Avaliação do Uso de Medicamentos e Outras Características Relacionadas à Saúde Pública pela População do Município de Anápolis
Cleber Giugioli Carrasco1,4; Emerson Wruck1,Daniel Martins do Nascimento4; Fernando Jayme Pureza2,4; Thiago Vicente Roriz Fazzi Arraes2,4; Acadêmicos do Curso de Farmácia3,4.
1
Pesquisador do Instituto Veritas
2
Monitores da Disciplina Bioestatística
3
Turma de Bioestatística 2005/I
4
Curso de Farmácia, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG.
Resumo: Hoje em dia uma das maiores preocupações da população brasileira é com a saúde,
em Anápolis-GO município com cerca de 300 mil habitantes, localizado no coração do Brasil, a situação não é diferente. Este trabalho tem a finalidade de levantar informações sobre a satisfação dos anapolinos com relação à saúde pública, avaliar o uso de medicamentos, além de abordar outras características relacionadas à saúde pública.
Palavras Chaves: Automedicação, Medicamentos Genéricos, Saúde Pública.
1. Introdução
A saúde pública da população é alvo de grande preocupação dos governantes do nosso país, uma vez que a cada dia novos relatos sobre as más condições de atendimento na rede pública se torna freqüente em nossos meios de comunicação. A falta de informações para uma melhor condição de saúde para população também deve ser destacada, em particular, o uso de medicamentos sem a orientação de um profissional (automedicação), que pode ocasionar sérios danos à saúde (Pinheiro, 2004[1]). Informações sobre os grupos de medicamentos, também podem ser útil à população, além de diminuir os gastos com medicamentos.
Este trabalho tem por finalidade avaliar o uso de medicamentos e outras características relacionadas à saúde da população de Anápolis, tais como: grau de satisfação em relação à saúde pública, principal motivo para o consumo de medicamentos genéricos, tipo de medicamento que utilizam sem orientação médica, a freqüência de pessoas que tem alguma facilidade em adquirir medicamentos com tarja sem receita médica, o número de pessoas que se auto declaram hipertensas e/ou com algum tipo de problema cardíaco, pratica de atividade física. Além disso, também avaliar algumas características dos domicílios anapolinos.
Até 2 SM De 2 a 5 SM De 5 a 10 SM De 10 a 20 SM Mais de 20 SM NS/NO Total
Sim 17,91% 26,74% 51,57% 60,53% 75,00% 10,94% 29,76%
Não 80,90% 72,49% 47,80% 39,47% 25,00% 87,50% 69,37%
Não Sabe/ Não Opinou 1,19% 0,77% 0,63% 0,00% 0,00% 1,56% 0,87%
Total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%
Plano de Saúde Renda Familiar ( em salários mínimos)
1,74% 18,74% 16,14% 36,62% 22,32% 4,44%
Muito Satisfeito Satisfeito Nem Satisf./Nem Insatisf.
Insatisfeito Muito Insatisfeito Não Sabe/Não Opinou
2. Material e Métodos
A pesquisa foi realizada no período de 16 a 20 de abril de 2005, cuja população alvo foram os moradores da cidade de Anápolis acima de 16 anos. A amostragem foi por quota proporcional as variáveis sexo e idade, sendo que a escolha do entrevistado na pesquisa em trânsito se deu de forma acidental (Pinheiro, 2004[2]). Foi utilizado a base de dados do Censo IBGE 2000 e do TRE-GO 2004 como fonte para a elaboração da amostra.
Foram realizadas 1035 entrevistas. O intervalo de confiança estimado é de 95% e a margem de erro estimada é de 3,0 pontos percentuais. Todos os questionários foram filtrados.
3. Resultados e Discussão:
A análise exploratória dos dados foi feita utilizando o software Excel e os resultados condensados em tabelas e gráficos (Tukey, 1977). O percentual de entrevistados que afirma ter planos de saúde é cerca de 30%, este percentual possivelmente está relacionado com a renda familiar da população. Observa mos na Tabela 1, que a porcentagem de entrevistados que não possuem planos de saúde vai diminuindo conforme a renda familiar aumenta.
Tabela 1: Porcentagem de Pessoas que Possuem Planos de Saúde Vs Renda Familiar
Com relação à satisfação dos entrevistados com a saúde pública (Figura 1), obtivemos um escore de –0,62, indicando uma insatisfação da população de Anápolis em relação à saúde
pública. Considerando a população adulta (acima de 16 anos) de Anápolis, temos um contingente de cerca de 119.650 anapolinos insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a saúde.
No quadro abaixo apresentamos, o percentual de entrevistado que diz: consumir medicamentos genéricos (Figura 2), o seu principal motivo de consumo (Figura 3), a confiança nos medicamentos genéricos (Figura 4) e, quais os tipos de medicamentos receitados pelos médicos (Figura 5).
68,79% 31,21%
Sim Não
Figura 2: Consumo de Genéricos
67,84% 24,58% 1,54% 2,67% 3,37% Preço Mesmo efeito do de marca Propaganda Outros Não Sabe/Não Opinou
Figura 3: Motivo de Consumo de Genéricos
Figura 4: Confiança nos Genéricos Figura 5: Receita de Medicamentos
O quadro abaixo apresenta as estimativas: do percentual de pessoas atendidas em Anápolis por farmacêuticos em farmácia e/ou drogarias (Figura 6); do grau de facilidade para adquirir medicamentos sem receita médica (Figura 7); do percentual de anapolinos que fazem uso de medicamentos sem a indicação de um profissional da área de saúde (Figura 8) e os principais medicamentos utilizados pela população sem orientação médica (Figura 9).
Através da Figura 8 temos que dos entrevistados, 32,08% disseram que toma ou tomou medicamentos somente com a indicação de médicos e 34,20% com a indicação de
56,33%
25,89%
2,61%
15,17%
De Marca Genérico Similar Não Sabe/Não Opinou
77,29% 22,71%
balconista e propaganda chegam a 10,43% e 7,44% respectivamente. Agora quando consideramos a Figura 9, dos entrevistados apenas 8,60% afirmaram não ter utilizado e/ou utilizar medicamentos sem a orientação médica, neste caso existe uma diferença de 23,48% em relação aos mesmos entrevistados que afirmaram que tomam ou tomaram medicamentos somente com a indicação de médicos (32,08%). Assim, a estimativa para o percentual de pessoas que fazem ou fizeram uso de medicamentos sem a orientação médic a é cerca de 87%.
Figura 6: Atendimento por Farmacêuticos Figura 7: Medicamentos sem Receita
Figura 8: Uso de Medicamentos por Indicação Figura 9: Uso de Medicamentos sem
Orientação Médica
A prática de atividade física também foi questionada perante a população (Figura 10). Em relação a variável sexo, as mulheres são as mais sedentárias, cerca de 56% delas não praticam atividade física, enquanto que esse percentual para os homens é de 38%. Também se observou uma possível relação entre atividade física e renda familiar, ou seja, quanto menor a renda familiar menor o índice de pessoas que praticam atividade física.
Com relação a pessoas com problemas cardíacos (Figura 11) e hipertensão (Figura 12), temos uma estimativa de cerca de 18.880 anapolinos que declara ter algum tipo de problema cardíaco e cerca de 38.570 anapolinos que se declara hipertensos. Em caso de alguma doença cerca de 65% dos entrevistados afirmam procurar hospital, 18% PSF/Posto de
27,83% 9,76% 19,90% 19,03% 15,56% 7,92% Sempre Quase Sempre As Vezes Raramente Nunca Não Sabe/ Não Opinou 27,83% 9,76% 19,90% 19,03% 15,56% 7,92% Sempre Quase Sempre As Vezes Raramente Nunca Não Sabe/ Não Opinou 12,75% 6,57% 8,41% 9,08% 52,56% 10,63% Sempre Quase Sempre
As Vezes Raramente Nunca Não Sabe/ Não Resp . 12,75% 6,57% 8,41% 9,08% 52,56% 10,63% Sempre Quase Sempre
As Vezes Raramente Nunca Não Sabe/ Não Resp . 32,08% 44,15% 34,20% 10,43% 7,44% 2,80% 2,51% Somente de Médicos Familiares/Amigos Farmacêuticos Balconistas Propagandas Outros
Não Sabe/Não Opinou
32,08% 44,15% 34,20% 10,43% 7,44% 2,80% 2,51% Somente de Médicos Familiares/Amigos Farmacêuticos Balconistas Propagandas Outros
Não Sabe/Não Opinou Somente de Médicos Familiares/Amigos Farmacêuticos Balconistas Propagandas Outros
Não Sabe/Não Opinou
69,28% 8,60% 17,39% 28,60% 3,38% 0,97% 0,39% 10,14% 4,15% Analgésicos
Não Toma Medicamentos sem Orientação Médica Antibióticos Anti-Térmicos Anti-Alérgicos Estimulantes Psicotrópicos Outros
Não Sabe/Não Opinou
69,28% 8,60% 17,39% 28,60% 3,38% 0,97% 0,39% 10,14% 4,15% Analgésicos
Não Toma Medicamentos sem Orientação Médica Antibióticos Anti-Térmicos Anti-Alérgicos Estimulantes Psicotrópicos Outros
Não Sabe/Não Opinou Analgésicos
Não Toma Medicamentos sem Orientação Médica Antibióticos Anti-Térmicos Anti-Alérgicos Estimulantes Psicotrópicos Outros
Saúde e 13% Farmácias (Figura 13). A maioria dos entrevistados (88,02%) afirma utilizar água tratada (Figura 14), e 98,45% utiliza coleta pública (Figura 15).
Figura 10: Atividade Física Figura 11: Problemas Cardíacos
Figura 12: Hipertensão Figura 13: Procura em Caso de Doença
Figura 14: Água Utilizada nos Domicílios Figura 15: Destino do Lixo
Na Figura 16 observamos que 33,14% dos entrevistados, afirmam ainda utilizarem a fossa como destino de seus dejetos, observou-se que esta porcentagem está aparentemente relacionada com a renda familiar.
Fi 88,02% 8,21% 3,09% 0,39% 0,29% Tratada Cisterna/ Bomba Poço Artesiano Cisterna/ Sarilho Outros 88,02% 8,21% 3,09% 0,39% 0,29% Tratada Cisterna/ Bomba Poço Artesiano Cisterna/ Sarilho Outros 98,45% 0,87% 0,10% 0,58% Coleta Pública Céu Aberto No Rio Outros 98,45% 0,87% 0,10% 0,58% Coleta Pública Céu Aberto No Rio Outros 19,03% 77,49% 3,48%
Sim Não Não Sabe/Não Opinou 19,03%
77,49%
3,48%
Sim Não Não Sabe/Não Opinou
64,93%
17,78%
12,37%
4,93%
Hospital PSF/Posto de Saúde Farmácia Outros 64,93%
17,78%
12,37%
4,93%
Hospital PSF/Posto de Saúde Farmácia Outros
65,80% 33,14% 0,48% 0,58% Esgoto Fossa Privada Outros 65,80% 33,14% 0,48% 0,58% Esgoto Fossa Privada Outros 15,07% 7,63% 19,03% 10,53% 47,73% Diariamente De 4 a 6 vezes por semana De 1 a 3 vezes por semana Raramente Não Pratica 15,07% 7,63% 19,03% 10,53% 47,73% Diariamente De 4 a 6 vezes por semana De 1 a 3 vezes por semana Raramente Não Pratica 9,28% 85,51% 5,22% Sim Não Não Sabe/ Não Opinou 9,28% 85,51% 5,22% Sim Não Não Sabe/ Não Opinou Sim Não Não Sabe/ Não Opinou
4. Conclusões:
Através da pesquisa, constatou-se que a porcentagem de pessoas que afirma possuir plano de saúde (29,76%) está relacionada à renda familiar. Outra constatação foi à satisfação da população com a saúde pública, 58,94% disseram estar insatisfeito ou muito insatisfeito.
Entre os entrevistado 68,79%, diz consumir ou ter consumido genéricos e 77,29% responderam que confiam nos genéricos. O principal motivo apontado pelos anapolinos para consumir os genéricos é o preço com 67,84%. Vale destacar que os entrevistados afirmam que 56,33% das receitas são de medicamentos de referência e apenas 25,89% de genéricos.
Em relação ao atendimento em farmácia /drogarias, apenas 27,83% dos entrevistados afirmam sempre ser atendidos por farmacêuticos e, 52,56% não tem facilidade para comprar medicamentos com tarja sem receita médica.
A maioria dos anapolinos entrevistados, afirma tomar ou ter tomado medicamentos por indicação de familiares/amigos (44,15%), a indicação de médicos (32,08%) ficou abaixo da indicação por farmacêuticos (34,20%), mostrando a importância desse profissional para os indivíduos que se automedicam, por isso sua intervenção é fundamental para o melhor uso de medicamentos. Entretanto, quando perguntado aos entrevistados se eles fazem ou fizeram uso de medicamentos sem a orientação (prescrição) médica, apenas 8,60% afirmaram fazer uso de medicamentos somente com a orientação médica. Vale ressaltar, que dentre os medicamentos consumidos pelos entrevistados sem orientação médica os principais são: analgésicos, antitérmicos e antibióticos que somam 75% dos medicamentos consumidos sem prescrição.
Estimou-se que a maior parte da população é sedentária (47,73%). A porcentagem de pessoas que declaram ter algum tipo de doença cardíaca ou hipertensão é de 9,28% e 19,03%, respectivamente. Em relação à procura por atendimento em casos de doença, a maior parte da população procura hospitais (64,93).
Quanto às características dos domicílios, dos entrevistados, a maioria (88,02%) afirma utilizar água tratada, em relação ao destino do lixo à maioria (98,45%) utiliza coleta pública. Quanto ao destino dos dejetos o esgoto (68,80%) e a fossa (33,14%) são os mais utilizados.
5. Referências Bibliográficas:
[1] PINHEIRO, R. O. et al. Estudo da Utilização de Medicamentos pela População
Universitária do Município de Vassouras (RJ). Pharmacia Brasileira, ano IV, nº42, 2004.
[2] PINHEIRO, R. M. et al. Comportamento do Consumidor e Pesquisa de Mercado. 1ªed. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2004.