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1.Ensino de Língua Materna: breve panorama de mudanças e as contribuições da ciência

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GLOCALIZAÇÃO E ENSINO DE LÍNGUA MATERNA: ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO DAS MUDANÇAS.

Taysa Mércia dos Santos Souza Damaceno (IFS/UFRN) taysa_damaceno@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Os sistemas de avaliação da educação básica no Brasil desempenham uma função estratégica de espaços demarcados pela globalização. Atitudes sociais como numerar, quantificar e verificar o nível de desenvolvimento educacional de um país e construindo um padrão educacional a ser seguido não é tarefa única de um estágio empresarial de emergência econômica. Eles aparecem também como protagonistas de condutas pedagógicas que, em tese, representam poderes e blocos hegemônicos. Assim, novos paradigmas adentram para o contexto de mudanças propostas não só pela ciência Linguística, mas também pelas políticas públicas, no que concerne ao ensino de Língua Materna (LM).

Nesta reflexão trataremos das propostas de mudanças acerca do ensino de LM, numa tela de modernidade tardia, pela ótica da Análise Crítica do Discurso Fairclough (2006), elencando as relações em escalas de mudança social e especificamente a relação entre global e local que acabam por estabelecer o fenômeno da glocalização, proposto por Robertson (2000). Esse conceito devolve à Globalização uma realidade ampla e dialética entre global e local. Nesse sentido, os aspectos globais também são tomados pelas vivências e culturas locais dos contextos sociais. Trata-se também de uma espécie de globalização local, em que comportamentos, estratégias e desdobramentos se confundem com o processo massificante da globalização em linhas de mudanças discursivas. O glocal reescalona a percepção do local e do global, e ainda traz real dimensão e extensão de nossas práticas discursivas, assim como as informações externas influenciam as nossas condutas.

A percepção e ação sobre o universo que nos cerca é tema abrangente que aqui se reveste pela tela de novas propostas para o ensino revigoradas e facetadas pelas concepções atuais acerca do fenômeno língua que ganham corpo nesse trabalho, articulado pelos estudos críticos do discurso e atrelados a um panorama histórico de mudança vivenciado pela educação básica no Brasil.

A fim de especificá-lo, trataremos apenas das linhas de glocalização reveladas nas políticas públicas e abordagens que orientam a aprendizagem do idioma pátrio em tempos de avaliações constantes e ênfase das competências e habilidades para leitura e escrita, como resultado de uma vertente teórica que ganhou curso pelo advento da ciência Linguística, mas também porque corroboram com as concepções trazidas pela troca universal-local.

Para dar conta dessa reflexão trataremos da breve contextualização acerca do ensino de Língua Portuguesa e suas propostas de mudança, traçaremos as linhas gerais da ACD em consonância com a globalização e observaremos a relação global-local de alguns aspectos inerentes ao ensino de LM, que constituem as práticas de propostas na condição política do ensino do idioma pátrio.

1.Ensino de Língua Materna: breve panorama de mudanças e as contribuições da ciência

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A partir de mudanças legais, como a LDB 9394/96, é que a teoria da renovação ganhou mais visibilidade nos espaços acadêmicos, pois foram tímidas as estratégias que rotulavam o ensino de Língua Portuguesa, no âmbito da política educacional brasileira, como inovador e integrado à realidade. A grande contribuição para o deslocamento do eixo tradição para renovação é visível na LDB: “a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania” (Artigo 36, I). Interpreta-se dessa nova LDB uma concepção de língua voltada para sua heterogeneidade, uma vez que ela enfatiza o pluralismo de ideias, a diversidade cultural e o reconhecimento dos processos formativos que se dão fora da escola. No entanto, Britto (1997) ressalta a “ausência de mudança nesse ensino” e atribui aos formadores de opinião: mídia, livros didáticos e vestibulares, a responsabilidade de “reforçar valores linguísticos equivocados” em relação à Linguística.

O lugar dessa ciência na formação de professores de Língua Portuguesa e nas práticas escolares de educação básica tem uma trajetória que acompanhou a construção de saberes diversos, característica de uma ciência marcada pelas propostas que ora se completavam, ora divergiam. Dentro de um quadro eclético delineado pelas visões estruturalista de Saussure, funcionalista do Círculo de Praga e gerativista de Chomsky, além das propostas inovadoras da Pragmática, da Linguística Textual, Sociolinguística, Etnolinguística e Análise do Discurso, os cursos de Letras tornaram-se um celeiro dos diálogos científicos, de muita produção, por isso heterogêneo.

Novas propostas teóricas passam a evidenciar o trabalho com língua como possível de se debater todo tipo de preconceito linguístico, dando lugar à valorização do não-padrão, e a escola passa a operar com a variedade e com a questão da diferença como um fator normal na língua, já que as línguas não são monolíticas nem homogêneas.Falar e escrever tornam-se assim modalidades de produções discursivas complementares e interacionistas, consideradas nas produções textuais. Segundo Marcuschi (2000), o novo modelo teórico passa com enorme rapidez para o ensino de LM pelo potencial de aplicabilidade, renovando assim extraordinariamente as práticas de ensino, que encara a língua como um fenômeno dinâmico refletindo na política do ensino de língua.

Nesse espectro, de acordo com Bagno (2007), os grandes suportes para atuação do docente – os livros didáticos - alcançaram também um avanço considerável com a criação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), porque a partir disso começaram a reconhecer e aceitar as contribuições de educadores e linguistas voltados para uma nova educação que, segundo o autor, serviram para a elaboração de uma política linguística.

Para acompanhar todas as mudanças sociais e o conjunto dos eventos comunicativos, o texto se torna elemento central de uma didática marcada pela relação ensino - atividade discursiva, uma vez que, atualmente, o texto é consagrado como recurso ímpar dentro do ensino de língua portuguesa, somados a outros grandes fatores como a

As condições atuais que permitem repensar sobre o ensino da leitura e da escrita considerando não só o conhecimento didático acumulado, mas também as contribuições de outras áreas, como a psicologia da aprendizagem, a psicologia cultural e as ciências da linguagem. O avanço dessas ciências possibilita receber contribuições tanto da psicolinguística quanto da sociolinguística; tanto da pragmática, da gramática textual, da teoria da comunicação, quanto da semiótica, da análise do discurso. (PCN,1998)

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2.Análise Crítica do Discurso (ACD): algumas premissas para o evento discursivo e o estudo da linguagem

Teorizar a linguagem como prática social, como uma intervenção na ordem social, econômica e reprodução ideológica perpassa pelo modelo central de uma Linguística Crítica (LC), que postula índices distintos da Linguística Funcional, entende a linguagem pelas funções e formas diferentes de se realizar, não abrangendo todo o contexto das possibilidades de “equipar leitores para fazer leituras desmistificadoras dos textos ideologicamente marcados” (FOWLER, 2004, p.211), desafio da LC.

Foi nos anos 80, com a publicação de Linguagem e Controle que Gunther Kress e Roger Fowler levantaram questões centrais sobre a teoria crítica de discurso como um instrumento de mudança social, privilegiando os textos como materialização desses discursos dentro de uma posição pós-estruturalista, trazendo como evidência as correlações entre estrutura linguística e estrutura social, já que as relações sociais influenciam as práticas linguísticas e não linguísticas dos sujeitos. A nova teoria citava

uma linguística voltada para questões práticas. Não é a simples aplicação da teoria para fins práticos, mas pensar a própria teoria de forma diferente, nunca perdendo de vista o fato de que o nosso trabalho tem que ter alguma relevância. Relevância para as nossas vidas, para a sociedade de modo geral. (RAJAGOPALAN, 2005, p.12)

Há uma defesa de que o os significados sociais e suas realizações em textos devem ser representados num modelo de análise linguística para entender os processos ideológicos. Daí entender que o projeto de uma LC já nasce dentro dos embates comuns nas relações estabelecidas pelo dueto linguagem e ideologia.

Para a ACD, a Ideologia representa um importante aspecto de estabelecimento e conservação das relações desiguais de poder. A LC tem um interesse particular nas formas em que a ideologia resulta mediada pela linguagem, na diversidade de instituições sociais. (WODAK, 2003, p. 30, tradução nossa).

É pela adoção do conceito de Ideologia intrinsecamente marcado pela linguagem, que categorias emergem para modelos de análise linguística, organizados pela forma como os sujeitos do discurso atuam nos processos de transformação na sociedade.

Todas essas conjunturas são base normativa para o discurso, que será materializado pela análise linguística da Ideologia, a qual Thompson(1984) também reconhece operar por intermédio da linguagem e que esta é um instrumento de ação social. Assim, trabalhar a concepção crítica de Ideologia também é trabalhar uma concepção crítica de linguagem , uma vez que os processos de mudança, transformação, manutenção, contestação revelam relações de poder e se materializam por meio da linguagem. Daí fazer o elo dessas novas concepções com o quadro teórico da LC, desembocando no que podemos chamar de ACD. “Dessa forma, a LC e ACD podem definir-se como disciplinas que se ocupam em analisar as relações de discriminação, discriminação, poder e controle, e como essas relações se manifestam através da linguagem” (WODAK, 2003, p.17, tradução nossa).

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Para abarcar as manifestações pela linguagem, os pressupostos básicos da LC em conjunto com ACD, poderiam partir das seguintes premissas, segundo Wodak (2003, p. 24, tradução nossa):

 A linguagem é fenômeno social;

 Não só os indivíduos, mas também as instituições e os grupos sociais têm significados e valores específicos que se expressam de forma sistemática por meio da linguagem;

 Os textos são as unidades significativas relevantes da linguagem nos processos comunicativos;

 Os leitores e ouvintes não são receptores passivos nas suas relações com os textos;

 Existem semelhanças entre a linguagem da ciência e a linguagem das instituições.

Pelo exposto, percebe-se que as fontes de representação que o indivíduo social acabam materializadas pela linguagem, e as constantes transformações desses processos não seriam tão perceptíveis se não pudéssemos analisá-las a partir de categorias das ciências sociais e dos estudos da linguagem, daí a relevência para o que chamaremos de discurso dentro dos preceitos para a ACD.

Para a ACD, o discurso é entendido como uso da linguagem como prática social, o que significa diretamente entendê-lo “como um modo de ação historicamente situado, que tanto é constituído socialmente, como também é constitutivo de identidades sociais, relações e sistemas de conhecimento e crença.” (RAMALHO e RESENDE, 2006,p.26)

Blommaert (2008) nos alerta para condição de que a ACD é um tipo de investigação analítica que estuda as relações de poder, desigualdade, dominação e controle, e essas relações são reproduzidas e combatidas por textos orais e escritos nos contextos sociais e políticos, para constituir o conceito de discurso.

Para Resende e Ramalho (2006), o conceito de discurso não pode ser entendido se não pela visão deste como prática social, como ele é representação na modernidade tardia, e de seus duelos hegemônicos, cravados pela ideologia. Para tanto, faz-se necessário explicitar, de acordo com as autoras:

DISCURSO

Como prática social “O discurso é um modo de ação historicamente

situado, que tanto é constituído socialmente como também é constitutivo de identidades sociais, relações sociais e sistemas de conhecimento e crença.” (p.26)

Na modernidade tardia As teorizações aqui são de Giddens(2002). “Em vários aspectos, as instituições modernas apresentam certas descontinuidades em relação a cultura e modos de vida pós-modernos em decorrência de seu dinamismo, do grau de interferência nos hábitos e costumes tradicionais e de seu impacto global”, (p.30), o que acaba sendo representado pelo discurso fragmentado da modernidade tardia, deslocado do antes era apenas uma representação ideológica, aqui também é dialética.

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relação da instância discursiva analisada com ordens do discurso e sua recorrência gêneros, vozes e discursos de ordens de discursos articuladas) e para a interação ( análise linguística de recursos utilizados no texto e sua relação com a prática social).” (p.36)

Luta hegemônica “ [...] a hegemonia e a luta hegemônica assumem a

forma da prática discursiva em interações verbais a partir da dialética entre discursos e sociedade – hegemonias são produzidas, reproduzidas, contestadas e transformadas no discurso.” (p. 44)

Ideologia “Ao contrário das concepções neutras, que tentam

caracterizar fenômenos ideológicos sem implicar que esses fenômenos sejam, necessariamente, enganadores e ilusórios ou ligados com os interesses de algum grupo em particular, a concepção crítica postula que a ideologia é, por natureza, hegemônica, no sentido de que ela necessariamente serve para estabelecer e sustentar as relações de dominação e, por isso, serve para reproduzir a ordem social que favorece indivíduos e grupos dominantes. As formas simbólicas dos discurso, nesse sentido, servem para estabelecer e sustentar as relações assimétricas de poder.” (p.49-50)

Quadro 1 – Pelas vias dos conceitos na ACD1

Dentro dessa premissa, há uma relação de reciprocidade entre sociedade e discurso: discurso é moldado pela estrutura social e esta é moldada pelo discurso. Dizemos, então que há uma relação dialética. O discurso é o registro dos sistemas de signos de uma cultura, numa determinada época, dando assim significados e valores institucionais, assim como esses significados são mediados pela linguagem, que reflete todo o quadro de luta hegemônica de ações determinadas pelo uso da linguagem, condição ímpar para os estudos de ACD.

3. Global-glocal: o ensino de LM e alguns desdobramentos

Em tempos pós-modernos, Fairclough (2006) nos chama a atenção para produtividade de se pesquisar o discurso como uma faceta da globalização. O autor traz novos conceitos para um estudo interdisciplinar a partir do conceito de EPC ( Economia Político-cultural) que traduz as instituições como objetos político-econômicos socialmente construídos. No elenco: as organizações econômicas, a divisão do trabalhão, do Estado, as formas de governo. O linguista traz também a proposta de que se esses objetos institucionais são socialmente construídos. Há, portanto, uma ponta de subjetividade nesses processos. Enquadrar estudos da ACD num contexto interdisciplinar torna possível:

abordar o tema da globalização de modo a assegurar uma atenção sistemática do discurso como uma faceta da globalização e ajuda a evitar o perigo de um foco descontextualizado do discurso, que desconsidera o fato de que um discurso só pode ser eficiente na

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construção social da globalização sujeita a certas condições.(FAIRCLOUGH, 2006, p.24, tradução coletiva)

Assim, os processos de globalização acabam por ser um “mosaico” de identidades e sujeitos, formados pela complexidade e contribuintes para trajetória da globalização. E se considerarmos algumas observações acerca do ensino de LM, a proposta fica mais explícita porque

uma escola não é simplesmente uma organização onde acontece o ensino, mas também examina, planeja o currículo e outras práticas administrativas. Instituições e organizações como redes de práticas sociais podem ser vistas como um nível intermediário de estruturação social, menos abstrata do que eu estou nomeando de „estruturas sociais‟ e mais próximas dos acontecimentos verdadeiros. (FAIRCLOUGH, 2006, p.26, tradução coletiva)

No contexto da relação estruturas sociais e acontecimentos verdadeiros há uma fronteira muito tênue em que podemos visualizar o lugar da mudança discursiva no ensino de LM como também representação de processos reais de globalização mediada por fatores locais. O quadro que será demonstrado nos dá um panorama desses processos reais de globalização – a partir de uma conjuntura glocal que segundo Franco(2003), as mudanças sociais pelas quais estamos passando fazem parte da base do processo de globalização nos dias atuais e acabam ganhando dupla significação. O autor enfatiza que não é a expansão dos fenômenos para uma escala global em si, mas a presença concomitante entre global e local que ocorre em virtude da possibilidade da conexão global-local. Não se pode perceber e apreender o sentido do processo por inteiro se não se compreender que a globalização é, simultaneamente, uma localização do mundo e uma mundialização do local, ou seja, é uma „glocalização‟.

Esse fenômeno se dá não só nas instituições como um todo, mas também nas evidências de mudanças das práticas sociais. Há uma recontextualização, o que Fairclough(2006), chama a atenção para quando os processos de globalização afetam uma entidade social como o estado-nação. O que aqui consideramos também a orientação, a legalização e formalização de práticas pedagógicas para o ensino de LM. Há o que chamamos de relação exterior e interior dentro dos eventos discursivos.

Vejamos especificamente o objeto de nossa reflexão:

MUDANÇA DISCURSIVA Discurso como processo social

GLOBAL LOCAL PRÁTICA

SOCIAL Ensino de LM voltado para abordagem interacionista da linguagem, dialogismo, variações. Condições de um mundo altamente aberto aos sistemas de comunicação em tempo real (internet, novas mídias interativas, redes sociais)

Características culturais um povo numa dada região, as linguagens emergentes, a presença da alteridade na constituição dos sujeitos locais e os discursos comunitários que se mesclam com as imposições dos processos reais de globalização. Aulas interativas, estudos de textos híbridos, ênfase no estudo da funcionalidade lingüística. Ensino de LM como critério determinante Sistemas de avaliações moldados em contextos Prova Brasil, Observação dos fatores

Aplicação de simulado para

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de resultado global da aprendizagem no país

de economia

emergente.

capitalistas dentro de uma Economia baseada no conhecimento

(EBC).2Modelos de administração das políticas públicas a partir das premissas de empresas privadas do mercado. locais como determinante de competências e habilidades a serem avaliadas. Importância da cultura local no processo de educação lingüística do educando, como a identidade, a literatura, a arte. treinamento moldado.Linguagem articulada na escola: diretor(gestor), resultados (índices e quantificação da aprendizagem da leitura e da escrita na sala de aula) – IDEB. Planejamentos estratégicos para o ensino de LM. Didatização das orientações curriculares pautadas nas exigências da mundialização do conhecimento.

Esse mapeamento nos dá um enforque introdutório das experiências atuais, quando o tema é o ensino de LM dentro da esfera global-local, agora glocal, em que fatores inerentes à cultura e às práticas sociais de um povo também são determinantes para uma prática discursiva dialética, recontextualizada, e percebida como resultados das recepções passivas e ativas dos sujeitos inseridos na aldeia global pois

quando uma entidade social específica (p.ex. uma nação-estado) está sujeita aos processos de globalização, podemos esperar mudanças nas suas instituições e organizações, isto é, mudança nas suas práticas sociais, mudança em como elas funcionam conjuntamente em rede, mudança nas ordens dos discursos, nos discursos, nos gêneros e nos estilos. Novas instituições, práticas, discursos, e assim por diante, emergem. (FAIRCLOUGH, 2006, p.29, tradução coletiva)

Essa emergência discursiva de elementos não só vocabulares, mas de um momento de prática que culmina na abordagem em sala, até o contexto na política de ensino da Língua Portuguesa, que além de ser configurado pelas contribuições da ciência, que responde aos processos reais de globalização, atestam a localização das práticas sociais e entram em cadeia com as premissas do globalismo3.

CONCLUSÕES

As mudanças sociais implicam em mudanças discursivas. Traçar um paralelo de alguns efeitos da globalização e de sua relação com os aspectos locais sobre o ensino de Língua Portuguesa, atualmente, trouxe-nos um suporte para o enquadramento nos

2 JESSOP, B. The Future of the Capitalist State. Cambridge: Polity, 2002. Citado por Fairclough in:

Language and Globalization (2006).

3 o globalismo é uma realidade problemática, atravessada por movimentos de integração e

fragmentação[...] Implicando tribos e nações, coletividades e nacionalidades, grupos e classes sociais , trabalho e capital, etnias e religiões, sociedade e natureza [...] Para compreender os movimentos e as tendências da sociedade global, pode ser indispensável compreender como as diversidades e desigualdades atravessam o mundo.In: IANNI, Otavio. A Era do Globalismo. 10 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

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estudos da análise crítica do discurso, pela abordagem interdisciplinar com as ciências sociais. Refletindo acerca da dialética local-global e discurso, concluiu-se que as forças sociais atuantes nos processos reais de globalização não só influenciam as condutas institucionais, como também são influenciadas pela localização de suas práticas sociais. Foi possível também demonstrar, mesmo de maneira introdutória, como a linguagem tem o papel crucial para manutenção de determinação das mudanças discursivo-pedagógicas acerca do ensino de LM, quando se trata da contribuição da Linguística e das implantações de políticas públicas para avaliação do ensino de Língua Portuguesa na Educação Básica em tempos de pós-globalização. Isso porque a evidência do trabalho esteve na conseqüência desse processo mundial. Assim, depreendemos que as mudanças sociais funcionam em rede, e ainda: as novas instituições, práticas, discursos emergem no cenário altamente complexo, na tela da tríade global-local-prática social.

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