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As cédulas de crédito rural e a função social do crédito rural

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA AMILDE ADILIO CARDOSO

AS CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL E A FUNÇÃO SOCIAL DO CRÉDITO RURAL

Tubarão 2011

(2)

AMILDE ADILIO CARDOSO

AS CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL E A FUNÇÃO DO CRÉDITO RURAL

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de Pesquisa: justiça e sociedade

Orientadora: Prof. Keila C. Alberton Esp.

Tubarão 2011

(3)

AMILDE ADILIO CARDOSO

AS CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL E A FUNÇÃO DO CRÉDITO RURAL

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Tubarão, __ de _____ de 2011.

______________________________________________ Prof. e orientadora Keila C. Alberton, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_______________________________________________ Prof. Léo Rosa de Andrade, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

________________________________________________ Prof. Lester Camargo, Msc.

(4)

À minha esposa Débora pela confiança depositada que me fez recomeçar, ao meu filho Antony que, apesar da pouca idade, foi compreensivo nas horas em que estive ausente e à minha filha Amanda, para que sirva de exemplo de perseverança. A eles declaro meu amor, e dedico todo o meu esforço.

(5)

“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras”. Friedrich Nietzsche

(6)

RESUMO

O objetivo primordial do presente trabalho é analisar a função do crédito rural a partir das cédulas de crédito rural instituídas pelo Decreto-Lei 167 de 14 de fevereiro de 1967, estabelecendo sua relação com os princípios que regem os contratos no Código Civil. O enfoque será sobre a área da normatização do crédito rural e sua função na política agrícola. No desenvolvimento do presente trabalho e para atingir seus objetivos utilizamos o método dedutivo, porquanto a pesquisa partiu de noções gerais acerca do tema para posteriormente adentrar com particularidade no objeto de estudo, utilizando-se de pesquisas bibliográficas e documentais. Com a finalidade de facilitar a compreensão do assunto abordado no tema, o trabalho foi estruturado da seguinte forma: realizamos uma breve análise do conceito e elementos que constituem o negócio jurídico e analisamos os princípios que norteiam o contrato. Na seqüência analisamos os títulos de crédito, discorrendo sobre as cédulas de crédito rural instituídas pelo Decreto-Lei 167/67, abordando suas características e enfatizando sua importância para a expansão das linhas de crédito rural com garantias jurídicas para tomadores e financiadores. Finalizamos demonstrando como a política agrícola e colocada em prática através dos ordenamentos jurídicos e da aplicação dos recursos do crédito rural nas atividades estabelecidas na lei, seguindo os ditames da justiça e do desenvolvimento econômico e social. Utilizamos como bibliografia material de diversas áreas do direito com a finalidade de chegarmos a um entendimento geral do crédito rural para, só assim, entendermos qual sua função na política agrícola brasileira.

Palavras-chaves: Títulos de crédito rural. Crédito rural. Direito Agrário. Agricultura e Estado.

(7)

ABSTRACT

The primary objective of this study and analyze the role of rural credit from the rural credit bills introduced by Decree-Law 167 of February 14, 1967, establishing its relationship with the principles governing contracts in the Civil Code. The focus will be on the field of standardization of rural credit and their role in agricultural policy. In the development of this work and to achieve your goals use the deductive method, because the research came from general notions on the subject to later enter with particularity the object of study, using bibliographical and documentary research. In order to facilitate understanding of the subject matter addressed in the work was structured as follows: we provide a brief analysis of the concept and elements that constitute the legal business and analyze the principles that govern the contract. Subsequently we analyze the securities, focusing on the rural credit bills introduced by Decree-Law 167/67, addressing characteristics and emphasizing its importance to the expansion of rural credit lines with legal safeguards for borrowers and lenders. We conclude by demonstrating how agricultural policy and put into practice through legal and application of funds for rural credit in the activities established in the law, following the dictates of justice and economic and social development. We use literature as material from various areas of law in order to reach a general understanding of rural credit, the only way to understand what their role in the Brazilian agricultural policy

.

(8)

LISTA DE SIGLAS

ART. - Artigo

ATER - Assistência Técnica e Extensão Rural BACEN - Banco Central do Brasil

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento CC - Código Civil

CMN - Conselho Monetário Nacional

CNPA - Conselho Nacional de Política Agrícola

CREAI - Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MARA - Ministério da Agricultura e Reforma Agrária MCR - Manual de Crédito Rural

MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário PAA - Programa de Aquisição de Alimentos

PGPAF - Programa de Garantia Preços para a Agricultura Familiar

PGPM-AF - Política de Garantia de Preços Mínimos para a Agricultura Familiar PROAGRO - Programa de Garantia da Atividade Agropecuária

PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PROVAP - Programa de Valorização da Pequena Produção Rural

SNCR - Sistema Nacional de Crédito Rural SFN - Sistema Financeiro Nacional

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...10

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA...10

1.2 OBJETIVOS...11

1.2.1 Geral...11

1.2.2 Específicos...11

1.3 JUSTIFICATIVA...12

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...12

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS...13

2. O CONTRATO - CONCEITO E ELEMENTOS...15

2.1 OS PRINCÍPIOS TRADICIONAIS DO CONTRATO...19

2.1.1 Princípio da autonomia da vontade...19

2.1.2 Princípio da obrigatoriedade do pactuado...22

2.1.3 Princípio da relatividade ou subjetividade...23

2.2 PRINCÍPIOS SOCIAIS DO CONTRATO NO CÓDIGO CIVIL...24

2.2.1 Princípio da função social do contrato...25

2.2.2 Principio do equilíbrio contratual...27

2.2.3 Princípio da boa-fé...28

3 TÍTULOS DE CRÉDITO RURAL...31

3.1 OS TÍTULOS DE CRÉDITO NO DIREITO BRASILEIRO...33

3.1.1 Conceito e características dos títulos de crédito...34

3.1.2 Princípios dos títulos de crédito...37

3.2 CÉDULAS DE CRÉDITO RURAL INSTITUÍDAS PELO DECRETO-LEI 167/67...38

3.2.1 Cédula rural pignoratícia...44

3.2.2 Cédula rural hipotecária...46

3.2.3 Cédula rural pignoratícia e hipotecária...48

3.2.4 Nota de crédito rural...48

4 POLÍTICA AGRÍCOLA E CRÉDITO RURAL...51

(10)

4.2 PLANO DE SAFRA...57

4.2.1 Fontes e Equalização dos Encargos...61

4.2.2 Beneficiários do crédito rural...66

4.2.3 Finalidades do crédito rural...68

4.2.4 Modalidades e Objetivos do crédito rural...70

4.3 A FUNÇÃO SOCIAL DO CRÉDITO RURAL...72

5 CONCLUSÃO...77

(11)

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso, cujo objetivo institucional consiste na obtenção do título de Bacharel em Direito, se propõe a analisar a função do crédito rural na política agrícola brasileira, baseado nas cédulas de crédito rural instituídas pelo Decreto-lei 167/67, sob a luz das mudanças advindas com o Código Civil de 2002, as quais imprimiram à legislação pátria princípios voltados a função social dos negócios jurídicos. Demonstrando que as operações de financiamento da atividade rural devem alavancar e implementar o crédito rural em sua função como instrumento de política agrícola na economia do país.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A presente pesquisa tem por finalidade essencial analisar os negócios jurídicos bilaterais que envolvem operações de financiamento de crédito rural, formalizadas por cédulas de crédito rural e sua consonância com o estabelecido de forma geral nos objetivos da política agrícola nacional.

O crédito rural foi inserido em nosso ordenamento pela Lei 4.829, de 05 de novembro de 1965, que posteriormente foi regulamentado pelo Decreto 58.380 de 10 de maio de 1966. Este último efetivamente disciplinou o suprimento de recursos financeiros ao setor agrícola.

Com a promulgação do Decreto Lei 167 de 14 de fevereiro de 1967, que dispôs sobre os títulos de crédito rural, foram instituindo os fundamentos das cédulas rurais como as conhecemos nos dias atuais.

Instituiu-se, assim, as cédulas de crédito rural como mola mestra dos financiamentos agrários, atuando ao longo dos anos como instrumento de bancarização do crédito agrícola e dos produtores rurais. Desde então, o setor agropecuário nacional tem à sua disposição verbas destinadas aos investimentos, custeio e à comercialização dos seus produtos, conforme determina o Art. 3º da Lei 4.829 de 1965.

(12)

Tendo em vista que todo este sistema foi estruturado com o desejo de fomentar a atividade no campo – fator de extrema importância inclusive para o equilíbrio da balança comercial – mantendo o homem no campo com condições e estruturação, surge a dúvida: o crédito rural está sendo disponibilizado aos beneficiários conforme determina a lei que o institucionalizou? Os objetivos determinados para sua aplicação como forma de política agrícola estão sendo realizados?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Geral

Analisar a função do crédito rural a partir das cédulas de crédito rural instituídas pelo Decreto-Lei 167 de 14 de fevereiro de 1967, comparando-as com os institutos do contrato no Código Civil com a finalidade de referenciar a função do crédito rural na política agrícola brasileira.

1.2.2 Específicos

Verificar os aspectos gerais dos negócios jurídicos bilaterais, demonstrando os princípios gerais aplicáveis à espécie dos contratos.

Apresentar os institutos de direito que foram introduzidos na ordem jurídica brasileira, com a finalidade de agilizar e fomentar a aplicação do crédito rural.

Caracterizar, juridicamente, as cédulas de crédito rural instituídas pelo Decreto-lei 167, de 14 de fevereiro de 1967, demonstrando sua importância para a expansão do crédito rural com segurança jurídica.

Identificar o crédito rural como principal ferramenta de implementação da política agrícola, no contexto de que o crédito rural é uma fonte inegável de recursos

(13)

para o fomento da atividade agropecuária, permanência do homem no campo e geração de riqueza.

Demonstrar que o crédito rural tem uma função primordial no desenvolvimento do agronegócio brasileiro e, portanto, deve ser objeto de estudos nos cursos dos mais variados níveis de graduação do País.

1.3 JUSTIFICATIVA

O tema reveste-se de grande importância, pois o agronegócio1 corresponde a quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, a 31% do total de empregos remunerados2

, sendo que as exportações totalizaram US$ 76,4 bilhões3

no ano de 2010 e a agricultura familiar é responsável por garantir boa parte da segurança alimentar do país, como importante fornecedora de alimentos para o mercado interno. No Censo Agropecuário de 2006 foram identificados 4.367.902 estabelecimentos de agricultura familiar, gerando empregos de forma direta e indireta, além de ser responsável por 9% do PIB nacional.4 Além de que o Brasil destaca-se atualmente no cenário mundial como um dos principais produtores e exportadores de diversos produtos agropecuários.

Ainda nos dias atuais, há grande preocupação com a permanência do homem no campo e com a produção de alimentos de forma socioambiental, e o crédito configura-se neste cenário como uma das principais formas de política econômica e rural.

1

Agronegócio entendido como a soma dos setores produtivos com os de processamento do produto final e os de fabricação de insumos. In: GUANZIROLI, Carlos Enrique. Agronegócio no Brasil: perspectivas e limitações. Textos para discussão UFF/economia. Disponível em:

<http://www.uff.br/econ/download/tds/UFF_TD186.pdf>. Acesso em: 06 nov. 2011.

2

Ibid.

3

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Balança Comercial. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/internacional/indicadores-e-estatisticas/balanca-comercial>. Acesso em: 06 nov. 2011.

4

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Geociências. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1466&id_pagina= 1>. Acesso em: 06 nov. 2011.

(14)

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Quando nos referimos a procedimentos metodológicos, estamos falando da forma de construir o conhecimento necessário nas mais diversas áreas do saber.

Nesse âmbito, no desenvolvimento do presente estudo, utilizamos como referência o Decreto-Lei 167, de 14 de fevereiro de 1967 e demais leis ordinárias como a Lei 8.171, de 17 de Janeiro de 1991, além de normas específicas utilizadas para o ordenamento do crédito rural no Brasil, bem como o Manual de Crédito Rural (MCR) editado pelo Banco Central do Brasil (BACEN), sendo que no proceder metodológico utilizamos o método dedutivo, utilizando-se da pesquisa bibliográfica e documental.

Inicialmente, faremos o estudo sobre os negócios jurídicos caracterizados pelo contrato e seus princípios e sobre os títulos de crédito de um modo geral para, posteriormente, passarmos a analisar as modalidades das cédulas de crédito rural e, finalmente, conceituarmos a política de crédito rural e analisarmos a função do crédito rural.

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS

Para atingir o seu objetivo, a presente monografia será estruturada em três capítulos.

No primeiro capítulo trataremos dos contratos, seu conceito e elementos, analisaremos seus princípios tradicionais e os princípios sociais, os quais regem os negócios jurídicos que envolvem o crédito rural.

No segundo, discorreremos sobre os títulos de crédito de um modo geral e analisaremos seu conceito, características e os princípios norteadores. Ainda realizaremos estudo sobre os títulos de crédito rural e sobre cada uma das modalidades criadas pelo Decreto-lei 167/67.

Finalmente, no terceiro, realizaremos estudo acerca da política agrícola e de sua institucionalização no sistema de crédito rural, analisaremos sua efetivação pelo plano de safra e suas modalidades para a agricultura de médio e grande porte e

(15)

para a agricultura familiar. Também analisaremos a origem dos recursos para financiar a atividade agropecuária e como são equalizadas as taxas de juros subsidiadas nos financiamentos rurais, bem como definiremos que pode ter acesso ao crédito rural e com quais finalidades e objetivos, sendo que, por fim, delimitaremos a função do crédito rural na política agrícola.

(16)

2 O CONTRATO - CONCEITO E ELEMENTOS

A sociedade, de um modo inegável, evolui continuamente e com ela a forma como nos relacionamos.

E não poderia ser diferente com o contrato, o qual acompanha a sociedade desde tempos imemoriáveis, regendo as relações comerciais.

O conceito de contrato também evoluiu, sendo que na sociedade contemporânea, o contrato tornou-se o meio mais eficaz de circulação de riquezas, não havendo como distanciá-lo do dia-a-dia das pessoas, seja de uma simples dona de casa ou de um bem sucedido homem de negócios.

No dizer de Humberto Teodoro Júnior, o contrato é o “centro da vida dos negócios” e “nele a sociedade encontra o instrumento prático que realiza o mister de harmonizar interesses não coincidentes”.5

Ainda em sua concepção clássica, podemos conceituar contrato como: “o acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir um Direito”, como afirma Washington de Barros Monteiro.6

Desta forma o contrato se consubstancia em ato jurídico, ou seja, é todo e qualquer ato decorrente da vontade do homem devidamente manifestada. Como tal, necessita para sua consecução e validade, do cumprimento de alguns requisitos básicos7, previstos no art. 104 do Código Civil (CC), que são:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz;

II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei.8

5

TEODORO JUNIOR, Humberto. O contrato e seus princípios. 3. Ed. rev. atual. e amp. Rio de Janeiro: Aide, 2001. p. 14.

6

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: Direito das Obrigações 2ª parte. 15. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1979. p. 5.

7

No frontispício dos requisitos subjetivos está, evidentemente, a capacidade das partes. Os contratantes devem ser aptos a emitir validamente a sua vontade.[...]

Objetivamente considerados, os requisitos do contrato envolvem a possibilidade, liceidade, determinação e economicidade.[...]

O terceiro requisito da validade do contrato é formal. In: PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições

de direito civil. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. 3. v. p. 27-33. 8

BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 28 out. 2011.

(17)

Assim, temos os elementos básicos do negócio jurídico bilateral9, objeto deste estudo, sendo a capacidade dos contratantes o primeiro requisito para validade de um contrato, ou seja, os contratantes têm que possuir capacidade para os atos da vida civil para poder realizar o contrato10. O segundo elemento é o objeto

lícito, o objeto da avença tem que ser possível e determinado ou determinável, pois

a impossibilidade do objeto torna nulo o negócio jurídico. Devendo ser conforme à moral , à ordem pública e aos bons costumes. Por fim, forma prescrita ou não defesa em lei, sob pena de nulidade. 11

Sendo oportuno lembrar que, de modo geral, é livre a forma. No entanto, existem alguns contratos que necessitam de forma solene, ou seja, tem sua forma determinada por lei, como é o caso de negócios jurídicos com imóveis, que exigem escritura pública, conforme o art. 108 do CC.12

Podemos assim dizer que não há fato da vida contemporânea que não seja regido por meio de contratos, sejam eles (contratos) tácitos ou expressos.

Contudo, como podemos ver nas lições de Washington de Barros Monteiro, além desses requisitos, considerado gerais, deve-se acrescentar o acordo de vontades, que pode ser manifestado por duas formas:

Ai está o elemento essencial, mais característico dos contratos. Pode ser expresso ou tácito.

Expresso é aquele dado verbalmente ou por escrito. Tácito, o que decorre de certos fatos que lhe autorizam o reconhecimento.13

Em sede de nosso estudo e para que possamos situar o crédito rural no sistema jurídico brasileiro, trataremos o negócio jurídico segundo sua visão clássica

9

O negócio jurídico unilateral é o que se constitui pela declaração de vontade de uma só parte, como os contratos de seguro, depósito e comodato. In: MONTEIRO, 1979. p. 8

10

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos;

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos;

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;

III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. In: BRASIL, 2002, loc. cit.

11

MONTEIRO, op. cit., p. 6.

12

BRASIL, op. cit.

13

(18)

conforme enunciado acima, sendo assim, o contrato é expresso, contratado entre o produtor rural, pessoa física ou jurídica e a instituição de crédito, pessoa jurídica autorizada a funcionar pelo BACEN.

Contudo, foi com o advento do atual Código Civil, que o Direito das Obrigações passou a expressar um reflexo importante da sociedade atual, no qual a liberdade de contratar, que originalmente deriva da autonomia da vontade, passa a sofrer a intervenção do Estado, surgindo, assim, o denominado dirigismo contratual.

Nesse contexto, como ensina Josserand, nas palavras de Eros Roberto Grau, o dirigismo contratual torna-se elemento essencial para alavancar e implementar o crédito rural em sua função na economia do País14

, princípio que veremos mais adiante: “Engloba o conjunto de técnicas jurídicas que transforma os contratos menos em uma livre construção da vontade humana do que em uma contribuição das atividades humanas à arquitetura geral da economia de um país.”15

Vemos que não basta o interesse das partes manifestado no contrato, a avença tem de expressar ou, no mínimo, observar os princípios estabelecidos pela função social do contrato, representadas nos interesses pelo qual o Estado vê o bem-estar social. Ou seja, tem que estar de acordo com o interesse coletivo. Já não basta apenas a vontade das partes representada por seus interesses privados, é necessário que o objeto do contrato esteja de acordo com a vontade social estabelecida pelo legislador e com o interesse da coletividade.

Mas faz-se necessária uma advertência: não deve ser realizada uma negação dos princípios contratuais consagrados na teoria das obrigações, quais sejam:

a) princípio da autonomia da vontade; b) princípio da relatividade ou subjetividade;

c) princípio da obrigatoriedade das convenções, todos constantes do Código Civil.

Pois se não fosse dessa maneira não teríamos a segurança necessária que as relações jurídicas exigem e não teríamos a consumação dos negócios jurídicos a que estas se propõem.

14

TEODORO JUNIOR, 2001. pag. 56

15

PEZZINI, Ari. O código civil de 2002 e o crédito rural: teoria, jurisprudência e legislação. Ijuí: Unijuí, 2005. p. 20

(19)

Os negócios jurídicos que envolvem o crédito rural também são regidos pelos princípios elencados acima, sendo que a tais princípios incorporaram-se os novos princípios relacionados ao atual código civil, com ênfase na função social das relações jurídicas, quais sejam:

a) Principio da boa-fé objetiva (art. 422);

b) Principio do equilíbrio econômico do contrato (art. 478), também conhecido como da equivalência material;

c) principio da função social do contrato (art. 421).

Os contratos revestem-se de grande importância e, portanto, não podem ser vistos sob a ótica de uma simples técnica jurídica; antes, devem ser compreendidos como um dos mais poderosos meios de circulação de riquezas, gerando obrigações entre as partes.16

Partindo deste pressuposto e sabendo que as obrigações derivam de três fontes básicas, contrato, declarações unilaterais da vontade e atos lícitos, como ensina Washington de Barros Monteiro,17temos o contrato como principal forma de estabelecer relações comerciais, criando obrigações entre as partes, as quais são norteadas a partir dos elementos básicos, que tem origem nos princípios fundamentais para o direito contratual: princípio da autonomia da vontade, princípio da relatividade ou subjetividade e o princípio da obrigatoriedade das convenções, e em elementos instituídos mais recentemente como: o princípio da função social do contrato e o princípio da boa fé.

É oportuno lembrar que o princípio é uma das fontes formais de direito e, como tal, consubstancia-se em um fundamento a ser observado no estudo do direito, ou seja, é à base do ordenamento, traçando a estrutura doutrinária de um determinado ramo do direito, aqui mais especificamente nesta abordagem dos princípios dos contratos.

Para Celso Antonio Bandeira de Melo:

Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá

16

MARQUESI, Roberto Wagner. Os princípios do contrato na nova ordem civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 513, 2 dez. 2004. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/5996>. Acesso em: 15 jul. 2011.

17

(20)

sentido harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo.18

Ainda, segundo conceituação de MIGUEL REALE, princípios são verdades fundamentais que servem de suporte ou de garantia de certeza a um conjunto de juízos. Em idêntico senso posiciona-se JOSÉ CRETELLA NETTO, para quem os princípios são proposições básicas, fundamentais e típicas, as quais condicionam as estruturações e desenvolvimentos subseqüentes de uma ciência.19

Cabe ressaltar que dividimos, para fins didáticos do presente estudo, os princípios norteadores dos contratos em tradicionais e sob a égide do Código Civil de 2002, de forma direcionada aos elementos essenciais para a análise dos contratos de crédito rural, conforme veremos a seguir.

2.1 OS PRINCÍPIOS TRADICIONAIS DO CONTRATO

Os princípios clássicos consagrados na teoria geral das obrigações, e amplamente aceitos pela doutrina e jurisprudência, constituem a base do direito contratual, conforme já relacionamos em nosso estudo são:

a) Princípio da autonomia da vontade; b) Princípio da relatividade ou subjetividade; c) Princípio da obrigatoriedade das convenções.

Passaremos a analisar estes princípios, de forma breve, sempre sob a ótica de que as avenças estipuladas no contrato, devem ser, via de regra, cumpridas integralmente.

2.1.1 Princípio da autonomia da vontade

18

MELLO, Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 8ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 1996, p.545

19

(21)

A autonomia da vontade é o mais conhecido dos princípios que regem os contratos, no qual está fundamentada a liberdade contratual dos estipulantes, sendo conceituada como segue:

Autonomia da vontade é a liberdade das partes de estipular conforme sua vontade o conteúdo contratual, criando para si direitos e obrigações segundo seu consenso e interesse, sendo seus efeitos tutelados pelo ordenamento jurídico.20

Para LISBOA, segundo o princípio da autonomia da vontade, as partes exercem a liberdade de contratar ou não e de escolher o que e como contratar:

Segundo o princípio da autonomia da vontade, as partes contratantes possuem liberdade de contratar ou não, conforme lhes aprouver, decidindo, em caso afirmativo, com quem contratar, o que contratar e o conteúdo da avença.21

Cabe ressaltar que, entretanto, essa liberdade conferida às partes não é ampla e irrestrita, cada vez mais vem sendo tutelada, e nos casos das normas de ordem pública, a liberdade das partes é tutelada mediante a limitação e controle dos poderes econômicos e sociais privados, pela tutela dos mais fracos pelo Estado e pela prevalência dos bons costumes nas avenças.22

Este princípio atinge tanto as contratações civis como aquelas derivadas de relações de consumo, como as relações bancárias. 23

20

MENEZES, Rinaldo Mendonça Biatto de. Os modernos princípios contratuais e o código civil de 2002: a boa fé objetiva e a função social dos contratos. Universo Jurídico, Disponível em:

http://www.uj.com.br/publicacoes/doutrinas/default.asp?action=doutrina&coddou=1805#topo>. Acesso em: 15 agos. 2011.

21

LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: contratos. 4. ed. refor. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 36.

22

TEODORO JUNIOR, 2001. pag. 65

23

Art. 2º: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. [...]

Art. 3º: Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

§ 1º - Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, [...].

Art. 4º: A Política Nacional de Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das

necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo[...] In: BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em:

(22)

O Código de Defesa do Consumidor estabeleceu que as relações de consumo fossem tuteladas segundo uma série de princípios específicos elencados no art. 4º do CDC, como: respeito dignidade, saúde e segurança, proteção de interesses econômicos, melhoria da qualidade de vida entre outros, no entanto, esses princípios específicos devem conviver de forma harmônica com os princípios norteadores das relações contratuais, elaborados pela teoria clássica.

Para Humberto Teodoro Júnior, a obrigatoriedade dos pactos, a autonomia da vontade dos contratantes e a relatividade dos contratos, princípios da teoria clássica contratual, subsistem em relação aos contratos de consumo, sendo que foram apenas flexibilizados e adaptados pela valorização de aspectos éticos da boa fé objetiva e da tutela à parte vulnerável das negociações, sempre buscando a justiça contratual e a segurança jurídica.24

Entendimento este que foi corroborado por Paulo Lôbo, onde distingue os princípios sociais do contrato, que informariam de maneira mais intensa o Código de Defesa do Consumidor e o atual Código Civil Brasileiro, daqueles outros, que predominaram no Estado liberal, mas que não poderiam ser descartados de pronto.25

É o que ensina Humberto Theodoro Júnior:

Por meio das leis de ordem pública, o legislador desvia o contrato de seu leito natural dentro das normas comuns dispositivas, para conduzi-lo ao comando daquilo que a moderna doutrina chama de ‘dirigismo contratual’, onde as imposições e vedações são categóricas, não admitindo possam as partes revogá-las ou modificá-las.26

De fato, foi com o advento do Código Civil de 2002 que alguns princípios contratuais sofreram uma mudança em sua estrutura, após o surgimento de novos princípios fundamentais, que em conjunto com os princípios clássicos, procuram estabelecer um equilíbrio sólido e justo na elaboração dos contratos, sem jamais deixarem de ter papel importantíssimo na caracterização dos negócios jurídicos.

24

TEODORO JUNIOR, 2001, p. 66.

25

LYRA JÚNIOR, Eduardo Messias Gonçalves de. Os princípios do direito contratual. Jus

Navigandi, Teresina, ano 8, n. 62, 1 fev. 2003. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/3759>.

Acesso em: 01 out. 2011.

26

(23)

2.1.2 Princípio da obrigatoriedade das convenções

O princípio da força obrigatória se traduz no pacta sunt servanda, que determina que o contrato formado a partir do consentimento livre e da igualdade das partes obriga as partes a cumprirem o que foi firmado, desta forma o contrato consubstancia-se em ato jurídico perfeito e passa a ser protegido pelas normas gerais do Código Civil e pela Constituição, em seu art. 5º, XXXVI27

, é o que ensina Humberto Teodoro Júnior:

[...] o contrato é ato jurídico perfeito, cuja força, no Direito brasileiro, é protegida por garantia constitucional (CF art. 5º, nº XXXVI), ficando imune de modificações, seja pela vontade unilateral de qualquer dos contratantes, seja do juiz e até mesmo do legislador.28

Diferente de outros países que introduziram artigos que denotam força de lei aos contratos29

, no Direito Civil brasileiro não há disposição semelhante, entretanto, pode-se dizer que os contratos são reconhecidos, de forma geral, pelo Direito, tornado-se definitivos e com força obrigatória comparada a de lei.30

Por esse princípio, Humberto Teodoro Júnior, filia-se ao que ensina Henri de Page (2001 apud DE PAGE, 1948, p. 434):

Os contratos são ‘intangíveis’, e não podem ser nem ‘modificados’, nem ‘revogados’, salvo por consentimento mútuo dos que o concluíram – isto é ‘em virtude de um novo acordo de vontades’ – ou pelas causas que a lei autoriza.31

Não cabe assim dizer que o contrato possa ser modificado apenas porque não realiza a função social ou que não estão a ele condicionados os interesses coletivos que considera a desigualdade material das partes. Assim, o juiz só estará autorizado a modificar o conteúdo do contrato em situações especialíssimas, onde, o legislador já havia instituído o procedimento excepcional de revisão judicial (ex.: Lei

27

Art. 5º [...]

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada; In: BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

28

TEODORO JUNIOR, 2001, p. 23

29

Código Civil Francês, art. 1934; Código Civil italiano, art. 1372. In: Ibid., p. 22.

30

Ibid.

31

(24)

de Luvas, Lei do Inquilinato etc.) ou se ocorrer alguma causa legal de nulidade ou de revogação.32

No direito contemporâneo percebe-se uma tendência de abrandamento do pacta sunt servanda e, por conseqüência da obrigatoriedade das convenções, prevalecendo a rebus sic stantibus.33

Desta forma, o primeiro visa preservar a autonomia da vontade, a liberdade de contratar e a segurança jurídica de que os instrumentos previstos no nosso ordenamento são confiáveis. O segundo visa proteger o bem comum, o equilíbrio contratual, a igualdade entre as partes e a certeza de que o interesse particular não predominará sobre o social.

Surge, então, o fundamento para o pedido de revisão contratual, quando ocorrem situações excepcionais e imprevistas, com a chamada Teoria da Imprevisão ou da Onerosidade Excessiva que defende a presença, implícita, nos contratos à prazo, da cláusula rebus sic stantibus.34

2.1.3 Princípio da relatividade ou subjetividade

A avença entre as partes, após tornar-se ato jurídico perfeito,35 tem força de lei, ainda que apenas entre as partes contratantes, não sendo possível a intervenção estatal no pacto validamente celebrado.

É o que ensina Orlando Gomes quando diz: “[...] uma convenção não tem efeito senão a respeito das coisas que constituem seu objeto; e somente entre as partes contratantes”36

No entanto, este princípio não é absoluto, como podemos observar ainda no ensinamento de Orlando Gomes, para o qual:

32

TEODORO JUNIOR, 2001. p. 23

33

Significa, literalmente, permanecendo assim as coisas. A cláusula em questão se aplica quando as condições existentes à época em que se celebrou ou estipulou um contrato mudaram ou se

modificaram. É a moderna Teoria da Imprevisão. In:

<http://www.jusbrasil.com.br/topicos/293777/clausula-rebus-sic-stantibus>. Acesso em: 26/11/2011.

34

TEODORO JUNIOR, op. cit.

35

Define o Código Civil, que ato jurídico é todo o ato lícito que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, ou extinguir direitos (vide o atual art. 185 do CC ou o antigo art. 81 do CC de 1916). In: BRASIL, 2002, loc. cit.

36

(25)

Nem toda pessoa que não participou da feitura do contrato pode se furtar ao seu cumprimento. Assim, não são juridicamente ‘terceiros’ os sucessores, a título universal, mesmo não tendo aderido ao contrato em sua origem; não são terceiros, porque sua posição jurídica atual deriva da do contratante que o sucedeu, e com ela se confundem.37

O ensinamento de Humberto Teodoro Júnior vai além, e mostra que existem ainda os terceiros beneficiários, quando diz:

Além dos sucessores, há os ‘terceiros beneficiários’, que em alguns tipos especiais são contemplados não com obrigações, mas com benefícios ou créditos criados pelo ajuste de vontade dos contratantes. È o caso, por exemplo, da estipulação em favor de terceiro, o contrato de seguro de vida. [...].38

Assim, pessoas inicialmente estranhas ao contrato podem se tornar partes e sujeitas ao mesmo tratamento, sendo que inclusive devem cumprir com as obrigações advindas de tais atos jurídicos. É o caso, por exemplo, dos herdeiros universais, que embora não tenham participado da formação do contrato no negócio original, sofrem seus efeitos. Há ainda, as estipulações em favor de terceiro, que estende efeitos do contrato a outras pessoas, criando-lhes direitos e impondo-lhes direitos.39

2.2 PRINCÍPIOS SOCIAIS DO CONTRATO NO CÓDIGO CIVIL

O Código Civil traz em seu contexto a inserção dos princípios contratuais típicos do Estado social e do dirigismo contratual,40

que passaremos a analisar a seguir. Estes são os princípios que norteiam o presente trabalho, uma vez que são 37 TEODORO JUNIOR, 2011, p. 32 38 Ibid. 39

DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 5. ed. ver., ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 75.

40

O dirigismo contratual caracteriza-se pela intervenção do estado por meio de legislação específica com objetivo de valer a prevalência do interesse coletivo, protegendo o economicamente mais fraco do domínio do poderoso, minimizando as desigualdades entre as partes, dirigindo a atividade econômica e a atividade contratual de modo a corresponder às exigências fundamentais da justiça social ou distributiva e da garantia a todos da existência digna, garantindo a resolução do contrato por onerosidade excessiva ou em caso de perigo, mesmo que contrarie a autonomia da vontade. In: ALVES, Márcio António. Dirigismo contratual e função social do contrato. JurisWay. 11 out. 2008. Disponível em: <www.jurisway.org.br>. Acesso em: 20 jul. 2011.

(26)

dirigidos à consecução da função social do crédito rural, onde é indispensável a participação do Estado disponibilizando uma política agrícola planejada e executada de acordo com os dispositivos constitucionais e a regulamentação da lei.

2.2.1 Princípio da função social do contrato

Partindo do princípio fundamental da dignidade da pessoa, o qual deve estar presente em todas as relações jurídicas públicas e privadas e do requisito da solidariedade social como objetivo a ser alcançado nas relações econômicas, conforme preceitua a nossa constituição, podemos buscar um significado para a expressão “função social”, chegando-se a conclusão de que a coisa que possui função social é aquela que serve de instrumento para a satisfação dos interesses da sociedade.41

É a partir do compromisso expresso no Art. 421, do Código Civil, com a função social do contrato, que iremos analisar o princípio da função social e sua relação com a função que o crédito rural exerce na política agrícola brasileira. Sabendo que o Código Civil estabelece em seu art. 421: a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.42

Em consonância com o artigo supracitado Maria Helena Diniz, preceitua que o interesse coletivo tutela a vontade dos contratantes:

É preciso não olvidar que a liberdade de contratar não é absoluta, pois está limitada pela supremacia da ordem pública, que veda convenções que lhe sejam contrárias aos bons costumes, de forma que a vontade dos contratantes está subordinada ao interesse coletivo.43

Podemos dizer então que o contrato sofreu uma transformação a qual se concretizou com a tendência de realizar os negócios jurídicos sob o aspecto social, onde direitos e deveres devem ser exercidos funcionalmente, sem desviarem-se dos fins econômicos, dos fins éticos e dos fins sociais que o ordenamento legal impõe.44

41

LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: contratos. 4. ed. refor. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 64.

42

BRASIL, 2002. loc. cit.

43

DINIZ, 2003, p. 71

44

(27)

Surge assim uma nova concepção de contrato, ou seja, uma concepção social de instrumento jurídico que desde os romanos já era à base das relações comerciais e que nos séculos seguintes se tornou o melhor instrumento para realizar a circulação de mercadorias e, por conseguinte, de riquezas, mas para a qual não só o momento da manifestação da vontade (concessão) importa atualmente, mas onde, também e principalmente, os efeitos do contrato na sociedade serão levados em conta e onde a condição social e econômica das pessoas nele envolvidos ganha uma relevante importância.45

No entanto, o que vemos na prática é que algumas correntes do direito entendem que, por este princípio, o contrato seja apenas um mecanismo de consecução do bem comum, de busca do interesse social, não há, como já dissemos mais espaço para sua antiga concepção individualista, porém não há e não poderá haver uma mudança da ótica de valores sociais para a inexistência de valores, com o simples fato de aplicar-se modernos princípios contratuais.

É o que ensina Humberto Teodoro Junior, quando preceitua:

O que, todavia, ambas as correntes não querem ver é a verdadeira evolução do direito em torno da figura do contrato[...].

Isto, porém, é preciso ressaltar, não se deu com o fito de enfraquecer a força do vínculo contratual nem de eliminar a presença da vontade individual na sua formação, como vêm entendendo alguns. Apenas se agregou ao princípio da autonomia da vontade a responsabilidade social traduzida no princípio da boa fé objetiva.46

Por fim, ressaltamos ser inegável a analogia entre a função social do contrato e a função social da propriedade da mesma forma que está previsto constitucionalmente, visto que para a propriedade, a Constituição prevê que deva exercer sua função social com vistas ao bem comum e a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato, a saber, cabe ao estado somente a função regulamentadora como garantidor das regras de livre contratação, devendo obedecer a princípios regidos pela constituição e pelas normas cogentes no país. Sendo que se considera que o princípio da função social foi violado quando os efeitos externos do que foi pactuado prejudicarem

45

SILVA Juliano Hirt da. Proteção do consumidor nos contratos de adesão. Revista Direitos

Fundamentais & Democracia. Disponível em:

<www.unibrasil.com.br/arquivos/direito/.../juliano-hirt-da-silva.pdf>. Acesso em 20 agos. 2011.

46

(28)

injustamente os interesses da coletividade estipulados na norma ou violarem os princípios estabelecidos pelos bons costumes.47

É o que defendemos neste trabalho quanto à aplicação efetiva do crédito rural no desenvolvimento da atividade agropecuária. O crédito rural e seus mais variados programas de desenvolvimento das atividades rurais devem ser aplicados sob a ótica da função social, sem, contudo, perder suas características de ato jurídico.

2.2.2 Principio do equilíbrio contratual

No entendimento de Roberto Senise Lisboa: “a sociedade industrial não poderia subsistir mantendo a desigualdade real entre os contratantes”.48

Assim, com o intuito de criar e manter o equilíbrio real de direitos e deveres entre as partes contratantes instituiu-se o princípio do equilíbrio contratual ou equivalência entre as partes, com o objetivo de manter a proporcionalidade dos direitos e obrigações e corrigir os desequilíbrios supervenientes.49

É o que preceitua o CC em seu art. 478:

Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.50

Ressalte-se que o escopo primordial da tutela pelo art. citado acima é a preservação do contrato, em respeito à vontade e circunstâncias em que se encontravam os contratantes no momento da celebração do contrato, intervindo o judiciário, tão somente, para direcionar a conformação de determinados interesses ou acontecimentos, quando estes tornarem o pacto desequilibrado, ou afrontarem

47 SANTOS, 2004, p. 118-119 48 LISBOA, 2009, p. 67 49

ALVES, loc. cit.

50

(29)

algum dos princípios sociais, ou ainda, ferindo preceitos constitucionais ou de normas infraconstitucionais, dos quais o contrato não pode se desvincular.51

Pelo exposto, confere-se que o princípio em questão traz consigo a idéia de razoabilidade, proporcionalidade e justiça social. Assim, o contrato deve se apresentar como instrumento de justiça social, revelando-se equilibrado em seu conteúdo, nos encargos e vantagens atribuídas a cada uma das partes da relação contratual.52

2.2.3 Princípio da boa-fé

O princípio da boa-fé objetiva não se encontra expresso em nosso Código Civil, é, entretanto, um princípio geral de direito, e mesmo sendo assim, doutrina e jurisprudência, são unânimes em admitir sua aplicabilidade a celebração e execução das avenças.

O que temos nos artigos 113 e 422 do Código Civil é a boa fé subjetiva:

Art. 113: os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa fé e os usos do lugar de sua celebração.

[...]

Art. 422: Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.53

Cabe ressaltar que há diferença entre boa-fé objetiva e subjetiva. A boa-fé objetiva, no ensinamento de Claudia Lima Marques, significa:

[...] uma atuação “refletida”, uma atuação refletindo, pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legítimos, suas expectativas razoáveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstrução, sem causar lesão ou desvantagem excessiva,

51

STORER, Aline. As clausulas gerais do Código Civil e a renovação dos princípios sociais. 2008. 158 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Fundação de Ensino Eurípedes Soares da Rocha. Marília. 2004. Disponível em:

<http://www.fundanet.br/servico/aplicativos/mestrado_dir/dissertacoes/As_Cl%C3%A1usulas_Gerais_ do_C%C3%B3digo_Civil_e_a_Renova%C3%A7%C3%A3o_dos_Prin_1136_pt.pdf.>. Acesso em: 10 jun. 2011.

52

Ibid.

53

(30)

cooperando para atingir o bom fim das obrigações: pelo cumprimento contratual e a realização dos interesses das partes.54

Neste estudo defendemos a boa-fé no que diz respeito a uma norma de conduta, não se constituindo em um imperativo ético abstrato apenas, mas sim em uma norma que condiciona e que determina como as partes devem agir, legitimando um novo paradigma a regular as relações contratuais, indo desde a interpretação dos mandamentos legais e das cláusulas contratuais até as suas últimas consequências, como a alteração das cláusulas avençadas sob o vício da má-fé.55

Ainda assim, ressaltamos que na questão da boa-fé devem-se analisar as condições em que o contrato foi firmado, o nível social e cultural dos contratantes, sua capacidade econômica e principalmente os ditames de lealdade e confiança, como ensina Humberto Teodoro Júnior:

Além de prevalecer a intenção sobre a literalidade, compreende-se no princípio da boa fé a necessidade de compreender ou interpretar o contrato segundo ditames da “lealdade e confiança” entre os contratantes, já que não se pode aceitar que um contratante tenha firmado o pacto de má fé visando locupletar-se injustamente à custa do prejuízo do outro.56

Concebida com base na intenção dos contratantes, o princípio da boa-fé exige sempre que a conduta individual ou coletiva seja examinada no conjunto concreto das circunstâncias de cada caso.

Portanto, deve-se crer que, em princípio, nenhum contratante celebra contrato sem a necessária boa-fé.

Mas, a má-fé dos contratantes, em qualquer fase do negócio jurídico, tem que ser punida. E em cada caso caberá ao juiz definir quando e onde foi o desvio dos participes do contrato, e levará em conta a interpretação para estipular o equilíbrio contratual pretendido e não apenas o equilíbrio econômico, como muitos pensam, sempre preservando a função econômica para a qual o contrato foi concebido, resguardando-se a parte que tiver seus interesses subjugados aos de outra.57

54

MARQUES, Claudia Lima. Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações. 5. ed. São Paulo: RT, 2006 apud STORER, loc. cit.

55

TEODORO JUNIOR, 2001, p. 55

56

Ibid., p. 34.

57

MELO, Lucinete Cardoso de. O princípio da boa-fé objetiva no Código Civil. Jus Navigandi. Teresina, ano 9, n. 523, 12 dez. 2004. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6027>. Acesso em: 22 set. 2011.

(31)

É o que tiramos das lições de Humberto Teodoro Júnior, quando trata dos equívocos da jurisprudência em matéria de revisão de contratos de consumo:

Se se entender [...] que sempre caberia ao consumidor, mesmo inadimplente, optar pela resolução contratual, chegar-se-á ao absurdo de deixar nas mãos do devedor o destino do contrato. [...]

Uma opção como esta, à evidência, não condiz com o princípio da boa fé nem é compatível com a segurança jurídica que deve estar presente no mundo econômico a que serve o instituto do contrato. 58

Por fim, cabe ressaltar que para nosso estudo, os dois princípios ora analisados são de suma importância, pois depreendem em primeiro lugar que os negócios jurídicos têm que possuir uma função social, neste caso, caberá ao crédito rural ser instrumento eficaz na aplicação da política agrícola; em segundo, que tais negócios serão concebidos sob a égide da boa-fé, cabendo aos títulos de crédito rurais tornarem-se os instrumentos práticos de execução da política agrícola, através dos empréstimos concedidos aos produtores rurais.

Vistos os princípios aplicáveis à realização dos contratos em geral, necessário se faz discorrer sobre os títulos de crédito rural, emitidos em decorrência de um contrato rural, o que faremos no próximo capítulo.

58

(32)

3. TÍTULOS DE CRÉDITO RURAL

Devido à grande importância que a produção agrícola e pecuária tem para um país, estas atividades denominadas sob o signo de agronegócio sempre recebem tratamento diferenciado quanto ao financiamento de suas atividades nos sistemas de crédito e no Brasil não poderia ser diferente. É o que passaremos a analisar ao tratarmos das cédulas de crédito rural.

Mas, inicialmente, faz-se necessário elucidar o significado de agronegócio, para fins de nosso estudo nos filiamos ao conceito de Renato Buranello:

O agronegócio é o conjunto de atividades que vai da fabricação e fornecimento de insumos, da produção agropecuária, envolvendo o processamento, armazenamento até a distribuição para consumo interno e internacional dos produtos de origem agrícola ou pecuária. Essa visão sistemática envolve também as formas de financiamento, as bolsas de mercadorias e as políticas públicas.1

Como podemos observar, este conceito traz em seu bojo o princípio de que o agronegócio envolve além das atividades ligadas diretamente a produção agropecuária, o crédito rural, objeto de estudo deste trabalho.

A operacionalização do crédito rural como instrumento de política agrícola pode ser realizada mediante a emissão de qualquer título de crédito, ou seja, nada impede que o instrumento de contratação dos empréstimos rurais sejam realizados por contrato particular, por nota promissória, escritura pública ou outros títulos que provem a avença.2

No entanto, após a constituição do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), em 1966, a operacionalidade do crédito rural passou a ser realizada preferencialmente através dos títulos de financiamento rural instituídos pelo Decreto-Lei 167, de 14 de fevereiro de 1967.3

1

BURANELLO, Renato. Novos títulos de crédito rural são opção para maximizar recursos. Espaço

Jurídico BOVESPA. Disponível em:

<http://www.bmfbovespa.com.br/juridico/noticias-e-entrevistas/Noticias/081218NotA.asp>. Acesso em: 15 set. 2011

2

PEZZINI, Ari. O código civil de 2002 e o crédito rural: teoria, jurisprudência e legislação. Ijuí: Unijuí, 2005. p. 30

3

BRASIL. Decreto-Lei 167, de 14 de fevereiro de 1967. Dispõe sôbre títulos de crédito rural e dá outras providências. Diário Oficial da União. Disponível em:

(33)

No art. 1º do referido Decreto observamos a forma como pode se efetivar o crédito rural e no art. 9º quais títulos servem para esta finalidade:

Art 1º O financiamento rural concedido pelos órgãos integrantes do sistema nacional de crédito rural e pessoa física ou jurídica poderá efetivar-se por meio das células de crédito rural previstas neste Decreto-lei.

[...]

Art 9º A cédula de crédito rural é promessa de pagamento em dinheiro, sem ou com garantia real cedularmente constituída, sob as seguintes denominações e modalidades:

I - Cédula Rural Pignoratícia. II - Cédula Rural Hipotecária.

III - Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária. IV - Nota de Crédito Rural. 4

Embora o artigo primeiro, acima citado, disponha que o crédito rural poderia ser realizado por meio de cédulas de crédito rural, na prática tal faculdade tornou-se regra, visto que seu uso tem sido generalizado pelos órgãos financiadores do sistema de crédito rural, tendo em vista sua praticidade, quer em relação às partes contratantes, quer em tornar mais pronta e segura a recuperação dos créditos ou quer no que diz respeito à facilitação dos registros públicos.5

Conforme ensina Humberto Teodoro Júnior:

Seria impensável um banco moderno que tivesse de pactuar todos os seus empréstimos por meio de contratos ordinários de mútuo ou que, para receber seu crédito, tivesse de sujeitar-se às delongas e incertezas da ação ordinária de cobrança. Não é que juridicamente isto não pudesse mais ser praticado entre banqueiros e clientes. A verdade é que o mercado atual, como um todo, não suportaria um sistema tão emperrado e anacrônico como esse.6

Desta forma, cabe ao Estado dotar o sistema financeiro de instrumentos adequados à fomentar a produção agropecuária do País, de acordo com a política agrícola, através de financiamentos, os quais jamais poderão deixar de ser, em termos, compatíveis com a segurança, estabilidade e liquidez indispensáveis ao mercado financeiro.

Faz-se oportuno salientar que mesmo sendo o crédito rural operacionalizado por meio de cédulas de crédito rural, essas cédulas, bem como

4

BRASIL, 1967, loc. cit. 5

PEZZINI, 2005, p. 34 6

TEODORO JUNIOR, Humberto. A cédula de crédito bancário como título executivo extrajudicial no direito brasileiro. Academia Brasileira de Direito Processual Civil. Disponível em:

(34)

todos os negócios jurídicos que envolvam o crédito rural, devem estar subordinados aos princípios contratuais que analisamos no capítulo anterior do presente trabalho, pois a própria norma que institucionalizou o crédito rural estabeleceu que os financiamentos para a atividade rural devem observar princípios com idoneidade do tomador, conforme estabelece o art. 13, I do Decreto 58.380, de 10 de Maio de 19667

e a adequação, suficiência e oportunidade do crédito, buscando sempre o desenvolvimento da melhores práticas rurais e a melhoria das condições de vida e de trabalho na unidade rural beneficiada.8

3.1 OS TÍTULOS DE CRÉDITO NO DIREITO BRASILEIRO

A atividade produtiva geralmente necessita de investimentos, e normalmente tais investimentos necessitam de uma fonte de recursos, no sistema financeiro o elo entre tais recursos (poupadores) e a atividade produtiva (tomadores) são os bancos.

No dizer de Humberto Teodoro Júnior, “o segmento econômico bancário funciona basicamente como um intermediário entre os poupadores e os tomadores de empréstimo, dinamizando, assim, a economia nacional”.9

Com a preocupação de assegurar rapidez, desonerar e gerar liquidez às operações bancárias de abertura de crédito, introduziram-se na ordem jurídica brasileira os títulos de crédito.

As diversas atividades econômicas, nelas compreendidas: indústria, comércio, prestação de serviços e agronegócio, são exercidas tendo como um dos seus principais suportes o crédito. Este crédito normalmente decorre de operações de compra e venda a prazo, de empréstimos ou mesmo promessas de pagamentos através de cheques, duplicatas, notas promissórias e cédulas de credito bancárias, comercias, industriais e rurais, além de outras. Para a representação formal dos referidos créditos são utilizados documentos denominados de títulos de crédito.

7

BRASIL. Decreto 58.380, de 10 de Maio de 1966. Aprova o Regulamento da Lei que Institucionaliza o Crédito Rural. Diário Oficial da União. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D58380.htm>. Acesso em: 20 mar. 2011.

8

Conforme estabelece o art. 14 e alíneas do Decreto 58.380, de 10 de Maio de 1966. 9

(35)

O incentivo legal ao financiamento bancário dos diversos segmentos da atividade econômica relevantes ao desenvolvimento nacional se deu, no século passado, através da criação de modernos títulos de crédito, concebidos não como documentos de mútuo, mas de abertura de crédito, ora com garantia real, ora com garantia fidejussória, ora sem qualquer garantia, a não ser a própria responsabilidade pessoal do creditado. Foi assim que surgiram as cédulas de crédito rural (Dec.-Lei 167, de 14.2.67), as cédulas de crédito industrial (Dec.-Lei 413, de 09.01.69), a cédula de crédito à exportação e a nota de crédito à exportação (Lei 6.313, de 16.12.75), a cédula de crédito comercial e a nota de crédito comercial (Lei 6.840, de 03.11.80).10

Contudo algumas características são comuns a todos os títulos, conforme veremos a seguir, sendo que definimos como objeto desse estudo apenas as Cédulas de Crédito Rural, instituídas em nosso ordenamento pelo Dececreto-Lei 167/67.

3.1.1 Conceito e características dos títulos de crédito

Vivemos na sociedade de consumo, havendo comércio intenso e negócios realizados com tamanha rapidez, tamanha agilidade e intensidade nas relações mercantis que só se tornaram possíveis graças ao crédito.

É o crédito a mola mestra das relações de consumo de nossa era, e para abrir crédito para alguém é preciso acreditar na intenção e capacidade de pagamento da pessoa no futuro.11

Dessa forma os dois elementos básicos do crédito são a confiança e o tempo. A confiança é necessária, pois o crédito se assegura numa promessa de pagamento futura, e, como tal, deve haver entre o credor e o devedor uma relação de confiança. O outro elemento fundamental é o tempo, visto que se subentende que o sentido do crédito é o pagamento na data combinada no futuro, ou seja, há

10

TEODORO JUNIOR, loc. cit. 11

BRUSCATO, Wilges. Manual de direito empresarial brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 368-367

(36)

uma promessa de pagamento diferida no tempo, pois se fosse à vista, perderia a idéia de utilização para devolução posterior.12

Sendo assim, pode-se dizer que o crédito constitui-se em relevante mecanismo de interesse social, sendo que sua oferta apresenta inegáveis vantagens para a sociedade, interferindo na produção e comercialização de todos os setores da economia.

E como já havíamos afirmado, o incentivo legal ao financiamento bancário dos diversos segmentos da atividade econômica relevantes ao desenvolvimento nacional se deu através da criação dos títulos de crédito.

É de suma importância registrar que houve, em 1930, uma uniformização das leis dos títulos de crédito, onde os países se reuniram para criar uma legislação única, que foi denominada Lei Uniforme de Genebra, conhecida como LUG, e que o Brasil incorporou esta lei através do Decreto 57.663/66. A partir de então, o direito brasileiro disciplinou as cédulas de crédito em cinco diplomas legais:

a) Decreto-lei 167, de 14 de fevereiro de 1967; b) Decreto-lei 413, de 9 de janeiro de 1969; c) Lei 6.313, de 16 de dezembro de 1975; d) Lei 6.840, de 3 de novembro de 1980; e e) Lei 10.931, de 2 de agosto de 200413

O conceito de título de crédito difundido amplamente e aceito pela maioria da doutrina foi formulado por Cesare Vivante, que enunciou: “título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado”.14

Nos dizeres de Fran Martins essa definição é: “a mais completa, pois encerra, em poucas palavras, algumas das principais características desses instrumentos”.15

Conceito este reproduzido pelo nosso Código Civil, praticamente de forma literal: “art. 887 - O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito

12

KOCH, Adilson. Os títulos de crédito. Web Artigos. Disponível em:

<http://www.webartigos.com/artigos/os-titulos-de-credito/11540/>. Acesso em 12 set. 2011. 13

NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa: títulos de crédito e contratos empresariais. São Paulo: Saraiva, 2010. 2 v. pag. 183

14

VIVANTE, 1910, p. 154-155 apud BRUSCATO, 2011, p. 381.

15

(37)

literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei.”16

O presente conceito traz implícito que o título de crédito caracterizado em um documento deve ser escrito para que possa ser exercido o direito nele expresso, ou seja, para que o título de crédito seja válido e possa ser pago, ele deve ser apresentado ao devedor. Sendo assim, para que haja a execução em caso de inadimplência o título tem que estar materializado conforme o rigor formal estabelecido para sua emissão.17

Outra característica decorrente do conceito acima é que o título é literal, ou seja, vale exatamente pelo que está escrito por seus termos e condições. No próprio título de crédito constam todos os dados necessários para delimitar a obrigação.18

O direito contido no título, além de literal, apresenta mais uma característica, é autônomo, o que equivale a dizer que uma vez criado o título ele se desvincula da causa que determinou sua criação, ressaltando que o título de crédito é um documento que representa um direito de crédito e que pode não ser propriamente originário deste.19

Também é o que ensina Fábio Ulhoa, três são as características que distinguem os títulos de crédito dos demais documentos representativos de direitos e obrigações:

Primeiramente o fato dele referir-se unicamente a relações creditícias, posteriormente por sua facilidade na cobrança do crédito em juízo (não há necessidade de ação monitória) e , finalmente , pela fácil circulação e negociação do direito nele contido.20

Assim, conhecido o conceito e as características, e porque o objeto do presente estudo são os títulos de crédito rural, necessário se faz o entendimento sobre os princípios a eles atinentes, o que faremos a seguir.

16

BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 28 out. 2011. 17 MARTINS, 2008, p. 6 18 Ibid. 19 Ibid., p. 7 20

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 13ª. ed,São Paulo: Saraiva, 2002. apud

(38)

3.1.2 Princípios dos títulos de crédito

Os princípios norteadores dos títulos têm importância fundamental no direito cambiário, pois são o alicerce no trato da matéria, além de que podem ser considerados características mais marcantes dos títulos de crédito, pois são os princípios que dão o mote de todo o sistema.

Dos princípios que disciplinam o regime jurídico dos títulos de crédito, destacam-se a cartularidade, literalidade e autonomia.

A cartularidade é o princípio pelo qual não existe direito se não existe o documento físico, o título escrito. Este princípio decorre do fato de que a obrigação constante no título só pode ser exercida (exigida) mediante a apresentação do título, pois o documento o incorpora e que a incorporação do título permite que se exerça outra função indispensável para sua consecução de sua função que é a circulação.21

A autonomia é o princípio pelo qual se exerce a negociabilidade dos títulos de crédito, concedendo-lhe agilidade, desvinculando-o do negócio que lhe deu origem. Desta forma pode-se dizer que a autonomia representa a independência das obrigações vinculadas ao título, ou seja, garante ao terceiro de boa-fé a inoponibilidade das exceções que possam ser aventadas com base no negócio jurídico que deu origem a criação do título. 22

Para Waldirio Bulgarelli a autonomia é requisito fundamental para a circulação dos títulos de crédito. Deste princípio decorre que o título de crédito circule com segurança. 23

Já a literalidade é o princípio que personifica o próprio direito contido no título, ou seja, o título vale pelo que nele está contido.

É o que ensina Bulgarelli, quando diz: “vale, assim, o documento pelo que nele se contém, exprimindo, portando, a sua existência, o seu conteúdo, a sua extensão e a modalidade de direito nele mencionado”.24

21

BRUSCATO, 2011, p. 389

22

Por essa regra. Consagrada no art. 17 da Lei Uniforme, o obrigado em uma letra não pode recusar o pagamento ao portador alegando suas relações pessoais com o sacador ou outros obrigados anteriores do título (por exemplo, não pode o obrigado recusar o pagamento alegando que é credor do sacador). In: MARTINS, 2008, p. 14

23

BULGARELLI, Waldirio. Títulos de crédito. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2000. p. 64

24

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