quando me defronto com qualquer medo, troco a palavra por ' desejo ' e pergunto: por que estou desejando isto?

c. ESTAR + DESEJANDO + (QUE) ORAÇÃO

Para que não se desanime com as reações nem com as lacunas, elas são naturais do processo e todos 'tamos desejando que o plano dê certo, que o Brasil saia da crise.

II. Construção estar + a + desejar

Para esse tipo da construção não foi encontrado nenhum resultado.

Verbo PRETENDER

I. Construção estar + pretendendo

O corpus forneceu-nos 11 resultados entre os quais podemos encontrar construções com orações subordinadas completivas infinitivas que respeitam a valência do verbo transitivo direto pretender. Nesse tipo das construções, a perífrase estar + pretendendo pode ocorrer precedida dum verbo modal:

a. ESTAR + PRETENDENDO + INFINITIVO

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b. VERBO MODAL + ESTAR + PRETENDENDO

Ele está trazendo uma árvore para cá, deve estar pretendendo fazer uma grande fogueira por aqui.

II. Construção estar + a + pretender

No caso do verbo pretender, o CETENFolha ofereceu-nos apenas dois casos em que o verbo modal aparece na construção perifrástica estar + a + pretender. Trata-se em ambos os casos das construções com as orações subordinadas completivas infinitivas que estão de acordo com a estrutura valencial do verbo pretender:

a. ESTAR + A + PRETENDER + INFINITIVO

Lídia Jorge retoma aqui o mito de Penélope, como se pode perceber nas palavras de uma das mulheres da vila: «está a pretender fazer como aquela mulher de seu marido do princípio do mundo?»2

Verbo NECESSITAR

I. Construção estar + necessitando

No corpus encontrámos 8 ocorrências da perífrase estar + necessitando. Em todas as ocorrências o complemento do verbo necessitar é um sintagma nominal precedido ou não de preposição de (o verbo necessitar é o verbo transitivo direto ou indireto):

a. ESTAR + NECESSITANDO + (DE) SINTAGMA NOMINAL

Os títulos são de curto prazo (28 dias) e os bancos 'tão necessitando dos papéis para colocar em seus fundos de investimento, como o fundão.

II. Construção estar + a + necessitar

O verbo necessitar na construção perifrástica infinitiva não ocorre no corpus. 3.4.2.2 Resumo dos resultados do CETENFolha

O objetivo dessa secção será resumir brevemente os resultados da nossa análise do corpus CETENFolha feita na secção anterior. No corpus procurámos todas as ocorrências da construção perifrástica gerundiva (estar + gerúndio) e da construção perifrástica infinitiva (estar + a + infinitivo) com sete verbos modais da nossa escolha.

2

Trata-se, em ambos os casos encontrados no corpus CETENFolha, do discurso direto no PE da autora portuguesa, Lídia Jorge, por isso, não vamos incluir nenhuma dessas ocorrências na lista dos resultados.

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O quadro seguinte apresenta o número das ocorrências encontradas.

Quadro 4: Comparação de ocorrências de construção estar + gerúndio e estar + a + infinitivo com os verbos modais no CETENFolha

Verbo modal estar + gerúndio do verbo modal estar + a + infinitivo do verbo modal

Tentar 540 0 Querer 261 0 Precisar 94 0 Poder 27 0 Pretender 11 0 Necessitar 8 0 Desejar 5 0

Apesar de o corpus CETENFolha nos oferecer uma amostra dos dados relativamente pequena, podemos dizer que os resultados da presente pesquisa confirmam a nossa hipótese: pressupunha-se que o uso do gerúndio com verbos modais é muito mais frequênte no PB do que no PE.

De ponto de vista sintática, a perífrase estar + gerúndio pode ocorrer nas construções com orações subordinadas completivas infinitivas (estar + gerúndio + oração completiva infinitiva) ou completivas objetivas (estar + gerúndio + que + oração subordinada completiva) respeitando o caráter valencial do respetivo verbo modal. Apesar de o complemento do verbo modal ser expresso pela oração subordinada, pode ser expresso também pelo sintagma nominal precedido ou não de preposição, de acordo com a estrutura valencial do verbo modal em causa.

Perífrase infinitiva foi encontrada apenas num único tipo da construção, isto é, na construção com oração subordinada completiva infinitiva (estar + a + infinitivo do verbo modal + infinitivo).

3.4.3 Descrição do corpus CETEMPúblico

O corpus CETEMPúblico (Corpus de Extractos de Textos Electrónicos MCT/Público) que inclui textos de cerca de 2 600 edições do jornal PÚBLICO (entre os anos 1991 – 1998). Trata-se de jornal diário português de grande circulação, fundado em 1991, publicado simultaneamente em Lisboa e no Porto.

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32

A partir de 1995, existe também na versão online (www.publico.pt). O corpus contém, aproximadamente, 180 milhões de palavras e está dividido em 1 567 625 extratos classificados por semestre e por secção do jornal da qual provêm. Cada extrato divide-se em parágrafos e frases acompamhados por referências bibliográficas (título, autor). Apesar dos textos redigidos exclusivamente em português europeu, podemos encontrar no corpus alguns textos dos autores brasileiros e africanos, que representam, contudo, menos de 0,2%. A versão atual do CETEMPúblico é a versão 1.7 de 18 de Setembro de 2001. Nesta versão, apesar das tentativas de eliminar extratos duplicados na versão 1.2, existem alguns artigos repetidos. (Linguateca, 2014)3

Para a análise do uso do gerúndio com os verbos modais pesquisamos, no CETEMPúblico, com as mesmas construções que no CETENFolha.

3.4.3.1 Análise do CETEMPúblico Verbo TENTAR

I. Construção estar + tentando

O CETEMPúblico ofereceu-nos apenas três resultados com as construções em que o complemento do verbo transitivo direto tentar é um oração subordinada completiva infinitiva ou um sintagma nominal. Como vimos no CETENFolha, a perífrase estar + tentando pode introduzir uma oração subordinada completiva objetiva direta, no entanto, este tipo da construção não aparece no CETEMPúblico:

a. ESTAR + TENTANDO + INFINITIVO

Simplesmente, enquanto ele, como artesão, estava tentando consolidar essa parede, gerava-se, atrás dele, um problema mais grave, mais urgente, e que caiu sobre ele, que era a questão colonial.

b. ESTAR + TENTANDO + SINTAGMA NOMINAL

Me criticam mas eu digo uma coisa: os adversários tremem quando eu tenho a bola no pé porque sabem que estou tentando o remate e que, de um momento para o outro, a bola pode entrar.

3

(33)

33 II. Construção estar + a + tentar

No caso da pesquisa das frases com infinitivo preposicionado encontrámos 446 ocorrências com a construção em que a perífrase estar + a + tentar é seguida da oração subordinada completiva infinitiva:

a. ESTAR + A + TENTAR + INFINITIVO

São palavras interessantes, mas a verdade é que até os Estados Unidos estão a

tentar corrigir essa tendência para a privatização com experiências que vêm buscar

à Europa.

Já depois da análise do primeiro dos escolhidos verbos modais estamos perante um fenómeno contrário ao aquele que notámos no CETENFolha, isto é, predominância do uso da construção perifrástica com o infinitivo preposicionado em vez da forma gerundiva do verbo modal.

Verbo QUERER

I. Construção estar + querendo

O corpus não nos oferece nenhum resultado do uso do gerúndio perifrástico com o verbo modal querer.

II. Construção estar + a + querer

Na pesquisa da perífrase estar + a + querer encontrámos no CETEMPúblico 51 ocorrências. Nas construções encontradas, o complemento do verbo querer ocorre expresso pela oração subordinada completiva infinitiva ou pelo sintagma nominal, respeitando a valência deste verbo modal. Vejam-se os exemplos dessas construções tirados do corpus:

a. ESTAR + A + QUERER + INFINITIVO

Está a querer dizer que há uma maior espontaneidade na criação deste

personagem?

b. ESTAR + A + QUERER + SINTAGMA NOMINAL

O homem já veio aqui contar as pessoas que estão a querer bilhete.

Verbo PODER

I. Construção estar + podendo

(34)

34 II. Construção estar + a + poder

O CETEMPúblico contém apenas uma construção com a perífrase estar + a + poder. Trata-se da construção em que a prífrase infinitiva introduz uma oração subordinada completiva infinitiva:

a. ESTAR + A + PODER + INFINITIVO

Isso vai obrigar-los a um esforço de concisão único, habituados que estavam a

poder estender por dez longos minutos a respectiva mensagem eleitoral.

Verbo PRECISAR

I. Construção estar + precisando

O corpus ofereceu-nos apenas uma ocorrência da construção perifrástica estar + precisando em que o complemento do verbo precisar é expresso pelo sintagma nominal e introduzido pela preposição de, fato que se deve à valência estrutural do verbo transitivo indireto precisar. Como já mencionámos, no PE o complemento do verbo precisar é sempre introduzido pela preposição de, enquanto no PB a omissão da preposição é frequente, e, no registo não formal, considerada aceitável (no registo formal recomenda-se o uso da preposição):

a. ESTAR + PRECISANDO + (DE) SINTAGMA NOMINAL

Na passada quinta-feira, um elemento da escola de samba Beija Flor admitiu, depois de ter dançado para Carlos e Diana num banquete no Rio de Janeiro, que «um rei poderia fazer muito bem ao Brasil, pois os brasileiros estão precisando de um pai, tal o abandono em que se encontram».4

II. Construção estar + a + precisar

No CETEMPúblico encontrámos 30 ocorrências da construção estar + a + precisar ligada ao complemento do verbo precisar através da preposição de. Nos respetivos casos, o complemento foi expresso pela oração subordinada completiva infinitiva ou pelo sintagma nominal:

a. ESTAR + A + PRECISAR + (DE) INFINITIVO

Mas ainda bem que te encontro, porque estava a precisar de falar contigo. b. ESTAR + A + PRECISAR + (DE) SINTAGMA NOMINAL

Mas, mesmo reconhecendo isso, ele estava a precisar de uma motivação extra para a sua já longa carreira.

4

Neste caso trata-se do exemplo do discurso direto no PB que faz parte da notícia publicada no jornal PÚBLICO, material de base do corpus CETEMPúblico. Decidimos não incluir essa ocorrência nos resultados, por não se tratar do discurso no PE.

(35)

35 Verbo DESEJAR

No que diz respeito ao verbo desejar, o CETEMPúblico não nos oferece resultados do seu uso com o gerúndio nem com o infinitivo preposicionado.

Verbo PRETENDER

I. Construção estar + pretendendo

Frases com esse tipo da estrutura não aparecem no corpus. II. Construção estar + a + pretender

Encontrámos apenas três casos do uso da perífrase estar + a + pretender. Em todos os casos a perífrase estar + a + pretender introduz uma oração subordinada completiva infinitiva respeitando o caráter transitivo direto do presente verbo modal:

a. ESTAR + A + PRETENDER + INFINITIVO

Para o director do Hospital, Esteves Franco, a Ordem está a

pretender «escamotear a realidade».

Verbo NECESSITAR

I. Construção estar + necessitando

O CETEMPúblico não nos oferece nenhum resultado desse tipo da construção com o verbo modal necessitar.

II. Construção estar + a + necessitar

No corpus encontrámos 9 casos do uso do infinitivo preposicionado com o verbo trasitivo direto ou indireto necessitar. Trata-se, em todos os casos, da construção em que o complemento do verbo necessitar é um sintagma nominal introduzido pela preposição de:

a. ESTAR + A + NECESSITAR + (DE) SINTAGMA NOMINAL

A recuperação das telas parece vir um pouco atrasada, uma vez que toda a igreja está a necessitar de uma urgente intervenção de fundo .

3.4.3.2 Resumo dos resultados do CETEMPúblico

Na presente secção resumiremos resultados da nossa análise do corpus CETEMPúblico. Como se trata de corpus que inclui textos escritos predominantemente no PE, a nossa premissa era que o uso do infinitivo preposicionado iria ser mais frequente do que o uso do gerúndio.

Referências

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