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MMXX S CAENA REVISTA DO MUSEU DE LISBOA TEATRO ROMANO ESTUDOS DO TEATRO ROMANO

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(1)

I

S C A E N A

R E V I S TA D O M U S E U D E L I S B OA – T E AT RO RO M A N O

M M X X - 2 0 2 0

E S T U D O S D O

T E A T R O R O M A N O

(2)

S C A E N A

R E V I S TA D O M U S E U D E L I S B OA – T E AT RO RO M A N O

M M X X - 2 0 2 0

E S T U D O S D O

T E A T R O R O M A N O

(3)

S C A E N A S C A E N A

I. O M USEU DE L ISBOA

– TE ATRO ROM A NO

. . . 11

Museu de Lisboa – Teatro Romano.

Espaço museográfico e património arqueológico

Lídia Fernandes . . . 12

O Museu de Lisboa – Teatro Romano:

o Projeto de Arquitetura

Daniela Ermano e João Carrasco . . . 30

Intervenção estrutural

no Museu de Lisboa – Teatro Romano

João Appleton, Vasco Appleton, Rita Gonçalves e Inês Avó Almeida . . . 40

II. A N TES E DEPOIS DO TE ATRO

. . . 45

Antes do teatro: a cidade de Olisipo

no período romano republicano

João Pimenta . . . 46

O fim do teatro romano: abandono ou destruição

Lídia Fernandes e Marco Calado . . . 62

O Museu de Lisboa – Teatro Romano: um testemunho

da época industrial na cidade de Lisboa

Isabel Cameira . . . 70

III. A CI DA DE DE FEL ICITAS

I U L I A OL ISI PO E O SEU TE ATRO

. . . 81

Felicitas Iulia Olisipo

a Lisboa Romana

Carlos Fabião . . . 82

Notas sobre a paisagem epigráfica da Lisboa romana

José d’Encarnação . . . 98

I V. CER Â M IC AS E A RG A M ASSAS

DO TE ATRO ROM A NO

. . . 111

As argamassas romanas do teatro de Olisipo:

caracterização e importância do seu estudo

João Coroado . . . 112

A cerâmica fina romana do teatro de Olisipo

Eurico de Sepúlveda e Catarina Bolila . . . 120

As ânforas romanas do teatro de Olisipo

Victor Filipe . . . 136

V. A BSTR ACTS

. . . 155

Í N DICE

© P au lo A le xa ndr in o

(4)

C A E N A C A E N A © P au lo A le xa ndr in o

(5)

e d it o ri al e d it o ri al S C A E N A S C A E N A

EM CENA NO

TE ATRO ROM A NO

Lídia Fernandes

Coordenadora do Museu de Lisboa – Teatro Romano / EGEAC

A

apresentação do primeiro número da revista Scaena em

2020 não é inocente. Com efeito, comemoramos este ano

os 222 anos da descoberta do teatro romano de Lisboa,

ocorrida em 1798. Nesse longínquo ano renovava-se esta zona da

ci-dade, no decurso das obras de reconstrução após o grande

terra-moto de 1755.

Em 2020 comemoramos o facto de tal descoberta não ter sido vã apesar

de o seu destino imediato não ter sido auspicioso. O teatro voltaria a

ser enterrado e só várias décadas mais tarde tornaria a ser descoberto.

O percurso que a investigação sobre este monumento tem sofrido

ao longo dos tempos tem sido inconstante. Desde 2001, com a

cons-tituição de um museu a ele dedicado, a atenção dada ao sítio

arqueo-lógico foi maior, tendo-se iniciado a partir de então e de forma mais

sistemática, a realização de intervenções arqueológicas. Mas foi,

es-pecialmente a partir de 2015, após a finalização da intervenção

arqueológica no interior do museu, obrigando a obras de

remodela-ção no mesmo e suscitando uma nova exposiremodela-ção de longa duraremodela-ção,

que inaugurou uma nova vida do sítio arqueológico.

Novos conteúdos e novas atividades para um público mais

abran-gente. Novas ações de conservação e restauro, exposições

temporá-rias diversas e vátemporá-rias publicações contribuíram para uma

valoriza-ção do teatro romano que constitui o mais antigo teatro em

território nacional. Um património histórico e arqueológico de

enor-me valor e um museu que dele toma a designação, mas que o

ultra-passa. Atualmente o Museu de Lisboa – Teatro Romano, constitui-se

como um museu de sítio pois é o monumento, mas também a sua

envolvente e a história diacrónica de ambos, que são dados a conhecer.

É precisamente para melhor enraizar tais conhecimentos e

divulgá--los que optámos pela criação de uma revista que apresente novos

estudos sobre o teatro romano entendido este como ponto de

parti-da para o conhecimento parti-da ciparti-dade.

A partir de agora o Museu de Lisboa – Teatro Romano conta com

uma revista de periodicidade anual. O seu nome, Scaena, é um

ter-mo latino que significa “cena”, ou “em palco” e deriva do terter-mo

gre-go Skene, com idêntico significado. Pensamos que esta é a

designa-ção perfeita para o objetivo que se pretende alcançar: colocar em

cena novos conhecimentos, diversas abordagens, estudos e ensaios

que nos permitam conhecer mais e melhor o património e a cidade.

(6)

e d it o ri al e d it o ri al C A E N A C A E N A

“A SA BEDOR I A É

A PA RTE SU PR EM A

DA FELICIDA DE”

(SÓFOCL ES)

Joana Sousa Monteiro

Diretora do Museu de Lisboa / EGEAC

P

ara o Museu de Lisboa, como para a generalidade dos museus,

a investigação é a função museológica primordial por

exce-lência, sem a qual o inventário, a documentação, a

conserva-ção, a exposição e a educação não podem assumir lugar pertinente.

Herdeiro do antigo Museu da Cidade, o Museu de Lisboa é, desde

2015, constituído por cinco núcleos: o núcleo-sede no Palácio

Pimenta, o núcleo dedicado ao Santo António, o Torreão Poente da

Praça do Comércio para exposições temporárias, o núcleo

arqueo-lógico no piso térreo da Casa dos Bicos, e o Teatro Romano, um

mu-seu de sítio com a dupla valência das ruínas do teatro do século I

e do museu propriamente dito que lhe é fronteiro.

A par de diversos projetos de médio e longo prazo de renovação

e modernização dos espaços, das exposições de longa duração,

da comunicação e da programação educativa, temo-nos dedicado

a investigar as extensas coleções do Museu, de modo a melhorar a

sua documentação, a executar programas expositivos diferenciados

e a promover novas ofertas de mediação. Sempre que possível, os

pro-jetos de investigação obtêm a respetiva concretização sob a forma

de publicações.

Na verdade, este é um dos eixos estruturantes do novo Museu de

Lisboa: a produção, ora interna, ora com recurso a colaborações

ex-teriores, de catálogos de todas as exposições temporárias de relevo,

bem como a edição de publicações monográficas relativas a bens

do acervo ou até a peças de outras coleções com particular valor

para a história da cidade. Só em 2019, o Museu de Lisboa editou

e apresentou ao público cinco publicações.

Vem agora a equipa do Museu de Lisboa – Teatro Romano

enrique-cer sobremaneira a nossa política editorial com uma nova revista

científica de periodicidade anual, a Scaena, dedicada ao

monumen-to cénico, ao período romano de Lisboa, à arqueologia e a temas

transversais à história da cidade. A seleção de temas e de autores

tem por objetivo abranger leitores da comunidade científica, mas

também do público não especialista. Este primeiro número é

dedi-cado ao próprio Teatro Romano de Lisboa, um equipamento cultural

imensamente rico, sobre o qual as novas investigações não cessam de

nos surpreender e especialmente aos trabalhos de remodelação

ocorridos entre 2013 e 2015 quando abriu, de novo, as suas portas

ao público.

(7)

C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O S C A E N A S C A E N A

Carlos Fabião

Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Centro de Arqueologia da

Universidade de Lisboa (UNIARQ) cfabiao@campus.ul.pt

FELICITAS

IULIA OLISIPO

A Lisboa Romana

A

presenta-se uma breve síntese sobre o actual conhecimento

da cidade romana de Felicitas Iulia Olisipo, explicando

como foi, primeiro, conhecida de um ponto de vista literário

e através das inscrições gravadas em pedra, depois, revelada pela

reconstrução que se seguiu ao grande terramoto de 1755 e,

final-men te, hoje em dia, cada vez mais revelada pelas intervenções

arqueológicas no tecido urbano, decorrentes da reabilitação e

recon-versão do edificado.

Sabemos agora que, apesar da sua localização periférica, nos confins

do mundo conhecido, a grande cidade portuária romana explorava

os recursos marinhos que a riqueza piscícola do Atlântico lhe

pro-porcionava, exportava os seus preparados de peixe, tirava partido

da riqueza aurífera do Tejo e dos recursos agrícolas possibilitados

pelos bons solos da região.

(8)

C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O C A E N A C A E N A

I

O conhecimento da cidade

No sítio onde hoje se ergue Lisboa existiram ao longo dos tempos várias outras cidades. Há dois mil anos atrás, chamava-se Felicitas Iulia Olisipo e era uma das mais ocidentais cidades do vasto Império Romano. As referências da literatura antiga e a presença de um apreciável número de inscrições latinas lavradas sobre pedra documentavam sem lugar a dúvidas o lugar e o nome da cidade. A partir do século XVI, quando a cultura europeia valorizou especialmente o passado romano, os Humanistas começaram a transcrever essas mensagens em latim, à época ainda a língua franca de comunicação entre os europeus cultos. O seu interesse não se dirigia ao conhecimento da cidade propriamente dita, mas somente às mensagens escritas que constituíam o testemunho da sua existência e localização. Dos vestígios concretos dos seus edifícios ou dos objectos usados pelos seus habitantes, pouco se poderia ver e não era de todo esse o interesse dos eruditos, excepção feita a algumas moedas encontradas ocasionalmente. As epígrafes interessavam enquanto testemunhos da antiga língua do Lácio e enquanto ilustração da vetusta cidade – o conhecimento da sua existência resultava da literatura antiga e as epígrafes mais não eram do que a confirmação material dessa presença intuída / identificada pela leitura dos autores clássicos. Ao que parece, só alguns vestígios de um antigo aqueduto e da represa que o alimentava, identificados na imponente barragem que ainda se conserva em Belas, chamavam particularmente a atenção. Francisco de Holanda (1517 – 1585) fala destes vestígios em uma memória redigida em 1571, dedicada a D. Sebastião, aconselhando o monarca a criar um abastecimento de água à cidade: “E deve de trazer a Lisboa Água Livre que de duas léguas dela trouxeram

os Romanos a ela, por condutos debaixo da terra subterrâneos, furando muitos montes e com muito gasto e trabalho (...) E ali entre duas penedias asperíssimas de dois montes fizeram um muro larguíssimo e forte, que lhe represava a água de um vale em uma lagoa ou estanque (...) E ganhe Vossa Alteza esta honra de fazer este benefício a Lisboa (ou lho faça fazer) de restituir esta fonte de Água Livre, que assim se chama, a esta cidade que morre de sede, e não lhe dão água”.

Como é sabido, tardaria ainda bastante a construção definitiva do grande aqueduto das Águas Livres, mas dos muitos documentos que se conservam relacionados com o seu projecto recorrentemente se refere a possibilidade de utilizar “o cano romano” para instalar a nova comodidade. A solução final foi outra, com a imponente arcaria que vence o vale da ribeira de Alcântara e tudo indica que uma parte do moderno sistema tenha afectado irremediavelmente os vestígios da época romana, de tal sorte que ainda hoje não sabemos ao certo qual seria o traçado do aqueduto romano.

Dessas primeiras indagações, ficaram também as transcrições de muitas epígrafes, em manuscrito de André de Resende (1500-1573), nunca publicado, mas amplamente copiado e difundido entre os eruditos do seu tempo e bastante popular em tempos posteriores. A restante literatura da época, como a imagem da cidade das sete colinas, à semelhança da antiga Roma, esboçada por Damião de Góis (1502-1574), na sua descrição de Lisboa, de 1554, é essencialmente retórica

e encomiástica, não correspondendo a um conhecimento real dos vestígios da antiga urbe.

O conhecimento concreto da cidade romana, sobretudo dos seus imponentes edifícios públicos, começou a formar-se no decurso das obras de reconstrução que se seguiram ao grande terramoto de 1755. Refira-se que, um pouco antes, em 1753, na obra do edifício que ainda hoje delimita a norte o Largo da Madalena, se tinham identificado as ruínas de um sumptuoso edifício romano. De entre os restos encontrados, recuperaram-se quatro inscrições latinas, que foram incorporadas na parede oeste do imóvel, que dá para a Rua das Pedras Negras, e ainda hoje ali se conservam, uma prática habitual de conservação / exposição, onde os letreiros antigos se exibiam, atestando a prestigiante antiguidade dos lugares, que assim se viam nobilitados (Fig. 1). Como duas dessas inscrições são consagradas a Cíbele, a mãe dos deuses, é usual afirmar-se que o dito edifício “de boa fábrica romana” seria um templo consagrado a essa divindade, explicação que somente com alguma reserva se pode aceitar, tendo em atenção que as outras duas epígrafes nada têm a ver com esse culto.

Com a grande campanha de demolição das ruínas deixadas pela devastação do sismo de 1755, do incêndio que lhe sobreveio, e da reedificação da cidade, novas inscrições romanas se encontraram, em tal profusão que motivaram os primeiros esforços de conservação e constituição de um museu lapidar olisiponense, por iniciativa de Frei Manoel do Cenáculo Villas-Boas (1724-1814). O prelado fez recolher algumas ao edifício do Convento de Jesus (sede da Academia das Ciências de Lisboa) e afadigou-se na tentativa de reunir mais, ainda que sem grande êxito. Os tempos não estavam para preocupações eruditas e patrimoniais, a reconstrução urbana era absolutamente prioritária – anos mais tarde, já nos finais do século XIX, foram encontradas no subsolo lisboeta, algumas das inscrições copiadas aquando das obras de reedificação e posteriormente perdidas, misturadas nos entulhos usados nos aterros da nova cidade.

A grande novidade desta nova etapa foi a descoberta de edifícios da Olisipo romana. Certamente, muito teria aparecido, mas aquilo que conhecemos são as referências a três grandes construções públicas.

Primeiro, foi encontrado um complexo de galerias, na zona da Baixa, no ano de 1770, sucessivamente identificado como catacumbas, estabelecimento termal ou simplesmente “subterrâneos”. O complexo nunca chegou a ser reconhecido em toda a sua extensão. Um novo troço foi identificado em 1773. Na altura, realizaram-se alguns desenhos esquemáticos das galerias, mas somente mais tarde, em 1856, por intervenção de Francisco Martins de Andrade, coadjuvado pelo desenhador, José Valentim de Freitas, se realizaram observações mais criteriosas, no decurso da renovação dos colectores de esgotos da Baixa. No reconhecimento oitocentista que, uma vez mais, só abrangeu um troço do edifício, ainda assim, mais extenso do que o representado nos desenhos de 1773, foi possível perceber tratar-se de um complexo de galerias que serviam de subestrutura a um imóvel monumental revestido com placas de mármore.

Fig. 1 – Prédio com lápides romanas na Travessa do Almada. © Fotografia de José Bárcia Leitão. AML – Arquivo Fotográfico Municipal. (PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/BAR/000253)

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C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O S C A E N A S C A E N A

A partir de então, terá ficado claro que se tratava de um criptopórtico, embora o Relatório de Valentim de Freitas persista em chamar-lhe “reservatório de água” – o que se compreende, visto que trabalhou num dédalo de galerias inundadas - supondo tratar-se da água utilizada no estabelecimento termal, que seria, no seu entender, o edifício que se lhe sobrepunha. Compreensivelmente, a tradição oral alfacinha continuou a chamar às galerias “termas da Rua da Prata”, embora não seja um edifício termal e a entrada actual se faça pela Rua da Conceição (Figs. 2 e 3).

Foi também identificado em 1772, no local onde se ergueu o Palácio do Correio Mor do reino, mais tarde, Palácio Penafiel, um novo edifício, esse sim de funções termais, as chamadas “termas dos Cássios” (Thermae Cassiorum), como se podia ler em uma epígrafe latina ali encontrada que assim as designa, comemorando a sua reconstrução no ano de 336, quem sabe se em resultado de um outro sismo, ou simplesmente de um grande programa de obras públicas em algumas cidades da Lusitânia – por esta mesma época realizaram-se trabalhos de melhoramento no anfiteatro e no circo de capital Augusta Emerita (Mérida). Neste complexo, com algumas zonas em excelente estado de conservação, como se pode ver pelos desenhos então realizados (Fig. 4), documentando a presença de uma piscina que conservava toda a parede que a delimitava a norte até à altura da abóboda, bem como as respectivas canalizações em chumbo, foi encontrada uma estátua

thoracata (com couraça e atributos militares) de um personagem barbado,

que poderia ser representação do deus Marte ou de um Imperador. Embora, pelo testemunho de Manoel Roiz Maya, de 1776, saibamos que a escultura se recolheu à Sala do Risco, cedo se lhe perdeu o rasto. Nem sequer um desenho da estátua se conhece. Um mistério ainda não resolvido da arqueologia olisiponense, uma vez que não parece credível que tenha sido destruída depois de ter sido guardada, não se compreendendo também a ausência de, pelo menos, um desenho da dita.

Finalmente, no ano de 1798, os trabalhos de reconstrução revelaram o teatro da cidade romana (Fig. 5), na área compreendida entre as Ruas de S. Mamede ao Caldas e da Saudade. Os primeiros desaterros foram realizados por Manoel Caetano de Sousa, que terá procedido à desmontagem de uma parte da grande inscrição do muro do proscaenium e à recolha de uma das estátuas de Sileno que ornavam o edifício. O procedimento de Caetano de Sousa correspondeu à tradicional prática dos reconstrutores da cidade: desenhar em plano a ruína, suficientemente relevante para justificar tal registo, desmontagem e recolha dos elementos mais notáveis, neste caso, inscrições e a estátua, para libertar a área para novas edificações. Contudo, entrou em cena um outro arquitecto, o italiano Francisco Fabri, que, imbuído do espírito de estudo e valorização dos antigos edifícios romanos, que campeava então no seu país de origem, idealizou e propôs a conservação in situ das ruínas, naquela que foi a primeira proposta de musealização (como hoje chamaríamos) de um grande edifício da cidade romana. Como é sabido, a ideia não passou de tal e a conservação não se concretizou. A cidade acabaria por se refazer sobre as antigas ruínas e somente na década de 60 do século XX se voltou a pensar na valorização do edifício lúdico, não sem antes, com escândalo público, se ter edificado de novo na área do antigo teatro de Olisipo.

Fig. 2 – Planta das galerias romanas da Rua da Conceição por Augusto Vieira da Silva (1934).

Fig. 3 – Galerias romanas na rua da Prata, 1909, fotografia de Joshua Benoliel, publicada na ilustração portuguesa de 18 de outubro. © AML – Arquivo Fotográfico Municipal (PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/JBN/003501)

Passada a fase da reconstrução da cidade, a velha urbe romana pareceu cair num longo período de esquecimento, pontuado somente pela aludida intervenção de acompanhamento da renovação dos colectores de esgoto da Rua da Prata, realizada por Francisco Martins de Andrade, e pelos esforços de observação, colecção de informação e síntese do grande olisipógrafo Augusto Vieira da Silva. Mesmo a grande obra realizada no Castelo de S. Jorge, no âmbito das comemorações do duplo centenário de 1940 teve em escassa consideração as pré-existências do local, excepção feita à identificação de novas epígrafes, algumas reaproveitadas nas construções medievais e modernas. Do que então se descobriu, nem tudo deu entrada no Museu da Cidade, algumas epígrafes continuam no local onde tinham sido reaproveitadas, carecendo, diga-se, da devida sinalética no monumento mais visitado de Lisboa.

Foi já na segunda metade do século XX, no decurso da reformulação da zona da Praça da Figueira e da construção da rede de Metropolitano, que se assistiu àquela a que poderemos chamar a primeira grande intervenção de arqueologia urbana em Lisboa realizada por Irisalva Moita. O primeiro objectivo consistiu na identificação e estudo dos restos do grande Hospital de Todos os Santos, uma das maravilhas da cidade de Lisboa, no dizer de Damião de Góis, cujas ruínas foram então sacrificadas às necessidades contemporâneas de dotar Lisboa de uma rede de Metropolitano. Foi na sequência da demolição do que restava do velho hospital e quando a escavação já progredia em profundidade, que Irisalva Moita identificou uma extensa necrópole romana. Após a realização dos primeiros trabalhos, em situação extremamente difícil e penosa, Manuel Heleno, o director daquele que é hoje o Museu Nacional de Arqueologia, chamou a si a condução das escavações, tendo o arqueólogo Bandeira Ferreira dirigido os trabalhos no terreno, uma escavação de emergência e salvamento da informação ainda ali conservada, acção que contou com a participação de alguns alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, como a imprensa generalista da época não deixou de assinalar. Infelizmente, o resultado destes trabalhos permanece inédito. Em um dos poços de ventilação do Metropolitano, mas do lado da Praça do Rossio, Irisalva Moita identificou novos vestígios romanos que supôs, primeiro, relacionáveis com velhas notícias sobre um possível cais, conservado nos alicerces do convento de S. Domingos, mais tarde associados ao hipódromo da cidade romana. Uma sugestão interessante que trabalhos mais recentes acabaram por confirmar, valorizando de igual modo, a posteriori, alguns elementos bastante sugestivos, como a descrição da topografia do local que, desde sempre, foi denominado Rossio, ou a presença ali de um obelisco, recorrentemente representado em todas as vistas de Lisboa, anteriores ao grande terramoto, um ornamento típico da spina dos hipódromos romanos.

Nos últimos trinta anos, cresceu exponencialmente a informação sobre a cidade romana de Felicitas Iulia Olisipo, por um lado, fruto da actual consciência dos

Fig. 4 – Desenho das Termas dos Cássios, na Rua das Pedras Negras, publicado na

Revista Archeologica, vol. III, 1881, p. 14.

(10)

C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O C A E N A C A E N A

valores patrimoniais, mas sobretudo dos novos quadros legais que impõem a imperativa necessidade de minimizar os impactes sobre o património arqueológico decorrentes de qualquer obra realizada.

A principal novidade desta mais recente etapa do estudo e conhecimento da cidade romana foi a identificação de um notável conjunto de edifícios consagrados à produção de preparados de peixe, em uma extensa frente cujos limites actualmente conhecidos se estendem desde a Casa dos Bicos até ao meio da Baixa Pombalina. O panorama conhecido, em constante crescimento pela contínua identificação de novas unidades de produção destes preparados, sugere a existência de uma longa frente ribeirinha com sucessivas unidades de produção de grande escala, sugerindo poder ter sido uma das principais actividades económicas da antiga urbe romana.

II

um aglomerado

no estuário do tejo, já antigo

à data da chegada dos romanos

Quando os romanos chegaram ao estuário do Tejo, no último terço do século II a.C., a fazer fé no depoimento do geógrafo grego Estrabão, já era antiga a ocupação humana no lugar onde hoje se ergue a zona histórica da cidade de Lisboa. A arqueologia urbana tem revelado vestígios de uma utilização desta área, pelo menos, desde o período a que os arqueólogos chamam Idade do Bronze – vestígios arqueológicos ainda mais antigos atestam somente as várias ocupações humanas deste privilegiado lugar, sem que tal implique uma permanência constante e continuada. Teriam sido estas populações a contactar com os primeiros navegadores fenícios que aportaram ao estuário do Tejo. Por isso, pode dizer-se que Lisboa é uma cidade Trimilenar, com três mil anos de idade como lugar central, e não com os oito séculos de História, como rezava o conhecido chavão, generalizado na primeira metade do século XX.

O lugar chamava-se Olisipo, um nome estranho para os latinos, mas que evoca ligações mediterrâneas. Conhecemos várias cidades pré-romanas na área da actual Andaluzia com topónimos terminados em ipo, o que sugere afinidades linguísticas e, ao que tudo indica, culturais também. Foi certamente esse estranho nome e a antiguidade do lugar que levou autores antigos a imaginá-la fundada

Lisboa é uma

cidade Trimilenar,

com três mil anos

de idade como

lugar central

Fig. 5 – Prospecto do “Mapa geral das escavações que se fez perto da Rua de S. Mamede por baixo do castelo desta cidade de lisboa”, 1798. Aguarela s/ papel de Fancisco Xavier Fabri. © Museu de Lisboa (MC.DES.12)

por Ulisses, nas suas deambulações de regresso a Ítaca, depois da guerra de Tróia, uma lenda sugestiva, mas sem nenhum fundamento, para lá da vaga homofonia entre o nome do lugar e o do homérico herói. Interessa sublinhar, porém, que esta inventada etimologia se gerou ainda na Antiguidade, não sendo uma criação dos Humanistas do Renascimento, como tantas outras. Note-se que a antiguidade da lenda não lhe confere maior consistência ou verosimilhança.

Não sabemos qual seria a aparência e organização desse aglomerado pré-romano. As escavações recentes têm documentado vestígios em uma extensa área que se estende do morro do Castelo a Alfama, pelo lado oriental, e desce até às imediações da rua Augusta, a ocidente. A área de dispersão é imensa, mas não sabemos se corresponderia a uma ocupação / utilização contínua ou antes a pequenos núcleos dispersos. Temos também de considerar a possibilidade de, em muitos casos, estarmos a juntar num mesmo período temporal aquilo que seria, no fundo, diferentes vestígios de distintas épocas de utilização deste amplo espaço, em tempos pré-romanos. Por exemplo, conhecemos (e estão expostos) vestígios de casas pré -romanas no actual Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros (Fig. 6), mas quando os romanos chegaram ao estuário

do Tejo essas casas estavam já de há muito abandonadas e cobertas pelas areias da área ribeirinha olisiponense. Não sabemos como os romanos terão lidado com este antigo aglomerado, mas parece aceitável supor que o terão transformado profundamente, em conformidade com os padrões do seu urbanismo.

A fazer fé no depoimento de Estrabão, a primeira instalação romana no sítio de Lisboa teria sido de cariz militar, no decurso do processo de conquista. O geógrafo menciona a fortificação de Olisipon, assim se grafava o seu nome, em grego, como posição de retaguarda, para apoio às campanhas conquistadoras que se dirigiram para norte. O registo arqueológico da cidade, identificou uma apreciável concentração de vestígios dos fins do século II / inícios do I a.C. na área do actual bairro do Castelo e mesmo no interior da fortificação medieval, particularmente ânforas que transportavam vinho proveniente da Itália e cerâmicas finas de igual procedência, em suma, um conjunto de materiais conforme a uma primeira etapa de instalação, ainda muito dependente da recepção de artigos alimentares típicos da dieta legionária, que não seriam facilmente obtidos no local. Também na área do castelo foi escavada uma construção desta época, mas, de um modo geral, faltam vestígios claros de uma utilização com edificações em épocas posteriores, pelo que não resulta clara a utilização / função do morro do castelo durante a fase de existência da cidade romana. Refira-se ainda que esta primeira etapa da presença romana não regista sinais de conflito evidente com as populações locais, pelo que é bem provável que esta instalação tenha sido mais pactuada do que imposta pela força das armas. Este primeiro momento da presença romana no estuário do Tejo teria tido impactes de magnitude ainda desconhecida. Desde logo, o sinal mais evidente de que se teria operado uma transformação no modo de organizar o território provém da margem esquerda do Tejo. Ali, na zona da actual Almada, existia também um grande povoado indígena, na Quinta do Almaraz, que parece terminar a sua

Fig. 6 – Estruturas pré-romanas do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros. ©José Avelar – Museu de Lisboa / EGEAC

(11)

C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O C A P ÍT U L O I II - A c id A d e d e F e l ic it A s iu l iA O l is ip O e O s e u t e A t r O S C A E N A S C A E N A

existência neste período. As sondagens que ali foram realizadas registam a presença de materiais do século I a.C., mas no final desta centúria, a ocupação romana parece ter preferido paragens mais próximas do rio, na zona onde hoje é Cacilhas. O mesmo se teria passado na margem direita, sob a cidade de Lisboa, onde se documenta uma preferência pela meia-encosta do morro do castelo ou mesmo pelas zonas ribeirinhas em detrimento da antiga instalação de altura, pouco conforme aos hábitos urbanísticos romanos ou, por exemplo, a um eficaz abastecimento de água, essencial não somente para os consumos humanos e animais, mas também para a alimentação dos edifícios termais.

III

uma precoce municipalização

Embora não tenha cabido a Olisipo nenhuma função administrativa importante em época romana, a cidade cedo ganhou relevância, fosse por esse primitivo uso militar ou simplesmente pela sua localização estratégica, servida por um extraordinário porto natural. Na obra História Natural, de Plínio-o-Velho, composta pela década de 70 d.C., é designada como cidade memorável, juridicamente, um município de direito romano, dignidade única na Lusitânia de então. A designação de Felicitas Iulia, que se acrescentara ao topónimo indígena, invocando o nome de Júlio César, provavelmente, por iniciativa do seu filho adoptivo, Augusto, reforça esse carácter de excepção.

Se não antes, pelo menos a partir do reinado de Augusto, na mudança da Era, teria começado a desenhar-se no sítio de Lisboa a nova cidade de urbanismo romano, dotada dos equipamentos próprios de um aglomerado com a sua dignidade.

IV

A estrutura da cidade

As cidades romanas eram espaços devidamente delimitados, quase sempre cercadas por muralhas. Conhecemos os rituais de fundação que se realizavam em aglomerados criados de raiz e temos também suficiente informação sobre a edificação de muralhas, torres e portas monumentais, estas últimas,

particularmente importantes, por constituírem o primeiro elemento identificador da cidade, a primeira imagem que tinha quem dela se acercasse. Mas tudo isso diz respeito ao que era edificado em área anteriormente livre. Seguramente, os critérios seriam distintos em espaços previamente ocupados e, provavelmente, já cercados de sistemas defensivos e mais ou menos densamente construídos. As recentes investigações arqueológicas lograram identificar troços de uma muralha antiga, datando talvez da mudança da Era, na zona ribeirinha da cidade, mais concretamente, na Casa dos Bicos e Armazém Sommer (antigo palácio dos

na mudança

da Era, teria

começado a

desenhar-se no

sítio de Lisboa

a nova cidade

de urbanismo

romano

Condes de Coculim). Como seria de prever, o seu traçado nesses pontos não difere grandemente do que seguiu, alguns séculos mais tarde, a velha cerca urbana medieval, ao que tudo indica, herdeira de uma outra muralha, já da Antiguidade Tardia. A proximidade do rio estabelecia, por assim dizer, o limite natural da cidade. Mas, em outros locais, tem sido mais difícil perceber qual seria o traçado da cerca. Os outros vestígios conhecidos da muralha romana, exibindo por vezes torreões semicirculares, identificados sobretudo a este, por exemplo, na zona de Alfama (Rua Norberto Araújo, Pátio da Sra. de Murça e suas imediações) pertencem todos à nova cerca urbana, da Antiguidade Tardia, construída ao que parece algures pelo século IV.

Nos Armazéns Sommer foi mesmo possível identificar ambas, a cerca do século I e a do IV, justapostas, sugerindo que a primitiva muralha romana se encontraria já suficientemente degradada (ou mesmo desmantelada) para justificar uma reedificação e não simples reparações. A intervenção do pátio da Senhora de Murça foi particularmente interessante, por revelar que a muralha tardia se edificou sobre vestígios de mais antigas construções romanas, sugerindo assim que a área então delimitada teria menor extensão que a definida no século I, à semelhança do que sucede em muitas outras cidades romanas. Também no espaço do antigo Armazém Sommer (hoje uma unidade hoteleira) se verificaram situações análogas, com a muralha a integrar (e anular) edifícios preexistentes. Por outro lado, a escavação da Casa dos Bicos identificou uma oficina de produção de preparados de peixe, em zona que estaria por detrás da primitiva muralha, o que faz muito pouco sentido, já que esta unidade de produção receberia o produto das pescarias trazido da banda do do rio. A nova construção identificada nos Armazéns Sommer, justapondo-se à primitiva muralha, conjugada com esta observação, sugere que a primeira muralha romana de Olisipo poderá ter sido parcialmente desmontada em um qualquer momento a partir da segunda metade do século I, a cronologia de construção da unidade de produção de preparados de peixe sob a Casa dos Bicos, e assim permanecido durante séculos.

Para o lado poente, onde se documenta o extenso cordão de oficinas de produção de preparados piscícolas, não temos ideia de onde se poderia situar o limite da cidade murada. Uma vez mais, por razões de ordem prática, estas oficinas deveriam estar fora de muros que constrangessem o seu normal abastecimento, mas tal não nos esclarece sobre o limite oeste da cidade. Um indício para identificar os limites da área urbana é fornecido pela disposição dos seus espaços sepulcrais, uma vez que era norma na cidade romana a clara separação entre espaços de mortos e os dos vivos. Para o lado ocidental, foi identificado no local onde se encontra o NARC a que é, de momento, a mais antiga necrópole romana de Olisipo. Infelizmente, somente uma pequena parte da área sepulcral sobreviveu aos posteriores usos daquela zona. Ainda assim, foi possível identificar várias sepulturas, com diferentes ritos fúnebres: algumas de incineração, com deposição secundária das cinzas no interior de recipientes cerâmicos, o habitual ritual romano dos primeiros séculos da nossa Era, mas também o já anteriormente praticado pelas populações indígenas, outras de inumação, uma prática de certo modo insólita. É interessante notar que a inumação se documenta também na cidade de Valentia, sob a actual cidade espanhola do mesmo nome, um aglomerado fundado de raiz pelos romanos, na mesma época da sua primeira instalação em Olisipo. Esta curiosa coincidência pode não o ser de todo, mas somente futuras investigações permitirão perceber se nestas ocorrências se pode identificar um qualquer padrão de comportamento

era norma

na cidade romana

a clara separação

entre espaços

de mortos e

os dos vivos

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associado aos primeiros tempos da presença romana na Península Ibérica, ou simplesmente, no caso olisiponense, de um descarte de cadáveres de população de baixíssimos recursos, como já foi sugerido. A necrópole prolongava- -se ao longo da Rua dos Correeiros até à área do já referido extenso cemitério identificado na Praça da Figueira. Sublinhe-se, porém, que as sepulturas escavadas nesta área são cronologicamente mais recentes que as identificadas no NARC e não temos notícia de que ali se tenham identificado inumações em épocas tão antigas.

Infelizmente, é muito escassa ainda a informação de que dispomos para a compreensão da estrutura da cidade romana de Olisipo. Podemos, porém, afirmar que, ao contrário do que supunha o olisipógrafo Vieira da Silva, o acidentado do terreno onde se implantou não foi suficientemente constrangedor para o seu desenho. À semelhança das outras cidades fundadas de raiz ou redesenhadas sobre antigos aglomerados indígenas teria uma estrutura viária reticulada, genericamente orientada segundo os pontos cardeais principais. Conhecemos somente em alguma extensão uma dessas ruas da cidade, no local do actual claustro da Sé, e aí podemos apreciar como se desenhou um eixo rectilíneo, de orientação norte-sul, que vence o acidentado do terreno, em sucessivos patamares. Como era habitual também, sob a rua corre um grande cano, cloaca, elemento essencial do saneamento urbano, sublinhando o carácter planificado do seu desenho.

1. O forum

Na cidade, o fórum constituía um dos mais importantes elementos, por se concentrar aí a representação (e encenação) do poder, sendo por isso mesmo o mais importante centro cívico. Na realidade, não sabemos ainda onde se localizaria esse fundamental equipamento da urbe romana. As hipóteses aventadas para a sua implantação têm sido várias, nenhuma delas suficientemente comprovada.

Tradicionalmente, a plataforma constituída pela Sé e Igreja de Santo António tem sido apontada como o lugar onde se ergueria o fórum. A plataforma, a meia encosta da colina do castelo, tem dimensão suficiente para albergar o complexo, que deveria ter templos, praça pública, pórticos, cúria e basílica. A existência de alguns elementos arquitectónicos antigos, como uma arquitrave romana e alguns elementos de um templo cristão primitivo, reaproveitados na arquitectura medieval da Sé, associados à persistência da função religiosa do espaço (ali se encontrava a mesquita maior da cidade islâmica e sobre ela se edificou a Igreja de S. Maria) constituem os principais argumentos. As mais recentes escavações realizadas nesta área demonstraram já que o complexo forense, se ali existiu, não se prolongaria até à área do claustro da Sé, uma vez que neste se pode apreciar a já mencionada rua, ladeada de construções de âmbito privado, por ambos lados; e não começaria no Largo de Santo António, fronteiro à igreja da sua invocação, onde uma outra escavação identificou vestígios romanos, mas nada que se pareça às arquitecturas públicas típicas de um fórum. Ainda assim, existe espaço suficiente para imaginar o complexo forense na área restante. A ser correcta esta proposta, o centro cívico estaria instalado na encosta, abaixo da área onde se erguia o teatro, com o seu eixo maior orientado a nascente.

teria uma

estrutura viária

reticulada,

genericamente

orientada segundo

os pontos cardeais

principais.

Uma outra hipótese recupera a notícia do edifício da boa fábrica romana identificado na zona do Largo da Madalena antes do grande terramoto de 1755. Na opinião de alguns autores, a tratar-se de um templo, seria provavelmente um dos templos do fórum da cidade. Recentemente, foi sugerido que o complexo, a existir aí, se orientaria preferencialmente a norte, ou seja, teria nessa direcção o seu eixo maior, o que parece manifestamente difícil de aceitar, pela acentuada pendente do terreno. Segundo esta proposta, teríamos o fórum de Olisipo, de novo, a meia encosta, imediatamente abaixo do grande complexo termal público já conhecido, mas em posição excêntrica relativamente ao teatro. Menos considerada, embora no meu entender mais plausível, seria a implantação do fórum imediatamente acima da zona do teatro, na grande plataforma onde, em época posterior se ergueu o Convento de Santo Elói. Nesse local, é ainda hoje perceptível na topografia da cidade uma extensa plataforma orientada a nascente. A localização do fórum imediatamente acima do local onde se ergue o teatro corresponde a um modelo de organização do espaço frequente no mundo romano. A recente redescoberta no Largo do Contador Mor de um grande pedestal de estátua consagrada ao Divino Augusto, por dois sacerdotes do culto imperial, um elemento típico de centro cívico, naquela que seria a área do topo nascente do complexo forense, veio trazer um novo argumento a favor desta localização, embora com as naturais reservas que estas interpretações sempre suscitam, enquanto mais categóricos elementos não se identificarem.

O tema do fórum olisiponense conta ainda com outras propostas. Partindo da referência constante no tratado romano de arquitectura de Marco Vitrúvio, segundo a qual se deveria implantar o fórum das cidades marítimas junto ao porto, vários autores têm sugerido que o grande edifício que se encontra sobre o criptopórtico da Baixa poderia bem ser o complexo forense de Olisipo. Os fundamentos desta proposta são, basicamente, dois: o facto de ser habitual a construção de criptopórticos nas áreas forenses, destinados a criar grandes plataformas sobre as quais se erguiam os edifícios do centro cívico – e, recorde- -se, a topografia da cidade seria em época romana bem distinta da actual, que resulta da realização de grandes aterros, com os escombros resultantes da destruição do terramoto de 1755, destinados à implantação do rectilíneo desenho da cidade pombalina - e o facto de não se considerarem satisfatórias as outras propostas de localização do complexo. Adianta-se mesmo a possibilidade de se tratar fundamentalmente de um fórum corporativo, sobretudo relacionado com as funções comerciais e de transporte, o que não excluiria a existência de um segundo fórum, reservado às funções cívicas e administrativas, construído em outro lugar.

Como se compreenderá, no estado actual dos conhecimentos, trata-se de mais uma proposta que, por aliciante que pareça, carece dos elementos necessários para minimamente se fundamentar.

2. A água e o saneamento urbano

Outra componente essencial das cidades romanas era o conjunto das infraestruturas de abastecimento de água e saneamento, indispensáveis em qualquer aglomerado com funções urbanas.

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Como se disse, existia desde o século XVI um conhecimento preciso

da localização da barragem que gerava a conserva de água que, transportada através de um aqueduto, abasteceria Olisipo. Nessa época, Francisco de Holanda e outros autores depois dele interessaram-se pela barragem propriamente dita, mas foram sempre bastante lacónicos ou mesmo omissos na descrição do traçado do aqueduto que trazia as águas à cidade. A estrutura deveria ainda ser bastante perceptível, nos séculos XVII e XVIII, ao ponto de se sugerir frequentemente que se adoptasse o traçado romano, para trazer a “Água Livre” a Lisboa, o que justificará a omissão descritiva. Com as complexas obras realizadas pelos engenheiros e arquitectos joaninos, boa parte desses vestígios terá sido afectada, se não mesmo irremediavelmente perdida. Alguns troços de um aqueduto identificados na zona do actual concelho de Amadora poderiam ser o que resta da condução de água romana, mas temos de admitir que se trata somente de uma hipótese, na medida em que não foi possível determinar com precisão o seu traçado e muito menos por onde chegava e entrava em Olisipo.

Quanto às estruturas de saneamento básico, conhecemos somente a cloaca que corria por debaixo da rua identificada no claustro da Sé. Trata-se de uma canalização de cuidada construção em alvenaria, para a qual convergem as canalizações menores dos diferentes edifícios privados que ladeiam a rua, como se pode observar. O sistema estaria ainda em uso em época islâmica, em pleno século XII, à data da definitiva conquista da cidade por Afonso Henriques, como se pôde observar no decurso das escavações. De outras construções associadas ao saneamento básico da cidade, há somente notícias de troços identificadas junto da grande área termal pública (termas dos Cássios) e outra na zona do Criptopórtico, pouco para ensaiar a reconstituição do sistema de esgotos propriamente dito e seu funcionamento. Contudo, não custa admitir que o grosso da descarga dos efluentes urbanos (domésticos e pluviais) se faria directamente no rio Tejo

Abastecimento de água e saneamento básico são componentes indissociáveis dos hábitos de higiene da sociedade romana. Por isso, as cidades dispunham de estabelecimentos de banhos, públicos e privados. Pode dizer-se que não estamos muito informados sobre estes equipamentos da cidade de Olisipo. Sabemos que existia um estabelecimento público, chamado “termas dos Cássios”, a que acima aludimos, mas não conhecemos em detalhe a sua estrutura, organização e dimensões. Como há mananciais de água na colina do Castelo, é possível que este estabelecimento a recebesse de nascentes localizadas em pontos mais altos do morro, uma vez que se construiu na encosta. Poderia, pois, dispensar o abastecimento do aqueduto e teria seguramente bons elementos de escoamento de águas, certamente ligados às cloacas urbanas. Manoel Ruiz Maya descreveu, em 1776, as canalizações de chumbo que ainda se conservavam no edifício, tanto as que alimentavam uma piscina de água fria, como as que garantiam o escoamento da mesma.

Por certo, existiriam na cidade outros complexos termais. Infelizmente, uma vez mais, não dispomos de suficientes informações. Foi somente observada parte de um destes edifícios, uma vez mais, no NARC. Trata-se de um pequeno estabelecimento termal, construído nas imediações de unidades de produção de preparados de peixe, uma associação bastante frequente no mundo romano ocidental. Como foi também identificada uma rua, correndo pela banda meridional, é bem provável que ali se situasse a entrada do complexo termal.

Abastecimento

de água e

saneamento básico

são componentes

indissociáveis dos

hábitos de higiene

da sociedade

romana.

As crónicas islâmicas (bem como informação posterior) referem recorrentemente a existência de mananciais de água na zona de Alfama, o próprio topónimo evoca a presença de banhos e águas, pelo que é de esperar que ali se venham a identificar futuramente novos complexos termais nessa zona da cidade.

3. Edifícios lúdicos

Os edifícios lúdicos constituíam uma outra importante componente das cidades romanas, respectivamente, os teatros, os anfiteatros e os hipódromos. Embora muitas das principais cidades dispusessem dos três edifícios, como era o caso, por exemplo, de Augusta Emerita, a capital da Lusitânia, tal não sucederia em todos os aglomerados urbanos. Para o caso que nos ocupa, Olisipo, sabemos da existência de um teatro e de um hipódromo. Mas, pela relevância que a cidade teria na Antiguidade, não deixam alguns autores de lhe buscar também um anfiteatro, havendo mesmo sugestões para a sua implantação, baseadas somente em tentativas de interpretação da moderna topografia urbana, designadamente, na envolvente da Igreja de S. Estêvão, em Alfama. Sublinhe-se, porém, que até à data nada de concreto se pôde registar.

O teatro foi, como se disse, o primeiro destes edifícios a ser identificado, aquando da reconstrução da cidade, em 1798. O complexo estaria ainda relativamente bem conservado, embora o processo do seu desmantelamento tivesse já começado na Antiguidade. Por uma inscrição ali conservada, soube-se que o complexo recebera melhoramentos no reinado de Nero, significando que a sua construção era anterior. Na época da descoberta, o arquitecto italiano Francisco Fabri, fascinado pelos estuques moldados das suas colunas e capitéis e pela grandiosidade do imóvel, propôs uma conservação in situ das ruínas,

que se não veio a concretizar pelas múltiplas vicissitudes dos inícios do século XIX português. Somente nos meados do século XX se iniciou, ainda que timidamente, o processo de estudo e salvaguarda do monumento. Agora, em pleno século XXI, o velho teatro vive uma nova era de (re)descoberta e valorização.

O hipódromo da cidade foi identificado em duas intervenções distintas, ambas relacionadas com a construção da rede de metropolitano de Lisboa. Um equipamento com estas características requer espaço amplo e terreno plano, não podendo ajustar-se aos relevos das colinas, como os teatros ou anfiteatros. Por isso, a periferia urbana é habitualmente escolhida para construir hipódromos. No caso de Olisipo, foi essa a opção: ocupava a área do Rossio, desde época romana, um amplo espaço livre de edifícios, que assim permaneceu nas épocas subsequentes. O alinhamento do hipódromo não se fazia exactamente pelo da actual praça, mas antes pela pré-pombalina ou, melhor dizendo, pela linha de fachada do antigo Hospital de Todos os Santos. As duas intervenções arqueológicas realizadas no hipódromo tiveram alcance limitado e foram inconclusivas quanto às datas de construção e abandono, sendo também conjectural a sua extensão total. No entanto, pela proximidade entre o edifício lúdico e a necrópole da Praça da Figueira, não parece credível supor que o espaço funerário ali se tenha instalado depois da sua construção, o que nos permite pensar que o hipódromo só tardiamente se materializou na paisagem urbana olisiponense.

o hipódromo só

tardiamente se

materializou na

paisagem urbana

olisiponense.

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V

uma cidade atlântica,

banhada pelo aurifer Tagus

Para lá da configuração geral da cidade de Felicitas Iulia Olisipo e da verificação da sua relevância, impõem-se naturalmente duas perguntas: porque razão foi este local eleito para a instalação de uma cidade romana e de onde lhe veio a sua prosperidade, por um lado, mas também a longevidade da sua relevância. A primeira questão encontra a sua resposta muito para lá do período romano, em sentido estrito, como já se comentou. O local era centro relevante, pelo menos, desde os inícios do I milénio a.C., combinando provavelmente vários factores: a sua localização geográfica, no estuário de um importante rio e as suas boas facilidades portuárias, úteis quer para alcançar regiões do interior quer para apoiar a navegação marítima; não seria também despiciendo o bom potencial agrícola dos solos da península de Lisboa e a riqueza aurífera das areias do rio. Tudo isto deveria justificar a grande antiguidade do aglomerado instalado na colina do castelo, ponto de encontro de rotas, gentes e culturas.

Sob o domínio romano todas estas riquezas foram potenciadas no quadro de um vasto Império.

O bom potencial agrícola terá estimulado o povoamento rural da região e as valências portuárias ganharam um novo significado, sobretudo no âmbito das navegações atlânticas, que permitiam viajar com maior rapidez e economia de meios, desde o Mediterrâneo até às franjas setentrionais do Império Romano; enquanto o rio possibilitava boas comunicações com o interior, um dos mais directos caminhos para alcançar a capital da Lusitânia: Augusta Emerita. É bem provável também que a cidade tenha beneficiado dos proventos da exploração aurífera da zona do estuário. Vários autores latinos, desde o poeta Catulo, celebraram o “Tejo aurífero” (aurifer Tagus) e, durante muito tempo, supôs-se que essas referências evocassem sobretudo as riquezas exploradas na bacia hidrográfica, na zona de Vila de Rei ou mesmo a montante, na área que designamos hoje “Tejo internacional” (pela proximidade com a fronteira espanhola). Contudo, nos últimos anos, têm-se multiplicado as identificações de galerias de exploração aurífera, nos depósitos Pliocénicos da margem esquerda do estuário do Tejo, revelando-nos uma nova realidade, já bem conhecida para outras épocas: refira-se que o topónimo árabe Almada significa justamente a mina ou que durante a época medieval e moderna a mina da Adiça, justamente na margem esquerda do rio, fornecia ouro à amoedação do reino de Portugal. Os dados disponíveis são ainda escassos, não permitindo perceber quais as cronologias das actividades extractivas e, menos ainda, o contexto jurídico em que se realizavam, mas não custa a crer que Olisipo tenha beneficiado dos proventos da exploração.

Nos inícios da década de 80 do século XX foi identificada uma outra importante actividade económica olisiponense. Escavações no sítio onde se encontra hoje a Casa dos Bicos puseram à vista um conjunto de grandes tanques, com fundo

na foz do Tejo

uma actividade

de produção de

preparados de peixe

de grande escala

e paredes revestidos de uma argamassa de cal (cetárias) que constituem os típicos elementos dos complexos de produção de preparados de peixe de época romana. Pela mesma altura, na margem esquerda do rio, desde a zona do Seixal a Alcochete e Benavente, localizaram-se olarias romanas que fabricaram ânforas. Verificou-se então que teria existido na foz do Tejo uma actividade de produção de preparados de peixe de grande escala, à semelhança do que se conhecia já no estuário do Sado. Para além de fornecer alimentos à cidade e ao seu território, o produto desta actividade era exportado para as mais desvairadas paragens do Império, usando as ânforas fabricadas nas olarias da margem esquerda. Nos últimos anos, com a realização de múltiplas intervenções arqueológicas na baixa lisboeta, foi possível perceber que existia em época romana uma extensa frente de unidades de produção destes preparados de peixe com uma dimensão tal que muitos autores não hesitam em chamar-lhe: “indústria”. Estão identificadas e foram parcialmente estudadas construções deste tipo desde a Casa dos Bicos até aos quarteirões centrais da Rua Augusta, no que parece ser uma cadeia contínua. Ainda não foi possível determinar se esta fiada de unidades “industriais” constituía uma espécie de subúrbio consagrado a esta actividade, como se conhece, por exemplo, na cidade romana de Lixus, no actual território de Marrocos, ou se seria mais parte integrante do tecido urbano, com espaços residenciais encostados às unidades de produção, como conhecemos na cidade de Baelo Claudia, na Andaluzia.

A grande riqueza piscícola do Atlântico e a facilidade de produzir no interior do estuário sal marinho por evaporação, devido às estiagens prolongadas e à escassa pluviosidade estival, justificam o apreciável crescimento da actividade de produção de preparados de peixe no ocidente do Império Romano, tanto na Península Ibérica, como no Norte de Africa, a oeste de Gibraltar.

Como é habitual, estamos mais bem informados sobre as últimas fases da produção dos preparados de peixe olisiponenses, porque a continuidade da laboração destruiu os mais antigos vestígios. Estudos recentes revelaram que aqui se fabricava no século IV e V um produto feito à base de sardinha e sal, provavelmente, aromatizado com ervas, um condimento de peixe muito apreciado na Antiguidade.

O funcionamento destas unidades pressupunha a existência de uma importante frota pesqueira, de uma relevante exploração de sal marinho, na parte interior do estuário, para lá da notável produção de contentores cerâmicos (ânforas) para o transporte do produto final. Este feixe de actividades estreitamente relacionadas com o fabrico dos preparados de peixe permite-nos, por um lado, perceber a sua relevância na economia de Olisipo, mas também perceber como a cidade constituía o pólo agregador de todas elas, sem esquecer o transporte por vias fluvial, terrestre e marítima das ânforas contendo o apreciado produto. Situada nas margens do mar Oceano, nos confins da romanidade,

Felicitas Iulia Olisipo foi cidade simultaneamente mediterrânea (pela cultura)

e atlântica (pela posição), para usar a feliz expressão que Orlando Ribeiro aplicou a Portugal. Estará por certo nessa confluência de factores, associados às privilegiadas condições portuárias, a razão da sua prosperidade e longevidade, muito para além da dissolução do Império Romano do Ocidente.

Felicitas Iulia

Olisipo foi cidade

simultaneamente

mediterrânea

(pela cultura)

e atlântica (pela

posição)

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M U S E U D E L I S B O A . P T

FICH A TÉCNICA

Edição

EGEAC, EM I Museu de Lisboa – Teatro Romano Coordenação editorial Lídia Fernandes Textos Carlos Fabião Catarina Bolila Daniela Ermano Eurico de Sepúlveda Inês Avó Almeida Isabel Cameira Joana Sousa Monteiro João Appleton João Carrasco João Coroado João Pimenta José d’Encarnação Lídia Fernandes Marco Calado Rita Gonçalves Vasco Appleton Victor Filipe Projeto gráfico atelier-do-ver

Revisão e edição de texto

Carolina Grilo, Cristóvão Fonseca, Lídia Fernandes Tradução

Carolina Grilo Impressão

Rigor das Cores - Impressão Gráfica Lda. Tiragem 500 exemplares ISSN 2184-6979 Ano 2020 Depósito Legal N.º 465402/19 Agradecimentos

José Avelar, Carlos Loureiro, Lurdes Garcia (Museu de Lisboa / EGEAC); Arquivo Municipal de Lisboa (Câmara Municipal de Lisboa).

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Referências

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