PROJETO DE LEI Nº 143/2008
Poder Executivo
Dispõe sobre a adoção de medidas de defesa sanitária vegetal no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências.
Art. 1º - A promoção da política agrícola relativa ao controle da pragas que comprometem a sanidade da população vegetal dar-se-á mediante a adoção de ações e de medidas de caráter técnico e administrativo, com os seguintes objetivos:
I - preservar e assegurar a qualidade e a sanidade dos vegetais;
II - manter serviço de vigilância fitossanitária, visando à prevenção, ao controle e à erradicação de pragas dos vegetais;
III - desenvolver sistema eficaz de vigilância epidemiológica;
IV - estimular a participação da comunidade nas ações de defesa sanitária vegetal;
V - compatibilizar as providências a serem adotadas com as normas e princípios de proteção do meio ambiente e da conservação dos recursos naturais, bem como de preservação da saúde humana. § 1º - O Poder Executivo, para o atendimento dos objetivos desta Lei, definirá, em regulamentos específicos, a população vegetal considerada de peculiar interesse do Estado e as medidas e ações tendentes à sua proteção, devendo:
I - controlar e erradicar pragas, podendo, inclusive, destruir vegetais, parcial ou totalmente; II - adotar as providências necessárias para impedir a disseminação de pragas;
III - garantir a sanidade dos vegetais destinados ao consumo, produção, armazenamento, preparo, manipulação, industrialização, comércio e trânsito;
IV - controlar o trânsito de vegetais no Estado do Rio Grande do Sul;
V - adotar as providências necessárias para impedir a entrada de pragas no Estado.
§ 2º - As atividades a serem desenvolvidas serão organizadas de forma a garantir o cumprimento da legislação referente à defesa sanitária vegetal, sendo executadas, quando for o caso, em conjunto com a União e com os Municípios.
§ 3º - Para os efeitos desta Lei, são considerados vegetais, também, suas partes, produtos, subprodutos e resíduos.
Art. 2º - A fiscalização, a inspeção e a execução das medidas e ações necessárias à defesa sanitária vegetal, exercidas sobre pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, serão realizadas sob planejamento, orientação e controle do Departamento de Produção Vegetal - DPV - , da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio - SEAPA -, observada a legislação vigente.
Art. 3º - As medidas destinadas à defesa sanitária vegetal do Estado compreenderão: I - cadastro das propriedades agrícolas localizadas no Estado do Rio Grande do Sul;
II - cadastro de empresas que produzam, industrializem, beneficiem, embalem ou comercializem vegetais de peculiar interesse do Estado;
III - credenciamento de laboratórios para identificação e diagnóstico de pragas;
IV - credenciamento de engenheiros agrônomos, engenheiros florestais e outros profissionais com atuação na área de sanidade vegetal no Estado;
V - inventário da população vegetal de peculiar interesse do Estado;
VI - inventário das pragas identificadas ou diagnosticadas no âmbito do Estado;
VII - controle do trânsito estadual de vegetais, para verificação do cumprimento das exigências fitossanitárias;
VIII - organização e execução de campanhas de prevenção, controle e erradicação de pragas ; IX - fiscalização sanitária vegetal de peculiar interesse do Estado;
X - treinamento técnico do pessoal envolvido na fiscalização e inspeção;
XI - estabelecimento de normas técnicas para fins de defesa sanitária vegetal, a serem observadas pelas propriedades e empresas referidas nos incisos I e II deste artigo.
§ 1º - Todos os estabelecimentos referidos nos incisos I e II deste artigo estão sujeitos a cadastro junto ao Departamento de Produção Vegetal - DPV -, observados os requisitos a serem fixados em regulamento.
§ 2º - Poderá ser estabelecida, nos regulamentos de que trata o § 1º do artigo 1º desta Lei, a exigência de certificado fitossanitário para as propriedades agrícolas mencionadas no inciso I deste artigo.
§ 3º - O certificado fitossanitário previsto no § 2º deste artigo poderá ser emitido por engenheiros agrônomos ou engenheiros florestais habilitados junto ao Departamento de Produção Vegetal - DPV -, preenchidos os requisitos estabelecidos em regulamento.
§ 4º - Poderá ser estabelecida, também, a exigência de certificado de sanidade para os estabelecimentos de que trata o inciso II deste artigo, na forma prevista nos regulamentos de que trata o § 1º do artigo 1º desta Lei.
Art. 4º - Para a verificação da existência de pragas nos vegetais e para a aplicação das medidas constantes desta Lei, o Departamento de Produção Vegetal - DPV- poderá inspecionar propriedades públicas ou privadas em estabelecimentos rurais ou urbanos.
Art. 5º - As ações de vigilância e defesa sanitária dos vegetais serão organizadas e coordenadas pelo Poder Público e articuladas, no que for atinente à saúde pública, com o Sistema Único de Saúde, delas participando:
I - os serviços e instituições oficiais;
II - os produtores e trabalhadores rurais, suas associações e técnicos que lhes prestem assistência; III - os órgãos de fiscalização das categorias profissionais diretamente vinculadas à sanidade vegetal;
IV - as entidades gestoras de fundos organizados pelo setor privado para complementar as ações públicas na área da defesa vegetal.
Art. 6º - Para o desempenho das atribuições previstas nesta Lei, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio - SEAPA - contará com a colaboração dos órgãos e entidades públicas estaduais, especialmente das Secretarias da Saúde, da Fazenda e da Segurança Pública.
Parágrafo único - As autoridades da área de saúde pública deverão comunicar ao Departamento de Produção Vegetal - DPV - as irregularidades constatadas na fiscalização de alimentos, que indiquem a ocorrência de problemas de sanidade vegetal ou de mau uso de agrotóxicos.
Art. 7º - As medidas de defesa sanitária vegetal cuja adoção for determinada pelo Estado deverão ser executadas pelas pessoas físicas ou jurídicas responsáveis, no prazo fixado pelo Poder Público.
§ 2°- Em caso de omissão, o Poder Público executará ou mandará executar as medidas necessárias, devendo os interessados ressarcir o Estado das despesas decorrentes da realização dos procedimentos compulsórios indicados.
Art. 8º - Em casos especiais, o órgão fiscalizador poderá proibir, restringir ou estabelecer condições para o trânsito de vegetais de peculiar interesse do Estado.
§ 1º - Os vegetais de peculiar interesse do Estado que tenham restrições fitossanitárias deverão estar acompanhados, além da documentação fiscal pertinente, de permissão de trânsito, conforme estabelecido em legislação federal.
§ 2º - O transportador de vegetais deverá portar os documentos fitossanitários que devam acompanhá-los e colaborar com a fiscalização, quando solicitado.
Art. 9º - Cometerá infração aquele que:
I - dificultar, embaraçar ou impedir a ação fiscalizadora;
II - não comunicar à vigilância sanitária vegetal, quando obrigatório, a ocorrência de praga; III - recusar-se a cumprir determinações legais;
IV - transitar ou comercializar sem a devida autorização, material vegetal sob restrição; V - alterar a situação do produto objeto de autuação pela fiscalização;
VI - usar artifício, ardil ou fraude para obter vantagem pessoal ou para outrem;
VII - não possuir documentação exigida pela legislação, ou deixar de apresentá-la quando solicitado;
VIII - prestar informação falsa ou enganosa, ou deixar de prestá-la quando solicitado; IX - praticar ato de infidelidade, quando depositário;
X - produzir, comercializar, armazenar, preparar, manipular, industrializar e promover o trânsito de vegetais, cujos estabelecimentos não se encontrem devidamente cadastrados no Departamento de Produção Vegetal;
XI - não comunicar alterações cadastrais no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da ocorrência; XII - deixar de fazer desvitalização e/ou destruição quando exigidos por normas legais; XIII - promover distribuição indiscriminada de resíduos ou refugos de vegetais;
XIV - promover atividades que possam contribuir para o desenvolvimento ou disseminação de praga de vegetal sob restrição;
XV - deixar de fazer desinfecção quando exigidos por normas legais;
XVI - comercializar ou transitar com organismos vegetais, parte de vegetais ou seus produtos em desacordo com os padrões de sanidade;
XVII - não afixar o cadastro em lugar visível para efeito de fiscalização.
Art. 10 - Responderá pela infração quem a cometer, incentivar ou auxiliar na sua prática ou dela se beneficiar.
Parágrafo único - Na hipótese de não se identificar ou não se localizar o responsável pela exploração da atividade, o proprietário do estabelecimento responderá pela infração.
Art. 11 - Aos infratores desta Lei, sem prejuízo de outras sanções previstas em legislação própria, serão aplicadas, as seguintes penalidades:
I - multa de até 20.000 UPF ;
II - apreensão de vegetais que não se prestarem à sua finalidade ou nos quais haja sido constatada irregularidade, ou, ainda, para fins de verificação de suas condições sanitárias;
III - destruição do vegetal apreendido, no caso de ser condenado ou de não ser sanada a irregularidade verificada, podendo, a critério da autoridade, ser doado a entidade oficial ou filantrópica;
IV - suspensão de atividade que cause risco à sanidade de população vegetal ou embaraço à ação fiscalizadora, quando ocorrer;
V- interdição total ou parcial da propriedade agrícola ou do estabelecimento, por falta de cumprimento das determinações da fiscalização.
§ 1º - Para o cálculo das multas, deverá ser considerado o valor da UPF vigente no dia da lavratura do auto de infração.
§ 2º - No caso do inciso I deste artigo, ocorrendo substituição da UPF, o valor da multa corresponderá à quantidade equivalente do novo índice adotado.
§ 3º - Na aplicação das multas, será considerada como circunstância atenuante a comunicação do fato, pelo infrator, à autoridade competente.
§ 4º - As multas previstas neste artigo serão agravadas até o dobro de seu valor, nos casos de artifício, ardil, simulação, desacato, embaraço ou resistência à ação fiscal.
§ 5º - Em caso de reincidência, o valor da multa será aplicado em dobro.
§ 6º - Se o vegetal apreendido puder servir a finalidade diferente da originariamente prevista, será devolvido ao infrator, para o uso condicionado pela fiscalização, salvo se existente risco fitossanitário.
§ 7º - A suspensão de que trata o inciso IV deste artigo cessará quando sanado o risco ou findo o embaraço oposto à ação da fiscalização.
§ 8º - A interdição de que trata o inciso V deste artigo será levantada após o atendimento das exigências que motivaram a sanção.
§ 9º - O não-cumprimento das exigências que motivaram a interdição acarretará o cancelamento do cadastro.
§ 10 - A inexistência ou o cancelamento do cadastro implica exercício ilegal da atividade, sujeitando-se o transgressor às sanções de ordem administrativa previstas nesta Lei, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.
§ 11 - A aplicação da pena de multa não exclui a incidência das demais sanções previstas neste artigo. Art. 12 - Será aplicada a pena de proibição do comércio do material vegetal, quando comprovada sua infecção ou infestação ou quando esteja fora dos padrões oficialmente determinados.
Art. 13 - Será aplicada a pena de interdição do estabelecimento ou da propriedade agrícola quando, constatado o risco de disseminação, propagação ou difusão da praga, ou quando o seu proprietário, responsável ou ocupante a qualquer título não atenda, ou atenda em desacordo, as medidas ou instruções fitossanitárias determinadas pelo Departamento de Produção Vegetal objetivando extingui-lo.
§ 1º - Entende-se por interdição de estabelecimento ou de propriedade agrícola a vedação do trânsito de animais, pessoas, veículos, vegetais ou qualquer outro meio ou instrumento vetor da praga.
§ 2º - Suspender-se-á a interdição do estabelecimento ou da propriedade agrícola tão logo cessados ou sanados os motivos que a determinaram.
Art. 14 - Ocorrerá a apreensão de produto que não mais se prestar à sua finalidade ou, se verificada irregularidade, não for esta sanada no prazo indicado pela fiscalização.
Art. 15 - O produto apreendido, a juízo do Departamento de Produção Vegetal poderá ser destruído ou doado a entidade oficial ou filantrópica.
Art. 16 - No caso de abandono do vegetal apreendido ao Departamento de Produção Vegetal o destinará a aproveitamento condicionado, revertendo o produto da operação para o Fundo Estadual de Apoio ao Setor Primário da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio.
Art. 17 - Os infratores estarão sujeitos a multa nos seguintes valores: I - 100 (cem) UPF a 500 (quinhentas) UPF, quando:
a) transitar ou comercializar organismos vegetais, parte de vegetais ou seus produtos em desacordo aos padrões de sanidade;
b) não possuir Certificado Fitossanitário de Origem, quando exigido; c) deixar de prestar informações ou de fornecer documentos;
d) não afixar em destaque o Registro ou Cadastro do Estabelecimento; e) deixar de comunicar alterações cadastrais do estabelecimento; II - 501 (quinhentas e uma) UPF a 1.500 (mil e quinhentas) UPF quando:
a) transitar ou comercializar sem a devida documentação material vegetal sob restrições; b) não possuir cadastro do estabelecimento no Departamento de Produção Vegetal; c) recusar-se a cumprir as determinações da fiscalização;
d) quando causar embaraço, dificultando ou impedindo o desempenho da fiscalização; e) deixar de fazer desinfecção quando exigida pelas normas legais;
f) deixar de comunicar ao órgão de fiscalização sanitária vegetal, a ocorrência de pragas de comunicação obrigatória;
III - 1.501 (mil, quinhentas e uma) UPF a 5.500 (cinco mil e quinhentas) UPF, quando: a) prestar informações falsas ou enganosas;
b) usar artifício ou ardil para tirar vantagens pessoais ou para outrem;
c) desenvolver atividade que possa contribuir para a disseminação de praga dos vegetais sob restrição;
d) promover o descarte indiscriminado de produtos agrícolas, resíduos ou refugos, quando houver restrições;
e) deixar de fazer desvitalização ou destruição, quando exigida pelas normas legais; IV - 5.501 (cinco mil, quinhentas e uma) UPF a 20.000 (vinte mil) UPF, quando:
a) retirar produto vegetal de estabelecimento ou propriedade agrícola interditada sem autorização;
b) instalar cultura com restrições em área interditada para essa cultura; c) evadir-se com produto vegetal sujeito a interdição ou apreensão;
autorização;
e) recusar-se a destruir material vegetal contaminado ou suspeito de contaminação; f) tornar-se depositário infiel;
g) transitar ou comercializar produto vegetal acompanhado de documento público falsificado. Art. 18 - Fica estabelecido o valor de 1 UPF para a emissão da Permissão de Trânsito Vegetal pelo Orgão Estadual de Defesa Sanitária Vegetal.
Art. 19 - O recolhimento das multas e das emissões de permissões de trânsito vegetal será feito ao Fundo Estadual de Apoio ao Setor Primário, da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio, por meio de Guia de Recolhimento própria.
Parágrafo Único - Na hipótese de aproveitamento condicionado do vegetal apreendido ou abandonado pelo interessado, o produto da operação deve ser recolhido dentro do prazo de 15 (quinze) dias, contados a partir da emissão da Guia de Recolhimento.
Art. 20 - O Poder Executivo regulamentará esta Lei.
Art. 21 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICATIVA
A economia do Estado do Rio Grande do Sul está alicerçada na produção e industrialiazação de produtos agropecuários.
O setor primário gaúcho é relativamente diversificado, tendo a produção de grãos contribuído com a maior fatia para a composição do PIB setorial.
O setor da base florestal como um todo já representa o segundo item nas exposrtações brasileiras. Sabe-se, no entanto, que as barreiras sanitárias são hoje o principal fator de impedimento de acesso aos mercados internacionais dos produtos e subprodutos da atividade agrícola.
Manter e melhorar a atual ‘status sanitário’, é o principal objetivo do serviço de defesa sanitária executada pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio.
Investimentos em informatização, rastreabilidade e estruturação dos postos de fiscalização sanitária, tem sido prioridade da atual Administração.
Os processos de certificação fitossanitária de origem foram implantados a mais de cinco anos no Estado o que tem garantido a exportação principalmente de maçã e madeira de pinus para a Europa, Estados Unidos e países asiáticos.
Entretanto, o serviço de defesa sanitária vegetal carece de instrumentos legais para execução de suas atividades. O Decreto Federal 24.114 de 1934 é o embasamento legal para o seu exercício. Regulamento portanto, desatualisado e que vem sendo cumprido através de Portarias e Instruções Normativas editadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sem no entanto proverem o Estado de instrumentos legais, que possam coibir de forma mais eficiente irregularidades que possibilitem o ingresso e a disseminação de novas pragas para os cultivos de interesse econômico.
A presente proposta traz como novidade a eleição de cultivos de interesse do Estado, que farão parte de programas oficiais de defesa sanitária vegetal, além disso, prevê a aplicação de medidas pecuniárias além
da cobrança das emissões de Permissão de Trânsito Vegetal, o que irá contribuir para o ressarcimento financeiro das atividades executadas pelo Estado nessa área.
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OF.GG/SL - 195
Porto Alegre, 19 de junho de 2008. Senhor Presidente:
Dirijo-me a Vossa Excelência para encaminhar-lhe, no uso da prerrogativa que me é conferida pelo artigo 82, inciso III, da Constituição do Estado, o anexo projeto de lei que dispõe sobre a adoção de medidas de defesa sanitária vegetal no âmbito do Estado e dá outras providências correlatas, a fim de ser submetido à apreciação dessa Egrégia Assembléia Legislativa.
A justificativa que acompanha o expediente evidencia as razões e a finalidade da presente proposta. Atenciosamente,
Yeda Rorato Crusius, Governadora do Estado.
Excelentíssimo Senhor Deputado Alceu Moreira, Digníssimo Presidente da Assembléia Legislativa, Palácio Farroupilha,