I.I '
==
::;�
t.l' = ·CC C> ::; a:a i52ti
i!5CURSO
DE
JORNALISMO
DA
UFSC
-FLORIANÓPOLIS,
NOVEMBRO
DE
2009
-ANO
XXVII,
N° 6
Inclusão
,..
Exposição
artística
traz
obras
acessíveis
para deficientes visuais
Sofia Franco
--r
. �- �---. .I
[
\I
I
\Em
Blumenau,
duas
mil
famílias
ainda
não
têm
endereço
certo
Atingidos pelos
deslizamentos de 2008 continuam
em
moradias
provisórias
Em novembro de
2008,
Blumenau foi
pela
cidade,Quase
um anodepois,
Bluatingida
durante 72
horas por chuvas que menau aindaenfrenta
asconsequências,
causaram
prejuízos
edestruição,
Acida-
Políticas de
habitação
eequipes
responde
catarinense-que também
enfrentousáveis
pela
análise
dasáreas
derisco fo
tragédias
causadas
pela força
das
águas
ramcriadas para
amenizar osestragos
edurante a
década
de80
-viu
em poucoprevenir
futurastragédias, Hoje,
sete motempo
casas seremdestruídas
pelos
des-
radias
provisórias
são
oúnico
endereço
lizamentos de terras,
Segundo
aprefeitu-
demais
de300 famílias,
Nessesespaços,
ra 20 mil
pessoas
foramafetadas,
sendobanheiro,
lavanderia
eáreas de
lazer sãoque
5400 tiveramque deixar
suas casasde
uso comum,Educadores,
psicólogos
e eseguir
para os63
abrigos
espalhados
assistentes
sociais
acompanham
arotina
nessas moradias,
Mais de
R$
8milhões,
repassados
pelo
governode Santa
Catarina,
estãodestinados
para a compra deterrenos e
construções
de
apartamentos
e casas para as cerca
de
2 milfamílias
que
perderam
suas casas,Porém,
aburocracia,
aespeculação
imobiliária
e a bus ca por locaisadequados
são fatores queatrasam as
obras,
previstas
para serementregues
apartir
dopróximo
ano,páginas
7-10página .2
Educação
Prêmios
para quem
faz
o
Enade
Faculdades
particulares
deFlorianópolis
sorteiam brindes para quemparticipou
do Exame Nacional deDesempe
nho do Estudante realizado no dia 8 de novembro, Osalunos também tiveram aulas de revisão para a prova,
que tem como
objetivo
avaliar o rendimentoquanto
aocontéudo ensinado durantea
graduação,
página 13
C&T
Equipe
da
UFSC
vence
competição
com
barco movido
a
energia
solar
Representantes
deSanta Catarinaganharam
oDesafioSolar
Brasil noRio
de Janeiro egarantiram
vaga noprincipal
evento mundial do setor, O barco VentoSul,
desenvolvido
por alunos deEngenharia
Mecânica,
Civilede
Produção
Elétrica
eMecânica,
é
movidopela
ele2
IOpinião
Florianópolis,
novembro de2009 "IINIVERSITÁRIO
.Ieíções
do
DeE
.- "':iõI�I
Eleições
2009
DCE
Luiz
Travassos
AComissãoEleitoral do OCE prumoveE
entre as
chapas
Data: i7/nov às i9hOO
local: Auditóriodo CCE 9
109
He
Acontecem
nos dias 18 e 19 dbra I' - enovem
d
as eeiçoes
paraoDiretórioCentral eEstudantes
(DCE)
daUniversidade
Federalde SantaCatarina.
Nesta
eleição,
concorremàdireção
doDCEas
chapas
"CantoGeral"(1)
,"Tranformando
aUFSC com Luta e Poesia
(2)"e
"Ousar eLutar"
(3).
Oúltimo debateentreaschapas
seránodia 17 de
novembro,
no CentrodeComunicação
eExpressão
(CCE),
às18h30.Nos dias da
eleição,
cada centro receberáuma urna.
hapa
1reivindi
Cam46participant�s,
a
�
implementação
ca,dentre
outras.cols�'de
cafédamanhã
de
opçad-
�
�eg�ta���:urante
Universitário
eno car
aplO_
ad
isservidorespúblicos
acontrataçao e
mal
para
atender
orestaurante.
A
chapa
2, formadapor49
integrantes,temcomo
proposta
diferencialaconstrução
deuma creche totalmentepública
egratuita
para os filhos de estudantes daUniversidade,
além deapoiar
amanutenção
do HUIOO%público.
Jáa
chapa
3,
contaco . . 25alunos
e tem m apartIcIpação
de como umad postaslutar pela
criação
de
su�
pro-que apure os casosde e
��a
ouvldoriafobia
eracismo u mac Ismo,homo
Universidade.
q evenham aOCorrerna
-de um DCE dizem
. . .
funçoes
As
prlllClpals
do�estudantespe-. sinteresses c -b
respelt�
ao .'ãoda
instituiçao,
e�
ranteaadmlllistraç
rr ase
educacionais
comoàs
questões
po1.lC
'dade dafacul-t da umverSl ,
quefazempare
universitário.
NaUFSC, dade oudo centro de 'LuísTravas-,.
ecebeonome . odiretonor mdos
principals
sos' em
hon:�nage�;a�tis
que lutoucon
ativistas
�ohtlC?ú��r
brasileiro.
traoregimemi
Durante esse ano, o DCEdaUFSCfoi di
rigido pela
'Boas Novas'. Deacordo comDiogo Ikeda,
umdosintegrantes
daatualdireção,
oprincipal
objetivo atingido pela
chapa
foi fazeroDCE existir paraoestudante. "Debatendo assuntosdo diaa dia dos
alunos, conseguimos
mostrar aelesque movimento estudantil não é coisa
chata".
EDITORIAL
Um
ano
depois
de
tudo
Aterceira
edição
doZEROfoipensada
nummomento em que Santa Catarina revivia o
medo de enfrentar o
poder
das chuvas que, menos de um ano antes, havia causado 135mortes e deixado 5.617 pessoas
desabrigadas
emtodoestado.Esse ano,a
atenção
dopaís
voltou-separaoExtremo-Oestecatarinense,ondeumtornado
comvelocidadeentre120e180
quilômetros
porhora
atingiu
acidade de Guaraciabaedeixouquatro mortose 89 feridos. Na
regiaõ,
outroscinco
municípios
também decretaramsituação
de
emergência.
Blumenau - uma das cidades mais atin
gidas pelos
temporais
de novembro de 2008- também ficouemconstanteestado de
alerta,
pois
aintensidadedas chuvasfez subirrapi
damento oniveldo rio
Itajaí-Açu,
quecortaacidade. Além detrazer
apreensão
paraos moradores do
município,
as enxurradas tambémreavivaramas
lembranças
dealgumas
pessoasque,nove meses
atrás,
virampartedesuasvidasseremlevadas rioabaixo.
E sãoessas
lembranças,
asquais
certamente
jamais
deixarão de fazerparte da vida dosblumenauenses,
que nossosrepórteres
forambuscarpara darvidaàreportagem
especial
desta
edição,
que,devidoàrelevância doassunto, passou deduasparaquatropáginas.
CHARGE
Os
pasteizinhos
daDonaEsaltina,
o bebêde Paolae ocafé damanhã deDonaZéliasão
apenas
algumas
dascentenasdehistórias queamídia esqueceu deouviredecontar
depois
quea
água
baixoue alamasecou.No entanto,seporumlado ficam as lem
branças
paraas duas mil famílias queperde
ram suasresidências,
poroutro surgeaesperança de retomar uma vida nova
longe
dosabrigos
e numa casaprópria:
apartir
de2010, casas e apartamentoscomeçarão
a serfinanciadospara quem
perdeu
tudonaenchente do anopassado
emBlumenau.Dez terrenos para a construção das resi
dências foram
comprados
comdinheiro arrecadadoem
doações
(cerca
deR$
8milhões dereais),
masdevidoàaltaespeculação
imobiliáriacriadanacidade
após
aenchente,
oslotestiveramdeser
adquiridos
emlugares
afastadosdocentroda cidade.
Para a
população
que vai sertransferida,
morar emlocaismaisdistantesimplica
numapossível inviabilização
naimplantação
dainfraestrutura social
básica,
comocreches,
escolase
hospitais,
porexemplo.
Já
para asautoridades,
esse deslocamentoé amaneira mais cômoda de realocar os de
sabrigados
semterquecausarindisposição
naestruturada cidade.
/vÃG
�o/
AcH,4M05 OUE o SEU GOVERNO fOI o !·lFLHOR PAR/< oCHILE, CaP\O C L;iNCf'.fV10S COfliO NOS50 (AND/DitTO Nf\S
PRrf)(//'>1A5 EL.(;;IÇÓ-E5!
1
P/NO(f-IEI 201O!,._�'/_)I
J
REDAÇÃO
Andressa Dreher, BibianaBeck, CamilaChlOdi, Cecãa Cussioli, Fernanda Martinazzi, JesséTorres;JoanaNeitsch,JulianaFrandalozo,Júlio
Ettose
Suriano,MarceloAndreguetti, MayaraSchmidt,LetíciaArcoverde,PedroDellagnelo,SarahWestphal,Sofia Franco
EDlÇAO
Capa,OpiniãoeEntrevistaAngieliMaroseGabriela CabralEducaçãoGabrielaBazzoCiênciaeTecnologiaSarahWestphalSaúde SheilaMarangoni EspecialFlávia Schiochet Cultura Andressa Dreher Inclusão AndreiLongenPolítica MichelSiqueiraEconomia Camila ChiodiContra-ContraAndressa DreherContracapae
ImagemJoanaNeitsch,MarceloAndreguetti FOTOGRAFIAAngieliMaros,CamilaChiodi,DiogoZambello,JangSukJoon,
Je�sé
Torres,_
JulianaFrandalozo,PedroDellagn_:Jlo,
RogérioMoreiraJr.,SheilaMarangoni, Sofia FrancoILUSTRAÇÃO
JoaoAssunçao,EduardoMalaguti
EDiTORAÇAO
AndréRodrigues,AndressaDreher,CecíliaCussioli,FernandaMartinazzi,Flávoa Schiochet, Gustavo Naspoli, JesséTorres, Júlio EttoreSuriano, leticiaArcoverde, Michel Siqueira, Paulo Rocha,
Rafael Amaral, Rafael Wiethorn, Sofia Franco,Vitor Oliveira INFOGRAFIA André Rodrigues, João Assunção, Rafael
Amaral
SERViÇO
EDITORIALFolhadeS.Paulo,history.state.govCONSULTAS As CidadesInvisíveis,[taloCalvinoPROFESSOR-COORDENADORJorgeKanehideIjuimMTb/SP14.543
COORDENAÇÃO
GRÁFICA
Sandro LauriGalarçaMTb/RS 8357 MONITORIA Risa Stoider, Lígia Lunardi
IMPRESSÃO
Diário CatarinenseCIRCULAÇÃO
NacionalTIRAGEM5.000exemplares
1f-m·ltj,'a,eilm2j6i
Philipi Schneider,23anos,estudaDesign GráficonaUdescecomeçouacarreira de
chargistanoZERO. Paraentraremcontato
com oautor,bastaenviarurne-mail paraphil.
scr@gmail.com
ZEilo
JORNAL
LABORATÓRIO
ZEROAnoXXVII - N°6- Novembro de 2009
UniversidadeFederaldeSanta Catarina
-UFSC Fechamento:17de novembro
Cursode Jornalismo
-CCE- UFSC- Trindade
Florianópolis- CEP88040-900
Tel.: (48)3721-659913721-9490
Site:www.zero.ufsc.br
E-mail: zero@cce.ufsc.br
Se você édaquelesquequandolêurnanotícia
logoaimaginanumacharge,desenhe para oZEROeenvie para zero@cce.ufsc.br. Sua
charge podeserpublicadanesseespaçoefazer
partedas
próximas edições
dojornal.ZERO NO TEMPO
Câncerjilé
aterceira causade mortalidade infantilEm
julho
de2001,
o ZERO traziaa reportagem"Síndrome do
pânico:
osreféns domedo",
queabordavaascaracterísticas,
sinto mas,tratamentoserelatos depacientes
sobre essadoença
definidacomo "uma desordem de ansiedade causada porsituações
deextrema
pressão."
Classificadacomo umadoença
mental,
asíndromedopânico
ocorrequando
aprodução
dos neurotransmissores - substâncias
responsáveis
pela
comunicação
entreosneurônios-entramem
desequilíbrio,
oquelevaaopreparodo
organismo
paraumasituação
deperigo
não existente. Otratamentoéatravés dousode remédios
antidepressivos,
porém
paraumamaioreficáciasãonecessárioscuidados
conjuntos,
entreapartefísicaeemocionaldequem sofre dotranstorno.
Nesta
edição,
ojornal
volta a tratar dequestões
relacionadas à saúdemental,
dessavez com ofocona
depressão
e no aumentodas vendas dos medicamentos
antídepressí
vos.Dados da
Organização
Mundial de Saú deapontamque 32% dapopulação
mundialpode
sofrer com oquadro
dedepressão
aolongo
davida,
equeadoença
não éfruto dasrelações
damodernidade,
massimalgo
quesempre existiu. Areportagem mostra, entre outrospontos,quea
depressão
- assimcomoasíndromedo
pânico
- émaissuscetívelem
pessoas dosexo
feminino,
devido àsconstan tesalterações
hormonaispelas quais
a mulher passa.
Areportagemtambém destaca a
questão
do uso dos
antidepressivos.
O aumento no consumodesses medicamentos preocupaosmédicos,
pois
apesar de nãocausardepen
dência,
o remédiopode
gerar outrostipos
de
problemas
desaúde,
comoporexemplo
aobesidade. Além
disso,
osespecialistas
alertamparao usoindiscriminado dos
antidepressivos
comomaneirade alívio
rápido
paraosproble
masenfrentados,
como sefosseuma válvulade escape diante das
situações
do diaadia.... . .
MelhorPeçaGráficaI, II, III, IV,VeXI SetUniversitário 1 PUC-RS(1988,89, 90, 91,92e98)
Melhor Jornal-laboratórionoIPrêmioFocaSindicato dos JornalistasdeSC 2000
3°melhor Jornal-Laboratório do Brasil EXPOCOM 1994
ZERO
Florianópolis,
novembro de2009Entrevista
I
3
Ojornallsmo
pode
ser
mais que
hard
news
-as
notícias diárias
que
os
jornais
costumam trazer.
É possível
escrever
histórias
de
personagens,
pessoas que
vivem,
sentem
e
sofrem. Essa
é
a
característica
principal
do
jornalismo literário,
fonte
de
discussões
e
experiências
que
o
jornalista
Sérgio
Vilas
Boas
aponta
nesta
entrevista
ao
ZERO;
Com
jeito despojado,
mas sem
perder
o
tom
de
professor,
ele
comenta
ainda
sobre
o
diploma
de
jornalismo
e
trajetória
profissional.
Aos44 anos,
Sérgio
Vilas Boas éjornalista,
escritoreprofessor.
MineirodeLavras,
passougrande
parte
da vidaemBelo
Horizonte,
doisemNova Yorkedesde1998mora emSãoPaulo,Trabalhoupor dezanos como
repórter
eeditoremjornais
deMinas GeraiseSão Paulo,É
doutorpela
Escola deComunicação
eArtes daUSPcompesquisas
sobre narrativasbiográficas,
queresultaramnoslivros"Biografias
&biógrafos"
(2002)
e"Biografismo" (2008), Hoje
é diretor editorialdaTextoVivo,
revista eletrônicaquereúne históriasde"pessoas
reais,
emlugares
reais vivendosituações
reais",Vilas Boasé tambémumdos fundadoresdaAcademia Brasileira de
Jornalismo Literário.
Sérgio
Vilas
Boas
líWo
Jornalismo
Literário,
o
repórter
precisa
ter
imersão,
envolvimento
com
o
assunto,
além
de
humanização
e
personagens"
ZERO:
Na
introdução
do livro "LiteraturaeJornalis
mo",
deJosé Domingos
deBrito,
você afirmaque,emcertosestudos
sobreJornalismo
Literário(}L),
as
comparações,
os termos e os conceitospodem
ser"ridículos"eque é
preciso
sermaleávelaotratardotema.Qual
seria, então,
umadefinição
deJornalismo
Literário?É
maisfácil dizeroque nãoé, pois
facilita bastanteadefinição.
Ojornalismo
literárionãoéficção,
nãoécrônica,
nemcríticaliterária.É
um hibrido que misturaumjornalismo
deprofundidade,
istoéque vaialém dasnotícias quevemostodososdiasnos
jornais,
comtécnicas daliteratura.
Algumas
dasdefinições
apontamcomo características doJLas
descrições
do ambienteededetalhes;
abusca variadadefontes;
aprecisão
de dadoseinformações;
eaabordagem
dolado humano.O
jornalismo
emgeral
nãopode
eaténãodeveserfeito dessamaneira?
Seo
jornalismo
noBrasil fossepraticado
deumaformaplural,
ouseja,
commúltiplas
maneirasdefazer,
comtipos
detextosdiversos, não seria
preciso
criardefinições,
comojornalismo
investigativo,
cidadãoouliterário.Nãofaz sentido porquea
prática
envolveisso. Adiscussão acabasurgindo
porcausada mediocridade dasgrandes
empresasde mídia.O]Lnão é sóum
jornalismo
deprofundidade
com técnicas da
literatura,
masé também sobre personagens.E apresença de personagens, de pessoas
comoponto
principal
do texto,nãoestáem todo
jornalismo.
Épossível
fazer umareportageminvestigativa
sem a necessidade de descreveravida de
alguém,
apenas com base em
telefonema,
google,
dossíês,
relatórios. Nãoétodo textojornalístico
que éobrigado
afocar empessoas.Podeser
profundo,
comapuração
einformação
consistentes, sem terpersonagensem
profundidade.
Porém,
o]L
gira
emtornodepessoaseéobrigató
rio que
seja
dessaforma. Porexemplo,
escrever sobre o transporte
público
deFlorianópolis.
Primeiro,épreciso
decidirquais
asquestões
que irãosertratadas.É
sobrequem pegaônibus?Quem
andaapé?
Entãomedizo nomedo
sujeito
que andaapé,
conteahistória dele.Comisso,oleitorvaiterideia decomoéopersonagem,omodo de
falar,
devestir,comoéfisicamenteeassimseidentificar.
O
tipo
detextoque você definecomoJornalismo
Literárionãoestárestritoaoscadernos alternativos dos
jornais,
comoosde
cultura,
ou emespeciais
como oAliás(O
Estado deS.Paulo)
e oMais(Folha
deS.Paulo)?
Comofazerparaincluirtextoscomcaracterísticas do
jornalismo
literárioemtodasaseditorias?
Nãohá nada que
impeça
queumtextocomcaracterísticas do]Lesteja
emoutraseditorias.O queaconteceé que nãopode
serbanalizado.
É
umtipo
dejornalismo
meticuloso,
masnãodeveocupartodoo
jornal
sócomisso. Oidealseria quetododia,
emalgum
caderno,
tivessetextosdesse
tipo.
Segunda-feira
naeditoria deCiência,
terça nadeCultura,
Economianaquarta,Políticanaquinta.
Oplano
econômicoqueoministro anunciou vai sairemtodosos
jornais,
muitasvezes comtextosetítulos
parecidos, quando
nãoiguais.
Mas isso nãomeinteressa.
Aliás,
nãoéoprincipal.
Interessaoperfil
doministro,ahistória domotorista
dele,
depessoas que convivemcomele.No
Jornalismo Literário,
épossível produzir
textosemque apresença dorepórter,
através dasubjetividade, seja
notada.Quando
osubjetivo,
o"eu" dojornalista
aparece, háapossí
bilidade detornarotextodesinteressante?Oleitorse
importa
emsaberquais
sãoasopiniões
e pontosdevistadorepórter
ouinteressaapenas
pelo
personagemr
O"eu"nãoé
obrigatório,
é apenasumcaminho.O]L
écomo sefosseumacozinha cheia de
utensílios,
especiarias,
panelas
de todo ostipos,
alimentos de diversasnaturezas.Estátudoali,
masvocênãopode
pegartudoecolocarno mesmoprato.Não dáparanegociar
que paraser]L,o
repórter
precisa
terimersão,ouseja,
umenvolvimento
não-ideológico
enão-religioso
com oassunto, além dehumanização
epersonagens. Ousodasubjetividade
servepara iluminarquestões
confusas damatéria. Não é paraojornalista
setornarmaisimportante
do queotemaou opersonagem. Eessamanifestação
dojornalista,
quechamamoso"eu",
tambémdágarantia
aoleitor dequeo
repórter
realmente "mexeu abunda dolugar",
que nãoestáenganando
opúblico
com umaapuração
ineficiente.Vocêdefine
perfil
como umtipo
detextobiográfico
sobreumapessoa, famosaou
não,
depreferência
queaindaesteja
viva. E parafazeresse
tipo
detexto,épreciso
quesetratedepessoasreaisem
lugares
reais.Além dessascondições,
o quemaiste
desperta
interessequando
vaifazerumperfil?
No caso de
grandes
reportagens estou atrás de um tema. Elaprecisa
demúltiplos
personagens,masestesestãoemfunção
deumtema.Por
exemplo,
desmatamento deumaregião
defavelaemFlorianópolis.
Voutrabalharcomváriossujeitos
dafavela,
masnãovoudartanta
atenção
no quese refere abiografia
deles.Aprioridade
estánosfatos da vida dosujeito
relacionados aotema.Já
operfil,
focaotempotodonavidadopersonagem.
Quando
escolhoalguém
parafazerum
perfil
éporque ele éimportante
enãootema.Podeser ummorador da favela desdequetenha
algo
queodiferencie damultidão. Mesmo com pessoas famosas é
preciso
procurarumdiferencial. Entrepessoasquenão são
famosas,
considerocomointeressantes
aquelas
quetêmumaatitudediferenteem
relação
àvida.Você trabalha na
pós-graduação
(oferecida
pela
Academia Brasileira deJornalismo Literário),
emquehápesso asformadasemdiferentescursos.Qual
a suaopinião
sobreodiploma?
É
fundamental para formar bons
jornalistas?
Nãotenho elementospara
julgar
aquestão. Paramim,a
exigência
dodiploma
nãofazmuitosentido.Enãoachoqueofato de
cairo
diploma
irá acabarcom os cursosdecomunicação,
e aspessoas nãosejam
maisjornalistas.
Nuncamepediram
diploma,
então nãopensei
sobreisso.Nãoachoissorelevante,
o
importante
éumaformação
humanísticasólidanagraduação.
Sobre
diploma
eprofissões,
você mudou decursoalgumas
vezesatéfazerjornalismo.
Comofoiesseprocesso?
Eufiz Cefet
quando
eraadolescente,
entãoonatural eraseguir
paraaáreade
engenharia.
Com 18anoscaínocursodeengenharia,
masnão
suportei
eparei.
Fuitrabalhar,
fazeroutrascoisas,saí dacasadosmeus
pais.
Depois
fiz vestibularparaSociologia
naUFMG,emBeloHorizonte.Passei,fiz metade docurso eabandonei porque
achei
precário
demais. Euqueria
serescritor,masnão tem cursoparaserescritor. Entãofui fazer
Jornalismo
porcausadisso.Nãotenhomuitasegurança de que fizaescolhacerta.Masfoi bom.
Eoque fez
quando
terminouocursodeJornalismo?
Eufui paraosEstados Unidosestudar
inglês,
masacabei descobrindooutrascoisas.Trabalheicomotradutorelá recolhi material
paraescrever meulivrosobre
imigrantes [Os
Estrangeiros
doTrem Nganhador
do PrêmioJabuti
de melhorreportagemem1998].
VolteiparaoBrasileestavasem
nada,
tinha vendidocarro,apoupançatinhaacabado.Entãooemprego que apareceufoiode
repórter.
Seanecessidadenão tivessete
forçado,
vocêteriatraba lhadocomorepórter?
Talveznão. Eu não seise euteriaencaradosetivesseumavida
'mansa'.
Depois
que comeceifoitranquilo,
atéfiquei
dezanos na redação.
Mashoje
não sintofalta darotinade trabalhonasredações.
�.'
I
Joana NeitschZERO
.4
IEconomia
Florianópolis,
novembro de2009Vergonha
de
lado
na
hora de
comprar
Sex
shops
de
Florianópolis
investem
no
atendimento
ao
cliente
e
acompanham
o
crescimento
nacional
do setor
Fantasias,
lingerie
sensual,
cuecasousadas...
Capas
parapênis,
feitas desilicone coloridoe comdiversastexturas.
Acessórios que estimulam simultanea
menteambosos
parceiros.
Asexshop
évizinha deinocentes
lojinhas
de roupasem um
shopping
centerdeFlorianópo
lis. Cresce no Brasil um setor que há
umadécada sequereravisto:odepro
dutoseróticos.
Segundo
avendedora,
MariseteAlves,
os
vibradores
ecosméticos sãoosprodu
tosmais
procurados.
Aclientela dassexshops
brasileiras é composta, em suamaioria,
pormulheresdas classesA, BeC,de 25a45anos,e75% dos
produtos
são
importados
dosEUA,ChinaeEuropa.Osdadossãode
pesquisas
da ErótikaFair;feiraquedesde 1997reúneosetor
no
Brasil,
ecuja
15"edição
foi realizadanomêsde outubroemSãoPaulo.
Algumas
das novidades deste anoforam os
produtos
eróticos de luxo e olançamento
deumguia
denegócios
paraosetor.
Segundo
AureaKarpor,
daassessoriade
imprensa
da ErótikaFair,
o mercado de
artigos
eróticos estáemfrancaascensão. Noestado deSão Pau
lo,
as sexshops
movimentamde40a50 milhões dereaisanualmente.Dascercade1.000
lojas
físicasnopaís,
600estãona
região
sudeste.Aproximadamente
Semoestilo "fundo de
galeria",
estaloja
da cidade preparaasvendedoras paralidarcom oclienteegarante
aprivacidade
nahora dacompra 650estabelecimentos vendemseusprodutos online.
Em
Florianópolis,
não há dados sobreo númerodecasasdo ramo emfuncionamento. O mercado dinâmi
co, em
expansão
e "malexplorado"
Éfeitoumtreinamentocom osfun
cionáriosparaque
conheçam
os cercade 1.200
artigos
diferentes.Apenas
mulheres atendem. Ele
explica:
asmulhe res sentem-seconstrangidas
ao conver sarsobreosprodutos
comhomens,
e oatraiu a
atenção
doproprietário
PeterSchwingel.
Elecontaquesuaslojas
têmumfoco diferente:uma sex
shop
sem a caradesexshop
de "fundo degaleria",
masquetemcomomaiordiferencialo
atendimento.
Venda
de
CDs
e
OVOs
piratas
nas ruas
perde
espaço
para
cópias
caseiras
Nos fundos do Camelódromo
Municipal
deFlorianópolis,
um rapazdizia asletras para quempassava,em voz
baixa,
numaespécie
depropaganda
discreta: "CD-OVO...".Quando abordado,
explicou
para opossível
cliente: "Apolícia
tá em cima, aí a gente temquetrabalharcom os filme
escondido,
entendeu?(sic)".
Após
sedirigirem
atéumpontode venda depassesde
ônibus,
vendedor e cliente
conseguiram
queum dos homens aceitasse se arriscar
no Centro. "Tem o mercado de
peixes
ali? Meaguarda
naportaque eu levo prati". Naáreadedescarga
do MercadoPúblico,
atransação
foi feita.Oesquema de venda deOVOseCDs
pirateados
dehoje
em nadaseparece comaquele
decercade trêsanosatrás,
quando
a mercadoria ficava expostalivremente.Esta
mudança
temdiversascausas."A
pirataria
estásaindo darua eindopara casa,eissoaconteceporquehoje
há mais acesso àtecnologia",
avalia Lúcia
Scalco,
socióloga
edoutoranda em
antropologia
social naUfrgs
(Universidade
Federal doRio Grande do
Sul),
em PortoAlegre.
Segundo
apesquisadora,
apirataria
física
é,
atualmente,
quaseexclusiva depúblico
masculinonãovêproblema
em seratendidopelas
meninas."Desexotodomundo
gosta",
sentencia
Schwingel,
aofalar sobreopúblico
da
loja:
60%sãomulheres,
de todasasclassese
idades,
muitascasadase afimde melhorar o relacionamento. Conta
que
já
teveclientes até de82 anos, que foram procurar osprodutos
por recomendação
médica.O mercado é
específico,
e o conta to comdistribuidores é feitopela
web.Schwingel
também éresponsável pelo
marketing
daloja,
quepossui
matrizna
Lagoa
daConceição
desdejunho
de2008,e umafilialnaTrindade desde
ju
nhodesteano.Pequenos
detalhesarespeito
dapri
vacidade, segundo ele,
sãoindispensá
veis:afrente daloja
éopaca,assacolassão decoresvariadas e sem nenhuma
identificação.
A matriz naLagoa
daConceição
será transferida para umambiente de 55 metros
quadrados,
emquesetentará
permitir
queváriaspessoas comprem ao mesmo tempo, sem
verem umasàsoutras.Pela
web,
aloja
vendeparaointeriordeSantaCatarina,
doRioGrande doSuledo Paraná.
Jessé Torres
Júlio Ettore Suriano
quem nãotemacesso àinternetbanda
quando
umabatida daPolícia Federallarga.
esvazioucercade 70boxes,
estáproibido
"[úlia
B., 19anos,estudante decurso o comércio deartigos
pirateados.
pré-vestibular,
faz parte do crescente "Estou sempre dando umas voltas enúmero de pessoas com acesso a fiscalizando. Se pegar
algo
falsificadoconexão de alta velocidade. Com os peço para retirar os itens, ou o box
pais,
édona deum acervodecercade corre o risco de serfechado",
explica
80discos de filmeseconcertosmusicais.
José Leal,
que há 18 anos administraElacontaque
copia,
emmédia,
umOVO· o local. Mesmo assim, semanas antespor semana, atravésde filmes
alugados
podiam
serencontrados diversosjogos
em
videolocadoras,
e utilizando falsificadosnolocal.Aoserquestionado,
programas de
computador
queanulam ovendedor de umdos boxes disse que obloqueio
do disco contragravações.
"filmese shows nãoerampermitidos,
"Eu comprava apenas
originais,
mas masjogos
sim",nacontramãode Leal.depois
ficoumaisbarato fazeremcasa, Ointermediárioqueatraíaosclientescom o
lançamento
degravadores",
diz. no camelódromo se identificou comoPara Lúcia
Scalco,
umaquestão
"Cholo",
ereclama dosobstáculosao seucentralna
pirataria
digital
éoconflito trabalho. "Todo mundo ficacommedo,
entreodireito à
informação
e odireito osP2(policiais
civisdisfarçados)
tãoali,
à
propriedade
intelectual. Emboraseja
aPPT(Pelotão
de PatrulhamentoTáticocada vez mais fácil baixar filmes e da
PM),
nécara? Se pegaremeles levammúsicas,
asempresasestãocomprando
tudoeé umprejuízo desgraçado".
Deza
briga.
AFederação
Internacional da minutosdepois,
a20metrosdolocal da IndústriaFonográfica
(IFPI,
eminglês),
abordagem,
umaviaturadaPPTestavaexaltaem seusitenúmeros queatestam
parada
enãoeramaispossível
avistara
queda
naaquisição
de mídias físicase Cholo ou outros intermediários. Elesoaumentodas
transações
online.aguardariam
umpouco pra voltar aoA
repressão
também está minando trabalho.a
pirataria
de rua. No CamelódromoFlorianópolis,
novembro de2009Saúdel
5
Depressão
é confundida
com
tristeza
Venda
de
medicamentos
antidepressivos
aumentou
mais de 42%
entre
2003
e
2007,
segundo
dados da
ANVISA
Segundo
aOrganização
Mundialda
Saúde,
32% dapopulação
mundialpode
desenvolver umquadro depres
sivo ao
longo
da vida. Adepressão
éuma síndrome que afeta atividades
vitais,
como o sono e oapetite. Apesar
da abundância decasos na
atualidade,
adoença
nãoéfruto da modernidadeeanteseradefinidaporváriosnomes,
entreeles
angústia
emelancolia.Especialistas
alertam que muitaspessoas estão confundindo tristeza e
frustração
- sentimentoscomuns ao ser
humano
-com
depressão.
"Aspessoas buscamumafuga,
umalívio imediatonos
antidepressivos
como se eles fossem uma
pílula
dafelicidade", explica
o
psiquiatra
Nelson Cardoso."45%das minhas consultasestãorelacionadasaquadros depressivos",
acrescenta.Acontecimentos quefazempartedo
cotidianocomo
perda
de emprego, finsde relacionamentosemortedeparen
tes
proporcionam
naturalmente sentimentos
indesejáveis.
Apreocupação
deve
surgir
quando
esses sentimentosse
prolongarem
pormuitotempoe começarem aafetara
personalidade
e arotina.
A
psiquiatra
Ana Michels enumeracinco características para auxiliar o
diagnóstico
dadepressão:
"Opaciente
deveapresentaralteração
desonoe/ou
apetite, flutuação
do humordiário,
medoinespecífico,
sensação
deculpa
e
piora matinal,
ouseja,
nãoter motivação
para levantar dacama". NilzaFoster
Seidler,
46 anos, éempregada
domésticae tevesua
primeira
depres
sãohá trêsanoscom amortedosogro dequemcuidava. "Eunãotinhavon
tade defazer
nada,
eunãomesuporta va edescarregava
nosfilhose no meumarido. Nemminha casa eu
limpava
mais",conta.Nilza procurouumposto
desaúdeecomeçouatomarfluoxetina durantedoisanos emeio.
Afluoxetina é umasubstânciaan
tidepressiva
queaumenta adisponibi-lidade deserotonina no
cérebro,
responsável pela regulação
do humorede atividades vitais.
Prozac,
Fluxene,
Verotina são
alguns
dos nomes comerciais mais difundidos. Os efeitos
colateraismaiscomunssãobocaseca,
prisão
de ventre, tontura e aumentodepeso.Mas, ao contrário do que
muitos pensam,
antidepressivos
nãocausam
dependência.
Sãoremédios detarja
vermelhacomvenda controladanas
farmácias,
pois
seu uso indiscri minadopode
afetar outras áreas da saúde. "Causar obesidade ou mesmo aperda
depeso, trazerproblemas
de ordem sexualeatédesencadearumadoença
queesteja incipiente",
alertaAnaMichels.
Os tratamentosduram em média
denove meses a um ano e, mesmo
após
esseperíodo,
apessoapode
voltar ater
depressão.
Nilzacomeçou ater os sintomas seismeses
depois
deinterromper
amedicação.
"Euesperei
umas duas semanas antes de voltaratomar oremédio para ver se pas
sava". Sem consultar outro médico
e conhecendo oremédio que deveria tomar, Nilza
conseguiu
comprar seusantidepressivos
semreceita."Agora
euestou bem
calma,
tranquila.
Antes eunão
conseguia respirar,
eusentiaumabafamento",
confessa.Diagnóstico
cuidadosoAs consultas médicas feitas
pelo
SUS e
pelos planos
de saúdegeral
mentesão
rápidas
enãodispõem
dotemponecessário para fazerum
diag
nóstico
preciso.
"Arelação
do médicocom o
paciente
temqueser umarelação
deescuta.Asconsultas feitaspelo
SUS duramnomáximodezminutos
e a
situação
nãoé diferente com osplanos
de saúde que pagam mal elevam osmédicos aatenderem mais
pacientes
pordia",
criticaCardoso.O
diagnóstico
dadepressão
éclínico,
não existe um exame queAção
do
antidepressivo
no
neurônio
Fluoxetina
bloqueia
reabsorção
A fluoxetina
impede
que a serotoninaseja
reabsorvidapelo
neurônio.Comessebloqueio,
aserotoninaficadisponível
emmaiorquantidade
nafendasináptica
-pequenoespaçoentreascélulasdo sistemanervoso
-onde age causando
sensações
demelhoraebem-estar.indique
se a pes-soapossui
ou não adoença,
o quejustifica
constatações
diferentes deummédico paraoutro."Para reconhecer
um verdadeiro
quadro depressivo,
omédico
precisa
saberponderar.
Seelenão prescrever
medicamentos,
nãosignifica
que eleesteja
exercendouma má medicina. Ele
pode
propor umacompanhamento
antesdereceitara
medicação".
Nelson Cardoso afirma que clí
nico
geral, ginecologista
e cardiologista
são asespecialidades
médicasque mais prescrevem
antidepressivos.
"Aspessoas vão
primeiro
a essesmédicos.Existe uma resistênciaa irao
psiquiatra,
que ainda é visto comomédico de
louco,
apesar deser omaisindicado para
diagnosticar
essa enfermidade",
esclarece.A síndrome não
possui
uma cau sa exclusiva. Cardoso descreve o serhumanocomo um ser
biopsicosocial,
que é influenciado
pela genética,
apsicologia
e omeiosocialemque vive."Predisposição biológica
e traumassãofortes fatores para desenvolver a
doença",
ressalta.A funcionária
pública
Liliane Regina
Régis,
47 anos,sempreseconsiderou
alguém
tristeeparabaixo."Eu meisoloquando
estoumal,
nãoqueropassar isso para osoutros.
Quem
meconhecemevê sempre
bem,
nãodeixo
transparecer".
Aperda
dopai
aos15 foi seu
primeiro
grande
trauma,mais tarde
problemas
enfrentados no n trabalhoafizeramcairemdepressão
�.
profunda.
"Aterapeutajá
tinhadiag
�
�. nosticado a minha
depressão
háuns �dez anos, mas eu sempre relutei em
tomarremédio. Sóque
depois
que eusofri ameaças no meuemprego, não
tive como
escapar",
confessa. Desdemarço Liliane toma
50mg
de antidepressivo
por dia. "Eusentiaumacoisa ruim nagarganta como se eupreci
sasse sairgritando,
eu tinha vontadede...". Comamãoemforma dearma
apontada
paraacabeça
Lilianemostraquetinha vontade desematar.
Ana
explica
queodeprimido
senteumador tão
grande,
tão intensa quepensanamortecomo umalívio. Nilza
também não tinha mais vontade de
viver. "Uma coisa eu tenho certeza,
se apessoanãotomaa
medicação
elacometeumaloucura".
Além dos sintomas
psicológicos
esentimentais,
adepressão pode
pro-porcionar
dorfísica nos doentes. Segundo Cardoso,
opaciente
costuma ter dores decabeça, musculares,
nasarticulações
e,em casosmais graves,desenvolver
problemas
cardíacos,
gastrointestinaisedistúrbios alimentares
como aanorexia.
A
depressão pode
acometerqual
quer pessoa, mas é mais
frequente
no sexo feminino. "A mulher émais
suscetível porque temuma
variação
hormonal muito
grande
durante avida", alega
opsiquiatra.
Tambémestãonafaixa de riscoidosose
prin
cipalmente
pessoascomantecedentes nafamília.Ter uma vida
saudável,
destinarparte do tempo para
lazer,
dormirbem,
ter horário paraacordar,
parasealimentare
respeitar
oslimites docorpo são as
principais
recomendações
paraseevitaradepressão.
A
psiquiatra
Ana Michelsprefere
não afirmar que a
depressão
está sebanalizando. "Eunão seise a
doença
está aumentando de fato ou se agora se fazem
diagnósticos
que não sefaziam
antigamente",
Ana reconhece: "Nósvivemosnumaépoca
queparecenão existir muito espaço paraatriste
za. As pessoas se sentem
obrigadas
aseremfelizes todosos
dias,
aestaremsempremuito
satisfeitas,
muitoreali zadas.Nãoébemassim,
nóstemos odireito deestarmostristesetemosque
permitir
queessetempo
detristezasedesenvolva dentro da
gente",
finaliza.MayaraSchmidt Vieira
ZERO
6 I
Política
Florianópolis,
novembro de2009Fotos: JulianaFrandalozo
Pinochet,
venerado
e
odiado
pelo
Chile
Mortes
são
ignoradas
e
19
anos
após
fim de
seu
governo,
ditador
é
lembrado
como
herói
por
parte
da
população
Acaneca com orostoestampado
do ziam queos excessosdoregime
foramgeneral
Pinochetestánavitrinedeuma cometidospelo
aparato derepressão
eloja
paraturistas daEstação
Central,
inteligência,
porsubordinados.Ochefeem
Santiago,
com os dizeres: Gracias estariaocupado governando
opaís.
AGeneral Pinochet.
$1500
chilenos- seisCaravanadaMortefoioúnicocaso em
reais
-pela
carasorridente de Pinochet que foipossível
comprovaraparticípa
na sua mesa.Augusto
PinochetUgarte,
ção
de Pinochet.Aqui,
ele colocousua ogeneral
que governouoChile de1973 marca",concluiPatricia.a 1990,foi senador até1998emorreu Em 2001, devido a
pressões
inter em2006,
éumafigura
controversana nacionais, um relatório contendo inhistóriaemarcada
pelo
amor oupelo
formações
sobrepresospolíticos
dogo ódionocoração
dopovochileno. vernomilitar,
foientreguepelas
Forças
Durante seu
funeral,
os admirado- Armadas ao entãopresidente
chilenoresde Pinochettomaramas ruasperto Ricardo
Lagos.
AconclusãoeradequedoPalácioLa
Moneda,
sede dogovernopelo
menos 800 presos mortos foramchileno,
parahomenagear
ogeneral.
lançados
aomar, dehelicópteros.
"FoiDooutrolado da
cidade,
Me
1"'0 rl"as
na
uma notícia
brutal,
perto da Universidade 1/1 II
algo
difícil deassimi-do
Chile,
pontohístó-área econômica
lar",
disseavice-pre-rico de
manifestações
sidenta daAgrupa-populares,
muita gentedurante
os anos
ción de Familiarescomemorava a morte
d dit d
de DetenidosDesa-do ditaDesa-dor com cham-
a
I
aura
parecidos
-AFDD -,
são
apontadas
Mireya
Garcia.AAFDDfoi criada
como
legado
do
em 1975paraexigir
general
Pinochet
que a verdade sobrecada preso
desapa-recidofosse revelada.
Quando
seconstatouqueboapartedosdesaparecidos
foiexecutada,
foi criadaaAFEP,
Agrupación
de Familiares deEjecutados
Político.Os números oficiais dão conta de
1.198
desaparecidos
queestãonas listas entregues aostribunais. Estima-se que
pelo
menos60%delesnuncaserãoencontrados. pagneecarreata.
ooutrolado de la moneda
O
golpe
de estadocomandado por Pinochet
em 11 de setembro de1973
pôs
fimaogoverno de
esquerda
dopresidente
Sal vador Allende.Umajunta
militarassumiu,e
logo depois
foi substituídapelo
governoúnico do
general,
queficou 17anos no
poder.
Como
presidente,
Pinochet criouummodelo de
aniquilamento
de todaaclasse
política
que ameaçavaospilares
de seu
regime.
Durante aOperação
Condor,
os militaresperseguiam
ematavam
opositores
políticos
emqualquer lugar
do mundo comajuda
da
Agência
deInteligência
do EstadosUnidos,
aCIA.Os
"inimigos
internos"eramcaçadosemortos.Outros,
simplesmente
desapareciam.
Numadessascaçadas,
ainda em 1973, achamadaCaravanada
Morte percorreuo
país
dehelicóptero
fuzilando
opositores.
NolivroA CaravanadaMortea
jornalista
chilenaPa triciaVerdugo
contasobreosequestro,desaparecimento
eassassinatodepelo
menos72 chilenos.
Ementrevistaao
jornal
FolhadeS.Paulo,
a autoradisseque ainvestiga
ção conseguiu
provar os.assassinatosa
partir
dedepoimentos
dos militaresque foram os executores. "Muitos
di-Memórias do
golpe
Como
golpe
de1973emandamento,aUniversidade de
Santiago
doChile,
assim como muitos
prédios públicos,
foi tomada
pelos
militares. Cerca de600
estudantes,
professores
etrabalhadores foram presos no Estádio
Chile,
pertodali.
EntreelesestavaVictorjara,cantor
e
compositor
chileno.Oadvogado
BorisNavia,queestevepresocom oartistae
sobreviveu,
foi testemunha dastorturasaquejarafoi submetido atésermorto
pelos
militares.Antesdeserlevado para aexecução, [ara
escreveu seu últimopoema, chamado Estadia
Chile,
queescapoudasmãosdos militareseserviu
de
inspiração
paraaresistência.Desse
período
de horroroschilenosherdaram a revolta.
Depois
de tantotempo sem
poder
se expressar, cadamanifestação popular
nas ruasganha
contornos de guerra
civil,
comdireito atanques e barricadas.No último 11de
setembro,
osconfrontosentrepino
chetistas,
que comemoravam36
anosdo
golpe,
emanifestantesdeesquerda,
renderam duasmorteseváriosferidos. •
DesenvolvimentoX
Repressão
Segundo
dados daCepal,
ComissãoEconômica para a América Latina e
Caribe,
durante o governo de Pinocheto Chilecresceu, em
média,
2,9%.
Nos governosdemocráticosque vieram
em
seguida
esse crescimento passoua5,9%. O governo de Allende começou,
em 1970,com9%decrescimentoeco
nômicoeterminoucomíndice
negati
vode4,3%.
Comuma
estratégia
econômicaneoliberal,
oregime
militar chilenopermi
tiuolivre
ingresso
decapital
estrangei
ro, oque
proporcionou
umequilíbrio
maior naeconomia, com forte
apoio
dosEUA. Essamedida reduziu as dívi
das do
Estado, equilibrando
as contaspúblicas.Ignacio
JavierGonzálezLópez,
líder estudantil demani-festações pinochetis
tas,consideraessa a
herança
maisimportante
dogoverno mili
tar: "Sem dú
vida,
seulegado
[de
Pinochet]
é esse
país
muitoperto do desenvolvi
mento que temos
hoje,
umpaís próspero
erespeitado,
seguro eestável".Oestudante de direitoé'
responsá
velporummanifestoafavor dacons
trução
deummonumentopara ogeneralPinochetnapraça
Constitución,
emSantiago,
ondefiguram
estátuasde outros
presidentes
chilenos. "Mais de40% dapopulação
apoia
aobradogeneral
Pinochete não existe umsólugar
ondesepossa deixarumaflorou rezarporele".Não háum número exato ou ofi
cial dos
apoiadores
dogeneral.
Gonzalo
Pinochet,
sobrinho dogeneral
e seuassessor por 24 anos, acredita queos
pinochetistas
leais aogeneral
seriamaomenos 12%da
população.
No site de relacionamentos
Face-Simpatizantes
estimamquemetade dopaís seja
grata
aPinochet;
nãohánu'meros oficiaisbook,
onde ospartidários
dogeneral
semanifestamcomliberdadee semgás
lacrimogêneo,
mais de 35 mil usuá rios declaram oapoio
a Pinochet. Hátambémnomesmosite,85.500 pessoas
contráriasaoditador.
Ignacio
López
diz que essas diferençasde
opinião
fazemparteda democracia.
"Apoiar
um governo nãodemocrático que foi necessário e a
única
solução
para nossopaís
naquele período
nãosignifica
serantidemocrata". . O diretor executivo da
Fundação
Presi-dentePinochet,
Luis CortésVilla,
lembrao ladopopulis
ta dogeneral.
"Opresidente
Pinochet tevepreocupação
com ospobres.
Recebeuum
país destruído, social,
financeira e
politicamente
destruído. Trabalhou 17anosparaque fôssemosum
país livre,
soberanoeacreditado.Obommomentodaeconomiasedeveao
queoschilenos fizeram sobocomando demeu
general".
De acordo com o
professor
deHistória da Universidade Federal deSanta
Catarina,Waldir
Rampinelli,
há umacontradição
nodesenvolvimento chile no."Aeconomiachilenavaibem,
masnão necessariamente o povo vaibem.
Quem mais se beneficiou da ditadura
foramosricos".
Essadivisão entre os que amam e
osqueodeiamPinochet evidenciauma
realidadenoChile.Aocontráriodo que
ocorreu no
Brasil,
osmilitareschilenosentregaramogovernocom aeconomia
equilibrada
e pronta para crescer deforma sustentadanos anos
seguintes.
Mas também é verdade que o go vernode Salvador Allende foi sabotado numa
conspiração
entreogoverno dosEstados Unidose osmilitares
chilenos,
inclusive,
comapoio
dogovernobrasileiro,
conforme documentosregistrados
no
Departamento
de Estado dosEUAeacessíveis
pelo
sitehistory.state.gov.
ParaRampinelli,
Allendecometeuseuserros,mas as
sanções
econômicascontraseugovernoforam fundamen
taispara
enfraquecê-lo.
"OsEUAjogou
maisdinheiro para derrubar Allende que paraaseleições
internas. Aestratégia
erafazeraeconomiagritar".
Luis Cortés Villa acredita que se
nãofosseessa
intervenção,
oChileseria"a
imagem
esemelhança
deCuba,
comduas guerras
perdidas,
famintosque vivem da caridade internacional
e comameaçapermanentede guerra
civil". Ele ainda afirmaque"o gover
node Pinochet éumahistoria quenos
enche de
orgulho.
O tempo nosdarárazão".
Ignacio
GonzálezLópez
é maisrealistaqueVilla. "Não posso
pedir
queas famílias dosmortosdurante ogo vernomilitar recordem delecomcari
nho.Entretantoa
situação
édividida,
metade do