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ESTUDO DE CASO DA INCORPORAÇÃO DE LODO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES DA PREPARAÇÃO DE PIGMENTOS NA FABRICAÇÃO DE BLOCOS DE CONCRETO

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ESTUDO DE CASO DA INCORPORAÇÃO DE LODO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES DA PREPARAÇÃO DE PIGMENTOS NA FABRICAÇÃO DE BLOCOS

DE CONCRETO

Fabrício S. Martins1, Luis Carlos P. da Silva Filho2, Mariliz Gutterres1 1

Laboratório de Estudos em Couro e Meio Ambiente,D epartamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Telefone: (51)33163444 – Fax: (51)33163277 CEP90040-040 – Porto Alegre, RS – Brasil

e-mail: simon@enq.ufrgs.br

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Laboratório de Estudos de Modelos Estruturais, Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Rua Osvaldo Aranha, 99/1º. andar Telefone/Fax: (51)33163333

CEP90050-190 – Porto Alegre, RS – Brasil e-mail: lcarlos@cpgec.ufrgs.br

RESUMO. A empresa alvo do presente estudo de caso tem como atividade o

preparo de pigmentos e gera efluentes líquidos que, após tratamento, produzem lodo. Este resíduo, devido a sua toxicidade, não pode ser dispensado no meio ambiente. Neste caso, foi estudada a adição desse lodo em blocos de concreto. Foi feita a caracterização desse lodo através de análises de cor, demanda química de oxigênio (DQO), pH, massa específica, sólidos totais (fixos e voláteis), quantidades de matéria orgânica, metais pesados, Fe e Cl-. O lodo substituiu a areia na composição do traço do concreto em diferentes percentuais. Os blocos foram submetidos a testes de resistência à compressão para avaliar as propriedades mecânicas e de lixiviação para verificar o impacto ambiental da introdução do lodo nos blocos. Verificou-se que é viável incorporar o resíduo como agregado no concreto sem função estrutural, com ganho de resistência mecânica e segurança ambiental.

ABSTRACT. Case study of the incorporation of mud of liquid efluent of the preparation of pigments on the manufacturing of concrete blocks. The

enterprise studied in this case has the activity of pigmente preparing and produce líquid efluent that, after treatment, produce mud. This residue, because of its toxicity can`t be excuse on the environment. In this case, It was studied the addition of this mud in concrete blocks to make pavement. It was did the characterization of this mud by folloing analises: color, oxigen chemical demand (OCD), pH, especific mass, total solids (fixes and volatiles), quantities of organic material, heavy metals, Fe and Cl-. The mud subtituted part of sand in the concrete formulation in different percentuals. The blocks was subdued to tests of compress resistence to value the mechanics properties and of lixiviation to value the environmental impact by the introdution of the mud in concrete bloks. It was verify that is viable incorporate the residue adding It in the concrete without structural function, with mecanical resitence gain and environmental security.

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1. INTRODUÇÃO

O tratamento e a disposição final dos resíduos gerados na indústria química, principalmente em pequenas e médias empresas têm preocupado muito seus gestores. As tecnologias requeridas, dependendo do processo, são sofisticadas e onerosas à produção, além de ocuparem espaço físico, às vezes indisponível nestas empresas. A legislação e fiscalização quanto ao uso do solo para disposição final de resíduos, principalmente os classificados como perigosos, têm se tornado cada vez mais severas.

No Rio Grande do Sul não é permitido pelo órgão ambiental fiscalizador colocar diretamente no solo ou incinerar qualquer tipo de resíduo industrial sólido, devendo este tipo de rejeito ser depositado em ARIPs (Aterros de Resíduos Industriais Perigosos). O depósito nos chamados ARIPs tem um certo custo, uma vez que estes exigem o emprego de modernas tecnologias para o seu controle e monitoramento, devendo muitas vezes serem drenados e o resíduo da drenagem ser tratado em uma estação de tratamento de efluentes (ETE) apropriada.

A reciclagem e a reutilização de resíduos provenientes de diferentes processos industriais como novos materiais para a construção civil têm sido cada vez mais investigada em diferentes linhas de pesquisa: reaproveitamento de cinzas (carvão, casca de arroz), areia de fundição, lodos de estações de tratamentos, rejeito da produção de ácido fosfórico, entulhos da construção civil, rejeitos de minas de carvão, dentre outros, com uma abordagem voltada ao desempenho estrutural do novo produto (CAVALCANTE et al., 1996).

Segundo MONTEIRO (2003), o termo estabilização/solidificação ou encapsulamento de resíduos tem sido utilizado no Brasil e também em outros países, para definir uma tecnologia de tratamento de resíduos que se utiliza, de processos de solidificação e estabilização de poluentes.

A estabilização consiste em um estágio de pré-tratamento através do qual os cons-tituintes perigosos de um resíduo são transformados e mantidos nas suas formas menos solúveis ou menos tóxicas. Tais transformações se dão por meio de reações químicas que fixam elementos ou compostos tóxicos em polímeros impermeáveis ou em cristais estáveis. Quanto às características físicas do resíduo, estas podem ou não ser alteradas e melhoradas.

A solidificação, por sua vez, é uma forma de pré-tratamento que gera uma massa sólida monolítica de resíduo tratado, melhorando tanto a sua integridade estrutural, quanto as suas características físicas, tornando assim mais fácil o seu manuseio e transporte.

Portanto, a estabilização/solidificação tem como objetivos: melhorar as características físicas e de manuseio dos resíduos, diminuir a área superficial através da qual possa ocorrer a transferência ou perda de poluentes, limitar a solubilidade ou destoxificar quaisquer constituintes perigosos contidos no resíduo.

Os processos de E/S existentes são classificados como fixação inorgânica e técnicas de encapsulamento. No primeiro caso os processos baseiam-se na utilização de materiais como cimento, cal, silicatos e argilas, enquanto que no segundo caso são empregados polímeros orgânicos específicos.

De acordo com ROCCA et al. (1993), o processo a base de cimento consiste na mistura dos resíduos na forma de lamas com concreto que uma vez endurecido em uma matriz, forma um sólido rígido. Este processo é particularmente eficiente para resíduos com elevados teores de metais tóxicos, uma vez que no pH da mistura diversos cátions de múltiplas valências são convertidos em hidróxidos e carbonatos insolúveis. Os íons metálicos também podem ser incorporados na estrutura cristalina que os minerais do cimento formam.

A empresa alvo deste trabalho é uma indústria de preparação de pigmentos para tintas e gera lodo no seu processo de tratamento de efluentes. Este lodo, pelo fato de ser colorido,

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3 apresenta grande potencial de aplicação em pavimentos de concreto intertravados coloridos, calçadas, praças, pistas de corrida, etc.

Com o objetivo de reaproveitar o lodo oriundo da empresa estudada, realizou-se no presente trabalho a E/S do resíduo através da incorporação em blocos de concreto. Para tanto, foi realizada uma caracterização física e química de uma amostra de lodo coletada da ETE. Foi avaliado o potencial de incorporação desse resíduo em um produto técnica e economicamente viável, através da análise da resistência mecânica dos compósitos formados com o lodo e da avaliação da segurança ambiental do produto formado, efetuada por ensaios de lixiviação.

3 – PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Os experimentos consistiram primeiramente em um trabalho de campo, onde foram levantadas as principais cores de lodo produzidas pela empresa e feito uma pré-caracterização indireta dos lodos. Foram realizadas análises químicas e físico-químicas para caracterização do lodo e em seguida selecionadas amostras de lodo para o processo de estabilização/solidificação do resíduo, através da incorporação em blocos de concreto. A resistência mecânica dos blocos foi testada por meio de ensaios de resistência à compressão. Os procedimentos experimentais concluíram-se com análises de lixiviação para avaliação da segurança ambiental das peças de concreto.

3.1 – Trabalho de campo

A grande dificuldade encontrada em se fazer um trabalho como este é a ampla variedade de cores e composições de lodo encontrada ao longo dos dias de produção.

Como o objetivo foi obter blocos coloridos a partir do lodo, foram coletadas amostras, ao longo de 3 meses de produção, do dia 16/06/05 ao dia 16/09/05, totalizando-se 35 amostras de lodo, afim de fazer um levantamento das principais cores de resíduo produzidas pela empresa.

Chegou-se à constatação de que as cores que ocorreriam em maior quantidade eram tons verdes, seguidos de tons marrons, do preto e do vermelho óxido. A tabela 3.1 e o gráfico 3.1 mostra estes dados com mais detalhes.

Tabela 3.1 – Massa de lodos de diferentes cores produzidos em 3 meses de operação.

Cor de lodo produzido Massa (kg)

Verde 355,5 Marrom 200,8 Roxo 18,1 Preto 47,4 Vermelho óxido 59,1 Amarelo ocre 31,6 Total 712,4

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4 Gráfico 3.1 – Percentual mássico de lodos coloridos ao longo de 3 meses de produção. Pelo fato dos tons verdes ocorrerem em maior quantidade mássica resolveu-se prosseguir-se com os trabalhos apenas a partir desta cor.

3.2 – Caracterização do lodo

Foram coletados 62kg de lodos de tons verdes oriundo do sistema de tratamento de efluentes, conforme a NBR 10007/2004-ABNT (amostragem de resíduos) para a realização dos ensaios.

As análises químicas e físico-químicas feitas para caracterização do lodo foram: percentuais de matéria orgânica, DQO, sólidos totais, fixos e voláteis, pH, massa específica e quantidades de Cd, Hg, Pb, Cr total e Cr hexavalente.

3.3 – Estabilização/solidificação (E/S) do lodo

O processo de estabilização/solidificação através de concretagem foi feito no Laboratório de Estudos de Modelos Estruturais (LEME) do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O lodo coletado foi misturado em uma bombona de polietileno, por meio de uma hélice adaptável em furadeira de bancada até obter-se uma mistura homogênea e destruir-se o máximo de grumos.

Foram feitos dois ensaios de concretagem.

3.3.1 – Primeira concretagem

Foram preparadas 4 formulações de concreto, em betoneira, com uma relação água/cimento inicial de 0,3, baseada no percentual de sólidos totais obtido na análise do lodo. O lodo foi adicionado como agregado em substituição à areia, ou seja, os percentuais de lodo

Gráfico do percentual mássico de lodos coloridos ao longo de 3 meses de produção

50% 28% 3% 7% 8% 4% Verde Marrom Roxo Preto Vermelho óxido Amarelo ocre

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5 estão em relação à areia (base areia mais lodo). Além disso os percentuais são volumétricos. O volume de cada produto em cada formulação está disponível na tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Volume de cada produto em cada formulação.

Percentual de lodo em cada

formulação

0% (amostra

testemunho) 10% 25% 40%

Produto Volume (L) Volume (L) Volume (L) Volume (L)

Cimento 4,84 5,00 5,25 5,54 Areia 9,69 9,20 7,89 6,66 Pedrisco 19,36 20,01 21,01 22,15 Lodo 0,00 1,00 2,64 4,41 Água 3,79 3,90 4,52 5,19 Relação água/cimento final 0,71 0,71 0,78 0,85

Cada formulação foi vertida em uma forma com 4 vagas para blocos de concreto no formato a ser utilizado no produto final, conforme a figura 5.1, afim de se formar, para cada traço, três blocos para teste de resistência ao rompimento e um para outras futuras análises.

Figura 3.1 – Forma utilizada para a fabricação dos blocos de concreto.

No dia seguinte as formas foram desmoldadas. Os blocos, logo após serem desmoldados, foram depositados em uma câmara úmida, para manter a umidade do concreto e evitar-se a formação de porosidades ou rachaduras pela a evaporação brusca da água que se teria ao ar livre.

5.3.2 – Segunda concretagem

Após a análise dos dados dos ensaios de resistência à compressão, que serão vistos mais adiante, das peças de concreto da primeira concretagem, decidiu-se realizar uma segunda concretagem para a comparação com os dados da primeira.

A segunda concretagem foi feita com duas formulações: uma contendo 0% de lodo (testemunho) e a outra com 25% de lodo em substituição à areia, em volume. Esta concretagem diferiu da primeira apenas nas relações água/cimento finais e na forma de preparação do lodo adicionado, que desta vez foi empregado seco.

Uma massa de lodo úmido de 2,77kg, tal qual a adicionada na formulação com 25% de lodo da primeira concretagem, foi coletada em baldes de polietileno e seca durante uma

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6 semana em estufa a 60ºC, obtendo-se uma massa de 169g de lodo seco. O lodo seco foi moído em moinho de bolas de cerâmica e zircônio até obter-se pó. Paralelamente foi seca uma massa de cerca de 3 kg de lodo úmido, a qual foi moída também em moinho de bolas para suprir as perdas mecânicas da primeira massa de lodo seca até 169g.

Logo, o lodo empregado na segunda concretagem foi em forma de pó, o qual foi cuidadosamente reidratado no momento da preparação do concreto.

3.4 – Ensaios de resistência à compressão e de lixiviação

Após 28 dias de “cura” os blocos das duas concretagens foram rompidos em ensaios de resistência à compressão. Na figura 3.2 é mostrado o ensaio de resistência à compressão de um bloco.

Figura 3.2 - ensaio de resistência à compressão de um bloco.

Após os ensaios de resistência à compressão, para se verificar o impacto ambiental provocado pela introdução do lodo como agregado em blocos de concreto para pavimentação, analisou-se a lixiviação dos corpos de prova de concreto. Escolheram-se para os ensaios de lixiviação os concretos contendo 25% de lodo e 0% de lodo, da primeira concretagem, porque o primeiro (25% de lodo) foi aquele no qual se pode incorporar a maior quantidade de lodo, sem prejuízos à resistência mecânica à compressão, enquanto que o segundo serviu apenas para comparação. Os metais analisados no extrato lixiviado foram o Cr total, o Pb e o Hg, que foram encontrados na caracterização do lodo.

A forma pela qual esses corpos de prova sofreram a lixiviação segue as recomendações descritas pela norma NBR 10005 (2004). Os corpos de prova utilizados para a realização deste teste foram os corpos de prova já rompidos na fase do teste de resistência à compressão, que foram moídos até passarem pela peneira de 9,5 mm como proposto pela norma.

Os ensaios de lixiviação são utilizados para determinar ou avaliar a estabilidade química dos resíduos tratados, quando em contato com soluções aquosas que podem ser encontradas em um aterro, permitindo assim verificar o grau de imobilização dos contaminantes.

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7 A tabela 3.3 apresenta os valores limites máximos de concentração, dos metais identificados na caracterização do lodo, em ensaios de lixiviação de acordo com a NBR 10004 (2004). Os limites são utilizados para a classificação de resíduos quanto à periculosidade.

Tabela 3.3 – Limites máximos de concentração dos metais identificados na caracterização do lodo, em ensaios de lixiviação de acordo com a NBR 10004 (2004) (anexo F da norma). Elemento Limite (mg/L) Cromo total 5 Chumbo 1 Mercúrio 0,1 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 – Caracterização do lodo

Os resultados das análises de caracterização do lodo estão na tabela 4.1. Tabela 4.1 – Resultados das análises de caracterização do lodo.

Ensaio Resultado

Cádmio N.D.*

Chumbo (mg/kg em base seca) 27,3

Cobre (mg/kg em base seca) 1272,7

Cromo Hexavalente N.D.*

Cromo total (mg/kg em base seca) 332

Ferro total (% em base seca) 1,4

Massa específica (g/cm3) 1,05

Mercúrio (mg/kg em base seca) 0,37

Cloretos Prejudicado

DQO (mg/kg O2) 38375

Matéria Orgânica (% em base seca) 38,77

PH 7,5 Sólidos fixos (%) 3,52 Sólidos totais (%) 5,79 Sólidos voláteis (%) 2,27 Umidade (%) 94,21 * N.D. = não detectado

Alguns metais pesados muito tóxicos como o Cd e o Cr hexavalente não foram detectados.

A análise do percentual de cloretos ficou prejudicada, ou seja não pode ser determinada devido a interferência da cor do resíduo na análise por técnica de titulação.

Os valores de D.Q.O. e matéria orgânica encontrados são elevados e são úteis para efeito de comparação, caso se faça, em pesquisas posteriores, algum processo prévio de digestão do lodo, antes do processo de estabilização/solidificação (E/S), com a finalidade de

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8 aumentar o percentual de lodo incorporado no concreto, sem prejuízo às propriedades mecânicas.

O lodo apresentou valor de pH praticamente neutro (7,5). Este valor de pH está um pouco abaixo do valor recomendado para o concreto (acima de 10).

4.2 – Estabilização/solidificação (E/S) do lodo 4.2.1 – Aspecto visual

Esperava-se que as peças de concreto adquirissem coloração mais intensa, o que não ocorreu, devido à interferência da coloração cinza do cimento. Este problema poderia ser solucionado através do uso de cimento branco, que por outro lado é mais caro, ou pela incorporação de maior quantidade de lodo, que, como veremos a seguir, é tecnicamente inviável devido aos prejuízos às propriedades mecânicas.

4.2.2 – Ensaios de resistência à compressão

4.2.2.1 – Peças da primeira concretagem

Os resultados dos ensaios de resistência à compressão, referentes às peças da primeira concretagem, após 28 dias, encontram-se na tabela 4.2 abaixo.

Tabela 4.2 – Resultados dos ensaios de resistência à compressão – primeira concretagem.

Ensaios de Resistência à Compressão Blocos

0% Lodo 10% Lodo 25% Lodo 40% Lodo

MPa MPa MPa MPa

Bloco 1 21,17 25,33 21,95 18,50

Bloco 2 19,30 23,81 20,63 14,26

Bloco 3 22,28 28,05 20,03 11,54

Média 20,92 25,73 20,87 14,77

Desv. Padrão 1,51 2,15 0,98 3,51

Os ensaios de resistência à compressão, das peças da primeira concretagem, mostram que para pequenas quantidades de lodo incorporado a resistência aumenta, mas a partir de um percentual ótimo, que neste trabalho não foi determinado, quanto maior a quantidade de lodo incorporado, menor a resistência mecânica do concreto, devido à presença de matéria orgânica. Porém esta diminuição não é significativa para até 25% de lodo em relação à areia, em volume. Para valores de 40% de lodo em relação à areia, em volume, a diminuição da resistência é mais significativa, mais ainda está acima de 10MPa, o que permite sua utilização como material de construção civil secundário, sem função estrutural, de acordo com PIETROBON (2002).

Consultando-se a NBR 9781 (1987) (peças de concreto para pavimentação), constata-se que os blocos testados não podem ser utilizados em pavimentos, pois a norma exige resistência mínima de 35MPa para solicitações de veículos comerciais. Neste caso, as peças podem ser utilizadas somente na construção de calçadas para circulação de pedestres.

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4.2.2.2 – Peças da segunda concretagem

Os resultados dos ensaios de resistência à compressão, referentes às peças da segunda concretagem, após 28 dias, encontram-se na tabela 4.3.

Tabela 4.3 – Resultados dos ensaios de resistência à compressão – segunda concretagem.

Ensaios de Resistência à Compressão Blocos 0% Lodo 25% Lodo MPa MPa Bloco 1 19,83 23,74 Bloco 2 16,31 16,85 Bloco 3 17,71 22,55 Bloco 4 20,03 21,29 Média 18,47 21,11 Desv. Padrão 1,78 3,01

Os resultados dos ensaios de resistência à compressão das peças da segunda concretagem confirmaram os dados da primeira, ou seja, de que o lodo, em pequenas quantidades (10% de lodo em relação à areia, em volume), aumenta a resistência do concreto. 4.3 – Ensaios de lixiviação

Os resultados dos ensaios realizados nos extratos lixiviados das amostras de concreto com 0 e 25% de lodo em relação à areia, em volume, encontram-se nas tabelas 4.4 e 4.5.

Tabela 4.4 – Ensaios no extrato lixiviado da amostra com 0% de lodo.

Ensaio Unidade Resultado Metodologia

Chumbo mg/L 0,345 Espectrofotometria de Absorção atômica

Cromo total mg/L 0,035 Espectrofotometria de Absorção atômica

Mercúrio mg/L N.D.* Espec. Abs. Atom.-Vapor Frio

* N.D. = Não detectado

Tabela 4.5 – Ensaios no extrato lixiviado da amostra com 25% de lodo.

Ensaio Unidade Resultado Metodologia

Chumbo mg/L 0,341 Espectrofotometria de Absorção atômica

Cromo total mg/L 0,05 Espectrofotometria de Absorção atômica

Mercúrio mg/L N.D.* Espec. Abs. Atom.-Vapor Frio

* N.D. = Não detectado

Os resultados mostram que as concentrações de metais pesados encontradas no extrato lixiviado da amostra com 0% de lodo são muito próximas às encontradas no extrato lixiviado da amostra com 25% de lodo, o que mostra a eficiência de imobilização dos metais pesados identificados na caracterização do lodo, através do processo de estabilização/solidificação (E/S), por meio da incorporação do poluente no concreto.

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10 Consultando-se o anexo F da NBR 10004 (2004) (ver página 20), que trata do limite máximo de concentração de poluentes em extratos obtidos através de ensaios de lixiviação, constatamos que, em ambas as amostras, as concentrações de metais pesados encontrados estão abaixo das concentrações limites, o que garante a segurança ambiental, dos blocos produzidos com lodo agregado ao concreto na concentração de 25% em substituição à areia, em volume.

5 – CONCLUSÕES

Os trabalhos de campo e de caracterização do lodo mostraram a incidência de metais como o chumbo, mercúrio e cromo, que não era esperada, a partir do levantamento de todos os produtos químicos possíveis de serem encontrados no lodo da ETE. A hipótese mais provável é que estes metais tenham vindo ocultos em conservantes e/ou outros aditivos adicionados pelos respectivos fabricantes à matérias-primas utilizadas pela empresa na fabricação de seus produtos.

Um dos objetivos esperados, que era o de que os blocos de concreto produzidos adquirissem coloração intensa, semelhante a do lodo incorporado, não foi alcançado, devido à interferência da coloração cinza do cimento.

A resistência do concreto aumentou com o aumento do percentual de lodo da ETE incorporado até certo ponto. O concreto sem lodo apresentou em torno de 20MPa de resistência mecânica, mas para 10% de lodo em relação à areia, em volume, a resistência dos blocos é de cerca de 25MPa, diminuindo em torno de 5MPa para cada 15% a mais de lodo incorporado, chegando a valores em torno de 15MPa para 40% de lodo incorporado. Assim, pode-se incorporar até 40% de lodo em relação à areia, em volume, na formulação de concreto como material de construção civil secundário, sem função estrutural de acordo com PIETROBON (2002), pois este concreto apresenta resistência mecânica à compressão maior que 10MPa.

Outro objetivo deste trabalho que não se concretizou, foi a utilização dos blocos de concreto como peças para pavimentação, pois a norma exige que para tal fim as peças tenham resistência mínima de 35MPa para circulação de veículos comerciais e nenhuma composição de concreto apresentou valores de resistência próximos ao exigido. Porém os blocos podem ainda ser utilizados para a confecção de calçadas para circulação de pedestres.

Os ensaios de lixiviação mostraram que as peças de concreto são ambientalmente seguras quanto a uma possível contaminação do solo com metais pesados, mesmo que as peças futuramente possam ser fissuradas e virem a se tornar entulho de construção, mostrando assim a eficácia do processo de estabilização/solidificação do resíduo utilizado.

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1- ANDREOLI, Cleverson Vitório. Resíduos sólidos no saneamento: processamento, reciclagem e disposição final. Rio de Janeiro: Rima, 2001.

2- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro: ABNT, Norma técnica. NBR-10004: Classificação de resíduos sólidos, 2004.

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11 3- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro: ABNT,

Norma técnica. NBR-10005: Lixiviação de resíduos, 2004.

4- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro: ABNT, Norma técnica. NBR-10007: Amostragem de resíduos, 2004.

5- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro: ABNT, Norma técnica. NBR-9781: Peças de concreto para pavimentação, 1987.

6- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro: ABNT, Norma técnica. NBR-7215: Determinação da resistência à compressão, 1982.

7- CAVALCANTE, R. J.; CHERIAF, M. Ensaios de avaliação para controle de materiais com resíduos incorporados em 1996. In: WORKSHOP RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL, 1996, São Paulo. Artigos técnicos....São Paulo: Epusp, 1996.

8- MONTEIRO, Maria Zenaide Maia. Avaliação das técnicas de solidificação/estabilização aplicadas em resíduos sólidos gerados em cabines de pintura. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2003.

9- PIETROBON, C. L.. da Rocha. Estudos Preliminares sobre Estabilização/Solidificação – E/S – de Lodo de Tratamento de Lavanderia Têxtil para Reutilização como Argamassa de Construção: Exame de Caso para Maringá, Estado do Paraná. Acta Scientiarum. Maringá, v. 24, n. 6, p. 1659-1664, 2002.

10- PIETROBON, C. L.. da Rocha. Lixiviação de contaminantes de compostos de lodo- cimento. Acta Scientiarum. Technology, v. 26, n. 1, p. 45-52, 2004.

11- ROCCA, Alfredo Carlos C. et al. Resíduos sólidos industriais. 2ª Ed., São Paulo: CETESB, 1993.

12- RECENA, Fernando A. Piazza; RESCHKE, Juliana Soares. A utilização de resíduos de couro curtido à base de cromo na produção de componentes para a construção civil. In: IV SEMINÁRIO DESENVOLVIMENTO SUATENTÁVEL E A RECICLAGEM NA CONSTRUÇÃO CIVIL – MATERIAIS RECICLADOS E SUAS APLICAÇÕES, 2001, São Paulo, IBRACON, 2001.

AGRADECIMENTO ESPECIAL

À toda equipe do LEME/DECIV/UFRGS, em especial à Eng. Daniela Jahnel, à bolsista de iniciação científica Luciane Caetano e ao Sr. Fontes pelo suporte técnico, apoio e amizade.

Referências

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