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ANÁLISE TEÓRICA DO COMPORTAMENTO DE RISCO NO TRÂNSITO NA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA

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ADILSON FERNANDES INDI UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INDIADI58@HOTMAIL.COM

ANÁLISE TEÓRICA DO COMPORTAMENTO DE RISCO NO TRÂNSITO NA

PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA

Pastor Willy Gonzales Taco Universidade de Brasília pwgtaco@gmail.com Paulo Cesar Marques da Silva

Universidade de Brasília paulocmsilva@gmail.com

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CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

ANÁLISE TEÓRICA DO COMPORTAMENTO DE RISCO NO TRÂNSITO NA PERSPECTIVA SOCIOLÓGICA

A. F. Indi, P. W. G. Taco, P. C. M. Silva

RESUMO

O objetivo desta pesquisa é investigar o comportamento de risco no trânsito, por meio de uma abordagem sociológica. Trata-se de um estudo exploratório, por meio do qual realizou-se a revisão bibliográfica. A abordagem sociológica utilizada é a parsoniana, por debruçar amplamente sobre o sistema de ação social e permitir enquadramento sociológico do comportamento de risco dos motoristas, não apenas como algo isolado e individual, mas, como padrões de comportamento social. Os resultados mostram a identificação de quatro fatores sociais da ação integrados entre si, quais sejam: a integração social (grau de socialização dos motoristas); os valores morais presentes nos códigos culturais de representação simbólica; a personalidade como entidade socialmente construída; e, organismo biológico que atua como receptor dos estímulos ambientais adaptando-se a eles através de mecanismo do sistema nervoso central, que por sua vez, processa e coordena através de mediação social toda ação do motorista frente ao ambiente.

1 INTRODUÇÃO

Diversos estudos apontam que 90% dos acidentes são provocadas por fatores humanos e 10% ocorrem por causa das condições ambientais, incluindo neste último as condições das vias ou dos próprios veículos. Os principais fatores de risco envolvendo esses acidentes no trânsito são: excesso de velocidade; o uso de bebidas alcoólicas; o não uso dos cintos de segurança e de cadeirinhas de crianças; e, o não uso de capacetes, no caso dos motociclistas e motoqueiros (Paniche et al., 2006).

Conforme identifica OPAS (2012), os acidentes de trânsito figuram como nona causa de mortes no mundo e principal entre jovens de 15 a 29 anos. Os dados apresentados por esta organização revelam que aproximadamente 1,2 milhões de pessoas perdem a vida todos os anos no trânsito e mais de 50 milhões sofrem alguma lesão todo ano. Dentro deste número, mais de 90% das vitimas fatais e não fatais são de países de baixa e média renda, visto que possuem mais da metade dos veículos globais, 54 %.

Todo dia, morrem mais de 3.000 pessoas no mundo em função das lesões causadas pelo trânsito. Se não forem adotadas medidas radicais de contingência, a OMS projeta um crescimento de aproximadamente 65% em números de mortes por acidentes no mundo até 2020, podendo atingir 1,9 milhões de mortes ao ano em 2030 (OPAS, 2012).

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Os países mais vulneráveis com relação aos acidentes são aqueles menos desenvolvidos. Por exemplo, quando se observam os números de mortes nos acidentes por 100 mil habitantes em diferentes regiões do mundo, a África é o continente que apresenta o maior índice, contabilizando 26,6 mortes por cada 100 mil habitantes.

Em contraposição à África, a Europa apresenta menor índice de mortes no trânsito, sendo 9,3 por cada 100 mil habitantes, uma diferença significativa. No total das mortes no mundo, quase a metade (49%) é formada por segmentos mais pobres e vulneráveis no Trânsito. Motocicletas (23%), pedestres (22%) e ciclistas (4%).

A baixa taxa de incidência de mortes nos países de elevada renda, segundo OPAS (2012), se deve a um conjunto de medidas adotadas por esses países, dentre elas estão: o controle de velocidade e do consumo de álcool, a obrigatoriedade do uso de cintos de segurança e de capacetes, melhoria de projetos viários (infraestrutura), produção de veículos mais seguros e prudência no trânsito.

Alem de causar mortes e ferimentos, os acidentes de trânsito também geram um gasto elevado para os países, atingindo inclusive, nos países de baixa renda 1% de PIB, 1,5% de PIB nos países de renda média e 2% do PIB nos Países de renda alta. O custo total estimado é de 518 bilhões de dólares ao ano. Só nos país de baixa renda, este custo atingiu uma média de 65 bilhões de dólares em 2015. Montante superior a toda ajuda recebida por estes países para fomentar o desenvolvimento (OMS, 2015).

Segundo AMBEV (2014), os dados da OMS em 2010 mostram que entre 182 países com maiores números de mortes no trânsito, o Brasil ocupava a posição nº 140, com um índice de 22,5 óbitos em cada 100 mil habitantes. Desta forma, o Brasil ficando atrás da Índia, China, Argentina, Chile, entre outros. Torquato (2011) havia avaliado que as estatísticas indicavam atropelamento como causa dos 30% de mortes no Brasil.

Diante da contextualização dos dados, a situação que se apresenta para o futuro é de maiores riscos ainda. A tendência é que a mobilidade nas grandes cidades, principalmente nas cidades como as brasileiras tenha desempenho pior no futuro, o que pode contribuir para caos, impaciência, estresse, descontrole emocional, violência entre outros. A verdade é que os tipos de comportamentos citados acima devem contribuir para piorar os riscos no trânsito. Ou seja, a mudança social tem um impacto direto no nosso comportamento, para isso, a sociologia precisa estar vigilante para captar essas mudanças e desmistificá-las. Sabendo da importância da sociologia para a compreensão geral da ação dos motoristas no trânsito, no seu conjunto complexo de interação social com outros pares e meio ambiente, o presente artigo vem somar contribuições para análise dos fatores sociais implicados no comportamento de risco no trânsito dentro de um contexto sociocultural.

Para a realização desta pesquisa foi desenvolvido um estudo exploratório, revisando um conjunto de referências e teorias ligadas ao tema. Foi feita a sistematização lógica destas teorias, encadeando os pressupostos básicos da teoria da ação parsoniana para facilitar a compreensão do assunto no contexto de trânsito.

Este trabalho apresenta uma abordagem epistemológica que ajuda a compreender o universo global dos fatores sociais que influenciam o comportamento de risco no trânsito, como para uma possível incorporação desses fatores nos estudos de tráfego ou na

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investigação profunda das causas dos acidentes. Desta forma, o trabalho contribuirá com um arcabouço teórico que ajude a conhecer, planejar e prevenir alguns comportamentos de risco no trânsito.

2 COMPORTAMENTO DE RISCO NO TRÂNSITO

Para Paniche et al. (2006), há uma controvérsia histórica na tentativa de explicar o comportamento de risco no trânsito, assim como as tendências que influenciam este tipo de comportamento. As dificuldades residem no fato deste possuir diversas causas, tais como: sociocognitivas, ambientais e sociais.

Ao sistematizarem diversos estudos, Paniche et al. (2006) constataram que o primeiro estudo que surgiu na tentativa de explicar este tipo de comportamento é de Accident proneness, que atribui a propensão aos acidentes à um pequeno número de pessoas com características específicas. Posteriormente, apareceram diversos outros estudos com perspectivas teóricas e metodológicas diferentes. Entre eles, destaca-se a Teoria da Ação Planejada (Theory of Planned Behaviour), que aplicada aos estudos de trânsito confirma a vulnerabilidade dos jovens com relação a determinados comportamentos de risco e a possibilidade de predição desses comportamentos para fins de planejamento das ações públicas.

Paniche et al. (2006) destacam que a Teoria da Conduta Problema ( Problem-behavior Theory) desenvolvido por Jessor et al. (1977) e Jessor (1987) mostra que o comportamento de risco no trânsito envolve comportamento de desvio, como o de uso de drogas, a agressividade, atos delinquentes e comportamentos sexuais de risco. A teoria também classifica como patológico este tipo de comportamento e ressalta que coloca em risco a saúde dos jovens, atrelando-os ao sistema de personalidade, sistema do ambiental e ao sistema da conduta.

Considera que o comportamento observado tem variáveis psicossociais constituídas pelo sistema de personalidade e pelo ambiente. Essas variáveis, juntamente com o sistema de conduta, revelam um problema sério, a desintegração social destes jovens, seja pela falta de educação, má influência, assim como a ausência dos valores culturais, ideologia familiar, grau de socialização e área de residência.

Ao realizarem análise, Paniche et al. (2006) ressaltam a importância da análise de Jessor (1987), por este ter considerado a influência do contexto microssociológico no comportamento de risco dos jovens, como a família e grupos sociais. Porém, criticam o fato deste não ter assumido uma análise macrossociológica para compreender melhor a influência de aspectos educativos, culturais e históricos na determinação do comportamento de trânsito.

Existem indícios de que o comportamento de risco adotado por jovens no trânsito tenha influência familiar. Este fato esta relacionado com a transmissão de valores sociais e princípios por parte da família. Há uma correlação significativa entre o comportamento transgressivo dos pais no trânsito e o comportamento desviante dos filhos.

O risco pressupõe o perigo, não necessariamente a consciência do perigo. Quem adota uma linha de ação arriscada, no caso de trânsito, corteja o perigo, onde este se apresenta como uma ameaça aos resultados desejados (Giddens, 1991). O risco é relacionado à

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probabilidade da ocorrência de um evento com magnitude e consequências adversas. Assim a percepção de risco de cada indivíduo influencia de forma diferente na sua forma de interagir com o meio e com os demais usuários do ambiente viário (Pinto, 2013 e Thielen et al., 2008).

O comportamento de risco no trânsito pode ser classificado em três tipos: transgressão, lapsos e erros (Reason et al., 1990; apud Pinto, 2013). A transgressão diz respeito à violação deliberada de normas ou regras de interação no trânsito, visando tirar vantagem na ação empreendida e colocando em risco a segurança de outros motoristas. O lapso é a consequência de pequenas falhas involuntárias da ação, não visando nenhuma vantagem. Erros ocorrem quando a previsão da ação planejada não se confirma de forma desejada, seja por um cálculo errôneo ou pelo mau processamento das informações.

O erro pode estar relacionado com excesso de confiança. Como afirma Giddens (1991), a confiança é a crença ou crédito do motorista na sua qualidade, por isso, adota conscientemente as alternativas para seguir um curso específico da ação. Quando analisado o comportamento por extrato, observa-se que os jovens de sexo masculino são os que transgridem mais as normas, ficando o cometimento dos erros por conta das mulheres. O comportamento de risco está relacionado à personalidade de cada motorista. A personalidade é o traço histórico de comportamento das pessoas ao longo da vida. Envolve aspectos de integração entre sistema cognitivo, sistema biológico, sistema social e sistema cultural (Allport, 1973; Sisto et al., 200; Bartholomeu, 2008). Para Paniche et al. (2006), os traços de personalidade sempre tiveram grande importância na investigação do comportamento de risco no trânsito nas últimas décadas. Dentre os traços identificados e que se envolveram mais nos acidentes estão: a busca de sensações, agressividade, hostilidade, impulsividade, labilidade emocional, comportamento delinquente e violação de princípios sociais.

3 ABORDAGEM SOCIOLÓGICA DE COMPORTAMENTO DE RISCO NO TRÂNSITO

A abordagem teórica mais coerente com os objetivos deste trabalho é a parsoniana, por ter debruçado amplamente sobre o sistema de ação social. De antemão, esta teoria nos permite enquadrar sociologicamente o comportamento de risco dos motoristas, não apenas como algo isolado e individual, mas como padrões de comportamento social. A teoria da ação de Talcott Parsons tem sua orientação nos clássicos, Émile Durkhe e Max Weber.

Segundo Torquato (2011), os estudos comparando diferentes culturas evidenciam a influência de padrões culturais na percepção, atitudes e comportamento no trânsito. A autora evoca a necessidade de realização de pesquisas nacionais para compreender melhor o comportamento de risco e os fatores determinantes dentro do contexto sociocultural do motorista.

Compreender determinados comportamentos de risco no trânsito requer apreensão de sentido mais profundo da ação e exige do pesquisador uma investigação mais apurada e preparo para desmistificar as causas sociais de tal comportamento. A compreensão sociológica de comportamento de risco é uma possibilidade de minimizar os riscos de acidentes no trânsito, que ora são tratados como meros fatores humanos ou, simplesmente

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como fatores psíquicos, ora como fatores ambientais, dissociados da realidade social e do processo de interação de diferentes elementos do ambiente.

Parsons (1974) define ação social como componente de um sistema maior que engloba a integração social, internalização de valores morais, a constituição da personalidade e adaptação do organismo comportamental (biológico) ao meio físico. Estes componentes da ação social não atuam de forma dissociáveis, formam um conjunto interconectado de propriedades associativas, permitindo a maior integração societária, manutenção de padrões de comportamento desejável, adaptação ao meio ambiente e a realização de objetivos sociais. Figura 1 mostra como ocorre esta relação.

INTEGRAÇÃO SOCIAL

VALORES MORAIS

PERSONALIDADE

ADAPTABILIDADE

AMBIENTAL

AÇÃO SOCIAL DOS

MOTORISTAS

Fig. 1 Sistema básico de ação social dos motoristas. Fonte adaptado: (Parsons, 1974)

No caso de trânsito, usando a teoria parsoniana, o comportamento ou ação dos motoristas, só pode ser compreendida na sua totalidade, na medida em que a análise aponta para as seguintes questões:

1) Integração social do motorista - trata-se de compreender o comportamento do

motorista a partir das suas relações sociais. O grau de sociabilidade do motorista e a capacidade de internalização dos valores simbólicos vão definir como ele está integrado aos seus grupos sociais (família, comunidade, escola, religião, entre outros). Quanto maior o grau de sociabilidade e absorção de valores simbólicos, maior será sua integração social. A integração reduz os riscos de violação das normas sociais e formais. As normas formais que regulam o trânsito podem ser tomadas como sistema de ordem legítima (Weber, 1991) É importante ressaltar que para Parsons (1974) as normas formais devem ter como base legitimadora os códigos sociais, para que possam governar a nossa vida de forma aceitável. Durkheim (1977) chama esta aceitação de consciência coletiva, a qual atua sobre todos os membros da sociedade e exerce a coerção sobre eles. As normas formais, quando legitimadas e instituídas, passam a se constituir em valores da sociedade e ajudam na manutenção dos padrões de comportamento e na mudança criativa desses padrões. Os valores sociais atuam como representações coletivas, que de forma legítima, regulam o nosso comportamento e evitam os desvios e transgressões.

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2) Valores morais - Estes nascem de um processo de formação cultural, através do

qual se constitui a nossa representação simbólica, formada por um conjunto de códigos e símbolos que servem como referência a nossas ações. O aspecto cultural é fundamental para compreensão de diferentes comportamentos no trânsito. A cultura, através de seus valores cria a padronização de comportamentos para grupos sociais, étnicos ou nações. Como exemplo, se analisarmos o comportamento do motorista brasileiro no trânsito é totalmente diferente do comportamento do motorista do Reino Unido e, este por sua vez é diferente do comportamento do motorista americano (EUA). Quando pegamos somente o Brasil, há uma diferença de comportamento entre motorista paulista, brasiliense e cearense. Daí a necessidade de compreender a influência da cultura nos dados estatísticos de acidentes publicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS. 2015)

3) Personalidade - É um dos fatores sociais mais conhecidos nos estudos de

comportamento de risco no trânsito. No entanto, quase sempre é tratado como ação psíquica do motorista. Na abordagem sociológica de Parsons (1974) e Weber (1991), a personalidade faz parte da ação dos indivíduos, orientada para um determinado objetivo, que se realiza na coletividade.

Percebe-se a partir deste argumento que os motoristas possuem personalidades próprias e que a ação de cada um no trânsito depende de objetivos previamente definidos. No entanto, na visão parsoniana é importante lembrar que, por mais que o motorista tenha seus objetivos particulares, suas ações estão carregadas de valores e princípios absorvidos no processo de socialização e na cultura. Por este motivo, a personalidade só pode ser compreendida dentro de um conjunto de processos sociais, nos quais ele se constituiu. No processo de constituição da personalidade do motorista, ocorre a internalização de objetos sociais e normas culturais que atuarão como mecanismos de mediação da ação desejada e orientação dos valores morais.

4) Organismo comportamental (adaptação biológica) - Este fator, de igual forma

que a personalidade, é amplamente divulgada nos estudos de trânsito. Ele é a interface entre a ação do motorista e influência ambiental. O trânsito é um ambiente complexo e dinâmico, produz diversas situações estranhas ao motorista, o que requer a adaptação deste frente às adversidades do ambiente.

Segundo Parsons (1974), o organismo comportamental está ligado ao mecanismo primário de interação com o ambiente físico, que recebe e processa constantemente as informações no sistema nervoso central, que ajuda a coordenar e responder os estímulos do ambiente em que a ação se desenvolve. O organismo comportamental responde ao estímulo do ambiente de forma efetiva porque no processo de socialização do indivíduo ocorre intercâmbio entre diferentes funções do organismo social.

O intercâmbio no processo de socialização permite que os indivíduos se comuniquem simbolicamente através de captação de códigos comuns, culturalmente organizados, como no caso da linguagem e dos signos que ficam retidos no sistema nervoso central do organismo biológico para o uso da personalidade.

Neste caso, ao assimilar um conjunto de códigos, o organismo comportamental do motorista tende a compreender melhor o ambiente físico e diversas informações existentes no trânsito, com isso ativa a personalidade na sua interpenetração para a realização da ação

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social. Veja que a captação de códigos sociais e sua retenção no sistema nervoso ajudam no reconhecimento de diferentes informações, o que facilita o seu rápido processamento e redução de riscos.

De modo geral, o comportamento ou ação de motorista no trânsito está mediado por um conjunto de valores internalizados durante todo processo de socialização do motorista, que por sua vez tem seu alicerce nas estruturas simbólicas da cultura e nas representações coletivas dos indivíduos. Por isso, toda ação do motorista no trânsito deve visar à realização de um ato moral. Um ato moral concretiza um valor cultural numa situação social que inclui interação com outros motoristas. Adotar comportamento de risco no trânsito implica transgredir as normas institucionalizadas formalmente assim como aquelas que se concretizaram nas convenções sociais que atuam como representações simbólicas da sociedade. A figura 2 mostra como estão estruturadas os fatores sociais de comportamento no trânsito e seus elementos constituintes.

Fig. 2 Fatores sociais de comportamento de risco no tânsito Fonte adaptado: (Parsons, 1974)

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem sociológica do comportamento de risco no trânsito é algo raro na literatura nacional e internacional. A área de estudo que trata deste tema e se aproxima um pouco mais da sociologia é a da psicologia social, que segundo Militão (2005) é uma área que tem suas raízes tanto na psicologia quanto na sociologia, representando uma interface de aproximação entre as duas áreas humanas.

É inegável a tradição da psicologia nos estudos de comportamento em transportes, seja comportamento de viagem, seja comportamento de trânsito. A psicologia social tem se empenhado em compreender os fatores psicossociais que determinam o comportamento de risco no trânsito, no entanto, há uma lacuna clara em diversos estudos apresentados acima, principalmente, quando tratam de fatores sociais, sem, no entanto, explicitar suas implicações na constituição do sistema geral de comportamento.

Apesar de sua forte ligação com a sociologia, a psicologia social não consegue captar com profundidade os determinantes sociais do comportamento de risco no trânsito. As ações de

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risco no trânsito devem ser abordadas de forma abrangente e sistêmica, levando em consideração tanto os fatores ambientais, psíquicos, assim como fatores sociais. É compreensível do ponto de vista epistemológica as dificuldades que a psicologia apresenta para captar com profundidade a essência da análise sociológica do comportamento de risco ou de qualquer outro fato social relacionado.

A análise sociológica requer conhecimentos e habilidades específicas na área. Sabe-se que não é pretensão da psicologia assumir o papel da sociologia nesta análise. O que ocorre é que a própria sociologia contemporânea tem se distanciado muito dessas questões, deixando de realizar contribuições importantes nesta área do conhecimento.

Nesta perspectiva, este artigo levantantou os fatores sociais que influenciam o comportamento do motorista no trânsito, quais sejam:

i) A integração social - que ocorre a partir de internalização de valores sociais e culturais e que pode ser compreendido pelo grau de sociabilidade do motorista e padrões de comportamento socialmente aceitáveis;

ii) Valores morais - que são parte de produtos do processo cultural do motorista e atua como representação simbólica e consciência coletiva dos grupos sociais que integram a convivência do motorista, sendo estes padrões dinâmicos e criativos; ii) A personalidade - construído no processo de socialização do motorista com o seu grupo, por meio de internalização de valores morais que ajudam na manutenção de padrões de comportamento socialmente aceitáveis e de adaptação ao meio ambiente através de linguagens e códigos simbólicos; e,

iii) Organismo comportamental (biológico) - esse, na sua relação com os outros fatores sociais desenvolve a capacidade de adaptação ao meio por intermédio de recepção de informações (estímulos do ambiente) coordenação e processamento dessas através do sistema nervoso central, que por sua vez ativa a personalidade na realização da ação.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos as instituições de apoio às pesquisas, CAPES/CNPq e a Universidade de Brasília, através do seu Programa de Pós-Graduação em Transportes e do Centro Interdisciplinar de Estudos e Pesquisa em Transportes Ceftru/UnB. Agradecemos também A Fundação de Apoio à Pesquisa do DF (FAP-DF) pelo apoio à participação neste evento.

REFERÊNCIAS

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Bartholomeu, D. (2008) Traços de personalidade e comportamentos de risco no trânsito: Um estudo correlacional. Psicologia Argumento, 26(54), 193-206.

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Durkheim, É. (1977) Da divisão do trabalho social. Martins Fontes.

Giddens, A. (1991) As Conseqüências da Modernidade. São Paulo: Editora UESP.

Jessor, R. (1987) Risky driving and adolescent problem-behavior: Na extension of problem-bahavior theory. Alcohol, Drugs, and Driving. 3, 1-11.

Jessor, R., Jessor, S. (1977) Problem behavior and psychosocial development: A longitudinal study of youth. New York, USA: Academic Press.

Militão, S. C. N. (2005) Sociologia e psicologia: distinção e interdependência. Revista Científica Eletrônica de Psicologia, V. III, Número 04, - Semestral - ISSN 1806-0625 OMS. (2015) Relatório Global sobre o Estado da Segurança Viária. Sumário. Organização Mundial da Saúde. Disponível em: http://www.who.int/violence_injury_prevention/road_safety_status/2015/Summary_GSRR S2015_ POR.pdf. Acesso em: 04/2016.

OPAS. (2012) Relatório mundial sobre prevenção de lesões causadas pelo trânsito: resumo. Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde/Ministério da Saúde (BR). 73p.: il.

Panichi, R. M. D., Wagner, A. (2006) Comportamento de risco no trânsito: revisando a literatura sobre as variáveis preditoras da condução perigosa na população juvenil. Interamerican Journal of Psychology, 40(2), 159-166.

Parsons, T. (1902) O sistema das sociedades modernas. Tradução de Dante Morreira Leite. São Paulo; Pioneira, 1974: p275 .

Pinto, P. V. H. (2013) Avaliação do Comportamento de Risco de Motociclistas no Cenário Brasileiro. Dissertação de Mestrado, PPGT/UnB; 116p. Brasília-DF.

Reason, J., Manstead, A., Stradling, S., Baxter, J., Campbell, K. (1990) Errors and violations on the roads: a real distinction? Ergonomics. v. 33, n 10/11, p. 1315 – 1322. Sisto, F. F., Oliveira, S. M. S. S., Oliveira, K. D., Bartholomeu, D., Oliveira, J. C. S., Costa, O. R. S. (2004). Escala de traços de personalidade para crianças e aceitação social entre pares. Interação em psicologia, 8(1), 15-24.

Thielen, I.P., Hartmann, R.C., Soares, D. P. (2008) Percepção de risco e excesso de velocidade. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 131-139.

Torquato, R. J. (2011) Percepção de risco e comportamento de pedestres. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil.

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