Efeito Osmótico de Soluções
de Concentração Diferente na
Membrana de um Ovo de Codorniz
Rui Pedro Lousa das Neves
Bioquímica Grupo 3
Introdução
Se entre dois meios com diferentes concentrações de soluto existir uma membrana semipermeável, ou seja que permite a passagem de moléculas de solvente e de pequenas partículas por ele transportadas mas que impede a passagem de moléculas ou aglomerados volumosos, observa-se a passagem de solvente do meio menos concentrado para o meio mais concentrado a fim de restabelecer e criar uma igualdade entre as concentrações dos dois meios ( princípio de Le Chatelier ). Essa passagem de solvente ( osmose ) é promovida por uma força, e esta pode ser contrariada por uma pressão osmótica que não é mais do que a pressão que é necessário exercer, sobre o meio mais concentrado, para parar a osmose.
O objectivo deste trabalho prendia-se com a observação da referida passagem de solvente através do membrana de um ovo de codorniz - córion - quando este era mergulhado em soluções de diferentes molaridades. Esta passagem foi registada sob a forma de uma alteração da massa do ovo.
Cálculos para preparação de soluções
Sacarose a 20 % Sacarose a 40% Volume pretendido: 100 ml m = 0,2 x 100 = 20g Volume pretendido: 200 ml m = 0,4 x 200 = 80g
Resultados
Volume do ovoCom casca S/ casca e após banho em solução a 20% de sacarose
Volume do ovo 11,7 ml 11,7 ml
Massa do ovo
No quadro seguinte estão apresentados os resultados de várias determinações de massa obtidas pelo grupo ao qual pertenço assim como por outros grupos de acordo com a distribuição de tarefas realizada
Sacarose 20% H2O Sacarose 40% Sacarose 60% Glicerol 20% m0 t=0m 13,742g 14,118g 12,340g 11,761g 11,700g m1 t=15m 13,730g 16,018g 13,200g 11,740g 11,266g m2 t=30m 13,889g 17,472g 13,651g 11,573g 11,348g m3 t=45m 14,118g 20,710g 14,068g 11,461g 11,217g
Discussão
Antes de qualquer consideração sobre os resultados obtidos é importante referir que os valores apresentados não foram obtidos em trabalho com um mesmo ovo.
Como a constituição interna de cada ovo a nível das concentrações é singular, a reacção ás soluções é também única e um meio que seja hipertónico para um determinado ovo pode ser hipotónico para outro e até isotónico para outro. No entanto trabalhando com ovos todos de codorniz não seria de esperar grandes fugas ao comportamento dito normal que previa um equilíbrio com um meio externo de sacarose a 20%.
Um outro pormenor é o soluto utilizado: a sacarose. Este é um dímero que por apresentar alto volume não consegue passar através do córion do ovo possibilitando desta forma que só se verifiquem trocas de solvente entra os dois meios o mesmo se passa com a albumina que existe dentro do ovo.
Atendendo agora aos resultados, ao observarmos com atenção o quadro de valores, podemo-nos aperceber de algumas coisas um tanto ou quanto estranhas:
Facto 1- Se a solução de sacarose a 20% é tomada como isotónica do meio interno á
membrana, naturalmente a solução a 40% será hipertónica visto ser mais concentrada e quando mergulhado nesta será de esperar que o ovo diminua o seu peso pela saída de água para o exterior. No entanto assim não se verificou. No quadro está bem expresso um aumento considerável de peso passando de 12,340g para 14,068g.
Variação de massa do ovo
0 5 10 15 20 25 0 15 30 45 tempo (s) Massa (g) Glicerol 20% Sacarose 40% Sacarose 60% Sacarose 20% Água
Facto 2- Por outro lado, quando mergulhado na solução a 60%, que se previa de
grande hipertonicidade e que proporcionaria uma grande perda de massa por parte do ovo, nada disto se passou e a diferença de peso é praticamente insignificante: de 11,761g para 11,461g. Tal mostra que a diferença de concentrações entre os dois meios não é muito significativa.
Facto 3- Este facto prende-se com uma observação feita 1 dia depois do trabalho ser
realizado, e é a lise da membrana de um dos ovos após ter ficado mergulhado na solução de sacarose a 20% durante as 24 H. Este rebentamento deve-se a uma excessiva entrada de água para dentro do ovo que fez com que o limite de turgescência fosse ultrapassado significando isso uma incapacidade elástica, por parte da membrana, para reter tal acrescento de volume.
Estes três factos apoiariam por certo uma alteração da concentração da solução tomada como isotónica de 20% para um valor entre os 50% e os 60%.
Mas se assim fosse, seria por sua vez de esperar que:
quando se mergulhasse o ovo na solução a 20% se verificasse um grande aumento de peso durante o intervalo de tempo considerado ( 45’ );
que ao fim de 45 minutos se observasse a lise do ovo quando este fosse mergulhado em água dado a excessiva diferença de tonicidade entre os meios;
e que ao fim de um dia as membranas estivessem todas rebentadas.
Na verdade tais factos não se verificaram: o ganho de peso por parte do ovo na solução de 20% foi pouco; a lise do ovo não ocorreu; ao fim de um dia apenas se verificou a lise de um ovo.
Tamanhas inconcordâncias entre estes aspectos referidos são apenas justificáveis pala utilização de diferentes ovos e pela singularidade que cada um apresenta.
Um caso á parte neste trabalho é uso de glicerol, este é um álcool de formula geral C3H8O3 e embora se encontre á mesma concentração m/m do que a sacarose na
solução a 20% que tem de fórmula geral C12H22O11, por terem diferentes pesos
moleculares, quando calculada a molaridade verificamos que é bastante mais concentrada. Ou seja, para igual massa dos dois componentes, temos muito mais moles de glicerol do que de sacarose visto que o primeiro tem menor massa molar e: n = m /M.
Esta diferença de concentração faz com que a pressão osmótica ( que podemos calcular através da expressão π = iRTC ) do meio alcoólico (exterior) seja efectivamente maior, promovendo isso a saída de água do ovo.
Limitando-nos apenas á observação dos resultados obtidos, não nos é possível concluir acerca do período temporal no qual se verifica maior ou menor alteração de peso por parte do ovo dado á discrepância verificada, no entanto pensamos que o corion juntamente com a alantoide dos ovos não funciona apenas como membrana inactiva mas sim como um sistema membranar activo que não reage logo quando exposto a diferenças de concentração sendo necessário um “tempo de activação” para que ele inicie o seu papel de mediador.
Como apreciação final do trabalho oferece-nos dizer que não é um protocolo muito bem conseguido porque nos leva á realização de ensaios distintos sob condições de molaridade distintas com ovos igualmente diferentes sendo muito difícil tirar alguma conclusão por variarem tantas e tão importantes variáveis.
Outro aspecto é o tempo de espera de 45’ que nos parece reduzido não sendo possível atingir do estado de equilíbrio previsto pelo principio de Le Chatelier e não permitindo tirar conclusões de caracter quantitativo mas sim apenas qualitativo( em pesquisa bibliográfica foi encontrado um artigo na w. w. w. com um protocolo para uma experiência de igual objectivo da que foi realizada por nós e que propunha um tempo de espera de 100 minutos o qual mesmo assim foi considerado como insuficiente e ainda um outro que propunha um tempo de espera de 1 dia).
Bibliografia
Chang, Raymond, Química, McGraw-Hill, 19945