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Quando o amor acaba? um estudo acerca da percepção de homens e mulheres quanto ao término do amor no relacionamento conjugal

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Academic year: 2021

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UNISUL

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANGELITA SILVA

QUANDO O AMOR ACABA? UM ESTUDO ACERCA DA PERCEPÇÃO DE HOMENS E MULHERES QUANTO AO TÉRMINO DO AMOR NO

RELACIONAMENTO CONJUGAL.

Palhoça 2013

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ANGELITA SILVA

QUANDO O AMOR ACABA? UM ESTUDO ACERCA DA PERCEPÇÃO DE HOMENS E MULHERES QUANTO AO TÉRMINO DO AMOR NO

RELACIONAMENTO CONJUGAL.

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga.

Orientadora: Dra. Carolina Bunn Bartilotti

Palhoça 2013

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...5

2 MÉTODO... ... 10

3 ANÁLISE DOS DADOS... 11

3.1 QUAL O SIGNIFICADO DE AMOR?...11

3.2 O QUE SE ESPERA DE UM RELACIONAMENTO CONJUGAL?...16

3.3 MOTIVOS DO TÉRMINO DO AMOR...20

3.4 MOMENTO QUE ACABOU O AMOR...24

3.5 CONSEQUÊNCIA...27

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...30

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QUANDO O AMOR ACABA?

UM ESTUDO ACERCA DA PERCEPÇÃO DE HOMENS E MULHERES QUANTO AO TÉRMINO DO AMOR NO RELACIONAMENTO

CONJUGAL¹

Angelita Silva Resumo: Com o objetivo de atrelar um tema que fosse do interesse da pesquisadora e ao mesmo tempo contribuísse com as práticas realizadas no Serviço de Mediação Familiar, o tema “Quando o amor acaba?” foi delimitado por estudar características importantes em um relacionamento cujo, os objetivos específicos são “identificar a definição de amor para homens e mulheres”; “o que homens e mulheres esperam de um relacionamento conjugal”; e “identificar como homens e mulheres percebem o término do amor no relacionamento conjugal”. Compreender as expectativas do casal ao iniciar um relacionamento, os conflitos no decorrer da relação e a dissolução como parte do fenômeno. A discussão deste assunto pode contribuir para a melhor compreensão dos sentimentos demonstrados pelos casais, entender os relacionamentos interpessoais e, o mais importante, a tentativa de compreender esse mundo da satisfação enquanto o relacionamento tem um funcionamento positivo, até que o casal opta pela a dissolução do mesmo. Esta pesquisa foi classificada do tipo exploratória, de natureza qualitativa, delineamento de estudo de caso e de corte transversal. Foram realizadas diversas leituras em artigos encontrados na base de dados do Scielo e Google acadêmico, assim como a leitura de alguns livros para contribuir no embasamento teórico. A partir disto foi verificado junto ao Fórum de Mediação Familiar contatos de pessoas que tenham utilizado o serviço com o intuito de divórcio ou dissolução da conjugalidade. Foram selecionados 40 usuários, e os oito primeiros dispostos a participarem da pesquisa foram os sujeitos pesquisados. Organizaram-se os dados em forma de categorias e subcategorias, de forma que pudessem responder aos objetivos desta pesquisa. Da análise de conteúdo e tratamento de dados deste material coletado são apresentados os principais resultados: que o significado de amor para os sujeitos participantes desta pesquisa é igual ao que as expectativas do relacionamento, e que ao terem suas expectativas frustradas, o amor acaba e, tendem a romper com o relacionamento.

Palavras-chave: Conjugalidade. Afetividade. Amor. Genêro e Relações de Poder.

1Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Psicologia (Graduação) da Universidade

do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção de título de Psicóloga. Orientadora: Prof.ª Carolina Bunn Bartilotti, Dra.

²Acadêmica da 10° fase do curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina.

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1. INTRODUÇÃO

“Amar é um deserto e seus temores, vida que vai na sela dessas dores, não sabe voltar me dá teu calor. Vem me fazer feliz, porque eu te amo, você deságua em mim e eu oceano, esqueço que amar é quase uma dor, só sei viver se for por você”. Djavan, cantor e compositor, em sua música Oceano tenta descrever o amor, sentimento que movimenta e desperta nas pessoas o desejo de vivenciar através dos relacionamentos conjugais a experiência proporcionada pelo sentimento.

Discorrer sobre amor atrelado a vivência da conjugalidade é importante, por este ser um evento muito presente na vida dos sujeitos no século XXI. O relacionamento conjugal, de acordo com Féres-Carneiro (1998), na sociedade do século XXI ainda é considerado um evento importante na vida das pessoas. Féres-Carneiro (1998) elucida que há uma cultura construída de que é uma experiência importante, por ser um fenômeno considerado significativo e validado. Corroborando com a autora referida, Machado (2007) e Norgren et al (2004) apontam o relacionamento conjugal como um dos aspectos que mais geram satisfação e bem-estar pessoal, pois nele está implicado a qualidade na saúde emocional e física, podendo impactar na vida profissional das pessoas.

No entanto, vivenciar a conjugalidade pode ser fonte de danos na vida dos indivíduos. Ávila (2004) apresenta que quando há conflitos relacionais entre os cônjuges, a insatisfação na relação pode ser consequência, levando-se em conta que este fator, pode ser fonte de estresse emocional e físico na vida dos sujeitos. Para Lima (2012), as relações conjugais iniciam quando o casal coloca expectativas no outro, porém no decorrer da relação, quando as mesmas não são alcançadas, frequentemente ocasionam angústia e frustração nos indivíduos envolvidos, fazendo com que decisões sobre a ruptura da relação sejam tomadas, embora se saiba que nem sempre isso ocorre. Esse movimento entre a criação da expectativa e a frustração torna-se um processo complexo, do qual muitas vezes decorre a dissolução da conjugalidade que causa grande impacto na vida das pessoas envolvidas.

Como conceito de conjugalidade, Heilborn (2004) apresenta: as “relações afetivo-sexuais que condensam um estilo de vida, fundado em dependência mútua e uma dada modalidade do arranjo cotidiano” (p. 11-12). Satir (1977, apud PERLIN,

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2006), apresenta elementos que o casal precisa aprender para vivenciar a conjugalidade, tais como: “expressar seus pensamentos, desejos, sentimentos e conhecimentos, sem destruir, invadir ou obliterar o outro, procurando ao mesmo tempo alcançar um resultado satisfatório, de interesse comum” (p. 37). Pode-se pensar então que a constituição da conjugalidade bem sucedida ocorre quando indivíduos, cada um com seus projetos de vida, estabelecem vínculos afetivos e, unidos por interesses comuns, respeitando a individualidade e os projetos um do outro, optam por construir um projeto conjugal juntos.

Costa (1998) ressalta que a união conjugal no século XVIII tinha a finalidade de que o patrimônio permanecesse na família, fazendo com que os casamentos fossem negociados, visando questões econômicas, políticas e financeira dos futuros casais. De acordo com Ariés (1981), a Era Moderna modificou o cenário em relação ao matrimônio trazendo uma nova configuração, no qual o novo ideal de casamento tornou-se uma busca ao amor e à felicidade, surgindo também, os conflitos e as desilusões, por não corresponderem, em inúmeros relacionamentos, às experiências dos casais. Neste sentido, Oltramari (2009) afirma que o amor vem sendo considerado uma emoção desejada entre os seres humanos por séculos, estes, procurando ou não um relacionamento duradouro, são movidos a buscarem o amor.

Vários autores, tais como Bozon (2003), Oltramari (2009), Bauman (2004), entre outros, conceituam sobre o amor, dentre eles podemos citar Michaelis (2010), que acredita que o amor é um sentimento que induz a aproximar, proteger ou conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração. Solomon (1992) aponta que o amor é um processo emocional derivado de um conjunto de pensamentos apreendidos no seu contexto sócio-histórico-cultural. Silva (1994) complementa destacando que o amor é fruto da cultura e não da natureza. Conclui-se, portanto, que o amor deve ser entendido frente a um determinado contexto social e temporal.

Giddens (1993) apresenta o amor romântico como uma expressão da realidade emocional, fazendo com que a intimidade no homem moderno seja suscitada. Essa nova perspectiva de amor romântico, possibilita as pessoas a exercerem a liberdade de escolha de seu parceiro conjugal, pois esta ideia “libertou o vínculo conjugal dos laços de parentescos” (p. 2). O autor ainda discorre que deste amor, surge o amor confluente que está mais relacionado com o século XXI, por este ser ativo e contingente, o que acaba se opondo ao amor romântico devido às categorias de “sempre” e “único”. No

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relacionamento no qual o amor confluente é denominado, presume-se envolvimento emocional e igualdade de doação recíproca.

Para Beck (1995), embora o amor seja uma poderosa força que ajuda os casais a se apoiarem mutuamente, ele em si não configura uma substância sólida no relacionamento. Beck (1995) ainda explana que certas qualidades e habilidades pessoais são cruciais para que haja a manutenção da relação, tais como: lealdade, sensibilidade, generosidade, consideração, responsabilidade e confiança. Concluindo que os cônjuges precisam cooperar, sendo tolerantes e prosseguirem com tomadas de decisões conjuntas, pois ao serem flexíveis, receptivos e compassivos um com o outro, esse conjunto de “virtudes” cultivadas no tempo, pode contribuir para o desenvolvimento e amadurecimento da relação conjugal (BECK, 1995).

O que vai desencadear o amor um no outro, é algo individual, pois vai depender das necessidades psicológicas, preferências e gostos de cada um, sendo que enquanto uma pessoa pode responder por critérios convencionais de atração e de beleza, a outra pode se sentir atraída por outro tipo físico específico (BECKER, 1995). Parece que é em torno destas expectativas, que os indivíduos depositam um no outro o ideal de um relacionamento.

Para que haja a construção do relacionamento, é importante que o casal construa uma identidade conjugal. E esta constituição ocorre de forma gradual; os seres humanos, por estarem em processo de mudança e adaptações, vivenciam constantes experiências por meio das suas relações. Oltramari (2009) ressalta que, ao se conhecerem, os amantes, por meio de ações, vão investindo no relacionamento por meio de pequenos gestos, tais como: envio de fotos, troca de emails, entre outros, com o intuito de estabelecerem uma relação mais sólida. É importante pensar-se na construção da subjetividade do casal contemporâneo, pois a conjugalidade nesta Era é baseada primordialmente no sentimento amoroso, podendo tornar o relacionamento do casal instável, atribuindo ao relacionamento a existência de fatores afetivos tão incertos e flutuantes (BOZON, 2003).

Portanto, de acordo com a literatura pesquisada, a conjugalidade se modificou no decorrer do tempo, e a partir do século XXI surge a valorização do amor, sendo este sentimento a principal razão ponderada na escolha do par conjugal nos dias de hoje. Contudo, os autores destacados também retratam a complexidade que envolve a conjugalidade, elencando aspectos importantes que contribuem para a manutenção da relação conjugal, quais sejam: as expectativas e idealizações de cada um dos parceiros,

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a qualidade da comunicação e habilidades pessoais. Desta maneira, é possível pensar-se que o amor, apesar de supervalorizado na representação cultural no século XXI, por si só pode não ser suficiente ou único elemento para sustentar a relação a dois.

Oltramari (2009) expõe que mesmo diante de tal fragilidade, com o conhecimento de que o relacionamento pode durar menos do que se imaginou, as pessoas ainda almejam o “amor”, como se este fenômeno fosse algo eterno. Diante disto, o amor romântico como prática social, torna-se uma prova da capacidade humana de significar e dar sentido aos fenômenos. Ribeiro e Ribeiro (1995) descrevem que na modernidade o casal estrutura-se com base em um encontro psicológico singular, enraizado na crença do sentimento amoroso, ficando à parte, questões alheias a sua própria existência. Desta forma, de acordo com Oltramari; Ribeiro e Ribeiro (1995) pode-se entender que mesmo com os laços afetivos se tornando cada vez mais frágeis no século XXI, ainda assim, os seres humanos sentem a necessidade de se relacionar com pessoas e buscam o amor como objetivo da relação.

Bozon (2003) não desconsidera a existência de casais que podem se manter por muito tempo, estes no geral conseguem manter a relação bastante distante da paixão inicial. No dia-a-dia muitos casais tendem a encorajar um ao outro com sinais de apreciação pelo gesto apresentado por uma das partes, motivando para que este tenha desejos de repetir em outras ocasiões, pois toda vez que o companheiro se comporta de forma desejada e é recompensado por isso, sente-se motivado para repetir o gesto ou a ação, fazendo com que essa repetição seja enraizada, permitindo que um ciclo seja construído, e que este seja capaz de neutralizar a egocentricidade que se opõe às necessidades do outro (BECK, 1995).

Se não existe amor, a tendência dos casais é o divórcio. Conforme dados obtidos pelo IBGE (2011), o número de divórcios de casamentos civis registrados no ano de 2010, totalizou 243.224, sendo esta, a maior taxa desde o ano de 1984, data em que os registros civis passaram a ser computados estatisticamente. O IBGE mostra que o número de divórcios tem crescido cada vez mais, sendo que estes dados não computam todos os tipos de relacionamentos existentes nas sociedades de hoje, tais como: União estável (oficializada e não oficializada) e casamento religioso, estando na estatística apresentada apenas o casamento civil.

Outras pesquisas encontradas na base de dados Scielo e Google Acadêmico, com palavras-chave relacionadas aos relacionamentos conjugais, tais como: amor, conjugalidade e afetividade, reforçam o quanto pesquisar sobre relacionamento conjugal

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é importante, no entanto, este artigo contribuirá para melhor compreensão de como ocorre o processo da ruptura da conjugalidade. Há muitas pesquisas relacionadas ao tema conjugalidade (OLTRAMARI (2009), BECK (1995), BAUMAN (2004), BOZON (2003), demonstrando que esse processo da dissolução da conjugalidade é causa de sofrimento, entretanto, os dados não demonstram em que momento o casal identifica que o amor acabou no relacionamento conjugal, ou se a conjugalidade está sendo dissolvida, mesmo sem que o amor termine. Verificando uma nova possibilidade de estudo para os profissionais de Psicologia, esta pesquisa pretende compreender as relações, as individualidades, bem como de que maneira as pessoas se dão conta de que o amor terminou no decorrer da relação.

O estudo sobre como os indivíduos percebem que o amor acabou no relacionamento conjugal é relevante do ponto de vista social, pois permite compreender os relacionamentos, suas configurações e rearranjos. Além disso, pretende verificar como homens e mulheres se percebem e se relacionam com os seus companheiros, visando compreender como se dá essa relação e o caminho que estes cônjuges levaram até chegar a conclusão de que o amor acabou.

Diante do exposto, é possível pensar que o amor acaba, antes que a conjugalidade termine? Ou que a conjugalidade termina sem que o amor acabe? O casamento é um contrato, e quando o que foi pactuado entre o casal não é cumprido, ele pode se desfazer antes do amor acabar. Outro ponto importante são as mudanças de ciclo de vida e o impacto dos estressores (horizontais e verticais), sendo que para Carter e McGoldrick (2008), os estressores verticais, correspondem: padrões, mitos, segredos e legados familiares, já os horizontais estão relacionados: transições no ciclo de vida, e outros acontecimentos que podem influenciar na conjugalidade, como: morte precoce, doença crônica e acidente, pelos quais todos os casamentos têm de enfrentar.

Como homens e mulheres identificam que o amor acabou no relacionamento conjugal? Através do problema de pesquisa, pode-se responder ao objetivo geral “Identificar como homens e mulheres percebem que o amor acabou no relacionamento conjugal” para assim responder aos objetivos específicos que são: “identificar a definição de amor para homens e mulheres”, assim como “o que homens e mulheres esperam de um relacionamento conjugal” e “identificar como homens e mulheres percebem o término do amor no relacionamento conjugal”.

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2. MÉTODO

Com o objetivo de analisar a percepção de homens e mulheres quanto ao término do amor no relacionamento conjugal, foi realizada uma pesquisa do tipo exploratória, de natureza qualitativa, delineamento estudo de caso e de corte transversal.

Foram participantes da pesquisa oito sujeitos, sendo quatro mulheres e quatro homens, com idades entre 30 e 40 anos. Todos os participantes eram residentes na grande Florianópolis e foram localizados a partir da base de dados da Mediação Familiar. A coleta de dados foi realizada durante os meses de março e abril de 2013. Como pré-requisito para participar da pesquisa, era necessário que os sujeitos pesquisados já tivessem vivenciado o término do relacionamento conjugal. Abaixo o Quadro 1 apresenta a caracterização dos sujeitos. Os nomes dos participantes aqui apresentados são fictícios; optou-se por utilizar esses nomes, pois são poetas brasileiros que discorrem sobre o amor, e assim preservar em sigilo os dados dos participantes.

Participantes Idade Sexo Tempo do último relacionamento

Carlos Drummond de Andrade (H1) 41 anos M asculino 14 anos

Vinícius de Moraes (H2) 30 anos M asculino 10 anos

Cecília Meireles (M3) 32 anos Feminino 12 anos

Manuel Bandeira (H4) 40 anos M asculino 10 anos

Clarice Lispector (M5) 35 anos Feminino 09 anos

Elisa Lucinda (M6) 32 anos Feminino 16 anos

Helena Kolody (M7) 32 anos Feminino 07 anos

Mario Quintana (H8) 38 anos M asculino 04 anos

Quadro 1: Caracterização dos sujeitos Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Para levantamento de dados foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada (APENDICE A) com sujeitos que utilizaram o Serviço de Mediação Familiar porque passaram por processo de divórcio ou dissolução da união estável. O roteiro de entrevista foi elaborado com 16 perguntas, a partir de uma análise das variáveis constituintes do fenômeno a ser investigado. O contato com os participantes foi realizado por meio de ligação telefônica, nos quais foram separados 40 usuários do serviço e os oito primeiros que aceitaram participar da entrevista foram os selecionados, conforme termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE B).

As entrevistas ocorreram em local adequado, ou seja, livre de interrupções. Foram gravadas e transcritas, de acordo com termo de consentimento para gravação (APÊNDICE C). Após a transcrição das entrevistas foi realizada a analise de conteúdo. Os dados foram organizados e sistematizados por categorias e subcategorias conforme orienta Bardin (1997) a partir da fala dos entrevistados, que foram estabelecidas a

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posteriori. Para cada categoria elaborada construiu-se um gráfico, cujo título corresponde ao nome dessa categoria, o eixo Y corresponde às categorias, e o eixo X corresponde as subcategorias e as ocorrência com que a subcategoria apareceu na fala dos participantes.

3. ANÁLISE DOS DADOS

Pesquisar sobre o amor e discorrer a respeito do relacionamento conjugal são temas que despertam interesse aos leitores, no entanto, quando se pesquisa estes temas nas bases de dados, verifica-se que vivenciar a conjugalidade é muito mais do que o “viveram felizes para sempre”. Manter a identidade individual de cada membro do casal, assim como construir uma identidade conjugal, tem se mostrado um processo complexo. Para melhor compreender como as pessoas experienciam esse fenômeno, buscou-se verificar o significado do amor na vida dos pesquisados; se há uma expectativa quanto ao que esperar de um relacionamento conjugal; e se os sujeitos pesquisados identificam quando o amor acaba. Pode-se perceber que para os sujeitos pesquisados que o amor e as expectativas, estão relacionados e ambos têm um sentido e significado na vida dessas pessoas.

3.1 QUAL O SIGNIFICADO DE AMOR?

Em relação ao que os sujeitos pesquisados apresentaram como significado de amor foram: compreensão, conquista, segurança, tesão, estar com a pessoa, motivação, saudades, respeito, companheirismo, compartilhar um com o outro e responsabilidades. Os significados apresentados foram agrupados em duas categorias: aspectos pessoais e aspectos interpessoais, conforme quadro abaixo.

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Gráfico 1: Aspectos relacionado ao significado do amor Fonte: Elaboração da autora, 2013.

A subcategoria respeito foi apresentada por três participantes ao mencionar o que significam do amor. Rosset (2004) explicita que respeitar a individualidade do companheiro, é permitir que ele continue sendo quem é, sem que isto acarrete prejuízo para o relacionamento. Em relação à percepção dos participantes desta pesquisa sobre o significado de amor: H2, H4 e M7 apresentam que “[...] é respeito [...]". Rosset (2004) complementa, aceitar que o companheiro é diferente, e compreender que tem suas ideias, valores e manias, sem desqualificá-las, é uma característica muito importante no relacionamento, pois ao possibilitar o respeito à identidade individual do outro, é possível respeitar sua autonomia, e consequentemente isto acarreta em crescimento e aprendizagem na relação. O respeito, no século XXI, é um determinante muito importante no relacionamento, pois, de acordo com Gomes e Paiva (2003, apud PERLIN, 2006), quando ocorre a impossibilidade de respeitar o outro como ele é, sendo ele uma pessoa diferente, não há como promover o respeito à subjetividade do companheiro no relacionamento. Pode-se pensar que o respeito é um fator contribuinte para a construção do relacionamento, segundo o que três dos participantes desta pesquisa apresentam, pois para estes, o respeito é atribuído ao significado de amor.

Outra subcategoria localizada na fala de uma participante é segurança. Ao discorrer sobre segurança no relacionamento conjugal, Rosset (2004) relata que se

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Respeito Saudades Motivação Estar com a pessoa Tesão Segurança Conquista Compreensão Responsabilidades Compartilhar um com outro

Companheirismo A sp ec to s pe ss oa is A sp ec to s in te rp es so ai s Mulheres Homens

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apaixonar vai depender da disponibilidade que cada pessoa tem em correr riscos, em se entregar, pois a ausência de paixão vai sinalizar o grau de controle e funcionamento racional, ou seja, a independência desse sujeito. Para Rosset (2004), a segurança é fantasiada por muitos indivíduos de que é um aspecto juntamente com o afeto, que vem do outro, indo ao encontro com o que a M3 explicita “[...] pra mim significa [...] se sentir segura [...]” como sendo significado do amor. Bauman (2004) descrevendo sobre o amor pontua que, ao investir em uma relação, o lucro esperado é a segurança. A segurança no relacionamento foi um fator que apareceu na fala de uma das participantes, não demonstrando ser um aspecto significativo na fala dos outros sujeitos como elemento que signifique o amor.

Em uma das subcategorias, um dos participantes pontua a saudade e estar com a pessoa, elementos que significam o amor. Segundo Rosset (2004), o tempo é um elemento importante, pois ocorrem mudanças e junto com elas, os dados da realidade modificam, sendo inevitável que o amor (paixão) desapareça. Rosset (2004) ainda acrescenta que o amor é um exercício trabalhoso, e alimentá-lo é uma das tarefas mais importantes da vida, isto é, se os indivíduos permitirem que o sentimento que sentem um pelo outro se organize sozinho, é possível que a rotina, as diferenças, assim como as dificuldades do dia a dia, acabam transformando esse amor em mera lembrança, corroborando com H8 quando este afirma que amor é “[...] é estar com a pessoa e gostar, se sentir bem, sentir a falta dela quando não está por perto, saudades, compartilhar um com o outro, os defeitos, as qualidades, os bons momentos, os momentos ruins também [...]”. Ou seja, no amor a temporalidade é um aspecto importante, e diante das modificações que a rotina diária acresce na relação, caso o casal não consiga se organizar para a alimentação do sentimento, a vivência pode tornar-se um momento nostálgico. Este aspecto não aparece na fala dos demais participantes, no entanto, para este sujeito, ela aparece como um sentido importante, como forma de significar o amor, que considera importante no relacionamento.

Outra subcategoria que aparece na fala de um dos sujeitos é referente a ter tesão e uma conquista diária. A rotina diária, dependendo dos comportamentos que são repetidos entre o casal, o que é singular do cônjuge, pois ao verificar o significado de amor, um dos elementos que aparecem, para M7 quando esta relata sobre o sentimento para si: “[...] é tesão [...] e [...] se existe uma conquista diária [...]”. Percebe-se que para esta participante o aspecto erótico está relacionado com sua percepção de amor. O que existe na fala de M7 acerca do amor é portanto, uma rotina de investimentos. Em

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relação a isto Rosset (2004) apresenta que se a paixão acaba, e se o relacionamento não tem energia para continuar, o sujeito pode não ter motivação para investir na continuidade e na transformação da relação antes apaixonada, para o amor.

Perlin (2006) descreve que o sexo tem um aspecto importante na vida do casal, quando estes sofrem inúmeras pressões, considerando estas variáveis: a rotina, dificuldade de expressar a satisfação relacionadas as diferenças individuais e culturais, a dificuldade em estabelecer tempo para a intimidade sexual do casal, cansaço físico e psicológico, estes tendem a ter um declínio no relacionamento sexual. Verificando assim, que a rotina quando voltada para a manutenção da relação, como forma de investimento, pode ser considerada um ponto positivo no relacionamento, no entanto, o inverso pode ocorrer, fazendo com que haja um afastamento da intimidade e afetividade por parte do casal. O que pode ser atrelado a fala da participante ao mencionar que tesão e conquista diária estão relacionados e fazem parte do que ela percebe quanto ao significado de amor.

Outro fator que aparece como subcategoria na fala de um dos participantes é a compreensão. Rosset (2004) explicita que a paixão pode se transformar em amor, no entanto, essa transição de um para outro envolve o desenvolvimento de muitos fatores, como a capacidade de lidar com a realidade, frustrações e diferenças, sendo necessário que ambos aprendam a usufruir o que o outro e a relação tem de bom, e ao mesmo tempo aprender a neutralizar o que o outro e a relação tem de ruim. O que vai ao encontro com M6 ao afirmar que “[...] é compreensão [...]” o que significa do amor, e compreender um ao outro. Rosset (2004) ainda completa ao mencionar que o amor não tem uma única definição, pois cada sujeito significa esse sentimento de acordo com o ângulo ou as questões que lhe são importantes. Segundo Perlin (2006) é importante demonstrar para o companheiro, carinho e amor para que haja a coexistência pessoal, familiar e social, assim como a constituição do casal e o respeito mútuo, acima de tudo no que tange as debilidades e defeitos, fazendo com que a compreensão, a tolerância e o esforço constante possam atenuar as dificuldades, e o casal sinta-se satisfeito em vivenciar o amor. Compreensão foi um elemento apontado por uma das participantes da pesquisa, atribuindo este aspecto ao significado de amor.

O amor, sendo considerado um sentimento entre os indivíduos, é para ser atrelado a uma relação de autonomia e troca entre o casal. Entretanto, o que é comum acontecer, de acordo com Oltramari (2009) que o amor, evento procurado e almejado pelos amantes, pode resultar em anulação pessoal quando as pessoas acreditam que o

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encontraram. Bozon (2003) complementa que o amor é gerador de expectativas excessivas, por ele poder causar desilusões muito fortes nas pessoas. Bauman (2004) corrobora com a ideia de amor apresentada por Oltramari (2009) e Bozon (2003), qual seja, que o amor é uma ameaça a seu objeto, pois a rede protetora carinhosamente tecida por ele, escraviza e acaba escravizando, aprisiona e coloca o detido sob custódia, de maneira que o amor prende para proteger seu prisioneiro. Diante de todos esses fatores apresentados, percebe-se que todos os aspectos aqui citados são voltados para a identidade individual do sujeito, não demonstrando a necessidade de haver a reciprocidade do casal. Podendo aqui de forma metafórica dizer que amor romântico está vinculado a individualidade do sujeito, já que estes criam tantas expectativas em relação ao outro e muitos se implicam nesta relação como forma de troca recíproca.

A subcategoria referente a compartilhar um com o outro como significado de amor apareceu na fala de quatro dos participantes, ao verificar as falas dos sujeitos H1, H2 e M6 que vão ao encontro do que H8 disse: “[...] compartilhar um com o outro, os defeitos, as qualidades, os bons momentos, os momentos ruins também [...]”. Beck (1995), descreve que há forças para manter o casal unido e que ao considerar esses elementos, é admirável que haja tantos casamentos fracassados, pois além do fato de “amar e ser amado” ser uma experiência enriquecedora pelas quais as pessoas vivenciam, há o apoio da família e do meio social. Ainda sobre o relacionamento conjugal, Beck (1995) discorre sobre alguns elementos que, em geral, os cônjuges esperam dessa relação, tais como: a intimidade, o companheirismo, a aceitação, o apoio entre outros eventos. Rosset (2004) relata que se relacionar é uma aprendizagem, pois esta move o indivíduo a uma mudança de adequação ao ambiente, não só interno como externo, pois “adequar suas reações as reações do outro, às reações do ambiente e às alterações da relação e das situações”, não é fácil (p. 82). Entretanto, adaptar-se a essas mudanças é o requerimento mínimo para definir o futuro, no sentido de negociar decisões e administrar bem as situações que a conjugalidade impõe ao casal. Percebe-se que estes quatro sujeitos entendem o amor para além do amor romântico com atravessamentos de amor confluente.

Outra subcategoria que aparece nas falas dos sujeitos é responsabilidade e companheirismo, M6 e M7 apresentam sobre o significado de amor, que é "[...] dividindo as mesmas responsabilidades [...]” e “[...] é companheirismo [...]” respectivamente. Rosset (2004) ao descrever sobre o padrão de casal relata que as pessoas ao se escolherem como um casal estruturam sua forma, que é única de ser, e que

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aos poucos vão estabelecendo um padrão de funcionamento, que fará parte da dinâmica relacional. O dar o melhor de si no relacionamento, de acordo com a autora, é um processo importante, pois se cada um dos cônjuges tiver consciência das suas próprias qualidades e de suas capacidades, poderá enriquecer a relação, permitindo que o que tem de bom, rico e fácil possa atuar na conjugalidade, objetivando que juntos, desfrutem do que tem e do que há de melhor em cada um. Jablonsky (1995, apud PERLIN 2006) explica que a maior crise do casamento no século XXI é a expectativa na idealização do amor-paixão, sendo que este último pode iniciar com o do relacionamento amoroso, no entanto para que sobreviva na durabilidade, é necessário que se desenvolva no sentido do companheirismo. Coutinho (2000, apud PERLIN, 2006) apresenta que há diferença nas percepções dos parceiros acerca de seus papéis no relacionamento, transformando esses dilemas em desafios que o casal precisa enfrentar, sendo que para homens e mulheres, aparentemente suas funções multiplicaram, no entanto, ainda há dificuldades em dividir as responsabilidades no casamento. Giddens (1993) ainda acrescenta que o amor confluente proporciona aos indivíduos um relacionamento puro, pois o amor romântico, devido à dependência compulsiva, a obrigação rotineira, a divisão dos papéis sexuais, assim como a ausência do diálogo, desenvolve prejuízo na relação. Nestas falas, verifica-se que o significado de amor para estes sujeitos, tem o sentido de aspectos relacionais e troca recíproca, para que haja a possibilidade de existência desses fatores, é necessário a implicação de ambos no relacionamento.

Diante das exposições conclui-se, portanto, que o significado de amor para os participantes possuem aspectos relacionados ao amor romântico e ao amor confluente. Neste sentido é necessário refletir se o que os amantes mais priorizam em uma relação, é proveniente de aspectos individuais ou relacionais, pois é através desta compreensão que poderá perceber qual é o maior sentido de amor para o sujeito.

3.2 O QUE SE ESPERA DE UM RELACIONAMENTO CONJUGAL?

Este Gráfico 2 corresponde ao segundo objetivo desta pesquisa, que se refere ao que homens e mulheres esperam de um relacionamento. Esta categoria é subdividida em quatro subcategorias: respeito, satisfação do ego, atração sexual e companheirismo, que aparecem como elementos que os participantes consideram importantes e esperados na vivencia da conjugalidade.

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Gráfico 2: Expectativas do sujeito acerca do relacionamento conjugal. Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Nesta categoria observou-se uma relação entre significado de amor e o que se espera de um relacionamento. Refletindo sobre relacionamento conjugal, Beck (1995) elucida que ao tomar a decisão de viver juntos, o casal cria expectativas em relação ao outro, fazendo com que certos anseios, tais como: o anseio pelo amor, pela fidelidade, pelo apoio e amparo incondicionais sejam esperados nesta relação. Essas expectativas acabam fazendo com que os companheiros de forma explícita ou implícita empenhem-se em atender essas necessidades enraizadas, o que acaba por definir qualquer atividade realizada pelo parceiro na relação conjugal.

Na subcategoria companheirismo quatro participantes demonstram que esta variável é um fator esperado no relacionamento. Para H2 é o que espera de um relacionamento conjugal, é “[...] ter alguém do seu lado, que você ama, que você é amado por essa pessoa, que respeita você, que você pode respeitar [...]”, H2 complementa: “[...] eu tenho que ser a primeira pessoa, o melhor amigo dessa pessoa que vive comigo e vice e versa, eu também vou confiar nessa pessoa, tendo ela como minha primeira e melhor amiga [...]”, outros três participantes responderam no mesmo sentido (F3, F5 e F7) . De acordo com Andolfi, Angelo e Saccu (1995) as tentativas que os indivíduos têm, em tentar unir os conteúdos idealizados, com os dados que a realidade apresenta, permite uma importante reflexão para o tema, pois levar em consideração os aspectos históricos da vida pessoal do sujeito envolvido, assim como os valores, a história da família de origem e sua forma de enfrentar os processos de união e separação entre seus vários membros tem grande relevância, por apresentar dados que

0 1 2 3 4 5 1 1 4 R E SP E IT O SA TI SF A Ç Ã O D O E G O A TR A Ç Ã O SE X U A L C O M PA N H E IR IS M O M H

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vão contribuir para o autoconhecimento e uma tomada de decisão mais voltada para os fatores que procura vivenciar em um relacionamento. Complementa-se esta questão com Norgren et al (2004) que expõe que no relacionamento há a expectativa de que seus desejos e necessidades sejam correspondidos, assim como o atendimento às expectativas criadas pelo companheiro. Desta significativa resposta apresentada por quatro participantes pode-se pensar que companheirismo pode ser atrelado a aspectos relacionais, no qual a implicação de ambos os membros do casal, aconteça pela troca recíproca.

Já a subcategoria referente à satisfação do ego verifica-se que o esperado em vivenciar no relacionamento é se sentir bem e satisfeito, e esse bem-estar vai depender do que cada sujeito procura vivenciar com o outro. H1, H4, M6 e H8 descreveram as características que consideram importantes de serem encontradas no parceiro de relacionamento, destaca-se como exemplo a seguinte fala de H4: “[...] quero alguém para sair, para gente curtir o lado bom das coisas, dividir o dia a dia, mas tudo com muita tranquilidade, com muita maturidade, com independência financeira total das duas partes [...], procuro afinidade [...]”. Segundo Andolfi, Angelo e Saccu (1995), a atenção seletiva tem a função de promover cautela nas características que sugerem importância na escolha do parceiro, pois são esses aspectos que devem satisfazer as expectativas implícitas nos elementos que fazem parte de seus valores. Os autores discorrem que de forma geral, esses fatores são genéricos o suficiente para permitir certa margem de escolhas, quando estas são consideradas individualmente, no entanto, quando verificadas e observadas no conjunto, elas adquirem um alto grau de especificidade. Andolfi, Angelo e Saccu (1995) lecionam que a família tem grande influência nas características que o indivíduo seleciona como aquilo que busca no outro, e que “dependendo da força e riqueza dessa influência, maiores serão as possibilidades de desenvolvimento e escolha, ou seja, quanto mais forte for um de seus componentes, tanto mais predominará sobre os outros na busca da satisfação” (p. 48). Perlin (2006) apresenta que até algumas décadas atrás, dificilmente ocorria a dissolução da conjugalidade, e que o método de avaliação da satisfação no casamento era muito diferente do que é presenciado no século XXI, pois nos dias de hoje leva-se em consideração a satisfação individual e a do casal. Diante disto, verifica-se que a satisfação do ego é um princípio valorizado para o que se espera vivenciar no relacionamento conjugal.

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A subcategoria atração sexual foi identificada na fala de uma das participantes da pesquisa. Neste sentido M7, que refere: “[...]O amor pra mim ele é respeito, ele é companheirismo, ele é tesão. Enquanto houver essas três coisas e claro, mais um pouco... o amor ainda existe [...]”. Sobre a sexualidade vivenciada no século XXI Oltramari (2009) classifica um modelo de sexualidade individual, pois o desejo pessoal está cada vez mais presente nas relações sexuais, o que não deixa de ser uma marca da sociedade atual. Para Oltramari (2009), existe uma necessidade em compreender essas relações íntimas, pois é através delas que os seres humanos têm buscado interação social, identificando como uma forma de barganhar, ou seja, há recompensas, custos e trocas sociais, em qualquer relação que se suponha algum tipo de intimidade. Giddens (1993) aponta a intimidade como a comunicação emocional entre os membros envolvidos em uma situação de igualdade interpessoal. Sendo que a revelação de emoções e ações não demonstradas publicamente, se fazem necessárias neste contexto, para que os indivíduos envolvidos possam se conhecer. Giddens (1993) ainda explana que a sexualidade neste contexto social, possui uma existência autônoma, sendo ela uma qualidade dos indivíduos e uma forma deste ter uma ligação com o outro, no entanto, esta é considerada um estilo de vida, por ser vista como uma opção, e não mais algo ditado pela natureza, podendo ser manifestada de formas diferentes e de acordo com os propósitos de cada um. Verifica-se que atração sexual, assim como a intimidade são elementos importantes e que devem ser levados em consideração no que se espera de um relacionamento, mesmo que esta subcategoria tenha aparecido somente na fala de um dos participantes.

Beck (1995), em sua obra “Para Além do Amor” discorre sobre os relacionamentos ressaltando que a grande maioria dos casais estão cientes das existência da crise que persiste em assediar os casamentos, porém os recém-casados refletem se tal desfecho vai acontecer com eles, por concluírem que o amor e a onda de romantismo podem vencer aos obstáculos que permeiam a união e ter um casamento bem sucedido. Entretanto, cedo ou tarde se veem despreparados para os problemas e conflitos que surgem de forma gradativa e cumulativa, e ao tomar consciência da existência da frustração, é comum não saber identificar onde estão tais dificuldades (BECK, 1995).

As expectativas criadas pelo casal nem sempre são alcançadas, o que normalmente ocasionam crises e conflitos no momento em que percebem a não correspondência do esperado. Para Bucher (2005) a primeira dificuldade do casal envolve a construção do “nós” conjugal, respeitando as individualidades do homem e da

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mulher. O autor descreve ainda que devido ao desgaste do tempo ou má estruturação, o vínculo conjugal é abalado e consequentemente desgasta a afetividade do casal, a sexualidade bem como o desenvolvimento da relação, podendo ocorrer a separação.

Beck (1995) discorre que ao se depararem com as dificuldades de um relacionamento, o casal tende a mergulhar em um mundo de desilusões, iniciando a falta de comunicação e os desentendimentos, sendo neste contexto que o casal começa a questionar se foi um erro casar-se. O autor ainda explana que o amor é dificilmente forte o bastante para resistir a esses elementos supracitados, enfatizando que juntamente com eles acompanha o ressentimento e o rancor, fazendo com que outros fatores além do amor sejam necessários para que a relação se solidifique e não venha a se dissolver.

Diante do que foi exposto, pode-se dizer que à variável respeito aparece novamente como aspecto significativo, e que ao colocar expectativa no outro, em um modelo de relacionamento, o indivíduo tende a se frustrar muito mais, pois com a esperança de vivenciar o que busca, acaba apostando sempre naquilo que espera do outro.

3.3 MOTIVOS DO TÉRMINO DO AMOR

Subcapítulo referente à categoria que está relacionada ao terceiro objetivo que corresponde a “como homens e mulheres identificam que o amor acabou no relacionamento conjugal”, aparecendo nas falas dos participantes as subcategorias: falta de confiança, insatisfação do ego, agressão, traição e falta de companheirismo; sendo estas subcategorias entendidas como aspecto central no momento em que os sujeitos da pesquisa percebem que o amor acabou no relacionamento conjugal. Um dos pesquisados masculinos, não citou o motivo do término do amor.

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Gráfico 3: Motivo do Término do Amor Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Esta subcategoria se refere à falta de companheirismo aparecendo na fala de um dos participantes como principal motivo para o término do amor. H2 afirma que “[...] sempre houve uma parte da família se metendo, essa pessoa sempre dava ouvidos a família, e isso é o que prejudicava o relacionamento, o palpite dos familiares se metendo [...]”. Carter e McGoldrick (1995) apontam que o ritual da cerimônia de casamento, deveria ser uma transição facilitadora para o processo familiar, por ser um evento extremamente importante para assinalar a mudança de status dos membros e a modificação na organização familiar. No entanto, Carter e McGoldrick (1995) apresentam que o problema ocorre quando os membros das famílias, tanto por parte de um, quanto de outro, colocam energia na união e perdem de vista como este processo unifica ambas as famílias. Carter e McGoldrick (1995) ainda pontuam que socialmente há uma mobilidade da cultura, sendo que o foco é na família nuclear, fazendo com que a família negligencie o âmbito dos outros relacionamentos, contribuindo para que haja sobrecarga emocional maior do que um relacionamento conjugal pode suportar, ou seja, hiperfocando em um único casamento. Quando um membro do casal tem o foco de forma excessiva na resposta do outro, ambos ficam presos “numa teia de fusão e incapazes de funcionarem sozinhos” (p. 199). A falta de confiança surge quando um dos membros do casal busca conselho para com os familiares e/ou amigos, e não tenta solucionar os conflitos entre o casal.

0 1 2 3 4 1 1 1 3 2 FA LT A D E C O N FI A N Ç A IN SA TI SF A Ç Ã O D O E G O A G R ES SÃ O T R A IÇ Ã O FA LT A D E C O M PA N H E IR IS M O M H

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Ainda sobre a influência de terceiros no relacionamento conjugal, além da família de origem, existe a possibilidade de um dos cônjuges envolver-se em relacionamentos extraconjugais, trazendo sentimentos de raiva e ressentimentos causados devido à infidelidade ao contrato conjugal. Na fala de três dos participantes desta pesquisa a traição e falta de confiança aparecem como fatores contribuintes para o término do amor no relacionamento. Neste sentido, infidelidade é apresentada pelo sujeito M3:“[...] muita discussão, muita incompreensão, ele começou a ter relacionamentos fora, daí eu não aceitava, isso é errado né? Ai a gente começou a se desentender muito por causa disso [...]”, Tanto H1 como M5 apresentam a infidelidade como fator que acarretou o fim do relacionamento.

De acordo com Rosset (2004) a infidelidade é o rompimento de um contrato de confiança entre o casal, que ao ser quebrado, há consequências e riscos. Rosset (2004) ainda descreve que independente do que move esse sujeito a ser infiel, é impossível que este ato não venha a ferir o outro, assim como ser desleal em algum nível. Rosset (2004) complementa que o ato de ser infiel no relacionamento, apresenta consequências para todos os envolvidos, pois essas decorrências envolvem dores, inseguranças, mágoas, vinganças e sentimentos de culpa. Diante disto é possível concluir que o ato de ser infiel contribuiu na tomada de decisão para estes sujeitos, em relação ao rompimento da relação conjugal.

Outro aspecto observado é que as brigas geram espaços para que as agressões verbais e físicas ocorram, surgindo esta subcategoria como fator responsável pelo término do relacionamento na percepção de alguns participantes. A comunicação disfuncional entre os cônjuges também pode ser observada na fala de M5 “[...] brigas, implicância, o desentendimento, essas coisas faz com que acabe [...]”. Segundo Rosset (2004) as brigas conjugais são uma forma de se colocar nesta relação e de se fazer conhecer, se posicionar para manter sua privacidade, espaço e individualidade. Rosset (2004) ainda acrescenta que a não aceitação dos pontos de vistas do parceiro, causa a não solução do conflito, acarretando o não conhecimento e a não aceitação do outro e consequentemente, tornam-se sentimentos de raiva. A autora explicita nesse sentido que no momento da raiva, muitas vezes aquilo que é verbalizado pode ser mais acusador do que se imagina, pois ao “acusar, transforma o outro em um sujeito que não quer ouvir”, fazendo com que o problema perca a utilidade de resolução, tornando a situação um ataque destrutivo.

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No entanto, Rosset (2004), evidencia que o evitar confrontos, pode ser o ápice principal para o não desenvolvimento e crescimento da relação e intimidade do casal, pois é necessário que as partes consigam expor aquilo que incomoda na conjugalidade para que juntos aprendam a respeitar a identidade individual de cada um, assim como podem construir a identidade do casal, utilizando-se das diferenças como uma característica para o fortalecimento do relacionamento. Becker (1995) relata que a boa comunicação e o estímulo permitem que o casal se ajude mutuamente, aprenda a “trocar de marcha” e a fundir os interesses de um com o outro, construindo novas formas de conduta, substituindo a engrenagem egocêntrica.

A comunicação disfuncional exerce um papel importante no relacionamento, pois esta tende a fazer com que não haja diálogo entre o casal, distanciando ambos da relação e buscando resolver seus conflitos de forma ineficiente. Prado e Silva (2008) descrevem que é comum cada membro do casal, de algum modo, culpabilizar o outro pelos problemas que estão vivenciando, não se reconhecendo como participante na perpetuação do sofrimento em que eles se encontram. Prado e Silva (2008) ressaltam que os parceiros acabam se apegando às suas posições, aumentando assim o distanciamento entre eles. Neste sentido, é possível afirmar que estes padrões, podem tornar-se destrutivos no relacionamento fazendo com que seja tão polarizado que a incapacidade de solucionar conflitos torna-se um fator característico para o acúmulo de brigas e problemas não resolvidos no decorrer da relação. Consequentemente, uma relação na qual a comunicação não funciona, o amor pode ser sufocado e o casal pode vir a optar pela separação

Em relação à subcategoria da insatisfação do ego, um dos sujeitos da pesquisa menciona que o motivo do término do relacionamento, conforme M7 foi "[...] sinceramente eu não conseguia mais ter tesão [...]". Rosset (2004) afirma que, um vida sexual boa, não é garantia de que o relacionamento vai bem em outras áreas. No entanto, este fator pode ser facilitador para que o casal resolva seus problemas familiares e conjugais do dia a dia. Caso este aspecto não seja bom, tornar-se-á difícil do casal encontrar uma conexão que os ajude a se manterem juntos nas adversidades. Rosset (2004) ainda apresenta que quando há dificuldade sexual no relacionamento, o casal deve ficar atento e não ignorar, pois este elemento da intimidade do casal pode realimentar o casamento, uma vez que a troca íntima é uma forma de expressão afetiva, sendo que carinho, admiração e compreensão podem ser fatores que contribuam para o realimento da sexualidade também. Complementando, Rosset (2004) explica que

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quando o casal partilha, tem ideias em comum e realizam atividades juntos, a parte da relação sexual é fácil e estimulante, no entanto, se a discussão faz parte da rotina, assim como a desqualificação, as desconfianças e as cenas de ciúmes, o sexo até pode continuar a ocorrer, entretanto, como um compromisso ou descarga biológica, o que pode acarretar em dificuldades, problemas e sintomas sexuais, como demonstra uma das participantes em não conseguir sentir prazer no momento da relação sexual com o companheiro.

Bozon (2003) elucida que a sexualidade talvez seja o elemento mais importante no momento da ruptura conjugal, devido as maiores renovações na maneira pela qual as relações de gênero são sexualmente postas em cena, tendo em vista as transformações das atividades das mulheres. Oltramari (2009) apresenta a sexualidade e o amor como parte exponencial na vida do casal moderno. Sendo a confiança um elemento importante que contribui para as pessoas se permitirem ter um relacionamento conjugal. Por meio da confiança, segundo o autor tentam controlar o incontrolável, procurando pela segurança na relação, assim como tentam fugir da fragilidade. Neste sentido, sendo o amor um sentimento valorizado, definido como algo inqualificável, as pessoas buscam estabelecer uma relação conjugal, na perspectiva de construírem um projeto de vida em comum com aquele que é considerado o amado eleito.

Diante das explanações pode-se pensar que o término do amor para os participantes possuem aspectos relacionados à frustração das expectativas que estes criaram em relação ao amor e ao que esperavam vivenciar no relacionamento conjugal.

3.4 MOMENTO QUE ACABOU O AMOR

Este subcapítulo está relacionado ao terceiro objetivo, com o intuito de compreender o processo do término do amor no relacionamento conjugal. Subdividiu-se nas subcategorias: preservação do ego, indiferença, desesperança e processo de luto. Os sujeitos de pesquisa apresentaram em suas falas tanto aspectos que fazem parte de suas características como fatores que se referem ao parceiro.

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Gráfico 4: Momento em que o amor acaba Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Referente à subcategoria sobre o processo de luto não elaborado, um dos pesquisados apresenta que vivenciar esse processo é importante, pois segundo ele, a companheira foi quem optou pela ruptura da conjugalidade. De acordo com sua fala, H1 relata: “[...] Ela disse que estava cansada de estar casada [...]”. De acordo com Caruso (1981) a separação é comparada a uma sentença de morte recíproca, no sentido de que “o outro morre em vida dentro de mim e eu também morro na consciência do outro” (p.12). Féres-Carneiro (1998) descreve que a elaboração do luto pela separação pode levar mais tempo, do que o luto vivenciado pela ruptura do projeto. Rosset (2004) explana que quando o relacionamento é dissolvido de forma a causar traumas, deixando marcas de feridas mal cicatrizadas, os indivíduos podem não ter uma elaboração positiva do evento. Para Rosset (2004), os primeiros momentos, estes atrelados ao tempo, após o divórcio, são os mais difíceis porque as feridas ainda estão abertas, por ser um período em que há diversas mudanças, são muitas perdas a serem elaboradas: “a dor do abandono, do ódio, da culpa, do ressentimento, das perdas e invasões e do desejo de vingança” (p.123). Neste sentido, é possível dizer que elaborar esse processo, requer tempo para o indivíduo, por ser um momento delicado, em que o sujeito vivencia a morte em vida.

Além do processo de luto não elaborado, apareceu também a Preservação do ego como subcategoria na fala dos sujeitos pesquisados. H4 explica que o processo do término da relação conjugal é uma "[...] forma de preservar tudo que já foi vivido antes e não botar por água abaixo tudo aquilo que já foi vivido [...]". Segundo Rosset (2004)

0 1 2 3 4 1 3 4 1 PR E SE R V A Ç Ã O D O E G O IN D IF E R E N ÇA D ES E SP ER A N Ç A PR O C ES SO D E LU T O N Ã O E LA B O R A DO M H

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é importante alegrar-se com a experiência vivenciada no relacionamento, pois refletir sobre a relação que acabou, ajuda o sujeito a se apropriar que houve aprendizado, tanto com a pessoa que compartilhou a conjugalidade, quanto com a relação e as dificuldades experienciadas. Os autores Cano, Gabarra, Moré e Crepaldi (2009) explicitam que o divórcio, após um tempo, pode ser considerado um evento benéfico, pelas partes, por terem a percepção da qualidade de vida e por tenderem a valorizar sua liberdade, sentimentos de autovalorização e autonomia. É possível concluir que a vivência de um relacionamento pode-se exprimir possibilidades de aprendizagem e autoconhecimento de acordo com o que os sujeitos desta pesquisa apresentam.

Já referente à subcategoria sobre a indiferença, aparece nas falas dos sujeitos da pesquisa, como meio de término do relacionamento, no momento que já não faz diferença estar perto ou não do companheiro. M6, M7 e H8 relatam sobre o mesmo aspecto quando questionados sobre o momento em que perceberam que o amor acabou, relatando que foi “[...] quando já não fazia diferença se ele estava do meu lado ou não [...].” Rosset (2004) descreve que as pessoas tendem a repetição, em especial, quando influenciadas por sentimentos intensos, e isso não ocorre de forma diferente no relacionamento conjugal, pois é comum aos membros do casal ter conhecimento dos problemas que estão enfrentando e, no entanto, na busca de simplificar ou negar, acabam agindo como se o conflito não existisse. Rosset (2004) relata que evitar os desentendimentos, é inserir o ingrediente principal para arruinar o relacionamento e evitar a intimidade. Conforme Cano, Gabarra, Moré e Crepaldi (2009) a dissolução da conjugalidade ocorre quando suas expectativas em relação ao matrimonio não estão sendo alcançadas, investindo assim em novos relacionamentos, e se possível, em outro casamento. Pode-se aqui dizer que não solucionar os problemas e conflitos, o casal acaba agravando a convivência, a ponto da presença do outro se tornar indiferente a ele. Já o fator desesperança aparece na fala de quatro dos pesquisados, ao relatarem que os desentendimentos afetam os aspectos positivo do relacionamento. H2, M5 e H8 referiram o fator desesperança, assim como M3 que disse "[...] as coisas ruins, matam o que tu sente de bom [...]". Para Carter e McGoldrick (1995) quanto mais as ações do sujeito forem resposta a falta de comunicação do companheiro, mais disfuncional se tornará a comunicação e menor será a flexibilidade no relacionamento, contribuindo para que uma das partes, ou ambas e sintam-se inadequadas e ressentidas em relação ao parceiro. Pode-se aqui concluir que por mais que sejam duas pessoas dividindo uma conjugalidade, é importante que diante dos conflitos, possam saber lidar

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com as diferenças, utilizando estas como possibilidade de progresso na relação. Do contrário, perceber-se de acordo com as falas apresentadas que a não resolução dos conflitos, interfere nos sentimentos bons do relacionamento.

Diante do que foi exposto, o processo de como o indivíduo percebe que o amor acabou no relacionamento conjugal, assim como a elaboração desta experiência, é singular para cada sujeito. Entretanto, foi possível observar que as pessoas relacionam o sentimento “amor” ao evento experienciado, demonstrando assim, que o que elas entendem por amor, não é algo que fica no abstrato.

3.5 CONSEQUÊNCIA

Este subcapítulo se refere à categoria das consequências do término do amor no relacionamento, e suas subcategorias correspondem a relação causal entre amor e evento, desconstrução do amor romântico e elaboração de uma determinada experiência. Verificou-se sobre as consequências da vivencia do término de uma conjugalidade para os participantes desta pesquisa que o amor é por eles relacionado ao evento vivenciado.

Gráfico 5: Consequência de quando o amor acaba Fonte: Elaboração da autora, 2013.

Elaboração de uma determinada experiência está relacionada a dar um fechamento para a experiência vivenciada e seguir em frente com novas possibilidades de se relacionar. M3, M6 E H8 apresentam aspectos parecidos quanto às consequências do término do amor, ou ruptura do relacionamento conjugal, ao explanarem que o amor é um fenômeno importante e que para estes sujeitos faz-se necessário para viver, mesmo

0 1 2 3 4 1 4 3 R E LA Ç Ã O C A U SA L E N T R E A M O R E E V E N TO D ES C O N ST R U Ç Ã O D O A M O R R O M Â N TI C O E LA B O R A Ç Ã O D E U M A D ET ER M IN A D A E X PE R IÊ N C IA M H

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sendo considerado de acordo com a fala de M3"[...] é uma montanha russa. Pra mim é uma montanha russa, altos e baixos, momentos felizes, momentos pra baixo, tudo isso [...]". Rosset (2004) apresenta que para iniciar um novo relacionamento, o indivíduo precisa se recuperar das perdas do primeiro casamento. Rosset (2004)pontua que é importante que haja um “divórcio emocional” adequado para que o sujeito possa estar aberto a se comprometer em um novo relacionamento e para formar uma nova família. Rosset (2004) ainda aponta que é comum ter medo, no entanto, para se planejar uma nova conjugalidade, é importante que a pessoa conheça e aceite seus medos e os medos do novo companheiro, ressaltando que o respeito pela necessidade de tempo e paciência para ajustamentos dessa nova dinâmica relacional é importante. Carter e McGoldrick (1995) afirmam que ao buscarem se relacionar, o casal está ciente que o período de namoro apresenta um aspecto romântico no relacionamento, contudo, com a possibilidade de um novo casamento, a relação passa de privada para uma união formal para ambas as famílias, assim como, questões não resolvidas no relacionamento anterior, provavelmente passem a ser elementos centrais que interferirão na conjugalidade, com o intuito de estabelecerem equilíbrio relacional. Pode-se aqui pensar que por mais que a relação conjugal tenha se dissolvido, há pessoas que acreditam que o amor é ainda considerado um aspecto importante da vida e que se relacionar com outras pessoas, continua sendo um aspecto positivo e validado.

A desconstrução do amor romântico é um fator também presente na fala dos sujeitos de pesquisa (H1, H4, M5 E M7) ao apresentarem aspectos com o mesmo sentido ao relata: “[...] não vislumbro agora a possibilidade de morar com alguém novamente [...]”. Discutindo sobre o amor romântico, Oltramari (2009) descreve que este fenômeno tornou-se uma busca inalcançável em sua correspondência, no entanto, há uma procura contínua, sendo esta uma prática cultural, que move os indivíduos a idealizarem que encontrarão a “alma gêmea”, motivando estes em sua maioria a amarem mais o amor do que o objeto amado. Oltramari (2009) ainda ressalta que o amor está atrelado de uma forma direta ao objeto amado, pois devido a essa concepção de amor romântico, surge uma mistura de ilusão e realidade, de ganhos e perdas, de avanços, paradas e recuos no âmbito das relações humanas, sendo o amor uma representação tanto de felicidade quanto de sofrimento. Rosset (2004) explica que o processo da dissolução da conjugalidade mexe com sentimentos de medo, que são dolorosos para os que vivenciam essa experiência, e quando não elaborados, acham que não podem mais compartilhar planos de futuro com outra pessoa. Rosset (2004) ainda

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discorre sobre a possibilidade que os indivíduos têm de curar as mágoas, as tristezas, os maus entendidos que na conjugalidade muitas vezes, ocorrem e deixam marcas na relação. Dar um novo sentido e significado para a experiência vivenciada trará mais energia para que este sujeito se esforce mais a fim de concretizar sua libertação e se preparar para um novo projeto de vida. Bauman (2004), ilustrando sobre o amor, apresenta que um relacionamento é um investimento, por se dedicar “tempo, dinheiro, esforço que o indivíduo poderia empregar para outros fins, mas não empregou, esperando estar fazendo a coisa certa, acreditando que aquilo que perdeu ou deixou de desfrutar acabaria de alguma forma, sendo-lhe devolvido – com lucro” (p.15). Diante disto, é possível dizer que vivenciar a conjugalidade para estes quatro participantes mostrou-se ser muito mais do que a ideia de relacionamento apresentada culturalmente, de que o amor sobrevive a tudo, fazendo com que estes, por mais que não esperem vivenciar uma nova relação conjugal, ainda assim não refutam a possibilidade de continuar se relacionando com outras pessoas.

Relação causal entre amor e evento foi outra subcategoria que aparece nas falas dos sujeitos participantes. Quando questionado à M3 sobre as consequências do término do relacionamento conjugal, ela relata sobre o amor atrelado a relacionamento conjugal que "[...] já foi muito importante [...] não é mais tanto como antes [...]". Discorrendo sobre relacionamento conjugal, Beck (1995) compreende que ao tomar a decisão de viver juntos, o casal cria expectativas em relação ao outro, fazendo com que certos anseios adormecidos, tais como: o anseio pelo amor, pela fidelidade, pelo apoio e pelo amparo incondicionais, sejam experiências esperadas nesta relação. Essas expectativas acabam fazendo com que os companheiros de forma explícita ou implícita empenhem-se em atender essas necessidades enraizadas, o que acaba por definir a finalidade de qualquer atividade realizada pelo parceiro na relação conjugal. O que vai de encontro com Bauman (2004) ao expor sobre a fragilidade dos laços humanos em sua obra “Amor Liquido”, explanando que a cultura ocidental é classificada de forma consumista, lida com o amor da mesma forma que lida com os produtos, por exemplo, “favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, apresentando resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantidas de seguro total e devolução do dinheiro” (p. 11). Para estes sujeitos de pesquisa, sete deles mantiveram o relacionamento por mais de dez anos.

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