INSTITUTO DE MATEMÁTICA, ESTATÍSTICA E COMPUTAÇÃO CIENTÍFICA
Departamento de Matemática
Dissertação de Mestrado
Métodos de Interpolação Real e Espaços de
Sobolev e Besov sobre a Esfera S
dpor
Andrielber da Silva Oliveira
†Mestrado em Matemática - Campinas - SP
Orientador:
Prof. Dr. Sergio Antônio Tozoni
Besov sobre a Esfera Sd
Este exemplar corresponde à redação fi-nal da dissertação devidamente corrigida e defendida por Andrielber da Silva Oliveira e aprovada pela comissão julgadora. Campinas 28, de Abril o de 2006.
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Banca examinadora:
Prof. Dr. Sérgio Antonio Tozoni. Prof. DI. Dicesar Lass Fernandez. Prof. DI. Eduardo Brandani da Silva.
Dissertação apresentada ao Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica, UNICAMP, como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Matemática. . -~--".,'".::~;" I}~-,~ r'~!i
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---Pela Banca Examinadora composta pelos Profs. Drs.
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Prof. (a). Dr (ar. SERGIO ANTONIO TOZONI
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Prof. (a). Dr
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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO IMECC DA UNICAMP
Bibliotecária: Maria Júlia Milani Rodrigues – CRB8a / 2116
Oliveira, Andrielber da Silva
OL4m Métodos de interpolação real e espaços de Sobolev e Besov sobre a esfera Sd / Andrielber da Silva Oliveira -- Campinas, [S.P. :s.n.], 2006.
Orientador : Sérgio Antonio Tozoni
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica.
1. Análise harmonica. 2. Análise funcional. 3. Sobolev, Espaços de. 4. Espaços de interpolação . I. Tozoni, Sérgio Antonio. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica. III. Título.
Título em inglês: Real interpolation methods and Sobolev and Besov espaces on the Sd sphere Palavras-chave em inglês (Keywords): 1. Harmonic analysis. 2. Functional analysis. 3. Sobolev spaces. 4. Interpolation spaces.
Área de concentração: Análise Titulação: Mestre em Matemática
Banca examinadora: Prof. Dr. Sérgio Antonio Tozoni (IMECC-UNICAMP) Prof. Dr. Dicesar Lass Fernandez (IMECC-UNICAMP) Prof. Dr. Eduardo Brandani da Silva (UEM)
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao IMECC pela oportunidade de fazer este trabalho, ao CNPq pela concessão da bolsa, aos professores das disciplinas que cursei, aos professores do Departamento de Matemática da UEL, onde fiz minha graduação em Licenciatura em Matemática, aos membros da banca examinadora e um agradecimento especial ao Prof. Dr. Sérgio A. Tozoni, que foi quem me orientou, pela paciência, dedicação e ajuda.
Também sou muito grato aos amigos e familiares de Londrina e em especial aos meus pais Valcides de Oliveira e Nelci da Silva Oliveira pelo apoio antes e durante este mestrado, além deles sou muito grato aos amigos que fiz no IAPAR, principalmente a todos da Área de Biometria.
Não poderia deixar de agradecer aos amigos que fiz aqui em Campinas, aos amigos do curso, aos amigos de onde morei durante o primeiro ano em Campinas, que chamávamos de Clube dos Nove, aos moradores da pensão do Seu Ruy, onde morei durante os dois últimos anos, em fim, a todos os amigos que fiz em Campinas e principalmente ao Fábio Dadam, uma pessoa ímpar, realmente fantástica, um amigo pra todas as horas.
Agradeço a minha namorada, Graziela, que tenho certeza ser a mulher com quem me casarei, agradeço a ela pelo apoio, carinho, compreensão e companheirismo durante estes nove meses que estamos juntos, que foram, sem dúvida, os melhores que já vivi.
O objetivo da dissertação é realizar um estudo dos espaços de Besov sobre a esfera unitária
d-dimensional real Sd.
No primeiro capítulo são estudados espaços de interpolação utilizando dois métodos de interpolação real. Em particular são estudados os Teoremas de Equivalência e de Reiteração para os J-método e K-método.
No segundo capítulo é realizado um estudo rápido sobre análise harmônica na esfera Sd,
incluindo um estudo sobre harmônicos esféricos, harmônicos zonais, somas de Cesàro e sobre um teorema de multiplicadores.
O terceiro e último capítulo é o mais importante e nele são aplicados os resultados dos capítulos anteriores. São introduzidos os espaços de Besov, decompondo uma função suave definida sobre a esfera d-dimensional, em uma série de harmônicos esféricos e usando uma seqüência de polinômios zonais que podem ser vistos como uma generalização natural dos polinômios de Vallée Poussin definidos sobre o círculo unitário. O principal resultado estudado diz que todo espaço de Besov pode ser obtido como espaço de interpolação de dois espaços de Sobolev.
ABSTRACT
The purpose of this work is to make a study about Besov’s spaces on the unit d-dimensional real sphere Sd.
In the first chapter are studied spaces of interpolation using two real interpolation methods. In particular, are studied The Equivalence Theorem and The Reiteration Theorem for the
J-method and the K-method.
In the second chapter it is made a short study about harmonic analysis on the sphere
Sd, including a study about spherics harmonics, zonal harmonics, Cesàro sums and about a
multiplier theorem.
The third and last chapter is the most important of this work. In this chapter are applied the results of the others chapters. Are introduced the Besov spaces, decomposing a smooth function defined on the d-dimensional sphere, in a series of harmonics spherics and using a sequence o zonal polynomials which can be seen as a natural generalization of the Vallée Poussin polynomials defined on the unit circle. The main result studied says that every Besov’s space can be got as a interpolation space of two Sobolev’s spaces.
Agradecimentos . . . ii Resumo . . . iii Abstract . . . iv Introdução 1 1 Espaços de interpolação 3 1.1 A Integral de Bochner . . . 3
1.2 Dois métodos de interpolação real . . . 7
1.3 Teorema de Equivalência . . . 26
1.4 O Teorema de Reiteração . . . 31
2 Análise Harmônica na Esfera Sd 35 2.1 Harmônicos Esféricos . . . 35
2.2 Harmônicos Zonais . . . 37
2.3 Somas de Cesàro . . . 39
2.4 Teorema de Multiplicadores . . . 42
3 Espaços de Sobolev e Besov 45 3.1 Espaços de Sobolev e Besov . . . 45
3.2 Aplicações . . . 51
Apêndice 60
Referências Bibliográficas 68
Introdução
O objetivo desta dissertação é realizar um estudo de métodos de interpolação real e aplicá-los no estudo dos espaços de Besov sobre a esfera unitária d-dimensional real Sd.
Os espaços de Besov clássicos sobre regiões do espaço euclidiano Rdforam sistematicamente
estudados, por exemplo, nos trabalhos de H. Triebel [11] e de J. Peetre [10], e um estudo destes espaços sobre a esfera Sdpode ser encontrado no trabalho de P. I. Lizorkin e Kr. P. Rustamov
[8].
Em [7], A. Kushpel, J. Levesley e S. A. Tozoni estudaram os espaços de Besov sobre espaços homogêneos, em particular sobre a esfera Sd, com o objetivo de obter estimativas para
n-larguras de Kolmogorov. Os espaços de Besov foram introduzidos decompondo uma função suave definida sobre a esfera Sd em uma série de harmônicos esféricos e usando uma seqüência
Kn(z) de polinômios zonais, os quais podem ser vistos como uma generalização dos polinômios
de Vallée Poussin definidos sobre o círculo unitário por
Vn(t) = 1 2 + 2n X k=1 λ(2n)k cos kt,
onde λ(2n)k = 1 se 1 ≤ k ≤ n e λ(2n)k = (2n−k)/n se n < k ≤ 2n. Os polinômios de Vallée Poussin foram utilizados para introduzir os espaços de Besov sobre S1. O objetivo principal desta
dissertação é realizar um estudo detalhado dos resultados sobre espaços de Besov apresentados em [7]. Para tal, foi realizado um estudo cuidadoso sobre espaços de interpolação no Capítulo 1 e um estudo sem muitos detalhes sobre análise harmônica na esfera Sd no Capítulo 2. Um
estudo detalhado sobre análise harmônica na esfera Sd pode ser encontrado na dissertação de
mestrado de F. M. de Oliveira [9].
No primeiro capítulo são estudados os espaços de interpolação utilizando os J-método e
K-método. Na Seção 1.1 é feito um estudo sobre a integral de Bochner utilizada nas seções
seguintes. Uma referência para esta seção é o Capítulo III de [4]. Na Seção 1.2 são apresentados 1
os resultados básicos da teoria dos espaços de interpolação, na Seção 1.3 é estudado o Teorema de Equivalência e na Seção 1.4 o Teorema de Reiteração. Os trabalhos [1], [5] e [7] são referências para os resultados destas seções.
O segundo capítulo é dedicado a um estudo rápido sobre análise harmônica na esfera Sd,
incluindo um estudo sobre harmônicos esféricos, harmônicos zonais, somas de Cesàro e sobre um teorema de multiplicadores. Um estudo cuidadoso e detalhado sobre este assunto foi feito na dissertação de mestrado de F. M. de Oliveira [9] que é a nossa referência para este capítulo. O terceiro e último capítulo é o mais importante e nele estão aplicados os resultados dos capítulos anteriores. Na Seção 3.1 são definidos os espaços de Sobolev e de Besov como foram introduzidos em [7]. Esta definição de espaços de Besov pode também ser encontrada em [6]. São definidas indutivamente funções Ψj, 1 ≤ j ≤ d, onde d é a dimensão da esfera Sd. São
estudadas várias propriedades destas funções e é definida, para cada número natural n, uma seqüência numérica (λn
k)nk=0. Usando estas seqüências são definidas funções zonais Kn que
são utilizadas para definir as funções dos espaços de Besov. Na Seção 3.2 são aplicados os resultados da seção anterior e do Capítulo 1 para demostrar o principal resultado estudado nesta dissertação que diz que todo espaço de Besov é espaço de interpolação de dois espaços de Sobolev.
No final desta dissertação é apresentado um apêndice no qual são enunciadas algumas definições e resultados clássicos de teoria da medida e de análise funcional que são utilizados em algum momento no desenvolvimento deste trabalho.
Capítulo 1
Espaços de interpolação
Neste capítulo são estudados os espaços de interpolação definidos pelos J-método e K-método.
Na primeira seção é feito um estudo sobre a integral de Bochner que será utilizado nas seções seguintes. Uma referência para este estudo é o Capítulo III de [4]. Nesta seção (X, X , µ) representará um espaço de medida σ-finito e E um espaço de Banach com norma k·kE.
Na segunda seção são apresentados os resultados básicos da teoria dos espaços de interpo-lação, na seção seguinte é estudado o Teorema de Equivalência e na quarta e última seção o Teorema de Reiteração. Os trabalhos [1], [5] e [7] são as nossas referências para os resultados destas seções.
1.1
A Integral de Bochner
Definição 1.1.1. Dizemos que uma função f : X −→ E é simples se assume apenas um número finito de valores em E, f (X) = {ak : 1 ≤ k ≤ n}, e Ak = f−1(ak) ∈ X para todo 1 ≤ k ≤ n.
Dizemos que f = n X k=1 akχAk (1.1) é a representação padrão de f .
Definição 1.1.2. Dizemos que uma função f : X −→ E é X -fortemente mensurável se existe uma seqüência (fn)n∈N de funções simples definidas em X tomando valores em E, tais que
lim
n→∞kfn− f kE = 0 q.s. (1.2)
Teorema 1.1.3. (a) Se f, g são funções X -fortemente mensuráveis e α ∈ R, então f + g e αf são X -fortemente mensuráveis.
(b) Se f é limite q.s. de uma seqüência de funções X -fortemente mensuráveis, então f é X -fortemente mensurável.
Observação 1.1.4. Se E for separável, então uma função f : X −→ E é X -fortemente mensurável se e somente se f−1(B) ∈ X para todo boreliano B de E, isto é, f é X -mensurável.
Definição 1.1.5. Dizemos que uma função simples f : X −→ E é Bochner-integrável se a função x 7−→ kf (x)kE é µ-integrável. Se f = n X k=1 akχAk
é uma representação padrão de f e B ∈ X , definimos a integral de Bochner de f sobre B por Z B f dµ = n X k=1 akµ (Ak∩ B) . (1.3) Observação 1.1.6. Como n X k=1 kakkEµ (Ak∩ B) = Z B kf kEdµ < ∞
então a integral (1.3) está bem definida, para todo B ∈ X , e também temos ° ° ° ° Z B f dµ ° ° ° ° E ≤ Z B kf kEdµ. (1.4)
Definição 1.1.7. Dizemos que uma função f : X −→ E é Bochner-integrável se existe uma seqüência (fn)n∈N de funções simples Bochner-integráveis, tal que
fn−→ f q.s. e lim n→∞
Z
X
kfn− f kEdµ = 0. (1.5)
Definimos a integral de Bochner de f sobre B ∈ X por Z B f dµ = lim n→∞ Z B fndµ. (1.6)
Observação 1.1.8. O limite limRBfndµ, quando n −→ ∞, existe e independe da seqüência
(fn)n∈N considerada. De fato, se B ∈ X ° ° ° ° Z B fndµ − Z B fmdµ ° ° ° ° E ≤ Z B kfn− fmkEdµ ≤ Z B kfn− f kEdµ + Z B kfm− f kEdµ
e como lim n→∞ Z B kfn− f kEdµ = 0 temos que¡RBfndµ ¢
n∈N é de Cauchy em E. Portanto essa seqüência converge em E.
Para demonstrar a independência da seqüência, consideremos duas seqüências de funções simples (fn)n∈N e (gn)n∈N Bochner-integráveis convergindo para f q.s., tais que
lim n→∞ Z X kfn− f kEdµ = 0 e n→∞lim Z X kgn− f kEdµ = 0. Como ° ° ° ° Z B fndµ − Z B gndµ ° ° ° ° E ≤ Z B kfn− f kEdµ + Z B kgn− f kEdµ,
fazendo n −→ ∞ em ambos os membros da desigualdade acima, obtemos lim n→∞ Z B fndµ = lim n→∞ Z B gndµ.
Teorema 1.1.9. Uma função f : X −→ E X -fortemente mensurável é Bochner-integrável se
e somente se a função real x 7−→ kf (x)kE é µ-integrável, isto é, se e somente se
Z
X
kf kEdµ < ∞. (1.7)
Teorema 1.1.10. Se f é Bochner-integrável, então ° ° ° ° Z X f dµ ° ° ° ° E ≤ Z X kf kEdµ. (1.8)
Teorema 1.1.11. Seja (fn)n∈N uma seqüência de funções Bochner-integráveis, tal que
lim
n,m→∞
Z
X
kfn− fmkEdµ = 0. (1.9)
Então existe uma função Bochner-integrável f tal que
lim n→∞ Z X kfn− f kEdµ = 0 (1.10) e lim n→∞ Z X fndµ = Z X f dµ. (1.11)
Teorema 1.1.12 (Teorema da Convergência Dominada para integral de Bochner).
uma função real µ-integrável tal que kf (x)kE ≤ g(x) q.t. x ∈ X. Então f é Bochner-integrável e lim n→∞ Z X kfn− f kEdµ = 0. (1.12)
Em particular, para todo B ∈ X ,
Z B f dµ = lim n→∞ Z B fndµ. (1.13)
Definição 1.1.13. O espaço LpE = Lp(X, E) = Lp(X, X , µ; E), 0 < p < ∞, é definido como o
conjunto das funções X -fortemente mensuráveis f : X −→ E, tais que
kf kLp E = µZ X kf (x)kpEdµ ¶1/p < ∞. (1.14) Observação 1.1.14. Quando 1 ≤ p < ∞, k·kLp
E é uma norma sobre L
p(X, E) e³Lp(X, E) , k·k LpE
´ é um espaço de Banach. Quando X = E = R escrevemos Lp(R) = Lp(R, R) e k·k
p = k·kLp. Definição 1.1.15. O espaço L∞(X, E) é definido como o conjunto das funções X -fortemente
mensuráveis f : X −→ E, tais que
kf kL∞
E = inf (c : kf (x)kE ≤ c q.t. x ∈ X) < ∞. (1.15) Observação 1.1.16. Temos que k·kL∞
E é uma norma sobre L
∞(X, E) e ³L∞(X, E) , k·k L∞
E ´ é um espaço de Banach.
Teorema 1.1.17. Seja 1 ≤ p < ∞. Então o conjunto formado por todas as funções simples
f ∈ Lp(X, E) é denso em Lp(X, E).
Definição 1.1.18. Definimos o espaço `p(E), 1 ≤ p < ∞, como sendo o conjunto de todas as seqüências x = (xn)n∈N tais que xn ∈ E para todo n ∈ N e
kxk`p (E)= Ã ∞ X n=1 kxnkpE !1/p < ∞. (1.16)
Observação 1.1.19. Para 1 ≤ p < ∞, k·k`p(E) é uma norma sobre ` p (E) e ³ `p(E) , k·k`p(E) ´ é um espaço de Banach.
1.2
Dois métodos de interpolação real
Definição 1.2.1. Dois espaços complexos de Banach ¡E0, k·kE0
¢
e ¡E1, k·kE1
¢
são chamados um par de interpolação ¯E = (E0, E1) se existe um espaço vetorial topológico de Hausdorff no
qual E0 e E1 estão continuamente incluídos. Então os seguintes espaços e quantidades estão
bem definidos: ∆( ¯E) = E0∩ E1; (1.17) kxk∆( ¯E) = max¡kxkE0, kxkE1¢; (1.18) Σ( ¯E) = E0+ E1 = {x0+ x1 : x0 ∈ E0, x1 ∈ E1} ; (1.19) kxkΣ( ¯E) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + kx1kE1 ¢ ; (1.20) K(t, x) = K(t, x; ¯E) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + t kx1kE1 ¢ , 0 < t < ∞; (1.21) J(t, x) = J(t, x; ¯E) = max¡kxkE0, t kxkE1¢, 0 < t < ∞, x ∈ ∆( ¯E). (1.22) Definição 1.2.2. Dizemos que um espaço F é um espaço intermediário entre E0 e E1 se
∆( ¯E) ⊂ F ⊂ Σ( ¯E).
Proposição 1.2.3. Para t > 0, k·kΣ( ¯E) e K(t, ·) são normas equivalentes sobre Σ( ¯E).
Demonstração. Primeiramente demonstraremos que K(t, ·) é norma sobre Σ( ¯E):
(i) Dado x ∈ Σ( ¯E), K(t, x) = inf
x=x0+x1∈Σ( ¯E)
¡
kx0kE0 + t kx1kE1
¢
≥ 0, pois kx0kE0 ≥ 0 para
todo x0 ∈ E0, kx1kE1 ≥ 0 para todo x1 ∈ E1 e t > 0, e portanto kx0kE0 + t kx1kE1 ≥ 0 para
qualquer representação x = x0+ x1 ∈ Σ( ¯E).
(ii) Temos que K(t, x) = 0 se, e somente se, x = 0. De fato se x = 0, então podemos escrever x = 0 + 0 ∈ Σ( ¯E). Assim k0kE0 + t k0kE1 = 0 e logo K(t, 0) = 0. Por outro lado se
K(t, x) = 0, segue por (1.21) que dado n ∈ N, existem x0
n ∈ E0 e x1n∈ E1, tal que x = x0n+ x1n e kx0 nkE0 + t kx1nkE1 < 1/n. Como kx0 n− x0mkE0 ≤ ° °x0 n ° ° E0 + kx 0 mkE0 ≤ 1 n + 1 m ≤ 2 min(n, m), temos que (x0
n)n∈N é uma seqüência de Cauchy em
¡ E0, k·kE0 ¢ . Analogamente (tx1 n)n∈N é uma seqüencia de Cauchy em ¡E1, k·kE1 ¢ . Mas ¡E0, k·kE0 ¢ e ¡E1, k·kE1 ¢
são espaços de Banach, e portanto existem x0 ∈ E
para todo n ∈ N e logo x = x0 + x1. Portanto, como as normas k·k
E0 e k·kE1 são funções
contínuas, segue que 0 ≤°°x0°° E0 + t ° °x1°° E1 = limn→∞ ³° °x0 n ° ° E0 + t ° °x1 n ° ° E1 ´ ≤ lim n→∞ 1 n = 0, isto é, x = x0+ x1 = 0 + 0 = 0.
(iii) Sejam x ∈ Σ( ¯E) e λ ∈ C. Se λ = 0, temos λK(t, x) = 0 = K(t, 0) = K(t, λx). Se λ 6= 0, temos,
K(t, λx) = inf
λx=y0+y1∈Σ( ¯E)(ky0kE0 + t ky1kE1) = x=λ−1y0+λinf−1y1∈Σ( ¯E)(ky0kE0 + t ky1kE1). Para y0 ∈ E0 e y1 ∈ E1, considere x0 = λ−1y0 e x1 = λ−1y1. Então
K(t, λx) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) (kλx0kE0 + t kλx1kE1) = |λ| inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + t kx1kE1 ¢ = |λ|K(t, x).
(iv) Sejam x, y ∈ Σ( ¯E), e
A =©kx0+ y0kE0 + t kx1 + y1kE1 : x = x0+ x1 ∈ Σ( ¯E) e y = y0+ y1 ∈ Σ( ¯E) ª , B =©kz0kE0 + t kz1kE1 : x + y = z0+ z1 ∈ Σ( ¯E) ª . É fácil ver que A ⊆ B e assim
K(t, x + y) = inf x+y=z0+z1∈Σ( ¯E)(kz0kE0 + t kz1kE1) ≤ inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) y=y0+y1∈Σ( ¯E) (kx0+ y0kE0 + t kx1+ y1kE1) ≤ inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) y=y0+y1∈Σ( ¯E) (kx0kE0 + ky0kE0 + t kx1kE1 + tky1kE1) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) y=y0+y1∈Σ( ¯E) ¡ (kx0kE0 + t kx1kE1) + (ky0kE0 + t ky1kE1) ¢ = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) Ã inf y=y0+y1∈Σ( ¯E) ¡ (kx0kE0 + t kx1kE1) + (ky0kE0 + t ky1kE1) ¢! = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ (kx0kE0 + t kx1kE1) + K(t, y) ¢ = K(t, x) + K(t, y).
Portanto, segue por i), ii), iii) e iv) que para todo t > 0, K(t, ·) é uma norma sobre Σ( ¯E).
Em particular, para t = 1, temos que K(1, ·) = k·kΣ( ¯E) é uma norma sobre Σ( ¯E). Agora falta
demonstrar que para t > 0, K(t, ·) e k·kΣ( ¯E) são equivalentes. Para 0 < t < 1 e x ∈ Σ( ¯E) temos kxkΣ( ¯E) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + kx1kE1 ¢ ≥ K(t, x) e K(t, x) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + t kx1kE1 ¢ ≥ inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) (t kx0kE0 + t kx1kE1) = t kxkΣ( ¯E). Para t ≥ 1 e x ∈ Σ( ¯E) temos kxkΣ( ¯E) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + kx1kE1 ¢ ≤ K(t, x) e K(t, x) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + t kx1kE1 ¢ ≤ inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) (t kx0kE0 + t kx1kE1) = t kxkΣ( ¯E).
Podemos então concluir que dados t > 0 e x ∈ Σ( ¯E),
min(1, t) kxkΣ( ¯E) ≤ K(t, x) ≤ max(1, t) kxkΣ( ¯E). (1.23) Proposição 1.2.4. Para t > 0, k·k∆( ¯E) e J(t, ·) são normas equivalentes sobre ∆( ¯E).
Demonstração. Primeiramente demonstraremos que J(t, ·) é norma sobre ∆( ¯E):
(i) Dado x ∈ ∆( ¯E), J(t, x) = max¡kxkE0, t kxkE1¢≥ 0, pois kxkE0 ≥ 0 para todo x ∈ E0 e
t kxkE1 ≥ 0 para todo x ∈ E1.
(ii) Se x = 0, então kxkE0 = 0 = t kxkE1 e logo, J(t, x) = J(t, 0) = 0. Se J(t, x) = 0, então
kxkE0 ≤ 0 e t kxkE1 ≤ 0. Logo, kxkE0 = kxkE1 = 0, ou seja, x = 0.
(iii) Sejam λ ∈ C e x ∈ ∆( ¯E). Então
J(t, λx) = max¡kλxkE0, t kλxkE1¢= max(|λ| kxkE0, t|λ| kxkE1) = |λ| max¡kxkE0, t kxkE1¢= |λ|J(t, x).
(iv) Sejam x, y ∈ ∆( ¯E). Então
J(t, x + y) = max¡kx + ykE0, t kx + ykE1¢
≤ max(kxkE0 + kykE0, t kxkE1 + t kykE1)
≤ max¡kxkE0, t kxkE1¢+ max¡kykE0, t kykE1¢
= J(t, x) + J(t, y).
Portanto, segue por i), ii), iii) e iv) que para todo t > 0, J(t, ·) é uma norma sobre ∆( ¯E).
Em particular, para t = 1, temos que J(1, ·) = k·k∆( ¯E) é uma norma sobre ∆( ¯E). Agora falta
demonstrar que para t > 0, J(t, ·) e k·k∆( ¯E) são equivalentes sobre ∆( ¯E).
Para 0 < t < 1 e x ∈ ∆( ¯E) temos kxk∆( ¯E) = max¡kxkE0, kxkE1¢ ≥ J(t, x) e J(t, x) = max¡kxkE0, t kxkE1¢≥ max¡t kxkE0, t kxkE1¢= t kxk∆( ¯E). Para t ≥ 1 e x ∈ ∆( ¯E) temos kxk∆( ¯E) = max¡kxkE0, kxkE1¢ ≤ J(t, x) e J(t, x) = max¡kxkE0, t kxkE1¢≤ max¡t kxkE0, t kxkE1¢= t kxk∆( ¯E).
Podemos então concluir que dados t > 0 e x ∈ ∆( ¯E),
min(1, t) kxk∆( ¯E) ≤ J(t, x) ≤ max(1, t) kxk∆( ¯E). (1.24) Teorema 1.2.5. Os espaços ³ Σ( ¯E), k·kΣ( ¯E) ´ e ³ ∆( ¯E), k·k∆( ¯E) ´
são espaços de Banach.
Demonstração. Primeiramente demonstraremos que ³
∆( ¯E), k·k∆( ¯E)
´
é Banach. Considere-mos então uma seqüência de Cauchy (xn)n∈N em ∆( ¯E). Assim, dado ² > 0, existe n0 ∈ N, tal
que para quaisquer n, m ≥ n0, kxn− xmk∆( ¯E) < ². Seque de (1.18) que kxn− xmkE0 < ² e
kxn− xmkE1 < ² para quaisquer m, n ≥ n0 e logo, (xn)n∈N é uma seqüencia de Cauchy em E0
e em E1. Portanto existem x0 ∈ E0 e x1 ∈ E1 tais que xn −→ x0 em E0 e xn −→ x1 em E1.
Pela Definição 1.2.1 existe um espaço vetorial topológico de Hausdorff E, tal que E0 e E1 estão
assim x0 = x1. Tomemos x = x0 = x1 ∈ ∆( ¯E). Então dado ² > 0, existe N ∈ N tal que
kxn− xkE0 < ² e kxn− xkE1 < ² para todo n ≥ N e conseqüentemente
kxn− xk∆( ¯E) = max ¡ kxn− xkE0, kxn− xkE1 ¢ < ², n ≥ N ∈ N. Assim, ³ ∆( ¯E), k·k∆( ¯E) ´ é Banach. Mostremos agora que
³
Σ( ¯E), k·kΣ( ¯E)
´
também é Banach. Dados x ∈ Σ( ¯E) e ² > 0, por
(1.20) existe uma decomposição x = x0+ x1 tal que
° °x0°° E0 + ° °x1°° E1 ≤ kxkΣ( ¯E)+ ².
Em particular, para ² = kxkΣ( ¯E), existe uma decomposição x = x0+ x1 tal que
° °x0°° E0 + ° °x1°° E1 ≤ 2 kxkΣ( ¯E).
Seja (xn)n∈N ⊂ Σ( ¯E) tal que,
P∞
n=1kxnkΣ( ¯E) < ∞. Então para cada n ∈ N podemos encontrar
uma decomposição xn= x0n+ x1n tal que, (x0n)n∈N⊂ E0 e (x1n)n∈N ⊂ E1 e além disso,
° °x0 n ° ° E0+ ° °x1 n ° ° E1 ≤ 2kxnkΣ( ¯E).
Isto implica que P∞n=1kx0
nkE0 < ∞ e
P∞
n=1kx1nkE1 < ∞. Como E0 e E1 são de espaços
Banach, temos que P∞n=1x0
n converge em E0 e P∞ n=1x1n converge em E1. Sejam x0 = P∞ n=1x0n e x1 =P∞
n=1x1n, e tomemos x = x0+ x1 ∈ Σ( ¯E), temos por (1.20) que,
° ° ° ° °x − N X n=1 xn ° ° ° ° ° Σ( ¯E) = ° ° ° ° ° Ã x0− N X n=1 x0 n ! + Ã x1− N X n=1 x1 n !°° ° ° ° Σ( ¯E) ≤ ° ° ° ° °x 0− N X n=1 x0n ° ° ° ° ° E0 + ° ° ° ° °x 1− N X n=1 x1n ° ° ° ° ° E1 .
Assim, concluímos queP∞n=1xnconverge em Σ( ¯E) para x. Portanto temos que,
³
Σ( ¯E), k·kΣ( ¯E)
´ é Banach.
Corolário 1.2.6. Os espaços ¡Σ( ¯E), K(t, ·)¢ e ¡∆( ¯E), J(t, ·)¢ são espaços de Banach, para todo t > 0.
Demonstração. Segue imediatamente das Proposições 1.2.3, 1.2.4 e do Teorema 1.2.5. Lema 1.2.7. A função t 7−→ K(t, x) é não negativa, não decrescente e côncava, para qualquer
x ∈ Σ( ¯E). Em particular, para quaisquer t, s > 0,
Demonstração. Suponhamos que K(·, x) não seja não negativa. Então existe t0 > 0 tal que
K(t0, x) < 0, o que contradiz o fato de K(t0, ·) ser uma norma sobre Σ( ¯E). Logo K(·, x) é não
negativa.
Sejam t, s ∈ (0, ∞), tal que t < s. Então t kx1kE1 ≤ s kx1kE1 para todo x1 ∈ E1, e assim
kx0kE0+t kx1kE1 ≤ kx0kE0+s kx1kE1 para todo x0 ∈ E0 e x1 ∈ E1. Portanto K(t, x) ≤ K(s, x),
ou seja, K(·, x) é não decrescente.
Consideremos t1, t2 ∈ (0, ∞) e s ∈ [0, 1]. Então (1 − s)K(t1, x) + sK(t2, x) = (1 − s) inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + t1kx1kE1 ¢ + + s inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + t2kx1kE1 ¢ = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ (1 − s) kx0kE0 + (1 − s)t1kx1kE1 ¢ + + inf x=x0+x1∈Σ( ¯E)(s kx0kE0 + st2kx1kE1) ≤ inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + (1 − s)t1kx1kE1 + st2kx1kE1 ¢ = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ kx0kE0 + ((1 − s)t1+ st2) kx1kE1 ¢ = K ((1 − s)t1+ st2, x) , e portanto K(·, x) é côncava.
Sejam agora, t, s > 0. Se t < s, como K(·, x) é não decrescente, K(t, x) ≤ K(s, x) = max(1, t/s)K(s, x). Além disso, temos que
sK(t, x) = inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ s kx0kE0 + st kx1kE1 ¢ ≥ inf x=x0+x1∈Σ( ¯E) ¡ t kx0kE0 + ts kx1kE1 ¢ = tK(s, x)
e portanto, K(t, x) ≥ (t/s)K(s, x) = min(1, t/s)K(s, x). Assim,
min(1, t/s)K(s, x) ≤ K(t, x) ≤ max(1, t/s)K(s, x). Se t ≥ s, K(t, x) ≥ K(s, x) = min(1, t/s)K(s, x). Além disso,
sK(t, x) = inf
x=x0+x1∈Σ( ¯E)(s kx0kE0 + st kx1kE1)
≤ inf
x=x0+x1∈Σ( ¯E)(t kx0kE0 + ts kx1kE1)
e portanto K(t, x) ≤ (t/s)K(s, x) = max(1, t/s)K(s, x). Assim
min(1, t/s)K(s, x) ≤ K(t, x) ≤ max(1, t/s)K(s, x).
Lema 1.2.8. A função t 7−→ J(t, x) é não negativa, não decrescente e convexa, para qualquer
x ∈ ∆( ¯E). Em particular, para quaisquer t, s > 0,
min(1, t/s)J(s, x) ≤ J(t, x) ≤ max(1, t/s)J(s, x)
e
K(t, x) ≤ min(1, t/s)J(s, x).
Demonstração. Dado x ∈ ∆( ¯E), como kxkE0 ≥ 0 e t kxkE1 ≥ 0, temos que J(t, x) =
max¡kxkE0, t kxkE1¢≥ 0, t > 0, ou seja, a função t 7−→ J(t, x) é não negativa.
Dados t, s ∈ (0, ∞), t < s, temos que
J(t, x) = max¡kxkE0, t kxkE1¢≤ max¡kxkE0, s kxkE1¢= J(s, x), ou seja, a função t 7−→ J(t, x) é não decrescente.
Dados t1, t2 ∈ (0, ∞) e s ∈ [0, 1], temos que,
(1 − s)J(t1, x) + sJ(t2, x) = (1 − s) max ¡ kxkE0, t1kxkE1 ¢ + s max¡kxkE0, t2kxkE1 ¢ = max¡(1 − s) kxkE0, (1 − s)t1kxkE1 ¢ + max(s kxkE0, st2kxkE1) ≥ max¡(1 − s) kxkE0 + s kxkE0, (1 − s)t1kxkE1 + st2kxkE1 ¢ = max¡kxkE0, ((1 − s)t1+ st2) kxkE1 ¢ = J ((1 − s)t1+ st2, x)
ou seja, a função t 7−→ J(t, x) é convexa.
Sejam agora t, s ∈ (0, ∞). Como x ∈ ∆( ¯E) podemos escrever x = x + 0 = 0 + x ∈ Σ( ¯E) e
assim segue por (1.21) que
K(t, x) ≤ kxkE0 e K(t, x) ≤ t kxkE1. (1.25)
Se t < s, então J(t, x) ≤ J(s, x) = max(1, t/s)J(s, x), e também
min(1, t/s)J(s, x) = (t/s)J(s, x) = max¡(t/s) kxkE0, t kxkE1¢ ≤ max¡kxkE0, t kxkE1¢= J(t, x).
Portanto,
Além disso, por (1.25)
min(1, t/s)J(s, x) = (t/s) max¡kxkE0, s kxkE1¢≥ t kxkE1 ≥ K(t, x).
Se t ≥ s, então min(1, t/s)J(s, x) = J(s, x) ≤ J(t, x), e também
sJ(t, x) = max(s kxkE0, st kxkE1) ≤ max(t kxkE0, ts kxkE1) = t max¡kxkE0, s kxkE1¢= tJ(s, x),
ou seja, J(t, x) ≤ (t/s)J(s, x) = max(1, t/s)J(s, x). Portanto,
min(1, t/s)J(s, x) ≤ J(t, x) ≤ max(1, t/s)J(s, x). Além disso, por (1.25),
min(1, t/s)J(s, x) = max¡kxkE0, s kxkE1¢≥ kxkE0 ≥ K(t, x).
Definição 1.2.9. Sejam 0 < θ < 1, 1 ≤ q ≤ ∞. Para cada função mensurável não negativa
ϕ : (0, ∞) −→ R definimos: Φθ,q(ϕ(t)) = µZ ∞ 0 ¡ t−θϕ(t)¢q dt t ¶1/q , 1 ≤ q < ∞, sup esst>0 ¡ t−θϕ(t)¢ , q = ∞.
Observação 1.2.10. Qualquer f : R −→ R não decrescente é Borel mensurável. De fato, se f é não decrescente, dado α ∈ R temos que Aα = {x ∈ R : f (x) > α} só pode ser uma semi-reta
da forma {x ∈ R : x > a} ou {x ∈ R : x ≥ a} para algum a ∈ R, ou Aα é R ou ∅. Em particular
as funções t 7−→ K(t, x) e t 7−→ J(t, y) são mensuráveis para cada x ∈ Σ( ¯E) e y ∈ ∆( ¯E).
Definição 1.2.11. Para x ∈ Σ( ¯E) definimos,
kxkθ,q;K = Φθ,q(K(t, x)) .
Lema 1.2.12. A função t 7−→ K(t, x) é contínua, para todo x ∈ Σ( ¯E).
Demonstração. Vimos no Lema 1.2.7 que t 7−→ K(t, x) é não decrescente e côncava. Portanto para t0 ∈ (0, ∞) e s ∈ [0, 1], temos que,
K(t0, x) ≥ K µ (1 − s)t0 2 + st0, x ¶ ≥ (1 − s)K µ t0 2, x ¶ + sK(t0, x)
e assim lim s→1 s<1 K(t0, x) ≥ lims→1 s<1 K µ (1 − s)t0 2 + st0, x ¶ ≥ lim s→1 s<1 µ (1 − s)K µ t0 2, x ¶ + sK(t0, x) ¶ .
Logo, pelo Teorema do Confronto segue que, lim s→1 s<1 K µ (1 − s)t0 2 + st0, x ¶ = K(t0, x) = K Ã lim s→1 s<1 µ (1 − s)t0 2 + st0 ¶ , x ! .
Conseqüentemente K(·, x) é contínua à esquerda em todo ponto t0 ∈ (0, ∞). Suponhamos agora
que K(·, x) não seja contínua. Então existe t0 ∈ (0, ∞) tal que K(t0, x) < limt→t0
t>t0 K(t, x), pois
K(·, x) é contínua a esquerda em t0 e é não decrescente. Seja ² = limt→t0
t>t0 K(t, x) − K(t0, x) > 0. Então existe δ > 0 tal que se t0− δ ≤ t ≤ t0 então K(t0, x) − K(t, x) ≤ ²/2. Assim temos que,
( K(t0, x) − K(t0− δ, x) ≤ ²2, K(t0+ δ, x) − K(t0, x) ≥ ² e logo, ( 1 2K(t0− δ, x) ≥ 12K(t0, x) − ²4, 1 2K(t0+ δ, x) ≥ 1 2K(t0, x) + ² 2. Portanto 1 2K(t0− δ, x) + 1 2K(t0+ δ, x) ≥ K(t0, x) + ² 4 > K(t0, x),
o que contradiz o fato de K(·, x) ser côncava. De fato, como K(·, x) côncava, temos que para todo s ∈ [0, 1],
K ((1 − s)(t0− δ) + s(t0+ δ), x) ≥ (1 − s)K(t0− δ, x) + sK(t0 + δ, x),
e em particular, para s = 1/2, temos
K(t0, x) ≥
1
2K(t0 − δ, x) + 1
2K(t0+ δ, x). Logo a função t 7−→ K(t, x) é contínua.
Lema 1.2.13. A função x ∈ Σ( ¯E) 7−→ kxkθ,q;K tem as propriedades de uma norma.
Demonstração. (i) Dado x ∈ Σ( ¯E), a função t 7−→ K(t, x) é contínua e não negativa, e
portanto segue imediatamente que:
µZ ∞ 0 ¡ t−θK(t, x)¢q dt t ¶1/q ≥ 0, 1 ≤ q < ∞, sup esst>0 ¡ t−θK(t, x)¢≥ 0, q = ∞.
(ii) Novamente pelo fato de que a função t 7−→ K(t, x) é contínua e não negativa, segue imediatamente que, x = 0 se e somente se,
µZ ∞ 0 ¡ t−θK(t, x)¢qdt t ¶1/q = 0, 1 ≤ q < ∞, sup esst>0 ¡ t−θK(t, x)¢= 0, q = ∞.
(iii) Sejam λ ∈ C e x ∈ Σ( ¯E). Para 1 ≤ q < ∞, temos kλxkθ,q;K = µZ ∞ 0 ¡ t−θK(t, λx)¢q dt t ¶1/q = µZ ∞ 0 ¡ t−θ|λ| K(t, x)¢q dt t ¶1/q = µZ ∞ 0 |λ|q¡t−θK(t, x)¢q dt t ¶1/q = µ |λ|q Z ∞ 0 ¡ t−θK(t, x)¢qdt t ¶1/q = |λ| µZ ∞ 0 ¡ t−θK(t, x)¢q dt t ¶1/q = |λ| kxkθ,q;K e para q = ∞ temos kλxkθ,q;K = sup esst>0 ¡ t−θK(t, λx)¢ = sup ess t>0 ¡ t−θ|λ|K(t, x)¢ = |λ| sup esst>0 ¡ t−θK(t, x)¢ = |λ| kxk θ,q;K.
(iv) Sejam x, y ∈ Σ( ¯E). Para 1 ≤ q < ∞, temos kx + ykθ,q;K = µZ ∞ 0 ¡ t−θK(t, x + y)¢qdt t ¶1/q ≤ µZ ∞ 0 ¡ t−θK(t, x) + t−θK(t, y)¢qdt t ¶1/q ≤ µZ ∞ 0 ¡ t−θK(t, x)¢qdt t ¶1/q + µZ ∞ 0 ¡ t−θK(t, y)¢qdt t ¶1/q = kxkθ,q;K + kykθ,q;K,
onde a última desigualdade acima para o caso de kxkθ,q;K < ∞ e kykθ,q;K < ∞, é garantida
pela Desigualdade de Minkowiski, e quando kxkθ,q;K = ∞ ou kykθ,q;K = ∞, é trivial. Para
q = ∞, temos kx + ykθ,q;K = sup esst>0 ¡ t−θK(t, x + y)¢ ≤ sup esst>0 ¡ t−θK(t, x) + t−θK(t, y)¢ ≤ sup esst>0 ¡ t−θK(t, x)¢+ sup ess t>0 ¡ t−θK(t, y)¢ = kxkθ,q;K + kykθ,q;K.
Lema 1.2.14. Para x ∈ Σ( ¯E) e s ∈ (0, +∞), temos que K(s, x; ¯E) ≤ Cθ,qsθkxkθ,q;K
onde Cθ,q é uma constante positiva que depende somente de θ e q.
Demonstração. Lembremos que pelo Lema 1.2.7, para quaisquer t, s > 0 temos, min(1, t/s)K(s, x) ≤ K(t, x).
Como Φθ,q é não decrescente, aplicando Φθ,q preservamos a desigualdade acima, isto é,
Φθ,q(min(1, t/s))K(s, x) ≤ kxkθ,q;K. (1.26)
Notemos agora que, se s > 0, ϕ(t) é mensurável e não negativa, então Ψ(t) = ϕ(t/s) também é mensurável e não negativa. Tomando u = t/s temos que du = dt/s e assim para 1 ≤ q < ∞,
Φθ,q(ϕ(t/s)) = Φθ,q(Ψ(t)) = µZ ∞ 0 ¡ t−θΨ(t)¢qdt t ¶1/q = µZ ∞ 0 ¡ t−θϕ(t/s)¢q dt t ¶1/q = s−θ µZ ∞ 0 ¡ (t/s)−θϕ(t/s)¢q d(t/s) (t/s) ¶1/q = s−θΦ θ,q(ϕ(t)) .
Para q = ∞ também temos que,
Φθ,q(ϕ(t/s)) = Φθ,q(Ψ(t)) = sup esst>0 ¡ t−θΨ(t)¢ = sup esst>0 ¡ t−θϕ(t/s)¢= s−θsup ess t>0 ¡ (t/s)−θϕ(t/s)¢ = s−θsup ess(t/s)>0 ¡ (t/s)−θϕ(t/s)¢ = s−θΦ θ,q(ϕ(t)) .
Em particular, para ϕ(t) = min (1, t) temos
Φθ,q(min(1, t/s)) = s−θΦθ,q(min(1, t)) . (1.27)
Logo, de (1.26) concluímos que,
Então segue o resultado, pois Φθ,q(min(1, t)) é uma constante positiva que só depende de θ e q. De fato, se 1 ≤ q < ∞ temos, Φθ,q(min(1, t)) = µZ 1 0 (t−θt)qdt t + Z ∞ 1 t−θqdt t ¶1/q = µZ 1 0 tq(1−θ)−1dt + Z ∞ 1 t−θq−1dt ¶1/q .
Como (q(1 − θ) − 1) 6= −1 e (−θq − 1) 6= −1 segue que, Φθ,q(min(1, t)) = à tq(1−θ) q(1 − θ) ¯ ¯ ¯ ¯ 1 0 + lim N →∞ Z N 1 t−θq−1dt !1/q = à 1 q(1 − θ) + limN →∞ t−θq −θq ¯ ¯ ¯ ¯ N 1 !1/q = µ 1 q(1 − θ) + limN →∞ µ N−θq −θq + 1 θq ¶¶1/q = µ 1 q(1 − θ) + 1 θq ¶1/q = 1 (qθ(1 − θ))1/q. (1.28)
Consideremos agora q = ∞. Se 0 < t < 1, então t−θmin(1, t) = t1−θ < 1. Se t = 1, então
t−θmin(1, t) = 1. Se t > 1, então t−θmin(1, t) = 1/tθ < 1. Logo
Φθ,q(min(1, t)) = sup esst>0
¡ t−θmin(1, t)¢= 1. Proposição 1.2.15. O conjunto Kθ,q ¡¯ E¢= {x ∈ Σ( ¯E) : kxkθ,q;K < ∞} é um espaço de Banach com a norma k·kθ,q;K.
Demonstração. Segue do Lema 1.2.13 que o conjunto Kθ,q
¡¯
E¢ é um espaço vetorial normado com a norma k·kθ,q;K. Demonstraremos que ele é completo na métrica induzida por esta norma. Para isto, consideremos uma seqüência (xn)n∈N⊂ Kθ,q
¡¯
E¢ tal que X
n∈N
kxnkθ,q;K < ∞.
Pelo Lema 1.2.14 temos K (1, xn) ≤ C kxnkθ,q;K e assim
X
n∈N
Mas pelo Teorema 1.2.5, Σ( ¯E) é Banach, ou sejaPn∈Nxnconverge em Σ( ¯E) para um elemento
x. Agora, observemos que,
° ° ° ° °x − N X n=1 xn ° ° ° ° ° θ,q;K = Φθ,q à K à t, x − N X n=1 xn !! = Φθ,q à K à t,X n>N xn !! ≤ Φθ,q à X n>N K (t, xn) ! ≤ X n>N Φθ,q(K (t, xn)) = X n>N kxnkθ,q;K. Portanto, kxkθ,q;K ≤ ° ° ° ° °x − N X n=1 xn ° ° ° ° ° θ,q;K + ° ° ° ° ° N X n=1 xn ° ° ° ° ° θ,q;K ≤ X n>N kxnkθ,q;K + ° ° ° ° ° N X n=1 xn ° ° ° ° ° θ,q;K < ∞.
Além disso, dado ² > 0, existe N0 ∈ N tal que para todo N ≥ N0 temos
P n>Nkxnkθ,q;K < ² e portanto ° ° ° ° °x − N X n=1 xn ° ° ° ° ° θ,q;K ≤ X n>N kxnkθ,q;K < ².
Logo, segue que x ∈ Kθ,q
¡¯ E¢ e Pn∈Nxn converge para x em Kθ,q ¡¯ E¢. Definição 1.2.16. O conjunto Kθ,q ¡¯
E¢ da proposição anterior é chamado espaço de
interpo-lação do par ¯E pelo K-método.
Teorema 1.2.17. Sejam (E0, E1) e (F0, F1) pares de interpolação e T uma aplicação linear
de E0+ E1 em F0+ F1 tal que Tj = T |Ej∈ L (Ej, Fj), com norma kTjkEj,Fj = Mj, j = 0, 1.
Então, se 0 < θ < 1 e 1 ≤ q ≤ ∞, T ∈ L ³ (E0, E1)θ,q;K, (F0, F1)θ,q;K ´ e a norma é limitada por M01−θMθ 1.
Demonstração. Seja x ∈ E0 + E1. Para cada decomposição x = x0 + x1 corresponde uma
decompósição T (x) = T (x0) + T (x1) e portanto K (t, T (x)) ≤ kT (x0)kF0 + t kT (x1)kF1 ≤ M0kx0kE0 + tM1kx1kE1 = M0 ¡ kx0kE0 + tM1M0−1kx1kE1 ¢ . Conseqüentemente K (t, T (x)) ≤ M0K ¡ tM1M0−1, x ¢
e Φθ,q(K (t, T (x))) ≤ M0Φθ,q ¡ K¡tM1M0−1, x ¢¢ kT (x)kF¯θ,q;K ≤ M0 ¡ M1M0−1 ¢θ kxkE¯θ,q;K = M0M1θM0−θkxkE¯θ,q;K = M1−θ 0 M1θkxkE¯θ,q;K.
Notação 1.2.18. Sejam 0 < θ < 1, 1 < r < ∞, 1 ≤ q ≤ ∞. Denotaremos por λθ,r,q o espaço
de todas as seqüências (αk)k∈Z, tal que
k(αk)kλθ,r,q = ¡P k∈Z ¡ r−kθ|α k| ¢q¢1/q , 1 ≤ q < ∞, sup k∈Z ¡ r−kθ|α k| ¢ , q = ∞. é finito.
Observação 1.2.19. É fácil ver que a função (αk)k∈Z ∈ λθ,r,q 7−→ k(αk)kλθ,r,q ∈ R tem as propriedades de uma norma, sendo que a desigualdade triangular é obtida utilizando a De-sigualdade de Minkowiski para series (ver Apêndice) junto com a deDe-sigualdade triangular da função módulo. Assim ¡λθ,r,q, k·k
λθ,r,q ¢
é um espaço vetorial normado.
Lema 1.2.20. Seja ¯E = (E0, E1) um par de interpolação e seja x ∈ Σ( ¯E). Então, x ∈ Kθ,q
¡¯ E¢ se e somente se ¡K¡rk, x¢¢ k∈Z ∈ λ θ,r,q. Além disso, r−θ(ln r)1/q°°¡K¡rk, x¢¢°° λθ,r,q ≤ kxkθ,q;K ≤ r (ln r) 1/q°°¡K¡rk, x¢¢°° λθ,r,q (1.29)
Demonstração. Sejam rk ≤ t ≤ rk+1 e 1 ≤ q < ∞. Pelo Lema 1.2.7 temos,
K¡rk, x¢ ≤ K (t, x) ≤ rK¡rk, x¢,
e como r−θr−kθ ≤ t−θ ≤ r−kθ, segue que
¡
r−θr−kθK¡rk, x¢¢q ≤¡t−θK (t, x)¢q≤¡rr−kθK¡rk, x¢¢q.
Integrando agora sobre o intervalo £rk, rk+1¤, com respeito a medida dt/t, obtemos
r−θq(ln r)¡r−kθK¡rk, x¢¢q ≤ Z rk+1 rk ¡ t−θK (t, x)¢q dt t ≤ r q(ln r)¡r−kθK¡rk, x¢¢q
e em seguida, fazendo a soma sobre k ∈ Z obtemos r−θq(ln r)X k∈Z ¡ r−kθK¡rk, x¢¢q≤ Z ∞ 0 ¡ t−θK (t, x)¢q dt t ≤ r q(ln r)X k∈Z ¡ r−kθK¡rk, x¢¢q.
Finalmente, elevando a potência 1/q obtemos (1.29). Analogamente podemos obter o resultado para q = ∞.
Definição 1.2.21. Definimos o espaço de interpolação do par ¯E pelo J-método como sendo o
conjunto Jθ,q
¡¯
E¢, de todo x ∈ Σ( ¯E) que pode ser representado por x =
Z ∞
0
u(t)dt
t , (1.30)
onde u é uma função fortemente mensurável tomando valores em ∆( ¯E), e a convergência da
integral está sendo considerada em Σ( ¯E) e
Φθ,q(J (t, u (t))) < ∞. (1.31)
Observação 1.2.22. Dados 0 < t1 < t2 < ∞, e u (t) fortemente mensurável, tomando valores
em ∆( ¯E) e tal que vale (1.31), então
µZ t2 t1 u(t)dt t ¶ ∈ ∆( ¯E). De fato, Z t2 t1 ku(t)k∆( ¯E) dt t ≤ C µZ t2 t1 ku(t)kq∆( ¯E)dt t ¶1/q .
Agora, com 0 < θ < 1 temos t−θ
2 ≤ t−θ ≤ t−θ1 e assim 1 ≤ tθq2 t−θq ≤ (t2/t1)θq. Logo pelo Lema
1.2.8 Z t2 t1 ku(t)k∆( ¯E)dt t ≤ Ct θ 2 µZ t2 t1 ³ t−θku(t)k ∆( ¯E) ´q dt t ¶1/q ≤ Ctθ 2 µZ t2 t1 ¡ t−θmax (1, 1/t) J (t, u (t))¢q dt t ¶1/q ≤ Ctθ2max (1, 1/t1) µZ t2 t1 ¡ t−θJ (t, u (t))¢q dt t ¶1/q ≤ C0 µZ ∞ 0 ¡ t−θJ (t, u (t))¢qdt t ¶1/q < ∞, ou seja, ³Rt1t2u(t)dt t ´ ∈ ∆( ¯E).
Definição 1.2.23. Para x ∈ ∆( ¯E) definimos kxkθ,q;J = inf
u Φθ,q(J (t, u (t))) ,
onde o ínfimo é tomado sobre toda função u : (0, ∞) −→ ∆( ¯E) fortemente mensurável tal que
valem (1.30) e (1.31).
Teorema 1.2.24. Sejam (E0, E1) e (F0, F1) pares de interpolação e T uma aplicação linear de
Σ( ¯E) em Σ¡F¯¢ tal que Tj = T |Ej∈ L (Ej, Fj), com norma kTjkEj,Fj = Mj, j = 0, 1. Então, se 0 < θ < 1 e 1 ≤ q ≤ ∞, T ∈ L
³
(E0, E1)θ,q;J, (F0, F1)θ,q;J
´
e a norma é limitada por M01−θMθ
1.
Demonstração. Para x ∈ Jθ,q
¡¯
E¢, temos, desde que T : Σ( ¯E) −→ Σ¡F¯¢ seja linear e limitada, que T (u(t)) é mensurável,
T (x) = T µZ ∞ 0 u(t)dt t ¶ = Z ∞ 0 T (u(t))dt t ¡ convergência em Σ¡F¯¢¢.
Assim, com esta u,
J (t, T (u(t))) = max¡kT (u(t))kF0, t kT (u(t))kF1¢
≤ M0max ¡ ku(t)kE0, tM1M0−1ku(t)kE1 ¢ = M0J ¡ tM1M0−1, u(t) ¢ e obtemos, pelas propriedades de Φθ,q,
Φθ,q(J (t, T (u(t)))) ≤ M01−θM1θΦθ,q(J (t, u(t))) .
Tomando o ínfimo sobre u, obtemos
kT (x)k(F0,F1)
θ,q;J ≤ M
1−θ
0 M1θkxk(E0,E1)θ,q;J.
Lema 1.2.25. Seja ¯E = (E0, E1) um par de interpolação e seja x ∈ Σ( ¯E). Então, x ∈ Jθ,q
¡¯
E¢ se e somente se existem uk ∈ ∆( ¯E), k ∈ Z, com
x =X k∈Z uk ¡ convergência em Σ( ¯E)¢ (1.32) tal que ¡J¡rk, u k ¢¢ k∈Z ∈ λ θ,r,q. Além disso, (ln r)−1+1q r−θinf (uk) ° °¡J¡rk, u k ¢¢°° λθ,r,q ≤ kxkθ,q;J ≤ r (ln r) −1+1 q inf (uk) ° °¡J¡rk, u k ¢¢°° λθ,r,q . (1.33)
Demonstração. Suponhamos que x ∈ Jθ,q
¡¯
E¢ e seja x =R0∞u (t)dt
t uma representação de x
tal que Φθ,q(J (t, u (t))) < ∞. Escolhendo uk=
Rrk+1
rk u (t)dtt, k ∈ Z, segue da Observação 1.2.22 que cada uk ∈ ∆( ¯E). É claro que
x =X
k∈Z
uk,
na norma de Σ( ¯E). De fato, como R0∞u (t)dt
t converge para x na norma de Σ( ¯E), então sn =
Rrn+1
r−nu (t)dtt −→ x em Σ( ¯E), considerando agora Sn=
P
|k|≤nuk a seqüência das soma parciais
de uk vimos que Sn = sn, então Sn −→ x em Σ( ¯E). Além disso, temos
J¡rk, u k ¢ = max ð° ° ° ° Z rk+1 rk u (t)dt t ° ° ° ° ° E0 , rk ° ° ° ° ° Z rk+1 rk u (t)dt t ° ° ° ° ° E1 ! ≤ max ÃZ rk+1 rk ku (t)kE0 dt t , r k Z rk+1 rk ku (t)kE1 dt t ! ≤ Z rk+1 rk max¡ku (t)kE0, rkku (t)k E1 ¢ dt t ≤ Z rk+1 rk J¡rk, u (t)¢ dt t .
Agora, usando o Lema 1.2.8, temos J¡rk, u(t)¢ ≤ max¡1, rk/t¢J (t, u(t)) = J (t, u(t)) para
todo t ∈ [rk, rk+1] e logo J¡rk, uk ¢ ≤ Z rk+1 rk J (t, u (t))dt t . Assim, ¡ r−kθJ¡rk, u k ¢¢q ≤ Ã r−kθ Z rk+1 rk J (t, u (t))dt t !q = Ã rθr−θ(k+1) Z rk+1 rk J (t, u (t))dt t !q = rθq ÃZ rk+1 rk r−θ(k+1)J (t, u (t))dt t !q .
com p = q/(q − 1) segue que ¡ r−kθJ¡rk, uk ¢¢q ≤ rθq ÃZ rk+1 rk t−θJ (t, u (t))dt t !q = rθq ÃZ rk+1 rk µ t−θJ (t, u (t)) 1 t1/q ¶µ 1 t1−1/q ¶ dt !q ≤ rθq ÃZ rk+1 rk µ t−θJ (t, u (t)) 1 t1/q ¶q dt !1/qÃZ rk+1 rk µ 1 t1−1/q ¶q/(q−1) dt !1−1/q q = rθq ÃZ rk+1 rk ¡ t−θJ (t, u (t))¢q dt t !ÃZ rk+1 rk dt t !q−1 = rθq(ln r)q−1 Z rk+1 rk ¡ t−θJ (t, u (t))¢qdt t .
Portanto, fazendo a soma em k ∈ Z e elevando ambos os lados da desigualdade à potência 1/q obtemos, ° °¡J¡rk, u k ¢¢°° λθ,r,q ≤ (ln r) 1−1q rθΦ θ,q(J (t, u(t))) < ∞ e assim¡J¡rk, u k ¢¢
k∈Z ∈ λθ,r,q. Além disso, tomando o ínfimo sobre toda u satisfazendo (1.30),
em ambos os lados da desigualdade acima, obtemos (ln r)−1+1q r−θinf u ° ° ° ° ° Ã J Ã rk, Z rk+1 rk u (t)dt t !!°° ° ° ° λθ,r,q ≤ kxkθ,q;J. (1.34)
Reciprocamente, suponhamos que x = Pk∈Zuk com (uk)k∈Z ⊂ ∆( ¯E), e que
¡ J¡rk, u k ¢¢ ∈ λθ,r,q. Escolhendo u(t) = u k/ln r, rk≤ t < rk+1 temos, x =X k∈Z uk = X k∈Z Ã uk ln r Z rk+1 rk dt t ! =X k∈Z ÃZ rk+1 rk uk ln r dt t ! = X k∈Z ÃZ rk+1 rk u(t)dt t ! = Z ∞ 0 u(t)dt t ,
onde a convergência ocorre em Σ( ¯E). Se rk≤ t < rk+1 então segue do Lema 1.2.8 que
J (t, u(t)) ≤ J¡rk+1, u(t)¢≤ max
µ 1,rk+1 rk ¶ J¡rk, u(t)¢= r (ln r)−1J¡rk, u k ¢ e assim, observando que t−θ≤ r−kθ temos
Z rk+1 rk ¡ t−θJ (t, u(t))¢qdt t ≤ r q(ln r)−qJ¡rk, u k ¢qZ r k+1 rk t−θqdt t ≤ r q(ln r)1−q¡r−kθJ¡rk, u k ¢¢q .
Portanto, fazendo a soma em k ∈ Z e elevando à potência 1/q, segue que Φθ,q(J (t, u(t))) ≤ r (ln r)−1+ 1 q °°J¡rk, u k ¢°° λθ,r,q < ∞ (1.35) e assim x ∈ Jθ,q ¡¯
E¢. Além disso, tomando o ínfimo sobre toda seqüência (uk) satisfazendo
(1.32) e tal que ¡J¡rk, u k
¢¢
k∈Z ∈ λθ,r,q, em ambos os lados da desigualdade acima obtemos,
kxkθ,q;J ≤ r (ln r)−1+1q inf (uk) ° °¡J¡rk, u k ¢¢°° λθ,r,q. (1.36)
Logo, por (1.34) e (1.36) temos (1.33).
Proposição 1.2.26. Se 1 ≤ q < ∞ então ∆( ¯E) é denso em Jθ,q
¡¯
E¢.
Demonstração. Seja x ∈ Jθ,q
¡¯
E¢, então pelo Lema 1.2.25, x pode ser representado por x = P
k∈Zuk(convergência em Σ( ¯E)), onde uk∈ ∆( ¯E) para todo k ∈ Z e
¡P k∈Z ¡ r−kθJ(rk, u k) ¢q¢1/q < ∞. Então, yN = x − P |k|≤Nuk∈ Jθ,q ¡¯ E¢ e yN = P
k∈Zvk (convergência em Σ( ¯E)) onde
vk = uk, |k| > N, 0, |k| ≤ N.
Assim pelo Lema 1.2.25 e Proposição 1.2.4 segue que ° ° ° ° ° °x − X |k|≤N uk ° ° ° ° ° ° θ,q;J = kyNkθ,q;J ≤ C k(vk)kλθ,r,q = C Ã X k∈Z ¡ r−kθJ¡rk, vk ¢¢q!1/q = C X |k|>N ¡ r−kθJ¡rk, uk ¢¢q 1/q e portanto lim N →∞ ° ° ° ° ° °x − X |k|≤N uk ° ° ° ° ° ° θ,q;J = 0.
1.3
Teorema de Equivalência
Lema 1.3.1 (Lema Fundamental da Teoria de Interpolação). Suponhamos que min (1, 1/t) K(t, x) −→ 0 com t −→ 0 ou t −→ ∞.
Então, existe uma representação
x =X k∈Z uk ¡ convergência em Σ( ¯E)¢ de x, tal que J¡2k, u k ¢ ≤ 4K¡2k, x¢.
Demonstração. Dado um inteiro k, por (1.21), existe uma decomposição x = x0
k+ x1k, tal que ° °x0 k ° ° E0 + 2 k°°x1 k ° ° E1 ≤ µ 1 + 1 3 ¶ K¡2k, x¢. (1.37)
Assim, usando a hipótese 0 ≤ lim k→−∞ ° °x0 k ° ° E0 + limk→−∞2 k°°x1 k ° ° E1 ≤ µ 1 + 1 3 ¶ lim k→−∞K ¡ 2k, x¢ = µ 1 + 1 3 ¶ lim k→−∞min µ 1, 1 2k ¶ K¡2k, x¢ = 0 e portanto, lim k→−∞ ° °x0 k ° ° E0 = 0. (1.38) Além disso, 0 ≤ lim k→+∞ 1 2k ° °x0 k ° ° E0 + limk→+∞ ° °x1 k ° ° E1 ≤ µ 1 + 1 3 ¶ lim k→+∞ 1 2kK ¡ 2k, x¢ = µ 1 + 1 3 ¶ lim k→+∞ µ min µ 1, 1 2k ¶ K¡2k, x¢ ¶ = 0 e portanto, lim k→+∞ ° °x1 k ° ° E1 = 0. (1.39)
Escolhemos uk = x0k−x0k−1 = x1k−1−x1k, assim temos que uk∈ ∆( ¯E) e para quaisquer M, N ∈ N
segue que x − M X k=−N uk= x − x0M + x0−N −1 = x0−N −1+ x1M.
Portanto por (1.20) ° ° ° ° °x − M X k=−N uk ° ° ° ° ° Σ( ¯E) ≤°°x0 −N −1 ° ° E0 + ° °x1 M ° ° E1.
Fazendo N → ∞ e M → ∞ em ambos os membros da desigualdade acima e usando (1.38) e (1.39), obtemos x =X k∈Z uk ¡ convergência em Σ( ¯E)¢.
Além disso, temos por (1.37) e pelo Lema 1.2.7 que
J¡2k, u k ¢ = max¡kukkE0, 2kkukkE1 ¢ ≤ max³°°x0k°°E0 +°°x0k−1°°E0, 2k³°°x1k−1°°E1 +°°x1k°°E1 ´´ ≤ ³°°x0 k ° ° E0 + 2 k°°x1 k ° ° E1 ´ +°°x0 k−1 ° ° E0 + 2 k°°x1 k−1 ° ° E1 ≤ µ 1 + 1 3 ¶ K¡2k, x¢+ 2°°x0k−1°°E0 + 2k°°x1k−1°°E1 ≤ µ 1 + 1 3 ¶ K¡2k, x¢+ 2 µ 1 + 1 3 ¶ K¡2k−1, x¢ ≤ 3 µ 1 + 1 3 ¶ K¡2k, x¢= 4K¡2k, x¢.
Corolário 1.3.2. Seja x ∈ Σ( ¯E) um elemento que satisfaz
lim
t→0K(t, x) = 0 e t→∞lim t
−1K(t, x) = 0.
Então, existe uma função fortemente mensurável u = u(t), com u(t) ∈ ∆( ¯E), satisfazendo x = Z ∞ 0 u(t)dt t ¡ convergência em Σ( ¯E)¢ (1.40)
e para todo t > 0, J (t, u(t)) ≤ 8 (ln 2)−1K (t, x).
Demonstração. Sejam (x0
k)k∈Z, (x1k)k∈Z e (uk)k∈Z as seqüências obtidas na demonstração do
Lema 1.3.1. Agora, para 2k−1 ≤ t < 2k, definimos
u(t) = (ln 2)−1uk= (ln 2)−1 ¡ x0 k− x0k−1 ¢ = (ln 2)−1¡x1 k−1− x1k ¢ . (1.41)
É claro que u = u(t) é uma função fortemente mensurável, toma valores em ∆( ¯E) e
Z 2N 2−N u(t)dt t = N X k=−N +1 uk= x − x0−N − x1N.