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VOTO. ACÓRDÃO. A restituição em dobro do que foi ilegalmente cobrado somente pode ser imposta na hipótese de má-fé comprovada do credor.

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA

ACÓRDÃO APELAÇÃO ORIGEM RELATOR Fonseca Olivei APELANTE ADVOGADO APELADO ADVOGADO CÍVEL N.° 026.2009.000202-8/001. : 1' Vara da Comarca de Piancó-PB.

: Dr. Wolfram da Cunha Ramos — Juiz Convocado para substituir Des. Romero Marcelo da ra.

: Banco Bom Sucesso.

: Estevam Martins da Costa Neto. : José Luiz Lima.

: Ailton Azevedo de Lacerda.

EMENTA: APELAÇÃO. CELEBRAÇÃO DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO COM UTILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS FALSOS. DANO MORAL CARACTERIZADO. VALOR DA INDENIZAÇÃO. MANUTENÇÃO. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. DESCABIDO. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ. DEVOLUÇÃO DE FORMA

SIMPLES. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.

"As instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos - porquanto tal responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracterizando-se como caso fortuito interno." (Recursos Especiais n's1199782 e 1197929)

A restituição em dobro do que foi ilegalmente cobrado somente pode ser imposta na hipótese de má-fé comprovada do credor.

VISTO, relatado e discutido o presente procedimento, referente à Apelação Cível n.° 026.2009.000202-8/001, em que figuram como Apelante Banco Bom Sucesso e Apelado José Luiz Lima.

ACORDAM os eminentes Desembargadores integrantes da Egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, acompanhando o voto do relator, conhecer da Apelação e dar-lhe provimento parcial.

VOTO.

José Luiz Lima ajuizou, perante o Juízo da 1' Vara da Comarca de Piancó, Ação Ordinária de Cancelamento de Empréstimo c/c Re warcimento por Danos Materiais e Morais, processo n.° 026.2009.000202-8, em fac o Banco Bom Sucesso.

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seu benefício previdenciário, no valor de R$ 207,89, em razão de empréstimo que nunca realizou, sequer foi depositado em sua conta corrente; (2) ao buscar uma explicação junto ao Banco promovido obteve a constatação da fraude, e a resposta de que nada

podiam fazer; (3) o fato caracteriza dano moral puro.

Requereu a concessão de tutela antecipada, objetivando o cancelamento do empréstimo, objeto do contrato n° 6759957, realizado de forma indevida, e, no mérito, pediu a confirmação da tutela antecipada e a condenação do Réu ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 461.500,00, ou no valor a ser arbitrado pelo Juízo e indenização pelos danos materiais, no valor de todas as parcelas que foram descontadas de seu contracheque desde setembro de 2007 até o cancelamento do empréstimo, acrescido de juros de 12% ao ano.

Na Contestação, f. 23/29, o Réu alegou que (1) contratou com o Autor em duas vezes, a primeira em outubro de 2005, Termo de Adesão n° 6759957, e antes que o mencionado contrato alcançasse seu término, contratou novo crédito, em outubro de 2007, por meio do Termo de Adesão n° 18166479; (2) o Autor autorizou que do crédito do segundo contrato fosse abatido o valor do saldo devedor do primeiro, restando um valor líquido de R$ 2.399,78; (3) a sua atuação durante o transcorrer do negócio não merece qualquer reparo, atuando de acordo com o que foi pactuado entre as partes; (4) exerce os seus direitos como credor, não podendo ser penalizado e condenado a indenizar o Autor por dano inexistente e não comprovado; (5) restou demonstrada a validade de todos os atos praticados, não restando evidenciado a existência de qualquer ilícito em sua conduta, (6) não estão presentes os requisitos necessários para concessão da tutela antecipada; (7) não cabe a devolução das parcelas pagas, visto que as quantias contratadas foram encaminhadas para o Autor e em nenhum momento agiu com má-fé ou culposamente.

Requereu a improcedência do pedido, para que seja declarada a validade dos contratos celebrados, e que seja o Autor condenado ao pagamento das custas processuais e honorários de sucumbência.

Tutela Antecipada parcialmente deferida, f. 52/53, determinando a suspensão dos descontos do empréstimo consignado referido no Termo de Adesão de f. 34, contrato n° 18166476, até o julgamento final da demanda, sob o fundamento de que estavam presentes a verossimilhança do direito e o perigo na demora.

Habilitação do cônjuge do Autor, em razão do seu falecimento, f. 94v.

Sentenciando, f. 115/120, o Juízo a quo julgou procedente a demanda para determinar o cancelamento do empréstimo bancário oriundo do contrato n° 18166476, condenando o Réu à restituir à Autora, na qualidade de sucessora de José Luiz lima, em dobro, de todas as parcelas indevidamente descontadas do benefício previdenciário do falecido, e ao pagamento de indenização a título de danos morais no valor de R$ 3.000,00, tudo corrigido monetariamente e comjur. de 1% ao mês, a partir da citação, sob o fundamento de que a assinatura contante no contrato objeto da demanda apresentava-se totalmente divergent da 'n'átura do Autor, e não poderia ele sofrer as conseqüências oriundas de um emp s o que não deu causa.

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O Banco Bom Sucesso interpôs Apelação, f. 123/133, alegando que (1) o Apelado firmou um contrato de empréstimo e usufruiu do crédito contratado, buscando agora modificar unilateralmente as disposições contratuais, baseado em argumentos sem qualquer embasamento fático ou legal; (2) atuou dentro do que foi pactuado entre as partes, sendo o negócio jurídico realizado válido e legítimo; (3) dentro da tese arguida pelo apelado de que teria sido vítima de uma fraude, vislumbra-se a hipótese de caso fortuito externo, em razão da impossibilidade de se evitar ou impedir o fato danoso; (4) a contratação se deu de forma adequada e seguindo as normas legais pertinentes e, se houve fraude, ela não se deu em razão da desídia sua, mas porque foi induzido a erro, sendo vítima direta do fato; (5) o Apelado não teve o cuidado exigido com seus documentos; (6) é incabível a repetição de indébito, visto que o contrato de empréstimo foi firmado nos moldes legais, não havendo cobrança indevida, pois as parcelas pagas estavam devidamente contratadas e nos valores pactuados; (7) nenhum dos atos por ele praticados foram capazes de atingir a moral do Apelado, inexistindo qualquer direito a indenização por danos morais; (8) o valor fixado a título de danos morais é abusivo, ocasionando o enriquecimento indevido da Apelada.

Pugnou pelo provimento do recurso, para reformar a sentença, julgando improcedente o pedido inicial ou, caso entenda pela manutenção das condenações, seja o quantum reduzido.

Nas Contrarrazões, f. 149/152, o Apelado alegou que (1) a Decisão do Juizo a quo deve ser mantida, uma vez que aplicou corretamente a legislação vigente e, (2) as razões recursais são meramente protelatórias, requerendo o desprovimento do recurso.

A Procuradoria de Justiça emitiu parecer, f. 157, devolvendo os autos para regular processamento do feito, por entender não ser o caso de manifestação, uma vez

que envolve apenas interesses patrimoniais privados. É o relatório.

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do Recurso.

Objetiva o Apelante reformar a Sentença para seja reconhecida a ausência de conduta ilícita por ter sido vítima da ação de um terceiro, pelo uso de documentos do Autor, afastando a condenação em danos morais e a obrigação de devolver, em dobro, as prestações descontadas indevidamente.

No caso, o Autor alega desconhecer a origem do contrato que ensejou o referido desconto em folha, afirmando, de forma taxativa, que não efetivou o citado negócio.

O Réu, em contestação, não negou a existência da fraude, mas apenas afirmou ter agido de boa-fé, não sendo caso de indenização por dano moral.

O Superior Tribunal de Justiça, em se ealizada em 24/08/2011, em sede de recurso especial repetitivo, decidi , por _ali:unidade, que "as instituições bancárias respondem objetivamente pelos dri ugados por fraudes ou delitos praticados por

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terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos - porquanto tal responsabilidade decore do risco do empreendimento, caracterizando-se como caso fortuito interno" (Recursos Especiais n°s1199782 e 1197929).

Demonstrada, portanto, a responsabilidade do Apelante pelos danos sofridos pelo Autor/Apelado.

O dano moral é o prejuízo psicológico que atinge o patrimônio incorpóreo de uma pessoa, causando dor, desgosto, tristeza, sofrimento, e não se confunde com os meros aborrecimentos decorrentes de prejuízo material.

O prejuízo imaterial, na hipótese, deriva da própria retenção indevida do numerário do Autor/Apelado, traduzindo modalidade de dano in re ipsa.

No que concerne ao valor da indenização, considerando que o transtorno, segundo a causa de pedir, limitou-se aos descontos indevidos, sem maior descrição de danos, tampouco havendo débito a gerar a inserção do nome da parte em órgãos restritivos de crédito, bem assim, considerando o caráter alimentar do salário, reputo adequado o valor fixado, na origem, em R$ 3.000,00, relevando, ademais, o caráter pedagógico.

No que pertine a repetição do indébito, verifico, que tendo em vista que foi cancelado o empréstimo, imprescindível se faz a devolução dos valores cobrados pela parte Demandada, sob pena de não surtir efeito a decisão.

Contudo, entendo inaplicável a previsão do parágrafo único do art. 42 do CDC, que dispõe que o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do

indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável, pois, diante da discussão

a respeito da ocorrência de fraude, estaremos diante da hipótese de engano justificável, afastando assim a devolução em dobro.

Admite-se a devolução ao consumidor, na forma simples, dos valores pagos indevidamente, ensejando-se a dobra tão somente quando provada, inequivocamente, a má-fé do credor, o que não ocorreu no presente caso.

Isso posto, conhecido o Recurso, dou-lhe provimento parcial para, reformar a Sentença, determinando a devolução dos valores pagos indevidamente, de forma simples, mantendo o aresto nos seus demais termos.

É o voto.

Presidiu o julgamento, realizado na Sessão O nária desta Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, o Desembar or Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, no dia 13 de novembro , conforme certidão de julgamento, dele participando, além deste relator, esembargadora Maria das Graças Morais

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Convocado.

or

Dr)yolfr

Gabinete no TJ/PB e Joã P soa, 20 de nov bro de 2012.

Guedes. Presente à sessão, a Exma. Sra. Dra. Jacilene Nicolau Faustino Gomes, Procuradora de Justiça.

Referências

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