EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR RELATOR SOUZA PRUDENTE, DA 5ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO.
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROCESSO Nº 1015545-93.2021.4.01.0000
INTERVOZES – COLETIVO BRASIL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL e OUTRAS, por intermédio de seus procuradores, vêm respeitosamente a Vossa Excelência, nestes autos do AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE EFEITO ATIVO, interposto em face de decisão interlocutória proferida em ação civil pública em que contendem com a UNIÃO FEDERAL e AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES – ANATEL, tendo em vista o pedido de Efeito Ativo e a ocorrência de fatos novos relevantes para o julgamento deste recurso, manifestar-se com base nos fundamentos a seguir articulados.
2. Os pedidos foram feitos diante dos riscos de perda do valor dos bens reversíveis e da soberania do país sobre as radiofrequências, o que afeta diretamente o erário e o interesse público relacionado ao acesso à serviços de telecomunicações e de acesso à internet, que são essenciais para o exercício da cidadania e para o desenvolvimento econômico e social do país.
3. Os riscos apontados decorrem especialmente de condutas adotadas pela ANATEL ao longo dos anos de vigência das concessões, que revelam descontrole sobre os bens reversíveis e sobre o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos públicos, como já foi detalhadamente constatado por decisões do Tribunal de Contas da União por meio das decisões mencionadas na minuta de agravo e encartadas aos autos.
4. Ocorre que, para além dos riscos decorrentes da metodologia econômica definida pela ANATEL, que tem respaldado todo o processo preparatório para a transição das concessões para autorizações e das disposições da Resolução 741/2021, que revelam ilegalidades patentes como está apontado nas razões recursais em detalhes, novos fatos ocorreram desde a data de interposição deste recurso.
I – O TERMO DE COMPROMISSO ARBITRAL ENTRE ANATEL E TELEFÔNICA
5. O primeiro destes fatos diz respeito ao Termo de Compromisso Arbitral firmado entre a ANATEL e a Telefônica em 30 de junho deste ano (doc. 1), cuja matéria objeto da arbitragem é o seguinte:
6. É certo que a instauração de arbitragem para a solução de conflitos entre concessionárias e a ANATEL é um direito expresso nos contratos de concessão.
7. Entretanto, a instauração de Termo de Compromisso Arbitral neste momento em que está em curso processo de avaliação econômica para fins da migração das concessões para autorizações, nos termos da Lei 13.879/2019, implica em incertezas incompatíveis com a segurança que deveria estar orientando todo o processo de encerramento desses contratos públicos, licitados ainda em 1998.
8. Isto porque, como foi informado e provado com a inicial, a ANATEL, no ano passado, abriu processo de chamamento público para a contratação de “Consultoria de Apoio ao Processo de Adaptação da Modalidade de Outorga de Serviços de Telecomunicações de Concessão Para Autorização”,
9. A contratação ocorreu em 24 de novembro de 20201, com consórcio formado por duas empresas espanholas – Axon Partners Group Consulting, Management Solutions e CPQD, que já estão realizando o trabalho de consultoria para subsidiar os cálculos da adaptação das concessões da telefonia fixa, contemplando a identificação e o inventário dos bens reversíveis;
10. De acordo com decisão da ANATEL – Análise nº 39/2021/VA – Processo nº 53500.025550/2021-08, a primeira etapa do trabalho da consultoria deveria se encerrar em 15 de junho deste ano, sendo que há quatro etapas do trabalho, como se pode verificar do referido documento (doc. 3). Portanto, é correto afirmar que o trabalho de consultoria está em curso e, por isso, será necessariamente afetado pelos resultados do processo da arbitragem contratada entre Telefônica e ANATEL.
valor econômico das concessões, a ANATEL está promovendo a revisão dos mecanismos e processos de controle e desvinculação de bens reversíveis, como se pode verificar pelo documento relativo à Análise nº 16/2021/CB, de 5 de abril do corrente ano (doc. 4).
12. Este processo culminou com a abertura da Consulta Pública nº 34, no último dia 13 de julho, com o prazo exíguo de menos de um mês para contribuições pela sociedade – até dia 30 do mesmo mês2, onde se encontram disposições que facilitam a desvinculação de bens reversíveis com base em anuência prévia da ANATEL, como se pode verificar abaixo, conforme Resolução 744/2021 da Agência, publicada em abril deste ano, que “Aprova o Regulamento de Continuidade da Prestação do Serviço Telefônico Fixo Comutado Destinado ao Uso do Público em Geral (STFC) em Regime Público”:
Art. 12. Estão previamente anuídas as seguintes operações de Bens Reversíveis, desde que não implique prejuízos à continuidade e atualidade do STFC em regime público:
I - Desvinculação quando da inserção indevida de bem na RBR;
II - Desvinculação quando houver a perda da essencialidade do bem para a prestação do STFC em regime público, em virtude de alteração normativa;
III - Desvinculação quando o bem se tornar inservível à prestação do STFC em regime público em razão de sucateamento, obsolescência, defeito, furto, roubo, acidente ou demais casos fortuitos ou de força maior; e, IV - Substituição de Bem Reversível por outro de propriedade da Prestadora.
Parágrafo único. A situação prevista no caput não exime a Prestadora de encaminhar à Anatel a justificativa para a operação, bem como as provas de que a situação fática do
13. Importante destacar que os bens reversíveis se constituem em milhares de quilômetros de redes públicas de transporte e de acesso e seus respectivos dutos que atendem não só a telefonia fixa, mas também são responsáveis por aproximadamente 40% do tráfego de dados na banda larga fixa no Brasil, bem como centenas de imóveis, com valor estimado pelo TCU em torno de R$ 121 bilhões, conforme os documentos já encartados aos autos.
14. Destarte, é temerário anuir previamente com a desvinculação de bens reversíveis, independente de um processo detalhado, deixando a juízo das maiores interessadas em reduzir o valor dos bens reversíveis, tendo em vista as novas regras editadas com a Lei 13.879/2019, de acordo com as quais o valor apurado dos bens reversíveis e valor econômico das concessões serão fundamentais para estabelecer os novos investimentos em redes de suporte a banda larga a que as empresas estarão obrigadas.
15. É por este cenário de incerteza e insegurança sobre bens vinculados a concessão pública que as Entidades Agravantes valem-se deste recurso, reiterando-valem-se todos os fundamentos de fato e de direito consignados na inicial e na minuta de agravo desta ação civil pública, a fim de que se defira o efeito ativo ao recurso, para ao final conceder a tutela antecipada requerida.
16. Por fim, informam os recorrentes que, até a presente data, os embargos de declaração opostos em face da decisão que indeferiu a tutela antecipada, ainda não foram apreciados, o que não afasta o interesse processual para o julgamento deste agravo, tendo em vista a situação de urgência por conta do alto risco ao interesse público noticiado na minuta de