A fotografia é um dado indispensável na documentação ortodôntica. As fotografias extra e intrabucais fazem parte dos elementos de diagnóstico e permitem verificar a evolução dos casos ortodônticos. Para que as tomadas fotográficas tomem um tempo mínimo do profissional e reduzam o desconforto ao paciente, produzindo fotografias de qualidade satisfatória, elas devem ser sistematizadas e padronizadas na clínica ortodôntica. Este artigo propõe uma metodologia no intuito de se obter uma padronização da documentação fotográfica com finalidade ortodôntica.
UNITERMOS: Fotografia intrabucal; Padronização das tomadas fotográficas.
Standardization Proposal of Orthodontic Intraoral Photography
Photography is an invaluable tool of the orthodontic records. Extra and intraoral photographs are part of the diagnostic data and allow the follow up of the orthodontic treatment. In order to obtain excellent results, with minimum amount of time spent with the photographic procedures and to reduce patient discomfort, the procedures have to be systematized and standardized. This article presents a method to obtain a standardization of the photographic records with orthodontic purposes.
UNITERMS: Intraoral photography; Standardization of intraoral photography.
Proposta para a Padronização
das Tomadas Fotográficas
Intrabucais, com Finalidade
Ortodôntica
A r t i g o I n é d i t o
Relatos clínicos e de técnicas, investigações científicas e revisões literárias
Arnaldo Pinzana
Ricardo Takahashib
Guilherme R. P. Jansonc
José Fernando Castanha Henriquesd
A
PROFESSOR ASSOCIADODO DEPARTAMENTODE ORTODONTIADA FOB-USP E TITULARDO DEPARTAMENTODE ORTODONTIADA USC.
B
ALUNODOCURSODE PÓS-GRADUAÇÃOEM ORTODONTIA, AONÍVELDEMESTRADO, NA FACULDADEDE ODONTOLOGIADE BAURU (FOB-USP).
CP
ROFESSOR DOUTORDO DEPARTAMENTODE ORTODONTIADA FOB-USP.
DP
ROFESSOR COORDENADORDO CURSODE MESTRADOEM ORTODONTIADA FOB-USP.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a Odontologia progrediu consideravelmente em todas as áreas. A fotografia, por sua vez, acom-panhou esta evolução desempenhando a cada dia um papel importante na clínica odontológica, e, em particular, na docu-mentação ortodôntica. Nesta, incluem-se fotografias extrabucais (de frente e perfil) e intrabucais (frontal e laterais di-reita e esquerda). Como rotina, na clíni-ca ortodônticlíni-ca executa-se uma documen-tação inicial e outra ao término do trata-mento. Pode-se também executar outras tomadas em determinadas fases do tra-tamento com a finalidade de documentar a sua evolução, bem como, verificar pos-síveis erros no posicionamento dos aces-sórios e arcos ortodônticos. A utilização da fotografia estende-se no auxílio ao ensino, proporcionando uma riqueza de informações importantes, valorizando as aulas. A documentação fotográfica é tam-bém muito utilizada nas conferências e publicações em revistas especializadas, proporcionando uma visualização dos casos descritos.
Com a preocupação de se documen-tar os casos ortodônticos, HEIMLICH5 propôs uma sistemática e padronização da tomada fotográfica, utilizando uma câmara de 35 mm, uma lente de 50 mm e um suporte que sustentava este conjunto associado a duas lâmpadas “photoflood”. Do mesmo modo BINDER e HAZE3 desenvolveram afastadores específicos para obtenção de acesso adequado nas fotografias oclusais intrabucais.
O avanço da indústria fotográfica pro-porcionou uma infinidade de recursos tecnológicos. Este fato possibilitou o surgimento de novos métodos que me-lhoraram a sistemática das tomadas fo-tográficas2,4. Portanto, o objetivo do presente trabalho é sugerir uma sistemática de tomadas fotográficas, com o intuito de padronizar as fotografias intrabucais. Acreditamos que esta metodologia poderá possibilitar a obtenção de uma menor qualidade final das fotografias, uma diminuição do tempo entre as tomadas e um menor desconforto ao paciente.
Figura 2 - Afastadores utilizados (1. Afastador lateral triangular, 2. Afastador frontal, 3.afastador
lateral arredondado, 4. Afastadores laterais arredondados modificados).
Figura 1 - Conjunto fotográfico utilizado: máquina fotográfica de marca NIKON modelo
N50, reflex de 35 mm, associada a uma lente AF MICRO NIKKOR de 105 mm e um “flash” circular de marca SUNPAK, modelo AUTO DX 8R.
MATERIAL E MÉTODOS
Deve-se utilizar um conjunto fotográ-fico com as seguintes características: uma câmara reflex, de 35 mm, com uma objetiva tipo macro de 50 ou 100 mm e um flash circular.7
Como sugerido por PROFFIT 8, deve-se efetuar 5 (cinco) fotografias intrabucais: frontal, laterais direita e esquerda, com os dentes em oclusão, e duas imagens oclusais, superior e inferior. Para obter estas imagens, deve-se utilizar
os seguintes afastadores: lateral triangular, frontal, lateral arredondado, e laterais ar-redondados modificados (Fig. 2), além de espelhos oclusais (Fig.12).
A primeira fotografia a ser executada é a frontal. O paciente deve se encontrar encostado na cadeira odontológica, re-clinada em aproximadamente 45o. A se-guir deve se instalar adequadamente o afastador frontal (Fig. 3). A fotografia deve respeitar as duas linhas imaginárias, como as propostas por GORDON e WANDER4.
Figura 3 - Afastador frontal posicionado.
Figura 7 - Desenho esquemático da fotografia lateral
(linhas de orientação).
Figura 6 - Posicionamento dos afastadores laterais.
Figura 4 - Desenho esquemático da fotografia frontal
(linhas de orientação).
A primeira divide o visor da máquina fotográfica na horizontal que coincide com o plano oclusal do paciente. A segunda divide o visor na vertical, coincidindo com a linha média dentária do paciente (Figs. 4 e 5).
A distância focal da fotografia frontal deve ser anotada na ficha clínica do paciente para orientar o operador no momento da execução de outras tomadas, a fim de se obter imagens semelhantes para se efetuarem comparações.
Com o paciente na mesma posição, toma-se a fotografia lateral direita. Posiciona-se o afastador lateral triangular no lado direito do paciente e o arredondado no esquerdo. Mantendo-se o afastador esquerdo em posição, traciona-se o afastador direito de forma que os limites da fotografia incluam obrigatoriamente os primeiros molares (superior e inferior) e os incisivos. A
linha imaginária horizontal 4 deve coincidir com o plano oclusal do paciente, e a vertical deve tangenciar a distal do canino (Figs. 6 e 7). A tomada da lateral esquerda é semelhante, invertendo-se os afastadores e a posição do operador (Figs. 8 e 9).
A distância focal das fotografias direita e esquerda deve ser a mesma e ser anotada na ficha clínica para futuras comparações. A posição do operador deve ser de 9 horas para as tomadas laterais direita e esquerda, respectivamente.
A seguir executam-se as fotografias oclusais. Deve-se efetuar uma modificação nos afastadores laterais arredondados, como proposto por JANSON6, para possibilitar um melhor posicionamento do espelho oclusal e permitir que o paciente consiga uma maior abertura bucal, com menor desconforto (Fig. 10). Toma-se o cuidado para que os
afastadores modificados tracionem os lábios para fora (Fig. 11) a fim de minimizar as imagens indesejáveis como as de : narinas, lábio, olhos e afastadores labiais. As imagens de nariz, lábios e outras estruturas estranhas, geralmente causam “distrações” prejudicando o objetivo real da fotografia (Fig. 12).
Inicia-se a tomada fotográfica oclusal, com o auxílio de um espelho, pelo arco superior que apresenta um maior comprimento (Figs. 13 e 14). A mesma distância focal deve ser empregada para o inferior a fim de se obter a mesma magnificação da imagem (Figs. 15 e 16). Para se evitar o embaçamento do espelho, pode-se aplicar jatos de ar ou mesmo aquecê-lo previamente, como preconizado por MACHADO7.
O enquadramento das fotografias oclusais deve respeitar as linhas de orientação vertical e horizontal
Figura 8 - Fotografia lateral direita. Figura 9 - Fotografia lateral esquerda.
Figura 10 - Modificação nos afastadores. Figura 11 - Tracionamento dos lábios com os afastadores
Figura 16 - Fotografia oclusal inferior.
Figura 14 - Fotografia oclusal superior.
propostas por BENGEL2. A linha imaginária vertical passa entre os incisivos e divide os arcos superior e inferior em duas partes iguais. A linha horizontal passa nas cúspides dos segundos pré- molares.
A observância da metodologia proposta permitirá ao ortodontista obter facilmente, em seu consultório, fotografias padronizadas de boa qualidade e respeitando os itens descritos abaixo exigidos pela American Board of Orthodontics1.
01 - Qualidade e padronização das i m p r e s s õ e s i n t r a b u c a i s coloridas.
02 - Os arcos dentários do paciente orientados corretamente nos três planos do espaço.
03 - Uma vista frontal em máxima intercuspidação.
04 - Duas laterais: direita e esquerda (em máxima interscuspidação). 05 - OPCIONAL : Duas oclusais, superior
e inferior.
06 - Livre de distrações como: afastadores d e b o c h e c h a , etiquetas e dedos.
07 - Qualidade de iluminação revelando os contornos anatômicos e sem sombras.
08 - Língua retraída.
09 - Ausência de saliva e ou bolhas. 10 - Dentes limpos.
Figura 15 - Desenho esquemático da fotografia oclusal inferior
(linhas de orientação).
Figura 12 - Fotografia oclusal com imagens indesejáveis :
bochecha, lábio superior, nariz, laterais do espelho e imagem dupla dos incisivos superiores.
Figura 13 - Desenho esquemático da fotografia oclusal