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EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

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A IMPORTÂNCIA

DA AFETIVIDADE NO PROCESSO

DE ENSINO E APRENDIZAGEM

COMO MEDIADORA

DA PRÁXIS EDUCATIVA NO

ENSINO SUPERIOR

ARTIGO EDUCAÇÃO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE

Resumo

O presente artigo trata da importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem como mediadora da práxis educativa no ensino superior, visto que o professor é um importante mediador do processo educacional. Enfoca algumas concepções teóricas so-bre a afetividade e a prática docente, a afetividade na concepção de Piaget, Vygotsky e Wallon, teóricos que muito infl uenciaram na prática do afeto para o desenvolvimento do ser humano, relação entre cognição e afeto e a afetividade nas relações professor-aluno no ensino superior.

Palavras-chave: afetividade, inteligência, ensino, aprendizagem. Abstract

This present article deals the importance of aff ectivity in the pro-cess of teaching and learning as a mediator of educational praxis in higher education, since the teacher is an important mediator of the educational process. In the fi rst moment be approached in search some theoretical concepts about the aff ectivity and a teaching prac-tice, where found the importance of aff ectivity in human relations, since man is by nature a social being. In the second moment be ap-proached this aff ectivity in the conception of Piaget, Vygotsky and Wallon, theoretical, that much infl uence in the practice of aff ection for the development of human beings.

Keywords: aff ectivity, intelligence, education, learning.

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A AutorA

1Felisnaide Martins dos Santos

Bacharel em Administração com habilitação em Administração Hospitalar, especialista em Didática Universitária e gerente hospitalar do Hospital Unimed de Imperatriz – (felisnaide@hotmail.com).

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A afetividade é um tema que tem sido bastante discutido na atualidade, dentro e fora das instituições de ensino, pois inter-fere diretamente no desenvolvimento afetivo emocional, cog-nitivo, social e em todas as relações do ser humano. Ela vem sendo explorada em todos os campos da sociedade, através dos programas de qualidade, de incentivo e de projetos voltados para os recursos humanos, pois o ser humano necessita de afe-to para viver. Foi pensando nisso que se decidiu realizar esta pesquisa bibliográfica acerca da importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem como mediadora da práxis educativa no ensino superior.

Para Piaget (apud LA TAILLE, 1992, p. 14), “o ‘ser social’ de mais

alto nível é justamente aquele que consegue relacionar-se com seus semelhantes de forma equilibrada”. Nessa perspectiva, será apresentada a importância da relação professor-aluno, o quão necessário é manter a inteligência emocional dentro da sala de aula, respeitando os alunos como seres capazes de per-ceber, questionar e contribuir de forma significativa no ensino, ao oposto de tratá-los como seres insignificantes diante de seu mestre que sabe tudo. A afetividade na relação entre estas duas figuras contribuirá para que os alunos se sintam valorizados, acrescenta um incremento à autoestima e pode favorecer o pro-cesso de aprendizagem. Piaget (apud LA TAILLE, 1992) afirma que

a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais, que são em geral demasiadamente negligenciadas.

O afeto é considerado a energia que move as ações dos seres humanos, pois sem a troca, o calor e a afabilidade não há mo-tivação nem interação entre os sujeitos, o que pode dificultar o desenvolvimento da inteligência.

A afetividade é necessária para a vida e essencial para a cons-trução de relações saudáveis entre os indivíduos. Assim sendo, acresce a necessidade da realização desta pesquisa teórica que visa a contribuir para uma reflexão sobre a importância da rela-ção interpessoal professor-aluno no ensino superior.

1. I

NTRODUÇÃO

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCES

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F ELISNAIDE M ARTINS DOS S ANTOS

2. A

LGUMASCONCEPÇÕESTEÓRICASSOBREAAFETIVIDADE E APRÁTICADOCENTE

A afetividade, segundo Almeida (1999), constitui um domínio tão importante quanto a inteligência para o desenvolvimen-to humano. Ela não é sentimendesenvolvimen-to nem paixão, muidesenvolvimen-to menos emoção. Ela é um termo mais amplo e engloba estes três úl-timos, que, apesar de muito parecidos, são distintos entre si. Na concepção de Wallon (apud ALMEIDA, 1999), a afetividade

exerce um papel imprescindível no processo de desenvolvi-mento da personalidade, e este, por sua vez, constitui-se sob alter-nância dos domínios funcionais.

Wallon (apud ALMEIDA, 1999) assinala que o nascimento da

afetivida-de é anterior à inteligência. O ser humano, enquanto ainda recém-nascido, antes mesmo de estabelecer algum tipo de relação com as pessoas, isto é, no sentido de conhecer, observar, descobrir o meio, permanece voltado para si mesmo como se estivesse se preparando para interagir no mundo físico. Na concepção de Almeida (1999), enquanto não aparece a palavra, é o movimento que traduz a vida psíquica, garantindo a relação da criança com o meio. As descargas motoras e, um pouco mais tarde, os gestos do lactente são carrega-dos de significativos afetos, que, nesse princípio, nada mais são do que expressões das necessidades alimentares e do humor. A afetivi-dade manifesta-se primitivamente no comportamento, nos gestos expressivos da criança. E enquanto as palavras não aparecem, são nesses movimentos que a afetividade se manifesta.

Segundo Almeida (1999), na teoria walloniana a afetividade é o ponto de partida para o desenvolvimento do indivíduo e o seu crescimento parte de uma sociabilização sincrética para uma indi-vidualização psicológica.

Na concepção de Wallon:

A importância das relações humanas para o crescimento do homem está escrita na própria história da humanidade. O meio é uma circunstância ne-cessária para a modelagem do indivíduo. Sem ele a civilização não existiria, pois foi graças à agregação dos grupos que a humanidade pôde construir os seus valores, os seus papéis, a própria sociedade (WALLON apud ALMEIDA,

1999, p. 45). PARA PIAGET, A AFETIVIDADE NÃO SE RESTRINGE APENAS ÀS EMOÇÕES E AOS SENTIMENTOS, ENGLOBANDO TENDÊNCIAS E VONTADE

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Assim sendo, a partir dessa concepção de Wallon, é interessante que o ambiente em sala de aula seja propício para que se desenvol-va a afetividade na relação professor-aluno, que vínculos afetivos sejam criados, que exista uma sensação de bem-estar na relação de ambos para que assim o trabalho do professor seja gratificante e que o aluno tenha motivação para permanecer na instituição absorvendo do ensino o que há de melhor, uma aprendizagem significativa. Sem motivação, a razão de estar na sala de aula pode deixar de existir e isso poderá resultar em frustração, desânimo, reprovação, má qualificação profissional e, até mesmo, desistência.

3. A

FETIVIDADENASCONCEPÇÕESDE

P

IAGET

, V

YGOTSKYE

W

ALLON

O tema afetividade não é muito associado à teoria de Jean Piaget, o que não significa dizer que este teórico não tenha dado grande importância para o estudo da influência da afetividade para o desenvolvimento psicológico e consequentemente da inteligência (SOUZA, 2003).

Para Piaget (apud LA TAILLE, 1992), o desenvolvimento da

inteli-gência humana só se efetiva a partir das interações sociais. Ana-lisou-se a seguinte informação a partir da concepção de Piaget: O homem é um ser essencialmente social, impossível, portanto, de ser pen-sado fora do contexto da sociedade em que nasce e vive. Em outras palavras, o homem não social, o homem considerado como uma molécula isolada do resto de seus semelhantes, o homem visto como independente das influên-cias dos diversos grupos que frequenta, o homem visto como imune aos legados da história e da tradição, este homem simplesmente não existe (PIAGET

apud LA TAILLE, 2003, p. 11).

Nesta perspectiva, observa-se claramente que o homem neces-sita interagir com os outros e com o meio para que ao menos exista. Tornam-se impraticáveis as vivências sem comunicação, sem troca e sem afeto.

Para Piaget, é a partir das relações sociais que a criança vai se desprendendo da fase do egocentrismo, começa a perceber a importância das relações com os outros e assim vai desen-volvendo a construção do seu eu e do outro como referência

(SALTINI,1999 apud SILVA; SCHNEIDER, 2007). Assim sendo, a

manei-A IMPORTÂNCImanei-A Dmanei-A manei-AFETIVIDmanei-ADE NO PROCES

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F ELISNAIDE M ARTINS DOS S ANTOS

ra como os pais se relacionam com essa criança, o meio em que ela convive e exerce suas primeiras relações poderão influenciar no seu desenvolvimento moral e na formação de si mesma. É interessante que, do ponto de vista de Piaget (SOUZA, 2003) no

que diz respeito à afetividade, ela não se restringe apenas às emo-ções e aos sentimentos, mas engloba as tendências e a vontade. Na concepção de Vygotsky (apud OLIVEIRA; REGO, 2003), uma

compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende a sua base afetivo-volitiva. Este teórico é enfático ao afirmar que

Quem separa desde o começo o pensamento do afeto fecha para sempre a possibilidade de explicar as causas do pensamento [...]. De igual modo, quem separa o pensamento do afeto nega de antemão a possibilidade de estudar a influência inversa do pensamento no plano afetivo, volitivo da vida psíquica, porque uma análise determinista desta última inclui tanto atribuir ao pensa-mento um poder mágico capaz de fazer depender o comportapensa-mento humano única e exclusivamente de um sistema interno do indivíduo, como transformar o pensamento em um apêndice inútil do comportamento, em sua sombra, sua desnecessária e impotente (VYGOTSKY, 1993, P. 25 APUD REGO; OLIVEIRA, 2003, P.18).

Vygotsky (apud OLIVEIRA; REGO, 2003) faz um alerta que

reconhe-cer a íntima relação entre o pensamento e a dimensão afetiva é uma condição necessária, porém não suficiente, para os estudos psicológicos. Para ele, é necessário estudar essa relação ao longo da história do desenvolvimento de uma perspectiva genética. Para Vygotsky (apud OLIVEIRA; REGO, 2003), nos pressupostos da

te-oria histórico-cultural, o indivíduo é produto do desenvolvimento de processos físicos e mentais, cognitivos e afetivos, internos e externos. Em relação ao campo das emoções, Vygotsky (Van der Veer e Valsiner, 1996, p. 382 apud Oliveira; Rego, 2003) postula diferenças significativas entre as emoções dos animais e dos seres humanos, pois, do seu ponto de vista, humanos têm capacidade de emoções mais sofisticadas do que os animais e os adultos têm uma vida emocional mais refinada do que as crianças. Conforme as pessoas aperfeiçoam o controle sobre si mesmas, mudanças qualitativas ocorrem no campo das emoções.

Vygotsky (apud OLIVEIRA; REGO, 2003) esclarece a questão acerca

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im-pulsos do ser humano cultural adulto, relacionado à autor-regulação do comportamento. Acrescenta ainda, enfocando que esse papel não deve ser confundido com a ideia de razão repressora, capaz de anular ou extinguir os afetos. Ao opos-to, com o desenvolvimento a razão está a serviço da vida afetiva, na medida em que é um instrumento de elaboração e refinamento dos sentimentos.

Numa interpretação de Oliveira; Rego (2003) acerca da im-portância da afetividade na teoria de Vygotsky, do mesmo jeito que o ser humano aprende a agir, a pensar e a falar ele aprende a sentir. Nesta perspectiva, o aprendizado sobre as emoções e afetos é longo, inicia-se nas primeiras horas de vida de uma criança e se prolonga por toda a sua existência.

Diante de todos os pressupostos teóricos acerca da importância da afetividade, percebe-se que ela é essencial não só na relação professor-aluno, mas também como uma estratégia nas insti-tuições de ensino superior em suas práticas pedagógicas. Um professor afetivo faz toda a diferença na sala de aula em todas as modalidades de ensino, pois através da afetividade o aluno poderá ser motivado a construir o seu conhecimento.

O aluno precisa ser visto pelo professor como um ser interativo e ativo no seu processo de crescimento e desenvolvimento, en-quanto o professor é o seu mediador, facilitador. Para que haja um excelente aprendizado, é necessário que o aluno não seja forçado a fazer nada, mas que aja por si só, por seus próprios esforços, pois na relação precisa existir respeito mútuo.

A afetividade, na concepção de Henri Wallon (1879-1962), par-te do pressuposto de que é preciso estudar a formação do ser humano a partir das emoções, buscando compreendê-lo do ponto de vista do ato motor, da afetividade e da inteligência, assim como do ponto de vista das relações com o meio. Ele con-centra suas investigações nos primeiros anos de vida, período em que, segundo ele, é possível compreender a formação das funções psíquicas, que na fase adulta se tornam mais difíceis de compreender, uma vez que tais funções já aparecem integradas a funções do desenvolvimento tardio (GALVÃO, 2003).

Em sua teoria original, Wallon (apud DANTAS, 1992) atribui

gran-de importância à emoção, pois ela é vista como instrumento gran-de

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCES

SO DE ENSINO E APRENDIZAGEM... AFETIVIDADE É ESSENCIAL NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E UMA ESTRATÉGIA PARA AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO SUPERIOR

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sobrevivência para o ser humano. Se não fosse a capacidade que o ser humano tem, desde o seu nascimento, de mobilizar o am-biente através de suas emoções, possivelmente todos pereceriam. O choro sobre a mãe atua como um chamado de socorro que ime-diatamente é atendido, assim como os gestos, que, mesmo sem a fala, expressam o que a criança está sentindo. É neste sentido que Wallon considera a afetividade fundamentalmente social, pois: “Ela fornece o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos e supre a insuficiência da articulação cognitiva nos primórdios da história do ser e da espécie” (WALLON apud DANTAS, 1992, p. 85).

O contágio das emoções entre os seres humanos é inevitável, por isso Wallon (2007) afirma que é impossível as influências afetivas que rodeiam uma criança durante toda a sua infância não terem sobre a sua evolução uma ação determinante. Na teoria wallonia-na, compete também à emoção unir os indivíduos entre si.

4. R

ELAÇÃOENTRECOGNIÇÃOE AFETO

Para o desenvolvimento e crescimento do ser humano, a interação entre afetividade e inteligência exerce um importante papel, pois ambas se desenvolvem gradativamente no indivíduo e existe uma integração que as permite estar juntas mesmo quando o momen-to é propício apenas para uma. À medida que o indivíduo vai se desenvolvendo, a afetividade vai cedendo lugar à inteligência, pois ele sente a necessidade de conhecer o mundo em sua forma real. Segundo Oliveira (2001), costuma-se distinguir entre as funções cognitivas e as afetivas e/ou emotivas, sendo estas últimas frequen-temente identificadas com a motivação e também com os aspec-tos conativos ou volitivos do sujeito. As funções cognitivas e ou intelectuais abrangem aspectos muito diversos, como a percepção, a aprendizagem, o conhecimento, o pensamento, o conceito, o juízo, o raciocínio, a solução de um problema etc, enfim, tudo o que se relaciona com a aquisição e processamento de informação. Nesta perspectiva, a afetividade é a motivação que impulsiona o indivíduo a seguir em frente, ela constitui o fator energético do comportamento humano e não pode ser separada das funções cognitivas. F ELISNAIDE M ARTINS DOS S ANTOS

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Para Dantas, a afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa, ela é também uma fase do desenvolvimento.

O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional. Portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da primeira (DANTAS, 1992, p. 90).

O ser humano vai crescendo e a diferenciação entre a afetivida-de e a inteligência vai surgindo, mas elas andam paralelas. Vez por outra, elas alternam, uma dando lugar à outra, e a afetividade muitas vezes reflui para dar lugar à inteligência, para que o ser em processo de crescimento encare a realidade da vida (DANTAS, 1992).

Nesta perspectiva, é a partir daí que a personalidade do ser hu-mano é formada segundo as relações variáveis entre as duas funções, ora predominando a afetiva ora a cognitiva. Elas osci-lam, mas não se separam.

Segundo Almeida (1999, p. 50), “a evolução da inteligência é incorporada pela afetividade de tal modo que uma determinada relação afetiva evolui para uma outra”.

Na obra walloniana (ALMEIDA, 1999), a afetividade e a inteligência

constituem um par inseparável na evolução psíquica, pois ambas possuem funções bem definidas, e quando integradas permitem ao indivíduo atingir níveis de evolução cada vez mais elevados. Diante dos pressupostos teóricos acerca da relação entre cogni-ção e afeto, observa-se que é impossível separá-los. Piaget (apud

OLIVEIRA, 2001) exemplifica de uma maneira muito interessante a

interação destas funções, comparando-as a uma máquina e o seu combustível. Ele diz que a afetividade e motivação são o combus-tível, enquanto a cognição é a estrutura da máquina ou motor pensante. Realmente, é um exemplo significativo, porque nenhum motor funciona sozinho e muito menos sem combustível, desse ponto de vista o sujeito da questão seria o condutor da máquina. É difícil aceitar a realidade de que muitos educadores ainda fa-çam uso de uma teoria que separa a cognição e o afeto. É de suma importância que o professor assuma real mente o papel de um educador, facilitador, que observa com olhar atento o seu aluno, não só no aspecto cognitivo, mas também no emocional.

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCES

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5. A

AFETIVIDADE NASRELAÇÕESPROFESSOR

-

ALUNONOENSINO SUPERIOREOPROCESSODEENSINOEAPRENDIZAGEM

Apesar de a afetividade ser um tema bastante discutido na atualidade, em muitas instituições de ensino ainda existem educadores que insistem em separar o afetivo do cognitivo. Na teoria walloniana, a afetividade é o ponto de partida para o desenvolvimento do indivíduo. Ela é um domínio funcional cujo desenvolvimento depende de dois fatores: o orgânico e o social. Entre esses dois fatores existe uma relação muito próxima: às vezes um se destaca mais que o outro, mas jamais se separam.

A evolução do ser humano parte da sociabilidade sincrética para uma individualização psicológica. Nesse período, as relações fami-liares e com o meio em que este indivíduo convive exercem um importante papel para a sua formação (ALMEIDA, 1999).

Segundo Wallon,

A importância das relações humanas para o crescimento do homem está escrita em sua própria história. O meio é uma circunstância necessária para a modelagem do indivíduo. Sem ele a civilização não existiria, pois foi graças à agregação dos grupos que a humanidade pôde construir os seus valores, os seus papéis, a própria sociedade (WALLON, 1959 APUD ALMEIDA, 1999, p. 45).

O ser humano, por ser geneticamente social, necessita do ou-tro para se delimitar como pessoa. Para Wallon (apud ALMEIDA

1999), o meio social é cultural e interpessoal, indispensável para a formação do eu.

Para Almeida (1999), a postura a ser assumida pelo professor em sala de aula deve ser a de um observador, um intérprete perspicaz capaz de identificar os entraves que se estabelecem entre o par professor-aluno, para melhor saber lidar com a teia das relações que se criam na apropriação do conhecimento.

Em diversas áreas, quer seja no âmbito empresarial, educacional, cristão, grupos de apoios e entre outras, para que as pessoas se reú nam é preciso se sentirem motivadas, pois a troca de afetos, o amar e ser amado, sentir-se respeitado, valorizado, faz toda a

F ELISNAIDE M ARTINS DOS S ANTOS

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diferença no processo das relações. Como bem comparou Piaget (apud OLIVEIRA, 2001), o afeto representa o combustível e a

inteli-gência representa o motor, nenhum dos dois funciona sozinho. Nesta concepção, o sujeito (aluno) é o condutor do motor, e este precisa de combustível (motivação) para que o motor (inteligência) funcione e haja uma boa aprendizagem.

O processo ensino-aprendizagem, do ponto de vista de Relvas (2007), está associado à construção de pontes entre a objetividade e a subjetividade, entre o ser que aprende e o ser que ensina. Paín (apud FERNANDÉZ, 1991) alerta:

A função da educação pode ser alienante ou libertadora, dependendo de como for usada, quer dizer, a educação como tal não é culpada de uma coisa ou de outra, mas a forma como se instrumente esta educação pode ter um efeito alienante ou libertador (PAÍN apud FERNANDÉZ, 1991, p. 82).

No ensino superior, a afetividade deve ser empregada de uma for-ma for-mais abrangente, referindo-se às relações interpessoais e ao comportamento próprio do ser humano. Ao professor cabe ser em-pático com os alunos para que vínculos afetivos sejam formados tendo como base as boas relações humanas. Para que haja uma boa interação dos sujeitos (professor-aluno) e para que haja um desenvolvimento maior na aprendizagem, é necessário mais que a preocupação na aplicação do conteúdo por parte do professor. O aprendizado tem que ser prazeroso, tanto para quem ensina como para quem recebe. Ele não pode ser imposto. Podemos citar como exemplo uma pessoa que é apaixonada pelo que faz, ela desempenha suas tarefas com prazer, de maneira descomedi-da, para ela o que importa é a satisfação de fazer o seu trabalho. De igual modo deve ser o professor em sala de aula.

6. C

ONSIDERAÇÕESFINAIS

O indivíduo, por ser geneticamente social, precisa de afeto para a sua sobrevivência. No processo de aprendizagem não poderia ser diferente, pois ser admirado, valorizado, ter alguém para

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCES

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alimentar o ego tornam-se fatores imprescindíveis para que os resultados positivos em sala de aula sejam alcançados.

É muito comum encontrar professores que ignoram a articulação afeto-cognitivo e instituições que, como transmissoras de conheci-mentos, muitas vezes não têm clareza de que, além da missão de transmitir conhecimentos, lidam com outros as pectos do desenvol-vimento humano ligados diretamente ao aspecto cognitivo. A afetividade e a inteligência estão intimamente ligadas e não po-dem de maneira nenhuma ser tratadas de forma separada. À medi-da que a inteligência vai aumentando, a afetivimedi-dade vai se racionali-zando e, assim, o ser humano vai se desenvolvendo.

Um professor no ensino superior, para fazer a diferença no processo de aprendizagem e formação do sujeito para a sociedade, necessita entender o que é a afetividade, para que serve, como funciona e entender o propósito das relações afetivas em sala de aula.

ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999 (Coleção Papirus Educação).

ARANTES, Valéria Amorim (org.). Afetivida-de na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2003 (Coleção na es-cola: alternativas teóricas e práticas). DANTAS, Heloysa. Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Wallon. São Paulo: Summus, 1992. FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisiona-da. Porto Alegre: Artmed, 1991.

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EFERÊNCIAS F ELISNAIDE M ARTINS DOS S ANTOS

Referências

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