PECADO
ORIGINAL
Novela de
Rômulo Guilherme
Criada e escrita por
RÔMULO GUILHERME
Cena 01/ônibus/int/madrugada
Continuação da última cena do capítulo anterior. Bandido começa abordar os passageiros. CAM detalha Ben-Hur, um policial, 30 anos, que disfarçadamente, retira da cintura uma arma e se prepara. Ele está sentado atrás de Isabel, que está muito nervosa, segurando firme sua bolsa.
Isabel - (voz) Meu dinheiro não!
Cena 02/ônibus/cabine do motorista/int/madrugada Um segundo bandido aponta sua arma pro motorista.
Bandido 1 - Qualquer gracinha estouro seus miolos... Cena 03/ônibus/int/madrugada
O bandido se aproxima de Isabel.
Bandido 2 - Passa a bolsa, gata.
Isabel - Não tem nada aqui, cara. É só roupa. Sou muambeira sabe...
Bandido aponta a arma pra Isabel.
Bandido 2 - Tá me achando com cara de otário? Isabel - Que isso, gatão.
Bandido 2 - Passa logo essa bolsa, se não vou ter que meter uma azeitona nesse rostinho lindo. Bandido pega na bolsa de Isabel, que reluta em entregar. Mas o bandido puxa com mais força e pega a bolsa. Nesse momento, Ben-Hur armado, levanta e saca arma, apontando diretamente na cabeça do bandido.
Ben-Hur - Mãos pra cima. Larga a arma. Momento de tensão.
Bandido 2 - Que merda! Tira dentro do busão! Isabel puxa de volta sua bolsa.
Isabel - Perdeu, otário!
Mas o bandido, agindo bem rápido, puxa Isabel e a faz de refém, colocando a arma em sua cintura.
Bandido 2 - Se afasta, larga a arma, se não eu mato ela!
Cena 04/casa Turíbio/int/madrugada Turíbio acorda de rompante.
Turíbio - Isabel! Filipa acorda.
Filipa - Que foi, Turíbio?
Turíbio - Tive um sonho ruim com a Isabel. Como se ela tivesse em perigo.
Filipa - Que perigo, homem? Ela deve tá no décimo sono uma hora dessas...
Filipa vira pro lado e volta a dormir. Turíbio fica mexido som o sonho.
Turíbio - Foi tão real! Turíbio levanta e saí do quarto.
Cena 05/casa Turíbio/quarto Isabel/int/madrugada
Turíbio bata na porta. Abre e entra. Vê a cama arrumada. Nenhum sinal de Isabel. Turíbio fica preocupado. Em cima do criado vê um bilhete. Pega e lê. Sua expressão fica séria. Cena 06/salão de beleza/int/ext/madrugada
Karen acende a luz e vem descendo a escada, seguida de Bibo. Novamente alguém bate na porta.
Bibo - Quem será uma hora dessas? Cuidado que pode ser ladrão, myqueen.
Karen - E desde quando ladrão bate na porta, Bibo? Bibo - Vai saber né? Cidade do interior, pequena,
outros costumes...
Karen abre a porta. É Turíbio, segurando o bilhete que Isabel lhe deixou.
Karen - (surpresa) Turíbio? Aconteceu alguma coisa?
Turíbio - A Isabel... ela fugiu! Cena 07/ônibus/int/madrugada
Continuação da cena 03. Isabel congela diante da situação em que se encontra, como refém do bandido.
Bandido 2 - Não ouviu? Larga a arma se não ela morre! O policial avalia a situação.
Ben-Hur - Tudo bem. Eu vou larga a arma. Mas cuidado com o que você vai fazer, pra não acabar se arrependendo.
Ben-Hur abaixa a arma.
Bandido 2 - Chuta pra cá agora...
Ben-Hur chuta a arma pra perto do bandido, que pega a arma, sem se descuidar de Isabel.
Bandido 2 - (p/policial) Qualquer gracinha eu mato ela.
Isabel - Me larga cara. Não posso morrer! Bandido 2 - Cala a boca!
Bandido pega a bolsa de Isabel e saí com ela de costas, atento a Ben-Hur, que observa a situação. Os passageiros estão acuados, assustados.
Cena 08/ônibus/cabine motorista/madrugada
O bandido que tava com o motorista se surpreende ao ver o bandido aparecer com Isabel como refém.
Bandido 2 - Que merda! Deu tudo errado! Bandido 1 - Deu pra pegar alguma coisa? Bandido 2 - Pouco, mas deu.
Bandido 1 – E essa vagabunda?
Isabel - Vagabunda não, olha o respeito! Bandido 2 - Tá cheia da grana.
Bandido 1 - Vamos embora então, antes que apareça mais tiras...
Bandido 2 - Vai com a gente. Tu é nosso escudo. Cena 09/estrada/ext/madrugada
Bandido 1 desce, seguido por bandido 2, que conduz Isabel. Nesse momento, aparece três viaturas. Os policiais, aproximadamente seis, já descem, apontando a arma para os criminosos.
Bandido 2 - Fudeu!
Assustados, os criminosos e resolvem se entregar, soltando Isabel, que saí correndo em direção aos policiais, largando a arma e deitando no chão em seguida.Corta rápido para Ben-Hur conversando com os policias, enquanto dois deles colocando os criminosos nas viaturas. Um terceiro policial se aproxima de Isabel, carregando sua bolsa. Isabel fica receosa.
Policial - É sua, não é? Isabel - É sim!
Isabel pega a bolsa.
Isabel - Obrigada!
Assim que o policial se afasta, ela vira-se, abre a bolsa e vê seu rico dinheiro.
Isabel - Que susto vocês passaram, meus queridos! Fusão para:
Cena 10/ônibus em movimento/int/madrugada
Isabel está em sua poltrona, segurando sua bolsa. Ben-Hurse aproxima dela.
Ben-Hur - Você está bem? Isabel - Tô sim. Obrigado!
Ben-Hur - Você foi muito corajosa, valente!
Isabel - Na hora do aperto a gente faz coisa que até Deus duvida.
Ben-Hur - Eu quem o diga! (cumprimenta) Prazer, Ben-Hur.
Isabel - Que nome diferente...
Ben-Hur - É o nome de um personagem, de um filme antigo, épico, que meu pai adora. Daí veio a ideia de me batizar com esse nome, que até gosto viu. É diferente, único!
Isabel cumprimenta.
Isabel - Me chamado Isabel. Meu nome é até comum. Mas eu sou única!
Ben-Hur - Prazer, Isabel única!
Ben-Hur sorri e se afasta, voltando pra sua poltrona. Isabel lança um olhar pra ele, que sorri gentilmente e volta sua atenção pra janela, respirando fundo, depois da tensão que passou.
Isabel - (voz) Foi por pouco! Mas ninguém vai estragar meu sonho agora que estou tão próxima do meu destino. São Paulo, tô chegando!
Cena 11/jandaia/centro/ext/madrugada
Mary e Salatiel se recompõem, depois da transa.
Mary - Com essa sua cara de boco, ninguém imagina o garanhão que existe dentro de você!
Salatiel - Boco, não!
Mary - Meu boco mais gostosos!
Mary beija Salatiel, que fica todo derretido.
Salatiel - Vou te acompanhar até em casa. Já tá tarde pra você andar sozinha, ainda mais agora com essa história do.../
Salatiel se corta, percebendo que está falando demais. Mary - (curiosa) Que história?
Salatiel - Nada, nada... besteira minha! Vamos?
Mary fica desconfiada, vendo que Salatiel está escondendo alguma coisa, mas não dá importância. Os dois seguem em direção à casa dela.
Cena 12/jandaia/rua vazia/ext/madrugada
Salatiel e Mary seguem caminhando. Quando escutam um barulho atrás deles. Passos, movimentação. Os dois olham em direção ao movimento que escutaram e não veem nada.
Mary - Tá com medo?
Salatiel - Eu, medo? Sou um homem da lei. Não tenho medo de nada!
Um vulto se movimenta atrás deles. Salatiel dá um pulo de susto.
Salatiel - Quem tá aí? É melhor parar com isso. Não tem graça nenhuma!
Mary - (rindo) E não tá com medo, né?! Foi só o vento, Salatiel.../
Mary é interrompida, ao ver Brucutu passando bem rápido, de relance.
Mary - (grita) É o brucutu! Mary saí correndo, assustada.
Salatiel - Não me deixa pra trás...
Salatiel saí correndo, seguindo Mary. CAM detalhe Brutucu de costas, observando os dois se afastarem. Corta para Salatiel que para de correr.
Salatiel - Perae! Sou um soldado e não um frango. Não posso ficar correndo como um homem medroso. Salatiel pega sua arma.
Salatiel - Vou descobrir agora quem é esse brucutu! Salatiel, em alerta, volta até o ponto onde viram o Brucutu. Mas pra sua decepção ou felicidade, a figura misteriosa já não está mais no local.
Salatiel - Deve ter me visto voltando e ficou intimidado. Mas vou descobrir a identidade desse coisa estranha. Dessa figura misteriosa, que parece ter saído de uma novela do Aguinaldo Silva...
Cena 13/casa Karen/Sala/Int/Madrugada
Karen termina de ler o bilhete que Isabel deixou, entregue por Turíbio. Bibo perto dela, bicando o conteúdo do bilhete.
Karen - Pra onde você acha que ela foi?
Turíbio - Não tenho a mínima ideia. A Isabel sempre falou que queria ir embora de Jandaia. Mas não achei que ela fosse ter coragem de fazer isso.
Bibo - Foi pra isso então que ela pediu aquele dinheiro. Pra dar no pé!
Karen - Mas se eu não dei o dinheiro, onde ou com quem ela conseguiu a quantia que estava querendo?
Turíbio - (lamenta) Meu Deus! É só dor de cabeça que essa menina me arruma!
Karen - Devo ter uma parcela de culpa nisso.
Turíbio - Agora não adianta se condenar, Karen. Temos é que descobrir onde a Isabel está e se ela está bem!
Bibo - Vamos dormir. Amanhã, com a cabeça descansada, vamos podemos pensar melhor e localiza-la. Ficarmos acordados, a uma hora dessa, não vai adiantar nada.
Turíbio - Não vou conseguir dormir.
Karen - Bem ela está, Turíbio. Deixou um bilhete avisando que ia embora. Forçada ela não foi. Turíbio - Mas tive um sonho estranho. Como se a
Isabel estivesse em perigo...
Karen - Foi só um sonho estranho. Volta pra casa, que amanhã vamos conseguir encontrá-la. Turíbio - É o que espero!
Karen - Mas pelo pouco que já conheço da Isabel, sei que se ela foi realmente atrás do sonho de ser modelo, ela não vai voltar, não importando o apelo que você fizer, muito menos os meus. Ela só volta quando conseguir realizar seu sonho ou se der com os burros n’água.
Turíbio - É tinhosa e cabeça dura igual a mãe. Karen - Isso foi um elogio?
Instantes.
Turíbio - Vou pra casa. Saí sem falar nada com a Filipa. Ela deve tá preocupada.
Karen - Tudo bem! Boa noite! Karen abre a porta.
Turíbio - Boa noite!
Os dois se olham por um instantes. Turíbio vai embora. Bibo - E não vai me dizer que isso não é amor?! Karen - Não começa, Bibo. Vamos dormir, que já
Karen apaga a luz e os dois seguem pros seus quartos.
Bibo - Minhas olheiras já devem estar no joelho...
Karen - Exagerado... Fusão para:
Cena 14/jandaia/centro/ext/amanhecendo Corta para:
Cena 15/casa patrício/quarto Jeferson/int/dia
Jeferson dorme. Instantes. Vai acordando lentamente. Sente a cabeça pesando, o corpo estranho.
Jeferson - Mas que droga! O que aconteceu comigo? Ao passar a mão na cama, sente o bilhete que Isabel lhe deixou e lê. Jeferson fica revoltado, lembrando de tudo.
Jeferson - (grita) Desgraçada! Cena 16/casa Moisés/quarto Rebeca/int/dia
Rebeca está em frente ao espelho, vestida de noiva, ainda sem acreditar no que vai fazer. Toca no vestido, ajeitando qualquer amaçado, mostrando vaidade, mesmo sem estar feliz.
Rebeca - Chegou o dia! Cena 17/igreja/sacristia/int/dia
Pedro em frente ao espelho. Termina de vestir suas paramentas e encara o espelho.
Pedro - Coragem, Pedro! Beatriz aparece.
Beatriz - Você precisará ser forte pra ver a mulher que ama se casar com outro homem.
Pedro - Eu sei disso.
Beatriz - O fim de toda agonia está próximo, Pedro. Pedro - Hoje é o fim, Beatriz. O fim da minha
história e da Rebeca!
Beatriz - Não diga isso. É uma história que você e a Rebeca podem reescrever.
Pedro - Como, Beatriz? Você fala como se tudo fosse fácil. Como se num estralar de dedos, fossemos poder voltar pro passado e começar de novo.
Beatriz - Deus tem um plano pra cada um de nós. Um destino.
Pedro - Você não sabe do que está falando, Beatriz. Você é uma anja, um ser celestial. A condição humana é diferente. (T) Eu e a Rebeca somos de carne e osso, não temos suas habilidades. Temos que arcar com nossas consequências, com o caminho que trilhamos em nossa vida.
Beatriz - Mas sempre se pode recomeçar. Renascer das cinzas. Precisa apenas coragem.
Pedro - O que você quer que eu faça, Beatriz? Beatriz - Você precisa descobrir o que realmente
você quer. Se quer continuar sendo um padre ou vai se entregar ao amor que sente pela Rebeca.
Pedro - Me sinto tão confuso, perdido...
Beatriz - Será que realmente você ama a Rebeca, Pedro? Será que se acomodou a tudo isso e tem medo de recomeçar? Medo de renascer como uma fênix?
Pedro - Sou um padre e cometi o pecado original ao me entregar ao amor imenso que sinto pela Rebeca. Um amor que pulsa forte dentro de mim e não consigo controlar.
Beatriz - Deus não condena o amor puro e verdadeiro. Pedro - (tom) Mas eu não posso amar carnalmente
uma mulher, Beatriz. Eu sou padre! Fiz os votos. Votos esses que quebrei e desde então venho me punindo, me martirizando.
Beatriz - Deus sempre está pronto pra perdoar.
Pedro - Mas não mereço seu perdão. (T) Deus está me castigando, me punindo pelo meu pecado, promovendo essa situação: eu celebrando o casamento da mulher que amo, com outro homem.
Beatriz - E quem disse que seu destino é ser padre? Pedro - E não? O que sou agora então, Beatriz?
Estou vivendo uma realidade que não é minha? Uma vida que não é a minha?
Beatriz - Seu livre arbítrio lhe foi privado, Pedro. Por mais que lutemos, que desviemos do nosso caminho, sempre acabamos por encontra-lo. Mais cedo ou mais tarde. Assim como a mulher que Deus destino pra sua vida.
Pedro - Tá querendo dizer que mais cedo ou mais tarde eu e a Rebeca vamos ficar juntos?
Beatriz - Deus tem um plano maravilhoso pra vocês, Pedro. Mas tudo tem sem tempo. E o tempo divino não é o mesmo dos humanos, onde tudo é pra ontem.
Pedro - Suas palavras me trazem conforto. Mas não sei se vou conseguir continuar suportando tudo isso.
Beatriz - Você precisa ser forte! Não só pela Rebeca, mas por uma outra vida...
Pedro - O que está querendo dizer com isso? Licurgo entra, apressado.
Licurgo - Desculpe a demora, padre Pedro... Licurgo sente um clima tenso no ar.
Licurgo - Atrapalho?
Beatriz saí da sacristia.
Pedro - Vá se aprontar que logo vamos celebrar o casamento da Rebeca e do Jeferson.
Licurgo - Pode deixar que num instante eu tô pronto! Cena 18/igreja/corredor/int/dia
Pedro vem atrás de Beatriz, que estava indo embora.
Pedro - Você não me respondeu à pergunta que te fiz.
Beatriz - Deus criou entre vocês uma ligação eterna, Pedro. Que nada, nem ninguém, vai conseguir destruir.
Pedro - Seja mais clara, Beatriz. Beatriz - A Rebeca está grávida. Pedro reage.
Desse momento, corta para: