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Formação arquivística: a visibilidade desse profissional diante do mercado de trabalho

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CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUIVOLOGIA

KESIA DOS SANTOS RODRIGUES

Niterói 2014

FORMAÇÃO ARQUIVÍSTICA:

A visibilidade desse profissional diante do mercado de trabalho

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FORMAÇÃO ARQUIVÍSTICA:

A visibilidade desse profissional diante do mercado de trabalho.

ORIENTADOR:

Profa. Ms. Raquel Luise Pret Coelho

Niterói, RJ 2014

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciência da Informação e à Coordenação de Arquivologia da Universidade Federal Fluminense como requisito para obtenção do título de Arquivista.

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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá

R696 Rodrigues, Kesia dos Santos.

Formação arquivística: a visibilidade desse profissional diante do mercado de trabalho / Kesia dos Santos Rodrigues. – 2014.

127 f.

Orientadora: Raquel Luise Pret Coelho.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Arquivologia) – Universidade Federal Fluminense, 2014.

Bibliografia: f. 72-78.

1. Arquivista. 2. Gestão de documento. 3. Formação profissional. 4. Mercado de trabalho. I. Coelho, Raquel Luise Pret. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Arte e Comunicação Social. III. Título.

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FORMAÇÃO ARQUIVÍSTICA:

a visibilidade desse profissional diante do mercado de trabalho.

APROVADO EM: / /

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Professora Ms. Raquel Luise Pret Coelho (Orientador)

UFF - Universidade Federal Fluminense

______________________________________________ Professora Ms Lindalva Rosinete Silva Neves

UFF - Universidade Federal Fluminense

______________________________________________ Professora Dra. Clarissa Moreira dos Santos Schmidt

UFF - Universidade Federal Fluminense

Niterói 2014

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciência da Informação e à Coordenação de Arquivologia da Universidade Federal Fluminense como requisito para obtenção do título de Arquivista.

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À minha mãe (Sueli), ao meu pai (Jair) e à minha irmã (Kenea) por estarem presentes nessa longa – quase odisseia – trajetória acadêmica... Tive perdas irreparáveis que sem vocês não poderia ter superado e dado continuidade nessa jornada.

À minha orientadora que, com sua paciência e sua forma melíflua de falar, me fez ver as coisas com mais tranquilidade e clareza, não deixando que eu me precipitasse e fizesse um trabalho somente para obter o título de graduação, mas que eu desse o melhor de mim e fizesse o que era digno dessa graduação.

Às “arquivetes” (Geisi, Juliana, Kenea – mais uma vez –, “Lidibaby”, Mari e Nat) que fizeram dessa vida acadêmica um aprendizado para a vida toda. Ao conviver com vocês eu cresci profissionalmente e como pessoa. Sou grata por contar com vocês nos momentos de desespero, de aprendizado e, acima de tudo, de alegria. Vocês são, com toda a certeza, uma das razões da minha continuidade na faculdade.

Às minhas amigas “pérfidas” da UERJ, vulgo “chicas locas” (Amanda, Carla, Edna, Ludmilla e Rachel), que presenciaram a minha correria entre UERJ e UFF, sendo sempre companheiras e amigas, vocês me ajudaram a conciliar ambas as graduações, sempre me apoiaram e acreditaram mais em mim do que eu mesma.

À professora Lídia Freitas que me deu uma aula sobre as mudanças curriculares ocorridas na graduação de arquivologia. Infelizmente, não pude concretizar a ideia de entrevistá-la para melhorar a minha pesquisa, porém, penso em realizar isso para o futuro, quiçá em um projeto de especialização.

À coordenado do curso de Arquivologia da UFF, professora Lindalva, que me passou todas as grades curriculares do curso de arquivologia.

Às professoras Lindalva e Clarissa por aceitarem fazer parte desse trabalho, me avaliando.

Aos professores e professoras do curso, que possibilitam fazer dessa faculdade um lugar reflexivo, que possibilitou me formar uma profissional crítica e pesquisadora.

E, essencialmente, a Deus, por me guiar por esse caminho iluminado, com uma família abençoada e amada, com ótimos amigos e com maravilhosos mestres.

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“Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino” (Leonardo da Vinci)

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GRÁFICO 1 – Área de atuação profissional, f. 55 GRÁFICO 2 – Nomenclatura, f. 56

GRÁFICO 3 – Escolaridade, f. 57 GRÁFICO 4 – Local de trabalho, f. 65 GRÁFICO 5 – Pré-requisitos, f. 66 GRÁFICO 6 – Salários, f. 68

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TABELA 1 – Representatividade regional do curso de Arquivologia, f. 42 TABELA 2 – Tabela sobre os cursos de arquivologia no Brasil, f. 43 TABELA 3 – Grade Curricular de 1983, f. 47

TABELA 4 – Grade Curricular de 1993, f. 48 TABELA 5 – Grade curricular de 2007, f. 49 TABELA 6 – Grade curricular de 2009, f. 50

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A formação do arquivista em nível superior foi decretada em 1978, na época havia uma formação pragmática, na qual o foco estava na história. Com o decorrer dos anos as sociedades foram se modificando e com elas vieram novas exigências, as quais fizeram emergir um novo perfil para o profissional de arquivo, que refletiu, sobretudo, no mercado de trabalho. Desta forma, o presente trabalho visa apresentar a formação do arquivista relacionado à gestão de documentos, bem como a sua inserção no mercado de trabalho. Para tanto serão apresentadas as mudanças ocorridas na formação do arquivista na Universidade Federal Fluminense (UFF) a partir da análise das grades curriculares do curso de Arquivologia, visando, assim, compreender como a gestão de documentos foi inserida na formação do arquivista. Além disso, serão analisadas algumas vagas de emprego para arquivistas presentes em três páginas da internet, com o intuito de fazer a urdidura entre o perfil do profissional formado e o fazer arquivístico.

Palavras-chaves: Arquivista; Gestão de Documentos; Formação profissional; mercado de trabalho.

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La formación del archivero en nivel superior fue decretada en 1978, en la época había una formación pragmática, en la cual el foco estaba en la historia. Con el transcurso de los años las sociedades fueron modificándose y con ellas vinieron nuevas exigencias, las cuales hicieron surgir un nuevo perfil para el profesional de archivo, que reflejó, sobre todo, en el mercado de trabajo. De tal manera, el presente trabajo visa presentar la formación del archivero relacionado a la gestión de documentos, así como su inserción en el mercado de trabajo. Para tanto serán presentados los cambios ocurridos en la formación del archivista en la Universidade Federal Fluminense (UFF) a partir del análisis de las rejas curriculares del curso de Archivología, visando, así, comprender como la gestión de documentos fue insertada en la formación del archivista. Además de eso, serán analizadas algunas vacantes de empleo para archivistas presentes en tres páginas de la internet, con el objetivo de hacer la comprensión entre la relación del perfil profesional formado y el hacer arquivístico.

Palabras clave: Archivero; Gestión de documento; Formación profesional; Mercado del trabajo.

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1 INTRODUÇÃO, p. 14

1.1 JUSTIFICATIVA, p 17 1.2 OBJETIVOS, p. 20

1.3 MARCO TEÓRICO, p. 20

1.4 METODOLOGIAS E FONTES, p. 23

2 O ARQUIVISTA E A GESTÃO DE DOCUMENTOS, p. 26

2.1 A ARQUIVÍSTICA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, p. 27 2.2 GESTOR OU ARQUIVISTA, p. 32

3 FORMAÇÃO ARQUIVÍSTICA, p. 35

3.1 A FORMAÇÃO DO ARQUIVISTA NO BRASIL, p. 37 3.1.2 O perfil do profissional formado na UFF, p. 45

4 ANÁLISE DAS VAGAS, p. 54

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 69

6 REFERÊNCIAS, p. 72

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1 INTRODUÇÃO

Antes de discorrer sobre as questões teóricas relacionadas à Arquivologia e da temática central do presente trabalho, faz-se necessário situar o leitor de como se chegou a este tema. Sendo assim, ainda que se entenda a importância da impessoalidade em um trabalho acadêmico, é necessário relatar a própria experiência da pesquisadora, desta forma, a primeira pessoa do singular será usada, com o intuito de, brevemente, situar a inserção dela na graduação de Arquivologia e na temática desta investigação.

Logo, tudo começou quando fui fazer a inscrição no vestibular. Deparei-me com uma situação contraditória: desconhecia o fato de existir um curso de graduação de Arquivologia e o fato dele ser ofertado somente em universidades públicas; mas, ao mesmo tempo, era de meu conhecimento a profissão de Arquivista.

Desta forma, o meu conhecimento em relação ao curso era algo somente visível, pois via o Arquivista em ação, mas sem a devida instrução. Acreditava, portanto, que ele era um profissional sem formação superior, que exercia uma função tecnicista.

Neste mesmo período de inscrição no vestibular, tive que pesquisar sobre os cursos de graduação oferecidos nas faculdades públicas e sobre os cursos que pudessem vir a despertar algum interessante. Encontrei, assim, o curso de Arquivologia, bem como os organogramas do curso, informações sobre o perfil do arquivista, enfim, características de uma atuação profissional que me identifiquei.

Ingressei na faculdade e fui constatando que outros discursos em relação ao “não conhecimento” da faculdade de Arquivologia e da profissão de Arquivista estavam presentes na discussão em sala de aula, na qual muitos alunos falavam sobre as indagações a respeito de sua formação.

Com a intenção de compreender ainda mais sobre a formação deste profissional e me inserir no mercado de trabalho (como estagiária), comecei a pesquisar sobre vagas de estágio e me surpreendi com algumas vagas para arquivistas1 que não pediam formação universitária e, tampouco, apresentavam o piso salarial do profissional em questão. O que eu pensava sobre esta formação ou da ausência dela, antes de entrar na faculdade, era compartilhado por outras pessoas e refletia diretamente no mercado de trabalho. Logo, não pretendo nesse trabalho

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defender a minha indignação e surpresa mediante a tal situação, mas esta narrativa serve para explicar o meu interesse pelo assunto, a partir do qual será desenvolvido este trabalho.

Em virtude do exposto, busca-se analisar de forma mais profunda como o arquivista é visto no mercado do trabalho, averiguando se o caso retratado anteriormente é isolado ou uma prática do mercado de trabalho. Para lograr êxito nesta verificação, procura-se fazer uma apreciação sobre a atuação profissional, relacionando-a com a história da formação do arquivista no Brasil e, sobretudo, com a gestão de documentos.

Sabe-se, destarte, que a história da Arquivologia e do arquivo em si vem desde a Antiguidade, que associa a evolução dos arquivos à evolução da escrita, tal concepção transpassa para os dias atuais, porque desde o início o homem teve e tem a necessidade de registrar a informação e, com o decorrer dos anos, passa a disseminá-la.

Com o decorrer dos séculos, foram elaboradas novas concepções acerca do arquivo e da atuação do arquivista, associando o profissional à gestão de documentos2, compreendida como o procedimento que envolve a produção, utilização e destinação dos documentos. Desta forma, o arquivista passou a ser o profissional que trabalha em todas as fases de um arquivo – corrente, intermediária e permanente –, rompendo com a concepção de que o arquivista tradicional era o profissional que trabalhava com arquivos permanentes e o gestor de documentos o profissional que trabalhava com o arquivo corrente e intermediário (SCHELLENBERG, 2006). Segundo Rhoads (1989), o arquivista é o profissional chave para o desenvolvimento da gestão de documentos, já que é o responsável pelos procedimentos concernentes a gestão.

A procura crescente pelo profissional da área, o aumento da produção cientifica, assim como, o grande avanço da profissão advém da importância da Arquivologia na otimização do trabalho nas instituições e esse êxito ocorre devido à qualificação profissional, que está intrinsecamente vinculada à formação desse profissional em nível superior (COÊLHO, 2005). Nota-se que há um reconhecimento – ainda que incipiente – no que toca a relevância deste profissional, que é capaz de gerenciar as informações e documentos, agilizando o processo de recuperação da informação e acesso, visando, também, a eficácia e eficiência em seu trabalho. Além das atividades, percebe-se que o reconhecimento deste profissional relaciona-se à questão da Arquivologia como ciência, que deve ser (re)pensada e difundida para que esse profissional seja conhecido socialmente e no mercado de trabalho.

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Duarte (2007) nos informa, ainda, que a “Arquivologia no Brasil se constitui como área profissional autônoma, embora não se tenha encontrado saída para a sua verdadeira independência, ficando relacionada ao campo da Ciência da Informação e da Biblioteconomia” (p. 146), sendo assim, é perceptível o espaço que a arquivologia tem buscado em se tornar uma ciência autônoma, sem estar ligada a um campo específico de conhecimento3.

Essa ruptura com outros campos de conhecimento pode ser constatada há algum tempo. Demonstrando que a formação arquivística no Brasil passou por um grande desenvolvimento, Matos destaca que essa revolução ocorreu, de fato, a partir de “1972, quando o então Conselho Federal de Educação (CFE) concedeu às universidades brasileiras, por meio do Decreto nº 212, de 7 de março, o poder de organizar programas de graduação em Arquivologia” (2008, p. 05).

Na mesma década, foi implantada a Lei 6546/78, que explicita algumas atribuições na formação do profissional da área de arquivo, como a formação em nível superior – para os arquivistas – e em nível médio técnico – para os técnicos de arquivo –, respaldando, assim, a atuação profissional e aclarando que o arquivista ou técnico de arquivo deverá ter um mínimo de formação.

E é a partir dessa formação e dos requisitos e atribuições legais acerca da atuação profissional que o presente trabalho se desenvolve, visando mapear, através da análise das vagas de emprego oferecidas na web – presentes nos seguintes endereços: http://alunadearquivo.blogspot.com.br/, http://www.facebook.com/groups/arquivista.emprego/ e http://www.aaerj.org.br/. Objetiva-se entender como o mercado de trabalho enxerga o arquivista, contrapondo, ainda, como na formação universitária – recebida na Universidade Federal Fluminense (UFF) – foi inserindo a ideia de gestor de documentos nos currículos de arquivologia da UFF ao longo do tempo. O primeiro e o segundo site foram escolhidos por apresentarem frequentemente vagas para Arquivistas e por ter grande visibilidade nas redes sociais, já que são ferramentas de comunicação dos profissionais da área, já o site da Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro (AAERJ) foi selecionado por ser, entre os selecionados, o único que apresenta, de alguma forma, um respaldo institucional que representa a área no estado do Rio de Janeiro (local de recorte da pesquisa).

3 Cabe ressaltar que autores como José Maria Jardim, Heloísa Bellotto, Ama Maria Camargo, dentre outros, discordam dessa ideia, contestando que a Arquivologia é uma ciência independente, mas que agrega conhecimentos de outras áreas de conhecimento.

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Partindo de tal delimitação e da compreensão de que a atuação do arquivista tem sido indispensável para um bom funcionamento da gestão documental, cabe perceber o que o termo gestão de documentos significa, sendo assim, no Dicionário de Terminologia Arquivística a gestão de documentos consiste em um “conjunto de medidas e rotinas visando à racionalização e eficiência na criação, tramitação, classificação e avaliação dos documentos”.

O arquivista tem, dessa forma, atribuições que devem ser colocadas em práticas e exigem determinados conhecimentos que, por sua vez, são adquiridos em ambiente acadêmico. A formação arquivística em nível superior é algo que se desenvolve ao longo do tempo e a prática arquivística suscita determinadas concepções teóricas e práticas para que esse profissional possa ser valorizado, no entanto, como se encontra a visibilidade desse profissional mediante o mercado de trabalho? A universidade prepara para essa atuação profissional?

Tentando responder a tais questões, na presente monografia será apresentado inicialmente, no primeiro capítulo, um breve panorama histórico da Arquivologia, que perpassa sobre a construção do campo ao longo dos séculos, assim como, a consolidação da mesma enquanto disciplina, tendo como eixo central a contextualização da gestão de documentos.

No capítulo seguinte, será abordada a formação do arquivista no Brasil, com a universalização do ensino no país e as legislações que respaldam tal formação. Elucidando, ainda, as universidades que ministram o Curso de Arquivologia em território nacional e, posteriormente, abordando a formação no estado do Rio de Janeiro, que tem duas instituições que oferecem o curso (UFF e UNIRIO), restringindo uma análise a partir das grades curriculares da primeira universidade.

Por último, mas com o mesmo grau de significância dos capítulos anteriores, será apresentado o terceiro capítulo, que abordará e analisará o profissional de arquivo mediante o mercado de trabalho, apreciando as vagas de emprego oferecidas na internet, traçando, assim, o perfil que o mercado de trabalho procura.

E, por fim, será concluído tal trabalho, fazendo uma urdidura de todos os capítulos e lançando reflexões acerca do ensino, formação e atuação arquivística.

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O espaço do profissional da área da arquivologia vem se diferenciando, não somente referente às práticas, mas à sua visibilidade perante a sociedade, no entanto, tal (in)visibilidade ainda é recorrente ao que tange o mercado de trabalho, e tal característica não é investigada. A formação em Arquivologia, no Brasil, já teve a sua base curricular voltada para as disciplinas de história, cujo profissional formado era caracterizado por uma formação para o trabalho em arquivos permanentes; posteriormente, sua formação teve um viés para as disciplinas de direito, caracterizando-se por uma formação pautada no arquivo como prova, no entanto, em um determinado período histórico associou-se o arquivista ao profissional da gestão, relacionando-o diretamente à gestão de documentos.

Desde o desenvolvimento da arquivologia como disciplina, a partir da segunda metade do século XIX, talvez nada a tenha revolucionado tanto quanto concepção teórica e os desdobramentos práticos da gestão ou a administração de documentos estabelecidos após a Segunda Guerra Mundial. Para alguns, trata-se de um conceito emergente, alvo de controvérsias e ainda restrito, como experiência, a poucos países (JARDIM, 1987).

Desta forma, as atividades e princípios arquivísticos da gestão de documentos contribuem diretamente na atuação do arquivista, trazendo economia e eficácia para o serviço prestado no arquivo. E tal concepção de economia e eficácia veio corroborar a relação que o arquivo teve e tem com administração, relação essa que foi intensificada após a II Guerra mundial, com o aumento da massa documental (JARDIM, 1987). Porém, destaca-se que essa relação próxima com a administração enfatizou-se com a nova concepção teórica da gestão de documentos, porém a gestão de documentos é uma operação arquivística que foi consolidada pela literatura da área.

A gestão de documentos é importante para a otimização do trabalho arquivístico, evitando acúmulo desnecessário de documentos, economia de recursos financeiros e pessoal no setor. É através da gestão que se viabiliza projetos que possam ser produtivos para o setor de arquivo (JARDIM, 1987).

Para ser um arquivista / gestor de documentos, no Brasil, tal formação, acontece em 16 faculdades públicas e essa formação é de suma importância para a atuação desses profissionais no mercado de trabalho, uma vez que é no ambiente acadêmico que entrará em contato com a teoria e assim poderá urdi-la à prática cotidiana. A formação do arquivista é

Considerada uma formação universitária ainda em busca de identidade própria, a Arquivologia trilha por caminhos susceptíveis e questionáveis no que diz respeito ao

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seu corpo teórico e epistemológico. O que a leva a essa característica? No Brasil, ela se apresenta como subárea do conhecimento concebida no berço da Biblioteconomia e da História, fixando-se na área da Ciência da Informação. Assim, nota-se o quanto ainda se tem de imprecisão e influência em sua base teórica e na aplicação de seus métodos. Analisando caso a caso, detectar-se-á que a formulação dos cursos de Arquivologia passaram por mãos de bacharéis e docentes de Biblioteconomia e História. É reconhecida a contribuição dos profissionais que se dispuseram a elaborar projetos de cursos de Arquivologia nas universidades brasileiras (DUARTE, 2007, p. 145-146).

Muito se tem discutido em ambiente acadêmico sobre a formação arquivística contemporânea, assim como, no ambiente social, pouco se sabe acerca desse profissional e parte da sociedade desconhece a profissão de arquivista e as atribuições deste profissional, cuja falta de informação reflete não só na atuação do arquivista, mas também em sua formação acadêmica4.

Da mesma forma, empresários e administradores vêm desmerecendo a formação em Arquivologia, convocando “arquivistas” formados em nível de escolarização médio, ou seja, não sendo necessária a formação em nível superior. No entanto, a Lei 6546/78 elucida que, tanto para o cargo de técnico de arquivo como para arquivista, é necessária uma formação específica. Mas, na realidade, o que se verifica, em determinados casos, são vagas que não têm critérios legais, solicitando pessoas desqualificadas e sem a devida formação necessária.

Há uma falta de clareza dos administradores (representantes do mercado de trabalho) quanto à gestão de documentos e às atribuições do arquivista como profissional da informação, portanto, esse trabalho surge como forma de demonstrar quem é esse profissional que o mercado de trabalho procura, averiguando se essas vagas estão de acordo com as legislações em vigor e se esse trabalho arquivístico será elaborado de acordo com a formação proposta pela universidade, buscando, ainda, alçar novos horizontes acerca da própria formação arquivística ou do arquivista e da visibilidade desse profissional perante a sociedade.

Desta forma, para tal compreensão, será apresentado o contexto histórico dessa profissão e ciência, abrangendo a formação do campo, as conquistas legislativas, a regulamentação da profissão e os primeiros cursos no país. Tal contextualização será feita a partir da década de 70, data essa selecionada devido aos grandes parâmetros da área arquivística ter sido montada nessa época (FONSECA, 1999), até os das atuais, vislumbrando

4 Algumas reportagens demonstram como a arquivologia está sendo encarada na realidade brasileira, veja: http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=5&n=18933

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a análise e acepção do perfil profissional diante do mercado de trabalho, porém, não se deixará de abranger alguns acontecimentos anteriores que foram fundamentais para as decisões e feitos da década supracitada.

1.2 OBJETIVOS

Objetivo geral

Analisar a formação do arquivista enquanto gestor de documentos e sua inserção no mercado de trabalho.

• Objetivos específicos:

- Contextualizar a gestão de documentos no campo científico arquivístico;

- Perceber como a gestão de documentos foi sendo inserida como disciplina e ganhou

importância na formação do arquivista no Brasil;

- Analisar o mercado de trabalho para o arquivista no Rio de Janeiro, a partir do estudo

de caso de três sítios da internet que são voltados para o campo arquivístico, a saber: um blog, que tem bastante destaque, chamado “Aluna de Arquivo – Arquivista em Construção” (http://alunadearquivo.blogspot.com.br/), site da Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro (http://www.aaerj.org.br/) e um grupo do facebook “Vagas de emprego/estágio para arquivistas” (http://www.facebook.com/groups/arquivista.emprego/) – verificando as demandas dos Arquivistas para essa região.

1.3 MARCO TEÓRICO

Traçar a aceitação da Arquivística, em seu contexto histórico mundial, remete a muitos acontecimentos históricos que demonstram como essa ciência está se desenvolvendo Tais acontecimentos foram e são fundamentais para a visão que se tem da Arquivologia atualmente

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e, por isso, cabe traçar uma breve análise de conjuntura para compreender as distintas representações sociais que tanto o arquivo quanto o Arquivista apresentam socialmente.

Segundo Posner (2013, p. 282) para o bom funcionamento de um arquivo é necessário o “treinamento especializado” do arquivista, O mesmo autor, esclarece que os arquivos apresentam suas distinções de acordo com os países, porém, independente do lugar, é importante considerar o Principio de Proveniência e de respeito aos fundos ao tratar o arquivo, Ainda, referente ao conceito de arquivo, Rousseau e Couture (1994, p. 284) definem o arquivo como um conjunto de informações.

No entanto, mesmo com todas as mudanças ocorridas no campo arquivístico, tendo a mesma mais reconhecimento, ainda é possível se deparar com o desconhecimento alheio em relação à graduação de Arquivologia -, sendo questionado: "Arquivo o quê?", além disso, há ainda mais algumas desvalorizações do senso comum acerca da atuação desse profissional: "precisa fazer faculdade para mexer em papel?". Mas a pior degradação acerca da atuação desse profissional remete a própria atuação do mesmo no mercado de trabalho. Todavia,

Ante a instalação acelerada da indústria da informação, a Arquivologia surge com mais vigor e possibilidade de atingir o seu objetivo enquanto área do saber. Esse aspecto estimula e promove o seu estado de arte, mas passa a incomodar os que ainda consideram a possibilidade de, além do arquivista, outro profissional da informação ser capaz de planejar e administrar projetos em instituições arquivísticas (DUARTE, 2007, p.147).

Por conseguinte entende-se que a Arquivologia está alcançando seu espaço na área acadêmica, como ciência, obtendo sua autonomia, e, no mercado de trabalho, o profissional da área está tendo um destaque maior, sendo

[...] múltiplas as possibilidades do bacharel em Arquivologia no mercado de trabalho. Ele pode atuar em instituições arquivísticas, em setores de documentação ou informação, em centros culturais, serviços ou redes de informação, em órgãos de gestão do patrimônio cultural ou noutros responsáveis pela salvaguarda de acervos documentais (DUARTE, 2007, p. 149).

Sendo assim, o arquivista é um profissional de múltiplas facetas, capaz de atuar em diversos setores. Mas nem sempre foi assim, foi algo desenvolvido ao longo da história brasileira. Desta forma, sobre a história da Arquivologia no Brasil suscita abordar o desenvolvimento que a mesma tem sofrido, principalmente, nas últimas décadas. Tais mudanças emergem da própria necessidade de se reconhecer o que é a Arquivologia. O termo em questão apresenta distintas identificações, segundo Souza apud Jardim (2012, p.129) há um falta de consenso internacional para o que seja a arquivística e o arquivista, havendo,

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assim, correntes que afirmam que a arquivística “é uma ciência, enquanto que para outros se trata de uma disciplina marcada pelo empirismo. Uma terceira corrente tende a considerá-la como uma disciplina cientifica em profundas transformações” (JARDIM, 2001).

Outro conceito abordado em tal trabalho e que teve variações em suas atribuições no decorrer dos anos (SOUZA, 2011, p. 51) é o de Arquivista, que segundo Souza (2011) pode ser compreendido como “um profissional cuja formação universitária lhe assegura as devidas habilidades e competências para gerir todo o ciclo da informação arquivística”. (JARDIM; FONSECA, 2003, p. 52 apud SOUZA, 2011 pag. 50). Esse profissional formado estará apto para exercer suas funções e ser inserido no mercado de trabalho.

O campo arquivístico está procurando o seu lugar mediante a sociedade, se desligando de outros campos e disciplinas, que ao analisar a dicotomia existente entre a realidade e o que se almeja, observa-se a disputa do fazer arquivístico com outros campos do conhecimento, principalmente ao que concerne a atuação profissional. Segundo Bourdieu (2007)

Antes, é preciso situar o corpus assim constituído no interior do campo ideológico de que faz parte, bem como estabelecer as relações entre a posição deste corpus neste campo e a posição no campo intelectual do grupo de agentes que o produziu. Em outros termos, é necessário determinar previamente as funções de que se reveste este corpus no sistema de relações da concorrência e dos conflitos entre grupos situados em posições diferentes no interior de um campo intelectual que, por sua vez, também ocupa uma dada posição no campo do poder (BOURDIEU, 2007, p. 186).

Desta forma, fazendo a transposição do que foi exposto ao campo da Arquivologia, pode-se compreender que há a mesma luta da Arquivologia como campo intelectual pelo seu lugar mediante a sociedade, seja em âmbito acadêmico ou profissional, demonstrando toda a sua relevância ao tratar e gerir as informações arquivísticas.

E concernente à gerência do trabalho arquivístico, será abordado nesse trabalho o conceito de gestão de documento, que segundo Jardim é

o processo de reduzir seletivamente a proporções manipuláveis a massa de documentos, que é característica da civilização moderna, de forma a conservar permanentemente os que têm um valor cultural futuro sem menosprezar a integridade substantiva da massa documental para efeitos de pesquisa (BURNET, [19--?] apud – JARDIM, 1987).

Auxiliando tal concepção está a visão de estudo da RAMP de Rhoads (1983) que elucida as fases da gestão de documentos: Produção, Utilização e Destinação dos documentos (conceitos desenvolvidos no capítulo 1 dessa monografia). A percepção desse autor

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caracteriza-se por uma visão de manual, do como fazer. Outros autores que adicionam teoricamente sobre o conceito e a prática da gestão de documentos são Vanderlei Batista e Renato Tarciso Souza que compreendem a gestão de documentos como o procedimento arquivístico, fundamental na administração pública e privada. Corroborando ao fazer arquivístico, o primeiro autor desenvolve que os arquivistas estão diante de novas possibilidades da gestão de documentos, por meio eletrônico o profissional, portanto, deve estar apto a desenvolver seu trabalho com as novas tecnologias e deverá gerir a informação de forma apropriada; já o segundo aborda sobre os instrumentos de gestão Arquivística, que sem a gestão de documentos de arquivo e o arquivista não há um bom funcionamento da administração pública.

E referente à formação do profissional fundamental para a administração pública, nesse trabalho, será contextualizado autores como Maria Odila Fonseca e Maria Teresa Matos que abordam a formação e capacitação do arquivista na América Latina e no Brasil. Além disso, Katia Isabelli Souza, também traça a formação do arquivista no Brasil, fazendo um gancho com as concepções teóricas que cercam a atuação profissional e a visibilidade do mesmo. E para o conceito de visibilidade será abordado o conceito sobre o viés sociológico apresentado por Celeguim e Roesler que, por sua vez, abordam o conceito de invisibilidade social, caracterizado como o trabalho com menos prestígios social, logo, a visibilidade é o inverso do que é invisível e pode ser compreendida com a valorização perante a sociedade.

1.4 METODOLOGIAS E FONTES

Será realizada uma revisão de literatura da gestão de documentos e da formação do campo arquivístico, assim faz-se indispensável, elucidar a ligação da Arquivologia com a gestão de documentos, que por sua vez, no presente trabalho, dialogará com Rhoads, José Maria Jardim, Vanderlei Batista e Renato Tarciso Sousa, trazendo uma reflexão acerca de gestão de documentos em diferentes aspectos, no qual o primeiro autor é o pioneiro ao discutir o assunto, o segundo por ser importante na área e trazer a temática para a realidade brasileira e os demais por lançarem uma abordagem contemporânea acerca da gestão de documentos.

Traçará a conjuntura histórica sobre o campo da arquivologia, porém, também serão abordadas algumas problematizações teóricas concernentes aos princípios arquivístico. O

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presente trabalho terá, pois, o respaldo de Schellenberg, Posner, Rousseau e Couture, Indolfo e Llansó Sanjuan – que explanam sobre as concepções de gestão de documentos, assim como as funções e objetivos que visam unir as concepções à realidade institucional – delineando, ainda, a distinção entre arquivista e gestores de documentos e a concepção de Gestão Integrada.

Além dos autores já mencionados nesse trabalho, haverá ainda o respaldo teórico do livro de Mariz, Jardim e Silva (2012) que trazem à tona a questão da formação do Arquivista no Brasil, sobre o prisma da institucionalização da arquivologia e da formação acadêmica. Haverá, ainda, a contribuição da dissertação de Angélica Marques, que também aborda sobre a temática.

O presente trabalho trabalhará com as acepções feitas por Bourdieu, traçando um paralelo com o campo da Arquivologia, cuja reflexão se remete a questão de perda do patrimônio histórico e cultural e a urdidura se faz ao se pensar a questão da visibilidade da profissão. Para tal temática, será recorrido aos estudos sócio-antropológicos do conceito de visibilidade, que é discutido por Celeguim e Roesler, já no tocante à arquivologia, tal temática é exposto por Kátia Isabelli Souza.

Será realizado, além disso, no período de um ano (de 01 de junho de 2012 à 01 de junho de 2013), uma análise quantitativa e qualitativa das vagas para Arquivistas no Centro do Rio de Janeiro e Niterói - região metropolitana do Rio de Janeiro – anúncios apresentados em um grupo da rede social, em um blog da área arquivística e em uma página da Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro, sites acessados constantemente, pois apresentam vagas de emprego para os profissionais da área.

A coleta de dados em relação às vagas para Arquivista será realizada diariamente e com a finalidade de quantificar essas vagas. Posteriormente será realizada uma análise qualitativa dessas vagas apresentadas, averiguando qual é o perfil do profissional que o mercado de trabalho almeja, além disso, será feita uma análise mais específica do grau de escolarização exigida desse profissional, assim como, as atribuições profissionais e valor salarial – esses dados serão tabulados para levantar o quantitativo da análise. Sendo assim, serão verificados os seguintes pontos:

• Área / setor de atuação

• Nomenclatura dada ao profissional; • Local do trabalho;

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• Escolaridade;

• Pré-requisitosda vaga (como experiências); • Faixa salarial e outros benefícios;

• Sexo (masculino ou feminino).

Partindo dessa análise, haverá uma apreciação mais aprofundada acerca do mercado de trabalho e a formação universitária oferecida pela Uff, verificando, portanto, a grade curricular da faculdade e a relação da formação universitária com a atuação profissional.

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2 O ARQUIVISTA E A GESTÃO DE DOCUMENTOS

A Arquivologia tal como se concebe nos dias atuais passou por muitas transformações, que rementem não só no fazer arquivístico, mas ao seu tipo documental, suporte, conservação, localizações dos arquivos.

Ao longo das épocas e dos regimes, os documentos serviram para o exercício do poder, para o reconhecimento dos direitos, para o registoda memória e para a sua utilização futura. Recordamo-lo aqui porque este papel foi muitas vezes eclipsado pela história dos homens e das sociedades que, no entanto, basearam os seus poderes e a sua perenidade nesses documentos (ROUSSEAU; COUTURE, 2007, p. 32).

Mas, antes de se aclarar sobre a questão histórica que envolve tal disciplina, compete abordar o que se compreende por Arquivo e Arquivologia. E para conceituar o primeiro termo utilizam-se o dicionário de terminologia arquivística e outros dois autores conceituados na área, que definem o Arquivo como o

Conjunto de documentos produzidos e acumulados por umaentidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, no desempenho de suas atividades, independentemente da natureza do suporte. 2. Instituição ou serviço que tem por finalidade a custódia, o processamento técnico, a conservação e o acesso a documentos. 3. Instalações onde funcionam arquivos. 4. Móvel destinado a guarda de documentos (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.27).

Conjunto de documentos que, independentemente da natureza ou suporte, são reunidos por acumulação ao longo das atividades de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas. 2. Entidade administrativa responsável pela custódia, pelo tratamento documental e pela utilização dos arquivos sob sua jurisdição. 3. Edifícios em que são guardados os arquivos. 4. Móvel destinado à guarda de documentos. 5. Em processamento de dados, conjunto de dados relacionados, tratados como uma totalidade (CAMARGO e BELLOTO, 1996, p. 5).

Para Schellemberg (2006), o arquivo pode ser definido como o conjunto de documentos “[...] de qualquer instituição pública ou privada que hajam sido considerados de valor, merecendo preservação permanente para fins de referência e de pesquisa e que hajam sido depositados ou selecionados para deposito, num arquivo de custódia permanente” (p.41).

Com base em tais explanações pode-se observar que o termo Arquivo apresenta concepções para distintos contextos, referindo-se ao local ou instalações, a entidade custodiadora, ao conjunto de documentos, a mobília e, por fim, aos dados numa totalidade. No entanto, para a presente monografia, será trabalho o conceito de Arquivo relacionado aos

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conjuntos de documentos, às instituições que tratam estes documentos e às instalações onde funcionam.

Pode-se constatar que o conceito de arquivo está ligado a outro conceito chave para o trabalho arquivístico, que é o de documento. O documento de arquivo, portanto, pode ser compreendido como conjunto entre a informação e o suporte. Belloto (2002, p. 10) informa que tais documentos são conjuntos inseparáveis, “correspondendo a conjuntos informacionais decorrentes do funcionamento de uma entidade pública ou privada (ou pessoa física) no exercício de suas funções”. Desta forma, o documento pode servir juridicamente e administrativamente, como prova de ação e registro.

A partir da compreensão de tais conceitos fundamentais para a área de Arquivologia, pode-se iniciar a contextualização histórica acerca do desenvolvimento da ciência arquivística e da prática profissional da gestão de documentos, trazendo à tona as concepções de distintos autores conceituados na área.

2.1 A ARQUIVÍSTICA PÓS SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A história arquivística – enquanto ciência independente – inicia-se, segundo Cruz Mundet, após a publicação do Manual dos Arquivistas Holandeses, que veio desvincular a Arquivística de outras ciências.

Consequentemente, pode-se concordar em que a enunciação do princípio de proveniência em 1841 por parte de N. de Wally é o ponto de partida da Arquivística, o princípio que lhe dá carta de natureza, a individualiza, diferenciando-a das demais ciências com as que até então havia mantido relações de subsidiariedade (MUNDET, 2004, p. 22, tradução nossa).

Confirmando ainda o reconhecimento ligado aos arquivos, autores como Posner (2013) e Evans (1974) esclarecem como algumas dessas modificações foram importantes para a área, pois elas refletiram, na representação dos arquivos para a sociedade, vinculando o papel de entidade responsável pelos documentos com valor histórico e cultural, bem como o papel de responsável pelo documento de valor administrativo.

O desenvolvimento, destarte, da representação dos arquivos mediante a sociedade surtiu efeito na demarcação do campo arquivístico, uma vez que foi a partir das necessidades

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sociais que as mudanças surgiram e, assim, a Arquivologia foi se transformando, de modo a atender os contextos emergentes.

Uma grande mudança ocorreu, de fato, na década de 40, que, por sua vez, ocasionou uma grande ruptura no fazer arquivístico, revolucionando “tanto quanto concepção teórica e os desdobramentos práticos da gestão [como] a administração de documentos” (JARDIM, 1987). Dessa forma, ao arquivo passa a vincular-se, não só o valor de prova e testemunho – característicos do século XIX –, mas ao valor administrativo (INDOLFO 2007), solicitando uma nova postura profissional, que viessem a atendera nova realidade.

Essa relação com a administração sempre houve, a partir da concepção de eficiência e eficácia, presentes na teoria administrativa e intensifica-se após a Segunda Guerra Mundial. Nesse período houve a explosão documental, ou seja, aumento na massa de documentos produzidos, que resultou na falta de organização e em um descontrole nos arquivos. Essa era a realidade dos Estados Unidos da América (EUA) e do Canadá, que começaram a se preocupar com racionalização das atividades e acessibilidade às informações, contudo, conservando os documentos permanentes.

Com tais mudanças na sociedade, foram necessárias algumas modificações para a nova realidade arquivística. De acordo com Cruz Mundet, são elas:

1. A literatura profissional se dispara e evolui ao ritmo das novas necessidades [...] A produção profissional encontra um novo veículo de expressão, o das publicações periódicas que, por sua própria natureza, destacando o ritmo que vai adquirindo o desenvolvimento arquivístico, ao ponto de necessitar de um veículo de expressão mais rápido e renovável que as monografias.

2. O campo de atuação da Arquivística foi estendido ao da Administração. As necessidades informativas das administrações modernas implicam o tratamento adequado da documentação. Os arquivistas vão ao seu auxílio, passando de sua preocupação pelo histórico a uma concepção global do serviço de arquivo, mediante a criação de um novo conceito, o de ciclo de vida dos documentos. Este abarca desde sua gestão nos escritórios até sua conservação definitiva para a história, como todos os passos intermediários; em conseqüência, o âmbito de ação do arquivista se estende ao máximo e o converte, também, em técnico de Administração.

3. A ampliação do domínio arquivístico levou, também, a divisão do mundo profissional, e de maneira muito destacada nos países anglo-saxônicos, onde se estabelecem duas áreas: as do records management ou gestão de documentos administrativos e a tradicional ou administração de arquivos (2005 p. 44-45, tradução nossa).

Emergindo das novas necessidades dos arquivos públicos, surge, então, a gestão de documentos. Mas o que se compreende por gestão de documentos?

A gestão de documentos (records management) passou a ter base teórica e aplicável nos EUA e Canadá, após a Segunda Guerra mundial, contudo, já havia no final do século XIX

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uma preocupação de ambas as nações referentes ao uso e a guarda dos documentos (JARDIM, 1987).

Entende-se por gestão de documentos como sendo o “conjunto de medidas e rotinas visando à racionalização e eficiência na criação, tramitação, classificação e avaliação dos documentos.” (Dicionário de Terminologia Arquivística, 2005, p.99). Para Jardim trata-se do

processo de reduzir seletivamente a proporções manipuláveis a massa de documentos, que é característica da civilização moderna, de forma a conservar permanentemente os que têm um valor cultural futuro sem menosprezar a integridade substantiva da massa documental para efeitos de pesquisa (BURNET apud JARDIM, 1987).

O mesmo autor cita a legislação norte americana para demarcar a visão da gestão de documentos acoplada à administração cientifica, na qual a mesma busca

O planejamento, o controle, a direção, a organização, a capacitação, a promoção e outras atividades gerenciais relacionadas com a criação de documentos, sua manutenção, uso e eliminação, incluindo o manejo de correspondência, formulários, diretrizes, informes, documentos informáticos, microformas, recuperação de informação, fichários, correios, documentos vitais, equipamentos e materiais, máquinas reprográficas, técnicas de automação e elaboração de dados, preservação ecentros de arquivamento intermediários ou outras instalações para armazenagem (LEGISLAÇÃO NORTE AMERICANA apud JARDIM, 1987).

A preocupação para com a gestão também é algo presente na Constituição Federal Nacional, que lança: “Art. 216, § 2º - Cabe à administração pública, na forma da lei, tanto a

gestão da documentação governamental, quanto as providências para franquear sua consulta

a quantos dela necessitem” (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Ainda, sobre o respaldo legal, de acordo com a Lei 8.159/91, que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados, define em seu capítulo I que:

Art. 3º - Considera-se gestão de documentos o conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à sua produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento para guarda permanente (BRASIL, 1991, grifo nosso).

Sendo assim, observa-se que há legislações que também definem o que é gestão de documentos e a quem compete gerí-la. Ainda, concernente ao conceito de gestão de documentos, Indolfo apresenta a ideia administrativa à qual este conceito está relacionado,

Os elementos economia, eficácia e eficiência, sem esquecer o fator produtividade, são ressaltados, normalmente, em quase todos os conceitos uma vez que as

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mudanças por que passavam as organizações, governamentais ou não, no início do século XX, tanto no processo de produção, como na organização racional do trabalho, passaram a exigir a adoção dos princípios da administração científica (2007, p. 34).

Assim sendo, a gestão nos arquivos busca a economia, a eficácia e a eficiência, visando a qualidade do serviço prestado pela empresa (seja ele de âmbito público ou privado), como implicação, o arquivo não pode estar desprovido de uma estrutura, que, por sua vez provém de uma organização resultante de teorias da área. E, segundo Indolfo et al., é através da gestão de documentos que são aplicados alguns procedimentos como: produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento dos documentos (na fase corrente e intermediária), visando a eliminação ou recolhimento para fase permanente (1993, p. 14). Além disso, os mesmos autores esclarecem que “a gestão de documentos é operacionalizada através do planejamento, da organização, do controle, da coordenação dos recursos humanos, do espaço físico e dos equipamentos, com o objetivo de aperfeiçoar e simplificar o ciclo documental” (INDOLFO et al, 1993, p. 14).

A gestão de documentos surge para auxiliar o profissional no seu fazer arquivístico, de forma eficiente, econômica, eficaz e produtiva (INDOLFO, 2007, p.34) dando suporte teórico de como proceder. Através do conceito de gestão de documentos está associada a ideia de que há metodologias de aplicação que visam atender as necessidades institucionais.

Os arquivos passam por etapas, cujo tratamento, conservação e organização deverão adequar-se a elas, desta forma, ao compreender o conceito de gestão de documentos, observa-se que o mesmo apreobserva-senta em si a demarcação de faobserva-ses, por conobserva-seguinte, outros conceitos entram em questão, surgindo para garantir controle na produção, uso, manutenção e eliminação de documentos.

Segundo Rousseau e Couture (1998, p. 111) a gestão apresenta-se em três fases: ativo, semi-ativo e inativo; e qualquer documento apresenta um ou mais períodos, que será determinado pela frequência que o mesmo é utilizado, assim como que tipo de utilização se é feita. Ou seja, o acesso a tais documentos dar-se por seu valor, determinado pelo grau de utilização dos mesmos. Sendo assim, pode-se relacionar dois conceitos que interferem na prática da gestão de documentos, são eles: valor primário e valor secundário dos documentos.

O valor primário é o valor que os documentos têm para a entidade que o gerou, isto é, o seu valor é característico do motivo que levou à sua criação; já o valor secundário refere-se ao valor que têm para outras entidades, ou seja, quer dizer que a qualidade inerente que

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levaram a sua produção não existe mais, tendo um significado distinto do que lhe foi dado na criação (SCHELLENBERG, 2006, p. 180).

E a noção de ciclo de vida é fruto do valor dado aos documentos. O ciclo de vida, deste modo, refere-se às “sucessivas fases porque passam os documentos de um arquivo, da sua produção à guarda permanente ou eliminação” (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.47). A noção do ciclo de vida estádiretamente ligada à compreensão de gestão de documentos, que, segundo Jardim (1987), divide-se nas etapas de produção, manutenção e uso, e destinação.

Autores como Rousseau e Couture acrescentam que

O ciclo de vida dos documentos de arquivo apresenta-se, pois, como um dos fundamentos da disciplina arquivística. Os conceitos e as noções em que assenta, quer se trate das três idades, das noções de valor primário e de valor secundário, são outros tantos factores determinantes que vêm estabelecer com precisão, por via de conseqüência, os modos de organização específicos dos arquivos correntes, dos arquivos intermédios e dos arquivos definitivos. Para os arquivos, o ciclo de vida está no próprio coração da integração das intervenções do arquivista numa arquivística global (ROUSSEAU e COUTURE, 1998, p. 125).

De acordo com a Teoria das três idades, o ciclo de vida dos documentos é composto por três fases, cuja determinação é realizada pelo valor da informação contida e o uso das mesmas. A primeira fase é a fase dos arquivos correntes, caracterizada pelo uso frequente dos documentos, são os documentos de uso funcional, administrativo e jurídico. Já a segunda fase, conhecida como arquivo intermediário, refere-se aos documentos que são menos frequentados, seu arquivamento é provisório, tais documentos aguardam a submissão à tabela de temporalidade, que determinará se o documento será eliminado ou destinado para a terceira fase. A última fase é do arquivo definitivo ou permanente, nela os documentos possuem o valor histórico e cultural, diferente das demais, não possui mais o valor administrativo. (BELLOTO, 2006, p. 23-24) O programa de gestão de documentos, no entanto, abrange as atividades referentes às duas primeiras fases corrente e intermediária dos arquivos.

Quanto ao objetivo da gestão de documentos, temos:

- Assegurar, de forma eficiente, a produção, administração, manutenção e destinação dos documentos. Curso de Capacitação em Gestão Documental

- Garantir que a informação governamental esteja disponível quando e onde seja necessário ao governo e aos cidadãos.

- Assegurar a eliminação dos documentos que não tenham valor administrativo fiscal, legal ou para a pesquisa científica.

- Assegurar o uso adequado da micrográfica, processamento automatizado de dados e outras técnicas avançadas de gestão da informação (INDOLFO et all, 1993, p. 14-15).

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Concernente às fases, tem-se as teorias de Rhoads (1989), que a partir de um estudo publicado pelo programa da Unesco, Records and Archives Management Program (RAMP), elucida que um programa geral de gestão de documentos é composto, fundamentalmente, por três fases do ciclo dos documentos.

La fase de producción de documentos abarca los elementos siguientes diseño y gestión de formularios, preparación y gestión de la correspondencia, gestión de informes y directrices, fomento de sistemas de gestión de la información y aplicación de la tecnologia moderna a dichos procesos.

La fase de utilización y conservación de los documentos abarca los aspectos siguientes: creación y mejoramiento de los sistemas de archivo y de recuperación de datos, gestión de registros, gestión del correo y las telecomunicaciones, selección y manejo de máquinas copiadoras, análisis de sistemas, producción y mantenimiento de programas de documentos vitales, funcionamento de centros de documentación y aplicación, cuando proceda, de la automatización y la reprografía a dichos procesos. La fase de disposición de los documentos abarca la identificación y descripción de las series de documentos, el establecimiento de programas de retención y disposición de documentos, la evaluación y eliminación de documentos y latransferencia de documentos de valor permanente a los archivos (RHOADS, 1989, grifo do autor).

Idolfo et al(1995), seguindo as fundamentações expostas por Rhoads a partir dos estudos da RAMP, esclarecem que as três fases básicas da gestão de documentos correspondem a: produção, utilização e destinação. A primeira fase refere-se à elaboração dos documentos segundo as atividades de um setor ou órgão, visando a otimização relacionada à criação de documentos, evitando, assim, a produção desnecessárias dos mesmos; já a segunda fase, faz menção ao “fluxo percorrido pelos documentos” (INDOLFO et. al, 1993, p.15), que, por sua vez, é necessário para a função administrativae que, posteriormente, irá para a guarda; a terceira fase está relacionada a fase de avaliação dos documentos, cujos prazos de guarda são estabelecidos e os documentos serão destinados a guarda permanente ou serão eliminados.

2.2 GESTOR OU ARQUIVISTA

Com o crescimento da massa documental surge uma nova necessidade de controle e ação arquivística, emerge assim, um novo perfil de atuação profissional e cria uma problematização para alguns autores por considerarem o Arquivista diferente do Gestor de documentos.

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Antes de tal mudança social, na produção de documentos, as instituições arquivísticas voltavam o seu trabalho para o arquivo permanente, enfocando a história. No entanto, a realidade pós Segunda Guerra Mundial é outra e os arquivos precisam ser geridos, surge, então, o "record management" – gestor de documentos –, um novo profissional para a área arquivística. (LLANSÓ SANJUAN, 1993, p. 28).

Desta forma, o mesmo autor defende a ideia de que as atuações dos arquivistas e dos gestores de documentos são distintas, segundo o autor, estes profissionais apresentam objetivos diferentes, pois

La principal contribución del records manager [gestor de documentos] al exilo de la empresa o instituclón a la que pertenece radica en conseguir uma buena ratio costeefectividad, mediante la íntroducción de mejoras en los métodos de procesamiento -especialmente a través de la aliminación- y comunicación del inmenso volumen de documentos corrientes, la mayor parte de los cuales presenta unicamente um valor transitorio. EI interés del archivero[arquivista] se sítúa na el volumen mucho más reducido de los documentos con valor permanente desde una perspectiva histórica (LLANSÓ SANJUAN, 1993, p. 30).

Sendo assim, compreende-se que há uma distinção entre ambos os profissionais, cujo trabalho do gestor de documentos está voltado para o arquivo corrente, com uma maior massa documental, enquanto a prática do arquivista relaciona-se ao arquivo permanente com um volume documental mais reduzido, no qual o documento apresenta uma perspectiva histórica. Ribeiro elucida, ainda, que

Embora lidando com a mesma informação dos arquivistas tradicionais, os “records managers” passaram a desenvolver métodos de trabalho caracterizados essencialmente por um grande pragmatismo e eficácia ao nível da gestão dos documentos correntes, criando-se assim uma ruptura no seio da Arquivística, que ainda mal havia encetado a sua autonomização disciplinar e a correspondente fundamentação teórica. (2002, p. 99)

Outro autor que corrobora com o mesmo ideal é Schellenberg (2006), o mesmo também acredita que há uma diferença entre o gestor de documentos e o arquivista tradicional, que por sua vez resulta em dois campos distintos: a arquivologia e a gestão de documentos. O autor ilustra a questão dos arquivos correntes mediante a nova realidade tecnológica vivenciada, principalmente, depois da Segunda Guerra Mundial, aclarando, assim, sobre a gestão desses arquivos correntes. O autor informa que as instituições arquivísticas continuaram a tratar somente a documentação do arquivo permanente, distanciando-se da gestão de documentos e valorizando a distinção desses profissionais, traçando duas categorias diferentes.

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No entanto, rompendo com esse pensamento, de que existem dois campos de atuação, a do Arquivista e a de Gestor de documentos, como se ambos não tivessem nada em comum ou nem mesmo uma inter-relação surge a Arquivística Integrada, cujos autores canadenses Rousseu e Couture a definem como aquela que

rege a gestão da informação orgânica (arquivos). Pode assumir três formas: uma exclusivamente administrativa (records management), cuja principal preocupação é o valor primário do documento; uma forma tradicional, que ressalta unicamente o valor secundário do documento; uma forma integrada e englobante, que tem como objetivoocupar-se simultaneamente do valor primário e do valor secundário do documento (1998, p.284).

A Arquivística Integrada surge para romper com a ideia de que havia profissionais distintos nos arquivos, para desmistificar a concepção de que o arquivo corrente e o permanente não estavam inter-relacionados. Pelo contrário, para tal teoria acredita-se que as fases do ciclo documental estão todas relacionadas e que o arquivista atende a todas as demandas.

Essa concepção de arquivística Integrada rompe, também, com a concepção de arquivística tradicional, originária da Europa. Para Rousseu e Couture (1998) começa uma nova forma de pensar a gestão, passa-se a pensar a gestão da informação ao invés da gestão de documentos.

Para os mesmo autores, o objetivo da Arquivística Integrada consiste em

Garantir a unidade e a continuidade das intervenções do arquivista nos documentos de um organismo e permitir assim uma perspectiva do princípio das três idades e das noções de valor primário e secundário; Permitir a articulação e a estruturação das atividades arquivísticas numa política de organização de arquivos;Integrar o valor primário e o valor secundário numa definição alargada de arquivo (ROUSSEU e COUTURE, 1998, p. 70).

A atividade arquivística, sendo assim, engloba todo o tratamento documental, desde o seu nascimento até a destinação final, inclui as três fases do ciclo de vida. O profissional compreende os princípios e normas que envolvem a fase corrente intermediária e permanente.

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3 FORMAÇÃO ARQUIVÍSTICA

A Arquivologia, como ciência, por algum tempo esteve estigmatizada como disciplina auxiliar campo teórico, como a história, a administração e as ciências da informação. Matos (2008) sintetiza a história da formação arquivista da seguinte perspectiva: até o século XIX – a arquivologia era organizada para fins administrativos; XIX – a arquivologia tornou-se ciência auxiliar da história; Início do século XX – ciência auxiliar da administração; e, por fim, a arquivologia como disciplina ligada a Ciência da Informação (sendo essa uma realidade brasileira).

A Arquivologia apresenta algumas singularidades que vão além do campo ao qual esta ciência está associada, além, uma especificidade quanto à nomenclatura do profissional que nela atua, apresentando distinções entre os países: archival science ou archival administration (na língua inglesa); archivística (na Espanha); e archivistique (na França).

Mesmo apresentando várias vertentes pelas as quais a Arquivologia já esteve associada e por mais que apresente nomes distintos para os profissionais que nela atuam, cabe ressaltar que a Arquivologia é uma disciplina antiga, todavia a história da formação de arquivista é algo recente.

O marco teórico em relação à formação desse profissional remete a criação da

ÉcoledesChartes, na França em 1821, mas há autores que consideram a Itália como a pioneira

na formação dos arquivistas com a criação da Scuela de archivistica em 1811 (SOUZA, 2011, p. 80).

A difusão das escolas de formação superior pela Europa ocorreu de forma gradativa, logo depois da França foram criadas novas escolas de ensino superior em outros países, como: Alemanha (1821); Áustria (1854); Espanha (1856); Holanda (1919); Bélgica (1920), Romênia (1924), Itália (1925); ex-URSS (1930). Posteriormente, tal concepção de formação aderiu outros continentes, abrangendo países como: Estados Unidos (1938 e 1939); México (1945); Grã-Bretanha (1947); China (1952), Venezuela (1956), Argentina (1959) (SOUZA, 2011, p 80-81). Desta forma,

a formação em Arquivística inicia-se no século XIX com a criação de grandes centros especializados: Écoles des Chartes em Paris em 1821, a de Viena de 1854, a de Madrid em 1856. A par destas instituições especializadas, encontramos universidades, tanto na Europa como em África e na América, que oferecem uma formação arquivística no primeiro, segundo ou terceiro ciclo universitário, no

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programa de história, de ciências da informação e noutros (ROUSSEAU; COUTURE, 1998, p. 54).

A formação arquivística tem a sua grade curricular e as vertentes do curso pautadas, inicialmente, pelo uso do arquivo. Na Itália, por exemplo, os advogados acessavam constantemente os arquivos, deste modo, ao elaborarem o currículo foram incluídasdisciplinas que abarcassem teorias jurídicas. (SOUZA, 2012, p. 130).

Mas, ao que tange a realidade da formação brasileira, a formação universitária é bem posterior, inicia-se um século depois. A formação teórica dos arquivistas ocorria nos Arquivos Nacionais (SOUZA, 2012, p. 129), esse primeiro modelo de formação era caracterizado pela aproximação entre o profissional e o estudante por meio do exercício da função. Posteriormente, a formação começou a ser ministrada pelas universidades. Tal formação é incipiente e traz consigo o paradigma da arquivística em busca por um campo.

No tocante ao conceito de campo, acrescenta-se a concepção de Bourdieu (2007) que elucida a questão da formação de um campo mediante a sociedade, sendo esta responsável pela visibilidade que determinado campo terá, sendo assim, um campo que apresenta uma autonomia relativamente pequena será interferido por fatores externos. E, de certa forma, é isso que a arquivística vem buscando, uma ruptura com outros campos (fatore externos), ou seja, uma busca por reconhecimento como campo científico.

O mesmo autor apresenta uma discussão a respeito da concepção de campo científico e concernente a tal conceito, incumbe esclarecer que o termo é compreendido

o lugar de uma luta, mais ou menos desigual, entre agentes desigualmente dotados de capital específico e, portanto, desigualmente capazes de apropriarem do produto do trabalho científico que o conjunto dos concorrentes produz pela sua colaboração objetiva ao colocarem em ação o conjuntos dos meios de produção científica disponíveis (BOURDIEU, 2007, p. 53).

A tessitura entre as concepções de Bourdieu e a arquivística como campo científico, mediante a sociedade brasileira, é de profunda reflexão, pois a formação arquivística é recente, não que no decorrer dos séculos não tivessem arquivistas, mas a formação não era em ambiente universitário. Logo, a arquivística luta para ser reconhecida como uma ciência independente, sem que seja articulada a outros campos do saber.

O campo arquivístico, destarte, luta pelo seu lugar na sociedade, por sua visibilidade. Mas o que se compreende por visibilidade?

O conceito de visibilidade no minidicionário de língua portuguesa é compreendido como a “qualidade do que é visível” (BUENO, 1999). No entanto, na vertente da sociologia,

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trabalha-se com a expressão visibilidade social, compreendida como a forma que são visualizados os trabalhados das classes profissionais menos favorecidas socialmente, ou seja, a

forma como são vistos os trabalhadores de profissões desprovidas de status, glamour, reconhecimento social e adequada remuneração. Isto numa sociedade onde o nível de consumo de bens materiais é o agente determinador do posicionamento de cada participante nas classes sócio-econômicas conhecidas (CELEGUIM; ROESLER, 2009, p.1).

Não que o trabalho não seja importante para a sociedade, pelo contrário faz-se necessário, mas por algum motivo não é valorizado. E, relacionado ao campo arquivístico, assim como a formação do arquivista, pode-se concluir que não é uma profissão com status, porém, é de suma importância para o desenvolvimento social. Um dos fatores que podem interferir nessa visibilidade refere-se à escassez “[d]os estudos mais especializados a propósito da práxis arquivística e da importância dos arquivistas para a sociedade, como agentes de mudança e de informação” (SOUZA, 2011, p. 31).

A visibilidade do arquivista diante da sociedade mudou-se com os anos e o perfil profissional também. Schellenberg (2006) e Sanjuan (1993) defendiam a ideia de que o arquivista era o profissional que trabalharia com arquivos permanentes, enquanto o gestor trabalharia no arquivo corrente e intermediário.

No entanto, a gestão integrada rompe com tal concepção e estabelece que o Arquivista é o profissional que irá trabalhar em todas as fases do ciclo de vida do documento de arquivo e, para tanto, receberá uma formação para isso.

3.1 A FORMAÇÃO DO ARQUIVISTA NO BRASIL

Em âmbito nacional, a formação acadêmica dos profissionais que trabalham nos arquivos, sejam eles públicos ou privados, iniciou-se na década de 70. Diferente de outros campos de conhecimento, a Arquivologia é uma ciência nova e em busca de sua autonomia.

A trajetória da função do arquivista e a sua formação são reflexos das mudanças sociais, logo, o perfil do arquivista antes da Segunda Guerra Mundial é um. Depois dessa data ele passa a refletir novas demandas sociais que vieram ligadas a nova realidade documental.

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