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Conteúdo. O Significado do Sismo de Lisboa de 1755 no Contexto Genésico da Actual Gestão do Risco

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O Significado do Sismo de O Significado do Sismo de Lisboa de 1755 no Contexto Lisboa de 1755 no Contexto Gen

Genéésico da Actual Gestão sico da Actual Gestão do Risco

do Risco

A. Betâmio de Almeida

Novembro de 2005

O Grande Terramoto de Lisboa: Ficar Diferente

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Fundação Cidade de Lisboa Conteúdo

• Introdução

• Risco e gestão do risco na actualidade

• Memória e conhecimento associados a sismos (antes de 1755) • A reacção ao sismo de 1755 como proto-gestão do risco

– Resposta de emergência

– Reconstrução (planeamento) e mitigação do risco – Comunicação e descrições da catástrofe

• O debate moral e filosófico como condicionante de uma análise do risco actual

• Novas memórias e conhecimentos • Considerações finais

• O sismo de Lisboa (1755) é considerado como sendo o primeiro desastre da “idade moderna” e o catalizador de uma mudança crucial nas percepções culturais e sociais relativas a catástrofes naturais.

• A razão para uma tal mudança que a memória colectiva regista está associada:

– Às características específicas do evento (tremor de terra, maremoto e incêndios violentos);

– O local e o dia de ocorrência (factor simbólico religioso);

– O ambiente cultural e de mudança na Europa (mudança filosófica);

– As acções coordenadas e centralizadas de emergência e de recuperação (atitude operacional).

• Baseado em fontes bibliográficas (*), o autor defende que, de entre

as diferentes mudanças desencadeadas pelo terramoto de Lisboa, o evento pode também ser associado à génese histórica do que é, actualmente, designado por gestão do risco.

• A Memória e o Conhecimento constituem o enquadramento estruturante do presente trabalho.

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• O percurso histórico do conceito “moderno” de risco – combinação de incerteza, magnitude do perigo e consequências – teve início na Renascença e está associado à resposta às vicissitudes naturais e às ameaças do Mundo (viagens e comércio).

• O mundo actual é muito sensível às ameaças naturais e às induzidas pela sociedade.

• Uma cultura de risco, centrada em eventos futuros possíveis e em potenciais catástrofes ou acidentes é, na actualidade, um conceito dominante.

– “Risk Society” (Beck, 1986) – “Living with Risk” (UN – 2004)

GESTÃO DO RISCO – VISÃO ACTUAL Lisboa, 1755

O que mudou??

Sumatra, 2004

A percepção que o Mundo está mais perigoso, com mais risco, será verdadeira ou não?

A resposta emergente, no século 20, baseia-se na análise e gestão do risco, como sendo

– Uma adequada estrutura racionalde conhecimento, dados (memória) e organização (“logos”)

– Um modo eficiente para envolver a percepção e a participaçãopúblicas (“pathos”)

– Uma atitudeproactiva dos poderes políticos e sociais (“ethos”)

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Apreciação do risco Critérios de aceitação/ tolerabilidade Legislação Análise crítica Orientação de decisões Gestão do risco Controlo e mitigação Decisão Avaliação do Risco Ética Lei Políticas públicas Comunicação do risco Percepção pública Análise do risco Identificação do perigo Selecção de cenários Estimativa de probabilidades Estimativa de vulnerabilidades Consequências exp. Estimativa do risco Redução do risco Prevenção Protecção Planeamento de emergência Planos de evacuação Sistemas de aviso Exercícios Resposta a crise Acções de emergência Evacuação Alívio Ajuda pós-desastre

“Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”

Resposta ao Rei D. José atribuída ao Marquês de Pombal RESPOSTA PÓS-DESASTRE – PROTECÇÃO CIVIL (1755)

RESPOSTA P

RESPOSTA PÓÓSS--DESASTRE DESASTRE ––PROTECPROTECÇÇÃO CIVILÃO CIVIL

• Responsabilidade e resposta operacional do Estado (moderno) • Liderança e carisma pessoal (Marquês de Pombal)

Remoção rápida de cadáveres parta evitar epidemias (ex: utilização e

afundamento de barcas com simplificação dos ritos religiosos)

Tratamento, alimentação e acolhimento de sobreviventes (ex: hospitais

de emergência,disponibilização de alimentação, controlo de preços, campos de refugiados).

Garantia de segurança pública, evitando os saques (ex: execuções e exposição de setenciados, sistema de passes para deslocação)

Luta contra a superstição e as profecias para evitar o terror e posições reaccionárias.

Recursos financeiros especiais e legislação (“Providências” – 1755-56) Ajuda internacional

RECONSTRU

RECONSTRUÇÇÃO (PLANEAMENTO) MITIGAÃO (PLANEAMENTO) MITIGAÇÇÃO DO RISCO (1755)ÃO DO RISCO (1755)

• Remoção de escombros e desenvolvimento de planos preliminares de reconstrução: relatório técnico do engenheiro-chefe Manuel da Maia

• Planos para a reconstrução com melhoria na segurança estrutural, na estética e lógica urbana e na saúde pública (equipa de engenheiros e arquitectos)

• Levantamento e registo de ruas, praças e casas para evitar futuras

querelas

• Proibição de construir novas casas fora do plano

• Complexo planeamento logístico (materiais, recursos humanos, apoios financeiros e medidas legislativas) e controlo da

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• Limitação do número de andares das novas construções (recomendação de Maia)

• Novas ruas mais largas

• Prevenção contra a queda de blocos no colapso de edifícios baseada na introdução de uma estrutura de madeira para construção (“gaiola” que foi testada – comportamento dinâmico)

CONTROLO DE POTENCIAIS FUTUROS DANOS (CONTROLO DE

CONTROLO DE POTENCIAIS FUTUROS DANOS (CONTROLO DE

VULNERABILIDADE E MITIGA

VULNERABILIDADE E MITIGAÇÇÃO DO RISCO) ÃO DO RISCO) --17551755

Uma componente relevante de cada cultura humana pode ser identificada pelo modo como encontra uma explicação e um significado para as perturbações violentas da vida e da estrutura supostamente ordenada do mundo (catástrofes naturais).

NOVAS CONSIÇÕES PARA UMA AVALIAÇÃO DO RISCO (ACTUAL). O DEBATE MORAL E FILOSÓFICO (1755)

Platão (“Timeu”)

Explica que muitas destruições de povos ocorreram no passado e que o mesmo acontecerá no futuro.

As principais causas selecionadas para tais eventos foram o fogo e a água: “a terra é submersa pelos deuses para purificar os habitantes...”, ”...contrariamente aos que os Egípcios fazem, outros povos (os Gregos) não preservam o conhecimento através da escrita...”

MEMÓRIA E CONHECIMENTO (ANTERIOR A 1755)

A falta de memóriarelativamente às causas e aos efeitos dos acontecimenbtos que “periodicamente” atingem os humanos” faria manter a ignorância dos povos, como “crianças que não sabem o que aconteceu nos tempos antigos”...

Memória e conhecimentoé a chave para a protecção de acordo com Platão.

Teorias dos sismos (baseadas em actos de deuses ou em causas físicas) são propostas na Antiguidade, incluindo interpretações bíblicas.

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Aristóteles desenvolveu a sua própria explicação (conceito de “pneuma” – geração de ventos e circulação interna no interior da Terra sob a influência das condições climáticas).

As ideias de Aristóteles eram ainda respeitadas no século XVIII.

MEMÓRIA E CONHECIMENTO (ANTERIOR A 1755)

Contudo, a crença nas causas naturais dos sismos constituía a heresia n.º 102 para Philastrios, abade de Brescia (séc. IV) e a teoria de Aristóteles era aceite na Idade Média (pela Igreja), com uma salvaguarda importante:

“a causa principal dos terramotos é Deus, e só de modo colateral poderá ser atribuida a ventos subterrâneos”.

(St. Tomás de Aquino, séc. XIII – Fonseca, 2004, p.102) Na Renascença surgem novas questões e teorias

MEMÓRIA E CONHECIMENTO (ANTERIOR A 1755)

O sismo de 1755 deu origem a um debate moral e filosófico intenso envolvendo proeminentes intelectuais do Iluminismo: Voltaire, Rousseau, Kant,... entre outros.

Voltaire

Perplexidade relativamente à Bondade e à Providência Divinas (a crença de que Deus não só criou o mundo como também governa e toma conta do seu bem estar, do bem estar do Homem) – crítica a posições filosóficas anteriores de Leibniz, Pope (“o melhor dos mundos”)

- Poema sobre o terramoto de Lisboa - Candide

CONDIÇÕES EMERGENTES PARA UMA FUTURA ANÁLISE DO RISCO. O DEBATE MORAL E FILOSÓFICO (1755)

Rousseau

Resposta a Voltaire (1756) e a introdução de uma visão social dos desastres implicando a responsabilidade humanarelativamente à possibilidade de mitigação de danos (conceito de vulnerabilidade) e à resposta humana (psicologia social) face a uma catástrofe (importância de uma evacuação eficiente) – introduz a ideia que um desastre é, também, uma construção social:

“a natureza não construiu vinte mil casas de seis ou sete pisos, e se os habitantes dessa grande cidade se tivessem distribuído mais e construído casas menores, muito menos danos teriam acontecido, talvez mesmo nenhum. Quantos desgraçados morreram neste desastre porque quiseram salvar as suas roupas, os seus papeis, o seu dinheiro?” Lettre sur la Providence, 1756.

CONDIÇÕES EMERGENTES PARA UMA FUTURA ANÁLISE DO RISCO. O DEBATE MORAL E FILOSÓFICO (1755)

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O conceito de vulnerabilidade, operador dos danos prováveis nos valores expostos, é muito actual e pode fazer a diferença entre uma catástrofe e um desastre social.

Kant

Pública uma análise crítica (três notas em 1756) dos terramotos, à disposição de Lisboa relativamente aos potenciais danos provocados por sismos e apresenta explicações físicas (neutras) para o fenómeno, livre de “causas finais” religiosas. Posteriormente, faz contribuições muito relevantes para o debate (Providência) – limites epistemológicos da razão humana e do conhecimento da relação entre causas morais e naturais.

CONDIÇÕES EMERGENTES PARA UMA FUTURA ANÁLISE DO RISCO. O DEBATE MORAL E FILOSÓFICO (1755)

O debate suscitado pelo sismo de Lisboa acelerou uma deslocação filosófica fundamental, uma condição necessária para a possibilidade da actual

avaliação do risco. Constrangimentos morais Explicação religiosa (causas finais) Responsabilidade moral passiva A ciência escrava dos deuses Virtude, felicidade, moral Causas morais deslocação Explicação científica Constrangimentos epistémicos Responsabilidade humana activa Previsão, razão e memória (causas naturais)

Os escritos de Voltaire (e.g. o poema dedicado ao terramoto de Lisboa e o livro Candide publicado em 1759) constituiram uma forte contribuição para a mudança do optimismo intelectual e potencial fatalismo para uma posição mais céptica que é uma condição necessária para a “construção” de cenários futuros no contexto de uma análise do risco.

A alteração na ordem natural como resultado de vontades impenetráveis e de castigos divinos seria incompatível com a análise racional das “causas naturais” (leis naturais) e na procura das regularidades dos “fenómenos naturais” (frequências).

CONDIÇÕES EMERGENTES PARA UMA FUTURA ANÁLISE DO RISCO. O DEBATE MORAL E FILOSÓFICO (1755)

Na análise e avaliação do risco, necessitamos de acreditar convictamente nas cadeias, e processos causais (probabilísticos ou determinísticos) previstos associados a eventos futuros potenciais (cenários) e baseados no nosso melhor conhecimento e memórias. A análise do risco baseia-se em eventos ou situações perigosas neutrais e incertas, sem contar com a eventual interferência de uma vontade ou razão transcendental que possa perturbar a “regularidade da natureza” e as probabilidades de acordo com critérios morais ou de castigo.

CONDIÇÕES EMERGENTES PARA UMA FUTURA ANÁLISE DO RISCO. O DEBATE MORAL E FILOSÓFICO (1755)

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S

SÉÉCULOS XX CULOS XX ––XXI (novas deslocaXXI (novas deslocaçções culturais?)ões culturais?)

Explicação científica (Iluminismo) Atitude (“ethos” e imagem, prevenção da responsabilidade política) Deslocação – fundamento científico (racional) – Acção política – princípio da precaução Percepção públicae comunicação (intervenção

dos media e opinião pública)

Ética ambiental– catástrofes naturais provocadas pelo Homem (responsabilidade e culpa

humanas)

• A previsão fiável e o alerta antecipado de sismos ainda não são possíveis mas o controlo das vulnerabilidades(baseado na resposta dinâmica dos edifícios, no mapeamento de risco sísmico, e no controlo de danos) é possível.

• A protecção pode ser obtida por uma boa gestão da memória e do conhecimento(como Platão escreveu no Timeu). Contudo, a gestão da memória deve respeitar um adequado e saudável grau de esquecimento público; contudo alguns, de entre nós, devem conhecer, lembrar e não esquecer, e serem responsáveis pela implementação de sistemas eficientes de protecção e de educação e informação públicas.

MEM

MEMÓÓRIA E CONHECIMENTO RIA E CONHECIMENTO ––COMPONENTES MUITO IMPORTANTES COMPONENTES MUITO IMPORTANTES

PARA UMA GESTÃO DO RISCO

PARA UMA GESTÃO DO RISCO

1755 SISMO Impacto emocional Consequências/ perdas/ vítimas Resposta Reconstrução Literatura e figuras. Descrições de testemunhos Impacto cultural Discussão científica. Debate filosófico e moral Causas (diagnóstico) Significado (percepção) Responsabilidade Critérios PROTO-GESTÃO DO RISCO Planeamento de emergência. Protecção e mitigação Apreciação do risco Discussão pública Percepção do público Filosofia do risco Recuperação Salvamento Resposta a crises Vulnerabilidade Comunicação

Componentes de uma gestão do risco actual

Terramoto de 1755 Terramoto de 1755

CONSIDERA

CONSIDERAÇÇÕES FINAISÕES FINAIS

• O autor está confiante (sem “pecado” de anacronismo) no acerto da conjectura associando oterramoto de 1755 à génesedo que é actualmente designado por gestão do risco.

• A gestão do risco é um conceito que pressupõe umaposição racional forte relativamente ao passado (memória e conhecimento) e aos potenciais futuros eventos catastróficos.

• O movimento Iluminista e os debates filosóficos relativos ao significado e à responsabilidade moral associados ao terramoto de Lisboa permitiram a aplicação do método científico. Desacoplamento de causas naturais e morais (relação).

• A memória do “marco” histórico de 1755 deveria constituir uma motivação forte para uma contínua actualização e um esforço integrado tendo em vista a protecção do públicocontra catástrofes em Portugal e no Mundo.

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Este trabalho foi motivado por actividades no âmbito do Curso de Mestrado em Filosofia e

História da Ciência da Universidade Nova de Lisboa

(2004-2005) Obrigado

Referências

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