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A atuação das cooperativas na agricultura familiar do município de Nepomuceno-MG: integração ao modo de produção capitalista e perda de soberania alimentar

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DOUTORADO EM GEOGRAFIA

Lucas Guedes Vilas Boas

A ATUAÇÃO DAS COOPERATIVAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE NEPOMUCENO-MG: INTEGRAÇÃO AO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E PERDA DE SOBERANIA ALIMENTAR

Belo Horizonte 2019

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Lucas Guedes Vilas Boas

A ATUAÇÃO DAS COOPERATIVAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE NEPOMUCENO-MG: INTEGRAÇÃO AO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E PERDA DE SOBERANIA ALIMENTAR

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Geografia.

Área de concentração: Organização do Espaço

Linha de pesquisa: Produção do espaço, teoria e prática

Orientador: Prof. Klemens Augustinus Laschefski

Belo Horizonte 2019

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Orientador: Klemens Augustinus Laschefski.

Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Geografia, 2019.

Área de concentração: Organização do Espaço.

Linha de pesquisa: Produção do Espaço, Teoria e Prática. Bibliografia: f. 296-323.

Inclui anexos.

1. Agricultura familiar – Minas Gerais – Teses. 2. Café – Cultivo – Minas Gerais – Teses. 3. Cooperativas agrícolas – Minas Gerais – Teses. I. Laschefski, Klemens Augustinus. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Departamento de Geografia. III. Título.

CDU: 631(815.1) Ficha catalográfica elaborada por Graciane A. de Paula – CRB6 3404

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AGRADECIMENTOS

À população nepomucenense, particularmente aos agricultores e às famílias pesquisadas, pela receptividade e solicitude nas entrevistas e diálogos realizados. Sou grato pelo acolhimento nas visitas às suas moradias.

Aos gestores das cooperativas visitadas, pelo auxílio com as informações solicitadas.

Ao Vitor Sérgio Tonelli Reis, pela solicitude no auxílio com as fontes e dados históricos referentes ao município de Nepomuceno.

À minha família, pelo apoio e amor concedidos e pelos valores a mim ensinados. Pela compreensão nos momentos de ausência, em virtude do trabalho e/ou da pesquisa relativa à tese.

Em especial, à minha mãe, Inês Alves Guedes, por sempre ressaltar a importância dos estudos, pelo amor e pelo carinho sempre demonstrados, bem como pela confiança no êxito do meu trabalho.

Ao meu irmão, Matheus Guedes Vilas Boas, pelo apoio, amizade e parceria durante toda a vida. Agradeço pela leitura do texto, pois ofereceu a visão de um pesquisador de outra área do saber.

À minha companheira, Jaqueline Aparecida Nogueira, pela cumplicidade nos bons e maus momentos,

Ao Luck, à Gigi e à Gabi, pela amizade e carinho demonstrados nos passeios cotidianos pelas ruas da “metrópole” nepomucenense.

A todos os professores que contribuíram para minha formação acadêmica, pelos ensinamentos e conhecimentos transmitidos, assim como pelo estímulo à construção de um pensamento crítico acerca da sociedade.

Ao orientador deste trabalho, Professor Doutor Klemens Augustinus Laschefski, pela confiança demonstra no estudo realizado, pelo comprometimento e liberdade dados à pesquisa.

Às (Aos) professoras (es) Doralice Barros Pereira, Fábio Luiz Tezini Crocco, Maria Luiza Grossi Araújo e Rômulo Soares Barbosa, meus sinceros agradecimentos por aceitarem compor a Banca Examinadora deste trabalho, bem como pelas minuciosas e construtivas críticas e sugestões fornecidas a presente pesquisa.

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Aos professores Ralfo Matos, Valéria Ascenção, Rogata Soares, Doralice Pereira e André Salgado pelas contribuições dadas durante as disciplinas realizadas no período de doutoramento.

À Professora Doutora Valéria de Oliveira Roque Ascenção, pelo inestimável auxílio com o projeto de tese e pelas discussões concernentes à metodologia da pesquisa.

Aos amigos geógrafos Higor Mozart Geraldo Santos, Jader Arierom Moreira da Silva e Yuri Amaral Barbosa, pelas críticas e sugestões fornecidas à pesquisa.

Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, pelo auxílio financeiro concedido aos deslocamentos para Belo Horizonte e por viabilizar a concomitância entre o desempenho das minhas atividades como docente e meus estudos enquanto discente do Doutorado em Geografia.

À Universidade Federal de Minas Gerais, a qual possibilitou a realização desta tese de doutoramento, sobretudo pelos inúmeros momentos de diálogos e de construção de conhecimentos proporcionados.

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RESUMO

Nos últimos decênios, houve a ampliação da subordinação da agricultura ao modo de produção capitalista. A agricultura familiar não se absteve deste fenômeno, pois diversas estratégias, como a disseminação do crédito rural, o pagamento por produtividade e a dependência do setor urbano-industrial para a aquisição de insumos agrícolas, foram engendradas para a absorção dos agricultores e sua integração ao mercado. No município de Nepomuceno, cujo setor primário, principalmente a cafeicultura, se destaca na economia, é estreito o vínculo entre agricultura familiar e capitalismo. Desta maneira, o objetivo da tese é compreender o processo de incorporação da agricultura familiar nepomucenense ao modo de produção capitalista e sua integração ao agronegócio, discutindo suas principais características, como a atuação das cooperativas agropecuárias e a perda de soberania alimentar. Assim, foi necessária uma discussão conceitual distinguindo campesinato e agricultura familiar, de modo a evidenciar a definição de agricultura familiar adotada nesta pesquisa e identificar as principais características da produção agrícola nepomucenense. A pesquisa bibliográfica, a análise documental, o trabalho de campo, as entrevistas semiestruturadas e as caminhadas transversais foram os procedimentos metodológicos adotados no estudo. Para a avaliação da cafeicultura em Nepomuceno, construiu-se um breve histórico acerca da difusão da cultura cafeeira na porção sul do estado de Minas Gerais e no município de Nepomuceno, nos séculos XIX e XX. Posteriormente, foi discutida a situação atual da cafeicultura em Nepomuceno. Os resultados mostraram que a maioria dos cafeicultores locais vende sua produção para as cooperativas atuantes no município, as quais revendem os grãos colhidos pelos agricultores para o Brasil e outros países. Destarte, as cooperativas, por intermédio dos serviços ofertados aos associados, assumem o papel de agentes que promovem a inserção da agricultura familiar no modo de produção capitalista e constituem a expressão do agronegócio em Nepomuceno. A soberania alimentar no município está ameaçada, uma vez que a agricultura empresarial, caracterizada pela produção de commodities, torna os produtores mais dependentes do mercado e diminui sua autonomia, inserindo-os na acirrada concorrência capitalista e impelindo-os ao uso de insumos oriundos das corporações multinacionais e transnacionais que monopolizam o setor agroquímico. Ademais, os salários são pagos conforme a produtividade lograda e os contratos formais de trabalho são raros. Há uma falsa sensação de controle sobre o processo de produção, visto que apesar da posse formal dos imóveis agrícolas, muitos cafeicultores não possuem autonomia quanto às decisões relativas aos seus estabelecimentos. Os agricultores cuja produção é destinada somente ao autoconsumo, assim como aqueles que comercializam de forma autônoma os excedentes produzidos, oferecem uma alternativa e constituem resistências em relação à agricultura empresarial vigente no município. As formas e relações de trabalho e de produção dos trabalhadores da feira municipal de Nepomuceno, os quais vendem diretamente seus excedentes agrícolas aos consumidores, foram investigadas. No entanto, sua permanência está ameaçada pelo aumento do número de produtores agrícolas nepomucenenses cujo objetivo principal é a comercialização da produção por meio das cooperativas.

Palavras-chave: Agricultura Familiar. Cafeicultura. Soberania Alimentar. Cooperativas. Nepomuceno.

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ABSTRACT

In recent decades, the subordination of agriculture to the capitalist mode of production has increased. Family farming has not been absent from this phenomenon, since several strategies, such as the dissemination of rural credit, payment for productivity and dependence on the urban-industrial sector for the acquisition of agricultural inputs, were conceived to absorb farmers and their integration into the market. In the municipality of Nepomuceno, whose primary sector, mainly coffee production, stands out in the economy, a close relationship is established between family farming and capitalism. Thus, the objective of the thesis is to understand the process of incorporation of Nepomuceno’s family agriculture to the capitalist mode of production and its integration into agribusiness, discussing its main characteristics, such as the performance of agricultural cooperatives and the loss of food sovereignty. Thus, a conceptual discussion was necessary, distinguishing between peasant and family farming, in order to highlight the definition of family farming adopted in this research and identify the main characteristics of Nepomuceno’s agricultural production. The bibliographic research, document analysis, fieldwork, semi-structured interviews and cross-sectional visits were the methodological procedures adopted in the study. For the evaluation of coffee production in Nepomuceno, a brief history was built on the dissemination of coffee culture in the southern portion of the state of Minas Gerais and in the municipality of Nepomuceno in the nineteenth and twentieth centuries. Later, the current situation of coffee growing in Nepomuceno was discussed. The results showed that the majority of local coffee growers sell their production to cooperatives operating in the municipality, which resell the beans harvested by farmers to Brazil and other countries. Thus, the cooperatives, through the services offered to the members, assume the role of agents that promote the insertion of family agriculture in the capitalist mode of production and constitute the expression of agribusiness in Nepomuceno. Food sovereignty in the municipality is threatened, since entrepreneurial agriculture, characterized by the production of commodities, makes producers more dependent on the market and reduces their autonomy, inserting them into fierce capitalist competition and impelling them to use inputs from multinational and transnational corporations that monopolize the agrochemical sector. Furthermore, the wages are paid according to productivity achieved and formal labor contracts are rare. There is a false sense of control over the production process, as despite the formal ownership of farms, many coffee farmers do not have autonomy over decisions about their farms. Farmers whose production is destined only for self-consumption, as well as those who autonomously commercialize the surpluses produced, offer an alternative and constitute resistance in relation to the entrepreneurial agriculture in force in the municipality. The forms and relations of labor and production of the workers of the Nepomuceno municipal fair, who sell their agricultural surpluses directly to consumers, were investigated. However, their permanence is threatened by the increase in the number of Nepomuceno’s agricultural producers, who have had their surplus produce sold to consumers.

Keywords: Family farming. Coffee sector. Food sovereignty. Cooperatives.

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RESUMEN

En las últimas décadas, ha habido un aumento de la subordinación de la agricultura al modo de producción capitalista. La agricultura familiar no se abstuvo de este fenómeno, una vez que varias estrategias, como la diseminación del crédito rural, el pagamento por productividad y la dependencia del sector urbano-industrial en la adquisición de insumos agrícolas, fueron engendradas para la absorción de los agricultores y su integración en el mercado. En el municipio de Nepomuceno, cuyo sector primario, especialmente el cultivo de café, se destaca en la economía, el vínculo entre la agricultura familiar y el capitalismo es estrecho. De esta manera, el objetivo de la tesis es comprender el proceso de incorporación de la agricultura familiar nepomucenense en el modo de producción capitalista y su integración con lo agronegocio, discutiendo sus características principales, como la acción de las cooperativas agropecuárias y la pérdida de soberanía alimentaria. Así, fue necesaria una discusión conceptual distinguiendo campesinado y agricultura familiar, para resaltar la definición de agricultura familiar adoptada en esta investigación e identificar las características principales de la producción agrícola de Nepomuceno. La investigación bibliográfica, el análisis de documentos, el trabajo de campo, las entrevistas semiestructuradas y las caminadas transversales fueron los procedimientos metodológicos adoptados en el estudio. Para la evaluación del caficultura en Nepomuceno, se construyó un breve historico de la difusión de la cultura del café en la parte sur del estado de Minas Gerais y en el municipio de Nepomuceno, en los siglos XIX y XX. Posteriormente, se discutió la situación actual del caficultura en Nepomuceno. Los resultados mostraron que la mayoría de los cafeteros locales venden su producción a las cooperativas actuantes en el municipio, las cuales revenden los granos cosechados por los agricultores a Brasil y otros países. De este modo, las cooperativas, a través de los servicios ofrecidos a los miembros, asumen el papel de agentes que promueven la inserción de la agricultura familiar en el modo de producción capitalista y constituyen la expresión del agronegocio en Nepomuceno. La soberania alimentaria en el municipio se ve amenazada, una vez que la agricultura empresarial, caracterizada por la producción de

commodities, hace que los productores sean más dependientes del mercado y disminuye

su autonomía, insertándolos en la férrea competencia capitalista y impulsándolos al uso de insumos oriundos de corporaciones multinacionales y transnacionales que monopolizan el sector agroquímico. Además, los salarios son pagos conforme la productividad lograda y los contratos formales de trabajo son raros. Hay una falsa sensación de controle sobre el proceso de producción, visto que a pesar de la posee formal de los inmuebles agrícolas, muchos caficultores no poseen autonomía cuanto a las decisiones relativas a los estabelecimientos. Los agricultores cuya producción se destina exclusivamente al autoconsumo, así como aquellos que venden de forma autónoma el excedente producido, ofrecen una alternativa y constituyen resistencia a la agricultura empresarial vigente en el municipio. Se investigaron las formas y las relaciones laborales y productivas de los trabajadores de la feria municipal de Nepomuceno, los cuales venden su excedente agrícola directamente a los consumidores. Sin embargo, su estadía se ve amenazada por el aumento en el número de productores agrícolas nepomucenenses, cuyo objetivo principal es la comercialización de la producción a través de cooperativas.

Palabras clave: Agricultura familiar. Caficultura. Soberania Alimentaria. Cooperativas.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Localização do Município de Nepomuceno em Minas Gerais ... 24

Figura 02: Esquema dos Modelos de Funcionamento dos Estabelecimentos Agrícolas para Hughes Lamarche ... 81

Figura 03: Intoxicação por Agrotóxicos no Brasil entre 1999 e 2009... 190

Figura 04: Intoxicação por Agrotóxicos no Brasil (Período 2007-2014) ... 192

Figura 05: Utilização de Agrotóxicos nos Municípios Brasileiros em 2006 ... 195

Figura 06: Municípios com Unidades da Cooxupé em 2018... 235

Figura 07: Municípios com Unidades da Capebe e da Cocatrel em 2018... 245

Figura 08: O Agronegócio na Cafeicultura de Nepomuceno-MG: Da Produção à Comercialização ... 257

Figura 09: Feira Livre no Município de Nepomuceno-MG... 265

Figura 10: Comércio de Ambulantes nas Proximidades da Feira Livre... 272

Figura 11: Fachada da Sede do Mercadão do Produtor Rural de Nepomuceno... 278

Figura 12: Cafés Especiais Torrados Comercializados pela Associação Flor de Café em 2019... 282

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Produção e Trabalho do Campesinato e Consequências do

Desenvolvimento do Capitalismo nas Obras de Karl Marx, Vladimir Lênin, Karl Kautsky, Alexsander Chayanov, Henri Mendras e Teodor Shanin ... 76

Quadro 02: Ações das Principais Instituições e Programas Estatais na Cafeicultura

Brasileira - Período: 1950-1990 ... 120

Quadro 03: Principais Elementos da Segurança Alimentar e da Soberania Alimentar

... 169

Quadro 04: Principais Diferenças entre Arrendamentos, Parcerias e Comodatos... 204 Quadro 05: Síntese das Principais Características da Feira Livre de Nepomuceno-MG

(12)

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: População Urbana e Rural no Brasil – 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e

2010... 62

Tabela 02: População Total, Quantidade e Percentual Total de Escravos em 1831-1832: Minas Gerais, Sul de Minas e Nepomuceno... 94

Tabela 03: Valor Estimado da Produção do Município de Nepomuceno em 1918 (em Réis)... 108

Tabela 04: Produção Agrícola de Nepomuceno em Arrobas – 1918... 109

Tabela 05: Taxa Bruta de Natalidade (Por Mil Habitantes) – Brasil: 1881 a 2015... 116

Tabela 06: Produção Agrícola do Município de Nepomuceno-MG em 1955... 118

Tabela 07: Pecuária do Município de Nepomuceno-MG em 1955 - Número de Cabeças por Espécie... 118

Tabela 08: Variação da Área Ocupada e da Produção Total de Café na Microrregião de Lavras no Período 1980-1990... 126

Tabela 09: Preço Médio em US$ das Sacas de Café Vendidas pela Cooxupé: 1981-2018... 130

Tabela 10: Produção Total e Área em Produção de Café Arábica - Sul de Minas, Minas Gerais e Brasil (2012-2016)... 134

Tabela 11: Produção Total Anual de Leite em Minas Gerais (1995-2017)... 145

Tabela 12: Produção Total Anual de Leite em Nepomuceno (1995-2017)... 148

Tabela 13: Produção Total Anual de Feijão (em Grão) em Minas Gerais (1995-2017) ... 148

Tabela 14: Produção Total Anual de Feijão (em Grão) em Nepomuceno (1995-2017) ... 150

Tabela 15: Produção Total Anual de Arroz (em Casca) em Minas Gerais (1995-2017)... 151

Tabela 16: Produção Total Anual de Arroz (em Casca) em Nepomuceno (1995-2017)... 152

Tabela 17: Produção Total Anual de Milho (em Grão) em Minas Gerais (1995-2017) ... 152

Tabela 18: Produção Total Anual de Milho (em Grão) em Nepomuceno (1995-2017) ... 153

(13)

Tabela 19: Produção Total Anual de Café (em Grão) em Minas Gerais

(1995-2017)... 155

Tabela 20: Produção Total Anual de Café (em Grão) em Nepomuceno (1995-2017)

... 156

Tabela 21: Principais Víveres Secundários Cultivados na Agricultura do Município de

Nepomuceno-MG em 2017... 158

Tabela 22: Pecuária do Município de Nepomuceno-MG em 2017... 159 Tabela 23: Área Colhida, Quantidade Produzida e Rendimento Médio do Arroz, da

Soja, do Feijão, do Milho e do Café em Nepomuceno-MG (Período: 1980-2016)... 184

Tabela 24: Características da Agricultura Familiar Moderna Presentes nos

Estabelecimentos Agropecuários de Nepomuceno-MG... 202

Tabela 25: Condição do Uso da Terra na Agricultura Familiar em Nepomuceno-MG,

segundo o Extrato DAP, em 2018... 203

Tabela 26: Finalidade dos Financiamentos e Empréstimos Agrícolas em 2017 - Brasil,

Minas Gerais e Nepomuceno-MG ... 218

Tabela 27: População Ocupada de 10 ou mais Anos de Idade, segundo a Faixa Salarial

(14)

LISTA DE GRÁFICOS

(15)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACAR – Associação de Crédito e Assistência Rural AICs – Acordos Internacionais de Café

ANAP – Associação Nacional de Pequenos Agricultores

ANMTR – Associação Nacional das Mulheres Trabalhadoras Rurais AoA – Acordo sobre Agricultura

ASA – Aviário Santo Antônio

BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAPEBE – Cooperativa Agropecuária de Boa Esperança

CAR – Cadastro Ambiental Rural

CEASAs – Centrais Estaduais de Abastecimento CEB – Comunidade Eclesial de Base

CEFET-MG – Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais CNC – Conselho Nacional do Café

COCATREL – Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas COE – Custo Operacional Efetivo

CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

CONCRAB – Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

COOPARAÍSO – Cooperativa Regional dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso COOXUPÉ – Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé

CPA – Cooperativa de Produção Agropecuária

CPS – Cooperativa de Comercialização e Prestação de Serviços CPT – Comissão Pastoral da Terra

CTC – Capacidade de Troca Catiônica

CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança DAP – Declaração de Aptidão ao PRONAF

DRP – Diagnóstico Rural Participativo DRR – Diagnóstico Rural Rápido EADI – Estação Aduaneira do Interior

(16)

EBIA – Escala Brasileira de Insegurança Alimentar EISA – Empresa Interagrícola S/A

EZLN – Exército Zapatista de Libertação Nacional

EMATER-MG – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais EPIs – Equipamentos de Proteção Individual

ETR – Estatuto do Trabalhador Rural

FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação FECAFÉ – Fundo Estadual de Café

FECOM – Feira de Negócios Cocatrel/Minasul

FETAG’s – Federações de Trabalhadores na Agricultura FINAME – Financiamento de Máquinas e Equipamentos FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz

FJP – Fundação João Pinheiro

FPA – Frente Parlamentar da Agropecuária

FUNCAFÉ – Fundo de Defesa da Economia Cafeeira

GERCA – Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura IBC – Instituto Brasileiro do Café

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFOAM – Federação Internacional dos Movimentos da Agricultura Orgânica INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

IPC – Comitê Internacional de Planejamento para a Soberania Alimentar ITR – Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

MINASUL – Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha MMC – Movimento de Mulheres Camponesas

MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

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NKG – Neumann Kaffee Gruppe

OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras OCEs – Organizações das Cooperativas Estaduais OGMs – Organismos Geneticamente Modificados OMC – Organização Mundial do Comércio ONGs – Organizações Não-Governamentais

OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo PAA – Programa de Aquisição de Alimentos

PCB – Partido Comunista Brasileiro PFZ – Programa Fome Zero

PH – Potencial Hidrogeniônico PIB – Produto Interno Bruto

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar PNRA – Plano Nacional de Reforma Agrária

PRRC – Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais PRONACOOP – Programa Nacional de Cooperativismo

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RAIS – Relação Anual de Informações Sociais

SCA – Sistema Cooperativista dos Assentados

SEAD – Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário SEAPA – Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento

SICOOB – Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil

SINITOX – Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas

SISAGUA – Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano

SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural

SPS – Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias STTR’s – Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

TRIPS – Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio

(18)

LISTA DE ANEXOS

Anexo I – Roteiro das Entrevistas Semiestruturadas Efetuadas com os Agricultores

Familiares do Município de Nepomuceno-MG... 324

Anexo II – Roteiro das Entrevistas Semiestruturadas Realizadas com os Feirantes de

Nepomuceno-MG... 327

Anexo III - Roteiro das Entrevistas Semiestruturadas Realizadas com os Gestores das

(19)

SUMÁRIO AGRADECIMENTOS... iv RESUMO... vi ABSTRACT... vii RESUMEN... viii LISTA DE FIGURAS... ix LISTA DE QUADROS... x LISTA DE TABELAS... xi

LISTA DE GRÁFICOS... xiii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS... xiv

LISTA DE ANEXOS... xvii

1 – INTRODUÇÃO... 22

2 – CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS... 37

2.1 – Agricultura Familiar e Agricultura Camponesa: Aproximações e Desencontros. 37 2.2 – Diversidade e Principais Características da Agricultura Familiar... 77

2.3 – Os Modelos de Funcionamento dos Estabelecimentos Agrícolas segundo Hughes Lamarche... 81

2.3.1 – O Modelo Empresa... 82

2.3.2 – O Modelo Empresa Familiar... 83

2.3.3 – O Modelo Agricultura Familiar Moderna... 84

2.3.4 – O Modelo Agricultura Camponesa ou de Subsistência... 86

3 – A CAFEICULTURA EM NEPOMUCENO-MG E NO SUL DE MINAS GERAIS: HISTÓRICO (SÉCULOS XIX-XX) E SITUAÇÃO ATUAL... 89

3.1 – Histórico da Cafeicultura no Sul de Minas Gerais e em Nepomuceno-MG nos Séculos XIX e XX... 89

3.1.1 – O Trabalho Escravo e a Cafeicultura no Sul de Minas e em Nepomuceno no Século XIX ... 93

3.1.2 – A Importância do Ferroviarismo para a Cafeicultura Sul-Mineira no Final do Século XIX e Início do Século XX... 97

3.1.3 – A Crise da Cafeicultura Brasileira no Início dos Anos 1900 e o Convênio de Taubaté de 1906... 103

(20)

3.1.4 – A Produção Agropecuária Nepomucenense nos Decênios de 1910 e 1920 e o

Crescimento da Cafeicultura Municipal... 108

3.1.5 – A Quebra da Bolsa de Valores de Nova York e a Crise da Cafeicultura Brasileira na Década de 1930... 112

3.1.6 – O Fracionamento das Propriedades Agrícolas no Município de Nepomuceno-MG... 114

3.1.7 – A Ação do Estado na Agricultura Sul-Mineira e a Conjuntura Agrária Nepomucenense entre os Decênios de 1950 e 1990... 117

3.1.8 – Anos 1990: Disseminação do Neoliberalismo e suas Consequências para a Agricultura Brasileira e Sul-Mineira... 127

3.2 – A Cafeicultura no Sul de Minas Gerais e em Nepomuceno-MG Atualmente... 133

4 – PRODUÇÃO AGRÍCOLA E SOBERANIA ALIMENTAR NO MUNICÍPIO DE NEPOMUCENO NO PERÍODO 1995-2017... 142

4.1 – O Trabalho Rural/Agrícola em Nepomuceno-MG segundo o Gênero... 142

4.2 – A Produção Agropecuária em Nepomuceno-MG... 145

4.2.1 – A Produção Leiteira no Município de Nepomuceno-MG... 145

4.2.2 – A Produção de Feijão no Município de Nepomuceno-MG... 148

4.2.3 – A Produção de Arroz no Município de Nepomuceno-MG... 151

4.2.4 – A Produção de Milho no Município de Nepomuceno-MG... 152

4.2.5 – A Produção Cafeeira no Município de Nepomuceno-MG... 155

4.2.6 – A Produção de Víveres Secundários no Município de Nepomuceno-MG... 158

4.2.7 – A Produção Pecuária no Município de Nepomuceno-MG... 159

4.3 – Métodos de Preservação e Fertilização dos Solos em Nepomuceno-MG... 160

4.4 – A Soberania Alimentar no Município de Nepomuceno-MG... 162

4.4.1 – Segurança Alimentar, Soberania Alimentar e as Políticas Públicas Voltadas à Alimentação... 162

4.4.2 – A Disseminação dos Transgênicos e a Soberania Alimentar... 171

4.4.3 – A Soberania Alimentar na Agricultura Nepomucenense... 175

5 – CARACTERIZAÇÃO E CONDIÇÕES DE VIDA DOS AGRICULTORES FAMILIARES EM NEPOMUCENO-MG... 183

5.1 – O Emprego de Máquinas Agrícolas e Insumos Agroquímicos na Agropecuária Nepomucenense... 183

(21)

5.2 – Os Estabelecimentos Agropecuários de Nepomuceno-MG segundo os Modelos de

Funcionamento de Hughes Lamarche... 199

5.3 – Os Arrendamentos na Agropecuária do Município de Nepomuceno-MG... 203

5.4 – Características Camponesas da Agropecuária Nepomucenense... 208

6 – RELAÇÕES CAPITALISTAS E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOS AGRICULTORES FAMILIARES EM NEPOMUCENO-MG... 211

6.1 – A Precarização do Trabalho Agrícola no Município de Nepomuceno-MG... 211

6.1.1 – A Integração da Agricultura Familiar Nepomucenense ao Modo de Produção Capitalista e a Intensificação do Trabalho Agrícola... 213

6.1.2 – Crédito e Empréstimos Agrícolas no Município de Nepomuceno-MG... 216

6.1.3 – O Trabalho Volante na Agricultura Nepomucenense... 219

7 – A ATUAÇÃO DAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS NO MUNICÍPIO DE NEPOMUCENO-MG ENTRE 2015 E 2019... 223

7.1 – A Origem das Cooperativas Modernas... 223

7.2 – Histórico das Cooperativas no Brasil... 225

7.2.1 – As Cooperativas Brasileiras durante a Ditadura Militar (1964-1985)... 225

7.2.2 – As Cooperativas de Produção Agropecuária Criadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra... 226

7.3 – A Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé) e sua Instalação em Nepomuceno-MG... 233

7.4 – A Atuação da Cooperativa Agropecuária de Boa Esperança (Capebe) no Município de Nepomuceno-MG ... 240

7.5 – A Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas (Cocatrel) e sua Atuação em Nepomuceno-MG... 242

7.6 – Cooperativas Agropecuárias e Modo de Produção Capitalista no Município de Nepomuceno-MG... 246

8 POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES DAS (SUPOSTAS) ALTERNATIVAS... 258

8.1 – Formas de Produção Alternativa: A Agricultura de Subsistência e o Comércio de Alimentos nas Feiras Livres Municipais... 258

8.2 – As Feiras Livres Municipais... 260

8.2.1 – A Feira Livre no Município de Nepomuceno-MG... 264

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8.3.1 – Certificação de Produtos Orgânicos: Critérios Adotados e Problemas Enfrentados... 284 8.3.2 – A Produção de Alimentos Orgânicos no Município de Nepomuceno-MG... 287

9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS... 291 10 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 296 ANEXOS... 324

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1 - INTRODUÇÃO

Segundo os dados da FAO, em 2017, mais de um bilhão de pessoas não tinham acesso à água potável e aproximadamente 821 milhões estavam desnutridas. No mesmo ano, mais de dois bilhões de seres humanos apresentavam quadros de fome oculta, isto é, possuíam severas deficiências nutricionais em seus organismos. Cerca de 1,5 bilhões de pessoas exibiam carência de ferro, enquanto 740 milhões tinham falta de iodo e 200 milhões apresentavam deficiência de vitamina A em suas dietas alimentares. África e Ásia foram os continentes com maior índice percentual de subalimentação, enquanto na Europa e na América do Norte, os valores foram inferiores a 2,5%. A partir de 2010, apesar dos avanços tecno-científicos, o número de indivíduos famélicos aumentou em escala mundial. Paradoxalmente, a maioria dos seres humanos que passa fome não mora na cidade, mas reside no campo, produzindo e vendendo gêneros agrícolas (FAO, 2018).

Os problemas relacionados à alimentação também atingem os moradores do município de Nepomuceno. Em estudo anterior, avaliou-se a situação de segurança alimentar de 40 famílias camponesas e 40 famílias citadinas do município a partir do questionário da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), o qual emprega critérios quali-quantitativos para avaliar os regimes alimentares dos indivíduos e/ou domicílios. Sob essa perspectiva, num contexto de segurança alimentar, é assegurado às pessoas o direito a uma dieta que satisfaça permanentemente suas demandas energéticas e nutricionais sem prejudicar outras atividades básicas de sua vida. Outros aspectos, como a diversidade de gêneros alimentícios presentes nas dietas, o uso de agrotóxicos e a ocorrência de casos de obesidade, alcoolismo e/ou problemas psicológicos, também foram investigados.

Na cidade, apenas 40% dos imóveis avaliados apresentaram segurança alimentar. Como não dispõem de terras, muitos habitantes urbanos de Nepomuceno dependem diretamente da renda salarial para a aquisição de alimentos. Contudo, 85,78% da mão de obra ocupada no município recebia entre 0 e 2 salários mínimos em 2010 (IBGE, 2010). Assim, observa-se que as remunerações em Nepomuceno são, em geral, baixas, colaborando para a restrita diversidade de alimentos presentes em suas dietas (VILAS BOAS, 2017).

Já no campo, 57,5% das famílias pesquisadas se encontravam com segurança alimentar (VILAS BOAS, 2017). Como a posse da terra possibilita aos residentes do campo o cultivo de espécies vegetais e a criação de animais, há o aumento da variedade de gêneros consumidos e de vitaminas presentes nos regimes alimentares. Assim sendo, a diminuição da

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concentração fundiária e o acesso à terra por parte da população menos abastada constituem medidas necessárias à melhoria da alimentação, tanto em escala local, quanto em âmbito nacional. Constatou-se que os regimes alimentares da população nepomucenense possuem diversas carências, especialmente com relação às proteínas de origem animal. Em virtude das baixas remunerações recebidas e do predomínio da monocultura cafeeira, a alimentação possui diminuta variedade, sendo pobre em nutrientes. Outros fatores também colaboram para a insegurança alimentar no município, como o alcoolismo, a obesidade e o intenso emprego de praguicidas no cultivo agrícola (VILAS BOAS, 2016a).

Segundo dados da Emater-MG, o valor médio do hectare de terra nua em Nepomuceno no ano de 2018 variou entre R$ 10.000,00 para terras de aptidão restrita e R$ 13.000,00 para terras de aptidão boa às lavouras (EMATER-MG, 2018). Considerando-se a elevada fertilidade natural dos solos do município e as condições climáticas ideais ao cultivo de alguns gêneros agrícolas, como o café, o preço médio das terras nepomucenenses é relativamente baixo.

Assim, a presente pesquisa abarca o município de Nepomuceno, o qual está localizado na região de planejamento Sul de Minas (Figura 01), com aproximadamente 27 mil habitantes (VILAS BOAS, 2017). Sua situação é privilegiada, proporcionando a extração de renda da terra diferencial I – que deriva da fertilidade natural dos solos e de sua localização, pois o município está situado a aproximadamente 11 quilômetros da Rodovia Fernão Dias (BR-381), a qual interliga as unidades federativas de Minas Gerais e São Paulo, facilitando o deslocamento até importantes metrópoles nacionais, como São Paulo e Belo Horizonte.

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A cafeicultura se destaca no município, assim como em seu entorno, desde primórdios do século XX, em decorrência da área ocupada, do volume produzido e do valor monetário auferido. Segundo dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2016a), Nepomuceno era o 15º maior produtor de café do país no ano de 2016. Ademais, o setor granjeiro também é importante no cenário local, em virtude da presença do Aviário Santo Antônio (ASA), uma das maiores empresas avicultoras do Brasil.

O potencial do município na cafeicultura é conhecido há mais de um século, constituindo-se como atrativo de imigrantes, sobretudo italianos, para a cidade. O Livro do Centenário, redigido pela Prefeitura Municipal de Nepomuceno (1922), salienta que à época, Nepomuceno já se destacava pela fertilidade de suas terras, as quais eram consideradas ideais ao cultivo do café por especialistas no assunto.

Vaca (2013b; 2015) e Vilas Boas (2016a; 2016c) enaltecem a relevância dos avanços nos meios de transporte e de comunicação para o desenvolvimento da economia local, sobretudo da agropecuária, pois facilitaram o escoamento da produção cafeeira. Portanto, no primeiro quartel dos novecentos, avanços oriundos da indústria já contribuíam para o crescimento econômico municipal.

A pesquisa foi efetivada no município de Nepomuceno devido às suas singularidades socioespaciais – como a atuação de três grandes cooperativas (Capebe, Cocatrel e Cooxupé) na agricultura municipal, o expressivo número de pequenos estabelecimentos agropecuários e de agricultores familiares, o baixo percentual de população ocupada em empregos formais, o destaque na produção cafeeira e o impacto da produção e da colheita do café na economia local – as quais possibilitam a compreensão da apropriação da agricultura familiar pelo modo de produção capitalista. A notoriedade lograda pela cafeicultura remete à fertilidade natural de seus solos, assim como à influência dos imigrantes italianos que promoveram a difusão da cafeicultura no município.

Hodiernamente, a agricultura nepomucenense guarda semelhanças com o panorama agrário brasileiro e mundial, pois é baseada na monocultura e na intensa utilização dos insumos urbano-industriais, como os pesticidas, os fertilizantes químicos e os grãos transgênicos, cuja comercialização é monopolizada por algumas corporações do setor agroquímico (OLIVEIRA, 2016). Além disso, caracteriza-se pela intensificação e insalubridade do trabalho (CROCCO et al., 2017), especialmente durante a colheita, e é muito dependente dos mercados internacionais, uma vez que o principal gênero cultivado no município – o café – tem seu preço venal definido por sua cotação nas Bolsas de Mercados de Futuros.

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Destarte, este gênero agrícola é uma commodity, assim como outros alimentos lavrados ou extraídos em solo nacional. Conforme enuncia Topik (2003), o café se tornou uma commodity no desfecho do século XIX, pois neste ínterim, os agentes capitalistas já efetivavam a venda de plantações ainda não cultivadas em distintos locais. Compravam-se as ações, uma produção futura, não os grãos propriamente ditos.

Nesta esfera, Schouchana e Miceli (2004) definem as commodities como produtos primários cuja negociação ocorre nas Bolsas de Mercados de Futuros, nas quais as mercadorias são comercializadas para entrega em prazo estipulado. Por conseguinte, seu consumo não é imediato, visto que sua entrega ocorre num momento posterior à venda. Além disso, são produzidas em larga escala, direcionadas à exportação e negociadas em escala mundial.

Apesar de Nepomuceno ser um dos maiores produtores de café do país, os agricultores locais não usufruem das benesses proporcionadas pelos lucros oriundos da cafeicultura, os quais são apossados, em sua maioria, pelos capitalistas do setor financeiro-industrial. A maioria das propriedades agrícolas municipais pode ser classificada como pertencente à agricultura familiar, visto que atende aos parâmetros exigidos pela legislação nacional, como a gestão e o trabalho familiares, dimensões inferiores a quatro módulos fiscais, maioria da renda oriunda de atividades desempenhadas no próprio estabelecimento familiar, entre outras (BRASIL, 2006).

Neste sentido, o objetivo geral deste trabalho é analisar os impactos da negociação dos gêneros agrícolas como commodities para a soberania alimentar dos agricultores familiares e as consequências da associação às cooperativas agropecuárias de caráter empresarial para a agricultura familiar. Atrelados ao objetivo geral, os objetivos específicos da pesquisa são (I) identificar e distinguir os tipos de agricultura familiar existentes em Nepomuceno no contexto da produção capitalista, com base nas categorias de estabelecimentos agrícolas definidas por Lamarche (1993; 2008), (II) explicar as formas e as estratégias de produção vigentes na agricultura familiar no município, (III) avaliar a situação de soberania alimentar dos agricultores familiares de Nepomuceno, (IV) explicar a ação das cooperativas na cafeicultura nepomucenense e, (V) avaliar as estratégias empreendidas para a integração e a absorção da agricultura familiar pelo mercado capitalista.

Os sujeitos desta pesquisa são os agricultores familiares do município de Nepomuceno. Deste modo, aspira-se abranger a diversidade social da agricultura familiar nepomucenense, pois esta classificação engloba diferentes tipos de grupos, como os produtores agrícolas, os aquicultores, os quilombolas e os indígenas (BRASIL, 2006). Por

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conseguinte, neste grupo populacional, encontram-se tanto os agricultores vinculados ao mercado – de cunho empresarial e/ou atrelados às cooperativas, quanto os que produzem para autoconsumo ou comercializam nas feiras municipais e/ou em outros locais.

Assim sendo, a pesquisa também almeja investigar os pequenos agricultores que não aderiram à lógica mercantilista empresarial, tampouco à monocultura, constituindo alternativas e possibilidades frente à agricultura familiar empresarial hegemônica no município. Neste contexto, alguns produtores municipais cultivam frutas, legumes e verduras para autoconsumo ou para a venda em supermercados e feiras do município e de cidades adjacentes.

Apesar de o município possuir apenas cinco grandes propriedades rurais e nenhum latifúndio, segundo a classificação e o cadastro realizados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a agricultura local é dominada por relações capitalistas de trabalho e produção (VILAS BOAS, 2016c). Neste contexto, é válido salientar que os problemas recentes no campo e na agricultura nacionais não são decorrentes apenas da concentração fundiária. A baixa produtividade dos latifúndios, o caráter ocioso da terra e a baixa tecnificação da produção latifundiária são características utilizadas como argumentos por Caume (2009) e Vilas Boas (2016a) para corroborar a perda de importância da concentração de terras no panorama brasileiro recente. Não obstante, a agricultura patronal está intimamente associada ao capital nos tempos hodiernos, pois utiliza intensivamente os fatores produtivos e a mão de obra, possui elevada produtividade, é pautada no trabalho assalariado, entre outras características basilares do modo de produção capitalista, desde os primórdios do capitalismo industrial (VILAS BOAS, 2018).

A subordinação da agricultura familiar nepomucenense ao modo de produção capitalista revela diversas facetas da conjuntura agrária nacional, como: a integração ao agronegócio, a adesão ao pacote tecnológico advindo da Revolução Verde – iniciada nos anos 1950 com a difusão da adubação química e, intensificada a partir do decênio de 1980 e 1990 devido ao emprego massivo de praguicidas e máquinas agrícolas –, a crescente atuação das cooperativas capitalistas no campo, a produção monocultora diretamente influenciada pelos mercados internacionais, a intensificação e a exploração do trabalho por meio de estratégias como o pagamento por produtividade.

Desta maneira, a pesquisa concretizada no município de Nepomuceno, ao conjugar as abordagens teóricas da Geografia Agrária à materialidade das relações de trabalho e de produção municipais, pode contribuir para a compreensão das recentes mudanças experimentadas pela agricultura brasileira e de suas consequências socioeconômicas, como o

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aumento da dependência frente ao mercado externo e ao capital financeiro-industrial. O debate sobre a agricultura e as relações capitalistas que perpassam a produção e o trabalho agrícolas se mostra imprescindível, dado o desmonte do Estado e o avanço neoliberal no campo e na agricultura, processos que se acentuaram nos últimos anos e impactam diretamente as dietas alimentares, uma vez que influenciam a qualidade dos gêneros alimentícios cultivados e seus preços venais.

Segundo Oliveira (2007), a propriedade fundiária privada prevalece, com relação à área ocupada, no território brasileiro. Tal característica é fundamental à hegemonia das ações típicas do modo de produção capitalista no campo, pois de acordo com Marx (1983), a inserção do capital no ramo agrícola depende da propriedade privada da terra, a qual propicia a disseminação de diversas práticas e relações capitalistas de produção e de trabalho no campo e na agricultura.

Neste âmbito, o trabalho assalariado na agricultura nacional, cujas remunerações são diminutas, produz um quantitativo colossal de mais-valia, devido à intensa exploração do proletariado rural, o qual se encontra imerso numa vasta gama de procedimentos executados para ampliação dos lucros, os quais o impelem ao aumento da produtividade (COSTA NETO, 1998). Em 2017, a remuneração média dos empregados dos setores de agropecuária, extração vegetal, caça e pesca foi de 1,85 salários mínimos no Brasil e 1,82 salários mínimos na região Sudeste1 (IBGE, 2017b). A despeito da ampliação da produção agrícola no país e do

enaltecimento do agronegócio efetuado pelos veículos midiáticos, as condições de trabalho no campo continuam precárias, apresentando diversos aspectos insalubres e jornadas de trabalho extenuantes. Acerca da mais-valia, Kautsky (1980, p. 42) disserta:

A mais-valia decorre do fato de ser a força de trabalho humana capaz de criar uma soma de produtos superior à que é necessária à sua conservação e à sua reprodução, a partir do momento em que a evolução do aparelhamento técnico atinge certo grau. Um excedente dessa espécie, um produto líquido é fornecido, desde tempos imemoriais, pelo trabalho humano. Todo o progresso de civilização se condiciona ao aumento progressivo desse excedente mediante o aperfeiçoamento da técnica. Destarte, os escritos em destaque corroboram o crescimento da exploração da mais-valia em decorrência da evolução técnica. No decurso da história, a introdução de novas técnicas de produção na agricultura elevou sua eficiência produtiva, incidindo na chegada do

1 Cabe sublinhar que os dados fornecidos pelo Anuário da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e publicados pelo IBGE (2017b) se referem apenas aos postos de trabalho formais. Por conseguinte, as ocupações não formalizadas e/ou sem carteira assinada, comuns no campo brasileiro especialmente em trabalhos temporários, não são contabilizadas nas estatísticas publicadas pelo órgão.

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trabalho assalariado ao campo, na mecanização agrícola, na ampliação da mais-valia, na difusão de práticas monocultoras, entre outros processos.

Hodiernamente, vários artefatos urbano-industriais se disseminaram pelo campo brasileiro, sobretudo a partir do processo denominado Modernização Agrícola, o qual alterou profundamente a estrutura agrária do país, promovendo a mecanização da produção, o aumento do desemprego agrícola/rural e a integração da agricultura ao modo de produção capitalista. No tocante ao assunto, Santos (2006) explica que, em virtude destas mudanças, estreitou-se o vínculo entre campo e cidade no Brasil. Ademais, Oliveira (2007; 2016) enuncia que houve a ampliação da subordinação da agricultura em relação à indústria, especialmente em decorrência da difusão do uso de insumos agrícolas provenientes das corporações oligopolistas do setor de biotecnologia.

Neste contexto, múltiplas e diversas são as relações entre campo e cidade. Consequentemente, esses espaços não podem ser compreendidos de forma dicotômica, visto que os insumos oriundos dos setores urbano-industriais são empregados na agropecuária, bem como as urbes brasileiras consomem alimentos advindos do campo, sobretudo da agricultura familiar, a qual é responsável pela produção de mais de 50% dos alimentos que compõem a cesta básica nacional (SEAD, 2017).

Para Santos (2006), as técnicas correntes tornaram o mundo agrário bastante racional e previsível. A racionalização da estrutura produtiva agrícola é vantajosa aos capitalistas, os quais dispõem de mais técnicas e recursos para previsão de intempéries, análise dos recursos naturais e de fatores locacionais, entre outros aspectos. Desta maneira, reduzem os custos da produção e alargam a produtividade das lavouras, incidindo na expansão dos lucros obtidos na venda.

Martins (2000) afirma que os pequenos agricultores não estão excluídos do mercado capitalista, mas incluídos marginal e precariamente como produtores e consumidores de mercadorias, cujas forças de trabalho e mais-valia são diariamente exploradas e extraídas, respectivamente. Assim, não gozam de todos os direitos sociais assegurados aos trabalhadores, tampouco usufruem das riquezas geradas por seu trabalho, pois sua distribuição é desigual. A eles, é paga apenas uma pequena parcela do valor produzido por meio de seu trabalho.

Assim sendo, esses agricultores, mesmo que de maneira não proposital, servem aos interesses capitalistas, quando, por exemplo, empenham-se para aumentar a produtividade do solo por meio da intensificação de seu trabalho. Como os pequenos produtores agrícolas dependem de sua produção para a sobrevivência, dedicam-se ao máximo ao trabalho, na

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tentativa de ampliarem seus rendimentos. Consequentemente, a produtividade é majorada visando acréscimos nas receitas financeiras do grupo familiar.

Kautsky (1980) assinala que a inserção do capitalismo na agricultura ocorreu com algumas peculiaridades em comparação com outros setores da economia. Sob esse ângulo, o autor advoga que uma reduzida concentração fundiária não denota baixa inserção do capitalismo na agricultura. Há mais de um século, Kautsky (1980) mostrou que o desenvolvimento industrial é o principal responsável por promover a introdução do capitalismo no ramo agrícola.

Segundo o autor, o crescimento da indústria capitalista causou a desestruturação da indústria camponesa e, consequentemente, a diminuição do número de pequenas propriedades rurais. A inserção de técnicas industriais na produção agrícola promoveu sua sujeição ao modo de produção capitalista. Neste contexto, a adubação artificial foi disseminada entre os agricultores, promovendo a adesão à lógica mercantil de produção e a dispensa de métodos naturais de conservação dos solos, como o consórcio e a rotação de culturas. Incapazes de enfrentar a concorrência capitalista, muitos camponeses abandonaram o campo e passaram a trabalhar como assalariados na indústria ou em terras alheias. A proletarização do campesinato foi uma condição sine qua non para o desenvolvimento do capitalismo, o qual se baseia no antagonismo entre os capitalistas proprietários dos meios de produção e os trabalhadores assalariados (KAUTSKY, 1980).

Ante o contexto de domínio capitalista na agropecuária, muitos teóricos, como Andrade (1979), Graziano da Silva (1982), Martins (1990a) e Stédile (2012), afirmaram que a concentração fundiária era a responsável por muitas das mazelas existentes no campo nacional. Nos tempos recentes, o panorama agrário sul-mineiro sofreu algumas modificações, uma vez que as empresas capitalistas, além da preocupação com a compra da terra em si, também se interessam muito pelo controle da produção, inserindo o pequeno agricultor na lógica mercantil. Deste modo, considerando-se as recentes mudanças na questão agrária nacional, almeja-se discutir as estratégias capitalistas desenvolvidas na agricultura nepomucenense, as quais vinculam a produção municipal à lógica mercantil dominante na conjuntura agrária mundial.

Sublinha-se que no Sul de Minas Gerais, região afamada pela elevada fertilidade de seus solos, os capitalistas não se importam tanto com a compra de terras como se preocupavam em décadas anteriores, mas direcionam seus esforços para o controle do processo produtivo. As cooperativas agropecuárias atuantes nos municípios sul-mineiros controlam a produção cafeeira regional, apesar de não monopolizarem a propriedade da terra

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na região. No entanto, em regiões como o Norte, o Centro-Oeste, o Agreste e o Sertão nordestinos, cuja fertilidade natural é baixa, as empresas engendram diversas estratégias para a aquisição de terras destinadas à sojicultura, à fruticultura, entre outras atividades. O diminuto preço venal das terras nessas regiões e o desenvolvimento de técnicas de fertilização e correção artificial dos solos reverberaram no crescimento da agricultura regional e da aquisição de terras por empresários agrícolas brasileiros e estrangeiros.

Em conformidade com Oliveira (2012), a pesquisa bibliográfica, por meio da revisão literária, e o trabalho de campo são componentes do tipo de pesquisa eleito. Assim, a primeira etapa do trabalho foi pautada na leitura e análise de referências bibliográficas relativas aos temas discutidos, de modo a proporcionar maior aprofundamento nas teorias e conceitos estudados. Desta maneira, a pesquisa bibliográfica forneceu o subsídio teórico-metodológico necessário ao trabalho de campo, principalmente no que concerne às temáticas relacionadas à agricultura familiar, à agricultura camponesa, à produção agrícola familiar, ao trabalho agrícola, à cafeicultura, às cooperativas, às feiras livres e à soberania alimentar.

Ademais, a análise documental também contribuiu para a concretização da pesquisa, pautando-se na leitura e na interpretação de estudos acadêmicos já realizados sobre diversos temas (TRIVIÑOS, 1995; OLIVEIRA, 2012), como: a agricultura familiar, o campesinato, a soberania alimentar, as relações capitalistas de produção e de trabalho no campo, as feiras livres, as cooperativas agropecuárias, a cafeicultura e a agricultura orgânica.

Na pesquisa documental, também foram efetuadas a análise e a interpretação de dados e informações relativos à produção agrícola nepomucenense, à contração de empréstimos, à adesão ao PRONAF, aos tipos de preparo do solo, aos insumos empregados na produção, à associação às cooperativas, aos contratos de uso da terra no município, entre outros assuntos. Os dados foram obtidos por meio de publicações de órgãos e entidades estatais, tais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

A pesquisa em campo foi realizada entre março de 2016 e março de 2019, por meio da visita às propriedades agrícolas do município, averiguando aspectos capitalistas presentes na produção dos imóveis rurais, além dos fatores que interferem na problemática alimentícia municipal, como a diversidade de gêneros cultivados, os métodos de fertilização e conservação dos solos, o direcionamento da produção, as relações e as formas de trabalho desenvolvidas nos estabelecimentos agropecuários. Salienta-se que o aporte teórico disponibilizado pela bibliografia foi utilizado durante todo o estudo, isto é, foi mobilizado

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conforme o progresso e as necessidades da pesquisa efetivada. A cada novo fenômeno ou fato observado na conjuntura agrária municipal, diferentes referências bibliográficas relativas ao tema eram consultadas com o intuito de obter mais conhecimentos acerca do assunto e auxiliar a análise e a interpretação da realidade.

Após o início da realização da pesquisa bibliográfica e da análise documental, a caminhada transversal ou participativa – um dos procedimentos que compõem o Diagnóstico Rural Participativo (DRP) – também foi empregada no decorrer das investigações realizadas em 50 das 60 propriedades agrícolas estudadas. Atualmente, o DRP é uma metodologia aplicada por algumas organizações não governamentais e órgãos estatais mundo afora para o estudo de propriedades rurais. Além disso, compõe pesquisas de caráter mais participativo, almejando o empoderamento da população local e a efetivação de ações locais sustentáveis, visando a preservação ambiental.

Em consonância com Chambers (1994a; 1994b) e Souza (2009a), por intermédio da técnica de caminhada transversal, a área produtiva das propriedades rurais foi percorrida duas vezes entre janeiro e março de 2017 e junho e agosto de 2018, com o intuito de avaliar seus aspectos físicos e históricos, bem como de obter informações referentes à produção, às formas e relações de trabalho, à ocupação e à posse da propriedade, às questões ambientais, entre outras características. Neste procedimento, o pesquisador deve anotar informações pronunciadas pelos moradores e elementos perceptíveis no trajeto efetivado pelo espaço rural, muitos dos quais não são expostos durante as entrevistas e revelam importantes aspectos dos locais estudados.

Durante a caminhada transversal, foi realizada a varredura de quintais, procedimento cujo principal intuito é a obtenção de mais informações acerca da produção e das condições de vida e dos hábitos da população estudada. A varredura de quintais consiste em percorrer os quintais, os quais estão compreendidos entre o local da residência e a área ocupada pela lavoura, a fim de observar e conhecer mais elementos intrínsecos ao modo de vida e à produção do grupo pesquisado. No tocante à importância dos quintais no estudo de grupos populacionais rurais, Almeida (2016, s. p.) afirma que:

O quintal é o espaço singular do entorno das moradias no qual se produz a vida, pelo que se cria, pelo que se cultiva, pelo cuidado em sua manutenção e pelas várias atividades do labor e da socialização cotidianamente ali desenvolvidas. Nas comunidades rurais ele é a transição entre o domesticado e a natureza “mato”, no linguajar dos homens do campo.

Muitos dos objetos encontrados nos quintais corroboram a relação entre o local e o global, a qual se manifesta também nas propriedades rurais. Neste âmbito, Almeida (2016)

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mostra que programas assistencialistas estatais, como o Bolsa Família, podem auxiliar a família rural na aquisição de gêneros oriundos dos mercados urbanos. Tais produtos são, muitas vezes, fabricados por empresas multinacionais e transnacionais, as quais almejam a monopolização do setor no qual atuam. Os recipientes de insumos agroquímicos encontrados nos quintais auxiliam na compreensão da relação global-local no campo e na agricultura, pois evidenciam a origem dos produtos urbano-industriais utilizados na lavoura. Ademais, Almeida (2016) considera o quintal como o espaço que preserva e revela inúmeros conhecimentos dos habitantes rurais, concernentes aos alimentos, às plantas medicinais, à relação com a natureza, entre outros. Tais práticas são transmitidas através das gerações, compondo parte essencial da história destes grupos populacionais. Consistindo, muitas vezes, em extensões do espaço doméstico, os quintais preservam conhecimentos tradicionais e favorecem a manutenção da agrobiodiversidade e a segurança alimentar das populações (FURLAN et al., 2017). Assim sendo, são espaços de resistência que possibilitam a preservação de práticas e conhecimentos camponeses.

O quintal é um espaço de trocas culturais e socialização de hábitos, caracterizado também pelas experimentações e pela formulação de novos conhecimentos com base nos preexistentes. Sob essa perspectiva, é importante distinguir os quintais de áreas rurais e urbanas, uma vez que no campo os quintais apresentam características vinculadas à preservação ambiental e à produção agropecuária (FURLAN et al., 2017). Segundo Aguiar (2017), os quintais produtivos são áreas que abrangem as moradias e os espaços adjacentes a elas, os quais são empregados para o cultivo de alimentos (principalmente frutas e hortaliças) consumidos pela família e de plantas com fins medicinais, e para criação de animais de pequeno porte, como galináceos e suínos. Nos quintais rurais de Nepomuceno são cultivadas espécies vegetais destinadas ao tempero de refeições, ao uso medicinal e à produção de hortaliças. Além disso, destacam-se a criação de aves e as árvores frutíferas, além de espécies vegetais, especialmente com flores, que se destinam à função paisagística.

As caminhadas transversais e as varreduras de quintais integrarão o trabalho de campo e foram realizadas de forma mais espontânea, com a companhia dos moradores dos estabelecimentos agropecuários pesquisados, os quais narravam fatos sobre o histórico dos imóveis, o trabalho e a produção desenvolvidos em suas terras. Ao todo, os procedimentos foram efetuados duas vezes em 50 propriedades diferentes. Encontrou-se nos quintais algumas espécies de hortaliças, frutas e legumes cujo cultivo não foi mencionado pelos agricultores durante a realização das entrevistas. Todavia, muitas embalagens de agrotóxicos e fertilizantes químicos descartadas inadequadamente foram encontradas nas lavouras e nos

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quintais, evidenciando o uso destes insumos na produção agrícola. Em alguns locais, observou-se que os recipientes vazios de praguicidas foram reutilizados, aumentando os riscos de contaminação de seus habitantes e dos recursos naturais, como as águas e os solos.

As idas a campo almejaram a ampliação do contato com os sujeitos pesquisados e maiores informações sobre o tema estudado, sobretudo por meio das entrevistas semiestruturadas e dos diálogos, procedimentos cujo intuito é a obtenção de informações acerca da produção agrícola familiar e de suas principais características, tais como: os gêneros alimentícios cultivados, as formas de produção e de trabalho, os insumos e utensílios utilizados no cultivo e as formas de comercialização dos víveres produzidos.

Conforme argumenta Lacoste (2006), a pesquisa de campo carece de um tempo mínimo de convivência no local de estudo e com a população investigada. Em sua ótica, constitui um equívoco o pesquisador permanecer poucos instantes na área estudada. Além disso, o autor defende a divulgação, através de linguagem acessível, dos resultados da pesquisa aos sujeitos nela envolvidos. Assim sendo, o trabalho de campo, realizado em diferentes épocas do ano entre os meses de março de 2016 e março de 2019, visou o maior tempo possível de contato com os indivíduos pesquisados e a área avaliada, de modo a construir o máximo de informações acerca da realidade examinada. Foram realizadas entre três e quatro visitas, cuja duração variou, em média, de 2 a 5 horas, a cada uma das 60 propriedades agrícolas analisadas no município. Foi utilizada a amostragem em bola de neve, a qual é uma forma de amostra baseada em cadeias de referência (VINUTO, 2014). Os primeiros estabelecimentos selecionados para a pesquisa pertencem a pessoas conhecidas, dentre as quais se destacam os pais de discentes do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) - Unidade Nepomuceno, instituição na qual trabalho. Posteriormente, esses sujeitos indicaram e conversaram com outros agricultores, que consentiram com a participação no estudo.

Desta maneira, o capítulo intitulado “Considerações Teórico-Metodológicas” efetivou um debate conceitual acerca da agricultura familiar e da agricultura camponesa, mostrando as dessemelhanças existentes entre elas. A tipologia dos modelos de funcionamento dos estabelecimentos agrícolas, desenvolvida por Lamarche (2008), subsidiou o estudo da diversidade de formas de agricultura familiar presentes em Nepomuceno.

O capítulo “A Cafeicultura em Nepomuceno-MG e no Sul de Minas Gerais: Histórico (Séculos XIX-XX) e Situação Atual” articulou, por meio de pesquisa documental desenvolvida com análise de fontes primárias (especialmente os dados divulgados pelo Arquivo Público Mineiro) e secundárias (principalmente artigos e livros científicos), um

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breve histórico acerca da cafeicultura na porção sul do território de Minas Gerais e em Nepomuceno, dialogando com o contexto histórico nacional e mundial, a fim de melhorar a compreensão acerca da cafeicultura no município e de sua disseminação em terras nepomucenenses, visto que o café é um gênero fundamental para o Produto Interno Bruto (PIB) municipal. Destarte, a produção cafeeira foi abordada, salientando características como as formas de produção, os insumos utilizados, a venda dos grãos produzidos, entre outros.

O capítulo subsequente, intitulado “Produção Agrícola e Soberania Alimentar no Município de Nepomuceno-MG no Período 1995-2017”, discutiu as formas e os métodos de produção empregados na agricultura familiar municipal, assim como destacou os principais gêneros cultivados em terras nepomucenenses e avaliou a situação de soberania alimentar dos agricultores familiares do município.

Além disso, pretendeu-se abordar a produção agrícola municipal, bem como compreender as estratégias, formas e relações de produção da/na agricultura familiar nepomucenense, através das visitas às propriedades agrícolas estudadas, das entrevistas semiestruturadas individuais (Anexo I) e dos diálogos efetivados com os produtores municipais, aliados à revisão bibliográfica relativa à temática. Neste âmbito, a condição de soberania alimentar dos agricultores familiares municipais foi investigada, uma vez que essa categoria avalia aspectos como a dependência em relação ao mercado, característica não aventada pelos critérios da segurança alimentar.

Já o capítulo denominado “Caracterização e Condições de Vida dos Agricultores Familiares em Nepomuceno-MG” analisou, por intermédio da tipologia de estabelecimentos agropecuários de Lamarche (2008), a agricultura familiar municipal, com ênfase no emprego de insumos agroquímicos e máquinas agrícolas na produção, bem como em suas consequências para os agricultores. Ademais, os arrendamentos, os quais são comuns no município há mais de um século, também foram abordados.

No capítulo “Relações Capitalistas e a Precarização do Trabalho dos Agricultores Familiares em Nepomuceno-MG”, são discutidas as relações capitalistas vigorantes na agricultura familiar nepomucenense, sobretudo no que concerne aos aspectos vinculados à terra, à produção e ao trabalho. Assim sendo, os estabelecimentos agrícolas caracterizados pela produção empresarial foram estudados, discutindo-se aspectos como o seu vínculo e a dependência em relação ao mercado, a contração de empréstimos e financiamentos, a exploração e a intensificação do trabalho. Elementos comuns ao trabalho agrícola, como o pagamento por produtividade, a ausência de contratos formais de trabalho e a falsa sensação de controle sobre o processo produtivo, também foram avaliados.

Referências

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