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Influência do El Niño Oscilação Sul (ENSO) na época de semeadura da cultura do milho em diferentes localidades do Brasil

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Academic year: 2021

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Influência do El Niño Oscilação Sul (ENSO) na época de

semeadura da cultura do milho em diferentes localidades do

Brasil

Lucas F. de Souza1,3, Paulo C. Sentelhas2

1

Doutorando do PPG em Física do Ambiente Agrícola, USP/ESALQ, e-mail: luc.souza@usp.br; 2 Prof. Doutor, Departamento de Engenharia de Biossistemas, USP/ESALQ; 3Companhia Nacional de

Abastecimento (CONAB)

ABSTRACT: The aim of this work was to evaluate the El Niño Southern Oscillation

(ENSO) influences on sowing dates of two maize hybrids (very short season maturity and normal maturity), cultivated during summer season, for three Brazilian locations: Piracicaba, SP; Londrina, PR; and Passo Fundo, RS. For each location, it was used historical weather data of 31 years, which were categorized for each ENSO phase: El Niño, La Niña or Neutral. The impact of each ENSO phase on maize yield varied with sowing dates, however, did not show a trend of increase or decrease according to early or late sowing dates.

Palavras-chave: El Niño, La Niña, produtividade, DSSAT. 1- INTRODUÇÃO

O milho é uma das principais culturas produzidas no Brasil, tanto na safra de verão quanto na safrinha. Do total de milho produzido, a maior parte é proveniente da safra de verão, pois possui maior área plantada além de se obter maiores produtividades em relação à safrinha, com a maior parte da sua produção concentrada na região centro-sul do país. O clima é o principal fator responsável pela alta variabilidade da produtividade do milho e, consequentemente, de sua produção no país.

O El Niño Oscilação Sul (ENSO) é um fenômeno de grande escala que ocorre no Oceano Pacífico tropical, constituído de dois componentes, um oceânico e outro atmosférico. O ENSO envolve duas fases extremas: a fase quente (El Niño) e a fase fria (La Niña). Os anos que não se enquadram nas fases extremas são chamados de “Neutros”.

No Brasil, o sinal do ENSO se dá, principalmente, por anomalias da precipitação pluviométrica, uma vez que, na Região Sul, durante o período chuvoso, ocorre um aumento na precipitação nos anos de El Niño e uma diminuição desta durante anos de La Niña (Grimm et al., 2000). Outros autores mostraram que existe uma relação entre a variabilidade da produtividade e o fenômeno ENSO para o milho (Berlato et al., 2005; Soler et al., 2009).

Recentemente, técnicas de modelagem têm sido utilizadas para quantificar os impactos do clima nas culturas. O Decision Support System for Agrotechnology Transfer (DSSAT) é uma ferramenta capaz de simular várias culturas, entre elas o milho por meio do modelo CERES-Maize (Jones et al., 2003).

O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do El Niño e La Niña na produtividade de dois híbridos de milho na safra de verão, por meio da análise de três épocas de semeadura para três diferentes localidades brasileiras: Londrina, PR; Passo Fundo, RS; e Piracicaba, SP.

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2- MATERIAL E MÉTODOS

Dados Meteorológicos

Foram obtidos dados diários, para um período de 31 anos, de precipitação, temperatura mínima e máxima e radiação solar de três localidades: Londrina-PR (latitude 23° 15’ S, longitude 51° 09’ W); Passo Fundo-RS (latitude 28° 15’ S, 52° 24’ W); e Piracicaba-SP (latitude 22° 43’ S, 47° 25’ W), provenientes das bases de dados do IAPAR, EMBRAPA-Trigo e ESALQ/USP, respectivamente. Os dados meteorológicos diários da série histórica foram categorizados para cada fase do ENSO: El Niño, La Niña e Neutro.

Para a categorização de cada fase do ENSO, foram utilizados dados da Agência Meteorológica do Japão (Center for Ocean-Atmospheric Prediction Studies). Um total de 31 anos (1978-2008) foi analisado para as três localidades (20 para Neutro, 7 para El Niño e 4 para La Niña).

Simulação da Cultura

Para a simulação da cultura, foi utilizado o modelo CSM-CERES-Maize, do sistema DSSAT v. 4.0, empregando-se o mesmo tipo de solo (Latossolo) e as mesmas condições ótimas de manejo da cultura, para os híbridos AG9010 (híbrido ciclo muito curto) e DKB 333B (híbrido de ciclo normal), com os coeficientes genéticos obtidos a partir das calibrações feitas para o Brasil por Soler et al. (2007). Simulou-se a produtividade da cultura para três épocas de semeadura: Londrina-PR (30/09, 20/10 e 15/11); Passo Fundo-RS (15/08, 15/11 e 15/01); Piracicaba-SP (01/09, 15/10 e 30/12).

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise da Precipitação

A análise da precipitação mensal para cada fase do ENSO para as três localidades permitiu verificar que para Piracicaba a precipitação média foi maior para os meses de Outubro, Dezembro e Fevereiro durante os anos de La Niña. Para o mês de Setembro, a precipitação média foi maior para os anos Neutros em relação aos anos de ENSO. Para os meses de Janeiro e Março, a precipitação média foi maior para os anos de El Niño em relação aos de La Niña e Neutros (Figura 1).

Para Passo Fundo, a precipitação média foi maior para os anos de El Niño nos meses de Outubro e Novembro. Além disso, as menores precipitações neste período ocorreram nos eventos de La Niña (Figura 1), estando de acordo com Fontana e Berlato (1997). No mês de Setembro, a precipitação média foi maior nos eventos de La Niña, exatamente o oposto encontrado por Berlato et al. (2005) para várias localidades do RS.

Em Londrina, observou-se uma distribuição heterogênea da precipitação no período Setembro-Novembro, com precipitação média maior para eventos de El Niño em Novembro e para anos Neutros em Setembro e Outubro (Figura 1).

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Mês

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

P re c ip it a ç ã o ( m m ) 0 100 200 300 400 500 El Nino Neutro La Nina Piracicaba Mês

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

P re c ip it a ç ã o ( m m ) 0 100 200 300 400 500 El Nino Neutro La Nina Londrina Mês

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

P re ci p it a çã o ( m m ) 0 100 200 300 400 500 El Nino Neutro La Nina Passo Fundo

Figura 1. Precipitação média e desvio padrão para cada fase do ENSO, para Piracicaba, SP, Londrina, PR e Passo Fundo, RS.

Efeito do ENSO na Época de Semeadura

As simulações mostraram que para todas as localidades e para os dois híbridos houve variação da produtividade entre as épocas de semeadura, porém, não houve uma tendência de aumento ou diminuição em função do atraso ou adiantamento da semeadura (Figuras 2, 3 e 4). Baseando-se em toda a série histórica de dados meteorológicos, a maior produtividade média simulada ocorreu em Passo Fundo, com 6795 kg ha-1 para o híbrido DKB 333B para a época de semeadura de 15/01 e com 5846 kg ha-1 para o híbrido AG 9010 para a época de semeadura de 15/08. As menores produtividades médias simuladas ocorreram em 01/09 em Piracicaba, para os híbridos DKB 333B e AG 9010, com 4870 kg ha-1 e 4174 kg ha-1, respectivamente.

Data de Semeadura 01-Set 15-Out 30-Dez

P ro d u ti v id a d e ( k g h a -1) 0 2000 4000 6000 8000 10000 El Niño Neutro La Niña Todos os Anos AG 9010 Data de Semeadura 01-Set 15-Out 30-Dez

P ro d u ti v id a d e ( k g h a -1) 0 2000 4000 6000 8000 10000 El Niño Neutro La Niña Todos os Anos DKB 333B

Figura 2. Média e desvio padrão da produtividade simulada para os híbridos de milho AG 9010 e DKB 333B para três épocas de semeadura em Piracicaba, SP, para cada fase do ENSO e para todos os anos da série histórica de dados meteorológicos.

Avaliando-se a influência do ENSO nas épocas de semeadura, observou-se que em Piracicaba, para ambos os híbridos, as maiores produtividades médias ocorreram em 15/10 nos anos de El Niño. Além disso, as produtividades nesta época de semeadura

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apresentaram as menores variações (Figura 2). Nota-se também, elevadas produtividades médias nos anos de La Niña em 30/12, sendo esta a maior produtividade obtida entre as três épocas de semeadura, comparada com as demais fases do ENSO e à todos os anos para o híbrido de ciclo médio. Isso pode ser explicado pela elevada precipitação em anos de La Niña nos meses seguintes a Dezembro (Figura 1), justamente na época mais crítica para a cultura em relação ao fornecimento de água (florescimento e enchimento de grãos).

Data de Semeadura 15-Ago 15-Nov 15-Jan

P ro d u ti v id a d e ( k g h a -1) 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 El Niño Neutro La Niña Todos os Anos AG 9010 Data de Semeadura 15-Ago 15-Nov 15-Jan

P ro d u ti v id a d e ( k g h a -1) 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 El Niño Neutro La Niña Todos os Anos DKB 333B

Figura 3. Média e desvio padrão da produtividade simulada para os híbridos de milho AG 9010 e DKB 333B para três épocas de semeadura em Passo Fundo, RS, para cada fase do ENSO e para todos os anos da série histórica de dados meteorológicos.

Para Passo Fundo, em anos de El Niño, a maior produtividade ocorreu para a data de semeadura de 15/11 para ambos os híbridos. Observou-se também, para o híbrido AG 9010, uma maior produtividade média em anos Neutros para a data de 15/01 Para a data de 15/08, se destacou a produtividade média obtida em anos de La Niña (Figura 3). A baixa produtividade média ocorrida para os anos Neutros em 15/11, em ambos os híbridos, se deve às baixas produtividades ocorridas nos anos das safras de 1981/82 e 1990/91 (dados não apresentados), ocasionadas por baixas precipitações ocorridas nos meses que coincidiram com o período mais crítico da cultura.

Para o híbrido de ciclo médio, não foi observado efeito negativo das fases do ENSO na produtividade para a data de 15/08 em relação aos anos Neutros e à produtividade média obtida no total de anos. Este fato contrasta com o resultado obtido por Berlato et al. (2005), que observaram redução da produtividade do milho semeado em agosto nos anos de eventos de La Niña.

Data de Semeadura 30-Set 20-Out 15-Nov

P ro d u ti v id a d e ( k g h a -1) 0 2000 4000 6000 8000 10000 El Niño Neutro La Niña Todos os Anos AG 9010 Data de Semeadura 30-Set 20-Out 15-Nov

P ro d u ti v id a d e ( k g h a -1) 0 2000 4000 6000 8000 10000 El Niño Neutro La Niña Todos os Anos DKB 333B

Figura 4. Média e desvio padrão da produtividade simulada para os híbridos de milho AG 9010 e DKB 333B para três épocas de semeadura em Londrina, PR, para cada fase do ENSO e para todos os anos da série histórica de dados meteorológicos.

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Em Londrina, para o híbrido de ciclo curto, a produtividade média foi ligeiramente maior em anos de La Niña em relação às demais fases do ENSO e para todos os anos na data de semeadura de 15/11. Para as demais datas, observou-se uma diminuição da produtividade média em anos de La Niña, apresentando uma queda acentuada para 30/09 (Figura 4). Pode-se explicar este fato, observando a precipitação média para anos de La Niña nos meses seguintes a Setembro em Londrina (Figura 1), onde ocorreu uma baixa precipitação nos meses de Novembro e Dezembro, período que coincidiu com a fase reprodutiva da cultura.

O híbrido DKB 333B semeado em Novembro apresentou maior produtividade em anos de La Niña e semelhantemente ao híbrido AG 9010, a produtividade diminuiu em anos que ocorreram o evento La Niña para as demais datas de semeadura. Não foram observadas grandes diferenças entre as produtividades obtidas em anos de El Niño e anos Neutros e todos os anos para as datas de 30/09 e 20/10 (Figura 4).

4- CONCLUSÕES

Em Piracicaba, para os dois híbridos de milho, a época de semeadura mais adequada para anos de ocorrência de La Niña foi Dezembro. Em anos de ocorrência de El Niño, o mês de Outubro se mostrou mais favorável para a semeadura. Para Passo Fundo, a época mais adequada para a semeadura do híbrido de ciclo médio, em anos de ocorrência de El Niño e La Niña foi o mês de Novembro. Para o híbrido de ciclo curto, a semeadura realizada no mês de Agosto se mostrou mais adequada em anos de ocorrência de La Niña e para anos de ocorrência de El Niño, a melhor época foi Novembro. Para Londrina, o mês de Novembro foi mais favorável à semeadura dos dois híbridos em anos de La Niña. Em anos de El Niño, a melhor época foi o mês de Outubro.

5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGAMASCHI, H.; WHEELER, T.R.; CHALLINOR, A.J.; COMIRAN, F.; HECKLER, B.M.M. Maize yield and rainfall on different spatial and temporal scales in Southern Brazil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 42, n. 5, p. 603-613. 2007.

BERLATO, M.A.; FARENZENA, H.; FONTANA, D.C. Associação entre El Niño

Oscilação Sul e a produtividade do milho no Estado do Rio Grande do Sul. Pesquisa

Agropecuária Brasileira, v. 40, n. 5, p. 423-432. 2005.

FONTANA, D.C.; BERLATO, M.A. Influência do El Niño Oscilação Sul (ENOS) sobre a precipitação do Estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de

Agrometeorologia, v. 5, p. 127-132. 1997.

JONES, J.W.; HOOGENBOOM G.; PORTER, C.H.; BOOTE, K.J.; BATCHELOR, W.D.; HUNT, L.A.; WILKENS, P.W.; SINGH, U.; GIJSMAN, A.J.; RITCHIE, J.T. DSSAT cropping system model. European Journal of Agronomy. v. 18, p. 235-265. 2003.

SOLER, C.M.T.; SENTELHAS, P.C.; HOOGENBOON, G. Application of the forecasting for maize grown off-season in a subtropical environment. European

Journal of Agronomy, v. 27, p. 165-177. 2007.

SOLER, C.M.T.; SENTELHAS, P.C.; HOOGENBOON, G. The impact of El Niño Southern Oscillation phases on off-season maize yield for a subtropical region of Brazil.

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