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INELEGIBILIDADE SUPERVENIENTE E POSSIBILIDADE DE IMPUGNAÇÃO A REGISTRO DE CANDIDATURA

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Academic year: 2021

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INELEGIBILIDADE SUPERVENIENTE E POSSIBILIDADE DE IMPUGNAÇÃO A REGISTRO DE CANDIDATURA

Nos últimos dias a população do Distrito Federal tem discutido acerca do registro de candidatura do ex-governador José Roberto Arruda, que tenta novamente galgar ao cargo máximo do Executivo Distrital nas eleições de 2014, e da possibilidade do mesmo assumir em caso de vitória nas urnas.

As discussões e polêmicas iniciaram após o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios confirmar a sentença de primeiro grau que condenou o ex-governador por improbidade administrativa, além de suspender seus direitos políticos por oito anos, em razão do chamado mensalão do DEM, que consistia na compra de apoio político por parte do ex-governador e outros aliados.

Antes do julgamento, porém, o ex-governador tentou anular os atos do juiz de primeiro grau ao suscitar sua suspeição, fato que não fora aceito pelo próprio juiz e tampouco pelo Tribunal.

Arruda valeu-se então de recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça e de ação cautelar para atribuir efeito suspensivo ao mesmo. Conseguiu efeito suspensivo e ganhou tempo, ficando o TJDFT impedido de realizar o julgamento.

Porém, o Ministro Joaquim Barbosa, em uma de suas últimas decisões como chefe do Judiciário, concedeu liminar e determinou que o Tribunal de Justiça julgasse o caso, o que ocasionou na manutenção da condenação mencionada alhures.

O acórdão que confirmou a condenação do ex-governador por improbidade administrativa, suspendendo seus direitos políticos (Art. 37, § 4° da CF/88 e arts. 11 e 12 da Lei 8.429/92), foi lavrado no dia 9 de julho, dando início ao fervoroso debate midiático sobre a possibilidade de Arruda continuar concorrendo às eleições deste ano, já que sua candidatura já havia sido registrada junto ao TRE, e, em caso de vitória, se o mesmo poderia vir a tomar posse.

De acordo com a Lei Complementar 64/1990, conhecida como Lei das inelegibilidades, aquele que for condenado à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado OU proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de

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improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, está de pronto inelegível.

De salutar importância é a conjunção “ou” utilizada pelo Legislador, permitindo que, mesmo que não haja trânsito em julgado do decisum, se a decisão for proferida por órgão colegiado, o condenado estará inelegível e, por óbvio, não poderá concorrer aos cargos públicos eletivos.

Não há maiores discussões a respeito da inelegibilidade do ex-governador do Distrito Federal, afinal a condenação foi clara e a Lei é de fácil interpretação.

A discussão que vem a lume se dá acerca da efetividade da referida decisão tendo em vista que o candidato já efetuou o registro de sua candidatura, cujo prazo findou-se em 5 de julho.

Aqui encontra-se o busílis da questão, a decisão posterior ao registro de candidatura poderá interferir na decisão que (in)defere tal registro?

O Ministério Público Eleitoral, que já oferecera impugnação ao registro de candidatura de Arruda1, defende a tese de que não importa se o candidato já solicitara seu

registro de candidatura em momento anterior à decisão que o declarou inelegível, devendo o TRE indeferir o pedido de registro, não permitindo que Arruda faça campanha eleitoral e tampouco participe do pleito no dia 5 de outubro.

Para a defesa de Arruda e alguns respeitáveis colegas especialistas em Direito Eleitoral, há de se aplicar no caso o disposto no art. 11, § 10 da Lei 9.504/97 (Lei das eleições), que determina que as circunstâncias posteriores ao registro da candidatura somente deverão ser consideradas caso versem sobre alteração superveniente que afaste a incidência de causa de inelegibilidade.

José Eduardo Alckmin, ex-ministro do TSE e especialista em Direito Eleitoral, ao conceder entrevista ao site Globo.com, em posição a qual este articulista, com a devida vênia, discorda, entende que somente poderia se impugnar o registro da candidatura caso a decisão do TJDFT houvesse sido publicada antes do prazo fatal para o registro de candidatura, repita-se, dia 5 de julho de 2014.

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O respeitável advogado e doutrinador defende que, passado o prazo de registro sem a publicação da decisão, somente restará ao MPE alegar inelegibilidade superveniente para impedir que a Justiça Eleitoral conceda o diploma em caso de vitória nas urnas.

Entrementes, a Lei das inelegibilidades, alterada em 2010 pela memorável Lei do Ficha Limpa – que vale lembrar, será aplicada pela primeira vez nas eleições gerais – em seu artigo 15 dispõe:

“Transitada em julgado ou publicada a decisão proferida por órgão colegiado que declarar a inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido.” (grifo nosso)

O referido artigo, em que pese alguns entenderem que somente deverá ser aplicado nos casos em que a inelegibilidade for declarada expressamente no acórdão ou na decisão transitada em julgado, é plenamente aplicável ao caso em comento, devendo o TRE, de ofício ou após a Ação de Impugnação de Registro de Candidatura (AIRC), negar o registro de candidatura de Arruda.

Ainda que o TRE já houvesse deferido o registro, nos termos do artigo supra, o mesmo poderia ser cancelado, ou seja, numa clara determinação do Legislador acerca da possibilidade de cancelar o registro da candidatura em casos de inelegibilidade declarada após 5 de julho do ano eleitoral (inelegibilidade superveniente).

Soma-se a isso o disposto no art. 3° da LC 64/90, que estabelece o prazo de cinco dias para a impugnação das candidaturas. Ora, se há o prazo de cinco dias, contados da publicação do edital de pedidos de registro de candidatura, por óbvio se elastece o lapso temporal para ocorrência de causas de inelegibilidades, permitindo aos impugnantes alegarem causas de inelegibilidades ocorridas até o prazo máximo para as impugnações. Importante salientar que, em que pese a decisão do colegiado que condenou Arruda por improbidade administrativa e suspendeu seus direitos políticos tenha sido acordada entre os Desembargadores do TJDFT no dia 9 de julho, o acórdão somente fora publicado na data de ontem, dia 21 de julho de 20142, portanto, somente a partir de então

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pode-se alegar a existência jurídica da decisão e embasar as impugnações à candidatura de José Roberto Arruda.

Dito isso, novos questionamentos nascem nos difusores de notícias, qual seja, caso o entendimento dos Tribunais Eleitorais ou do TSE seja no sentido de que deve ser aplicado o disposto no art. 11, § 10 da Lei 9.504/97, não havendo falar-se em impugnação do registro por condições posteriores, poderia o candidato concorrer normalmente ao pleito? Qual seria o remédio jurídico para evitar a diplomação e posse de candidato “ficha suja” e inelegível em caso de vitória?

O atual entendimento do colendo TSE é no sentido de que a qualquer candidato que se encontre em condição sub judice é garantida a prática de todos os atos relativos a campanha eleitoral além da permanência de seus dados na urna eletrônica, o que poderá garantir a manutenção de Arruda na corrida eleitoral até o final.

Já no tocante à solução jurídica para evitar que candidato que não preenche as condições de elegibilidade ou que se enquadre em qualquer condição de inelegibilidade seja diplomado e tome posse, há ações eleitorais próprias para tanto.

Caso haja vitória, o MPE e demais legitimados (candidatos, partidos, coligações) poderão valer-se, por exemplo, do Recurso Contra Expedição de Diploma (Art. 262, CE), fundamentando seus pedidos com no acórdão que suspendeu os direitos políticos do candidato e, consequentemente, o tornou inelegível.

Não há dúvidas de que no caso específico, o ex-governador Arruda não poderá exercer o mandato eletivo, seja pela aceitação da Justiça Eleitoral das impugnações do registro de candidatura, seja pela negativa na concessão ou cassação do diploma em caso de vitória.

Surge daí mais um questionamento: Caso Arruda concorra normalmente às eleições e vença, não concedido ou cassado seu diploma, o vice assume o Governo do Distrito Federal?

O TSE, ao interpretar o art. 91 do CE, já pacificou o entendimento de que nas eleições majoritárias, em respeito ao princípio da indivisibilidade da chapa única, havendo a cassação do diploma do candidato a Governador, por via reflexa e em virtude

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da existência de relação jurídica de subordinação entre as candidaturas, o diploma do vice também é cassado, ou negado se ainda não houver sido expedido345.

Cumpre destacar que tal entendimento não se refere a condição de inelegibilidade, ou seja, o vice não se torna inelegível pura e simplesmente em razão da inelegibilidade do titular.

Portanto, ainda que Arruda vença e tenha seu diploma negado ou cassado, seu vice na chapa não será diplomado e não governará o DF.

Por oportuno, vale lembrar que a Resolução 23.405/14 do TSE, que disciplina os procedimentos relativos à escolha e ao registro de candidatos nas Eleições de 2014, em atenção ao Código Eleitoral, Lei de Inelegibilidades e Lei das Eleições, permite a substituição de candidato em caso de declaração de inelegibilidade do mesmo, mesmo que posterior ao prazo para registro de candidatura.

Assim dispõe a Resolução do TSE:

“Art. 61. É facultado ao partido político ou à coligação substituir candidato que tiver seu registro indeferido, inclusive por inelegibilidade, cancelado ou cassado, ou, ainda, que renunciar ou falecer após o termo final do prazo do registro (Lei nº 9.504/97, art. 13, caput; LC nº 64/90, art. 17; Código Eleitoral, art. 101, § 1º). [omissis]

§ 2º A substituição poderá ser requerida até 20 dias antes do pleito, exceto no caso de falecimento, quando poderá ser solicitada mesmo após esse prazo, observado em qualquer hipótese o prazo previsto no parágrafo anterior.

[omissis]

§ 4º Se ocorrer a substituição de candidatos a cargo majoritário após a geração das tabelas para elaboração da lista de candidatos e preparação das urnas, o substituto concorrerá com o nome, o número e, na urna eletrônica, com a fotografia do substituído, computando-se àquele os votos a este atribuídos.

Portanto, respeitados os prazos e condições de substituição, no caso específico do ex-governador do DF, tal manobra pode ser utilizada também como estratégia de campanha para vitória nas urnas e governo nas mãos de algum aliado político.

3 AgRgAg 6462 TSE

4 RESPE 25.586 TSE 5 RCAND 140438 TRE-SE

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Caso não haja substituição do titular (Arruda) e seu diploma seja negado ou cassado após as eleições, como dito alhures, toda a chapa será atingida e, portanto, os votos dados a chapa serão considerados nulos e, caso a soma dos referidos votos atinja mais da metade dos votos válidos, será marcada uma nova eleição (Art. 224, CE).

Se os votos não atingirem a metade, o segundo colocado na corrida eleitoral assumirá o Governo.

O objetivo deste sintético artigo é de esclarecer algumas dúvidas acerca da possibilidade de impugnação de registro de candidatura por fato ocorrido após o prazo para tal, porém será necessário aguardar a posição final do Egrégio TSE para decidir se prevalecerá o artigo alterado pela Lei da ficha limpa ou se continuará sendo aplicada a Lei 9.504/97.

Referências

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