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Cybercrimes contra Mulheres no Estado do Pará.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

Cybercrimes contra mulheres no Estado do Pará

Bruna Cabral Silva

BELÉM – PARÁ 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

Bruna Cabral Silva

Cybercrimes contra mulheres no Estado do Pará

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Segurança Pública.

Área de Concentração: Segurança Pública, Justiça, Conflitos e Cidadania.

Linha de Pesquisa: Políticas, Gestão, Direitos Humanos, Criminalidade e Tecnologia da Informação.

Orientador: Prof. Edson Marcos Leal Soares Ramos, Dr.

BELÉM – PARÁ 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

Crimes Virtuais contra Mulheres no Estado do Pará

Bruna Cabral Silva

Esta Dissertação foi julgada e aprovada, para a obtenção do grau de Mestre em Segurança Pública, no Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pará.

___________________________________________ Profa. Dra. Silvia dos Santos de Almeida

(Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública)

Banca Examinadora

BELÉM – PARÁ 2020

_____________________________________ Prof. Dr. Edson Marcos Leal Soares Ramos Universidade Federal do Pará

Orientador

_____________________________________ Diretora de Inteligência Cibernética Beatriz de Oliveira da Silveira Miléo Brasil, M.Sc

Standard Chartered Bank Avaliadora

____________________________________ Delegada Maria Goreti Góes da Rocha, Dra. Polícia Civil do Estado do Amapá

Avaliadora

________________________________________ Profa. Maély Ferreira Holanda Ramos, Dra. Universidade Federal do Pará

Avaliadora – PPGSP

________________________________________ Profa. Silvia dos Santos de Almeida, Dra.

Universidade Federal do Pará Avaliadora – PPGSP

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Dedico a Deus, fonte inesgotável das minhas forças, à Ele toda honra e toda glória. Aos meus avós, in memoria José Haito e Alda Carneiro, exemplos de coragem, força e determinação.

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AGRADECIMENTOS

A Deus.

Aos meus pais, Antônio e Rosângela, meu irmão, Bruno, pelo apoio incondicional de sempre, principalmente, quanto aos meus sonhos com formação acadêmica e profissional.

Ao meu companheiro de vida, Antônio Magno, que viveu comigo intensamente os melhores e os piores momentos desta vida acadêmica, obrigada por não desistir, pelo incentivo, paciência e compreensão (às vezes) durante toda esta árdua caminhada desde o seletivo.

Aos meus irmãos de coração, que chamo de amigos, especialmente, o Edson, “abigo” sem você eu não teria chegado aqui hoje, obrigada pelo apoio incondicional de sempre. Obrigada também Camilla, Fernando Cabral, Dualyson e Josy, pelos apoios materiais e morais que me foram fundamentais para lograr este êxito. A vocês meu muito obrigado pelo companheirismo, cumplicidade e pelo ombro sempre disponível para eu chorar nas dezenas de vezes que fraquejei e pensei em desistir.

A mi estimado amigo Jorge Saldívia, querido Cacho, gracias por las bendiciones y el incentivo de siempre, por nunca dejarme creer que soy poco importante e poco capaz de conquistar el mundo. Gracias por todo cuidado y atención.

Ao meu orientador, professor Edson Ramos, meu muitíssimo obrigado. Obrigada por segurar minha mão quando me deixaram à deriva, obrigada por acreditar em mim quando todos desacreditaram, obrigada pela paciência, excelência, disponibilidade, pelos puxões de orelha (que não foram poucos) e principalmente pela sua generosidade com que divide suas preciosas lições.

Aos maravilhosos amigos da Turma 2018 (a melhor turma de todos os tempos deste mestrado... risos), obrigada a todos pelas experiências trocadas e compartilhadas e pelas amizades que se constroem fora do curso.

Aos professores do Programa de Segurança Pública que compartilharam um pouco dos seus conhecimentos conosco e contribuíram para o melhor desenvolvimento desta pesquisa.

Aos bolsistas responsáveis pela secretaria do Programa de Segurança Pública, Ramon e Larissa, que foram verdadeiros amigos nesses quase 2 anos de caminhada.

À Joyce Gama, bolsista do LASIG, que me socorreu diversas vezes, me ajudando sempre prontamente, muitíssimo obrigada.

À Universidade Federal do Pará, toda sua equipe de ensino e de apoio pela oportunidade de realizar este tão sonho.

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RESUMO

SILVA, Bruna Cabral. Cybercrimes contra mulheres no Estado do Pará. 2019. 125f. Dissertação (Mestrado em Segurança Pública). Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública, Universidade Federal do Pará, Belém, Pará, Brasil, 2019.

A modernidade tem sido marcada pelos avanços tecnológicos, bem como o surgimento de novos problemas sociais como os crimes virtuais e o crescimento de velhos dilemas sociais como a violência contra a mulher, portanto, é importante entender como esses dois problemas se comportam quando se cruzam para melhor enfrenta-los. Esta pesquisa objetivou traçar o perfil dos crimes virtuais contra mulheres registrados na Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos do Estado do Pará, no período de 2016 a 2018. A partir da pesquisa documental, desenvolveu-se um estudo quantitativo e qualitativo. Na abordagem quantitativa, por meio da técnica estatística de análise exploratória, realizou-se um estudo sobre a violência virtual contra mulheres de Belém. No enfoque qualitativo, por meio da análise de conteúdo, caracterizaram-se os Boletins de Ocorrência Policial registrados por mulheres vítimas de cibercrimes no Estado do Pará. Os resultados mostram maior incidência de violência patrimonial contra mulheres no ciberespaço paraense – por meio da prática dos crimes de estelionato – cuja atividade criminosa é maior nos horários comerciais e dias úteis, e sua maior incidência se dá pelo uso da internet por meio do telefone e das redes sociais, como WhatsApp e Facebook. Verificou-se, que não há um padrão nos relatórios dos registros policiais o que empobrece o registro do delito, razão pela qual não foi possível obter informações suficientes para afirmar que a violência cometida contra mulheres do Estado do Pará trata-se de violência de gênero. As conclusões deste desta pesquisa permitem afirmar que o crime virtual contra mulheres no Estado do Pará é um problema social concreto; pois além de estar crescendo de forma significativa, também acometem vítimas de todas as classes sociais, logo o imediato investimento em Delegacias Especializadas é vital para o efetivo e eficaz enfrentamento deste crime.

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ABSTRACT

SILVA, Bruna Cabral. Cybercrimes against Women in the State of Pará. 2019. 125f. Dissertation (Master in Public Safety) Post-Graduation Program in Public Security, Federal University of Pará, Belém, Pará, Brazil, 2019.

Modernity has been marked by technological advances, as well as the emergence of new social problems such as cybercrime and the growth of old social dilemmas such as violence against women, therefore, it is important to understand how these two problems behave when they cross over and better face them. This research aimed to outline the profile of virtual crimes against women registered in the Technological Crimes Prevention and Repression Division of the State of Pará, in the period from 2016 to 2018. From the documentary research, a quantitative and qualitative study was developed. In the quantitative approach, using the statistical technique of exploratory analysis, a study was carried out on virtual violence against women in Belém. In the qualitative approach, through the content analysis, the Police Reports recorded by women victims were characterized of cybercrimes in the State of Pará The results show a higher incidence of patrimonial violence against women in the cyberspace of Pará - through the practice of crimes of fraud - whose criminal activity is greater during business hours and working days, and its greater incidence is due to the use the internet through the phone and social networks, such as Whatsapp and Facebook. It was found that there is no standard in the reports of police records, which impoverishes the record of the crime, which is why it was not possible to obtain enough information to affirm that the violence committed against women in the State of Pará is gender violence. The conclusions of this research allow us to affirm that the virtual crime against women in the State of Pará is a concrete social problem; because in addition to this growing significantly, they also affect victims of all social classes, so the immediate investment in specialized police stations is vital for the effective and efficient confrontation of this crime.

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 2 - ARTIGO CIENTÍFICO 1

Figura 1: Percentual de boletins de ocorrências registrados por mulheres na Divisão de

Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos do Estado do Pará, por munícipios (10 maiores número) no período de 2016 a 2018 ...32

Figura 2: Mapa com percentual de BOP’s registrados nos municípios do Estado do Pará, no

período dos anos de 2016 a 2018 ...32

Figura 3: Mapa com os Estados da Federação com Delegacias Especializadas em Crimes

Virtuais no Brasil, 2019 ...33

Figura 4: Percentual de registros mensais dos crimes registrados por mulheres na Delegacia

De Repressão a Crimes Tecnológicos do Estado do Pará, no período de 2016 a 2018 ...37

CAPÍTULO 2 - ARTIGO CIENTÍFICO 2

Figura 1: Nuvem de palavras resultante da Análise de Lexical de Frequenciação das 50

palavras de maior incidência nos relatos dos registros de ocorrência policial com vítimas mulheres de cibercrimes no Estado do Pará, no período de 2016 a 2018 ...58

CAPÍTULO 2 - ARTIGO CIENTÍFICO 3

Figura 1: Quantidade de boletins de ocorrência, por ano, registrados por mulheres na Divisão

de Repressão e Prevenção a crimes Tecnológicos do Pará e demais delegacias de Polícia Civil em Belém, no período de 2016 a 2018 ...69

Figura 2: Treze bairros de Belém, classificados por renda mensal familiar, com maior

quantidade de boletins de ocorrência, registrados por vítimas do sexo feminino, nos anos de 2016 a 2018 ...73

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LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2 - ARTIGO CIENTÍFICO 1

Tabela 1: Percentual de BOP’s por tipo e natureza dos crimes de maior incidência registrados

por mulheres na Delegacia de Repressão a Crimes Tecnológicos do Estado do Pará, no período de 2016 a 2018 ...35

Tabela 2: Quantidade de BOP’s mais registrados por tipo e ano de ocorrência na Delegacia

de Repressão a Crimes Tecnológicos do Estado do Pará, no período de 2016 a 2018 ...36

CAPÍTULO 2 - ARTIGO CIENTÍFICO 2

Tabela 1: Percentual de boletins de ocorrência, dos oito crimes de maior incidência, por tipo

e natureza dos crimes de maior incidência, registrados por mulheres na Delegacia de Repressão a Crimes Tecnológicos do Estado do Pará, no período de 2016 a 2018 ...56

CAPÍTULO 2 - ARTIGO CIENTÍFICO 3

Tabela 1: Quantidade de registros, por tipo e natureza, dos oito crimes de maior incidência

registrados por mulheres nas delegacias de Polícia Civil de Belém, sem computar os crimes tecnológicos, no período dos anos de 2016 a 2018 ...71

Tabela 2: Nove crimes mais registrados por mulheres, por tipo e natureza, na Divisão de

Repressão e Prevenção a crimes Tecnológicos do Pará, no período dos anos de 2016 a 2018 ...71

Tabela 3: Treze bairros de Belém, classificados por renda mensal familiar, com maior

quantidade de boletins de ocorrência com vítimas mulheres, registrados na Divisão de Repressão e Prevenção a crimes Tecnológicos do Pará e demais delegacias de Polícia Civil de Belém, nos anos de 2016 a 2018 ...74

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LISTA DE QUADROS

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

Quadro 1: Distribuição das dissertações do Programa de Pós Graduação de Segurança

Pública, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pará, por análise se possui ou não investigação de violência contra mulher, crime virtual e crime virtual com vítima mulher, de 2011 a 2017 ...8

CAPÍTULO 2 - ARTIGO CIENTÍFICO 2

Quadro 1: Identificação da frequência, de forma numérica, das categorias principais e

descendentes de maior incidência nos relatos dos registros de ocorrência policial, por vítimas do sexo feminino, na Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos do Estado do Pará, no período de 2016 a 2018 ...52

Quadro 2: Exemplos de recortes textuais das categorias principais e descendentes nos relatos

dos registros de ocorrência policial, por vítimas do sexo feminino, na Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos do Estado do Pará, no período de 2016 a 2018 ...53

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LISTA DE SIGLAS

ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações BOP – Boletins de Ocorrências Polícias

CETIC.BR – Centro Regional de Estudos para o desenvolvimento da Sociedade da Informação

CF – Constituição Federal

CNJ – Conselho Nacional de Justiça CPP – Código de Processo Penal

DEAM – Delegacia de Atendimento à Mulher

DPRCT – Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos DRCT – Delegacia de Repressão a Crimes Tecnológicos

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFCH – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas PEC – Proposta de Emenda à Constituição

PPGSP – Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública SIAC – Secretaria Adjunta de Inteligência e Análise Criminal SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação SISP – Sistema Integrado em Segurança Pública

SM – Salário Mínimo

TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação UFPA – Universidade Federal do Pará

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ...1

1.1 INTRODUÇÃO ...1

1.2 JUSTIFICATIVA E IMPORTÂNCIA DA PESQUISA ...3

1.3 PROBLEMA DE PESQUISA ...9 1.4 OBJETIVOS ...12 1.4.1 Objetivo Geral ...12 1.4.2 Objetivos específicos ...12 1.5 HIPÓTESE ...13 1.6 REVISÃO DE LITERATURA ...13 1.6.1 O ciberespaço ...13

1.6.2 A violência contra a mulher ...17

1.7 METODOLOGIA ...20

1.7.1 Natureza da pesquisa ...20

1.7.2 Lócus da pesquisa ...21

1.7.3 Fontes ...21

1.7.4 Procedimento de coleta de dados ...22

1.7.5 Procedimento de análise ...22

1.8 PROTOCOLO ÉTICO DA PESQUISA ...24

1.9 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ... 25

CAPÍTULO 2 – ARTIGOS CIENTÍFICOS ...26

2.1 ARTIGO CIENTÍFICO 1 ...26

2.2 ARTIGO CIENTÍFICO 2 ...42

2.3 ARTIGO CIENTÍFICO 3 ...63

CAPÍTULO 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS DA PESQUISA ...90

3.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...90

3.2 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PÚBLICA ...92

3.3 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ...93

3.4 PRODUTO FINAL ...94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...106

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CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

1.1 INTRODUÇÃO

Este trabalho é o resultado do estudo dois temas sociais relevantíssimos no Brasil e no mundo nas últimas três décadas: o ciberespaço e a violência contra a mulher. Logo a força motriz desta pesquisa gira em torno de saber como a violência contra a mulher é praticada no ambiente virtual.

A Era da Informação, também denominada de Sociedade da Informação, Sociedade do Conhecimento ou Nova Economia, entre outras designações, é responsável pela implantação de um modelo de organização social nunca experimentado pela sociedade civilizada, “caracterizada pela criação de meios e ferramentas comunicativas de modo a aprimorar seu padrão de vida”, marcada pelo surgimento de novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e popularização do acesso à Internet (JESUS; MILAGRE, 2016).

A nova estrutura social se desenvolve em um campo virtual, no mundo irreal, que recria o mundo real por meio da utilização de meios eletrônicos, denominado de “ciberespaço ou sociedade digital” o qual se caracteriza:

(...), sobretudo pela redefinição de fronteiras; multiplicidade e instantaneidade. Redefinição das fronteiras, pois hoje é possível estabelecer relações profissionais, empresariais, jurídicas, amorosas, entre outras, com pessoas que estejam em qualquer parte do globo terrestre, desde que possuam acesso à internet; multiplicidade, porque a informação atinge inúmeros interlocutores, e instantaneidade, pois essa transmissão ocorre online, ou seja, em tempo real (SILVEIRA et al., 2014, p. 51).

Neste inovador modelo social há a “preponderância da informação sobre os meios de produção, bem como pela nova forma de distribuição dos bens na sociedade”, e, com isso, a forma como o mundo é visto, percebido, sentido e pensado pelo homem moderno sofreu substanciais alterações, pois surgiram novos hábitos e com eles, a introdução de novos valores e conceitos advindos com a sociedade digital (SILVEIRA et al., 2016, p. 9). Desta forma:

(...) a partir das duas últimas décadas do século XX, a dinâmica das relações pessoais e institucionais experimentou profundas mudanças em decorrência do vertiginoso desenvolvimento e, posteriormente, da popularização das TIC. A partir desse período, a produção, o acesso (...) de informações, que, em décadas anteriores,

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eram prerrogativa predominantemente das instituições de controle social formal, tornaram-se disponíveis ao público em geral em decorrência da expansão vertiginosa dos meios de comunicação, da simplificação da operação dos computadores e do barateamento dos custos desse tipo de equipamento e de seus acessórios (SOUZA, 2017, p. 303-304).

O ciberespaço revolucionou todos os setores da sociedade, não se limitando às relações sociais entre os usuários e o campo virtual, mas afetou, também, toda a vida econômica e política da coletividade, criando uma verdadeira Revolução Digital também chamada de “Virada Cibernética” (SANTOS, 2003).

É importante destacar que toda revolução é marcada por transformações como ocorreram nas Revoluções Francesas e Industriais, mas com os avanços trazidos por elas, existem “(...) também problemas e sacrifícios. A Revolução Francesa trouxe morte e fragilização dos Estados. A Revolução Industrial trouxe desemprego e exploração desproporcional da mão de obra trabalhadora”. Ingenuidade imaginar que com a Revolução Digital seria diferente! Pois, associada à redefinição de fronteiras mundiais e a multiplicidade e instantaneidade das informações surgidas com a Virada Cibernética vieram problemas e riscos, dentre ao quais está o cometimento de crimes virtuais (SYDOW, 2013, p. 19).

Não demorou muito para que as benesses proporcionadas pelas TIC – rapidez no fluxo de pessoas, mercadorias e serviços – no ambiente virtual se tornarem perceptíveis e atraentes aos infratores que passaram a explorá-lo, desenvolvendo formas de cometer ilícitos usando o mundo virtual e as novas tecnologias como meio (NAIM, 2006).

Surgiram desta forma, os crimes tecnológicos, delitos “cometidos utilizando-se meios eletrônicos complexos, tendo como subespécie os crimes virtuais que são os praticados apenas pela Internet” (BRASIL et al., 2017, p. 135).

Estudar e entender essas novas variações do fenômeno criminal são medidas vitais para a mantença da vida em coletividade e da pacificação social, especialmente, quando o sujeito passivo do crime é mulher.

A tentativa de expurgar a violência contra a mulher iniciou concretamente no cenário jurídico e legal brasileiro, no ano de 2006, com a edição da Lei Maria da Penha, e perpassa, dentre outras medidas legais, pela promulgação da Lei do Feminicídio aplicando penas maiores aos homicidas de mulheres, e, esbarra na Lei Nº 13.827 de 2019, que facilita a

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aplicação de medidas protetivas de urgência para mulheres ou a seus dependentes, em casos de violência doméstica ou familiar (BRASIL, 2006b, 2019).

Utilizou-se a abordagem quanti-qualitativo para análise desses registros de ocorrência. Na análise dos dados qualitativos foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, por meio da técnica de análise lexical com frequenciação de palavras (BARDIN, 2011) da amostra extraída do total de boletins identificados no recorte temporal da pesquisa.

Quanto aos dados quantitativos aplicou-se a técnica de estatística descritiva, com utilização de tabelas e gráficos estatísticos. Após a coleta e entabulação dos dados foi feita a análise a partir dos estudos de Freitas e Prodanov (2013).

A dissertação está dividida em três capítulos. O primeiro capítulo do trabalho é composto pelas considerações gerais desta pesquisa e contém a justificativa, problema de pesquisa, hipótese, objetivos, revisão de literatura e metodologia de pesquisa.

O segundo capítulo é composto por três artigos escritos a partir dos dados estudados, tudo com fundamento no referencial teórico eleito.

No terceiro capítulo, tratou-se das considerações finais do trabalho, com as propostas de intervenção pública, possibilidade de trabalhos futuros e o produto da pesquisa.

1.2 JUSTIFICATIVA E IMPORTÂNCIA DA PESQUISA

Não se pode negar nem tão pouco subestimar os benefícios e lucros advindos com a Sociedade da Informação à sociedade contemporânea, foram e são, ainda, diversas tecnologias e melhorias em todos os setores da vida humana. Entre essas melhorias, destaca-se a rede mundial de computadores que propiciou o avanço dedestaca-senfreado de tecnologias que facilitam e permite a comunicação em tempo real, repercutindo diretamente em todos os vínculos interpessoais e empresariais, além de causar significativas transformações sociais (JESUS; MILAGRE, 2016).

Dentre essas revoluções inauguradas com a Sociedade Digital merece destaque a transcendência total de quaisquer fronteiras ou obstáculos no acesso à informação que lhe garantiu o atributo da instantaneidade e globalização quando se utiliza uma TIC como meio de comunicação (SYDOW, 2013).

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Essa nova realidade social realizou uma ruptura na estrutura social conhecida no mundo real, isso porque “a tecnologia fez com que prescindíssemos de uma boa gama de elementos materiais, levando, pois, a uma ruptura de valores da sociedade e à criação de outros” (SYDOW, 2013, p. 21-22).

E, atrelado a todas essas modificações sociais vieram os riscos. Riscos estes, que segundo Luhmann (1991), são esperados, isso porque, de acordo com o autor o risco está intrínseco a tudo aquilo que se serve de novidades tecnológicas.

Quanto a tais riscos, Deibert e Rohozinski (2010) os classificam em dois tipos: “riscos para o ciberespaço” e “riscos através do ciberespaço”. Enquanto os “riscos para o

ciberespaço” diz respeito ao aspecto físico do computador e demais tecnologias, já os “riscos através do ciberespaço” são aqueles que nascem ou são facilitados pelas suas tecnologias e

podem atingir todo o mundo virtual, como os usuários, exceto a infraestrutura das TIC, Inserem-se nesses riscos, as atividades criminosas cometidas por intermédio de equipamentos tecnológicos e da Internet.

Os riscos advindos do ciberespaço possuem elementos que oferecem condições propícias à prática de crimes virtuais, uma vez que este ambiente é caracterizado pela inversão de valores e supremacia de fundamentos éticos norteadores de comportamentos humanos pautados, entre outros, no egocentrismo e predomínio de comunicação em massa (SYDOW, 2013).

Logo, um dos maiores elementos que contribui “(...) à proliferação de delitos na web é a falta de informação dos usuários, que navegam na rede sem conhecer os verdadeiros riscos do ambiente virtual” (BRASIL et al., 2017, p. 131). As benesses do ciberespaço ao mesmo tempo em que garantiram significativas transformações e melhorias sociais acabaram por se tornar instrumentos fomentadores de crimes no mundo virtual conforme Brasil et al. (2017, p. 130) o “(...) crescimento dos crimes praticados no ambiente virtual é acompanhado do aumento do acesso à Internet, da ausência de regulamentação específica e pelas facilidades que o ciberespaço proporciona entre elas o suposto anonimato”.

Segundo Souza (2017, p. 302) as reverberações do ciberespaço na modernidade são infinitas, “a extensão de seus benefícios é inquestionável, mas a sua capacidade de produzir danos parece proporcional”. Quanto à natureza dos delitos cometidos no mundo virtual,

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Rossini (2004) os classifica em 3 grandes grupos classificados de acordo com o bem jurídico afetado:

(a) os delitos econômicos, que se subdividem em: (a1) fraude de manipulação de

dados em sistema de processamento de dados; (a2) espionagem de dados e pirataria

de programas; (a3) sabotagem; (a4) furto de serviço ou furto de tempo; (a5) acesso

não autorizado a sistema de processamento de dados e (a6) uso de computadores

para crimes empresariais; (b) os delitos contra direitos individuais, que se subdividem em: (b1) uso incorreto de informações, (b2) obtenção ilegal de dados e

posterior arquivo das informações e (b3) revelação ilegal e mau uso de informações; (c) os delitos contra direitos supraindividuais, divididos em: (c1) ofensas contra

interesses estaduais e políticos e (c2) crimes contra a integridade humana (ROSSINI,

2004, p. 114 -115, grifo nosso).

Na classificação de Rossini (2004), os bens jurídicos tutelados são os direitos econômicos/patrimoniais, os direitos individuais e os direitos supraindividuais. Entende-se por bem jurídico, suscintamente, os direitos e interesses tutelados pelo Estado por meio das leis, ou seja, é o que se protege com determinado diploma legal.

Diante do atual cenário global e nacional de lutas por igualdade de gênero e de direitos equitativos para as mulheres é importante compreender se e como a Internet e demais tecnologias têm contribuído para o fomento da violência de gênero no meio virtual, estudando a dinâmica que envolve esta modalidade de violência desde o seu aspecto social e não somente o jurídico se mostra crucial para entender como ela tem se capilarizado para a nova sociedade que se instalou com o mundo virtual.

Quando se fala em violência contra a mulher é imperioso destacar que se trata e uma espécie de violência que está intimamente adstrita a questões de desigualdades de poder decorrente da arcaica subjugação da mulher ao poderio patriarcal que tem rompido séculos e culturas diversas oprimindo o sexo feminino ao poder masculino (DEBERT; GREGORI, 2008).

A atuação estatal no Brasil em prol da tutela jurídica específica de combate à violência contra a mulher iniciou com a Lei Nº 11.340/2006, popularmente chamada de Lei Maria da Penha, que nasceu com a promessa de criar:

mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do Art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências (BRASIL, 2006b).

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Desde a promulgação da Lei Maria da Penha, no ano de 2006, onde se criminalizou a violência contra cometida contra mulheres em relações domésticas e familiares com penas mais gravosas até os dias atuais, diversas ações governamentais tem sido criada no sentido de conter e erradicar a violência de gênero, tais como as Delegacias Especializadas da Mulher, Patrulha Maria da Penha, Propaz Mulher.

E das inovações legislativas de endurecimento à violência contra mulheres, merecem destaque: (a) o aumento da pena para o crime de feminicídio, (b) a possibilidade de prisão em flagrante do agressor pela própria autoridade policial em caso de descumprimento de medida protetiva, e, (c) permissão legal concedida diretamente à autoridade policial, nas situações emergências de agressão contra mulher, aplicar medida protetiva contra o agressor de mulher, dentre outras (BRASIL, 2015, 2018a, 2018b).

Entender o motivo do avanço dessa espécie de violência requer uma análise social para além da jurídica envolta à desigualdade de poder existente historicamente entre homens e mulheres, pois “Foucault ensinou que não é possível entender a dinâmica das relações de poder apenas pela instância do jurídico” (DEBERT; GREGORI, 2008, p. 166).

Essa violência de gênero esta presente em todos os cantos da sociedade seja ela virtual ou real. No mundo digital brasileiro é possível constatar sua presença e avanço durante uma da simples análise das constantes e recentíssimas ações legislativas do Estado para abolir tal prática violenta, como a Lei Nº 13.642, de 03 de abril de 2018 que criou repercussões jurídicas e procedimentais de enfrentamento a essa espécie de violência a nível internacional e nacional (BRASIL, 2018b). Trata-se de lei que alterou as atribuições da Polícia Federal para acrescentar a função de investigar “crimes praticados através da rede mundial de computadores que difundam conteúdo misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão às mulheres”.

Ora, tendo em vista que a Polícia Federal é o órgão incumbido, constitucionalmente, de combater e reprimir as “infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, para os fins do disposto no Inciso I do § 1o do Art. 144 da Constituição”, nos termos da Lei Nº 10.466, de 08 de maio de 2002, não restam dúvidas que o tema dos crimes virtuais contra mulheres é uma questão de ordem e saúde pública nacional que merecem atenção especial a fim de reprimi-lo (BRASIL, 2002).

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O cibercrime é um tema de extrema preocupação social na Sociedade da Informação diante do poderio desempenhado pelas TIC e da sua rápida popularização (SYDOW, 2013). Outro tema de igual relevância social é a histórica desigualdade de poder entre homens e mulheres que perpetua a violência de gênero, geração por geração, nas mais variadas civilizações (GUIMARÃES; PEDROZA, 2015).

A pesquisa se justifica pela sua relevância em demonstrar a necessidade de quebrar paradigmas e mitos sociais cuja superação e supressão são essências para frear o avanço da criminalidade no ambiente virtual e da violência contra a mulher, tais como, a ideia de que a sociedade não deve interferir na relação familiar representada pelo ditado popular de que “em briga entre homem e mulher, ninguém mete a colher”, bem como a pseudo noção de que os crimes virtuais contra mulheres se limitam unicamente aos crimes contra a honra.

Logo, esta dissertação, apresenta relevância em três níveis: (1) acadêmica (2) social e (3) institucional. Adaptando a realidade, busca-se por meio deste estudo adoção de uma política criminal mais efetiva, que atenda às necessidades específicas da mulher vítima de crimes virtuais. Objetiva-se por meio deste estudo, fornecer aporte para auxiliar no enfrentamento aos crimes virtuais, especialmente, àqueles cometidos contra vítimas mulheres.

Dentro da comunidade acadêmica, a principal contribuição é o fomento à pesquisa sobre políticas públicas e ferramentas para combate eficaz ao ciberdelito contra mulheres, a partir das análises estatísticas oficiais apresentadas, haja vista que há carência de publicações e informações oficiais organizadas sobre os crimes virtuais contra mulheres, temática que carece de estudos.

Em buscas realizadas no site do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública (PPGSP), do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Universidade Federal do Pará (UFPA), não foi encontrado nenhum trabalho envolvendo diretamente a temática “crime virtual” e “violência contra mulher” (Quadro 1) atesta a relevância acadêmica desta pesquisa.

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Quadro 1: Distribuição das dissertações do Programa de Pós Graduação de Segurança

Pública, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal do Pará, por análise se possui ou não investigação de violência contra mulher, crime virtual e crime virtual com vítima mulher, de 2011 a 2017.

Turma Autor Orientador

Investiga a violência contra

mulher?

Investiga o

crime virtual? virtual com vítima Investiga o crime

mulher?

2011 Maria Goreti Góes da Rocha

Dr. Jaime Luiz

Cunha de Souza Sim

Não Não

2012 Paulo Eduardo Vaz Bentes

Dra. Silvia dos Santos de Almeida

Sim Não Não

2013 Auricélia Costa de Aguiar Silva

Dr. Edson Marcos Leal Soares Ramos

Sim Não Não

2013 Beatriz de Oliveira da Silveira

Dr. Edson Marcos Leal Soares Ramos

Não Sim Aborda de maneira indireta 2014 Angélica Varela de Lima Dra. Fernanda Valli Nummer Aborda de maneira indireta Não Não 2015 Gruchenhka Oliveira Baptista Freire Dr. Edson Marcos Leal Soares Ramos Aborda de maneira indireta Não Não

2015 Renata dos Santos Alencar Dr. Edson Marcos Leal Soares Ramos Aborda de maneira indireta Não Não 2015 Tatiane da Silva Rodrigues Tolosa Dr. Clay Anderson Nunes Chagas

Sim Não Não

2016 Alethea Maria Carolina Sales Bernardo Dr. Edson Marcos Leal Soares Ramos

Sim Não Não

2016 Cíntia Walker Beltrão Gomes

Dr. Marcelo Quintino Galvão Baptista

Sim Não Não

2017 Carmelita da Cunha Alfaia

Dra. Andréa Bittencourt Pires Chaves

Sim Não Não

2017 Mayka Caroline Martins da Cunha

Dra. Vera Lúcia de Azevedo Lima Sim Não Não 2017 Thiciane Pantoja Maia Dr. Edson Marcos Leal Soares Ramos

Sim Não Não

(22)

Para a sociedade, a pesquisa se mostra relevante tanto sobre o prisma educativo quanto preventivo. Pois os resultados poderão servir de instrumento informativo, razão pela qual esta pesquisa fornecerá como produto uma cartilha informativa à sociedade acerca dos riscos existentes no ambiente virtual, alertando os usuários sobre as práticas criminosas mais comuns cometidas no ciberespaço, além de possibilitar o aperfeiçoamento de política de prevenção criminal sobre Direito Digital e da violência contra mulheres no mundo virtual.

No campo institucional, pretende-se também, com os resultados alcançados nesta pesquisa validar a necessidade de fomentar atuações do Estado acerca de maiores investimento dos órgãos de segurança pública e do Judiciário no combate e enfrentamento dos crimes virtuais, especialmente, quanto ao melhoramento de recursos humanos e tecnológicos aptos ao enfrentamento dos crimes virtuais, tais como a criação de mais delegacias e varas judiciais especializadas.

Quando dois problemas sociais dessa magnitude se fundem os resultados obtidos são desastrosos e combatê-los prescinde de conhecê-los, pois não é possível vencer uma guerra, seja ela qual for, sem conhecer o oponente; ou as armas que você dispõe e as possivelmente usadas pelo seu rival; ou o cenário da batalha.

Traçar o perfil do crime virtual contra mulheres no Estado do Pará como realizado nesta pesquisa se mostrou relevante, pois foi um dos primeiros passos para entender como se dá essa nova dinâmica criminal e lograr êxito no seu enfrentamento com a adequação e a eficiência tanto no cenário paraense quanto no Brasil, uma vez que o arcabouço teórico da pesquisa ratifica que esta temática carece de estudos com esta especificidade.

1.3 PROBLEMA DA PESQUISA

O ciberespaço é, nas palavras de Souza (2017), um idôneo “indutor de novas sociabilidades”, isto é, estimula a criação de novos comportamentos sociais. O que se justifica uma vez que a:

A sociedade humana vive em constante mudança: mudamos da pedra talhada ao papel, da pena com tinta ao tipógrafo, do código Morse à localização por Global

Positioning System (GPS), da carta ao e-mail, do telegrama à videoconferência. Se a velocidade com que as informações circulam hoje cresce cada vez mais, a velocidade com que os meios pelos quais essa informação circula e evolui também é espantosa (PINHEIRO, 2010, p. 47, grifo nosso).

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À medida que tais tecnologias “cria e recria novas formas de interação, novas identidades, novos hábitos sociais, enfim, novas formas de sociabilidade” (MORIGI; PAVAN, 2004, p. 117), novos valores e conceitos surgem alterando os sistemas socioeconômicos, políticos e culturais, e econômicos. O ciberespaço, dessa forma, propiciou a intensificação das relações humanas das mais variadas formas e acrescendo-lhes benefícios, “especialmente relacionados à democratização do acesso à informação, à cultura, à política, aproximando pessoas e reduzindo o tempo gasto em atividades rotineiras”, tornando “a expressão popular ‘informação é poder’” sua melhor representação (BRASIL et al., 2017, p. 128).

Inegavelmente, o surgimento do ciberespaço com a inclusão de uma nova ordem social trouxe avanços positivos em todas as relações humanas, “a extensão de seus benefícios é inquestionável, mas a sua capacidade de produzir danos parece proporcional” (SOUZA, 2017, p. 302). Porquanto, atrelado a essa liberalidade estão todos os perigos ainda não conhecidos e tutelados efetivamente pelo ordenamento jurídico, os quais necessitam de regulamentação que dê resultado real, verdadeiro, especialmente, quanto aos direitos e garantias fundamentais dos internautas.

Com tantas melhorias proporcionadas pelo ciberespaço, o crescimento contínuo do uso de equipamentos eletrônicos e acesso à Internet são esperados. A pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC.BR) denominada de TIC Domicílios 2017, realizada em mais de 23 mil domicílios de todo o país entre os meses de novembro de 2017 e maio de 2018, cujos resultados foram apresentados no Fórum da Internet no Brasil TIC Domicílios 2017 em 05 de novembro de 2018 na Cidade de Goiânia/GO realiza uma análise panorâmica dessa popularização e democratização das TIC no Brasil (CETIC.BR, 2018).

No TIC domicílios 2017 constatou-se que o número de domicílios com acesso à rede mundial de computadores subiu de 36,7 milhões em 2016 para 42,1 milhões no ano de 2017, o que representa um aumento, anual, de aproximadamente 15% a mais de casas brasileiras interligadas em relação ao ano de 2016. Quanto à quantidade de usuários a pesquisa aponta que no Brasil esse número chegou a 120,7 milhões (CETIC.BR, 2018).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a estimativa da população brasileira até julho de 2018 foi de 208.494.900 milhões de pessoas (IBGE, 2018).

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Logo, cruzando os dados do IBGE com os resultados do TIC Domicílios 2017 constata-se que no Brasil há conectado à Internet em torno de 20% de domicílios brasileiros e 67% de brasileiros com dez anos ou mais idade até maio de 2018 (CETIC.BR, 2018).

Da simples análise desses dados se torna notório o fato de que a população brasileira esta maciçamente conectada à rede mundial de computadores e tem acesso às TIC, todavia, o País ainda não possui um diploma jurídico específico às demandas oriundas do ciberespaço nem tão pouco aparato policial suficiente e adequado, conforme ressalta Brasil et al. (2017). Souza (2017) também destaca a carência do Estado, especialmente quanto ao aparato policial, seja em contingente pessoal ou de recursos, para combater o ciberdelito.

De acordo com informações prestadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) em 2018 acerca de crimes virtuais cometidos no Brasil durante abril e setembro de 2017, constatou-se que o país conta somente com 11 delegacias especializadas em ciberdelitos, as quais estão situadas nas capitais das respectivas unidades da federação: Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Sergipe e Distrito Federal (ANATEL, 2018).

Com a carência de legislação específica e adequada aos problemas decorrentes do mundo virtual, o limiar entre o certo e o errado; o lícito e o lícito se torna bastante tênue, o que segundo Brasil et al. (2017, p. 129) faz com que não seja possível precisar até que ponto os direitos de uns podem ser exercidos livremente no ciberespaço sem ferir os de outros. É neste limiar que a violência de gênero parece ganhar espaço e adentrar o mundo virtual, fazendo com que o cibercrime prospere contra a vítima mulher. No Estado do Pará, em 2013, por exemplo, somente 245 Boletins de Ocorrências Polícias (BOP) foram registrados, total representado por vítimas de ambos os sexos (BRASIL et al., 2017).

Os atuais dados fornecidos pela Secretaria Adjunta de Inteligência e Análise Criminal (SIAC), na Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos (DPRCT), referentes aos BOP registrados entre 2016 a 2018 no Sistema Integrado em Segurança Pública (SISP) identificou 3100 (três mil e cem) BOP dos quais, 1.382 registros são de vítimas do sexo feminino, o que representa 45% das vítimas de ciberdelitos no Estado do Pará (PARÁ, 2019).

Ao comparar os dados fornecidos pelo SIAC (PARÁ, 2019) com resultados apresentados por Brasil et al. (2017) – pesquisa sobre crimes virtuais registrados na DPRCT, antiga Delegacia de Crimes Tecnológicos do Pará, com vítimas de ambos os sexos – duas

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constatações podem ser feitas: (a) os cibercrimes estão aumentando significativamente no Estado do Pará, e, (b) o cibercrime com vítima mulher também está crescendo (PARÁ, 2019).

A violência contra a mulher no Brasil é outro problema social que segue aumentando, ações do poder público têm sido implementadas nos últimos anos no intuito de frear o seu crescimento, tais como as recentes criações legislativas de reforço à Lei Maria da Penha no combate à violência de gênero, especialmente, a Lei Nº 13.104/2015 – cria o Feminicídio – (BRASIL, 2015); Lei Nº 13.641/2018 – tipifica o descumprimento da medida protetiva – (BRASIL, 2018a); Lei Nº 13.642/2018 – acrescenta às atribuições da Polícia Federal a função de investigar os crimes virtuais de misoginia contra mulheres (BRASIL, 2018b); Lei Nº 13.827/2019 – possibilita a aplicação de medidas protetivas diretamente pela autoridade policial, em caso de urgência, para posterior comunicação ao Juiz (BRASIL, 2019).

Só em 2017, 13 novas varas e juizados exclusivos de violência doméstica foram criados no Brasil de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mesmo assim, neste mesmo ano houve um aumento de 12% na quantidade de processos novos nas varas de violência doméstica, e o número de feminicídios subiu de 1287, em 2016, para 2643 no ano de 2017 (BRASIL, 2018c).

Diante dos fatos e dados apresentados surge o problema da pesquisa: Qual é o perfil dos crimes virtuais cometido contra mulheres na cidade de Belém/Pará?

1.4 OBJETIVOS

1.4.1. Objetivo Geral

Traçar o perfil dos crimes virtuais contra mulheres registrados na Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos no Estado do Pará, no período de 2016 a 2018.

1.4.2. Objetivos Específicos

a) Caracterizar os Boletins de Ocorrência Policial registrados por mulheres vítimas de cibercrimes no Estado do Pará, no período de 2016 a 2018,

b) Estudar a violência virtual cometida contra mulheres de Belém, no período de 2016 a 2018.

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1.5 HIPÓTESE

Há nos crimes virtuais contra as mulheres de Belém/Pará registrados na DPRCT, predominantemente, violência patrimonial, sendo o crime de estelionato o mais frequente, desmistificando, assim, a ideia do senso comum de que a violência de gênero no ambiente virtual é marcada pela violência moral, com os crimes contra a honra, especialmente àqueles associados à divulgação e compartilhamento de imagens íntimas.

De acordo com Ramos (2013) nas últimas décadas a internet se transformou num verdadeiro “campo de batalha para sexualidade”, fomentado pelos diversos recursos e avanços técnicos propiciados pelo ciberespaço, o que tem implementado “tecnologias de gênero”, as quais, segundo Lauretis (1994) responsáveis pela atribuição de valores e ações a ideias de feminilidade e masculinidade no ambiente virtual, atribuindo ao mundo digital a conotação de que os perigos à mulher são, em sua maioria, atrelados à questão gênero e sexualidade.

1.6 REVISÃO DE LITERATURA

1.6.1 O ciberespaço

A Sociedade da Informação é fruto das reverberações incrementadas pelo fenômeno da globalização iniciado na segunda metade do Século XX caracterizado pela quebra de paradigmas socioeconômicos seculares cedendo espaço à adoção de um “paradigma tecnológico” tendo como principais atributos a popularização e instantaneamente da informação a nível mundial, redefinição de fronteiras e interligações sociais para além de conhecimentos e costumes (CASTELLS, 2003), tornando essa nova estrutura social uma espécie de “aldeia global” (MCLUHAN, 1964).

Segundo Corrêa (2005) o ciberespaço é reflexo de uma série de acontecimentos da Globalização marcados pelo desenvolvimento das TIC e da Internet tamanha a voracidade com que tais acontecimentos eclodiram e se espalharam pelo mundo que o acesso a essas tecnologias passou a ser um instrumento que induz novos comportamentos e relações sociais, e acompanhar as transformações sociais impostas se tornou uma espécie de condição sine qua

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non de inserção social àqueles que pretendiam fazer parte da nova ordem social (ALENCAR, 2014, p. 13), onde:

(...) tais tecnologias cria e recria novas formas de interação, novas identidades, novos hábitos sociais, enfim, novas formas de sociabilidade. As relações sociais já não ocorrem, necessariamente, pelo contato face a face entre os indivíduos. Elas passaram a ser mediadas pelo computador, independentes de espaço e tempo definidos. Informação e conhecimento tornaram-se variáveis imprescindíveis para o cidadão neste novo tempo que se estabelece, denominado das mais variadas formas, como era da informação, sociedade pós-industrial, era do virtual ou sociedade da informação e do conhecimento (MORIGI; PAVAN, 2004, p. 117).

As TIC foram responsáveis pela criação de um ambiente inovador de relações interpessoais que culminou em uma nova ordem social e econômica imersa, segundo Lévy (2007), em um verdadeiro oceano de informação.

Quando se pensa na imensidão de possibilidades, conhecimentos e informações trazidas com e pelo acesso em massa da população a essas ferramentas tecnológicas fica fácil visualizar como o ciberespaço se tornou um instrumento importante no processo de construção de saberes de Foucault (2008) e um componente fundamental do sistema social de acordo com Vizcarra e Ovalle (2011). Dessa maneira, percebe-se que a inovação tecnológica se converteu em uma força latente gigantesca e causou uma das maiores transformações sociais experimentadas pelas civilizações modernas (MASUDA, 1994).

As repercussões do ciberespaço perpassam pelo campo social ao servirem de estímulos para novos comportamentos e valores sociais, até chegar ao cenário econômico onde criam uma economia baseada no conhecimento o que exige o incremento de novas formas de empreender (LISBOA, 2006).

Segundo Lisboa (2006, p. 11), “a Era da Informação não é apenas um slogan, mas um fato”, neste sentido, Castells (2003, p. 287) explica que a Internet passou a figurar como o coração desse novo “paradigma sociotécnico”, não se tratando de uma tecnologia qualquer, porquanto a rede mundial de computadores desde a sua popularização deixou de ser uma mera tecnologia para ser o meio de comunicação moderno responsável pela integração e organização social, “é o equivalente ao que foi a fábrica ou a grande corporação na Era Industrial”.

Os atributos e vantagens – tais como o acesso à informação, a sensação de segurança e concreta possibilidade de comunicação imediata e global – se mostraram tão atrativos que

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ensejaram uma massiva popularização da Rede, fazendo com que a Internet conseguisse alcançar em 3 anos a mesma quantidade de usuários que o rádio demorou 37 anos e a televisão 15 anos (SYDOW, 2013, p. 32-39).

Ocorre que juntamente com toda essa evolução tecnológica vieram, também, sacrifícios e riscos, especialmente quanto à Internet por se tratar de uma “sociedade de risco sui generis” da qual decorrem da riqueza potencial que a Internet representa, logo, “onde há riqueza, existe crime” (SYDOW, 2013, p. 38), e; a democratização do acesso à informação, no seu lado mais sombrio, fomentou e, ainda, alimenta a expansão de novos fenômenos criminológicos, bem como o aprimoramento de condutas desviantes conhecidas no mundo do crime (JESUS; MILAGRE, 2016).

Segundo Brasil et al. (2017) o ciberespaço merece atenção especial do Estado, especialmente, dos órgãos que compõe o Sistema de Segurança Pública, pois a popularização da informação causada pela Sociedade Digital não impõe qualquer limite social ou econômico às benesses tecnologias que produz nem tão pouco aos riscos que expõe seus usuários, seu acesso alcança todos os setores da sociedade, desde os lícitos até os ilícitos, bastando tão somente à posse de recursos e equipamentos adequados para delas fazerem uso.

Os mesmos recursos e benesses que proporcionaram importantes e significativos avanços e melhorias socioeconômicas se tornaram meios para prática crimes no ciberespaço, pois a “rápida capacidade de reorganização e de rearticulação da delinquência, tornada possível pelos avanços tecnológicos, dinamizaram as atividades criminosas tradicionais e viabilizaram a prática de novas modalidades de transgressão da lei” (SOUZA, 2017, p. 302).

A primeira ação legislativa efetivamente criada visando o disciplinamento do mundo virtual no Brasil é o conhecido Marco Civil da Internet, Lei Nº 12.965/2014, instrumento legislativo que tinha como escopo inserir no ordenamento jurídico brasileiro princípios, garantias e deveres para o uso da Internet, criando conceitos e procedimentos próprios ao ciberespaço (BARRETO; BRASIL, 2016).

O Marco Civil da Internet não foi suficiente para regrar as relações ocorridas no ciberespaço, em que pese à situação pré-Marco ser de completa ausência de regulamentação civil da internet no país, o que se justifica pelo fato das relações sociais e as TIC se desenvolvem em ritmos mais rápidos do que o Direito no que diz respeito a tutela jurídica

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dessas novas condutas sociais, o que torna o ordenamento jurídico nacional carente e precário no quesito efetividade de defesa no ambiente virtual (LEMOS, 2014).

Associado a isto, Brasil et al. (2017) ainda destaca como fatores que facilitam a empreitada criminosa no Brasil o fato do País não ser signatário de um importantíssimo instrumento normativo internacional de combate aos crimes tecnológicos. Ainda segundo os autores, o referido Tratado Internacional é a Convenção de Budapeste, elaborado em 2011, pelo Conselho da Europa, conhecida como Convenção sobre o Cibercrime, diploma legal que sistematiza e unifica os delitos virtuais e suas respectivas sanções penais, cujo foco centra-se na adoção de uma política criminal comum com a criação de tipos penais específicos, a definição de provas e mecanismos de cooperação e investigação adequados a esta modalidade de crime.

O Brasil não consegue acompanhar do ponto de vista jurídico os avanços das tecnologias e parece se olvidar do fato de que a sociedade é um organismo em constantes mudanças e as tecnologias são um dos fatores que condicionam e motivas tais mutações, merecendo atenção especial (JESUS; MILAGRE, 2016).

Desta maneira, é necessário um regramento jurídico sensível e firme o suficiente para prevenir e reprimir satisfatoriamente os cibercrimes, daí a importância da criação de um ramo do Direito voltado para o mundo virtual, denominado de Direito Digital, no qual:

(...) prevalecem os princípios em relação às regras, pois o ritmo de evolução tecnológica será sempre mais veloz que o da atividade legislativa. Por isso, a disciplina jurídica tende a autorregulamentação, pela qual o conjunto de regras é criado pelos próprios participantes diretos do assunto em questão com soluções práticas que atendem ao dinamismo que as relações de Direito Digital exigem. (...) (PINHEIRO, 2010, p.72).

Como se vê um dos obstáculos à legislação acerca do Direito Digital é a velocidade das transformações dos equipamentos tecnológicos e das relações sociais por eles consubstanciadas (SYDOW, 2013). Logo, a segurança jurídica no mundo virtual prescinde do reconhecimento dessa condição e das ações legislativas – criação de Leis – serem maleáveis o suficiente para manter sua eficácia frente às constantes mutações existentes no ciberespaço; e, “genérica o suficiente para sobreviver ao tempo e flexível para atender aos diversos formatos que podem surgir de um único assunto (...)” (PINHEIRO, 2010, p.72).

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O Estado do Pará é tido como “referência” dos cibercrimes, pois o lugar onde nasceram os piratas de computadores no Brasil é a cidade de Parauapebas, distante 652km da capital, é considerada o berço brasileiro dos crackers banker, isto é, os infratores virtuais bancários. O “título” atribuído à Parauapebas decorre do fato desta cidade, por diversas vezes, ter sido alvo de operações da Polícia Federal no início dos anos 2000. Os cibercriminosos paraenses criaram programas hackeres para aplicar golpes bancários on line, tendo o principal alvo a Caixa Econômica Federal. A primeira operação da Polícia Federal deflagrada ocorreu em 2001 e foi denominada de “Cash Net”, em seguida foram realizadas outras, como “Cavalo de Troia I”, em 2003, e “Cavalo de Troia II”, no ano seguinte, 2004. Estas operações serviram de base para novas incursões da polícia federal contra o cibercrime no país, como as operações “Pégasus I e II”, em 2005, e “Replicante” no ano de 2008 (FLORENZANO, 2017).

1.6.2 A violência contra a mulher

A definição de violência contra a mulher no Brasil surgiu em meio aos inovadores debates políticos do Feminismo na década de 1980, inicialmente a mulher era classificada como tal unicamente pela sua condição biológica, não se vinculava a noção de construção social como elemento de identificação social, esta discussão só ganhou notoriedade no cenário político brasileiro entre meados da década de 1980 e início dos anos 1990 (DEBERT; GREGORI, 2008), quando a violência contra a mulher no Brasil passou, assim, também a ser designada como violência de gênero (BRASIL, 2006a).

A violência de gênero não é um problema social novo, mas antigo, e que esta intimamente ligada a questões de desigualdades de poder – como classe, raça e idade – (DEBERT; GREGORI, 2008), e deve também ser visto e entendido como fruto de construções sociais condicionadas pela cultura local e o momento histórico (MEAD, 2000). “O que é novo, e muito recente, é a preocupação com a superação dessa violência como condição necessária para a construção de nossa humanidade” (WAISELFISZ, 2015, p. 7).

Segundo Guimarães e Pedroza (2015), a violência de gênero é uma discussão social que começou a ganhar notoriedade e “voz” nas discussões políticas e sociais nos últimos 50 anos quando então começou a trilhar – timidamente – o caminho da relevância social e seriedade que a questão merece.

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O termo gênero foi proposto na década de 70 por estudiosas americanas tais como Stoller e Gayle Rubin visando substituir a arcaica noção de determinismo sexual biológico – identificação sexual baseado em características anatômicas e fisiológicas – para inserir e destacar a relevância das construções sociais na definição de identidade sexual (GUIMARÃES; PEDROZA, 2015).

Essa luta por igualdade de gênero e de direitos equitativos aos dos homens é na sua essência um verdadeiro:

(...) movimento de inquietação, expansão e ressignificação de direitos. Por muito tempo, as mulheres não foram incorporadas aos discursos jurídicos e sociais por não terem acesso aos direitos como sujeitos e cidadãs. A história das reivindicações feministas evidencia as diversas lutas necessárias para a garantia de direitos civis, políticos e sociais (Bandeira & Melo, 2010; Costa, 2007). Como resultado, é possível hoje afirmarmos que as mulheres são sujeitos de direitos e que a

violação deles se configura como violência. Esse olhar contextualizado histórico,

político e culturalmente permite, nesse aspecto, que a situação das violências domésticas contra as mulheres deixe de ser vista de modo naturalizado, individualizado e segmentado. Tais violências passam a ser tratadas, então, como

um problema social, complexo e multifacetado, configurado tanto como uma questão de saúde pública como de garantia e respeito aos direitos humanos

(GUIMARÃES; PEDROZA, 2015, p. 263, grifo nosso).

O uso do vocábulo “gênero” como categoria de violência em detrimento de nomenclaturas como “violência intrafamiliar”, “violência contra a mulher”, “violência doméstica” é de extrema importância para a compreensão do fim da dualidade histórica homem-mulher e as desigualdades existentes entre eles, isso porque, segundo Okabe e Fonseca (2008, p. 454):

O gênero é abordado como um elemento constitutivo das relações sociais e como forma básica de representar as relações de poder, superando a visão de que as representações dominantes são naturais e inquestionáveis. Assumir o gênero como uma construção sociológica, político-cultural do termo sexo possibilita compreendê-lo numa dimensão que integra toda uma carga cultural e ideológica.

Desta forma, a adoção da nomenclatura violência de gênero se torna um avanço teórico-conceitual, pois nessa perspectiva, a violência contra a mulher expressa a desigualdade de poder entre ambos os sexos, é reconhecida como uma questão de violência dos direitos humanos e como uma forma de discriminação contra a mulher (GUIMARÃES; PEDROZA, 2015).

E, nesse sentido, Debert e Gregori (2008, p. 168) preconizam que, em que pese haver previsão legal na Constituição Federal – legislação mais importante de um país que obriga a

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submissão de todo o ordenamento jurídico aos seus ditames – garantindo igualdade entre homem e mulher, “a questão da desigualdade de poder implicada nas diferenças marcadas pelo gênero, (...), encontra imensa resistência nas práticas e nos saberes que compõem o campo da aplicação e efetividade das leis”.

É visível essa “resistência” citada por Debert e Gregori (2008) quando se observa que em 13 anos após a criação da Lei Maria da Penha – sem contar nas políticas públicas tais como delegacia especializada da mulher, patrulha Maria da Penha, Pro Paz Mulher, abrigo para vítimas de violência, assistência psicológica etc. –, a violência contra a mulher ainda é um problema vivo na sociedade brasileira, o que tem feito com que o Estado crie novas leis com punição mais gravosas para o infrator na esperança de coibir a violência, como a Lei do Feminicídio, tornando o homicídio de mulheres crime hediondo e com penas maiores aos agressores (BRASIL, 2015).

Outra lei recente e importante é a Lei Nº 13.641 de 2018, que criminalizou o descumprimento de medida protetiva e possibilitou a prisão em flagrante pela autoridade policial do agressor que descumpre medida protetiva (BRASIL, 2018a); a Lei Nº 13.827 de 2019, permitindo à própria autoridade policial, diante de uma situação de urgência, aplicar imediatamente uma medida protetiva contra um agressor, o que antes só podia ser feito pelo Juízo (BRASIL, 2019).

Além disso, na tentativa de oferecer uma resposta rápida e adequada ao tema, o Poder Judiciário aumentou o número de varas e juizados exclusivos em violência doméstica e familiar que passou de 109 em 2016 para 122 em 2017 (BRASIL, 2018c).

Confirmando essa realidade social, o CNJ apresentou, em 2018, o relatório “O Poder Judiciário na Aplicação da Lei Maria da Penha” no qual realizou um mapeamento dos casos de violência contra mulher registrados nos Tribunais Estaduais do Brasil no de 2017, e os dados são alarmantes. O relatório evidencia o crescimento percentual de 12% na quantidade de novos processos em relação ao ano de 2016 no País, totalizando 452.988 novas demandas nas varas especializadas de violência doméstica contra a mulher, em 2017; os casos de feminicídio subiram de 1287 em 2016 para 2643 em 2017; e, o número de medidas protetivas também aumentou 21% entre 2016 e 2017 (BRASIL, 2018c).

Corroborando o panorama apresentado pelo CNJ, o Senado Federal mediante o Observatório da Mulher contra a Violência apresentou em 2017 a pesquisa “Violência

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doméstica e familiar contra a mulher” – realizada a cada 2 anos desde a promulgação da Lei Maria da Penha (BRASIL, 2017).

Os principais resultados desta pesquisa indicam que: (a) o número de mulheres que declaram ter sofrido algum tipo de violência de 18%, em 2015, para 29% em 2017; (b) o número de mulheres que declaram conhecer alguma mulher que sofreu violência de 56%, em 2015, para 71% em 2017; (c) as mulheres que têm filhos sofrem mais violência (70%) do que as que não têm filhos (34%); (d) as mulheres negras (74%) sofrem mais violência física e sexual do que as brancas (57%) (BRASIL, 2017).

A violência contra as mulheres em todas as suas formas é um fenômeno multidimensional que atinge todas às mulheres, indiscriminadamente, para ser superado deve ser enfrentado eficazmente em todas as suas dimensões, a simples criação de um marco legislativo – Lei Maria da Penha – como se vê, não foi o suficiente para conter a violência, se faz necessário além “além de traçar mecanismos para assegurar a imputação de penalização ao agressor, tratar de forma integral o problema da violência doméstica” (BRASIL, 2018d).

1.7 METODOLOGIA

1.7.1 Natureza da Pesquisa

O estudo foi desenvolvido de forma “quali-quantitativa”. Freitas e Prodanov (2013) ressaltam que na abordagem qualitativa, a pesquisa tem o ambiente como fonte direta dos dados, as questões são estudadas sem apresentarem qualquer manipulação intencional do pesquisador.

Já na abordagem quantitativa, o pesquisador considera que tudo pode ser quantificável, de forma a classificá-los, analisá-los, utilizando-se de ferramentas estatísticas. Freitas e Prodanov (2013) comentam, ainda, que por meio das técnicas científicas, é possível desvelar significados explícitos e implícitos no fenômeno objeto deste estudo bem como nos sujeitos que nele estão inseridos.

Além disso, a pesquisa foi: (i) exploratória, que é utilizada quando se busca maior precisão para definição do problema e (ii) descritiva que, por sua vez, tem como intuito registrar, analisar e interpretar fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no

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presente bem como descrever características de determinado fenômeno, estabelecendo possíveis relações entre as variáveis analisadas (MALHOTRA, 2001; MARCONI; LAKATOS, 2010).

Para complementar e atingir os objetivos da pesquisa, também foi realizada pesquisa documental, a qual, segundo Gil (2007), corresponde a uma modalidade de estudo e de análise de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa, devendo considerar que o primeiro passo consiste na exploração das fontes documentais, que são em grande número.

Existem, de um lado, os documentos de primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc. De outro lado, existem os documentos de segunda mão, que de alguma forma já foram analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas.

1.7.2 Lócus da pesquisa

O Estado do Pará foi escolhido para a presente pesquisa tendo em vista haver somente uma Delegacia Especializada no Estado para realizar o enfrentamento e prevenção dos crimes tecnológicos, a DPRCT.

A população paraense estimada pelo IBGE em 2019 é de 8.602.865 habitantes, a população do sexo feminino representa 49,6% da sua população enquanto que o sexo masculino compreende 50,4%, o que denota certo equilíbrio entre os contingentes de ambos os sexos (IBGE, 2019).

1.7.3 Fontes

A pesquisa foi realizada com base nos dados compilados pela Secretaria Adjunta de Inteligência e Análise Criminal dos 1382 Boletins policiais registrados por vítimas mulheres e nos relatos na íntegra da amostra de 103 registros de ocorrências brutos fornecidos pela Divisão de Prevenção e Repressão a Crimes Tecnológicos no Estado do Pará na DPRCT, nos anos de 2016 a 2018.

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