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NOTAS PARA A HISTORIA DOS PILOTOS EM PORTUGAL

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Academic year: 2021

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ISSN 0870-6735

CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA E CARTOGRAFIA ANTIGA

SÉRIE SEPARATAS

231

NOTAS PARA A HISTORIA DOS PILOTOS

EM PORTUGAL

POR

MARIA EMILIA MADEIRA SANTOS

INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA TROPICAL L I S B O A • 2 0 0 1

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Separata de

Sessão Comemorativa do X Aniversário do Instituto Nacional de Pilotagem dos Portos, Lisboa, Academia de Marinha - Págs. 9-12

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NOTAS PARA A HISTÓRIA DOS PILOTOS

EM PORTUGAL

Resumo da comunicação proferida por Maria Emitia Madeira Santos

As notas que aqui apresentamos hoje não constituem o resultado de uma investigação original, nem sequer pretendem ser uma releitura de fontes já estudadas, para as submeter a novo questionário.

O nosso objectivo confina-se a chamar a atenção para a actualidade de um tema que, embora já tratado por ilustres historiadores como Sousa Viterbo1, Frazão de Vasconcelos2 e Teixeira da Mota, entre outros, não

tem sido retomado com o desenvolvimento que, tal como a História da Marinha em geral, ele merece.

Em 1969 Teixeira da Mota publicou Os Regimentos do

Cosmó-grafo-Mor de 1559 e 1592 e as Origens do Ensino Náutico em Portugal3,

o que veio lançar uma nova luz sobre o ensino e preparação dos pilo-tos, assim como de outros especialistas ligados à arte de marear; o fun-cionamento dos Armazéns da Guiné e índia, dos quais dependia a arma-ção e tripulaarma-ção dos navios, ficaria com este trabalho em grande parte esclarecido.

A base documental em que se apoiou Teixeira da Mota foi o Regimento do Cosmógrafo-Mor de 1592, no qual se encontram referên-cias a um regimento anterior datado de 15594. O documento descoberto

na Biblioteca da Ajuda, numa pesquisa sistemática orientada por aquele ilustre historiador, daria origem a uma análise de grande erudição que

1 Sousa Viterbo, Trabalhos Náuticos dos Portugueses nos Séculos XVI e XVII, 2 vols.,

Lisboa, 1898 e 1900.

2 Frazão de Vasconcelos, Subsídios para a Carreira da índia no Tempo dos Filipes,

Lisboa, 1960. Pilotos das Navegações Portuguesas dos Séculos XVI e XVII, Lisboa, 1942.

3 Teixeira da Mota, Os Regimentos do Cosmógrafo-Mor de 1559 e 1592 e as Origens

do Ensino Náutico em Portugal, Sep. n.° 51, Lisboa, 1969.

4 Biblioteca da Ajuda, cod. 44-XIII-56, doe. 53, f. 188-196 v.

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Maria Emília Madeira Santos

resultaria em conclusões relativas à navegação astronómica, fabrico de cartas e instrumentos náuticos e ao ensino da náutica em Portugal.

No dia de hoje, em que a Academia de Marinha se associa à Comemoração do 10.° aniversário do Instituto Nacional de Pilotagem dos Portos, desejamos lembrar que os pilotos portugueses são técnicos espe-cializados, aos quais foi exigido estudo e prestação de provas, desde o século XVI.

Contrariamente ao que se passava, de uma maneira geral, com os oficiais régios, nomeados para os seus cargos como pessoas de confiança do rei, os pilotos eram admitidos no ofício pela sua preparação técnica, demonstrada através de exame devidamente regulamentado.

Enquanto um feitor da Mina ou de Cochim mal conhecia uns rudi-mentos de contabilidade, comparado com um mercador italiano, o piloto precisava saber matemática, astronomia e todo um curriculum estrita-mente legislado.

O responsável por esta preparação técnica era o Cosmógrafo-Mor, encarregado de beneficiar a navegação dos mares da Coroa Portuguesa. Neste sentido devia dar uma lição de matemática diariamente, a que assistiam, em regime de voluntariado, os pilotos, sota-pilotos, mestres, contramestres e guardiães responsáveis pelo governo das navegações e a cuja incapacidade se imputava, nos fins do século XVI, grande número de naufrágios.

Sem pormenorizar o programa, diremos apenas que, para além de elementos de astronomia, cartografia e estudos de marés, os pilotos apren-diam a fazer observações astronómicas, manejando, nas aulas, o astrolá-bio, a balestilha, o quadrante, o relógio de sol e a agulha de marear, cuja variação era e seria um tema de grande controvérsia.

Para além deste curriculum comum, podiam considerar-se duas gran-des áreas geográficas de especialização: as carreiras da Guiné, Ilhas, Brasil e Angola (digamos assim, o Atlântico) e a carreira da índia (Atlântico e Índico). Raramente um mesmo homem obtinha carta de piloto que abrangesse as duas áreas.

Ao exame só podiam candidatar-se pilotos cuja prática de navega-ção na carreira requerida fosse atestada pelo testemunho de pilotos e mestres já qualificados.

Após a confirmação prévia da prova prática, seguia-se a prova téc-nica, prestada nos armazéns da Casa da Mina perante um júri consti-tuído por três elementos: o cosmógrafo-mor, o piloto-mor e o patrão-mor, com a presença de mestres e pilotos antigos das carreiras marítimas sobre as quais prestavam provas.

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Notas para a História dos Pilotos em Portugal

x

Os candidatos à carreira da índia eram examinados com maior grau de exigência, na presença de seis pilotos dos mais antigos e de maior crédito, assim como de um cartógrafo. Para o conjunto das restantes car-reiras prescrevia-se apenas a presença de quatro pilotos, sem referência a qualificação especial.

Previa-se igualmente a possibilidade de um piloto passar de uma carreira para outra, o que exigia uma reciclagem constituída por várias viagens de aprendizagem na nova carreira e respectivo exame.

No caso de ficar aprovado, o candidato recebia do cosmógrafo-mor a carta de examinação e estava apto a matricular-se no respectivo livro dos armazéns da Mina. Este registo marcava o início de uma carreira profissional e servia de base para o escalonamento do serviço de forma a permitir uma rotação de todos os oficiais náuticos designados para cada viagem segundo a ordem registada.

Uma vez profissionalizados e inscritos no livro de registo corres-pondente aos pilotos, tornavam-se quadros especializados ao serviço exclusivo da marinha real.

É certo que eles não eram seleccionados através do grau de con-fiança de que gozavam junto do rei, como acontecia com outros funcio-nários régios, mas o reconhecimento das suas capacidades técnicas esta-belecia vínculos muito fortes ao serviço do rei.

O piloto não podia negar-se, sem uma justificação válida, a seguir numa viagem para a qual fosse superiormente designado. Chegava-se mesmo ao extremo de o coagir pela força. Em 1614, quando os ataques dos Holandeses à carreira da índia se intensificavam, tornava-se indis-pensável entregar as armadas em mãos de homens experientes, capitães, bombardeiros e marinheiros. O piloto, porém, tinha um tratamento espe-cial: "(...) e quanto ao piloto-mor Gaspar Ferreira [Reimão] hey por bem e mando que logo lhe façaes dizer que sem réplica se embarque este anno como já o tenho ordenado e assi o procurareis que o faça com effeito uzando para isso de meios suaves, porém quando de todo o. não quizer fazer o mandareis embarcar preso (...)"5.

Efectivamente, mais do que os capitães, com cuja autoridade se cho-cavam frequentes vezes, os pilotos eram os últimos responsáveis pelas ligações regulares entre o Reino e as diversas partes do império. Se a política portuguesa extra-europeia foi uma política de transportes, eles foram os responsáveis técnicos que asseguraram as ligações.

Por isso, tal como os cartógrafos, eles foram disputados pelas outras potências marítimas europeias que desejavam, não só conhecer a

ima-5 Biblioteca da Ajuda, cod. 51-VII-6, doe. 657, f. 241-242.

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Maria Emília Madeira Santos

gem do mundo descoberto, mas também adquirir o "know how" da nave-gação das novas rotas. A fuga de quadros fora um problema que a diplo-macia portuguesa nas cortes europeias tentara, em vão, resolver durante todo o século XVI. No final do século, quando Galileu e Kepler lança-vam as bases da astronomia moderna e O rtelius preparava o Theatrum

Orbis Terrarum, não havia fronteiras políticas nem vínculos hierárquicos

que impedissem a transmissão do saber.

Referências

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