2016
2ª PROVA PARCIAL DE LITERATURA
Aluno(a): Nº
Ano: 2º Turma: Data: 14/06/2016 Nota:
Professor(a): Renato Gorgulho Valor da Prova: 30 pontos
Orientações gerais: 1) Número de questões desta prova: 11
2) Valor das questões: Abertas (4): 4,0 pontos cada. Fechadas (7): 2 pontos cada. 3) Provas feitas a lápis ou com uso de corretivo não têm direito à revisão.
4) Aluno que usar de meio ilícito na realização desta prova terá nota zerada e conceituação comprometida.
5) Tópicos desta prova: - Manoel de Barros.
1ª Questão:
Caderno de Aprendiz
Poesia é a descoberta das coisas Que eu nunca vi
Oswald de Andrade Eu queria ser banhado por um rio como um sítio é.
Como as árvores são. Como as pedras são.
Eu fosse inventado de ter uma garça e outros pássaros em minhas árvores.
Eu fosse inventado como as pedrinhas e as rãs em minhas areias.
Eu escorresse desembestado sobre as grotas e pelos cerrados como os rios.
Sem conhecer nem os rumos como os andarilhos.
Livre, livre é quem não tem rumo.
BARROS, Manoel. Menino do Mato In: Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. p. 457.
a) Relacione o poema acima com sua epígrafe, mencionando possíveis diálogos entre Barros e o poeta moderno Oswald de Andrade.
b) Discuta dois procedimentos poéticos que são características da obra de Manoel de Barros, exemplificando-os com trechos do poema.
COLÉGIO XIX DE MARÇO
2ª Questão
Podemos perdoar um homem por fazer alguma coisa útil, desde que ele não a admire. A única desculpa para fazer alguma coisa inútil é podermos admirá-la intensamente.
Toda arte é completamente inútil.
WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
a) Apesar do escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900) e Manoel de Barros terem temáticas e estilos totalmente diferentes, ambos foram artistas que, cada qual à sua maneira, refletiram profundamente sobre a natureza da arte. A partir da leitura do fragmento de Oscar Wilde e da coletânea de poemas de Manoel de Barros, relacione a visão que os dois têm do universo das coisas.
b) Ovídio, poeta latino do século I a. C., escreveu a seguinte frase ao terminar Metamorfoses, considerada sua obra máxima:
Acabo de concluir uma obra que nem a ira de Júpiter, nem o fogo, nem o ferro, nem o tempo devorador poderão abolir.
In: GIANNETTI, Eduardo. O livro das citações: um breviário de ideias replicantes. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Levando em consideração os comentários do item “a”, faça uma reflexão sobre a arte literária relembrando que Ovídio, Wilde e Manoel de Barros já são falecidos.
3ª Questão:
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras
fatigadas de informar. Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade
as tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
a) Na poesia de Manoel de Barros há metrificação? Justifique sucintamente.
b) “Uso a palavra para compor meus silêncios”. Ao utilizar o texto para falar do próprio texto, ou seja, da poesia para explicar a própria poesia, o poeta utiliza um recurso comunicativo. Qual é ele?
4ª Questão:
Deus deu a forma. Os artistas desformam. É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades. Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer a noiva camponesa voar como em Chagall.
Livro sobre nada (1996).
a) Ao citar a obra de outra de outro autor, no caso Marc Chagall, qual é o nome do processo a que o autor recorre ao se referir a esse quadro?
b) No verso abaixo o corre um paradoxo, ou oxímoro:
Ontem choveu no futuro.
Explique essa figura de linguagem a partir desse verso de Manoel de Barros.
Leia com atenção o poema de Manoel de Barros e as informações que se seguem a ele, presentes na obra Literatura e letramento – espaços, suportes e interfaces. Consulte-os
para resolver as questões de número 5 e 6.
O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era
a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. Passou um homem depois e disse: essa volta que o rio
faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
Barros, Manoel de. O livro das ignorãças. 7 ed. Rio de Janeiro: Record, 2000, p.25.
A respeito da leitura de textos literários nos livros didáticos e levando em consideração o poema de Manoel de Barros, Aracy Martins, afirma: “São circunstâncias como essas [as ideias de Manoel de Barros] que fazem o professor Hélder Pinheiro (2001, p. 63-4) chamar de desencontros ou de desencantos, quando lamenta a abordagem dada a um conhecido poema em dos livros didáticos de língua portuguesa muito usado entre nós. O livro didático faz pior ainda do que aquilo que sugere Manoel de Barros. Ele não só nomeia, mas sobrenomeia as coisas, com nomenclaturas e metalinguagens.
“Interlocuções do livro didático com a literatura”. In: PAIVA, Aparecida; MARTINS, Aracy; PAULINO, Graça; VERSIANI, Zélia (orgs.). Literatura e letramento – espaços, suportes e interfaces – o jogo do livro. Belo Horizonte/CEALE, 2003.
5ª Questão:
Os textos de Barros e Martins podem se associar, no que se refere à discussão da leitura do texto literário na escola, porque:
a) criticam, sob abordagens diferentes, a leitura “a-poética” do texto literário, frequente em livros didáticos.
b) recusam-se, de forma contundente, a ensinar aspectos linguísticos em textos literários, contrariando essa prática em livros didáticos.
c) posicionam-se contra professores de literatura tradicionais, que apenas repetem fórmulas de leitura do texto literário.
d) incentivam o estudo do texto literário como centro das atividades, considerando os não literários como subcategorias.
e) valem-se de uma visão tradicional do conceito de texto e linguagem literários.
6ª Questão:
Manoel de Barros, em seus versos, abomina:
a) o incentivo à criatividade, que tira do aprendiz a capacidade de pensar sensivelmente um texto. b) a liberdade de expressão, que leva a leituras superficiais de textos complexos, como os literários. c) o privilégio dado a conteúdos e nomenclaturas, em detrimento da poesia tácita das palavras. d) a imposição de um só significado, mesmo para textos cuja composição pressupõe múltiplas leituras.
e) a valorização da criatividade e da naturalidade infantil.
7ª Questão:
A relação entre os dois textos abaixo é:
Fazer a noiva camponesa voar como em Chagall.
Livro sobre nada (1996).
Os noivos nos céus de Paris (1970), de Marc Chagall.
a) texto satírico ou realista. b) anímico e virtualista. c) de amor e de amigo. d) verbal e não verbal. e) realista e naturalista.
8ª Questão:
(UFLA-MG) Com base na leitura da obra de Manoel de Barros, é CORRETO afirmar que sua poesia
a) utiliza versos brancos livres como forma de erudição.
b) demonstra que a voz do poeta é diferente da voz de qualquer pessoa. c) reflete o estranhamento do poeta em relação à natureza.
d) demonstra a importância das coisas pequenas para o poeta. e) utiliza a Língua Portuguesa de forma convencional.
9ª Questão:
(UFLA-MG) Com base na leitura da obra de Manoel de Barros:
I - Escreve livros de poemas, embora eles tenham uma composição parecida com a prosa. II - Nela o poeta demonstra sua contemplação frente à natureza.
III - Trata-se de uma obra de estilo clássico, com versos metrificados e rimados.
a) Somente as afirmativas II e III são corretas. b) Somente as afirmativas I e II são corretas. c) Somente a afirmativa III está correta. d) Somente a afirmativa I está correta. e) Somente a afirmativa II está correta.
Texto para as questões 10 e 11.
Muita coisa se poderia fazer em favor da poesia:
1 Esfregar pedras na paisagem.
2 Perder a inteligência das coisas para vê-las. (Colhida em Rimbaud)
3 Esconder-se por trás das palavras para mostrar-se. 4 Mesmo sem fome, comer as botas. O resto em Carlitos. 5 Perguntar distraído: – O que há de você na água?
6 Não usar colarinho duro. A fala de furnas brenhentas de Mário-pega-sapo era na rua. Por
isso as crianças e as putas no jardim o entendiam.
7 Nos versos mais transparentes enfiar pregos sujos, teréns de rua e de música, cisco de
olho, moscas de pensão...
8 Aprender a capinar com enxada cega.
9 Nos dias de lazer compor um muro podre para os caramujos.
10 Deixar os substantivos passarem anos no esterco, deitados de barriga, até que eles possam
carrear para o poema um gosto de chão – como cabelos desfeitos no chão – ou como uma bule de Braque – áspero de ferrugem, mistura de azuis e ouro – um amarelo grosso de ouro da terra, carvão de folhas.
11 Jogar pedrinhas nim moscas...
BARROS, Manoel de. Matéria de Poesias, 3 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1999.
10ª Questão:
Nesse e em outros poemas do autor há referências:
a) a artistas plásticos, como Chagall e Braque, além de cineastas e outros escritores da modernidade.
b) naturalistas, referentes principalmente a obras de Franz Kafka e Robert Louis Stevenson .
c) cinematográficas, acima de tudo com Charles Chaplin, Buster Keaton, e contemporâneos, como Martim Scorsese e Tim Burtom.
d) às cantigas trovadorescas e à poesia clássica de Camões.
e) a autores mineiros, como Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade.
11ª Questão:
O poema cita Rimbaud, poeta francês do século passado, e Carlitos, personagem dos filmes de Charles Chaplin. “Perder a inteligência das coisas para vê-las”, de acordo com o texto de Manuel de Barros é olhar as coisas:
a) em seu significado mais moderno.
b) com objetividade, deixando de lado o sujeito que olha. c) recusando seu valor meramente utilitário.
d) pelo ponto de vista do especialista. e) resgatando seu sentido fundamentalista.