MELOIDOGINOSE DA BANANEIRA
(SINTOMAS Ε S U S C E P T I B I L I D A D E DE C U L T I V A R E S ) *
ANTONIO CARLOS Z E M * *
LUIZ GONZAGA Ε . L O R D E L L O * * *
RESUMO
Vinte cultivares de banana (Musa spp.) fo
ram avaliados em condições naturais de in¬
festaçio em relação aos nematóides
formado-res de galhas Meloidogyne incognita e M.
javanica, espécies estas mais difundidas no
País. Verificou-se que todos os cultivares
foram susceptíveis a M. incognita e oito a
M. javanica. S u s p e i t o u - s e , no entanto, que
caso houvesse infestação uniforme do nema¬
tóide j a v a n ê s , todos os cultivares seriam e¬
ventualmente p a r a s i t a d o s . Descrevem-se
tam-bém os sintomas apresentados pelos sistemas
radiculares dos c u l t i v a r e s . Do ponto de vis¬
ta e c o n ô m i c o , resta recomendar remoção das
raízes das mudas e do solo a elas aderido,
e plantio em solos preferencialmente livres
de Meloidogyne spp.
* Entregue para publicação em 2 3 - 1 2 - 8 1 .
** FMC do Brasil S.A., C a m p i n a s , SP.
INTRODUÇÃO
Os nematóides formadores de g a l h a s , principalmente as
espécies Meloidogyne avenavia (Neal,
1889
) C h i t w o o d ,
1 9 ^ 9 ;
M. * <:azla Chitwoocf,
1 9 ^ 9 ;
M. incognita (Kofoid & W h i t e ,
1 9 1 9 )
Chitwood,
1 9 ^ 9 ;
e M. Javanica (Treub,
1885)
Chitwood
1 9 ^ 9 ,
o-correm e m todas as regiões onde se cultivam bananeiras ^ E H U N T
S
EDWARDS ,
1 9 6 8 ) .De acordo c o m WEHUNT & EDWARDS
(1968)as
espécies de Meloidogyne podem p e n e t r a r a s rafzes de bananeiras
em diferentes pontos. Se penetram pelo á p i c e , causam paraliza
cio do crescimento da raiz e formação de galha terminal; se
penetram uma zona de c r e s c i m e n t o , este é interrompido e o c o r
-re a formação de galha não t e r m i n a l ; e, f i n a l m e n t e , se a inva
sao é em área não m e r i s t e m ã t i c a , nao há formação de g a l h a s ,
porém nos tecidos se e n c o n t r a m fêmeas e o v o s . Afirmam ainda
que Melcidogyne spp. nao atacam o rizoma.
Por v e z e s , quando a parte terminal da .raíz é invadida,
nio há formação de galhas ou formam-se poucas; a raiz pára de
crescer e novas raízes são emitidas acima da área infestada
(STOVER,
1 9 7 2 ) .Nio há evidência experimental de q u e se as espécies de
Meloidogyne reduzam significativamente a produção de b a n a n e i
-ras (BLAKE,
1 9 7 2 ) .Altas produções são obtidas nas áreas em
que as plantas m o s t r a m numerosas galhas no sistema radicular,
sugerindo que podem suportar altas populações de Meloidogyne
spp. sem reflexos na produção (STOVER,
1 9 7 2 ) .Segundo BLAKE
( 1 9 7 2 ) ,a perda causada por Meloidogyne
spp. ainda não foi determinada experimentalmente para bananei
ra, mas o consenso é que os nematõides formadores de galhas
geralmente não reduzem a produção significativamente. Há no
mínimo quatro razões pelas quais isto poderia ocorrer: a) n e
-croses raramente estão associadas com o ataque de Meloidogi£
ne spp. e desta forma é improvável que se espalhem para o c i
-lindro central e causem atrofia das rafzes; b) quando água ou
nutrientes disponíveis para a planta limitam o crescimento, di
minuída a eficiência para conduzir das raízes, diminui a
pro-dução ou desenvolvimento v e g e t a t i v e No e n t a n t o , boas
práticas culturais ajudam remover tais limitações; c) LUC & V i L A R
-OEBO ( 1 9 6 1 a ) m o s t r a r a m que a taxa de reprodução de
Meloidogy-ne spp. é limitada na presença de outros n e m a t ó i d e s , s e n d a p r o
vável q u e as necroses causadas por Radopholus similis (Cobb,
1893)
T h o r n e ,
1 9 ^ 9
ou Helicotylenohus spp. possam tornar os
nematóides das galhas patógenos relativamente inócuos, uma
vez que as raízes da bananeira raramente sio atacadas por s o
-mente uma espécie d e n e m a t ó i d e ; d) na b a n a n e i r a , as raízes in
dividuais do prolífico sistema radicular adventício sio de du
raçio menor que o ciclo de vida do nematóide.
As espécies de Meloidogyne sio polífagas e usualmente
endêmicas das areas onde sio instalados os b a n a n a i s . Portanto,
práticas como d e s i n f e s t a ç ã o do material de plantio e rotação
de culturas sio pouco adequadas para diminuir significativa
mente as infestações d e Meloidogyne nos bananais e s t a b e l e c i
-dos (BLAKE, 1 9 7 2 ) . Medidas de controle específicas para os
"nematóides das g a l h a s " , nao têm sido aplicadas em
bananei-ras, mas espera-se q u e as aplicações de nematicidas para o con
trole de R. similis também reduzam as populações de Meloidogi£
ne.
NEWHALL ( 1 9 5 8 ) e LOOS ( 1 9 5 9 ) nao puderam demonstrar a u
-mentos na incidência de Ma 1
- d o - P a n a m i em plantas de banana i noculadas c o m Meloidogyne e Fusarium oxysporum cubense.
No B r a s i l , nos bananais tem prevalecido infestações de
R. similis e H. multicinctus (Cobb,
1893)
G o l d e n ,
1956
(LOR
-DELLO, 1 9 8 1
; Z E M , 1 9 7 8 ; ZEM et alii, 1 9 8 0 ) , muito embora a presença de espécies de Meloidogyne tenha sido freqüente. Na B a
-h i a , SHARMA & SHER ( 1 9 7 2 ) o b s e r v a r a m plantas em declínio com
folhas secas e cachos a t r o f i a d o s , reconhecidos mesmo i distan
c i a , tendo suas raízes infestadas por Meloidogyne s o p . PONTE
et alii ( 1 9 7 7 ) assinalaram severa e g e n e r a l i z a d a incidência
de M. javanica em bananeiras maça cultivadas no Vale do C u r ü ,
no Estado do C e a r á .
0
objetivo das presentes o b s e r v a ç õ e s foi o de avaliar
o grau de s u s c e p t i b i
1
i d a d e de cultivares de b a n a n e i r a s , bem
como fazer descrição dos sintomas apresentados pelo sistema
MATERIAL Ε MÉTODOS
De duas coleções de culti vares de b a n a n e i r a s , uma
loca-lizada na Estação Experimental de Fruticultura T r o p i c a l , no
município de Conceição do A l m e i d a , B a h i a , e outra no Centro
Nacional de Pesquisa de Mandioca e F r u t i c u l t u r a , em Cruz das
A l m a s , B a h i a , tomaram-se
4
plantas de cada cultivar e de cada
coleção. Em s e g u i d a , colhiam-se raízes p r i m á r i a s , secundarias
e t e r c i a r i a s , as quais eram a c o n d i c i o n a d a s e m sacos d e
polie-tileno para transporte ao laboratório, onde foram observados
os sintomas. Depois parte das raízes e r a fixada e m formol a
5%
para posterior extração das fêmeas e m o n t a g e m de lâminas
para estudo da configuração p e r i n e a l , conforme LORDELLO
(1964)As raízes restantes eram picadas e m pedaços de
1
cm e mistura
das para se tomar subamostras de
10
g, para a extração de ne
m a t ó i d e s , utilizando-se d i l a c e r a ç ã o ao liqüidificador,
penei-ramento e f l o t a ç ã o - c e n t r í f u g a , tal como ZEM
( 1 9 7 8 ) .A c o n t a
-gem foi feita com o auxílio de lamina d e P e t e r s .
0
grau de
in-festação foi medido pelo critério de SASSER
( 1 9 5 4 ) .Na coleção de Cruz das Almas havia forte e generalizada
infestação de
M.
incognita provavelmente devido a o p l a n t i o c o n
tínuo de fumo (Niootiana tabacum L.) nos anos anteriores ao
e s t a b e l e c i m e n t o da coleção. Jã em Conceição do A l m e i d a , a
in-festação era representada por M. javanica, q u e aparecia em re
b o l e i r a s , o q u e pode ser determinado pelo exame de plantas da
η i n h a s .
Ambas as coleções foram plantadas e m solo arenoso e a p r e
sentavam cinco unidades de produção por c u l t i v a r , sendo a de
Conceição do Almeida plantada no espaçamento
3
m χ
3
m e a
de Cruz das Almas estabelecida no espaçamento
3
m χ
4
m para
os cultivares de porte-alto e
3
m χ
2 , 5
m para os de porte m é
dio ou baixo.
No momento da tomada das a m o s t r a s , a coleção de C o n c e i
-ção do Almeida apresentava-se c o m
4
anos de idade e a de Cruz
das Almas com plantas variando entre
18
e
26
m e s e s . Ambas mos
travam tendência ao e n t o u c e i r a m e n t o .
RESULTADOS Ε DISCUSSÃO
Susceytibilidade dos cultivaves
Os resultados sio apresentados na Tabela
1 ,
onde se
verifica que todos os cultivares foram susceptíveis ou a l t a m e n
-te susceptíveis a M. incognita e talvez a M. javanica, se a
área de Conceição do Almeida se a p r e s e n t a s s e uniformente
infestada. Houve relativa variação no número de larvas p r é p a
-rasitas extraídas de
10
g de raízes, nem sempre ocorrendo cor
relação entre o índice de infestação e o número de larvas. Tal
fato parece ser explicado pela incidência concomitante de R.
similise Η. multicinotus, influindo, de acordo com o grau de
necrose radicular, para uma maior ou menor presença de larvas
de Meloidogyne. Foi verificado que a distribuição de galhas
no sistema radicular não era uniforme e se restringia as áreas
ainda não colonizadas por R. similis e H. multicinotus ,
prin-cipalmente pela primeira e s p é c i e .
Sintomas radiculaves
Ao se examinar as r a í z e s , os sintomas mais evidentes fo
ram galhas de dimensões v a r i a d a s , desde
1
mm de d i â m e t r o ,
co-mo as que o c o r r e r a m nas radicelas a l i m e n t í c i a s , até galhas ex
tremamente d e s e n v o l v i d a s , com
15
mm de d i â m e t r o , como aquelas
observadas no cultivar " P r a t a
1 1. Foram freqüentes os casos de
formação de galhas no ápice das raízes. Cortando longitudinal
mente as r a í z e s , encontravam-se fêmeas de M. incognita ou de
M. javanica com f a c i l i d a d e , mesmo a olho nú. Também em raízes
mais d e s e n v o l v i d a s , sem galhas ou outra deformação e x t e r n a ,
pôde-se encontrar inúmeras fêmeas por d i s s e c a ç ã o .
Não havia necrose radicular, à exceção de pequena
fai-xa enegrecida ao redor da fêmea de Meloidogyne no interior da
raíz. Na superfície das raízes e r a d i c e l a s , também eram obser
vadas inúmeras ootecas associadas a pequenos f e n d i
1
h a m e n t o s .
CONCLUSÕES
Onde quer que se cultive b a n a n e i r a s , as espécies R.
si-milis e H. multioinetus têm sido consideradas como as mais im
p o r t a n t e s , cabendo a Meloidogyne importância secundária
(BLA-K E ,
1 9 7 2 ) .A despeito dessa posição de inúmeros a u t o r e s , o u
-tros, de há muito t e m p o , vêm se preocupando c o m o problema da
meloidoginose e a s s o c i a n d o - o c o m perdas de produção (OCFEMIA
& CAL INI S A N ,
1 9 2 8 ;FAHMY,
1 9 2 4 ) . 0trabalho de CLÁUDIO &
DA-VIDE
( 1 9 6 7 )parece ser o único registro literário de experi *
mento sob condições controladas da patogenicidade de M. incog
nita em
5
cultivares d e b a n a n a . A ausência de estudos e s p e c í
-ficos com Meloidogyne podem d e c o r r e r , em p a r t e , da infestação
concomitante c o m R. similis e H. multioinetus. No B r a s i l , v e
-rifica-se a presença de Meloidogyne s p p . associadas a plantas
decadentes (SHARMA & S H E R ,
1 9 7 2 ;PONTE et alii
1 9 7 7 ) .Mesmo
na ausência de R. similis, os "nematóides das g a l h a s " parecem
se constituir e m importante fator de perdas na c u l t u r a . J u s t [
ficam-se portanto esforços no sentido de melhor se esclarecer
a ação desses parasitos sobre a Musácea em a p r e ç o .
Estudos futuros sio necessários para que sejam
possí-veis recomendações enérgicas para o controle da m e l o i d o g i n o s e
da b a n a n e i r a . Recomenda-se cuidadosa e l i m i n a ç ã o das raízes e
do solo aderido is mudas e , se p o s s í v e l , plantio em solos
li-vres de Meloidogyne s p p .
SUMMARY
BEHAVIOR O F BANANA CULTIVARS EXPOSED TO INFESTATION BY
Μ. incognita and M. javanica
T w e n t y banana cultivars (Musa spp.) w e r e exposed in n a
tural conditions to infestation by two root knot n e m a t o d e s ,
namely Meloidogyne incognita and M. javanica. It w a s found
that all cultivars w e r e attacked by
M.
incognita and eight by
M.
javanica. H o w e v e r , in an uniform infestation by the J a v a
nese n e m a t o d e , all cultivars would be eventually attacked by
this species. Symptoms shown by the radicular systems are
described. Bruning of " s e e d l i n g " root and cleaning the soil
adhering to them, and planting them in soils not infested
with Meloidogyne spp. a r e recommended.
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