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TEORIA E PRÁTICA: UNIÃO SEM FRONTEIRAS ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA BÁSICA EM BUSCA DE UMA PRÁXIS TRANSFORMADORA 1

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44 TEORIA E PRÁTICA: UNIÃO SEM FRONTEIRAS ENTRE UNIVERSIDADE E

ESCOLA BÁSICA EM BUSCA DE UMA PRÁXIS TRANSFORMADORA1

Cilene Marcondes Dias2 Thainá Albertassi3 Ana Carla de Miranda Santos4 Andressa Cristina Molinari5 Elza Tie Fujita6

Resumo

O presente artigo tem por objetivo apresentar o Projeto de Extensão: “Teoria e Prática: União Sem Fronteiras entre Universidade e Educação Básica para a Prática Cidadã na Periferia de Londrina” realizada pela área de Educação da Universidade Estadual de Londrina, localizada no Estado do Paraná. Este projeto atende a cinco escolas situadas na periferia de Londrina e em um de seus distritos, que compõe uma região que constitui um bolsão de pobreza em um dos municípios com o Índice de

1 AGÊNCIA FINANCIADORA: Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI- PR). O projeto tem como Coordenadora a Profa. Dra Sandra Aparecida Pires Franco (UEL), orientadora a Profa. Vanessa Campos Mariano Ruckstadter (UEL) e como colaboradoras as professoras Elaine Fernandes Mateus (UEL) e Lucinea Aparecida de Rezende (UEL).

2 Graduada em Pedagogia - UEL cilenedias28@hotmail.com

3 Graduada em Pedagogia – Unifil -thalbertazzi@hotmail.com

4 Graduanda do Curso de Pedagogia – UEL anacarla_miranda@hotmail.com

5 Iniciação Científica e Graduanda do Curso de Pedagogia – UEL dessinha_molinari@hotmail.com

6 Graduanda do Curso de Pedagogia – UEL elzafj@gmail.com

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45 Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) mais alto do Estado. O projeto tem como método de pesquisa a dialética e trata-se de uma pesquisa-intervenção. As atividades desenvolvidas nesse projeto primam pelo resgate da cidadania e autoestima das comunidades escolares, a fim de alcançar uma melhoria quanto aos aspectos dos baixos índices no IDEB. O projeto visa também contribuir com a formação continuada dos educadores envolvidos por meio de Cursos de Extensão e intervenções a ser realizadas no contexto escolar. Na etapa inicial foram realizadas visitas às escolas selecionadas, a fim de coletar informações acerca das possíveis causas do baixo IDEB. Foi ofertado também um Curso de Extensão aos docentes e equipe pedagógica, no qual foram elencados a importância da História da Educação na formação docente e os pressupostos teóricos da Pedagogia Histórico-Crítica. Como resultados parciais, o projeto propiciou aos educadores uma alteração em suas práticas educativas, focando o conteúdo como essencial para o desenvolvimento humano nas comunidades envolvidas.

Palavras-chave: Teoria e Prática. Universidade. Educação Básica. Desenvolvimento humano. Pedagogia Histórico-Crítica

THEORY AND PRACTICE: AN UNION WITHOUT BORDERS BETWEEN THE UNIVERSITY AND THE BASIC SCHOOL SEARCHING A TRANSFORMATIVE PRAXIS

Abstract

This paper aims to show the extension project: "Theory and Practice: An Union Without Borders between the University and the Basic Education for Citizenship Practice on the Periphery of Londrina" performed by researchers from the educational field from the State University of Londrina/Paraná/Brazil. This project serves five schools on the outskirt of Londrina and also one of its districts located in a very poor area in a city which is one of the higher Municipal Human Development Index (HDI) of the State. The project applies the dialetic method and a research-intervention. The action developed in this project aim to rescue the citizenship and the self-esteem of school communities in

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46 order to reach a better placing in IDEB index. The project also aims to help with the continuing education of the teachers who are involved in the project through extension courses and interventions which will be performed in the school field. In the first stage visits were made to the selected schools in order to gather information about possible causes of the low IDEB index. It also offered an extension course for teachers and educational staff, in which were listed on the importance of the history of education in teacher training and the theoretical historical and critical pedagogy. As partial results, the project has provided changes in the teacher's educational practices, showing the content as being essential for human development in the communities involved.

Keywords: Theory and Practice. University. Basic Education. Human Development humano. Critical-History Pedagogy.

INTRODUÇÃO

A partir dos anos de 1990, o Brasil adotou as políticas neoliberais, implantadas pelo então presidente da república Fernando Henrique Cardoso (FHC). A concepção neoliberal parte do princípio de que o Estado não intervém nas regras estabelecidas pelo mercado, assim a formação do Estado capitalista brasileiro é baseada na industrialização. Os interesses do capitalismo são representados pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, denominados Organismos Internacionais que prezam pelo desenvolvimento. As principais características das ações dos Organismos Internacionais são a implantação de um novo individualismo como um valor moral radical, aprofundamento da mundialização, privatização, desregulamentação dos países pobres e instituição da governança.

Neste cenário, o Brasil é considerado um país em desenvolvimento econômico, sendo que a educação tem um papel determinante nesta relação entre educação, economia e sociedade. Pereira (1974) afirma que os países mais desenvolvidos são aqueles que têm mais consciência desta relação entre educação e desenvolvimento.

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47 Desta forma, há uma preocupação em investir na qualidade da educação com vistas ao progresso. “Assim, a formação deve ultrapassar a técnica e incorporar as tecnologias em geral de extraordinária flexibilidade” (PEREIRA, 1974, p. 19).

É muito comum ouvirmos a frase “educação é um investimento” e assim ser notável seu caráter econômico, porém, o que não acontece é o investimento de recursos para a implantação de uma educação de qualidade. A educação é um dos fatores determinantes no desenvolvimento de um país, assim como é determinante na transformação social, mas, necessita estar integrada ao planejamento econômico do mesmo, tornando-se, portanto, uma de suas prioridades.

Um dos grandes paradigmas educacionais está em atender as necessidades educacionais ou as necessidades do mercado. Neste contexto, o educador precisa estar a par dos aspectos sociais que o cercam e saber analisar as questões sociais e as educacionais. Para tanto, cabe ao educador ter claro para qual sociedade quer educar e qual tipo de homem pretende formar.

A educação é uns dos fatores determinantes no desenvolvimento de um país, porém, não é sua função exclusiva, a educação não pode perder sua especificidade que de acordo com Saviani (2003) é o de identificar os elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que se humanizem. Desta forma, este trabalho objetiva desenvolver nos sujeitos envolvidos no projeto “Teoria e Prática: União Sem Fronteiras entre Universidade e Educação Básica para a prática cidadã na periferia de Londrina”, do Programa Universidade Sem Fronteiras (Edital 02/2011), proporcionado pela SETI e em parceria com a Universidade Estadual de Londrina, uma consciência crítica acerca das relações que circundam a educação, assim como a reflexão crítica em torno do seu trabalho e papel social, visando à superação das dificuldades enfrentadas em seu espaço de trabalho, bem como a valorização do espaço escolar enquanto espaço de valorização da cultura, da prática cidadã e do desenvolvimento humano.

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48 A lógica das políticas neoliberais aplicadas às políticas públicas, em específico às políticas educacionais, transforma a educação em produto com interesses voltados aos das classes dominantes, formando mão-de-obra para a sociedade burguesa, assim como esta lógica torna o trabalhador uma mercadoria. Desta forma, a educação está subordinada às relações econômicas e políticas que as norteiam, ou seja, existe “um jogo de ações recíprocas entre forças que são desiguais e, nesse sentido, a educação (e, particularmente, a escola) está relativamente subordinada à economia e à política”. (FRANCO, 1988, p.55).

Todo o processo de produção capitalista necessita cada vez mais de incorporação da ciência e das tecnologias, necessitando também de qualificação de mão de obras. Neste sentido, a educação deveria ser um instrumento de adaptação tecnológica e científica que instrumentalizaria os indivíduos para prover suas necessidades. Para tanto, o próprio sistema escolar deveria incorporar os avanços tecnológicos, culturais e científicos, deixando de permanecer nas escolas tradicionais seculares.

A escola é a instituição social responsável pela disseminação do conhecimento sistematizado, porém, este conhecimento deve estar atrelado ao contexto histórico-social, ou seja, articulado com as experiências vivenciadas pelos alunos, permitindo a reflexão para que os mesmos se identifiquem enquanto sujeitos ativos da história, percebendo que o conhecimento científico é transformado e materializado por meio do trabalho intelectual e técnico do homem e da teoria e da prática.

Percebe-se que as escolas públicas brasileiras não dão conta de contextualizar os conteúdos, tornando-os significativos para seus alunos, pois estes não dominam os conhecimentos básicos como leitura, escrita e cálculo, atrasando, assim, os demais raciocínios históricos, geográficos, biológicos, ou seja, não ultrapassam os saberes das experiências, não adquirindo os saberes científicos e sistematizados, reafirmam, pois, as desigualdades sociais. É necessário (re)significar o sentido e finalidade dos conteúdos escolares.

A escola é fruto das relações sociais e, apesar de conservar a estrutura social vigente, tem a capacidade de transformar a realidade na qual está inserida a partir do

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49 momento em que propicia aos indivíduos uma formação que desenvolva suas habilidades, competências, sua técnica e sua teoria, desenvolvendo-as de forma plena.

Nos últimos oito anos, o Brasil vem passando por um plano de aceleração de crescimento (PAC), o que tem repercutido significativamente na educação, deixando visível a estreita relação entre a política econômica e a necessidade de formação. Porém, não houve uma preocupação com a qualidade do ensino, com a formação de indivíduos reflexivos e atuantes, houve um grande investimento em escolas técnicas e de investimento no setor educacional privado, em especial, o superior. A educação básica, apesar dos inúmeros programas governamentais, obteve poucos benefícios concretos, o que é preocupante, pois os indivíduos estão chegando a Educação Superior despreparados, fragmentados e pouco conscientes das relações sociais que os norteiam.

Tendo em vista todo este contexto de desvalorização do espaço escolar, de fragmentação na formação, o Projeto “Teoria e Teoria e Prática: União Sem Fronteiras entre Universidade e Educação Básica para a prática cidadã na periferia de Londrina” vem desenvolvendo ações junto a cinco escolas de Londrina, objetivando a consolidação da teoria e da prática enquanto ferramenta de transformação social por meio da reflexão e análise das dificuldades enfrentadas pelas escolas, proporcionando aos envolvidos a ressignificação da sua prática pedagógica.

O PROJETO: METODOLOGIA, AÇÕES E RESULTADOS OBTIDOS

O Projeto “Teoria e Teoria e Prática: União Sem Fronteiras entre Universidade e Educação Básica para a prática cidadã na periferia de Londrina” conta com o apoio do Núcleo Regional de Educação. O trabalho vem desenvolvendo ações visando o resgate da cidadania e autoestima das comunidades escolares com baixos Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). As cinco escolas envolvidas situadas na periferia de Londrina e em um de seus distritos compõem uma região que constitui um bolsão de pobreza em um dos municípios com Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) mais alto do Estado do Paraná. A primeira ação prevista já foi

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50 executada, foram feitas reflexões teóricas com os envolvidos, posteriormente, elaborar-se-ão material didático de apoio para intervenção junto aos professores e executar-se-ão ações junto aos alunos e pais para uma avaliaçexecutar-se-ão diagnóstica e formativa, para a verificação dos resultados.

Um dos objetivos principais do projeto é o de consolidar a junção teoria e prática do trabalho pedagógico no cotidiano escolar como ferramenta de inserção social das escolas envolvidas, bem como de identificação dos possíveis indicativos do baixo rendimento no IDEB, a fim de contribuir para a superação dessas dificuldades e da formação para a prática cidadã.

Pretende-se, também, apreender o planejamento de ensino enquanto processo que abarca o diagnóstico histórico da realidade a ser transformada, a fim de planejar, reconhecendo nesse processo, a expressão de uma postura político-pedagógica e técnico-científica que se transforma ao longo da História da Educação brasileira.

No decorrer do projeto, pretende-se desenvolver conhecimentos e atitudes reflexivas da práxis com os professores, a fim de que eles possam promover aos seus educandos a sua emancipação e inserção na comunidade; refletir com toda a comunidade escolar acerca dos problemas e limitações presentes no cotidiano da escola, promovendo a valorização do espaço escolar que ultrapassa o âmbito da educação formal. As ações do projeto estão divididas em quatro etapas: A primeira foi a de efetivar reflexões teóricas sobre a História da Educação e os processos didáticos, aliadas às realidades das escolas, com o objetivo de elaborar conjuntamente estratégias de intervenção das necessidades específicas de cada escola. A segunda propõe a elaboração de materiais didáticos para a criação do planejamento de aula em uma perspectiva histórico-crítica. A terceira envolverá, ações junto aos alunos e pais, visando o reconhecimento do espaço escolar como um local de produção cultural e conhecimentos que possibilitam a emancipação para a cidadania e a última será a aplicação da avaliação formativa e continuada, junto à equipe das escolas e do projeto para verificar os resultados.

No primeiro contato com as comunidades escolares envolvidas, algumas dificuldades pareceram comum a todas, desvelando um cenário pedagógico cercado

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51 por vários conflitos de cunho individual, social e econômico tomados como eixo norteador de todas as dificuldades pedagógicas, enfrentadas pelos educadores destas instituições.

REFLEXÕES ACERCA DAS DIFICULDADES APRESENTADAS PELAS ESCOLAS

Inicialmente foram feitas cerca de três visitas às escolas selecionadas com o intuito de mapear as dificuldades a serem superadas. De maneira geral, apesar das escolas estarem localizadas em regiões distintas da cidade de Londrina, as mesmas apresentaram várias dificuldades em comum. Entre as principais dificuldades citadas pelos professores e equipe pedagógica, as mais frequentes foram a problemática da grande rotatividade dos professores e a formação docente ineficiente para lidar com as adversidades encontradas no contexto escolar no qual esses professores são inseridos. Esses fatores ocasionam dificuldades na realização da avaliação diagnóstica, na elaboração do planejamento e de estratégias de ensino e aprendizagem.

O contexto social no qual as escolas estão inseridas acarreta várias dificuldades que ultrapassam as questões pedagógicas, ou seja, problemas sociais típicos, vivenciados em periferias, como envolvimentos com drogas, carência material, crianças sujeitas a problemas domésticos, prostituição, violência, falta de perspectivas de vida, entre outros problemas sociais que influenciam diretamente no comportamento e na aprendizagem dos alunos, pois de acordo com a equipe pedagógica esses fatores causam grande desmotivação na continuidade da escolarização, acarretando comportamentos considerados indisciplinares.

Para Libâneo (2012), a internacionalização das políticas educacionais prejudica a educação, desta forma, a escola do conhecimento está sendo substituída pela escola da sociedade, há uma divisão, um dualismo entre escola do conhecimento para o rico e escola do conhecimento para o pobre, na qual, a primeira prima pelo conhecimento enquanto a segunda se encarrega das missões sociais. Porém, a missão social da escola não pode se sobrepor a missão pedagógica, caráter único e específico desta instituição.

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52 A escola é um espaço de socialização, mas socialização dos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade, assim como defendido por Saviani (2003, p.15), “a escola existe para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado”, ou seja, ao saber sistematizado, científico, clássico, eternizados. Contudo, a escola está perdendo seu caráter educativo para o caráter social. A educação a partir da Declaração Mundial sobre Educação para Todos, aderiu ao caráter social e, que reformulado pelos Organismos Internacionais, transformou-se em um pacote mínimo que suprirá as necessidades imediatas dos indivíduos, bem como o conhecimento adquiriu um caráter instrumental que serve somente para suprir estas necessidades imediatas, não sendo ofertadas as formas superiores dos conhecimentos. Observando as dificuldades relatadas pelos educadores, é visível que as questões de cunho social sobressaiam aos pedagógicos.

Em se tratando de assuntos pedagógicos, de acordo com os educadores envolvidos pelo projeto, a grande problemática está nas dificuldades dos alunos com o domínio básico da matemática e português, pois muitos alunos chegam ao Ensino Fundamental II sem saber noções básicas de matemática e sem o domínio completo do letramento, acarretando dificuldades de aprendizagens nas demais disciplinas, impedindo-os de se apropriarem dos conteúdos.

Para Marx (1982), o processo histórico da sociedade caracteriza-se pelo desenvolvimento de forças produtivas, pelo progresso tecnológico e pela divisão social do trabalho, que estão em constantes transformações, constituindo as relações sociais de produção e de classes. Dessa forma, a verdadeira libertação do homem está condicionada as condições matérias, ou seja, a libertação real do homem só será atingida quando ele tiver condições materiais dignas de qualidade e em quantidade para suprir suas necessidades de vida (alimentação e habitação).

Diante dos pressupostos apresentados acima e tomando como referência algumas discussões de Saviani (1995), é possível afirmar que o homem busca constantemente transformar a natureza por meio do trabalho para garantir sua existência, criando assim uma cultura humana. É nesse processo que a educação se torna essencial para disseminar essa cultura humana, ou seja, a produção não-material

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53 expressas em formas de ideias, valores, símbolos, hábitos, atitudes e conceitos, e esses são requisitos indispensáveis para efetivar o processo de humanização do homem. Nesse sentido, podemos afirmar que o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente nos indivíduos elementos culturais que precisam ser assimilados para que os mesmos se tornem humanos e descubram formas adequadas para atingir esse objetivo.

O ato de ensinar é um ato coletivo, mas que produz um conhecimento individualizado, ou seja, o conhecimento assimilado é subjetivo e não pode ser previsto, mas o trabalho educativo deve ter como objetivo identificar e articular os elementos culturais historicamente acumulados, possibilitando a formação do sujeito.

Portanto, a escola deve contemplar a formação da consciência da práxis, isto é, do ser consciente que age intencionalmente, pois não basta somente proporcionar acesso ao conhecimento e aos meios materiais, é necessário tornar e criar um ambiente acessível ao aluno, para que ele se sinta acolhido e parte integrante do contexto. É necessário conscientizar os alunos de sua condição social e material, pois o que chamamos de liberdade nada mais é do que escolhas condicionadas e alienadas que acabamos fazendo por indução das circunstâncias. Segundo Marx:

[...] na produção social da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política a qual correspondem formas sociais de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, o seu ser social é que determina a sua consciência (MARX, 1982, p. 301).

Dessa forma, cabe aos educadores levar em consideração as relações sociais e materiais dos alunos, pois esses, nada mais são do que frutos de sua condição de produção material. Para Marx, a história dos homens nada mais é do que a história de luta de classes, da superestrutura com a infraestrutura, e esse conflito só cessará quando todos assumirem a mesma condição.

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54 Saviani (1995) chama a atenção para o processo de democratização da educação sistematizada, destacando a necessidade de elaboração de um currículo que tenha como objetivo buscar métodos e formas para organizar o conjunto de atividades escolar. Porém, para atingir esse objetivo é necessário distinguir entre o essencial e o acidental, o principal e o secundário, o fundamental e o acessório, ou seja, constituir um critério para a seleção do trabalho pedagógico e criar formas adequadas para desenvolvê-los por meio do planejamento.

Para muitos, o currículo tornou-se um conjunto de atividades, no qual, atividades extracurriculares e curriculares se misturam, em que o secundário pode tomar o lugar do principal. Portanto, para que uma escola desempenhe bem sua função é necessário que se priorize a transmissão-assimilação do saber sistematizado.

De acordo com Saviani (1995), o currículo deve priorizar a fixação de mecanismos elementares, ou seja, de habilidades essenciais que devem ser apropriadas, dominadas e internalizadas, pois é impossível ser criativo e atingir a liberdade sem dominar os atos. Os aspectos mecânicos devem ser afirmados como elementos internos, como uma segunda natureza. Saviani (1995, p.27) afirma que:

Em suma, pela mediação da escola, dá-se a passagem do saber espontâneo ao saber sistematizado, da cultura popular à cultura erudita. Cumpre assinalar, também aqui, que se trata de um movimento dialético, isto é, a ação escolar permite que se acrescentem novas determinações que enriquecem as anteriores e estas, portanto, de forma alguma são excluídas.

O currículo escolar deve priorizar e perceber a especificidade dos estudos pedagógicos, buscando identificar e transmitir elementos naturais e culturais necessários à constituição da humanidade em cada ser humano, pois para Vazques (1977), a individualidade do homem está condicionada pelas relações históricas e sociais da qual fazem parte, ou seja, a forma como o homem interage socialmente interfere na constituição da sua personalidade e da autonomia, mas não determina por completo o seu comportamento. Assim, podemos dizer que a sua relação com o meio é ao mesmo tempo passiva, pois é condicionado pela ação e ao mesmo tempo ativa quando promove a ação. Portanto, os conhecimentos desses diferentes âmbitos devem

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55 ser selecionados e preparados para constituir o currículo formal, a fim de constituir o conhecimento escolar que se ensina e se aprende nas salas de aula.

Constata-se que, de maneira geral, a forma como está sendo concebida a educação brasileira, influenciada pelas ações desencadeadas pela globalização, é de que o mínimo está sendo ofertado para a formação de massas, que não se apropriam dos conteúdos sócio-históricos, negando a sua própria existência enquanto sujeito pertencente e ativo nas transformações.

Oferecer o mínimo de formação é subestimar as capacidades e habilidades a serem desenvolvidas, em especial aos alunos das escolas públicas. É negar um direito historicamente garantido. Nesse sentido as ações voltadas para os países em desenvolvimentos não são coerentes ao passo que não há desenvolvimento econômico e político anterior ao desenvolvimento dos indivíduos pertencentes a estes países.

CURSO DE EXTENSÃO: AÇÃO CONCRETIZADA

Com vistas a proporcionar momentos de reflexões e debates acerca da Educação brasileira, uma das primeiras ações do projeto foi realizar junto aos professores, funcionários e equipe pedagógica das escolas envolvidas um Curso de Extensão - “Pedagogia Histórico-Crítica: Uma práxis transformadora na Educação Básica”, focando especificamente na realidade enfrentadas por eles, para tanto partiu-se das reflexões acerca da História da Educação, a qual teve como propósito apresentar aos mesmos que a situação em que a Educação Brasileira se encontra hoje é a repercussão histórica da mesma. Para Nóvoa (2005, p.11), é necessário:

Desenvolver uma atitude crítica face às modas pedagógicas, de analisarmos o jogo de identidades no espaço educativo, de situarmos a nossa própria existência na narrativa histórica e de compreendermos que a mudança se faz a partir de pessoas e de lugares concretos.

O estudo desenvolvido dentro deste contexto focou-se em contextualizar a História da Educação brasileira para que os educadores, em especial, aqueles que não

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56 tiveram contato com tal discussão durante a formação inicial percebessem que a educação e a escola são uma construção histórica e social e que as transformações sofridas ao logo da história influenciam diretamente no contexto da atual realidade educacional escolar. Feita esta retomada, o trabalho de reflexão teórica passou a focar a educação enquanto instrumento de humanização do homem, possibilitando aos educadores a reflexão acerca de suas próprias concepções sobre o mundo, homem, sociedade, assim o próximo encaminhamento foi a reflexão sobre o trabalho pedagógico dos educadores, em específico sobre o planejamento de ensino.

Tais educadores deixaram claro a falta de conhecimento em relação a essa temática em seus processos de formação. Portanto, houve um elevado interesse e receptividade dos mesmos. A partir disso, muitos começaram a relatar suas experiências e dificuldades tidas em suas realidades de salas de aulas, conseguindo, por sua vez, fazer relações com o conteúdo abordado.

Após várias trocas de reflexões acerca da História da Educação, iniciaram-se os estudos sobre a Pedagogia Histórico-Crítica pautados nos princípios dos estudos de Saviani. O mesmo vem com a proposta de unir conteúdo e forma por meio de uma teoria crítica, a fim de contribuir com os procedimentos metodológicos e didáticos dos professores, relacionando a vida social dos alunos com os conteúdos das disciplinas. Tendo em vista que tal Pedagogia Histórico-Crítica é um método pouco estudado pelos professores, entende-se que:

Tais métodos situar-se-ão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de uns e de outros. Serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levaram em conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos cognitivos. (SAVIANI, 2003, p. 69).

Dessa forma, na etapa final do Curso de Extensão buscou-se efetivar a assimilação dos conteúdos estudados por meio da elaboração de um planejamento, na

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57 qual possibilitou aos participantes teorizar e fundamentar a ação docente na perspectiva proposta, a fim de que os mesmos percebessem que é viável a utilização do planejamento de ensino na perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica. A etapa final do Curso de Extensão foi de grande relevância para todos os envolvidos, pois permitiu a revisão e a resignificação da prática dentro do contexto escolar.

Paralelamente às atividades de coleta de dados e intervenções realizadas por meio do Curso de Extensão, foram realizadas também com os bolsistas envolvidos no projeto, grupos de estudos com a intenção de atrelar as percepções e angústias das experiências vivenciadas no contato direto com o objeto de estudo com os pressupostos teóricos do materialismo histórico e dialético, em que a História da Educação, a teoria histórico-cultural e a Pedagogia Histórico-Crítica foram de suma importância para a compreensão do contexto atual da educação e também para a efetivação da práxis.

De maneira geral, o grupo composto pelo coordenador, orientador, bolsistas e colaboradores têm se empenhado em divulgar e apresentar o presente projeto em eventos e simpósios, entre os eles: o II Simpósio Nacional de Iniciação Científica da UNIFIL, Londrina, Paraná, no qual recebeu menção honrosa, tendo a oportunidade da publicação do artigo na Revista Terra e Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, no número de 2013 e no Evento Por Extenso. A participação em eventos tem por objetivo compartilhar as experiências vivenciadas e assim contribuir para a superação de dificuldades enfrentadas no contexto escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as considerações feitas, pode-se constatar que a partir do momento em o Brasil passa a trilhar pelo caminho do neoliberalismo, ocorre um processo de rearticulação política e econômica exigindo a criação de mecanismo para a sustentação e regulamentação da economia. Dessa forma, tornou-se necessária a mudança na relação do Estado com as áreas sociais e educacionais, a fim de atender a universalização do capitalismo.

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58 Foram realizadas várias reformas de cunho assistencialistas e ideológicas, algumas dessas atreladas as exigências de organismos internacionais, que impuseram condições e metas a cumprir em troca de subsídios para financiar a educação. De certa forma, essas medidas fizeram com que mais pessoas tivessem acesso ao ensino escolar, porém a educação ainda enfrenta sérios problemas quanto à qualidade, evasão e aos níveis de aprendizado, pois as ações do Estado são norteadas pelas leis de mercado, em que a preocupação está em elevar as estatísticas e preparar mão de obra qualificada e especializada para o mercado de trabalho.

A grande problemática que assola o contexto escolar atualmente são resquícios de um histórico político, econômico, social e educacional perverso que insiste em deixar à margem a classe menos favorecida. As inúmeras dificuldades apresentadas pelos educadores são problemas da ação social sobre o homem, pois segundo os pressupostos de Marx, somos determinados socialmente. No entanto, temos autonomia de agir de diversas formas, cada qual de acordo com sua própria condição.

Assim, acredita-se que a escola, como um espaço de humanização do homem, tem o compromisso de buscar desenvolver estratégias de ensino e aprendizagem que devem tornar evidente que as construções históricas dos homens não são naturais, sendo, portanto, passíveis de desestabilidades e transformadas, ou seja, o existente não dever ser aceito sem questionamento e nem é imutável; constitui-se, sim, em estímulo para resistências, para críticas e para a formulação e a promoção de novas situações pedagógicas e novas relações sociais.

São inúmeras as dificuldades enfrentadas pelos educadores no contexto escolar e a universidade como um espaço de ensino, pesquisa e extensão deve se integrar às escolas e comunidades, a fim de contribuir para a futura prática dos educadores em formação e daqueles que iniciam sua atividade na docência. Essa integração é de fundamental importância para o aprendizado dos alunos bolsistas e, em especial, para os discentes do Curso de Pedagogia. Nesse sentido, a contribuição amplia-se, ultrapassando os limites dos muros das escolas e da universidade, rompendo as fronteiras entre o conhecimento científico e a cultura escolar.

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59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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