REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL Professor: Lucas Sampaio Muniz da Cunha
Normas gerais e alterações legislativas
Neste material, trataremos sobre o Regime Próprio de
Previdência Social (RPPS), assunto essencial para as provas de Advocacia Pública. Para o entendimento
completo do tema, deve o aluno dominar o art. 40 da
Constituição Federal, as Emendas Constitucionais nº 20/98 e 41/03, além das leis 9717/98 e 10887/04.
Para um entendimento geral sobre a matéria, é essencial
fazermos um escorço histórico sobre o regime
previdenciário e quais as principais alterações trazidas
pelas Emendas Constitucionais supracitadas.
Inicialmente, quando da promulgação da Constituição Federal de 1988, a aposentadoria era tida como
continuidade da vida funcional do servidor. Ou seja, o
servidor, durante o tempo em que prestava serviço público, ia progredindo na carreira até alcançar a aposentadoria.
Não se exigia do servidor qualquer tipo de contribuição
ao regime de previdência e se permitia, até mesmo, o
aumento da quantia percebida pelo servidor quando
passasse à inatividade. Ou seja, era possível que, após a
aposentadoria, o inativo auferisse mais renda do que
quando estava em atividade.
Sobreveio, então, a Emenda Constitucional 20/98, conhecida como “Reforma Administrativa” que teve
Gerencial no Brasil e equilibrar as contas públicas no que tange à previdência dos servidores públicos.
Com esta emenda, instituiu-se o princípio contributivo. O
servidor público deve, agora, contribuir financeiramente
para que possa fazer jus aos benefícios. Se antes o
critério analisado para a concessão de um benefício era o
tempo de SERVIÇO, com a EC 20/98 passou-se a analisar
o tempo de CONTRIBUIÇÃO.
Ademais, foi atrelado ao tempo de contribuição o requisito da idade mínima. Hoje, então, para gozar de um
benefício, o servidor deve ter contribuído
financeiramente, atender ao requisito temporal mínimo
de contribuição e ainda possui a idade mínima
constitucionalmente previstos. Todos estes pontos serão estudados mais à frente.
Neste momento, o importante é perceber a mudança de
paradigma trazida pela EC 20/98: antes, o benefício era
concedido por tempo de serviço, como continuidade da vida funcional do servidor, mas hoje há uma autonomia
entre o vínculo funcional e o vínculo previdenciário,
sendo obrigado o servidor a contribuir com o sistema de
previdência.
Ademais, a EC 20/98 inseriu o §2º no art. 40 da CF,
vedando a chamada “aposentadoria com proventos melhorados”. Esta era uma prática muito comum
antigamente: a aposentadoria era concedida
conjuntamente com uma promoção, de modo que o
inativo recebia mais do que quando estava em atividade. Atualmente, instituiu-se um teto aos proventos de
aposentadoria ou pensão: a própria remuneração do
servidor quando em atividade.
Ainda que tenha trazido algumas mudanças, a EC 20/98
manteve institutos positivos para os servidores públicos,
como a integralidade e a paridade. É fundamental que o
aluno compreenda bem os conceitos destes institutos,
a base de cálculo dos proventos de aposentadoria é a remuneração do servidor no cargo efetivo.
Compreenda-se que integralidade não significa que o
servidor receberá, quando na inatividade, exatamente a
mesma quantia que recebia quando estava ativo.
Significa que ele receberá as mesmas verbas
REMUNERATÓRIAS, verbas que componham sua
remuneração.
Se, quando da aposentação, o servidor estava recebendo
verbas indenizatórias temporárias (como diárias para viagem, por exemplo), estas não comporão seus proventos de aposentadoria. Ou seja, pela integralidade,
se o servidor recebia X reais a título de REMUNERAÇÃO
quando estava na ativa, seus proventos de aposentadoria
serão dos mesmos X reais. Por outro lado, se o servidor
recebia X a título de remuneração + Y a título de
indenização, a parcela Y não será incorporada, de modo
que seus proventos corresponderão a X.
Paridade- a regra da paridade tem como efeito a extensão aos servidores inativos de todas as verbas de CARÁTER GERAL concedidas aos servidores ativos.
Estende-se aos servidores inativos a gratificação
extensiva, em caráter genérico, a todos os servidores em
atividade. Ou seja, havendo aumento de remuneração concedido aos servidores ativos, os aposentados também receberão o aumento.
Observe-se que a paridade apenas tem aplicação quanto
às verbas de caráter geral, não alcançando verbas concedidas individualmente aos servidores ativos.
MUITA ATENÇÃO NESTE PONTO: Paridade e Verbas pro
labore faciendo
O que são as verbas pro labore faciendo? São verbas pagas ao servidor em razão de alguma natureza
específica que circunde a prestação do serviço, sendo
devidas única e exclusivamente pela prestação do
adicional de insalubridade. Ora, tal adicional não possui caráter geral, sendo devido apenas aos servidores que desenvolvam suas atividades em condições gravosas. Desta forma, se há o aumento no adicional de insalubridade pago aos servidores da ativa, tal aumento não será extensível aos inativos, mesmo que gozem da garantia da paridade, já que esta garantia não abrange as verbas pro labore faciendo.
Por fim, ressalte-se que o STF entende que é inviável
estender a servidores inativos as vantagens pecuniárias
decorrentes de reposicionamento, na carreira, de
servidores ativos (RE 522570 AgR/RJ).
A paridade e a integralidade apenas foram extintas com
a EC 41/2003, que trouxe novos critérios para cálculo e
atualização de benefícios. O cálculo dos proventos passou a ser regido pelo §3º, do art. 40, da CF, regulamentado pelo art. 1º da Lei 10887/04.
Já a atualização dos benefícios segue o §8º do art. 40, da
CF. Observe-se: Cálculo dos Proventos: Se,
anteriormente, os proventos levavam em consideração a última remuneração percebida pelo servidor, atualmente
os proventos são calculados considerando a média das
remunerações utilizadas como base para a incidência das contribuições previdenciárias (art. 40, §3º, da CF).
O art. 1º da Lei 10887/04 regulamente melhor o
dispositivo: segundo o dispositivo, será utilizada a média
aritmética simples das maiores remunerações do
servidor, correspondente a 80% de todo o período contributivo.
Exemplo: Suponha que todo o período contributivo seja
10 anos. Durante os dois primeiros anos, o servidor
recebeu mil reais por mês (à época do pagamento). Nos
7 anos seguintes, o servidor auferiu 2 mil reais por mês
(também com base em valores vigentes à época do
pagamento). No último ano, percebeu, mensalmente, 3
Os dois anos recebendo mil reais serão simplesmente desconsiderados para fim de cálculo, já que apenas se
utilizarão as maiores contribuições correspondentes a
80% do período contributivo (os dois anos são
justamente os 20% das menores remunerações).
Atualização dos proventos: Se antes os proventos eram
atualizados da mesma maneira que a remuneração dos
servidores ativos por conta da paridade, atualmente o
§8º do art. 40, da CF, assegura que os benefícios serão reajustados para manter-lhes o valor real.
Varia-se, apenas, o valor nominal do benefício, mantendo
íntegro o valor real. Isto é bem menos vantajoso que a
paridade, a qual implicava bons aumentos no valor real
do benefício.
Como se vê, as EC 20/98 e 41/03 representaram profundas mudanças no sistema previdenciário público brasileiro. Obviamente, tais mudanças devem respeito aos direitos adquiridos, por força do art. 5º, XXXVI, da CF.
O aluno pode ter a seguinte dúvida: quando surge o
direito adquirido no campo previdenciário? A resposta é
simples: quando estão adimplidos todos os requisitos para a fruição do benefício.
Você pode se perguntar: então, professor, não basta que
o servidor tenha ingressado antes das Emendas
Constitucionais para que tenha direito à aposentadoria
conforme as regras anteriores? Isso mesmo! Quando o
servidor ingressa no serviço público, ele tem uma mera EXPECTATIVA DE DIREITO de gozar dos benefícios previdenciários.
O direito adquirido só surge com o adimplemento de
todas as condições, momento em que o direito ao benefício se incorpora ao patrimônio jurídico do servidor. Quem tinha direito adquirido, está garantido, não sofreu
qualquer mudança com a superveniência das Emendas
direito (aqueles que já haviam ingressado no serviço público mas não tinham atendido todos os requisitos para gozo dos benefícios)?
Nosso ordenamento constitucional protege, apenas, o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada. As expectativas de direito não são
constitucionalmente tuteladas. Ocorre, no entanto, que sabe-se o impacto na vida daqueles servidores que
passaram anos se planejando para o gozo de
determinado benefício com base nas regras anteriores.
Luís Roberto Barroso chega a falar no “direito a uma
transição razoável”.
Justamente por isso, o Constituinte Reformador, ao estabelecer as reformas, criou regras para tutelar os interesses daqueles que possuíam expectativas de direito. Passa-se à análise das principais destas regras.
Primeiramente, observe-se o art. 4º da EC 20/98: Art. 4º
- Observado o disposto no art. 40, § 10, da Constituição
Federal,o tempo de serviço considerado pela legislação
vigente para efeito de aposentadoria, cumprido até que a
lei discipline a matéria, será contado como tempo de
contribuição.
Como se explanou anteriormente, quando do advento da
EC 20/98, a aposentadoria era vista como continuidade
da vida funcional do servidor, que não contribuía para o
gozo do benefício. Com a EC 20/98, instituiu-se o regime
contributivo. Suponha-se que o servidor tenha
ingressado no serviço público em 1993.
O que ocorre com esses 5 anos (entre 1993 e 1998) em
que o servidor trabalhou imaginando que gozaria de um
benefício futuro, já que agora se exige a contribuição do
servidor? Tal tempo simplesmente não seria contado? Teria o servidor de pagar todas as contribuições
retroativas, despendendo uma fortuna? O art. 4º da EC
20/98 trouxe uma solução razoável para o problema:
tudo aquilo que, antes da emenda, era considerado para fins de aposentadoria, será considerado como tempo de
contribuição. Aqueles 5 anos do servidor hipotético seriam, então, considerados tempo de contribuição, mesmo que ele não tenha contribuído financeiramente para o sistema previdenciário.
Outra regra de transição importante trazida pela EC 20/98 está em seu art. 11. Para entendê-la, vamos analisar as hipóteses de acumulação permitida de cargos e proventos na CF.
As hipóteses de acumulação de cargos (quando o servidor está em atividade em dois cargos públicos distintos), estão previstas no art. 37, XVI, da CF. Observe-se:
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos
públicos, exceto, quando houver compatibilidade de
horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998) a) a de dois cargos de professor; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) b) a de
um cargo de professor com outro técnico ou
científico;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998) c) a de dois cargos ou empregos privativos
de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 34, de 2001).
É possível, também, a cumulação de proventos. Ou seja,
é possível que uma pessoa possua duas aposentadorias pagas pelo Regime Próprio de Previdência Social. Mas
isto só é possível em uma hipótese: quando os cargos, na
atividade, foram cumuláveis. É o que dispõe o art. 40,
§6º, da CF:
§ 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é
vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à
A regra, portanto, é que apenas será possível perceber
uma aposentadoria à conta do RPPS. A cumulação de
aposentadorias apenas será possível se os cargos, na atividade, forem cumuláveis.
Exemplo: João era professor da USP e da UFRJ (dois
cargos de professor são cumuláveis). Cumpridos todos os requisitos, poderá se aposentar pelos dois vínculos, acumulando os proventos.
Por fim, é possível, ainda, que o servidor cumule os
proventos de aposentadoria de cargo público com
remuneração de outro cargo público. Ou seja, é possível
que determinada pessoa seja inativa em relação a um
cargo e ativa em relação a outra, podendo cumular os
ganhos financeiros. Mas as hipóteses são restritas.
São elas: -Provento de aposentadoria + cargo
acumulável: É possível que o servidor tenha dois cargos
de professores, por exemplo. Aposentou-se em um, mas continuou na ativa em outro. Assim, os ganhos poderão ser cumulados.
- Provento de aposentadoria + mandato eletivo:
aposentado pode se candidatar a cargo eletivo. Se eleito,
continuará percebendo os proventos de aposentadoria e
ainda receberá a remuneração do mandato.
-Provento de aposentadoria + cargo em comissão: o
servidor está aposentado em relação ao cargo efetivo
que ocupara anteriormente e volta a integrar o quadro
da administração pública como ocupante de cargo em
comissão. Neste caso, os ganhos também serão
cumulados.
Esta regra está descrita no art. 37, §10º, da CF, inserido pela EC 20/98. Observe-se o dispositivo:
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de
aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e
142 com a remuneração de cargo, emprego ou função
desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
Anteriormente, não havia vedação à cumulação de proventos com remuneração em atividade, ainda que os
cargos não fossem cumuláveis. Como fica a situação
daqueles aposentados que, antes da Emenda
Constitucional 20/98, exercendo um direito que não lhes era vedado, reingressaram, por concurso público, na administração pública?
O art. 11 da EC 20/98 traz a resposta. Segundo o texto
legal, será possível a continuidade da cumulação dos
proventos com a remuneração, ainda que os cargos não
sejam cumuláveis na atividade, desde que o reingresso
na Administração pública tenha ocorrido pela via do
concurso público e anterior à Emenda Constitucional.
Colaciona-se o dispositivo:
Art. 11 - A vedação prevista no art. 37, § 10, da
Constituição Federal,não se aplica aos membros de poder e aos inativos, servidores e militares, que, até a publicação desta Emenda, tenham ingressado novamente no serviço público por concurso público de provas ou de
provas e títulos, e pelas demais formas previstas na
Constituição Federal, sendo-lhes proibida a percepção de
mais de uma aposentadoria pelo regime de previdência a
que se refere o art. 40 da Constituição Federal,
aplicando-se-lhes, em qualquer hipótese, o limite de que
trata o § 11 deste mesmo artigo.
Um exemplo tornará mais clara a questão. Imagine que
Maria é Promotora de Justiça aposentada, tendo se
aposentado em 1996. Em 1997, Maria decide fazer concurso para Juiz Federal, logrando êxito na aprovação. Ainda em 1997, toma posse na magistratura.
Poderá cumular a remuneração com os proventos? Sim,
E após a Emenda, ela ainda poderá perceber proventos e
remuneração? Sim. A cumulação ainda será lícita, por
causa da regra transitória acima estudada.
E se, passados vários anos, ela quiser se aposentar como
Juíza, poderá cumular os proventos de Promotora e
Juíza? Neste caso, não. Observe-se a proibição da parte
final da regra transitória (sendo-lhes proibida a
percepção de mais de uma aposentadoria pelo regime de
previdência a que se refere o art. 40 da Constituição
Federal).
Recomendo, ainda, a leitura dos artigos 2º e 6º da
Emenda Constitucional 41/2003, que trazem requisitos e
critérios diferenciados para a concessão de
aposentadoria àqueles que ingressaram no serviço público antes da alteração das regras constitucionais. Passemos, agora, ao estudo do art. 40 da Constituição
Federal. Primeiramente, observa-se que o RPPS está
restrito aos servidores ocupantes de cargos EFETIVOS da Administração Pública Direta (União, Estados, DF e Municípios), Autárquica e Fundacional.
Com isso, estão excluídos do RPPS os ocupantes
exclusivamente de cargo em comissão e os empregados
públicos (regidos pela CLT). Os ocupantes
exclusivamente de cargo em comissão e o empregado
público serão abrangidos pelo Regime Geral de
Previdência Social (INSS - RGPS).
Observe-se que estão excluídos do RPPS aqueles que
ocupem, EXCLUSIVAMENTE, cargo em comissão. Se o
servidor é titular de cargo efetivo e também exerce um
cargo em comissão, terá direito ao RPPS.
Outra informação relevante que nos traz o caput do art.
40, da CF, é que o RPPS tem caráter contributivo e
solidário, havendo contribuição do ENTE PÚBLICO, dos servidores ATIVOS, dos INATIVOS e dos PENSIONISTAS.
O art. 4º da Lei 10887/04 dispõe que o servidor ativo de
qualquer dos Poderes da União, incluídas suas
autarquias e fundações, para a manutenção do
respectivo regime próprio de previdência social, será de 11% (onze por cento).
Este dispositivo vale para os servidores federais. Porém, possui uma importante repercussão no âmbito dos
Estados e Municípios. Isto porque o o art. 149, §1º, da
CF, dispõe que Estados, o Distrito Federal e os Municípios
instituirão contribuição dos seus servidores para o
custeio do RPPS, cuja alíquota não será inferior à da
contribuição dos servidores titulares de cargos efetivos
da União. Ou seja, os Estados e Municípios podem até
mesmo fixar alíquotas superiores a 11%, mas não inferiores.
INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR: É possível que Estados
ou Municípios instituam contribuição (espécie do gênero tributo) para o custeio de serviços hospitalares? A
resposta é negativa. No âmbito das contribuições, os
Estados apenas podem instituí-las para custear a previdência. Os Municípios apenas podem instituí-las
para o custeio da previdência e da iluminação pública
(COSIP).
Assim, falta competência constitucional para instituir contribuições compulsórias (natureza tributária) fora das
hipóteses descritas, não podendo haver a confusão entre
a Saúde e a Previdência Social.
O Ente público contribuirá nos termos do art. 2º da Lei
9717, segundo o qual a contribuição da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas
suas autarquias e fundações, aos regimes próprios de
previdência social a que estejam vinculados seus
servidores não poderá ser inferior ao valor da
contribuição do servidor ativo, nem superior ao dobro desta contribuição.
Inativos e Pensionistas, por sua vez, também contribuem
nos termos do §18 do art. 40 da CF. Mas não é em qualquer hipótese que deverá haver esta contribuição.
Aposentados e pensionistas do RPPS apenas contribuirão
quando seus benefícios superarem o valor do teto do
RGPS.
E mais: contribuirão com base na mesma alíquota que
incide sobre os servidores ativos. E se o aposentado ou
pensionista for portador de doença incapacitante? Deverá contribuir mesmo assim, perdendo parte de sua remuneração? Neste caso, há um alargamento da base
da imunidade: apenas haverá contribuição se o
aposentado ou pensionista receber acima do DOBRO do teto do RGPS.
BENEFÍCIOS EM ESPÉCIE
Falaremos, agora, sobre os benefícios a que os
servidores públicos possuem direito. O primeiro deles é a
aposentadoria, que pode ser por invalidez, compulsória ou voluntária.
A aposentadoria por invalidez está prevista no art. 40,
§1º, I, da CF e existirá no caso em que for constatada a
incapacidade laborativa total do servidor. Via de regra,
os proventos serão proporcionais ao tempo de
contribuição. O texto constitucional ressalva apenas as
hipóteses de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável.
Em tais casos, os proventos serão integrais. Como não há lei específica descrevendo o rol das doenças que autorizam a aposentação com proventos integrais, aplica-se o rol TAXATIVO do art. 151 da Lei 8213/91.
Tal aplicação é baseada no art. 40, §12, da CF, que prevê
que o regime de previdência dos servidores públicos
titulares de cargo efetivo observará, no que couber, os
requisitos e critérios fixados para o regime geral de
Outra modalidade de aposentadoria é a compulsória, que ocorre aos 70 ou aos 75 anos, na forma de lei COMPLEMENTAR. Tal lei já foi editada, de modo que,
atualmente, a aposentadoria compulsória ocorre aos 75
anos de idade.
Com o adimplemento de tal idade, o servidor passa à
inatividade, com proventos PROPORCIONAIS ao tempo
de contribuição. Aqui é fácil entender o motivo de serem
proporcionais os proventos: imagine que uma pessoa
ingressa no serviço público aos 72 anos de idade e tem
de se aposentar aos 75. Ela contribuiu muito pouco para o sistema de previdência, de modo que não poderia ser agraciada com proventos integrais.
Bônus: (2ª fase PGE-AP adaptado)
Quais são os benefícios que os RPPS podem oferecer?
Inicialmente, vejamos o que dispõe o Art. 5º, da Lei
9.717/98: "Os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, dos militares dos
Estados e do Distrito Federal não poderão conceder
benefícios distintos dos previstos no Regime Geral de
Previdência Social, de que trata a Lei nº 8.213, de 24 de
julho de 1991, salvo disposição em contrário da Constituição Federal".
Desta maneira, o RPPS pode fornecer os seguintes benefícios: aposentadoria por invalidez; compulsória; por
idade e tempo de contribuição; voluntária por idade;
especial; auxílio-doença; salário-família;
salário-maternidade; pensão por morte e
auxílio-reclusão.
Pois bem, na segunda fase da PGE-AP, foi questionado
sobre a constitucionalidade de benefício denominado
"auxílio-matrimônio". Sabendo do teor acima, ficaria
fácil responder que tal benefício é inconstitucional por
vedação legal e constitucional, no sentido de que o RPPS
não pode conceder benefícios distintos do RGPS (Art. 40, §12º, CRFB).
Encerrando as aposentadorias, temos a aposentadoria voluntária, que pode ser com proventos integrais ou
proporcionais. Para ambas, devem-se atender os
seguintes requisitos: 10 (dez) anos de efetivo exercício no SERVIÇO PÚBLICO e 5 (cinco) anos no CARGO EFETIVO em que se dará a aposentadoria.
Observem-se os requisitos específicos das
aposentadorias voluntárias, trazidas no art. 40, §1º, III, da CF:
Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado
regime de previdência de caráter contributivo e solidário,
mediante contribuição do respectivo ente público, dos
servidores ativos e inativos e dos pensionistas,
observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial e o disposto neste artigo.
II - voluntariamente, desde que cumprido tempo mínimo
de dez anos de efetivo exercício no serviço público e
cinco anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de
contribuição, se homem, e cinqüenta e cinco anos de
idade e trinta de contribuição, se mulher; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta
anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
ATENÇÃO: NÃO confunda proventos integrais com
integralidade. A integralidade, conforme exposto
anteriormente, foi extinta com a EC 41/03. Proventos
integrais significa que, após os cálculos do valor do benefício, utilizando-se aquela média das maiores
remunerações correspondentes a 80% do período
contributivo, não será aplicada qualquer
proporcionalidade.
PONTO IMPORTANTE: Adimplidos os requisitos para a
aposentadoria voluntária COM PROVENTOS INTEGRAIS
(aquela que combina os critérios de idade mínima e
tempo de contribuição), e enquanto não alcançada a
idade para aposentadoria compulsória, o servidor que
optar ficar em atividade fará jus a um abono de permanência.
E como funciona este abono de permanência? O servidor
fará jus a uma verba equivalente à quantia que paga a
título de contribuição previdenciária. Neste momento,
você se pergunta: e por que não apenas isentar o
servidor da contribuição previdenciária?
A resposta é a seguinte: o abono de permanência foi
criado para manter a sustentabilidade dos entes
previdenciários. O servidor, então, repassa a
contribuição previdenciária para o ente de previdência e
o ente estatal ao qual o servidor está vinculado paga-lhe
a mesma quantia.
Há 3 pessoas envolvidas nesta relação. Apenas isentar o
servidor da contribuição previdenciária geraria perda de receita por parte do ente da previdência.
PEGADINHA: É comum, em provas subjetivas
principalmente, a questão afirmar que o servidor, que
teve sua aposentadoria negada, ajuizou ação em face da
administração direta para ter garantido seu direito à
aposentadoria. PRESTE ATENÇÃO: os entes
previdenciários são pessoas jurídicas autônomas,
normalmente autarquias, de modo que você, como
advogado público, deverá arguir a ilegitimidade passiva
da administração direta.
O outro benefício previdenciário gerado por servidor público é a pensão por morte, benefício pago aos dependentes do servidor. Quanto a este benefício,
interessa-nos saber a redação do art. 40, §7º, da CF. Colaciona-se o dispositivo:
§ 7º Lei disporá sobre a concessão do benefício de
pensão por morte, que será igual: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
I - ao valor da totalidade dos proventos do servidor
falecido, até o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que
trata o art. 201, acrescido de setenta por cento da
parcela excedente a este limite, caso aposentado à data
do óbito; ou (Incluído pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003)
II - ao valor da totalidade da remuneração do servidor
no cargo efetivo em que se deu o falecimento, até o
limite máximo estabelecido para os benefícios do regime
geral de previdência social de que trata o art. 201,
acrescido de setenta por cento da parcela excedente a
este limite, caso em atividade na data do óbito.
Um exemplo aclarará a entruncada redação do
dispositivo. Para isto, considere como teto do RGPS o
valo de R$ 5.531,31. Imagine que João é servidor público
da ativa e aufere R$ 10.000,00 mensais. João vem a
falecer, deixando apenas um filho. Quanto receberá este filho?
Conforme o dispositivo supracitado, o benefício
corresponderá à remuneração do servidor, limitada ao
teto do RGPS, mais um acréscimo. O teto é de R$
5.531,31. O acréscimo é calculado da seguinte forma:
Remuneração (10.000) – Teto do RGPS ( R$ 5.531,31) =
R$ 4468,69 70% (setenta por cento) de R$ 4468,69 = R$
3128,08 R$ 4468,69+R$ 3128,08= R$ 7596,773. Este será o valor da pensão que o filho de João perceberá. TETO CONSTITUCIONAL
Analisar-se-á, agora, as nuances da aplicação do teto
percebidos por servidor público. Inicialmente,
ressalta-se que o valor do benefício, individualmente
considerado, está sujeito ao teto constitucional, por disposição expressa do art. 37, XI, da CF. Não há polêmica quanto a este ponto.
Dificuldade surge, no entanto, quando existe a
cumulação de proventos ou a cumulação de proventos
com remuneração. Pode a SOMA dos valores percebidos
ultrapassar o teto constitucional? A questão é polêmica.
Considerando-se a literalidade do art. 40, §11º, da CF, a
soma estaria sujeita ao teto constitucional, mas este
entendimento NÃO é aplicado pelos tribunais pátrios.
Observe-se, primeiramente, o dispositivo:
§ 11 - Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma
total dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumulação de cargos ou empregos
públicos, bem como de outras atividades sujeitas a
contribuição para o regime geral de previdência social, e
ao montante resultante da adição de proventos de inatividade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Constituição, cargo em comissão declarado
em lei de livre nomeação e exoneração, e de cargo
eletivo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98)
Ocorre que o STF tem firme jurisprudência no sentido de
que o teto constitucional deve ser aplicado considerando,
apenas, as verbas percebidas individualmente, e não em
sua soma. O STF fundamenta sua decisão em dois argumentos principais: ausência de enriquecimento ilícito pelo Estado e valorização do trabalho.
PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR DO SERVIDOR PÚBLICO
Por fim, falaremos sobre a previdência complementar do
servidor público e as implicações práticas de sua criação.
O art. 40, §14, da CF dispõe que o ente público pode
fixar, como valor máximo dos benefícios a serem
concedidos por seus respectivos regimes próprios, o teto
do RGPS. Ou seja, pode a União estabelecer que o
R$ 5.531,31 (teto do RGPS em 2018). Para isso, no entanto, deve o ente público criar um regime de previdência complementar.
A previdência complementar é de adesão FACULTATIVA
por parte do servidor. O regime de previdência
complementar será instituído por LEI de iniciativa do PODER EXECUTIVO, sendo criada uma entidade fechada (apenas pessoas determinadas, no caso os servidores
públicos, poderão participar) de previdência
complementar.
O plano de benefício oferecerá, apenas, benefício na modalidade CONTRIBUIÇÃO DEFINIDA. Isto significa que foi adotado o REGIME DE CAPITALIZAÇÃO para a
previdência complementar. Ou seja, o servidor contribui
com uma quantia predeterminada, formando um
montante que será apenas por ele utilizado futuramente. É diferente do regime de repartição, que caracteriza
tanto o RGPS quanto o RPPS no Brasil, que tem como
marca própria a necessidade de os que, atualmente,
estão na ativa, contribuírem para o pagamento dos que
gozam do benefício, na expectativa de que, futuramente, os servidores (RPPS) ou empregados (RGPS) ativos custeiem seu benefício.
A previdência complementar pública receberá aportes tanto do servidor quanto do ente público, mas apenas na qualidade de ENTE PATROCINADOR. Qualquer outro aporte pelo ente público é expressamente vedado.
Atente-se para o fato de que, neste caso, a contribuição
do ente público não excederá, em nenhuma hipótese, a