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Desnaturalização e estranhamento: experiência do PIBID em Sociologia. Anabelly Brederodes Cássio Tavares

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Academic year: 2021

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Desnaturalização e estranhamento: experiência do PIBID em Sociologia

Anabelly Brederodes Cássio Tavares

Resumo

O trabalho tem como objetivo refletir sobre a prática de ensino e aprendizagem, como um processo de desnaturalização e estranhamento dos fenômenos sociais proporcionado pelo estudo da Sociologia no ensino médio. O estudo foi desenvolvido a partir da análise das bases curriculares PCN e OCN e da observação participante dos alunos do PIBID em uma Escola da Região Metropolitana do Recife (RMR), tendo como suporte, para análise e reflexão da experiência, os relatos etnográficos. Os planos de aula construídos pelos docentes e bolsistas garantiram a participação qualitativa dos discentes através da utilização de instrumentos pedagógicos capazes de suscitar a reflexão sobre seus lugares de pertencimento, enquanto jovens do subúrbio na RMR. Tal vivência, portanto, possibilitou a apropriação dos temas e conceitos das ciências sociais de forma mais significativa para os estudantes.

Palavras Chaves:

Ensino de Sociologia; desnaturalização e PIBID.

Estranhamento e Desnaturalização nos Parâmetros Curriculares

A inserção da Sociologia no ensino médio brasileiro a partir de 2008 e sua respectiva intermitência é um desafio para consolidação da disciplina na organização curricular brasileira. Na tentativa de auxiliar professores e unidades escolares, as Orientações Curriculares do Ensino Médio, os Parâmetros Curriculares Nacionais e os Parâmetros para Educação Básica de Pernambuco foram produzidos como norteadores na elaboração dos planos de aula e práticas pedagógicas.

O PCN tem como proposta articular as disciplinas das Ciências Sociais, diferente da OCN que tem por foco os conteúdos da Sociologia. Desse modo, o PCN ao destrinchar sobre os conhecimentos de Sociologia, Antropologia e Ciências políticas divide seu texto em três tópicos: (1) por que ensinar Ciências Sociais? (2) o que e como ensinar em Ciências Sociais? e (3) competências e habilidades a serem desenvolvidas em Sociologia, Antropologia e Ciência Política.

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No primeiro momento, ao justificar o por que ensinar Ciências Sociais se retoma a história da Sociologia e sua importância na compreensão nas transformações sociais no panorama econômico, político e social brasileiro. Posteriormente, articula o nascimento das Ciências Sociais com seus principais fundadores (Karl Marx, Durkheim e Weber) e disserta sobre seus conceitos e teorias. Como avaliado por Tomazi (2007) o PCN ao contemplar de forma teórica a necessidade do ensino de Sociologia no ensino médio, dirige seu conteúdo ao público especializado e não problematiza a constituição da disciplina no corpo curricular no ensino secundário. No segundo ponto, ao tentar definir os conteúdos e como ensinar Sociologia delimita os conceitos e teorias a serem trabalhadas e não discute sobre a mediação pedagógica em sala de aula. Não há relação entre o saber prático e teórico e só existem indicações limitadas (cidadania, trabalho, cultura, estranhamento) sobre os assuntos a serem trabalhados em sala de aula.

Na OCN, no entanto, pretende-se fornecer elementos, um ponto de partida para prática autônoma do docente. No inicio são contextualizadas a entrada da Sociologia no ensino médio, as dificuldades geradas por suas intermitências e os recentes trabalhos de pesquisa sobre ensino de Sociologia. Os fundamentos epistemológicos, centrais para o despertar do pensamento sociológico tem como norte o estranhamento e desnaturalização do senso comum, proporcionado por reflexões dos temas, conceitos e teorias das Ciências Sociais.

Os recursos pedagógicos capazes de despertar a capacidade crítica e reflexiva da juventude, indicados pela OCN, são as músicas, vídeos, imagens que aliados ao suporte conceitual da Sociologia vão tentar relacionar a vivência dos discentes com os assuntos trabalhados.

ILEIZI (2007) identifica, portanto, que além dos apontamentos sobre a importância da desnaturalização e estranhamento proporcionado pelo ensino de sociologia nos estudos dos fenômenos sociais, devemos interpretar, compreender e analisar o processo de transposição didática e intenções educacionais da sociologia no ensino brasileiro. Assim, o desenvolvimento das identidades pedagógicas construídas na relação entre as ciências de referências (contextualização), com o Estado (recontextualização), nas escolas e nas Faculdades é determinante para compreender os desafios teóricos e práticos da inserção da Sociologia no dia a dia de professores e alunos.

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Desse modo, apesar da aposta epistemológica dos documentos oficiais darem prioridade ao estranhamento e desnaturalização, é essencial refletir sobre a recontextualização desse discurso oficial na elaboração dos planos de aula e os desafios metodológicos enfrentados ,com os docentes na prática pedagógica.

Contexto prático do Ensino de Sociologia em Recife

No intuito de analisar os impasses e dilemas enfrentados, no PIBID/ sociologia e tomando como base os documentos supracitados, no processo de construção dos planos de aula e da prática da disciplina, a proposta aqui é refletir sobre as metodologias construídas e dos resultados em uma escola da Região Metropolitana do Recife.

Para que os temas e conceitos abordados nas salas de aula conseguissem tocar os estudantes, fizemos com que eles se vissem dentro do que estava sendo abordado, para que, através disso, eles pudessem desnaturalizar as concepções construídas em suas socializações para a devida apropriação das categorias presentes no pensamento sociológico.

Utilizou-se para tanto uma visão mais próxima do discente, visto que causando um sentimento de pertencimento e identificação com o que está sendo abordado, dá-se significados à aprendizagem, pelo fato da escola atender, em sua maioria, ao público do subúrbio, mostrar onde eles se encaixam no debate foi fundamental para problematização dos conceitos em sala de aula.

Foi apresentado o filme “Avenida Brasília Formosa, de Gabriel Mascaro (Brasil, 2010)”, no intuito de mostrar as discrepâncias sociais, bem como, levantar discussões acerca do lugar onde se vive e os conceitos de comunidade x favela, a partir dos diferentes pontos de vista que foram suscitados com as problemáticas expostas no filme exibido, que contém a reestruturação do bairro de Brasília Teimosa, localizado na RMR, e a relocação dos moradores das palafitas para conjuntos habitacionais, onde as músicas presentes no filme, os anseios e o cotidiano dos personagens participantes fazem parte da rotina dos estudantes.

De modo semelhante foi pensado a abordagem sobre os diferentes grupos sociais, onde percebemos nas turmas, na divisão dos alunos, que os grupos semelhantes se sentavam juntos, partindo deste ponto apresentamos o conceito de grupos sociais e convidamos os alunos a se apresentarem de acordo com seu grupo, com sua identificação, inculcando a reflexão sobre os sentimentos de pertencimento e estranhamento de acordo com cada posição apresentada na discussão.

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Com intuito de redirecionar a proposta metodológica, o livro de sociologia é utilizado como um dos instrumentos na prática disciplinar, o que não impõe um limite a ele, as discussões as leituras de imagens e artigos de jornais e revistas passam a tomar corpo no dia a dia das aulas de sociologia. Uma das atividades dinâmicas tiveram como proposta: (a) Identificar a diversidade na vivência das relações sociais e sexuais (b) Identificar e problematizar as possíveis situações de preconceitos que os jovens submetem uns aos outros (c) Problematizar como nas nossas socializações construímos nossos preconceitos e terminamos por discriminar grupos ou pessoas. Como direcionado na OCN, utilizamos a temática da desigualdade social por gênero, racial e classe para articular o conceito de socialização.

O passo a passo da metodologia consistiu em: (1) todos(as) alunos(as) tinham um cartão com uma característica, física, sexual ou de gênero, tal como mulher negra, já foi preso, sou homo afetivo mas ninguém sabe, etc (2) andando pela sala cada um iria tratar o colega de acordo com as características expostas nas costas(3) foi pedido para explicitarem o que sentiram ao serem tratados por causa da característica(4) trabalhamos o conceito de socialização, discriminação e preconceito (5) para finalizar lemos em grupo o artigo da carta capital “ Quando o Brasil vai reagir contra a homofobia?” com a finalidade prática de entender como nas socializações na família, na escola, com os(as) amigas reproduzimos atitudes preconceituosas e discriminatórias que podem acarretar crimes de ódio.

Os planejamentos articulados com o grupo do PIBID/ sociologia possibilitaram a utilização prática com a participação qualitativa dos estudantes a partir das metodologias pensadas. De modo que, com a utilização de outros recursos didáticos, como o filme “Avenida Brasília Formosa, de Gabriel Mascaro (Brasil, 2010)”, a problematização dos diferentes grupos sociais e a dinâmica realizada em sala, foi possível obter o envolvimento da turma com o que foi abordado.

O filme, que causou uma grande identificação com as histórias de vida dos discentes, foi propício para um debate construtivo e significativo, onde houve a problematização da distribuição urbana da cidade, o conceito de comunidade x favela, expondo o cunho político da utilização deste termo naturalizado entre os moradores de periferia e o pensar sobre a realocação de uma favela de palafitas para um conjunto habitacional, um favela de prédios.

As diferentes posições expostas após a apresentação conceito de grupos sociais, a partir do debate, puderam mostrar para nós (bolsistas do PIBID e o professor da escola

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em questão) e para a turma, a diversidade cultural existente entre eles e a bagagem de conhecimentos que cada um trouxe diante do grupo que se afirmavam.

A problematização dessas categorias foi importante para o distanciamento dos discentes para com o seu grupo de pertencimento, onde eles conseguiram identificar o porquê das roupas diferentes (os que pertenciam ao grupo de hip-hop com roupas mais folgadas, os roqueiros com mais preto em seu visual, etc.), do modo de falar, entre outras diferenças existentes que são utilizadas como forma de identificação. Foi pedido para que, de acordo com grupo, eles pudessem expor para a turma os ideais e as atividades que eles realizam em função de participar de tal grupo. Um estudante que faz parte da cultura hip-hop foi a frente da sala e explicou para os demais os elementos fundamentais do movimento e falou sobre os papéis sociais desempenhados pelos membros do grupo e a centralidade da dança para o hip-hop. Como demonstração de suas atividades, fez uma pequena apresentação para os colegas do break.

Diante das observações e intervenções, acreditamos ser possível desnaturalizar através do estranhamento, modos de vida e problemáticas cotidianas com o uso teórico e conceitual da Sociologia. Como apontamos, tivemos dificuldades e resistências interativas com os discentes mas a tríade tema, conceito e teoria bem articulada com os recursos didáticos tornou possível a problematização e desnaturalização dos alunos. Nossa entrada no campo foi lenta e gradual porque o universo escolar por trabalhar com subjetividades e perspectivas de mundos diferentes precisou de paciência e cuidado. O auxílio das reuniões semanais do PIBID na construção dos planos de aula e projetos interdisciplinares foi fundamental para debatermos sobre recursos didáticos como filmes e música, na tentativa de aproximar os conceitos e teorias da Sociologia da realidade dos alunos.

Assim a prática pedagógica partindo do referencial dos próprios alunos e baseado em seu cotidiano permitiu que os discentes se colocassem como parte ativa do processo de ensino-aprendizagem. Tal como trabalho na OCN o planejamento das aulas foram construídos partindo de temáticas, com articulação de conceitos das ciências sociais. Como os conceitos de comunidade x favela, os diferentes grupos sociais, etc. Podemos apontar, por conseguinte que através do pensamento sociológico, foi possível interligar as relações micro(local) com os problemas macrossociais(globais). Construir a prática educativa através do arcabouço teórico- prático despertou a busca pela compreensão dos conceitos pela brincadeira, de forma divertida, tal como sugerido na OCN.

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Referências

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