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Mulheres quebradeiras de coco de babaçu: ações em prol da preservação do meio ambiente e da economia sustentável

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Academic year: 2021

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Mulheres quebradeiras de coco de babaçu: ações em prol da preservação do meio ambiente e da economia sustentável

ISABEL ORESTES SILVEIRA1 ROSANA SCHUWARTZ 2

Introdução

Refletir sobre as mulheres quebradeiras de coco babaçu do Médio Mearim/Estado do Maranhão, significa valorizar os direitos específicos desse grupo extrativista que busca o reconhecimento na forma de gestão do recurso natural, como também no modo de como vivem as relações sociais de gênero.

A história dessas mulheres está intimamente ligada ao contexto de luta, primeiramente contra à subordinação e contra a privatização dos recursos de uso comum como a terra e os babaçuais.

Na luta por reverter os processos de vitimização feminina, as mulheres quebradeiras de coco de babaçu se organizaram em movimentos sociais e criaram uma série de ações que revelam suas trajetórias.

Destacamos os movimentos organizados na região do Maranhão que envolvem as associações e cooperativas solidárias, com programas de agricultura familiar, combinada com a produção agroextrativista. Vale destacar ainda a promoção de um mercado solidário e a substituição dos métodos tradicionais de extração baseados na queima e derrubada das palmeiras de babaçu, para novas práticas de extrativismo, além de suas lutas pela preservação da floresta secundária e as questões sobre desenvolvimento sustentável e a valorização da participação das mulheres na manutenção da cultura local.

Então, destacaremos algumas ações realizadas por duas entidades e organizações lideradas por mulheres camponesas (sem terra ou assentadas), em prol da preservação do meio ambiente e economia sustentável - Associação em Área de Assentamento do Estado do Maranhão – ASSEMA e Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB, na região Norte e Nordeste brasileiro, em específico do Médio Mearin, Estado do Maranhão.

1 *Isabel Orestes Silveira - Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e da Fapcom – Faculdade

Paulus de Tecnologia e Comunicação. Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP.

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Lembrando que esta pesquisa se justifica ao dar destaque às ações dessas mulheres quebradeiras de coco, e no modo como expressam suas condições de direito, frente ao desafio do seu reconhecimento como cidadãs.

1 - As mulheres extrativistas

Refletir sobre as mulheres quebradeiras de coco, nos permite problematizar a relação homem-natureza, as formas de desigualdade, o consumo em áreas que nem sempre são visibilizadas pela mídia, e ainda nos desafia a conhecer grupos de extrativistas e seu importante papel na conservação da biodiversidade e da manutenção de hábitos tradicionais de consumo.

As quebradeiras de coco babaçu, no Médio Mearim, veem nos últimos anos intensificando ainda mais a luta a favor do reconhecimento de uma identidade – quebradeira de coco e agindo contra as ações de grandes proprietários de terra, através da mobilização política, em favor de práticas ambientais e econômicas com a proposta de agroextrativismo do coco babaçu, objetivando a preservação e do livre acesso aos babaçuais.

No Mearim, as mulheres quebradeiras criaram um núcleo reunindo os sindicatos rurais locais da redondeza, com o intuito de promover discussões sobre preservação das matas e meio ambiente.

Segundo Flávia Moura, 26 anos, assessora de comunicação do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, as mulheres da região iniciaram um plano estratégico para melhor estruturar as regionais e tentar trazer mais famílias de agricultores para o movimento em defesa do agroextrativismo sustentável (Jornal Pindova, 2005). E nesse extrativismo, voltado a utilização dos frutos da palmeira de babaçu, podem obter um recurso de uso comum, anteriormente marginal.

Realmente, o babaçu [...] é uma palmeira que representa uma riqueza digna da tôda a atenção pelos poderes públicos, dadas as suas inúmeras utilidades. Dela são extraídos, hoje em dia, sobretudo o óleo empregado nas indústrias de comestível e de sabão, e a torta para a alimentação do gado. Poderão ser também obtidos por processo industriais diversos, a glicerina, um sucedâneo de chocolate, o pixe, o carvão ativado (para descorante), combustível (como lenha ou matéria-prima para coque ou gasogênio), plásticos, capachos e escôvas grosseiras (das fibras). A produção local utiliza as fôlhas e o caule do babaçu como material de construção das casas pobres, e o palmito para alimentação do gado, especialmente dos porcos, e também das pessoas (VALVERDE, 1957: 3).

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A valorização do babaçu é tão grande que as mulheres se expressam cantando a preservação dos babaçuais, e na letra das músicas, despertam o respeito pelo meio ambiente. Um exemplo dessas canções é registrado na pesquisa de Rêgo e Andrade (2006:54).

Hei! Não derrube esta palmeira Hei! Não devore os palmeirais Tu já sabes que não podes derrubar Precisamos preservar as riquezas naturais.

O coco é para nós grande riqueza É obra da natureza Ninguém vai dizer que não Porque da palha só faz casa pra morar Já é meio de ajudar a maior população Se faz o óleo para temperar comida

É um dos meios de vida Pra os fracos de condição Reconhecemos o valor que o coco tem A casca serve também para fazer o carvão Com o óleo do coco as mulheres caprichosas

fazem comidas gostosas de uma boa estimação Merece tanto seu valor classificado que com o óleo apurado se faz o melhor sabão

Palha de coco serve pra fazer chapéu da madeira faz papel

inda aduba nosso chão Tela de coco também é aproveitado Faz quibano o cercado pra poder plantar feijão

A massa serve para engordar os porcos Tá pouco o valor do coco

precisa darem atenção

Para os pobres este coco é meio de vida Pisa o coco Margarida e bota o leite no capão

Esse recurso natural, que aparece na canção, se mostra cem por cento aproveitado e valorizado pelas mulheres que de forma sustentável oferecem pelo discurso e pratica uma proteção aos babaçuais e contra as derrubadas dos mesmos.

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A sede do Movimento das Quebradeiras de Coco Babaçu, existente no Maranhão e foi criado no final dos anos 80, com o apoio da Igreja Católica(MIQCB), e a ASSEMA em maio de 1989.

O MIQCB é uma instituição parceira da ASSEMA que acompanha o Programa de Organização de Mulheres pelo acesso aos babaçuais nos Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará (BELTRÃO, 1990, p. 17).

A ASSEMA é uma entidade que surge com o intuito de desenvolver atividades de apoio à pequena produção local e às famílias produtoras. Através do acompanhamento técnico-agrícola, e do estabelecimento de créditos e de políticas específicas voltadas ao fortalecimento da produção, a ASSEMA, vêm contribuindo para: o avanço do nível das organizações coletivas, para a produção das mulheres quebradeiras de coco babaçu. Também está colaborando com as associações de mulheres cooperativas de pequenos produtores e com os moradores e sindicatos e grupos de estudos do babaçu.

Como resultado do processo de constituição e expansão dessas organizações, podemos citar as diferentes formas de mobilização expressos em encontros interestaduais, audiências públicas com governadores, parlamentares, Ministério Público e sociedade civil. Isso tudo através de convênios com Universidades para o desenvolvimento de cursos de formação e capacitação, realização de seminários, encontros, oficinas, elaboração de propostas de políticas públicas, de projetos de lei (a exemplo das leis municipais e estadual do babaçu livre), bem como pesquisas sobre a economia do coco babaçu e debates sobre desenvolvimento sustentável.

Especificamente a ASSEMA promove interferências em prol do meio ambiente por meio do fornecimento de apoio técnico àqueles que se dedicam ao cultivo de roças cruas, estimulando o abandono da prática tradicional de queimadas e reforçando a necessidade do desenvolvimento sustentável no agroextrativismo, na região do Mearin. Vale destacar que esse local foi e ainda é palco de conflitos agrários em diversos momentos da história.

Além de auxiliar a organização de cooperativas de quebradeiras de coco de babaçu a implantar um sistema agroextrativista voltado para a sustentabilidade e preservação do meio ambiente, a ASSEMA desde 1980 até hoje atua nos municípios do Lago do Junco, Lago dos Rodrigues, Esperantinópolis, São Luiz Gonzaga do Maranhão, Lima Campos, Caxias e Peritoró. Nesses locais, a entidade regulamentou o acesso às

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palmeiras de babaçu em qualquer terra pública e particular e proibiu a derrubada ou envenenamento dessa vegetação.

A discussão política em torno da sustentabilidade nessas regiões atingiu novo patamar, a partir de 1997 quando foi aprovada, no município de Lago do Junco, região central do Maranhão, a Lei do Babaçu Livre, principal conquista das quebradeiras de alguns municípios do Médio Mearim (DIAS, 2002, p.24-32).

Essa lei garante às quebradeiras e às suas famílias, direito de livre acesso e de uso comunitário dos babaçus (mesmo quando dentro de propriedades privadas), bem como, impor restrições significativas à derrubada das palmeiras.

Em 2003, a Lei do Babaçu Livre se estendeu a toda a área dos babaçuais: Lago do Junco, Lago dos Rodrigues, Esperantinópolis, São Luiz Gonzaga e Imperatriz (Maranhão); Axixá, Praia Norte, Buriti (Tocantins); e São Domingos do Araguaia (Pará). No entanto, a expansão da fronteira agrícola e, principalmente, da atividade pecuária descontrolada tem gerado um aumento significativo do desmatamento e dos conflitos de interesse relacionados à utilização dos babaçuais. Diversas áreas são devastadas para dar lugar aos pastos, situação que provoca tensões inclusive em unidades de conservação oficialmente reconhecidas, como as reservas extrativistas do Ciriaco e Mata Grande, além do Parque Estadual do Mirador, todos no Maranhão.

Segundo relatórios da ASSEMA, ao afirmar que as matas de babaçu são de usufruto comunitário das populações extrativistas, praticamente dava as quebradeiras o direito de usufruir tais áreas.

O Brasil é signatário da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), documento que dá sustentação a esse tipo de argumento ao determinar a necessidade do Estado proteger o modo de vida de populações cujas condições sociais, culturais e econômicas as distingam de outros setores da coletividade nacional.

Em dezembro de 2004, foi criada pelo governo federal a Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais, que, entre outras incumbências, sugere critérios para a regulamentação das atividades do agroextrativismo próprias dessas populações específicas.

As quebradeiras de coco são uma das quinze identidades étnicas previstas e com assento na comissão, juntamente com índios, quilombolas, ciganos e seringueiros (GERUR-UFMA-MIQCB, 2001). Entretanto, Terezinha Cruz, presidente da Associação das Quebradeiras de Coco de Petrolina, afirma que a Lei do Babaçu Livre “só existe no

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quilômetros até o local onde normalmente trabalham, passando por fazendas cujos donos não permitem a realização da atividade. Essas situações foram denunciadas ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), um dos órgãos responsáveis pela fiscalização da Lei do Babaçu Livre. Um dos aspectos relevante da Lei é que proíbe as derrubadas, os cortes de cachos e o uso de herbicidas na região dos babaçuais.

Para as mulheres que sobrevivem da quebra do coco, garantir o acesso e a preservação dos babaçuais vai muito além da fonte de renda, significa manter suas tradições e o equilíbrio com o meio ambiente, já que o babaçu é um modo natural de sustento e de impedir que as paisagens locais se transformem em capinzais para o gado ( DIAS, 2001, p.31-67).

3- Desafios e oportunidades

Durante anos, motivadas pelas crescentes dificuldades de acesso aos babaçuais, às quebradeiras procuraram os donos da fazenda Eldorado e firmaram com eles um contrato de comodato, que permitia a coleta e a quebra do coco em uma área de trezentos e sete hectares da propriedade.

A Fazenda Eldorado possuía florestas renováveis de eucalipto utilizadas na produção de carvão vegetal, fonte de energia para os fornos da siderúrgica. O contrato estabelecia restrições como, por exemplo, só permitir a entrada das quebradeiras de coco que pertenciam à associação. Além disso, previsão de multas caso o contrato não fosse renovado anualmente. Mesmo após a aprovação da Lei do Babaçu Livre no município, ocorrida em 2003, o contrato continuava em vigor, apesar de, em princípio, contrariar as disposições básicas da lei (ALMEIDA, 2003, p.25-37).

Os babaçuais se encontram em áreas gravadas junto ao IBAMA como Reserva Florestal Legal (porcentagem de cada propriedade destinada à preservação ambiental). Desse modo, a empresa estava obrigada a garantir a não exploração para fins não previstos por lei, salvo com autorização do IBAMA. O contrato fixava um número limitado de pessoas para evitar a depredação e, consequentemente, garantir seu uso contínuo e sustentado pelos membros da comunidade.

Em Petrolina, assim como em muitos outros locais, ocorreu uma intensificação nas disputas em torno do babaçu durante os anos de 2004 a 2011, motivada pela consolidação de um novo interesse econômico na região: o uso do coco para a produção

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de carvão vegetal. Diversas fazendas foram arrendadas para essa atividade, cujo mercado consumidor é formado por empresas de óleos vegetais, cerâmicas e, principalmente, pelas siderúrgicas ligadas ao Projeto Carajás.

É importante destacarmos que a reserva de ferro, na serra dos Carajás, no sul do Pará, converteu-se, a partir da década de 1980, em palco de um dos mais ambiciosos projetos de mineração da história do Brasil. Segundo a Associação das Siderúrgicas de Carajás (Asica), que congrega as quinze usinas atuantes na região, o pólo gera milhares de empregos diretos e indiretos, e exporta o equivalente a milhões por ano.

Em 2009, um relatório apresentado pelo IBAMA mostrou que o franco crescimento da atividade foi sustentado pelo uso de carvão vegetal proveniente de desmatamentos ilegais e com base em dados apresentados pelas próprias siderúrgicas, o IBAMA identificou, entre 2000 e 2011, o consumo ilegal de 7,7 milhões de metros cúbicos de carvão e de 15,4 milhões de metros cúbicos de toras de madeira, exploradas sem autorização e assim vem sendo até os dias atuais.

Tal situação gerou mais de R$ 500 milhões em multas para as siderúrgicas. A Ilegalidade, segundo o IBAMA, movimentou R$ 385 milhões. Nesse contexto, a utilização do carvão produzido a partir da queima do coco do babaçu ganhou força como alternativa para suprir o déficit energético do setor. (ALMEIDA, 2003, p.34).

Conforme assegura Cynthia Martins, doutoranda em antropologia social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), e uma das pesquisadoras do estudo Guerra ecológica nos babaçuais, tal fato incentivou um refinamento nas técnicas para impedir o acesso ao babaçu: Situações como a instalação de cercas elétricas e a ação de vigias que disparam tiros para amedrontar as mulheres.

De forma geral, organizações extrativistas não são contrárias ao uso do coco pelas siderúrgicas, desde que o carvão seja originário somente da casca. No entanto, diversas entidades alertaram para o crescimento da produção de carvão feito com o coco inteiro. Isso impede às quebradeiras de obter a amêndoa, principal subproduto da economia familiar do babaçu.

A Companhia Siderúrgica do Maranhão (Cosima), por exemplo, foi freqüentemente apontada por organizações agroextrativistas como uma das organizações que não preserva o meio ambiente. No entanto, a empresa afirmou em diversos documentos que sempre utilizou apenas carvão feito a partir da casca (MARTINS. 2005, p. 21).

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Não se tratava de um caso isolado de trabalho precário associado às atividades do pólo siderúrgico de Carajás, visto que as carvoarias que abasteciam as usinas eram frequentemente apontadas como principais focos de incidência de trabalho escravo e degradante do país. A utilização do coco na produção de carvão vegetal também preocupa entidades ligadas ao meio-ambiente.

Esses e tantos outros desafios enfrentados pelas mulheres quebradeiras de coco demonstram que todo a meio ambiente passa a ser por elas incorporado como instrumento de luta (política). Assim, essas mulheres encontram nas organizações uma possibilidade de voz e ação que vai sendo construído pelas relações simbólicas que vão se estabelecendo a partir dos vínculos que elas estabelecem.

Destacamos então a importância das organizações como a Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão – ASSEMA, pois buscaram mudar a realidade dessas mulheres, através de sistemas cooperativistas de produção e comercialização de produtos do babaçu durante. Essas cooperativas se tornaram modelos para a organização de dezenas de entidades de trabalhadores rurais e de quebradeiras de coco, que desejavam vender os produtos do babaçu (carvão, sabonete e tortas).

Outro desafio, que merece ser destacado diz respeito a reivindicação para o desenvolvimento de tecnologias apropriadas para a conversão das amêndoas em biodiesel. O próprio governo vem destacando o amplo potencial produtivo da agricultura familiar no fornecimento de insumos para a produção do combustível, uma das principais apostas do Governo Federal visando à diversificação do modelo energético brasileiro.

Todas essas possibilidades de conquistas, contam com já dito anteriormente com o apoio do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que desenvolve um trabalho semelhante ao da ASSEMA, prestando assessoria e apoio às famílias de agroextrativistas (no Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins), e intensificando o processo de discussão, com segmentos do poder público, sobre as propostas de desenvolvimento nas regiões.

Ambas as organizações, ASSEMA e MIQCB em parceria com outras organizações procuram fortalecer a organização social, política e econômica das famílias que sobrevivem da agricultura familiar e do agroextrativismo, com vistas a um desenvolvimento sustentável e a uma participação política efetiva.

Então, as mulheres quebradeiras de coco, junto a essas organizações intervém na implementação de projetos promotores de retorno objetivando a melhoria dos resultados

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econômicos na região do Maranhão, especialmente o Médio Mearim por ser assaz carente de ações do poder público.

O desafio dessas mulheres ainda é constante, pois a expectativa é sempre otimista na eminência de que um novo cenário seja delineado, com movimentos dos agricultores familiares e agroextrativistas fortalecidos para dialogar e negociar junto às entidades públicas, privadas e dessa forma receber apoio na realização de atividades voltadas ao desenvolvimento sustentável.

Muitas conquistas foram alcançadas pela organização das mulheres, destacamos que o rigor na fiscalização e o cumprimento das leis municipais são provas do fortalecimento dessas mulheres e das duas associações apontadas aqui. Assim conseguem evitar as queimadas (que além de empobrecerem o solo, contribuem para o aquecimento global), e ainda articular políticas de conscientização nos municípios do Mearin levando em conta a particularidade de cada região.

Conclusão

Esperamos ter contribuído ao destacar nesse artigo as duas organizações: ASSEMA e MIQCB, para que as vozes das mulheres quebradeiras de coco babaçu, fossem ouvidas em outros espaços e assim esses movimentos estivessem sendo reconhecidos e ainda mais fortalecidos.

Mulheres que lutam pelo acesso aos recursos naturais, à organização, ao beneficiamento e à comercialização da produção do babaçu, demonstram que ainda há muito por fazer e apontam para suas necessidades e as dos movimentos de agricultores familiares e trabalhadores agroextrativistas e seus parceiros, para que sejam incorporados pelos órgãos públicos, pelas entidades de apoio e por movimentos das regiões referidas. Assim elas esperam que novos espaços de diálogo, negociação e participação se consolidassem.

Excluídas da posse da terra na sua maioria, as quebradeiras de coco entendem que a participação do poder público no processo de dialogo se apresentava como uma condição para que seus objetivos sejam alcançados. Por isso, insistiram na abertura de um canal de diálogo com o poder público a fim de serem reconhecidas pelas políticas públicas enquanto populações tradicionais e em situação de vulnerabilidade social. O apoio de instâncias superiores poderá garantir a integridade física das quebradeiras de coco, pois são alvos constantes de ameaças de morte, surras e estupro.

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Nosso interesse foi apontar para o fato de que as quebradeiras de coco babaçu, delimitam espaços próprios de trabalho especialmente quando se defrontam com desafios ligados aos recursos naturais sobre o qual têm pouco controle. Com a organização de movimentos reivindicatórios que elas integram, contribuem para o crescimento e a construção de suas identidades no âmbito profissional.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno. Guerra ecológica nos babaçuais. Niterói: Universidade Federal Fluminense,2003.

BELTRÃO, Jane Felipe. Trabalhadoras do Brasil, mulheres da castanha: um estudo sobre o trabalho e o corpo. São Paulo: Brasiliense- Fundação Carlos Chagas, 1990. DIAS, Luciene de Oliveira. Mulheres de fibra: As estratégias das quebradeiras de coco no Tocantins como marco empírico para o desenvolvimento sustentável. Tocantins: Universidade federal do Tocantins, 2002.

GERUR-UFMA-MIQCB. Economia do babaçu: levantamento preliminar de dados. 2ª. ed. MIQCB Balaios, 2001 (Documento).

JORNAL Pindova. Informativo bimensal do MIQCB. nº. 8, ano 2005.

MARTINS, Cynthia. Estudo sobre a Guerra ecológica nos babaçuais. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminence, 2005.

RÊGO, Josoaldo Lima; ANDRADE, Maristela de Paula. História de mulheres: breve

comentário sobre o território e a identidade das quebradeiras de coco babaçu no maranhão. Agrária, São Paulo, Nº 3, pp. 47-57, 2006. In: XOTE DAS QUEBRADEIRAS DE COCO: Arquivos da ASSEMA; Músicas Cantadas no II Encontro Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará, 1993)

VALVERDE, Orlando. Geografia Econômica e Social do Babaçu no Meio Norte. In: Revista Brasileira de Geografia, IBGE, ano XIX, n. 4, out./dez. 1957, p. 381-416.

Referências

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