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Vista do Elementos históricos na formação da religiosidade popular no município de Cunha

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Academic year: 2021

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ELEMENTOS HISTÓRICOS NA FORMAÇÃO DA

RELIGIOSIDADE POPULAR NO MUNICÍPIO DE CUNHA

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Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Mestre em Ciências da Religião pela PUC-SP. Graduado em Filosofia pelas Faculdades Associadas do Ipiranga. Docente da Unifei.

Adilson da Silva Mello

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PALAvRAS-CHAvE

KEywORDS

RESUMO

AbSTRACT

O presente artigo pretende examinar, a partir de perspectivas históricas, o processo de formação econômica da região e propor que o mesmo tenha influência na formação de uma cultura para o município. O ar-tigo não pode deixar de lado a relação do processo no município com o processo de formação dos núcleos urbanos da região, bem como a formação cultural desta rusticidade.

Cultura; Economia; Cultura popular; Catolicismo e religiosidade popular.

This article aims to examine, from historical perspective, the process of economic formation of the region and propose that it has influence in the formation of a culture for the city. The article can not leave out the relationship of the process in the city with the formation process of urban areas in the region, as well as cultural training of rusticity.

Culture; Economics; Popular culture; Popular catholicism and religiosity.

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O Vale do Paraíba é uma das mais antigas regiões em termos de ocupação no Brasil. Está intimamente ligado ao desenvolvimento e consequente in-sipidez da Vila de São Paulo, que levou muitos homens a procurar melhor vida para si e suas famílias em terras incultas da região, como forma de ascensão social e econômica. Müller (1969), em seu texto Fato urbano na bacia do Rio Paraíba afirma que o processo de urbanização do Vale do Paraíba teve início na primeira metade do séc. XVII, motivada por três fatores principais: a) política metropolitana de promover ocupação de territórios através da doação de terras; b) procura de jazidas minerais; c) interesse em estabelecer ligações com o litoral norte da província. O povoamento de Cunha ocorreu, semelhantemente ao que ocor-reu com outras vilas do Vale do Paraíba - respectivamente Taubaté e Guaratinguetá -, através da doação de sesmarias localizadas próximas ao caminho aberto por Domingos Velho Cabral, em 1650, que dava passagem a viajantes que penetravam a partir do Porto de Parati para o interior, com necessidades econômicas vinculadas ao bandeirantismo de apresamento1.

1 Milliet de Saint-Adolphe, citado por Marques (1952), afirma que o povoamento de Cunha teve origem em 1660, quando “um bando de aventureiros abrio caminho por entre as mattas e transpôz as altas serras da cordilheira dos Órgãos para ir da villa de Paraty ao districtos das minas de ouro, assentando moradia n’uma d’estas montanhas, á que pôz o nome de Falcão”. Azevedo Marques contesta tal afirmação fundamentando-se no fato de terem sido posteriores as descobertas do ouro no interior: Ao que parece, não é procedente relacionar, de modo imediato, o povoamento de Cunha ao transporte do ouro proveniente da região mineira. Não encontramos registros documentais que validassem tal idéia apesar de alguns estudiosos como Shirley (1974) relacionarem que a mesma servia ao “embarque de muitas espécies de mercadorias”. Shirley (1974) não descreve, em seu capítulo sobre a história Cunha, os reais motivos que levaram à construção do caminho, tampouco que produtos eram transportados e sua época.

Os textos encontrados sobre a história de Cunha pouco refletem sobre o povoamento e nada foi produzido sobre as sesmarias da região. Veloso, em um de seus artigos sobre a cidade de Cunha, denominado, “Cunha” escreve: “Cunha principiou em 1724 por aventureiros que

se animavam a transpor a Serra do Mar, em busca de riquezas ocultas nos sertões de Minas e São Paulo.” Ao que parece, a afirmação peca no que se refere ao termo utilizado pelo

autor quando descreve e relaciona o surgimento de Cunha ligado a “aventureiros”. Segundo levantamento feito, consultando os registros de cartas de sesmarias, em 1650 havia sido concedida a sesmaria de Domingos Velho Cabral. Em 1718, consta haver um novo pedido de revalidação dessa mesma sesmaria, pedido por sua filha Maria Velho do Rosário . Esses mesmos registros de cartas de sesmarias parecem invalidar a idéia de que Cunha tenha se formado por simples aventureiros posto que, nas petições de sesmarias, o justificante se dizia morador com sua família, escravos e plantações, dando-nos a idéia de haver, nesse mesmo período, uma ocupação do espaço rural já em processo adiantado que contradiz a idéia de “aventureiros”. Outro fato que corrobora essa afirmação são as referências a uma sesmaria no começo do séc. XVIII encontrada no processo de Bartolomeu Bueno de Mendonça (Arquivo de Taubaté), bem como a um processo anterior envolvendo a capela

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Ao final do século XVII, o Vale do Paraíba já contava com três vilas (Taubaté, Jacareí e Guaratinguetá), dois povoados ( Pindamonhangaba e Tremembé) e dois aldeamentos (N. Sra. Da Escada e São José). O po-voamento seiscentista está limitado ao Vale Médio do Paraíba (em São Paulo).

Quando do surgimento do ciclo do ouro, o mesmo influenciou o processo de urbanização na medida em que o Vale do Paraíba se colocava em uma situação geográfica separada pela Serra da Mantiqueira em relação às Minas Gerais. Com a intensificação do povoamento, a economia valepa-raibana já transcendia os limites da produção de subsistência. Este fato gerou um certo “euforismo” até que pela segunda metade do século XVIII, novos fatos irão restringir a ascendência da vida econômica na região. Em primeiro lugar, podemos citar a criação do “caminho novo” aberto por Garcia Rodrigues Paes; outro fator foi a retração do mercado mineiro com o surgimento de novos núcleos urbanos que se organiza-vam em torno da produção agropecuária e, por fim, a decadência das minas e a consequente queda do poder aquisitivo dos habitantes das áreas de mineração.

Sobre as rotas transversais que ligavam o Vale do Paraíba ao litoral, Muller (1969, p. 22) afirma que

das três últimas, Cunha tem posição especial, pois, além de ter precedido de bastante as demais, ficava sobre a rota mais importante, a de Guaratinguetá para Parati, por onde se fazia a ligação com o Rio de Janeiro, por via marítima. Ao longo desse caminho havia três pequenos povoados: Campo Alegre, Facão e Boa Vista, mas, quando as autoridades eclesiásticas resolveram criar paróquia na zona, Facão, que datava de 1723, foi o preferido. Assim se fazendo, reconhecia-se sua situação favorável, a meio da “N S Penha” de Itacurussá localizada na região de Cunha (Cf. processo de Bartolomeu Fernandes de Faria - Ouvidoria Geral, “Arquivo do Estado” - devassa de crime por roubo das alfaias da capela na segunda metade do séc. XVII). Observando o levantamento realizado nas Cartas de Registro de Sesmarias existentes no Arquivo Público do Estado de São Paulo, constata-se que foram concedidas 29 (vinte e nove) sesmarias entre 1650 e 1788. Porém, observa-se um grande período sem concessões entre a primeira que data de 1650, conce-dida a Domingos Velho Cabral e a segunda concessão que data de 1725, a André Marinho de Moura. Boa parte dessas concessões (1725-1788) se concentrou na região sudeste do atual município de Cunha.

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caminho entre as duas cidades, Guaratinguetá e Parati, a cavaleiro da escarpa da Serra do Mar. Entre 1736 e 1749 foi criada a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Facão que, em 1785, passaria a vila como Nossa Senhora da Conceição de Cunha.

Diante das condições econômicas da região, o ritmo de urbanização foi diminuindo. Com a decadência do café e o posterior abandono da cafeicultura, o vale se vê na necessidade de procurar novas formas de produção.

Além dos proprietários de terras, viviam nos aglomerados urbanos outros elementos ligados a atividades rurais: camaradas, feitores, “jor-naleiros”, além de alguns que viviam da extração da madeira, da caça e da pesca.

O setor secundário era de proporções modestas: atividades de caráter artesanal e doméstica, a grande maioria não possuía lojas. No setor de manufaturas o grupo mais significativo é o que se prende á fiação e tecelagem correspondendo a 40% do total. No setor terciário, a grande maioria prende-se à organização militar ou paramilitar. Por ordem de importância seguem-se atividades ligadas ao comércio e à circulação de mercadorias.

Como se constata, os aglomerados de então reuniam um grande número de pessoas ligadas á atividades rurais, com pequena representação de ofícios e serviços, corresponden-do ao mínimo necessário para atender a sua população e às funções de pontos de paradas na circulação regional. Esse pequeno equipamento era, a um tempo, causa e efeito da economia de auto-suficiência que reinava nas propriedades rurais: as “casas grandes” eram centros de produção e de consumo de todas as utilidades mais indis-pensáveis pelo isolamento em que viviam e pelo pouco que os aglomerados urbanos tinham a oferecer-lhes (MÜLLER, 1969, p. 45).

As terras, em sua grande maioria, foram concedidas a portugueses mora-dores em Guaratinguetá e, com raras exceções, para indivíduos oriundos de Taubaté e Parati. A partir da segunda metade do séc. XVIII, há uma

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predominância de concessões a moradores já residentes no Facão. Dentro do contexto da história do Brasil e da região do Vale do Paraíba, a posição de Cunha, entre o antigo porto de Parati, a cidade de Guara-tinguetá e, seguindo adiante, para o sul, São Paulo e a oeste, o Sul de Minas Gerais, torna-se ponto privilegiado no que se refere a paradas obrigatórias nas incursões então feitas pelos povoadores dessa região. A história de Cunha está, também, ligada à história do transporte de mer-cadorias à Vila de Parati, onde se efetuava o embarque de várias espécies de produtos, dentre eles o ouro e, posteriormente, parte da produção do café. Porém, Cunha é, e tem sido sempre, uma região periférica, sempre secundária e dependente dos grandes movimentos sociais e econômicos, que ocorreram no vizinho Vale do Paraíba e no imenso interior de São Paulo e Minas Gerais (SHIRLEY, 1974, p. 35).

Duas vertentes podem ser encontradas na historiografia referentes ao período colonial para explicar as transformações ocorridas nesta fase. Por um lado, encontramos uma interpretação que valoriza preponderan-temente a dependência econômica para com a metrópole, não tecendo considerações sobre as áreas coloniais não exportadoras no âmbito de dependentes do crescimento ou retração do núcleo agroexportador que a faz subsidiária2. Por outro lado, encontramos autores que procuram

2 Manolo Florentino e João Fragoso fazem um breve apanhado da questão percorren-do os trabalhos clássicos a partir da ruptura de Caio Prapercorren-do com as teorias percorren-dos ciclos e a busca dos “fundamentos estruturais da história brasileira” onde afirma que a análise do referido autor se assenta sobre as bases da contínua transferência de excedentes para a metrópole lusitana - o que se traduz, ao seu ver, em uma economia exportadora de base agrária centrada na grande propriedade, no mono cultivo e no trabalho escravo - o que implicaria na incapacidade estrutural de a colônia gerar circuitos internos de acumulação e na dependência; segundo Manolo, Celso Furtado chega a mesma conclusão a partir da análise da empresa açucareira como subordinação ao capital mercantil; ainda segundo o autor, 30 anos depois Fernando Novais reforçava a mesma idéia. A primeira crítica viria com Ciro Flamarion Cardoso para quem as sociedades coloniais só revelariam seu pleno sentido quando tomadas como elementos integrantes da economia européia; seguindo os mesmos passos, Jacob Gorender questionava a excessiva ênfase dada à transferência do excedente colonial aventando a possibilidade concreta de acumulações no interior da formação colo-nial - neste caso Manolo critica em seu modelo a persistência de elementos herdados dos quadros explicativos por ele criticados. Assumindo as perspectivas de Flamarion e Gorender, Manolo afirma que assume o ponto de vista de que “para além das frações dominantes coloniais, a consecução do projeto colonizador, mais do que criar um sistema monocultor e exportador, visava reproduzir em continuidade uma hierarquia altamente diferenciada. Por se tratar de estratificação assentada no escravismo, sua viabilização tinha por pressuposto a própria reprodução das relações de poder [...]” Cf. João R. Fragoso e Manolo G. Florentino.

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evidenciar a necessidade de se considerar os elementos econômicos in-ternos à colônia como aspectos também importantes na estrutura socio-econômica do Brasil colônia. Neste caso, concebe-se um mecanismo expropriador no interior da colônia, dando à mesma certa autonomia onde “as regras de estrita dependência para com a metrópole” - pacto colonial - estão marcadas também pela manutenção desta elite mercantil residente. Autoperpetuar-se, passa a ser o sentido da expropriação feita pela elite. Não se nega a dependência para com o externo forjada pelo pacto colonial, mas se redimensiona a sua importância (ALVES, 1992, p. 3).

Guardadas as devidas precauções com relação à questão levantada aqui sobre a periodização de Lucila Hermann e ao fato de ainda não se ter sobre Cunha um trabalho de vulto que se possa vislumbrar tal problema em uma análise mais profunda, pode-se perceber que foi de fundamental importância para o desenvolvimento de Cunha a ligação feita em 1650 entre o litoral e o Vale do Paraíba e, conse-qüentemente, o interior. Porém, o aumento da atividade produtiva se deu entre 1695 e 1750, quando da corrida do ouro brasileiro. Segundo Shirley, entre 1693 e 1695, aumentaram as viagens entre Parati e o interior. Os homens que recebiam as primeiras concessões não eram prósperos e foram o embrião da “elite dos latifundiários da localidade”. Às vezes eram feitas concessões a membros de uma mesma família, o que possibilitou o desenvolvimento de “colônias de pessoas congêneres”. O autor descreve a localização das casas

Neste contexto, encontramos a abordagem de Lucila Hermann. Lucila Hermann, descrevendo a história de Guaratinguetá, divide-a em ciclos econômicos que começam com a economia de subsistência e continuam com o ciclo dos engenhos, o ciclo do café e o ciclo que a mesma descreveu como atual à época de sua produção acadêmica - publicada na revista de administração da Universidade de São Paulo em 1948 - e que chama de economia mista (rural-urbana). Neste seu trabalho, ao analisar o primeiro ciclo, o que chamou de ciclo da economia de subsistência, que se estenderia de 1635 a 1775, a autora aponta elementos que se fazem comuns aos da historia do município de Cunha. Segundo a autora, São Paulo constitui uma região de passagem, um “nó de comunicações” e articulação entre o conti-nente e o litoral. Neste sentido, o Vale do Paraíba torna-se um dos principais feixes desse “nó de comunicações”. Sendo zona de passagem, não consegue a região tornar-se expres-são economicamente significativa. Assim sendo, o Vale do Paraíba se vê forçado, segundo Lucila Hermann, a desenvolver uma economia de subsistência “num período sem mercado interno e externo que servisse às necessidades da sua população, estando aquele voltado para as formas de economia exploradora das outras regiões para suprir as necessidades de abastecimento das bandeiras preadoras, mineradoras, ou às grandes tropas e boiadas que vinham do sul” (HERMANN,1986, p. 13-15).

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dos proprietários, sua funcionalidade e a relação de ocupação dentre as fazendas e os camponeses pobres.

A casa era, comumente, estabelecida a alguma distância longe da estrada para que o proprietário pudesse fiscalizar sua propriedade mais facilmente. Essa casa, com o tem-po, tornava-se uma fazenda, um núcleo residencial onde o fazendeiro vivia com seus familiares e escravos. Ainda mais, era comum ao fazendeiro, o grande proprietário, permitir que diversas famílias mais pobres vivessem em sua terra, livres de aluguel. Estas famílias dependentes viviam dispersadas na área da sesmaria e formaram a base do campesinato caipira paulista (SHIRLEY, 1974, p. 41). A base econômica de Cunha, no período estudado, é, sem dúvida pautada na produção agropecuária e na atividade tropeira3. A situação levantada pelo senso de 1943, quando Willens estudou o mu-nicípio, era de uma localidade habitada por cerca de 25.000 habitantes. Eram encontrados cerca 50% da população envolvida com atividades ligadas ao setor primário, sendo que essa percentagem envolvia habi-tantes acima dos 10 (dez) anos de idade.

3 No Vale do Paraíba, para o período, encontramos registros de população escrava que podem ser parâmetro para uma relação com a população de escravos encontrada em Cunha. Para tanto, vamos tomar os apontamentos de Daniel Pedro Müller - Daniel P. Müller.

Ensaio d’um quadro estatístico, Província de São Paulo. São Paulo.Gov. Estado de São Paulo. 1978, pp. 154-158. Percebemos, porém, que na realidade, estes dados, no caso de Cunha, pertencem ao censo de ordenanças de 1835 e não 1836. No caso de Cunha, não existe o levantamento de 1836. O último censo de ordenanças do período foi realizado em 1835 só voltando a ser efetivado já no final do séc XIX, especificamente a partir de 1872 - para

o ano de 1836 e relacioná-los com o ano de 1835 em Cunha. Tomamos um total de oito vilas a partir de Jacareí e encontramos um total de 18.436 escravos, excetuando-se a Vila de Cunha. Essa população encontra-se assim dividida: Jacareí 2315 escravos, São José 458, São Luiz 1458, Taubaté 3.604, Guaratinguetá 2258, Lorena 3843, Areias 2830 e Bananal 1679 escravos. Neste mesmo período, a Vila de Cunha possuía um total de 1652 escravos o que representava, diante do total das cidades citadas, 8,9% da população total de escravos aqui levantada, encontrando-se como sétima Vila - em termos de colocação, em ordem crescen-te - do Vale do Paraíba, entre as computadas, em população cativa. Não acrescentamos a Vila de Pindamonhangaba por acreditar haver um grave erro na ordem de colocação dos dados; provavelmente, o referido erro - pág 156 - poderá ser atribuído a um engano de ordem tipográfica, trocando os dados de pretos africanos livres por pretos africanos cativos. Achamos por bem, diante de tal circunstância, não considerar os referidos dados.

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Na época, aproximadamente 1500 habitantes viviam na cidade, o que representa 5,5% da população do Município. Além disso, cerca de 30% da população urbana não praticava uma atividade econômica de caráter urbano. Willens (1947, p. 18) afirma que: “a sociedade local oferece apenas quatro espécies de atividades rotinizadas: agricultura e pecuária, comércio, funcionalismo público e artesanato”.

A agricultura só era interessante, do ponto de vista ocupacional, para quem fosse proprietário de terra em quantidade e qualidade que ga-rantisse uma existência independente. A condição de arrendatário ou meeiro representava uma perspectiva de assalariado. Com a chegada dos “mineiros” surgiu um novo tipo de arrendatário. Um contrato garantia ao proprietário das terras um pagamento em dinheiro e ao meeiro a autonomia no uso da terra. Segundo Willens, a entrada desses mineiros ampliou a criação de gado e aumentou o processo de êxodo rural. As relações da vida econômica de Cunha estavam essencialmente ligadas à vida rural pois não havia, “como em outros municípios, indústrias que utilizassem de matéria importada, capital e mão-de-obra local para expor-tar, integralmente, o produto manufaturado sem que a zona rural fizesse qualquer contribuição” (WILLENS, 1947, p. 21). Os próprios comerciantes de Cunha já sofriam a concorrência de mercadores do Vale do Paraíba que subiam a serra para adquirir diretamente produtos rurais.

Willens chega a citar o artesanato como atividade a se destacar, porém afirma que a maioria dos artesãos possui uma atividade econômica paralela. Neste sentido, afirma que o crescimento da indústria no Vale do Paraíba acaba por enfraquecer este tipo de atividade econômica no município.

Sobre o funcionalismo Willens afirma que tal tipo de carreira permanece aquém de outras oportunidades profissionais tendo em vista as poucas necessidades burocráticas erigidas pela estrutura econômica da época. No que se refere à migração, o autor afirma que a mesma tinha a fun-ção de “manter o equilíbrio relativo entre o excedente demográfico e as possibilidades de distribuição dos indivíduos nos campos de atividades socialmente aprovadas” (WILLENS, 1947, p. 20).

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povo-ado compacto. Os mesmos se comunicavam por caminhos com poucas estradas municipais. A malha rodoviária municipal era de aproximada-mente 280 Km, transitável em tempo seco, entretanto o município possui 1510 Km2 . A população de Cunha, principalmente do interior, vivia em um alto grau de isolamento. Boa parte dos moradores rurais não conhecia Guaratinguetá. Já para a época, porém, Willens citava o aparecimento de “veranistas” a fim de construir uma “estação de repouso”.

Sobre as camadas sociais: Willens afirma que cerca de 10% da popu-lação representava a classe superior do município. Estrangeiros, chefes políticos, famílias tradicionais e poucos funcionários públicos compu-nham esta classe social. O autor chama a atenção para a possibilidade de mando desta classe social: “[...] representam posições de mando ou possibilidades de exercer influência sobre um número variável de indi-víduos dependentes: devedores, fornecedores, agregados, empregado” Continua o autor: “[...] talvez seja aí que se deva procurar a diferença de conotação entre fazendeiros e sitiantes, pois os últimos não dispõem senão de reduzido número de agregados e, freqüentemente, o sítio é trabalhado pela família” (WILLENS, 1947, p. 26).

Segundo o autor, com o isolamento histórico do município poucas famí-lias novas se estabeleceram na região, não se criando o contraste sócio-cultural que gerou, em muitos outros lugares, a valorização excessiva das famílias tradicionais. Um outro fator importante é não se encontrar, para a época, uma estrutura latifundiária no município. Assim, não se acumularam grandes fortunas. As famílias antigas primavam por uma simplicidade que não se comparava ao esplendor atingido pela aristo-cracia rural valeparaibana.

As classes inferiores nunca formaram um operariado industrial, conse-quência do tipo de economia do município. Essa classe correspondia a 68% dos moradores citadinos e os mesmos não possuíam recursos ou propriedades em escala ponderável, o que os deixava à deriva com relação às oscilações da vida econômica local. A grande maioria – aqui o texto menciona apenas “muito mais do que 50 p.c. da classe inferior [...]” - é formada por trabalhadores ligados ao trabalho no campo. Willens afir-ma que a existência de um número elevado de arrendatários e meeiros e que suas relações com os proprietários são subordinativas de patrão com agregado, termo que substitui geralmente o de arrendatário. Ainda segundo o autor, esses arrendatários: “[...] transformam-se geralmente

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em ‘camaradas’ assumindo obrigações relativas às lavouras do pa-trão. Os cuidados que dispensam às lavouras do patrão trazem, não raro, prejuízo às próprias lavouras, dada impossibilidade de cuidar simultaneamente de ambas” (WILLENS, 1947, p. 32).

No que se refere às relações de vizinhança, Willens dá uma atenção especial aos laços de solidariedade prestado através do mutirão e afir-ma existirem acontecimentos que afetavam afir-mais profundamente a vida de indivíduos e famílias tais como casamentos, partos, doenças, velórios, rezas, novenas e festas e, por outro lado, acontecimentos de caráter cíclico ligados ao controle do meio físico tais como atividades relacionadas a lavoura, construção e conservação de caminhos e o barreamento da casa. Esta solidariedade porém é carregada de uma expectativa de reciprocidade que se divide em duas perspectivas: a reciprocidade adiada, marcada por intervalos consideráveis entre os acontecimentos (geralmente ligados à realidade do indivíduo e da família) e a reciprocidade imediata ou instantânea (em que se retribui quase que de imediato). No caso do mutirão, Willens afirma que, em sua base, se encontram as duas perspectivas de reciprocidade. Na realidade o mutirão acontece devido ao fato de os sitiantes raramente possuírem agregados em número suficiente para a realização destes trabalhos, que são indispensáveis à sobrevivência de suas raízes e existência no meio rural. Porém, Willens afirma que existia, para o período, o sintoma da desorganização do mutirão. O mesmo aponta para uma individuação do regime de trabalho. Cita o exemplo do “velho Olímpio de Campos”, metodista que, na sua relação com elementos culturais da época conviventes com elementos religiosos católicos, teria dificuldades de lidar com esses elementos culturais locais. Segundo Willens essas atitudes demonstram quatro elementos fundamentais, a saber:

A associação íntima de elementos religiosos e econômicos no 1.

contexto da cultura local.

A influência dessa associação sobre a estrutura social, no sentido 2.

de alterar relações vicinais básicas.

A desobediência a uma norma de comportamento tido como 3.

fundamental para a cooperação vicinal. Neste sentido a atitude pode ser interpretada como indício de desorganização social.

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A substituição do regime tradicional de trabalho coletivo e a 4.

troca de serviços entre os moradores do bairro, pelo trabalho assalariado. Nesse sentido, a mudança que a atitude do fazen-deiro acarretou, pode ser interpretada como individuação. A crise do mutirão fica demonstrada quando o autor discute o Código Municipal de Cunha de 1893 e o compara com o Código de Postu-ras do Município de Cunha de 1929. No primeiro todas as estradas municipais eram construídas e conservadas “de mão comum” pelos moradores do bairro ou vizinhos.

Todo indivíduo que trabalhasse ‘por suas mãos em serviço de roça’ era obrigado a comparecer aos mutirões [...] os fazendeiros deviam concorrer com ‘um quarto de seus trabalhadores não domiciliados’. [...] O Código de Postu-ras do Município de Cunha de 1929, substitui o mutirão obrigatório pela ‘taxa de viação’... com o dinheiro arreca-dado a Câmara Municipal contratava trabalhadores para a conservação das estradas municipais. Havia, contudo, a possibilidade de ‘remissão’ da taxa que era substituída por dois dias de serviço de oito horas cada um ” (WILLENS, 1947, p. 38-39).

Segundo o autor, apesar dessas mudanças, isso ainda não represen-tava uma quebra da solidariedade vicinal.

No que se refere às relações entre sexo e família, Willens afirma que em Cunha, geralmente, nos bairros rurais e/ou na cidade, todos se conhecem e, às vezes, se evitam por inimizade política. Nas relações entre diferentes sexos o autor aponta comportamentos variados que se tornam diferentes dependendo de onde forem vividos: meio urbano ou rural. Afirma que as regras morais de Cunha têm funções conservadoras e afirma que as mesmas tendem:

A afastar da comunidade as moças “mal faladas” às quais se atri-1.

buem deslizes sexuais. Geralmente, são expulsas pela família que age com “mão forte” na comunidade... Todas elas pertencem à classe inferior e algumas entre elas são consideradas “do corte”, o que na gíria local significa: “dado a aventuras amorosas em troca de presentes ou dinheiro.”

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A impedir que se estabeleça uma prostituição organizada. As 2.

poucas meretrizes existentes, além de clandestinas são desclas-sificadas, quer dizer, abaixo do nível tido como aceitável pelos rapazes de família.

A perpetuar o status superior do homem, perdoando-lhe os 3.

mesmos deslizes que invariavelmente levam à condenação das moças. Contanto que os escândalos de defloramento não se repitam, os homens se reabilitam ... sendo readmitidos.

Willens descreve a lentidão da aproximação entre os diferentes sexos no meio rural.Os rapazes da roça são considerados acanhados pelos da cidade. Tivemos o ensejo de observar que a segregação dos sexos na zona rural é mais acentuada do que na cidade. Mesmo em festas, homens e mulheres conservam-se separados. Rapazes em idade de namorar exibem-se medindo suas forças em lutas improvisadas. Procuram, assim, requestar coletivamente, as moças que se mantêm afastadas olhando e rindo entre cochichos. Verificamos que esses requestos coletivos se repetem com relativa frequência dificultando aproximações individuais. Todavia, estas ocorrem... Nunca, porém, o rapaz dirige o pedido de casamento diretamente à moça (WILLENS, 1947, p. 41).

O autor afirma em seu texto ter encontrado restrições matrimoniais relacionadas ao preconceito no que se refere a cor. Segundo o autor a oposição a casamentos mistos é menor na classe inferior e entre moradores da roça. Mesmo assim os casamentos interraciais representam a minoria das uniões que configuram no registro civil de Cunha (WILLENS, 1947, p. 43).

CASAMENTOS REALIZADOS ENTRE 1929 E 1944

I - Casamentos intra-raciais

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Ambos os cônjuges pretos 11

Ambos os cônjuges pardos 80

total 840

II – Casamentos inter-raciais

Homem branco com mulher preta 3

Homem branco com mulher parda 51

Homem preto com mulher branca 4

Homem preto com mulher parda 14

Homem pardo com mulher branca 89

Homem pardo com mulher preta 4

Total 165

III – Não declarados 24

Total 1029

Outro fato importante no que se refere às atitudes relacionadas ao casa-mento, segundo Willens, é que na cidade predomina o casamento civil e religioso. No meio rural tal fato não se repete e, na maioria das vezes, limita-se à cerimônia religiosa. O autor faz uma leitura interessante sobre o fato ao afirmar que tal atitude é um ato de reserva ante o poder público e seus representantes. Porém, cresce o número de casais que após o nascimento de dois ou mais filhos legalizam o matrimônio para garantir os filhos.

Sobre a organização da família, Willens afirma que as tendências patriar-cais organizaram um padrão de recato que limita a esfera de influência da mulher casada ao lar, porém no meio rural as mulheres têm mais autonomia do que as da cidade pelo fato de se dedicarem a atividades econômicas na propriedade. No meio urbano esses padrões estão sendo modificados por mulheres de classe superior vindas de fora. A procriação é um fim do matrimônio – se deve ter tantos filhos quanto Deus der - , não é comum o emprego dos meios abortivos e/ou anticoncepcionais, mas há vontade de conhecê-los, principalmente entre mães de meia

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idade. A tendência por não se usar meios abortivos tem suas raízes em questões religiosas não somente doutrinais, mas também por medo de elementos sobrenaturais tais como a vingança de Deus e dos Santos. Willems afirma que a mudança de atitude não se opera sem conflito com o padrão tradicional que continua poderoso, principalmente pela ameaça de sansões sobrenaturais (WILLENS, 1947, p. 47).

Existe, para a época, principalmente na zona rural, uma tendência clara e poderosa que opera a continuidade dos padrões de organização social utilizando-se, se for preciso, de padrões de tolerância. A estrutura cultural organizativa desses padrões está acima de elementos que, a princípio não deveriam ser aceitos, porém, se rejeitados, levem a uma desestruturação da ordem criada.

Sobre padrões de austeridade sexual em Cunha, Willens afirma que a moral sexual de Cunha se caracteriza por uma relativa austeridade quando comparada com a do litoral ou das maiores cidades do Vale do Paraíba. Nunca ouvimos mexericos que visassem casos de infidelidade conjugal atribuída a mulheres casadas da cidade. O padrão de recato e a vigilância exercida pela família e vizinhança obriga os homens casados desejosos de ‘aventuras amorosas’ a procurá-las em comunidades distantes. Po-rém, este fato contrasta com o padrão moral dos agregados pois “são corriqueiras as referências a ‘casais que se largam’. Bailes realizados na roça levam, às vezes, à separação de casais, passando cada um a viver, maritalmente, com outra pessoa (WILLENS, 1947, p. 49).

Sobre a educação das crianças, Willens afirma que, no meio rural, a mesma tem o objetivo de introduzir, o mais rápido possível, a criança no mundo adulto pois na roça uma criança de seis ou sete anos já colabora com os adultos acompanhando-os à roça e imitando-lhes todas as técnicas de trabalho. O filho era considerado homem quando capaz de ‘tirar uma tarefa’ ou ‘meia tarefa’ conforme a natureza do serviço. Nessa época, que coincide com a puberdade, o rapaz pede a faca, símbolo material da “hombridade”. A entrega da faca equivale a um rito de passagem; é a iniciação de meninos que nunca tiveram outro ideal senão o de adotar hábitos que a sociedade associa ao homem adulto. Os pais não fazem nada que possa retardar a realização desse desejo. É aspecto comum um pai dar fogo a um filho de oito ou dez anos para acender o cigarro de palha.

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A desintegração das famílias no meio rural acontece quando os pais não possuem terra ou quando não a possui em quantidade suficiente para suprir as necessidades de toda a família. Com a mobilidade espacial da população, as distâncias e as dificuldades de trânsito pelas estradas torna essa desintegração fatal.

A sociedade urbana apresenta uma outra realidade para a educação das crianças. O trabalho infantil continua acontecendo, porém limitado à classe inferior. A sociedade urbana apresenta um aspecto um tanto diverso. O trabalho infantil está limitado à classe inferior. Meninos entregam leite ou vendem hortaliças a domicílio, limpam quintais ou se encarregam de recados ou outros serviços ocasionais. As meninas empregam-se em casas de família como domésticas ou ajudam as mães na lavagem da roupa (WILLENS, 1947, p. 50).

As crianças das classes média ou superior, ao contrário, frequentam a escola pública, principal canal de difusão da cultura juvenil. As crianças dessas classes podem entregar-se aos folguedos adequados à idade. Aprendem jogos na escola e praticam-nos na rua, pois não há distâncias que lhes dificultem a associação. Através da escola são colocados em contato com a literatura chamada infantil, cujos efeitos começam a se fazer sentir na mentalidade das crianças cunhenses. Acresce a aprendizagem de esporte estimulados pela escola e, mais ainda, pelo rádio. A escola e os grupos de folguedo competem, em escala crescente, com o meio do-méstico, produzindo, aos poucos, mudanças de concepções tradicionais de origem rural (WILLENS, 1947, p. 50).

Willens relata que na família cunhense a autoridade tem seus graus de hierarquia e é comum a autoridade do irmão mais velho sobre os demais irmãos, bem como a autoridade dos avós sobre os netos.

Essa mesma família é marcada pelo ideário religioso que contribui de forma fundamental no processo de formação de valores da comunidade. No caso do catolicismo, o primeiro item discutido na questão refere-se à organização paroquial católica. O autor afirma que as regiões rurais do Brasil e Cunha não foge à regra, não possuem um equipamento material e pessoal necessário a uma efetiva ação eclesial que construa uma relação constante entre o aparelho religioso e a população católica. Para o perío-do, Willens afirma a existência de uma única paróquia para o município. A mesma, dirigida por apenas um sacerdote residente na cidade. Sobre

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a zona rural Willens escreve que

a zona rural está dividida em mais de vinte capelas, muitas das quais ficam a quarenta e mais quilômetros de distân-cia. Paróquias da extensão e densidade demográfica de Cunha costumam ter, no Brasil meridional, dois ou três padres que dividem seu trabalho entre a sede e as diver-sas capelas. Vê-se portanto, que as condições locais são mais desfavoráveis à Igreja Católica do que aquelas que podem ser consideradas comuns, nesta parte do país. Na maioria dos distritos rurais os contatos com o sacerdote são raros. [...] Na zona rural existem dois templos que realmente merecem este nome [...]: a igreja de Campos de Cunha e a Capela de São José, no bairro da Boa Vista (WILLENS, 1947, p. 63).

Em muitas entrevistas a população cria uma distinção entre “religião” e “padre” ou entre “padre” e “Igreja”. O autor afirma que para muitos a “Igreja é do povo” e as festas religiosas “são do povo”. Toda vez que algum padre tende a mudar as tradições de uma festa religiosa, o mesmo não é bem visto pela população, sobretudo do “povo da roça”, incapaz, segundo Willens, de separar aspectos “profanos” e “religiosos”. Apesar destes fatos citados – tensão entre povo e vigário -, não havia ateus em Cunha e que todos seriam crentes, embora houvesse homens que não aceitassem alguns sacramentos.

Sobre as associações religiosas católicas, as mesmas obedecem a uma divisão entre os grupos que o próprio Willens constrói: unissexuais e bissexuais; de idade; em casados e solteiros e em classes sociais. Muitas vezes encontramos nestas associações religiosas mais de uma divisão destas convivendo. Porém vejamos alguns exemplos:

Cruzada Eucarística: associação infantil e bi-sexual; •

Pia União das filhas de Maria: unissexual, feminina abrangendo •

mulheres solteiras.

Congregação Mariana São Luiz Gonzaga: unissexual, masculina, •

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Apostolado da Oração do Sagrado Coração de Jesus e Irmandade N. •

Senhora das Dores: associações femininas formadas por mulheres adultas e, na maioria, casadas.

Irmandades do Santíssimo Sacramento e São Benedito: masculinas, •

compostas quase que exclusivamente por homens casados. A primei-ra acima citada reúne nomes “tprimei-radicionais” da cidade pertencentes à classe superior ou média. A maioria dos membros da irmandade de São Benedito pertence à classe inferior.

Associação São José: bissexual para adultos. •

No que se refere ao controle da Igreja sobre as associações religiosas, a grande maioria é facilmente controlada e deve prestar contas à Igreja (vigário). Porém os moçambiques oriundos das irmandades de São Benedito são utilizados como “baluarte da tradição” contra as influên-cias - segundo Willens rotulados a partir do púlpito – do modernismo. Como modernismo, na concepção da Igreja, Willens entende que seria “a existência de difusão de certos elementos da civilização urbana que encontram amplo apoio e irradiação no único clube social de Cunha”. A vida religiosa nas Associações se deparava com problemas de relação entre valores morais rígidos de algumas associações religiosas relatadas anteriormente e valores oriundos da realidade urbana. Conta Willens que no meio urbano esses conflitos não são totalmente externos à es-trutura religiosa local devido ao fato de muitos freqüentadores do clube serem adeptos fervorosos e frequentadores do catolicismo. Embora a desorganização social decorrente dessa quebra de homogeneidade não houvesse produzido sintomas mais graves, “ela foi suficiente para dividir a geração nova e, indiretamente, também os adultos, em dois campos opostos no que se refere ao ajustamento de certos interesses às normas estabelecidas pela Igreja” (WILLENS, 1947, p. 67).

O trabalho de Shirley sobre o Município de Cunha foi iniciado em 1966, publicado na década de setenta e é de fundamental importância para se entender as questões sociais e culturais que permeavam as relações entre tradição e modernidade naquela localidade para o período. O fato de utilizar tal trabalho não implica em adotar sua perspectiva teórica nos estudos sobre a região, tampouco, tenho a pretensão de construir uma interpretação que adentre às questões e conclusões levantadas pelo

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autor. Minha perspectiva é outra e meu objeto se restringe à questão religiosa, especificamente ao catolicismo e suas mudanças naquele mu-nicípio. Porém acho importante contextualizar o catolicismo dentro de um quadro geral de transformações ocorridas no município.

Nos capítulos sete e oito de seu livro O Fim de uma Tradição, Shirley (1974) descreve mudanças na sociedade cunhense, afirmando que a mesma se encontrava em transição. O capítulo sete analisa as transfor-mações estruturais ocorridas na Zona rural do município. O que afirma o autor no cap. sete? Em primeiro lugar, o autor afirma existir em Cunha uma sociedade altamente estratificada e em processo de complexificação. Terra e riqueza são os pontos de foco de sua análise. Neste sentido, afirma o autor que “terra” possuía diferentes significados para os diferentes grupos existentes em Cunha. Para o “camponês caipira” era algo a ser trabalhado a cada dia, base da sua existência. Para os fazendeiros terra não era algo a ser trabalhado diretamente mas sim algo que lhes dá autoridade e prestígio sobre clientes e meeiros.

Com a decadência do café e a saída de alguns aristocratas da região, a imagem do sistema social dicotômico (senhor/escravo) foi abrandada. Daí a importância da figura do caipira pois, como vivia em áreas marginais, o caipira formava um grupo relativamente independente.

Com o fortalecimento das atividades comerciais, o valor da terra come-çou a crescer no município. A mesma, tornou-se artigo comercial e a posse legal tornou-se cada vez mais importante e, assim, pela década de 20, a grande maioria da população caipira estava morando em uma terra de grande valor comercial. Entre 1930 e 1940 surgiram os grandes movimentos de desapropriação facilitados pelo pouco conhecimento da população caipira em relação ao sistema jurídico gerado, segundo o autor, pelo sistema urbano4.

4 Aqui o sistema urbano judiciário, auxiliado pela lei urbana escrita, interpretada pelas autoridades judiciárias da localidade, e com toda a força política estadual atrás de si, investiu-se contra a sociedade caipira, na sua própria base de existência, a terra. [...] du-rante essa época, muitos perderam suas terras das quais sempre presumiram ser herdeiros. Devido à ignorância ou à alienação geral da cultura urbana e às vezes apenas para evitar os impostos, eles nunca se importavam em registrar legalmente suas terras, e outros mais bem esclarecidos sobre os costumes da cidade e de suas leis simplesmente privaram-os delas (SHIRLEY, 1974).

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Esta situação gerou um grande aumento no número de propriedades registradas entre 1920 e 1940. Segundo o autor houve, entre estas duas datas um aumento de 797 para 1531 propriedades registradas. Esta situação justifica o fato de uma crescente conscientização por parte da população rural. O autor afirma existir, para a época de sua pesquisa, um conhecimento generalizado sobre a importância do registro oficial das terras por parte da população rural. Muitos proprietários registravam apenas parte das terras para evitar impostos, o que ocasionou muitos conflitos entre vizinhos. Fonte de violência, resolvida nos tribunais. O número deste tipo de violência superava as questões de disputa de mulheres.

Levantada a questão da terra como algo inerente à cultura caipira, o autor aponta uma outra questão social importante que é o transporte no município.O desenvolvimento das redes de transporte é o vinculo básico na compreensão das dinâmicas sociais e econômicas da zona rural de Cunha. De acordo com informações das autoridades locais, havia cerca de 800 quilômetros de estradas no município em 1965, embora nem todas fossem acessíveis ao tráfego motorizado. Emilio Willens menciona que em 1945 havia somente 280 quilômetros de estradas municipais (SHIRLEY, 1974, p. 147).

Esta mudança acarretou um contato maior do trabalhador da zona rural com a cidade e, consequentemente, este fato transforma estas relações recriando um espaço de lazer e trabalho5.

Para justificar o que chama de “na tradicional sociedade de folk”, o autor articula estes três fatores: novos mercados, comercialização das terras e melhorias no sistema de transporte, além da presença no município, o que não é novidade em todo o Brasil, das heranças divisíveis. O autor parte da idéia de que a realidade urbana não é espaço para a cultura caipira pois muitos caipiras perderam suas terras, com o resultado dos seus valores crescentes. Outras pessoas da zona rual chegaram a um relativo equilíbrio

5 “Torna-se possível aos trabalhadores da zona rural trabalhar na roça, quando moram na cidade, e isto é verdade em todo o nível social. Há em Cunha, agora, inúmeros lavradores ambulantes que trabalham em épocas diferentes para uma variedade de proprietários de terras. Dessa maneira, o transporte aperfeiçoado no município tem sido muito importante para o contato crescente entre a população rural e os indivíduos e as organizações da zona urbana”.

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com as forças comerciais, aceitando a escritura de terra sem perder sua qualidade de camponeses de subsistência. Contudo, como regra geral, essas pessoas não são caipiras culturalmente, já que o próprio fato de serem bem sucedidas ao defenderem seus títulos de terra nos tribunais sugere um grau de aculturação urbana (SHIRLEY, 1974, p. 150).

Quando o autor se refere à vida rural e à realidade vivida neste meio, o mesmo afirma que os bairros rurais, apesar de estarem - em grande parte - em transição, mantêm os padrões culturais caipiras. Afirma que a estrutura sócio-rural de Cunha tem como base a existência de grupos de vizinhança interligados pelos vínculos de parentesco e ajuda mútua. Os grupos de vizinhança diminuíram enquanto as pessoas se voltavam cada vez mais para a sede do município como centro da vida social. Na questão religiosa este fato tem reflexo devido ao fato de estes agentes serem fundamentais em seu meio e, neste sentido, o autor aponta a redução do número de capelas católicas.

Com relação ao que entende por desagregação da realidade caipira, o autor afirma que dois elementos trabalham contra a existência deste tipo de cultura (rural) local, as mudanças de ordem econômica e demográfica pois esses dois fatores trabalham aqui contra o camponês. O primeiro é a mudança econômica no município de produção agrícola... o fazen-deiro pode achar mais lucrativo criar gado ... O outro fator é de ordem demográfica. A sociedade caipira necessita de um espaço ilimitado para se expandir. Uma vez que terra é comercializada e seus limites fixados através da escritura, a expansão é impossível (SHIRLEY, 1974, p. 151). Segundo o autor, o caipira que permanece em sua situação cultural o faz por algum dos quatro motivos que apresenta: (1) possui um pedaço de terra que reluta em abandonar; (2) É muito velho ou muito tímido para começar a vida na cidade; (3) É capaz de ganhar a vida como meeiro; (4) trabalha numa das fazendas sob tradição paternalista.

Ao final deste capítulo, Shirley faz algumas afirmações ou “profecias” que iremos examinar ao traçar certas considerações a este texto. Vamos a elas:

a trajetória das forças culturais em Cunha tende a favorecer a emer-•

gência de uma classe rural de burgueses residentes e comercialmente astutas;

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a contínua dissolução das grandes propriedades tenderá a fragmen-•

tar ainda mais os grupos de vizinhança caipiras;

as forças econômicas tendem a impedir os fazendeiros de Cunha •

ao estilo misto de fazenda “estilo mineiro” onde estão associados a criação de gado e de suínos, a produção leiteira e a agricultura; ambas as classes da sociedade caipira tradicional estão desaparecen-•

do; tanto o proprietário quanto o camponês estão sendo substituídos por uma classe média rural;

o resultado final da divisão das grandes propriedades será, poste-•

riormente, a decomposição da sociedade caipira.

Ao descrever a origem do mundo caipira, Shirley (1974) afirma, e com razão, que a origem do caipira e da sociedade devem ser buscadas nos primeiros povoamentos portugueses na região. Neste sentido, vale lembrar que tratamos especificamente deste assunto em nosso primeiro capítulo quando descrevemos os aspectos históricos relacionados ao processo de formação da estrutura e da realidade econômica na, então, região de Cunha. A situação periférica, o fato de - tal como o próprio Vale do Paraíba - ser região de passagem6, fazem com que em Cunha crie-se uma economia de subsistência. A formação social gerou uma ca-mada minoritária que estabeleceu condições para uma vida mais digna e, posteriormente, mais rica em detrimento de uma camada majoritária que se formou à margem do então processo de urbanização - formação do núcleo urbano de então - com elementos das camadas sociais mais elevadas que mantinham um vínculo econômico maior com este núcleo, de acordo com suas condições econômicas.

Shirley (1974) afirma que a criação da agricultura voltada para o mercado é antitética ao modo de vida do caipira e que, neste sentido, se torna uma camada de camponeses marginais. Citando Stanley Stein, afirma que a produção de colheitas de subsistência com a foice e a enxada era no início relegada aos escravos negros e indígenas, nas grandes propriedades de terra. Uma vez estabelecido este padrão foi

preserva-6 Este assunto foi discutido no primeiro capítulo deste trabalho no qual tomamos como pontos referência textos como o de Nice Lecoq Muller e Lucila Hermann e os confrontamos com as perspectivas de Maurício Alves.

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do pelos escravos que fugiam, pelos brancos pobres e pelos mestiços que, por uma razão ou outra , abandonavam as fazendas, indo instalar suas residências no interior. Com o passar dos séculos, esta camada de camponeses marginais aumentou e se irradiou, e o padrão estabilizou-se (SHIRLEY, 1974, p. 59).

Uma outra realidade observada na região de Cunha é o fato de este mun-do rústico não ter simun-do subjugamun-do pela Igreja e pela Coroa Portuguesa. Shirley (1974) observa que não se estabelece no processo de colonização do campesinato a constituição de agrupamentos organizados em aldeias - como no caso da colonização espanhola. No caso de brasileiro as cidades são comuns porém, com funções urbanas especializadas e a população rural - no caso, o homem rústico - não vive nelas, tendo para com as mesmas uma relação de grande autonomia. Em nosso primeiro capítulo, mostramos que além da concessão das sesmarias, existiam agricultores que viviam como agregados e outros que tomavam posse das terras através de um processo de desmatamento e ocupação do solo.

Outro fato que gerou a dispersão. A região de Cunha é formada por pedaços de pequenos vales rodeados por pequenas colinas - nas pala-vras de Shirley (1974) - o que gerou um isolamento parcial com relação ao centro urbano. Esse isolamento gerou também a necessidade de formação de pequenos centros de relação rurais que hoje são os bairros rurais. Neste caso, o termo bairro tem aqui, o significado corrente que o antropólogo americano adotou , ou seja, o de serem espaços especí-ficos, constituídos normalmente por uma capela e uma venda onde as pessoas se concentravam para rezar e/ou comprar. Esses bairros eram, enfim, pequenos centros onde os moradores da região se concentravam em certas ocasiões. Nem sempre os bairros possuíam ou possuem esses centros ou capelas. Neste caso, reúnem-se nos que possuem, de prefe-rência nos mais próximos. Com isso criou-se o que Shirley descreve como grupo de vizinhança que, em suas palavras, consiste em um ou mais bairros específicos, cada um, usualmente, num pequeno vale, ligado a um centro normalmente constituído de uma capela ou venda.

Em seu livro Parceiros do Rio Bonito, Cândido (2001) dá uma descrição bastante específica sobre a rusticidade da cultura do mundo caipira. O referido autor parte dos estudos dos elementos ligados diretamente à manutenção da vida - no sentido econômico - e posteriormente estuda as formas de vida social que permitiram a sobrevivência dos

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agrupa-mentos rústicos7. A perspectiva das técnicas caipiras tradicionais estaria ligada à própria natureza do povoamento paulista que, por sua vez, seria condicionada “pela atividade nômade e predatória das bandeiras”. O interessante é observar a dialeticidade levantada por Cândido no pro-cesso do bandeirismo8.

A rusticidade do cotidiano do caipira é descrita por Cândido (2001) a partir dos relatos de viajantes comumente citados por pesquisadores que estudam o período. São textos de viajantes tais como Spix e Martius e Auguste de Saint-Hilaire. As mesmas características descritas por Cândido são encontradas no texto de Shirley - para o caso de Cunha. O que nos possibilita os elementos comuns são as relações do mesmo processo de povoamento e do bandeirismo encontrados no processo de ocupação de São Paulo.

A expansão da cultura rústica ligada às comunidades caipiras acontece devido às suas características básicas. Citando Antônio Cândido, Shirley descreve-as: (1) isolamento; (2) posse de terras; (3) trabalho doméstico; (4) auxílio vicinal; (5) disponibilidade de terras; (6) margem de lazer. Segundo Shirley (1974, p. 60), “todo homem, quando se casava, fixava a família no seu próprio pedaço de terra”. Esta expansão adentrava as densas matas do sertão de Cunha. O referido autor afirma que os caipiras destas regiões montanhosas são demograficamente muito estáveis e

7 Vale lembrar aqui que o autor parte do princípio da relação entre necessidades e recursos do meio físico. Segundo o autor, essa relação pressupõe um equilíbrio e requer, por parte do grupo, soluções adequadas e completas. Essas necessidades possuem caráter natural e social, isto porque, “se a sua manifestação primária são impulsos orgânicos, a satisfação destes se dá por iniciativas humanas, que vão se complicando cada vez mais , e dependem do grupo para se configurar”. Esta complexificação transcende a esfera estritamente natural e se torna produto da sociedade. Ainda segundo o autor, o equilíbrio social depende da correlação entre as necessidades e sua satisfação . Neste caso, as situações de crise aparecem como dificuldade de correlacioná-las. A partir destes elementos o autor afirma que este processo gera uma solidariedade estreita onde o meio vai se tornando “reflexo da ação do homem na dimensão do tempo (CÂNDIDO, 2001, p. 23-27).

8 O bandeirismo pode ser compreendido, de um lado como vasto processo de invasão ecológica; de outro, como determinado tipo de sociabilidade, com suas formas próprias de ocupação do solo e determinação de relações intergrupais e ainda grupais. A linha geral do processo foi determinada pelos tipos de ajustamento do grupo ao meio, com a fusão entre a herança portuguesa e a do primitivo habitante da terra (CÂNDIDO, 2001, p. 36). O autor vai fundamentar esta afirmação a partir das abordagens dos estudos de Sérgio Buarque de Holanda conforma nota 1 do capítulo primeiro de seu texto.

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morarão no mesmo bairro por várias gerações. Ainda hoje encontramos casos freqüentes de moradores dos “sertões” de Cunha que vivem de forma quase isolada conservando as condições básicas de existência aos moldes dos moradores de décadas e séculos atrás.

Com relação aos laços de parentesco, Shirley observa que, devido ao isolamento, os mesmos são superados no que se refere à ajuda mútua. Há o prevalecimento do bairro sobre os laços de parentesco que podiam até mesmo ser eventualmente ignorados.

Descrevendo as relações do caipira, Shirley afirma que o caipira era in-terligado pelo parentesco, mútuo interesse econômico e religião. Estava também ligado, ainda que vagamente, pela sociedade urbana, da qual obtinha algumas mercadorias necessárias. O foco integrativo, ligando vários bairros e famílias, uns aos outros e com a maior comunidade ur-bana, era o centro do grupo de vizinhança. Este, consistia numa capela e numa venda, e nenhum grupo de vizinhança da zona rural seria completo sem esses dois elementos. Frequentemente, ambos eram localizados, embora de maneira não necessária, perto um do outro.

Podemos afirmar que, em grande parte, a descrição dos viajantes sobre os caipiras paulistas era marcada por adjetivações que nos traçam um quadro desolador sobre a forma de vida dos mesmos. Tomava-se como base as formas de vida e de organização econômica dos habitantes ru-rais. Chega-se a afirmar que essa população era entregue à indolência. Apesar de uma visão marcadamente etnocêntrica, existem elementos importantes a se considerar sobre as descrições. Cândido (2001) cita - de forma resumida - a visão de Saint-Hilaire sobre esses moradores. A partir de seu texto Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, citado por Cândido, Saint-Hilaire pinta um quadro desolador da agricultura extensiva do caboclo brasileiro apontando, inclusive, para as consequências sociais dessa forma de trabalhar a terra.

A destruição das matas não é a única conseqüência lamen-tável desse sistema. Uma população fraca, disseminando-se por uma extensão imensa, torna-se mais difícil de governar: vivendo a grandes distâncias uns dos outros, os lavradores perdem pouco a pouco as idéias que inspiram a civilização (SHIRLEY, 1974, p. 64).

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Cândido afirma que para o caipira, a agricultura extensiva, itinerante, foi um recurso para estabelecer o equilíbrio ecológico: recurso para ajustar a necessidade de sobrevivência à falta de técnicas capazes de proporcionar rendimento maior da terra. Por outro lado, condicionava uma economia naturalmente fechada, fator de preservação duma sociabilidade estável e pouco dinâmica. Cândido justifica essa agricultura itinerante não apenas pelas reservas de terras novas que eram imensas para as características de uma população esparsa mas também pelo sistema de sesmarias e posses, sobretudo as posses, pois as mesmas abriam para o caipira a possibilidade constante de renovar o seu chão de plantio, sem qualquer ônus para a compra ou locação e, neste sentido, a posse, mais ou me-nos formal, ou a ocupação pura e simples, vem juntar-se aos tipos de exploração e ao equipamento cultural, afim de configurar uma vida social marcada pelo isolamento, a independência, o alheamento às mudanças sociais (CÂNDIDO, 1987, p. 44-45).

Quando analisamos o povoamento disperso, ou seja, formas de povo-amentos “marginais” vinculados à ocupação do sertão, encontramos a dificuldade de emaranhar-se em sua história. Segundo Antônio Cândido, os povoadores isolados não têm história, senão na medida em que pene-tram, por uma razão ou por outra, na órbita do povoamento condensado.9 Ampliar a história de Cunha é tarefa árdua e cabe àqueles que, de uma forma ou de outra, tenham interesse em repensar o processo cultural da região a partir dos fundamentos históricos que forjaram a “cultura popular” na região e suas formas de presença ainda marcantes em nossa realidade social e cultural.

9 Em seu terceiro capítulo o autor busca analisar as condições de vida no tipo disperso de povoamento e indica formas de sociabilidade desenvolvidas em função do mesmo e não dos núcleos concentrados. Porém ressalta que os primeiros têm uma relação com o segundo. O autor busca compor essa relação não desvinculando o povoamento esparso do povoamento concentrado.

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REFERÊNCIAS

ALVES, Mauricio M. Caminhos da pobreza: a manutenção da diferen-ça em Taubaté: 1680-1729. Taubaté: Prefeitura Municipal de Taubaté, 1992.

CÂNDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito. 9.ed. São Paulo: Duas Cidades, 2001.

HERMANN, Lucila. Evolução da estrutura social de Guaratinguetá num período de trezentos anos. São Paulo: Institutos de Pesquisas Econômicas - USP, 1986.

MARQUES, Azevedo. Apontamentos históricos, geográficos, biográficos, estatísticos e noticiosos da Província de São Paulo: tomo I, São Paulo: Martins Fontes, 1952.

MÜLLER, Nice Lecocq. O fato urbano na Bacia do Rio Paraíba: Estado de São Paulo. Rio de Janeiro: Fundação IBGE, 1969.

SHIRLEY, Robert. O fim de uma tradição: cultura e desenvolvimento no município de Cunha. São Paulo: Perspectiva, 1974.

WILLENS, Emílio. Cunha: tradição e transição em uma cultura rural do Brasil. São Paulo: Secretaria de Agricultura, 1947.

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