Março 2014
Relatório de
Estabilidade Financeira
Março 2014
Volume 13 | Número 1
ISSN 2176-8102 CNPJ 00.038.166/0001-05Relatório de Estabilidade Financeira
Publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB)
É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, volume 13, nº 1. Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos.
Não são citadas as fontes das tabelas e dos gráfi cos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil. Divisão de Atendimento ao Cidadão
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Sumário
Prefácio 5
Sumário executivo
6
1 Ambiente macroeconômico e financeiro
8
1.1 Introdução ___________________________________________________________________ 8 1.2 Mercados fi nanceiros internacionais _______________________________________________ 8 1.3 Mercado fi nanceiro nacional ____________________________________________________ 12
2 Sistema bancário
16
2.1 Introdução __________________________________________________________________ 16 2.2 Liquidez ____________________________________________________________________ 16 2.3 Crédito _____________________________________________________________________ 20 2.4 Rentabilidade ________________________________________________________________ 28 2.5 Solvência ___________________________________________________________________ 31 2.6 Testes de estresse de capital _____________________________________________________ 34 2.6.1 Análise de cenário – Testes de estresse nas condições macroeconômicas ____________ 34 2.6.2 Análise de sensibilidade ___________________________________________________ 363 Sistema de Pagamentos Brasileiro
39
3.1 Desempenho dos sistemas de transferência de fundos _________________________________ 39 3.2 Desempenho dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos,
valores mobiliários, derivativos e câmbio __________________________________________ 40
4 Organização do Sistema Financeiro Nacional
46
4.1 Introdução __________________________________________________________________ 46 4.2 Instituições bancárias __________________________________________________________ 46 4.3 Níveis de concentração no Sistema Financeiro Nacional ______________________________ 48 4.4 Instituições não bancárias ______________________________________________________ 49 4.5 Participação estrangeira no Sistema Financeiro Nacional ______________________________ 50 4.6 Participação de instituições fi nanceiras brasileiras no exterior __________________________ 50
5 Regulação do Sistema Financeiro Nacional
51
5.1 Aperfeiçoamentos e inovações recentes em regulamentações do SFN ____________________ 51 5.1.1 Regulação do mercado de crédito: portabilidade e correspondentes no país ___________ 51 5.1.2 Critérios para concessão de fi nanciamento imobiliário ___________________________ 52 5.1.3 Certifi cado de Operações Estruturadas _______________________________________ 52 5.1.4 Arranjos e instituições de pagamento ________________________________________ 53 5.2 Aprimoramentos nas regulamentações prudenciais ___________________________________ 53 5.3 Modernização das regulamentações de câmbio e de capitais internacionais ________________ 54 5.3.1 Adiantamento sobre Contrato de Câmbio _____________________________________ 54 5.3.2 Recebimento antecipado de exportações ______________________________________ 54 5.3.3 Adaptação da regulamentação cambial e de capitais internacionais aos novos códigos de classifi cação das operações de câmbio __________________________________________ 54 5.4 Implementação das recomendações de Basileia III ___________________________________ 47 5.5 Balancete – Conglomerado prudencial ____________________________________________ 49 5.6 Conta de bancos centrais estrangeiros no BCB ______________________________________ 49 5.7 Revisão da codifi cação para classifi cação das operações de câmbio ______________________ 50 5.8 Modernização do Sistema de Transferências Internacionais em Reais (TIR) _______________ 50 5.9 Alterações no Estatuto e Regulamento do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) _____________ 50
Boxes
Análise de Sensibilidade do Sistema Financeiro Nacional a Variações Negativas dos Preços de Imóveis Residenciais _____________________________________________________________ 37 Depósito Centralizado e Registro de Ativos Financeiros e de Valores Mobiliários ______________ 43 Regulamentação do Conselho Monetário Nacional e Banco Central do Brasil para Arranjos e
Instituições de Pagamento __________________________________________________________ 44 Resultado do Regulatory Consistency Assessment Programme _____________________________ 56 Trabalhos para Discussão que versam sobre estabilidade fi nanceira _________________________ 57
Apêndice 59
Prefácio
O Relatório de Estabilidade Financeira (REF) é uma publicação semestral do Banco Central do Brasil (BCB) destinada a apresentar, com foco no risco sistêmico, os principais resultados das análises sobre o Sistema Financeiro Nacional (SFN), especialmente com respeito à sua dinâmica recente, às perspectivas e ao grau de resiliência a eventuais choques na economia brasileira ou no próprio sistema. Esta edição concentra-se nos eventos ocorridos no segundo semestre de 2013.1
O relatório é constituído por cinco capítulos. No primeiro, Ambiente macroeconômico e fi nanceiro, é realizada a análise dos principais mercados internacionais e o seu reflexo no mercado financeiro nacional. O segundo capítulo, Sistema bancário, apresenta um panorama da exposição a riscos, da rentabilidade e da solvência das instituições e dos conglomerados que compõem o sistema bancário brasileiro. Os testes de estresse de risco de mercado e de crédito e seus refl exos sobre a situação de solvência das instituições estão incluídos nesse capítulo. No terceiro capítulo, Sistema de Pagamentos Brasileiro, são descritos os resultados da avaliação acerca do funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e do desempenho dos sistemas de liquidação, as principais atividades e os avanços ocorridos no período, o comportamento da liquidez intradia e o resultado dos testes de estresse dos sistemas de compensação e de liquidação de títulos e valores mobiliários, de derivativos e de câmbio interbancário. O quarto capítulo, Organização do Sistema Financeiro Nacional, analisa as principais alterações ocorridas no controle acionário de instituições fi nanceiras. O quinto capítulo, Regulação do Sistema Financeiro Nacional, trata das principais normas
1/ Neste relatório, foi utilizada a data-base de 31 de dezembro de 2013 para os documentos contábeis e de 30 de novembro de 2013 para os documentos de limites operacionais. Eventuais divergências em relação à edição anterior e a outras publicações do BCB são decorrentes de substituições de documentos.
aprovadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo BCB para regular o funcionamento do SFN. Esta edição apresenta, também, boxes tratando de: análise de sensibilidade do SFN a variações negativas dos preços de imóveis residenciais; depósito centralizado e registro de ativos fi nanceiros e de valores mobiliários; regulamentação do CMN e BCB para arranjos e instituições de pagamento; resultado do RCAP;2 Trabalhos para Discussão que versam sobre
estabilidade fi nanceira.
O relatório em PDF está disponível no endereço eletrônico <www.bcb.gov.br/?relestab>. Também está disponível a base de dados utilizada para a elaboração dos gráfi cos e tabelas do relatório, além de outros dados de interesse, como a matriz de migração de classifi cação de crédito e comparativos internacionais dos principais
Financial Soundness Indicators (FSIs).3
2/ Regulatory Consistency Assessment Programme.
3/ Os Financial Soundess Indicators (FSIs) foram desenvolvidos pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI), em conjunto com a comunidade internacional, com o objetivo de suportar análises macroprudenciais e avaliar os pontos fortes e as vulnerabilidades dos sistemas fi nanceiros.
Sumário executivo
No segundo semestre de 2013, a atividade econômica global se fortaleceu, mas continuou o quadro de desempenhos heterogêneos entre os países, com as economias maduras consolidando a perspectiva de retomada do crescimento e os países emergentes sendo afetados pelas incertezas associadas ao início da retirada dos estímulos de política monetária nos Estados Unidos da América (EUA). Assim, ao longo do semestre no Brasil, as taxas de juros domésticas mantiveram trajetória crescente; a cotação do real e o mercado bursátil apresentaram grande fl utuação; e o risco-país oscilou em torno do nível mais elevado alcançado ao término do primeiro semestre.
Assim como nos semestres anteriores, e mesmo diante do cenário de redução na liquidez global, manteve-se a avaliação de baixo risco de liquidez e de elevada resiliência do sistema bancário brasileiro.
Continua o movimento de redução da participação dos ativos líquidos na carteira dos bancos, conforme já havia sido observado em semestres anteriores, em razão da realocação de mais recursos em ativos de crédito na busca por maior rentabilidade. Neste semestre, essa redução intensifi cou-se por causa da redução no valor de mercado dos TPFs, decorrente da elevação das taxas de juros. O crescimento do crédito doméstico mais moderado, que havia sido observado no primeiro semestre, manteve-se no manteve-segundo. Os bancos públicos e o crédito com recursos direcionados continuaram impulsionando a evolução dos estoques, mas apresentaram desaceleração no crescimento anualizado, principalmente no último trimestre. A inadimplência total do SFN seguiu em declínio por causa da redução ocorrida nos bancos privados. Manteve-se a tendência de aumento de participação na carteira de crédito de modalidades que apresentam menor inadimplência, principalmente fi nanciamento imobiliário e crédito consignado.
A redução no ritmo de crescimento do resultado com as operações de crédito, observada desde meados de 2012, intensifi cou-se no segundo semestre de 2013, aumentando a pressão sobre a rentabilidade do sistema bancário. Para amenizar esse efeito, os bancos continuaram empreendendo esforços na contenção de despesas administrativas e na ampliação da venda de serviços. Além disso, o resultado foi favorecido por eventos não recorrentes, de forma que o lucro líquido (LL) avançou levemente, mas o retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) manteve-se estável.
A solvência do sistema bancário permaneceu elevada em semestre marcado pela entrada em vigor das normas conhecidas como Basileia III, que inserem regras mais rígidas, adaptando o arcabouço regulatório nacional às recomendações do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia. Essas mudanças são progressivas e seus efeitos serão integrais em 2019, em linha com o cronograma internacionalmente acordado. O arcabouço regulamentar brasileiro foi avaliado pelo Bank for International
Settlements (BIS), que concluiu, em dezembro de 2013,
pela sua plena aderência aos padrões internacionais, denotando o compromisso do Brasil na adoção dos melhores padrões internacionais em termos de defi nição de capital regulamentar e requerimentos mínimos de capital. Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes: de cenários macroeconômicos adversos; de mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio ou na inadimplência; ou de queda generalizada dos preços dos imóveis residenciais. O SPB funcionou de forma eficiente e segura no segundo semestre de 2013. As análises de backtesting, periodicamente realizadas para os sistemas de compensação e de liquidação de transações com títulos, valores mobiliários, derivativos e moeda estrangeira,
nos quais há uma entidade atuando como contraparte central (CPC), apresentaram resultados satisfatórios ao longo do semestre. Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições financeiras participantes, o que garante que as liquidações ocorram com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao Sistema de Transferência de Reservas (STR).
1
Ambiente macroeconômico e financeiro
1.1 Introdução
A atividade econômica global se fortaleceu no segundo semestre de 2013, com destaque para as economias maduras que, mesmo ainda expandindo abaixo da tendência histórica, consolidaram a perspectiva de retomada do crescimento. Nos países emergentes, o ritmo de expansão da atividade não tem correspondido às expectativas, em que pesem a resiliência da demanda doméstica e o impacto do maior crescimento das economias maduras, por meio do canal do comércio exterior. Notadamente de maio a setembro de 2013, as incertezas associadas ao início da retirada dos estímulos de política monetária introduzidos nos Estados Unidos da América (EUA) se traduziram na elevação das taxas de juros de longo prazo das economias maduras, em especial nos EUA, com contribuição negativa às condições de fi nanciamento das economias emergentes, cujas moedas desvalorizaram-se frente ao dólar estadunidense.
Nesse contexto, governos e autoridades monetárias adotaram medidas variadas – entre elas, o uso de reservas internacionais, acordos bilaterais de swaps de moedas, elevações nas taxas básicas de juros e medidas prudenciais de limitações de posições em moedas estrangeiras –, com o objetivo de suavizar os impactos que a retirada dos estímulos nos EUA poderia causar em seus mercados domésticos. O Banco Central do Brasil (BCB) continuou o ciclo de aumento da taxa básica de juros, iniciado em abril, e anunciou programa de leilões de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra, com o objetivo de prover proteção cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio. O anúncio, em 18 de dezembro, do início do processo de redução do volume de compras de ativos (tapering4) por
4/ “Tapering” refere-se à redução do volume do programa de compras de ativos por parte do Federal Reserve e marca o início do processo de normalização da política monetária dos EUA.
parte do banco central dos EUA (Federal Reserve [Fed]), a ser efetivado a partir de janeiro de 2014, repercutiu modestamente nos mercados fi nanceiros, sugerindo que parte dos seus efeitos já estava incorporada aos preços dos ativos fi nanceiros. Ressalte-se, no entanto, que o
tapering, ainda que implique volatilidade no curto prazo,
é importante fator para consolidação da estabilidade fi nanceira global. De qualquer forma, os riscos para a estabilidade fi nanceira global permanecem elevados e seguem demandando monitoramento pormenorizado por parte das autoridades reguladoras.
1.2 Mercados financeiros
internacionais
No segundo semestre, a atividade econômica acelerou nos EUA, Área do Euro, Reino Unido e China, enquanto desacelerou no Japão. A Área do Euro registrou o primeiro semestre de expansão, após quatro semestres consecutivos de contração,5 mas permanecem os
desafi os vinculados à consolidação fi scal, ao processo de desalavancagem fi nanceira e à persistência de taxas de desemprego em patamares elevados. Nos EUA, ressalte-se a melhora dos indicadores associados ao mercado de trabalho, em especial da taxa de desemprego que, embora em patamar elevado, recuou para 6,7% em dezembro, de 7,5% em junho.6
Em meio a esses avanços nas principais economias desenvolvidas, em especial nos EUA, intensifi caram-se as perspectivas associadas ao início do tapering por parte do Fed, ocasionando choques de alta nas taxas de
5/ Em termos trimestrais, a Área do Euro contabilizava, ao fi nal de 2013, o terceiro trimestre consecutivo de expansão.
6/ A redução da taxa de desemprego se deveu, em boa medida, à redução da participação da força de trabalho na população, a qual passou de 63,5%, em junho, para 62,8%, em dezembro, menor patamar desde fevereiro de 1978, quando atingira 62,7%.
juros de longo prazo dessas economias. Os rendimentos anuais dos títulos soberanos de dez anos dos EUA subiram para 3,03% no fi nal de dezembro, de 2,49% no fi nal de junho (1,63% em 2 de maio); na Alemanha, os rendimentos de papéis similares, na mesma base de comparação semestral, subiram para 1,93%, de 1,73%. Em sentido inverso, os rendimentos anuais dos títulos soberanos da Itália e da Espanha, em consonância com a redução acentuada da percepção de risco soberano dessas economias, reduziram-se para 3,56% e 4,15%, de 3,95% e 4,77%, na ordem (gráfi co 1.2.1). Em relação a esses dois países, ressalte-se que, desde o primeiro trimestre de 2013, as taxas de contração dos respectivos Produtos Internos Brutos (PIB) têm sido progressivamente reduzidas, com a Espanha registrando, no terceiro trimestre daquele ano, o primeiro crescimento trimestral após nove períodos consecutivos de contração.
A alta dos juros nas economias avançadas, em especial nos EUA, impactou de forma adversa os fl uxos de capital para as economias emergentes, especialmente de maio a outubro de 2013. No entanto, de acordo com o Institute
of International Finance (IIF),7 associação privada que
reúne membros da indústria fi nanceira de todo o mundo, a retração dos referidos fl uxos, além de temporária, foi menos intensa do que a anteriormente divulgada.8
Em seu relatório de janeiro de 2014, o IIF revisou para cima as estimativas dos fl uxos líquidos de capital para economias emergentes em 2013, em relação às de seu relatório de outubro. Parte dessa avaliação é creditada ao fortalecimento da atividade econômica global.
7/ Capital Flows to Emerging Market Economies (30/1/2014). IIF Research
Note, disponível em <http://www.iif.com/emr/capfl ows201401.php>.
8/ Os dados do IIF não corroboraram os divulgados pela Emerging Portfolio
Fund Research (EPFR) sobre fl uxos de capitais para emergentes no
2º semestre de 2013. As estimativas do IIF indicam que, de maio a outubro de 2013, os mercados emergentes receberam ingressos líquidos de investimentos em carteira de US$10 bilhões para ações (equities) e de US$71 bilhões para títulos de renda fi xa (bonds), enquanto os dados disponibilizados pelo EPFR reportam saídas líquidas de US$36 bilhões (equities) e de US$37 bilhões (bonds). De acordo com o IIF, tal diferença decorre de os investidores institucionais, tais como fundos de pensão e fundos soberanos, terem mantido sua exposição aos mercados emergentes, aumentando a demanda por lançamentos de bonds, enquanto que os retail investors, captados pelas estatísticas do EPFR, apresentaram comportamento mais volátil, desfazendo-se de posições nesses mercados. Os dados do IIF agregam países emergentes que divulgam estatísticas mensais de fl uxos para investimentos em ações e investimentos em renda fi xa. O cenário-base do IIF incorpora gradual recuperação nos fl uxos de capital em 2014 e 2015, a despeito de eventual volatilidade no curto prazo.
A melhora no desempenho econômico das principais economias desenvolvidas refletiu-se na redução da percepção de risco soberano desses países, expressa no declínio nos prêmios dos credit default swaps (CDS) ao longo do semestre. Adicionalmente, a redução da percepção de risco de evento extremo na Área do Euro também repercutiu as ações do Banco Central Europeu (BCE) e os avanços no processo de fortalecimento do sistema bancário da região. Na Itália e na Espanha, os prêmios de CDS de cinco anos (expressos em pontos-base [p.b.]) recuaram, respectivamente, para 168 e 157, de 281 em ambos os casos; na França e na Alemanha, os prêmios diminuíram, na ordem, para 54 e 25, de 80 e 32 (gráfi co 1.2.2). Com relação às economias emergentes, ainda que com maior volatilidade nas respectivas trajetórias, os prêmios dos CDS de cinco anos da África do Sul, da Rússia, do México e do Chile reduziram-se, na ordem, para 204, 165, 92 e 80, de 216, 195, 131 e 98, enquanto os da Turquia e do Brasil elevaram-se para 245 e 194, de 191 e 185, respectivamente, na mesma base de comparação (gráfi co 1.2.3). 0,0 1,6 3,2 4,8 6,4 8,0 3.1 2012 3.4 3.7 2.10 1.1 2013 2.4 2.7 1.10 31.12
EUA Alemanha Itália Espanha
Fonte: Bloomberg
Gráfico 1.2.1 – Rendimento de títulos soberanos (10 anos)
% a.a. 0 130 260 390 520 650 31.12 2011 1.5 2012 30.8 31.12 1.5 2013 30.8 31.12
Alemanha França Espanha Itália
Fonte: Bloomberg
Gráfico 1.2.2 – CDS soberanos (5 anos)
50 110 170 230 290 350 31.12 1.5 2012 30.8 31.12 20131.5 30.8 31.12
África do Sul Rússia Turquia
Brasil México Chile
Fonte: Bloomberg
Gráfico 1.2.3 – CDS soberanos (5 anos)
p.b.
No mercado cambial, no semestre, o dólar valorizou-se 6,2% frente ao iene (valorização de 21,4% no ano), infl uenciado pelo relaxamento monetário proporcionado pelo Banco do Japão (BoJ), mas depreciou-se 8,1% e 5,3%, respectivamente, em relação à libra e ao euro (gráfi co 1.2.4). As economias emergentes, por sua vez, foram mais impactadas pela perspectiva de redução da liquidez global, com o dólar apreciando-se 21,7%, 11,4%, 6,2%, 5,8% e 5,3% frente às moedas da Indonésia, da Turquia, da África do Sul, do Brasil e da Tailândia, na mesma base semestral de comparação. Ressalte-se que, com relação às moedas da África do Sul, do Brasil e da Tailândia, o pico das desvalorizações frente ao dólar, em 2013, concentrou-se no quadrimestre de maio a agosto, enquanto as moedas da Indonésia e da Turquia ainda desvalorizaram-se no último quadrimestre do ano, respectivamente, 8,1% e 5,1% (gráfi co 1.2.5). 90 100 110 120 130 140 31.12 2011 20121.5 30.8 31.12 20131.5 30.8 31.12 Fonte: Bloomberg
Euro/Dólar Iene/Dólar Libra/Dólar
31.12.2011=100
Gráfico 1.2.4 – Câmbio de economias avançadas
As bolsas de valores de economias desenvolvidas elevaram-se expressivamente no segundo semestre de 2013, evidenciando a credibilidade dos investidores na sustentabilidade da recuperação econômica dessas economias. No período, os índices DAX (Alemanha), Nikkei (Japão), S&P500 (EUA) e FTSE100 (Reino Unido) valorizaram-se, na ordem, 20%, 19,1%, 15,1% e 8,6% (gráfi co 1.2.6). De forma distinta, nos principais mercados emergentes, as bolsas de valores não operaram em sentido único, com os índices acionários da África do Sul, da Índia, do Brasil, da China e do México aumentando 16,9%, 9,2%, 8,5%, 6,9% e 5,2%, respectivamente; enquanto as bolsas da Indonésia, da Turquia e da Tailândia declinaram 11,3%, 11,1% e 10,6%, na ordem (gráfi co 1.2.7). 80 104 128 152 176 200 31.12 2011 20121.5 30.8 31.12 20131.5 30.8 31.12
Gráfico 1.2.6 – Bolsas de valores
Economias desenvolvidas
EUA – S&P 500 Reino Unido – FTSE 100
Alemanha – DAX Japão – NIKKEI 225
Fonte: Bloomberg 31.12.2011 = 100 80 92 104 116 128 140 31.12 2011 20121.5 30.8 31.12 20131.5 30.8 31.12 Fonte: Bloomberg
Rúpia indonésia Rande Real Lira Baht
31.12.2011 = 100
Gráfico 1.2.5 – Taxas de câmbio de economias emergentes versus dólar dos EUA
65 89 113 137 161 185 3.1 2012 3.4 3.7 2.10 20131.1 2.4 2.7 1.10 31.12 31.12.2011 = 100
Gráfico 1.2.7 – Bolsas de valores
Economias emergentes
África do Sul Brasil Índia
Indonésia Tailândia Turquia
Fonte: Bloomberg
O índice Chicago Board Options Volatility Index (VIX), que afere o sentimento dos investidores a partir da volatilidade implícita de curto prazo dos preços das opções do índice S&P500, oscilou entre 11,8 e 20,3 pontos, pico alcançado em 8 de outubro, repercutindo notadamente o acirramento das incertezas advindas do impasse da negociação fi scal nos EUA. No fechamento do semestre, o índice VIX havia recuado para 13,7 pontos, de 16,9 pontos no fi nal de junho (gráfi co 1.2.8).
A percepção dos investidores em relação aos sistemas bancários estadunidense e europeu melhorou consideradas as perspectivas de fortalecimento da atividade nas economias avançadas e seu impacto positivo nos balanços dos bancos.9 Nesse ambiente, os preços das ações do
segmento bancário subiram, e os custos para proteção de crédito para bancos de economias avançadas se reduziram.
9/ Ressalte-se, no entanto, que nos EUA os bancos continuam registrando em seus balanços perdas decorrentes de acordos judiciais decorrentes de processos relacionados à crise fi nanceira de 2008. Adicionalmente, os bancos dos EUA e da Europa sofreram impactos diversos em seus balanços, em razão da aplicação de multas decorrentes da manipulação na determinação da taxa libor. Esses acordos afetaram a rentabilidade de importantes instituições fi nanceiras no último trimestre de 2013.
Os índices Morgan Stanley Capital International (MSCI)10 para bancos dos EUA e da Europa elevaram-se,
respectivamente, 10,7% e 22,9% no segundo semestre de 2013, comparativamente às variações de 19,4% e -3,2%, na mesma sequência, no primeiro semestre do ano. O índice MSCI para bancos de economias emergentes subiu 2% no segundo semestre, após declinar 9,2% no semestre anterior (gráfi co 1.2.9).
Os custos médios de proteção contra default (CDS) de bancos relevantes dos EUA e da Europa declinaram significativamente ao longo do segundo semestre, refl etindo, ademais do aumento do vigor econômico nessas regiões, a menor percepção de risco soberano nas economias maduras, bem como os avanços no fortalecimento dos seus sistemas bancários. Dentre esses, destaca-se o aumento nos índices de capitalização dos principais bancos, considerados sistemicamente importantes, dos EUA e da Europa.11 Adicionalmente,
os bancos da Área do Euro reportaram continuidade da melhoria nas condições de acesso a fi nanciamento em todas as modalidades no terceiro trimestre de 2013, mas informaram que, no quarto trimestre, houve alguma deterioração nas modalidades varejo e interbancário, enquanto o fi nanciamento via emissão de títulos manteve a tendência positiva observada nos três trimestres anteriores.12 Nesse sentido, os prêmios médios dos
10/ Os índices refletem médias ponderadas dos preços das ações das respectivas indústrias bancárias.
11/ Em seus relatórios para o 3º trimestre de 2013, os bancos “sistemicamente importantes em nível global” dos EUA e da Europa publicaram estimativas de aporte de capital tier 1 fully loaded (especifi cação mais exigente do Acordo de Basileia III, que deverá estar em vigência em 2019) acima de 9%. Vide Relatório de Estabilidade Financeira do Banco da Inglaterra (novembro de 2013), disponível em <http://www.bankofengland.co.uk/ publications/Documents/fsr/2013/fsrfull1311.pdf>.
12/ The Euro Area Bank Lending Survey referente ao terceiro e ao quarto
trimestres de 2013, divulgados, respectivamente, em outubro de 2013 e janeiro de 2014. Disponíveis em <http://www.ecb.int/stats/money/surveys/ lend/html/index.en.html>. 10 14 18 22 26 30 3.1 2012 3.4 3.7 2.10 20131.1 2.4 2.7 1.10 31.12 Fonte: Bloomberg pontos
Gráfico 1.2.8 – CBOE Volatility Index – VIX
Índice de volatilidade 85 101 117 133 149 165 31.12 2011 20121.5 30.8 31.12 20131.5 30.8 31.12
Gráfico 1.2.9 – MSCI Bancos
EUA Europa Economias emergentes
Fonte: Bloomberg
CDS de cinco anos de bancos declinaram 60,5% na Itália, 60,5% na Espanha, 32,1% na Alemanha, 46,3% na França, 49,3% no Reino Unido e 38,7% nos EUA, situando-se, respectivamente, em 143 p.b., 120 p.b., 97 p.b., 90 p.b., 73 p.b. e 72 p.b. (gráfi co 1.2.10).
Os riscos para a consolidação da estabilidade fi nanceira em nível global permanecem elevados, a despeito de avanços no processo de fortalecimento dos sistemas bancários nas economias desenvolvidas, favorecidos, entre outros fatores, pela melhoria da atividade e pelo arrefecimento das tensões associadas aos riscos soberanos, que têm contribuído para a consolidação de condições mais favoráveis de fi nanciamento para as instituições bancárias,13 possibilitando oferta de crédito
ao tomador fi nal em condições menos restritivas. Na Área do Euro, apesar de as condições de fi nanciamento para bancos terem melhorado,14 o uso das linhas de
fi nanciamento do BCE manteve-se elevado em sistemas bancários de economias periféricas da união monetária, evidenciando os impactos adversos da fraca recuperação econômica sobre a lucratividade e a necessidade de provisionamentos elevados para cobertura de perdas com empréstimos em seus balanços. A fragmentação
13/ Basicamente, o nexo entre a precifi cação do risco soberano e as condições de fi nanciamento dos bancos manifesta-se por meio de dois canais: 1) exposição direta, dada a dívida pública em carteira, o que, em caso de elevação do risco soberano, pode reduzir a solidez dos balanços e elevar seu risco como contraparte, difi cultando o acesso aos mercados e aumentando os custos de obtenção de recursos; 2) risco soberano mais elevado, que reduz o valor de garantias governamentais que os bancos podem oferecer para obtenção de fi nanciamento.
14/ Essa condição favoreceu a antecipação dos pagamentos de metade dos recursos inicialmente liberados pelo BCE por meio de operações de refi nanciamento de longo prazo (LTRO) de três anos.
fi nanceira15 persiste, ainda que declinante, explicitando
que o processo de fortalecimento dos bancos tem sido lento e heterogêneo. O início efetivo da atuação do BCE como autoridade supervisora, em 2014, tende a elevar a transparência sobre a posição fi nanceira dos bancos, de forma a contribuir para a recuperação mais acentuada da confi ança no sistema bancário europeu.16
As incertezas relativas ao início do tapering nos EUA pontuaram de forma adversa o sentimento dos mercados fi nanceiros internacionais ao longo do segundo semestre de 2013, especialmente em relação às economias emergentes. Neste ano, as reduções progressivas nos montantes de compras mensais de ativos pelo Fed podem impactar os fl uxos de capitais para economias emergentes, bem como infl uenciar as taxas de juros de curto e/ou longo prazo em economias avançadas e emergentes, além da volatilidade do mercado cambial, com possível valorização adicional do dólar. Nesse sentido, portfólios sensíveis a posições alavancadas em moedas estrangeiras ou a mudanças nas taxas de juros são potenciais riscos à estabilidade fi nanceira.
Adicionalmente, destacam-se riscos associados à atividade econômica, como o impacto de eventual elevação, abrupta, nas taxas hipotecárias sobre a recuperação dos mercados imobiliários, prejudicando a atividade econômica em importantes economias maduras; e eventual desaceleração mais forte (“pouso forçado”) do ritmo de crescimento da China, com refl exos negativos no comércio global, impactando de forma mais relevante as economias emergentes e/ou exportadoras de commodities.
1.3 Mercado financeiro nacional
Refletindo, em parte, a complexidade do ambiente internacional, ao longo do semestre, as taxas de juros domésticas exibiram trajetória crescente; a cotação do real apresentou grande fl utuação e terminou o período com pequena desvalorização frente ao dólar norte-americano; o mercado bursátil ensaiou recuperação, mas voltou a cair a partir de outubro; e o risco-país oscilou15/ A fragmentação se manifesta pela migração de fl uxos de não residentes dos países mais vulneráveis da Área do Euro (Espanha, Grécia, Irlanda, Itália e Portugal) para seus mercados domésticos, assim como a transferência de depósitos de residentes dessas economias para outras consideradas mais seguras.
16/ O BCE irá supervisionar diretamente bancos com ativos totais superiores a €30 bilhões, ou €5 bilhões se estes representarem mais de 20% do PIB do respectivo país, e pelo menos três grandes bancos de cada país do bloco. 50 180 310 440 570 700 31.12 2011 1.5 2012 30.8 31.12 1.5 2013 30.8 31.12 p.b.
Gráfico 1.2.10 – CDS de 5 anos – Bancos
Prêmios médios de países selecionados1/
Espanha França Alemanha
Reino Unido EUA Itália
Fonte: Bloomberg
1/ Calculados pela média aritmética dos prêmios de CDS dos dois maiores bancos pelo critério de capitalização de mercado de cada país. Exceção: EUA: JPM Chase e Bank of America.
em torno do nível mais elevado alcançado ao término do primeiro semestre.17 No âmbito interno, contribuíram
para esses movimentos a sinalização desfavorável dos índices de infl ação, dos resultados fi scais e das projeções de crescimento econômico,18 além da continuidade do
ciclo de ajuste na taxa básica de juros.
O BCB havia iniciado em abril de 2013 um ciclo de aumento da taxa de juros, com elevação de 0,25 p.p. da meta para a taxa Selic, seguida de alta de 0,5 p.p. em maio. Em razão da persistência das expectativas de infl ação19 acima do centro da meta de 4,5%,20 o Comitê
de Política Monetária (Copom) manteve, ao longo do segundo semestre, o ritmo de elevação da taxa básica de juros em 0,5 p.p. nas reuniões de julho, agosto, outubro e novembro. Ao fi nal do ano, a taxa Selic estava em 10,00%, e as taxas de curto prazo no mercado futuro de juros haviam acompanhado a trajetória da taxa básica de juros (gráfi co 1.3.1).
Ao longo do segundo semestre de 2013, as taxas de juros no mercado futuro apresentaram trajetória crescente, e houve aumento da inclinação da curva de juros. Inicialmente, entretanto, os dados de infl ação e atividade abaixo das expectativas e o anúncio do corte no orçamento fi scal de R$10,0 bilhões contribuíram para
17/ A média do EMBI+Brasil foi de 228,7 pontos no segundo semestre. 18/ A taxa estimada para o crescimento do PIB em 2013, no relatório de
infl ação do BCB de março, de junho, de setembro e de dezembro, era de 3,1%, 2,7%, 2,5% e 2,3%, respectivamente.
19/ A mediana das expectativas de infl ação (IPCA) acumulada para os próximos 12 meses (suavizada) subiu de 5,65% para 6,22% entre junho e setembro e declinou a partir de então, encerrando o ano de 2013 em 6,01% (fonte: site do BCB – Expectativas de Mercado – Séries Históricas). 20/ As resoluções nº 3.991, de 30 de junho de 2011, nº 4.095, de 28 de junho
de 2012, e nº 4.237, de 28 de junho de 2013, do Conselho Monetário Nacional (CMN), fi xaram, respectivamente, as metas de infl ação para 2013, 2014 e 2015 em 4,5%, e os intervalos de tolerância em 2,0 p.p. abaixo e acima da meta.
a queda das taxas, a despeito da desvalorização do real frente ao dólar. No entanto, já a partir do fi nal de julho, as taxas de médio e de longo prazo no mercado futuro de juros iniciaram propriamente a trajetória ascendente, refl exo do aumento de incertezas externas e internas. No âmbito externo, prevaleceram dúvidas quanto ao início da redução dos estímulos monetários por parte do Fed – e o consequente movimento das taxas das treasuries –, além do aumento da aversão ao risco com o impasse fi scal norte-americano para aprovação do orçamento e para ampliação do teto da dívida federal. No âmbito interno, a percepção do mercado sobre a evolução do quadro fi scal e o comportamento da taxa de câmbio infl uenciaram as taxas de juros. No fi nal de agosto, após o BCB anunciar o programa de leilões de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra, o real começou a se valorizar, reduzindo a pressão do pass-through cambial sobre os preços e, portanto, sobre a curva de juros. As taxas longas se mantiveram relativamente estáveis nesse novo patamar até fi nal de outubro, antes de o real voltar a se desvalorizar. A partir de então, sinalizações desfavoráveis relativas ao rating soberano do Brasil21 e
o anúncio de redução de estímulos pelo Fed, em 18 de dezembro, contribuíram para a elevação das taxas longas no mercado futuro de juros ao fi nal do ano.
A volatilidade das taxas de juros domésticas de médio e de longo prazo recuou em relação aos máximos alcançados ao fi nal de junho, mas apresentou elevação em agosto e um repique em setembro, mantendo-se baixa no último trimestre de 2013. O aumento de volatilidade
21/ No início de junho, a agência de rating S&P mantinha a nota do rating soberano do Brasil em “BBB”, mas rebaixou sua perspectiva de estável para negativa; em julho, a agência Fitch Ratings confi rmou a nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil em “BBB” com perspectiva estável. No início de outubro, a Moody’s rebaixou a perspectiva de rating dos títulos do governo do Brasil de positiva para estável, mas manteve o rating em Baa2.
6,5 8,0 9,5 11,0 12,5 14,0 Jan
2013 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
% a.a.
Taxa Selic 3 meses 6 meses
1 ano 2 anos 5 anos
Fontes: BM&FBovespa e BCB
Gráfico 1.3.1 – Evolução das taxas de juros
Taxa Selic e swap de 3 e 6 meses, 1 ano e 2 e 5 anos
0,0 0,8 1,6 2,4 3,2 4,0 Jan 2013
Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Gráfico 1.3.2 – Volatilidade das taxas de juros
Curto Médio Longo
Fontes: BM&FBovespa e BCB
das taxas de juros em agosto refletiu as incertezas quanto ao comportamento do câmbio, cedendo após a implementação do programa de leilões de swap cambial. Em setembro, a manutenção da política monetária por parte do Fed frustrou agentes do mercado que esperavam a retirada dos estímulos na reunião do dia 18, o que provocou queda acentuada das treasuries com refl exos nas taxas de juros domésticas, principalmente no trecho de longo prazo. A volatilidade das taxas de curto prazo, por seu turno, ancorada na maior homogeneidade das expectativas quanto à evolução da taxa básica de juros, manteve-se baixa ao longo do segundo semestre. Houve, no entanto, pequena elevação em agosto diante da expectativa, naquele momento, de sinalização de ciclo mais curto para a política monetária restritiva, o que não se materializou (gráfi co 1.3.2).
No segundo semestre de 2013, o mercado de câmbio operou sob intensa volatilidade, influenciado pelo cenário externo. As incertezas associadas à antecipação da redução dos estímulos monetários por parte do Fed com a consequente elevação nos rendimentos anuais dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA tenderam a pressionar as cotações da moeda norte-americana. Em 22 de agosto, o dólar atingiu a maior cotação22
do semestre (R$2,45), acumulando alta de 10,4%. No mesmo dia, com o objetivo de prover hedge cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio, o BCB anunciou programa de leilões de câmbio em que efetuaria, a partir de 23 de agosto, leilões diários de swap cambial e de venda de dólares com compromisso de recompra.23 Com isso, o real reverteu a trajetória de alta,
e a cotação alcançou R$2,16 em meados de outubro, mas voltou a subir já no fi nal desse mês, ainda em razão das incertezas quanto ao início da redução dos estímulos à economia norte-americana – somente em 18 de dezembro o Fed anunciaria que iria reduzi-los a partir de janeiro de 2014. No início de dezembro, o BCB havia comunicado a continuação dos leiloes de swap cambial em 2014, porém em menor volume. No semestre, o BCB efetuou leilões de swap cambial tradicional24 no valor nocional de
US$100,1 bilhões (incluídas as rolagens de vencimentos),
22/ Cotação da taxa de câmbio real/dólar divulgada pelo BCB (PTAX) calculada segundo metodologia divulgada pela Circular nº 3.506, de 23 de setembro de 2010, e atualizada conforme a Circular nº 3.537, de 25 de maio de 2011.
23/ Os leilões de swap seriam realizados às segundas, terças, quartas e quintas-feiras com oferta de US$500 milhões em cada evento. Às sextas-quintas-feiras, por meio de leilão de venda com compromisso de recompra, seria oferecida linha de crédito no valor de US$1 bilhão.
24/ Leilões de swap cambial realizados pelo Banco Central referenciados pela taxa Selic, nos quais o BCB assume a parte passiva em câmbio mais cupom cambial e a parte ativa em taxa de juros.
terminando o período com posição líquida em swap passiva em câmbio de US$75,1 bilhões. O real encerrou dezembro cotado a R$2,34/US$, com desvalorização de 5,7% no semestre. Frente ao euro, no mesmo período, a desvalorização do real foi de 11,7% (gráfi co 1.3.3).
O saldo de câmbio contratado registrou fl uxo negativo de US$21,8 bilhões no segundo semestre de 2013, composto por US$16,1 bilhões no câmbio fi nanceiro e por US$5,7 bilhões no comercial. O volume líquido de investimento estrangeiro direto (IED) foi de US$33,9 bilhões no mesmo período. Já as reservas internacionais, no conceito de caixa, encerraram o ano em US$358,8 bilhões, decréscimo de 2,9% no semestre.
No mercado acionário, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) apresentou trajetória ascendente até meados de outubro, quando reverteu o movimento e reduziu parte dos ganhos, encerrando o segundo semestre de 2013 com alta de 8,5% (gráfi co 1.3.4). Até outubro, o resultado da bolsa refl etiu a percepção de que as economias da China e dos países europeus apresentavam boa recuperação, bem como a decisão do Fed de não alterar as compras mensais de bônus. Em
0,72 0,74 0,76 0,78 1,95 2,05 2,15 2,25 2,35 2,45 Jan
2013 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
EUR/US$ R$/US$
Gráfico 1.3.3 – Taxa de câmbio
R$/US$ EUR/US$ Fonte: BCB e Bloomberg 45 49 53 57 61 65 Jan
2013 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Pontos (mil)
Gráfico 1.3.4 – Índice Bovespa
seguida, a proximidade do início da retirada dos estímulos à economia norte-americana pressionou negativamente o Ibovespa. O ingresso líquido de recursos de investidores estrangeiros na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa). totalizou R$7,5 bilhões no semestre, com destaque para os meses de agosto e setembro, que registraram entrada de R$6,4 bilhões. Portanto, no período, houve melhora nas perspectivas para o crescimento econômico mundial, particularmente das economias desenvolvidas. A recuperação da economia norte-americana e a consequente expectativa de retirada dos estímulos monetários continuaram a afetar os mercados financeiros internacionais e também os indicadores domésticos. Nesse cenário, o BCB deu continuidade ao ciclo de aumento da taxa de juros, iniciado em abril, e, no fi nal do semestre, a volatilidade das taxas de juros domésticas recuou em relação ao fi nal de junho. Em agosto, o BCB implementou programa de leilões de
swap cambial e de venda de dólares com compromisso
de recompra, com o objetivo de prover proteção cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado de câmbio, além de manter o nível das reservas internacionais.
2
Sistema bancário
2.1 Introdução
Tal como ocorreu no primeiro semestre do ano, mesmo diante do cenário de redução na liquidez global, manteve-se a avaliação de baixo risco de liquidez e de elevada resiliência do sistema bancário brasileiro.
Continua o movimento de redução da participação dos ativos líquidos na carteira dos bancos, conforme já havia sido observado em semestres anteriores, em razão da realocação de mais recursos em ativos de crédito na busca por maior rentabilidade. Neste semestre, essa redução intensifi cou-se por causa da redução no valor de mercado dos TPFs, decorrente da elevação das taxas de juros. O crescimento do crédito doméstico mais moderado, que havia sido observado no primeiro semestre, manteve-se no segundo. Os bancos públicos e o crédito com recursos direcionados continuaram impulsionando a evolução dos estoques, mas apresentaram desaceleração no crescimento anualizado, principalmente no último trimestre. A inadimplência total do Sistema Financeiro Nacional (SFN) seguiu em declínio em razão de sua redução registrada nos bancos privados. Manteve-se a tendência de aumento de participação na carteira de crédito de modalidades de menor inadimplência, principalmente fi nanciamento imobiliário e crédito consignado.
A redução no ritmo de crescimento do resultado com operações de crédito, observada desde meados de 2012, intensifi cou-se no segundo semestre de 2013, aumentando a pressão sobre a rentabilidade do sistema bancário. Para amenizar esse efeito, os bancos continuaram empreendendo esforços na contenção de despesas administrativas e na ampliação da venda de serviços. Além disso, o resultado foi favorecido por eventos não recorrentes, de forma que o lucro líquido (LL) avançou levemente, mas o retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) manteve-se estável.
A solvência do sistema bancário permanece em patamar elevado, apresentando estabilidade ao longo do segundo semestre de 2013. Em outubro, entraram em vigor as normas conhecidas como Basileia III, que adaptam o arcabouço regulatório nacional às recomendações mais rígidas do Comitê de Supervisão Bancária de Basileia, resultantes dos riscos identifi cados na crise fi nanceira internacional de 2007/2008. As mudanças, que objetivam reduzir a probabilidade e a severidade de eventuais crises bancárias e seus potenciais refl exos sobre a economia real, são progressivas e seus efeitos serão integrais em 2019, em linha com o cronograma internacionalmente acordado. O arcabouço regulamentar brasileiro foi avaliado pelo Bank for International Settlements (BIS), que concluiu, em dezembro de 2013, pela plena aderência aos padrões internacionais.
Nas simulações de situações de estresse, o sistema bancário brasileiro apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes: de cenários macroeconômicos adversos; de mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio ou de inadimplência; ou de queda generalizada nos preços dos imóveis residenciais. Destaca-se que, para efeito deste capítulo, o sistema bancário é integrado pelas instituições banco comercial, banco múltiplo, caixa econômica e banco de investimento, e pelos conglomerados fi nanceiros compostos ao menos por uma das instituições anteriores. Os bancos de desenvolvimento não estão incluídos nas análises, exceto na seção 2.3 – Crédito, na qual as análises envolvem todo o SFN.
2.2 Liquidez
O risco de liquidez no sistema bancário brasileiro continua baixo, mas apresentou pequeno aumento no período. Assim como no primeiro semestre, houve
redução no valor de mercado dos TPFs, em razão da elevação da curva de juros, além de realocação de ativos em busca de maior rentabilidade. Mesmo o aumento nas captações, que foi superior ao crescimento do crédito no semestre, mostrou-se insufi ciente para evitar a redução na liquidez.
O índice de liquidez (IL)25 do sistema continua em patamar
confortável, mas reduziu de 1,63 para 1,52, por conta da diminuição dos ativos líquidos26 concomitantemente ao
aumento do fl uxo de caixa estressado (gráfi co 2.2.1).
25/ O IL relaciona o volume de recursos líquidos disponíveis para a instituição com o fl uxo de desembolso dos trinta dias (21 dias úteis) subsequentes em cenário de estresse. O fl uxo de caixa estressado simula desembolsos em padrões bem acima dos esperados, tendo por parâmetro o histórico de crises passadas. Instituições com IL superior a 1,0 (100%) possuem ativos líquidos sufi cientes para suportar esse cenário de estresse. Como a metodologia simula um cenário de trinta dias em que os ativos líquidos teriam de ser convertidos em dinheiro, eles são marcados a mercado e/ou sofrem ponderação que simula redução de preço no caso de venda forçada. Essa métrica de liquidez tem por base os mesmos conceitos subjacentes ao Liquidity Coverage Ratio (LCR), índice introduzido por Basileia III. O LCR tem sua implementação prevista a partir de janeiro de 2015. 26/ Para defi nição de ativos líquidos e de fl uxo de caixa estressado, vide
“Conceitos e Metodologias”, itens f e g.
O baixo risco de liquidez do sistema também é refl etido na melhora da distribuição de frequência do IL individual, com aumento de 109 para 113 do número de instituições fi nanceiras (IFs) com IL acima ou muito próximo a um, além de manutenção em 97% da representatividade em termos de ativos (gráfi co 2.2.2).
Os ativos líquidos continuaram a ser impactados negativamente pela queda no valor de mercado dos TPFs, provocada pelo movimento de elevação da estrutura a termo da taxa de juros. A adesão de bancos ao Programa de Recuperação Fiscal (Refi s),27 que provocou saídas
de caixa, também colaborou para a redução nos ativos líquidos. Esses efeitos foram parcialmente compensados pela redução na volatilidade das taxas de juros, que liberou títulos vinculados a garantias para cobrir exposição a risco em bolsas, e pelo crescimento das captações, com o uso de instrumentos que não sofrem incidência de compulsório (gráfi co 2.2.3).
Observa-se que o crescimento no estoque de captações do sistema bancário foi superior ao aumento das operações de crédito (gráfi co 2.2.4). Porém, essa diferença mostrou-se insufi ciente para evitar a queda nos ativos líquidos totais do sistema.
27/ Refis é uma denominação genérica adotada para programas de parcelamento e refi nanciamento de débitos tributários. No caso dos bancos, trata-se do parcelamento de débitos do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofi ns), instituído pelo artigo 39 da Lei nº 12.865, de 9 de outubro de 2013. Por meio da Medida Provisória (MP) nº 627, de 11 de novembro de 2013, o governo federal aumentou os benefícios do programa, estimulando a adesão pelas instituições fi nanceiras e seguradoras. O prazo para adesão encerrou-se em 29 de novembro de 2013. 0 130 260 390 520 650 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 Jan 2012 Jul Jan 2013 Jul Dez R$ bilhões un.
Gráfico 2.2.1 – Índice de liquidez
Ativos líquidos Fluxo de caixa estressado Índice de liquidez
22 7 14 11 6 9 5 57 17 6 11 7 7 11 7 64 0 6 12 18 24 30 <0,8 0,8-1,0 1,0-1,2 1,2-1,4 1,4-1,6 1,6-1,8 1,8-2,0 ≥2,0
Gráfico 2.2.2 – Distribuição de frequência para o índice de liquidez1/
Ativos na faixa/total de ativos do sistema
Junho 2013 Dezembro 2013
Índice de liquidez
1/ Os valores sobre as barras referem-se ao número de instituições financeiras %
com índice de liquidez pertencente àquele intervalo.
-23,2 3,6 5,1 4,3 -10,1 -25 -20 -15 -10 -5 0 A B C D E R$ bilhões
Gráfico 2.2.3 – Variação dos componentes dos ativos líquidos
Jun-dez 2013
A = TPF (marcação a mercado e/ou variação quantitativa) C = Outros ativos
D = Variação no compulsório requerido E = Variação total
Maior captação resultou em elevação na estimativa de resgates em cenário de estresse, o que colaborou para a queda do IL. Esse movimento foi atenuado pela queda na estimativa de perdas por estresse de mercado, decorrente da redução na volatilidade das taxas de juros ao fi nal do semestre (gráfi co 2.2.5).
O estoque de captações atingiu R$3.418 bilhões no fi nal de 2013 (gráfi co 2.2.6), representando um avanço de 8,0%, ante 5,3%, no semestre anterior. A evolução recente foi associada, entre outros fatores, à migração de recursos antes direcionados aos fundos de investimento, que tiveram resgates líquidos de aproximadamente R$36 bilhões no período (gráfi co 2.2.7).
Houve aumento signifi cativo nas captações com títulos (notadamente Letras de Crédito Imobiliário [LCI] e Letras de Crédito do Agronegócio [LCA]), de depósitos de poupança, com empréstimos e repasses e com operações compromissadas utilizando títulos privados. Por outro lado, observou-se redução no estoque de depósitos a prazo e baixo crescimento das captações com base em
instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD) e de Letras Financeiras Subordinadas (LFS) (gráfi co 2.2.8).
Essa alteração de perfi l de captações tende a perdurar, com a utilização de instrumentos de menor custo efetivo, associados a isenções de compulsório, de contribuição ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC) ou de tributos. O crescimento de créditos longos, como os fi nanciamentos imobiliários, provocou aumento maior no prazo médio
-120 -60 0 60 120 180 240 1º Sem 2013 2º Sem 2013
Captações líquidas Operações de crédito Ativos líquidos
Gráfico 2.2.4 – Variação do estoque de ativos líquidos, operações de crédito e captações1/
R$ bilhões 1/ Líquidas de compulsório. 15,3 4,9 -9,1 11,0 0 5 10 15 20 25 A B C D R$ bilhões
A = Estimativa de resgate de depósitos em situação de estresse C = Estimativa de perdas por estresse de mercado
D = Variação total B = Fluxo contratado
Gráfico 2.2.5 – Variação dos componentes do fluxo de caixa estressado Jun-dez 2013 0 700 1.400 2.100 2.800 3.500 Jun
2008 Dez 2009Jun Dez 2010Jun Dez 2011Jun Dez 2012Jun Dez 2013Jun Dez R$ bilhões
Gráfico 2.2.6 – Perfil das captações
Depósitos a vista Depósitos a prazo
Depósitos de poupança Empréstimos e repasses
Compromissadas (títulos privados) LCA + LCI + LF + DPGE
IHCD + LFS Outros -20 0 20 40 60 80
Depósitos a vista Depósitos a prazo
Depósitos de poupança Empréstimos e repasses
Compromissadas (títulos privados) LCA + LCI + LF + DPGE
IHCD + LFS Outros
Gráfico 2.2.8 – Variação do estoque de captações
Jun-dez 2013 R$ bilhões -40 -20 0 20 40 60 80
1º sem. 2012 2º sem. 2012 1º sem. 2013 2º sem. 2013
R$ bilhões
Gráfico 2.2.7 – Captação líquida dos fundos de investimento1/
das operações de crédito vis-à-vis o prazo médio do estoque de captações (gráfi co 2.2.9).28
A mudança de perfil das captações tem mantido suas características de estabilidade,29 pois ganham
relevância instrumentos com características de depósito, considerados estáveis e/ou com cobertura do FGC. Nesse sentido, é fundamental a adaptação da mensuração do tradicional loan-to-deposit (LTD) para evitar percepções equivocadas sobre o risco de liquidez do sistema bancário brasileiro. Com esses ajustes, as operações de crédito têm representado cerca de 86% dos depósitos e das outras captações com as mesmas características de estabilidade (gráfi co 2.2.10), o que demonstra que o crescimento da carteira de crédito é compatível com a evolução do
funding de boa qualidade.
28/ Foram computados os prazos médios das prestações vincendas da carteira de crédito e dos resgates das captações, ambos ponderados pelos respectivos fl uxos.
29/ São defi nidos como recursos estáveis aqueles captados de aplicadores de varejo. Entre os recursos aplicados por detentores institucionais, também são considerados como estáveis os montantes captados em instrumentos com prazo de resgate maior que um ano. Essa métrica foi adaptada do conceito do Financial Soundness Indicator FSI I22, preconizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Para detalhes da defi nição, vide “Conceitos e Metodologias”, letra a.
A dependência das instituições fi nanceiras relativa a captações externas para suportar as operações no país continuou caindo no período em virtude da liquidação de passivos em moeda estrangeira que representam internalização de recursos30. Os recursos captados
no exterior e mantidos para operações fora do país31
continuam com tendência de crescimento, em linha com o processo de internacionalização dos bancos brasileiros (gráfi co 2.2.11).
Em suma, o IL voltou a apresentar pequena queda, mas continua em patamar confortável, refl etindo a elevada liquidez do sistema. Os ativos líquidos reduziram-se diante da continuidade do cenário desfavorável para a precifi cação dos TPFs e de saídas de caixa. O aumento nas captações, mesmo superior ao crescimento do crédito, não foi sufi ciente para repor os ativos líquidos e ainda elevou as estimativas de resgates em cenário de estresse, o que colaborou para a queda do IL.
Quanto ao crescimento das captações, mantém-se o aumento de participação de empréstimos e repasses, de títulos e de poupança, o que é benéfi co no sentido de amenizar a elevação dos custos e para a estabilidade das captações. Acrescenta-se que a menor dependência das operações domésticas em relação ao funding externo é um aspecto positivo no cenário de redução da liquidez global.
30/ Estimativa de captações externas que ingressam no país com base em demonstrativos individuais de instituições fi nanceiras no país.
31/ Estimativa de captações externas que não ingressam no país são captações externas de agências e subsidiárias no exterior, pertencentes a conglomerados bancários com sede no Brasil, que são mantidas nas localidades das respectivas agências e subsidiárias.
0 20 40 60 80 100 Jun 2009 Dez Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez %
Gráfico 2.2.10 – Crédito sobre captações de recursos estáveis 5 11 17 23 29 35 Dez 2010 Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez meses
Gráfico 2.2.9 – Prazo médio dos estoques de crédito e de captações
Prazo médio do estoque de captações Prazo médio da carteira de crédito
0 3 6 9 12 15 Dez 2009 Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez %
Estimativa de captação de agências e subsidiárias no exterior que não ingressa no país versus captações totais
Captação externa que ingressa no país versus captações totais
2.3 Crédito
O crescimento do crédito doméstico mais moderado, que havia sido observado no primeiro semestre, manteve-se no manteve-segundo. Os bancos públicos e o crédito com recursos direcionados continuaram impulsionando a evolução dos estoques, mas apresentaram desaceleração no crescimento anualizado, principalmente no último trimestre. A inadimplência permaneceu estável nos bancos públicos e reduziu-se nos bancos privados, porém com queda na inadimplência total do SFN. Manteve-se a tendência de aumento de participação na carteira de crédito de modalidades que apresentam menor inadimplência, principalmente fi nanciamento imobiliário e crédito consignado.
O estoque de operações de crédito doméstico do SFN atingiu R$2,7 trilhões em dezembro de 2013, com expansão de 7,3% no semestre e de 14,6% em doze meses. Esse valor atingiu 56,5% do PIB, ante 55,0% ao fi nal do semestre anterior e 53,9% em dezembro de 2012, continuando, assim, a desaceleração no ritmo de crescimento iniciada em 2011 (gráfi co 2.3.1).
O crescimento do crédito direcionado mostrou desaceleração nos últimos seis meses (gráfi co 2.3.132).
Porém, ainda persistiu grande diferença entre sua velocidade de crescimento e a do crédito livre. Enquanto o primeiro cresceu 24,5% no ano de 2013 e 11,1% no segundo semestre, o segundo cresceu, respectivamente, 7,8% e 4,4%. Assim, o crédito direcionado continuou aumentando sua participação no total, passando a 44,4% em dezembro de 2013, ante 42,9% em junho de 2013.
32/ Nesse gráfi co, crédito direcionado ou livre e crédito pessoa física (PF) ou pessoa jurídica (PJ) são perspectivas diferentes sobre a carteira de crédito doméstico do SFN: Livre + Direcionado = Total ; PF + PJ = Total.
Os bancos públicos continuaram impulsionando o crescimento do crédito, mas diminuíram o ritmo no segundo semestre de 2013, passando de um crescimento anualizado de 29,3% em junho de 2013 para 22,6% em dezembro de 2013. De sua parte, os privados apresentaram uma retomada, passando de 5,7% a 7,3%, na mesma base de comparação (gráfi co 2.3.2).
A continuidade da postura mais restritiva dos bancos privados no ano de 2013, principalmente nas operações com inadimplência mais elevada, tem alterado o perfi l de suas carteiras de crédito (gráfi co 2.3.3), com perda de relevância, principalmente, do fi nanciamento de veículos PF33 e do capital de giro. Por outro lado, houve aumento
da participação do financiamento imobiliário para pessoa física, empréstimos consignados e de operações para pessoas jurídicas com recursos direcionados, modalidades com menor nível de inadimplência. No caso específico do financiamento imobiliário, cabe destacar que os bancos privados apresentaram taxa de crescimento de 31,5% no ano, próxima à dos bancos públicos, com 34,2%. O crédito consignado também apresentou variação signifi cativa nos bancos privados nacionais, de 15,5% no ano, ainda que abaixo dos bancos públicos, que encerraram o ano com crescimento de 24,2% na modalidade.
O crescimento signifi cativo do fi nanciamento imobiliário nos bancos públicos resultou no aumento de sua representatividade de 18,8% para 20,3% da carteira dessas instituições. Na direção oposta, houve diminuição da participação de operações com recursos do sistema BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –, tanto diretamente quanto por repasses, de 29,2% para 27,2% (gráfi co 2.3.3).
33/ Incluindo os créditos diretos ao consumidor (CDCs) e os arrendamentos fi nanceiros. 0 8 16 24 32 40 Dez
2008 2009Jun Dez 2010Jun Dez 2011Jun Dez 2012Jun Dez 2013Jun Dez
Livre Direcionado PF PJ Total
%
Gráfico 2.3.1 – Crescimento anual da carteira de crédito doméstico 0 10 20 30 40 50 Jun 2008 Dez Jun 2009 Dez Jun 2010 Dez Jun 2011 Dez Jun 2012 Dez Jun 2013 Dez % Público Privado
Gráfico 2.3.2 – Crescimento anual do crédito por controle
As taxas de juros cobradas pelas instituições se elevaram no semestre, tanto para o crédito livre, quanto para o crédito direcionado (gráfi co 2.3.4), refl exo da continuidade dos aumentos da taxa Selic.34 A taxa média
anualizada do crédito livre à pessoa física apresentou o maior crescimento no semestre, 3,2 p.p., mesmo apresentando uma ligeira reversão em dezembro. Esse aumento foi observado de forma generalizada em todas as modalidades, exceto no empréstimo pessoal consignado para trabalhadores do setor público e no crédito pessoal não consignado vinculado à renegociação de dívidas. No crédito livre à pessoa jurídica, a variação na taxa de juros foi menor, de 2,0 p.p., infl uenciada principalmente pela modalidade capital de giro. No crédito direcionado, a elevação foi de 0,6 p.p. para pessoa física e de 0,3 p.p. para pessoa jurídica, sendo as maiores variações nas operações com taxas não reguladas, referentes a fi nanciamentos rurais e imobiliários.
34/ No primeiro semestre de 2013, a taxa Selic variou de 7,25% para 8,00%; no segundo semestre, variou de 8,00% para 10,00%.
Continuou a tendência de redução da inadimplência na carteira de crédito total, alcançando 3,0% em dezembro de 2013, ante 3,4% em junho de 2013, em razão principalmente da redução da inadimplência na carteira dos bancos privados, já que a inadimplência nos bancos públicos, que é mais baixa, caiu apenas 0,1% no semestre e fi cou estável no ano. A redução da inadimplência infl uenciou a leve melhora do índice de cobertura,35
que passou para 1,7 em dezembro de 2013, contra 1,6 em junho de 2013. A comparação entre as provisões constituídas e os créditos baixados para prejuízo nos doze meses seguintes, ou ainda com o total da carteira de maior risco (classifi cada nos níveis E a H), indica a manutenção da sufi ciência das provisões constituídas (gráfi co 2.3.5).
O saldo da carteira doméstica PF aumentou 8,0% no semestre e 16,3% no ano, alcançando R$1,25 trilhão em dezembro de 2013 (gráfi co 2.3.1). Financiamento imobiliário permaneceu como a principal modalidade a determinar o ritmo de crescimento do crédito à pessoa física no ano de 2013, seguido por crédito rural e empréstimos com consignação em folha de pagamento. Já fi nanciamento de veículos continuou em desaceleração, e empréstimos sem consignação, cheque especial e empréstimo rotativo de cartão de crédito apresentaram crescimentos modestos. O fi nanciamento imobiliário36 respondeu individualmente
com a maior participação no crédito total à pessoa física,
35/ O índice de cobertura mede a razão entre a provisão contabilizada e o saldo total das operações vencidas há mais de noventa dias.
36/ Financiamentos imobiliários: todas as operações feitas com recursos direcionados a partir dos depósitos de poupança e do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), destinados à construção e aquisição de residências, aquisição de material para construção de residências e demais fi nalidades defi nidas na regulamentação pertinente. Os fi nanciamentos para aquisição de imóveis residenciais respondiam por 95,7% dos fi nanciamentos imobiliários em dezembro de 2013, percentual que tem se mantido praticamente estável nos últimos dois anos.
0 300 600 900 1.200 1.500 Dez 2012 Dez 2013 Dez 2012 Dez 2013 Públicos Privados R$ bilhões
Gráfico 2.3.3 – Composição da carteira de crédito por controle
Imobiliário Demais direc. PF Consignado
Veículos Demais livre PF Capital de giro
Demais livre PJ BNDES Demais direc. PJ
0 10 20 30 40 50 Mar
2011 Jun Set Dez 2012Mar Jun Set Dez 2013Mar Jun Set Dez
Livre PJ Livre PF Direcionado PJ Direcionado PF
Gráfico 2.3.4 – Evolução das taxas de juros
Recursos livres e direcionados, PF e PJ % a.a.
0,0 1,2 2,4 3,6 4,8 6,0 Mar
2011 Jun Set Dez 2012Mar Jun Set Dez 2013Mar Jun Set Dez
%
Gráfico 2.3.5 – Inadimplência, provisões e baixas para prejuízo
Carteira de crédito classificada nos níveis de E até H Provisões
Inadimplência
com 27,3% de representatividade em dezembro de 2013, e continuou apresentando taxas de crescimento elevadas: a variação foi de 14,4% no semestre e de 33,7% em doze meses. Uma consequência do forte crescimento dos últimos anos é que 77% do estoque de dezembro de 2013 compõem-se de operações concedidas entre 2011 e 2013 (gráfi co 2.3.7). A elevada proporção de operações com concessão recente, portanto em início de amortização, conjugada à tendência observada de alta mais moderada nos preços dos imóveis, tende a manter o loan-to-value (LTV) médio do estoque por mais tempo em nível próximo ao LTV médio de concessão.37
O LTV médio de concessão dos financiamentos imobiliários teve leve redução no semestre, fi cando em 70,1% em dezembro de 2013, ante 71,0% em junho de
37/ O LTV refere-se ao percentual fi nanciado em relação ao valor do imóvel. É calculado com base nas informações sobre garantias que constam no Sistema de Informações de Crédito do BCB (SCR) e levando em conta operações concedidas em cada data-base. Os LTV apresentados foram ponderados pelo valor da dívida de cada contrato.
2013. Analisando-se o LTV médio de estoque, ou seja, o saldo devedor atual como proporção do valor da garantia na concessão da operação, essa relação fi ca em 66,3% em dezembro de 2013. Uma análise mais precisa consideraria a valorização dos imóveis a partir da data de concessão do crédito.38 Por essa metodologia, o LTV médio do
estoque com correção das garantias fi caria em 54,8% em dezembro de 2013, o que revela um confortável grau de segurança, mesmo se considerando o peso expressivo das safras mais novas.
Abrindo essa informação por faixa de LTV (gráfi co 2.3.8), constata-se que a proporção de fi nanciamentos com saldo devedor superior a 80% do valor do imóvel cairia de 20% da carteira, sem a correção, para apenas 9%, com a correção. Loan-to-value menor torna a operação mais segura para a IF, porque, sob a ótica do mutuário, maior será seu patrimônio líquido quanto menor o valor da dívida em relação ao valor do bem, desestimulando a inadimplência. Sob a ótica da IF, melhora a relação dos valores da garantia e do crédito.
Além da relação confortável no LTV, os fi nanciamentos imobiliários no Brasil possuem outras características mitigadoras de risco,39 como a alienação fi duciária e
a aplicação disseminada do sistema de amortização constante, que diminuem o risco de crédito.
Não obstante esse cenário, o BCB tem adotado medidas a fi m de garantir o crescimento sustentável dessa modalidade. Nesse contexto, foi editada a Resolução nº 4.721, de 30
38/ Utilizou-se o índice médio do Índice de Valores de Garantia de Imóveis Residenciais Financiados (IVG-R) para fazer as correções dos imóveis dados em garantia. Atualizaram-se as garantias até outubro de 2013, que era o último IVG-R disponível. Já o valor das dívidas de cada contrato foi o de dezembro de 2013.
39/ Descrição mais detalhada dessas características é apresentada no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) publicado em setembro de 2013, disponível no sítio do BCB. 0 20 40 60 80 100 Dez 2007 Dez 2008 Dez 2009 Dez 2010 Dez 2011 Dez 2012 Dez 2013 %
Imobiliário Consignado Veículos Rural
Cartão sem juros Maior risco Demais
Gráfico 2.3.6 – Composição da carteira de crédito – PF1/
1/ As modalidades de maior risco são empréstimos sem consignação, instituições financeiras (IF) vinculadas a cartão de crédito.
cheque especial, crédito rotativo e compras parceladas pelas
12% 11% 18% 25% 34% ≤ 2009 2010 2011 2012 2013
Gráfico 2.3.7 – Financiamento imobiliário – PF
% no estoque por ano de concessão
22 41 33 35 25 16 18 8 0 20 40 60 80 100
Sem correção Com correção
< 50% ≥ 50% e < 70% ≥ 70% e < 80% ≥ 80% e ≤ 90% > 90%
Gráfico 2.3.8 – LTV de estoque