• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS"

Copied!
60
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Sávio de Sá Leitão Cruz

ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA DA PESCA ARTESANAL NO ESTADO DE RONDÔNIA

PORTO VELHO 2009

(2)

SÁVIO DE SÁ LEITÃO CRUZ

ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA DA PESCA ARTESANAL NO ESTADO DE RONDÔNIA

Monografia apresentada à

Universidade Federal de Rondônia como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Ciências Econômicas

Orientador: Prof. Msc. Maurílio Galvão.

PORTO VELHO 2009

(3)

SÁVIO DE SÁ LEITÃO CRUZ

ANÁLISE SÓCIO-ECONÔMICA DA PESCA ARTESANAL NO ESTADO DE RONDÔNIA

Monografia apresentada à

Universidade Federal de Rondônia como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Ciências Econômicas

Data da Aprovação: Junho de 2009

________________________________________ Prof. Msc. Edílson Lobo (Coordenador do Curso)

UNIR

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Msc. Maurílio Galvão (Orientador)

UNIR

________________________________________ Prof. Dr. Sílvio Persivo da Cunha

UNIR

________________________________________ Prof. Msc. Edílson Lobo Nascimento

UNIR

PORTO VELHO 2009

(4)

Dedicatória

Dedico esta obra a todos os professores, familiares e amigos que me ajudaram na preparação desta Monografia, sem os quais nada disso seria possível.

(5)

Agradecimentos

Primeiramente, agradeço a Deus pela oportunidade de estar apresentando esse trabalho de conclusão de curso. Também eternos agradecimentos aos meus pais (Marluce de Sá Leitão Cruz e Ricardo Lopes da Cruz) e demais familiares.

(6)

“Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário.”

(7)

RESUMO

Este trabalho trata da análise sócio-econômica da pesca artesanal no Estado de Rondônia. O Estado de Rondônia possui uma área de 237.576,167 km² representando 6,16 % da região Norte do Brasil. Os recursos hídricos representam um fator preponderante na Bacia Amazônica, e Rondônia está inserido dentro deste contexto. A rede hidrográfica de Rondônia é composta por 7 Bacias, destacando-se principalmente as Bacias do Madeira, Guaporé e Mamoré. A pesca artesanal se constitui em uma das mais importantes e tradicionais atividades extrativistas e também de subsistência. A importância em entender o modo de vida de populações ribeirinhas, levando em consideração a maneira de produzir, viver e interagir com os recursos naturais é necessário frente ao processo de reorganização econômico, social e ecológico a que o mundo está passando. A pesca artesanal é responsável por uma significativa parcela de geração de empregos (ocupação de mão-de-obra) nas cidades ribeirinhas. Além disso, continua sendo uma importante fonte de proteína de origem animal para toda a população ribeirinha que tem na sua extração a principal fonte de alimento e sustento familiar por meio da venda do excedente, gerando renda para a população. Os dados foram obtidos a partir das informações obtidas nas 11 colônias de pescadores, Federação de Pescadores e Aqüicultores do Estado de Rondônia, Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, IBAMA, IBGE, EMATER, Secretaria de Desenvolvimento Ambiental, SEPLAN/RO e SEBRAE.

Palavras-chave: Colônia de pescadores, recursos pesqueiros, SEAP, pesca

(8)

ABSTRACT

This work deals with the socio-economic analysis of artisanal fisheries in the state of Rondônia. The State of Maryland has an area of 237,576.167 km ² represents 6.16% of northern Brazil. Water resources are a dominant factor in the Amazon Basin, Rondônia and falls within this context. The hydrographic network is composed of Rondônia for 7 basins, especially the main basins of Madeira, and Guaporé Mamoré. The artisanal fishing is a most important and the traditional extractive activities and also to survival. The importance in understanding the livelihoods of coastal communities, taking into consideration how to produce, live and interact with natural resources is necessary before the process of economic restructuring, social and ecological that the world is going. The artisanal fishery accounts for a significant portion of the generation of jobs (occupation of labor) in coastal cities. Moreover, remains an important source of animal protein for the entire population that has at its riverside extracting the main source of food and family support through the sale of surplus, generating income for the population. Data were obtained from the information obtained in the 11 colonies of fishermen, Federation of fishermen and fish farmers of the State of Rondônia, Special Secretariat for Aquaculture and Fisheries, IBAMA, IBGE, EMATER, Department of Environmental Development, SEPLAN / RO and SEBRAE.

(9)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Produção pescado 2003/2004...23 Tabela 2 - Produção total (t) participação relativa (%) da pesca extrativa

e da aqüicultura em águas marinhas e continentais, 1998 - 2004...23 Tabela 3 - Produção estimada e participação relativa da pesca extrativa industrial, artesanal e aquicultura no Brasil, por Unidade da Federação, ano de 2004...24 Tabela 4 - Produto Interno Bruto a preços correntes Brasil, Região Norte e

Rondônia e participação (%) do PIB de Rondônia em relação ao Brasil e Região Norte - (2002 – 2006)...26 Tabela 5 - Variação Anual do PIB Brasil, Região Norte e Rondônia – 2003/2002, 2004/2003, 2005/2004, 2006/2005...26 Tabela 6 - Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes Brasil, Região Norte e estados da Região Norte – (2002 – 2006)...27 Tabela 7 - Participação (%) no valor adicionado bruto por setor de atividade econômica, Estado de Rondônia – (2002 – 2006)...27 Tabela 8 - Valor adicionado bruto por setor de atividade econômica, Estado de Rondônia – (2002 -2006)...28 Tabela 9 - Participação (%) no valor adicionado bruto das atividades econômicas do setor agropecuária, Estado de Rondônia (2002 – 2006)...28 Tabela 10 - Produção Total de pescado (em toneladas) oriunda da pesca e

aqüicultura no estado de Rondônia no período de 1997 a 2007...32 Tabela 11 - Estimativa de custos de produção da pesca artesanal no estado

de Rondônia, 2009...34 Tabela 12 - Pescadores cadastrados em todas as colônias do estado de

Rondônia, 2009...36 Tabela 13 - Pesca extrativa, segundo as principais espécies de água doce,

Rondônia...37 Tabela 14 - Preço das principais espécies de pescado comercializadas em

Rondônia, ano de 2009...39 Tabela 15 - Produção estimada por modalidade, da região norte do Brasil e

suas Unidades da Federação, ano 2004...40 Tabela 16 - Dados gerais sobre as localidades pesqueiras no estado

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Produção (em t) Pesca 1998 a 2004...24 Figura 2 - Mapa do Estado de Rondônia, com indicação dos municípios de

maior produção de pescado...30 Figura 3 - Produção Pesqueira Desembarcada no mercado de Porto Velho,

(11)

SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO...11

2 - PESCA ARTESANAL...13

2.1 - Pesca Artesanal na Amazônia...14

2.2 - Regulamentação da Pesca Artesanal...18

2.2.1 - Políticas Públicas voltadas para a Pesca Artesanal...19

3 - ANÁLISE E IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA DA ATIVIDADE PESQUEIRA EM RONDÔNIA...25

3.1 - Relações de Produção e Métodos de Captura...30

3.1.1 - Estruturas de Custos de Produção Pesqueira ...33

3.2 - Tipos de Embarcações...34

3.3 - Caracterização da Mão-de-obra da Pesca Artesanal...35

3.4 - Espécies Capturadas...37

3.5 - Comercialização ...38

3.6 - Infra-Estrutura do Setor Produtivo...40

CONCLUSÃO...48

REFERÊNCIAS...51

(12)

1- INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das comunidades pesqueiras ribeirinhas está historicamente relacionado ao desenvolvimento das atividades de pesca e das demais atividades a esta vinculada. Para as comunidades, a pesca atinge duas dimensões: a primeira, no âmbito econômico — posto que esta figura como uma das principais atividades geradora de renda; a segunda, no âmbito da cultura — onde a pesca constitui um elemento importante na construção das relações socioculturais.

O setor pesqueiro nacional apresenta suas potencialidades ainda inexploradas, atualmente existem mais de 800 mil pescadores, piscicultores e maricultores no país. Este setor é responsável pela geração de 3,5 milhões de empregos e a sua produção é de cerca de 1,1 milhão de toneladas/ano, gerando R$ 5 bilhões de Produto Interno Bruto. A previsão é que o Brasil produza mais de 1,5 milhão de toneladas/ano até 2011, aumentando para 5 milhões o número de pessoas empregadas na atividade pesqueira. (SEAP/PR, 2009).

Na Amazônia, a pesca assume grande importância sócio-econômica visto que constitui fonte vital de alimentos, ocupação de mão-de-obra e de renda para a população local. Segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA (2004), a região desponta no cenário nacional da produção de pescado sendo responsável por 28,15% da produção nacional.

O sistema hidrográfico de Rondônia tem como base três grandes rios: Guaporé, Mamoré e Madeira, que interligados nessa ordem formam uma só calha. O Rio Mamoré, oriundo do complexo andino boliviano, recebe o Rio Guaporé no Distrito de Surpresa, município de Guajará-Mirim. Já em Vila Nova (município de Nova Mamoré) o Rio Mamoré deságua no Rio Madeira juntamente com o Rio Beni, também originário dos Andes.

A hidroquímica dos rios Madeira e Mamoré é caracterizada pela riqueza de nutrientes (Ca, Mg, K, Si, Na), oriundo dos sedimentos andinos que torna suas águas turvas e barrentas. O Rio Guaporé, embora de águas limpas, devido a sua conformação física é rico em baias, várzeas e lagos o que favorece a produção pesqueira.

Os três fatores que determinam a produtividade primária total nos ecossistemas fluviais da Amazônia são: as grandes áreas marginais (constituídas

(13)

por lagos, lagoas, baias e várzeas), os nutrientes e a luz solar. A planície inundável do Rio Madeira, é um fator determinante para a produção de alimentos para os peixes. O potencial pesqueiro na rede hidrográfica do Estado de Rondônia é significativo, apresentando vasta variedade de espécies de peixes.

A pesca artesanal no Estado de Rondônia envolve um contingente significativo da população, sobretudo ribeirinha, que retira dela, a principal fonte de renda. Estão localizadas no estado 11 colônias de pescadores artesanais, sendo a Z-1 Tenente Santana, localizada na margem do Rio Madeira em Porto velho, que congrega o maior número de pescadores ativos, cerca de 3.500 e também a maior área de captura, em um total superior a 500 km. Na bacia do Guaporé-Mamoré, estão localizadas as Colônias de Pescadores Z-2 de Guajará-Mirim, Z-3 de Pimenteiras do Oeste, Z-4 de Costa Marques e Z-10 de São Francisco do Guaporé, todas agregando cerca de 990 pescadores. A bacia do Rio Machado congrega as Colônias Z-9 de Ji-Paraná, Z-11 de Presidente Médici e Z-5 de Machadinho do Oeste e, colônias estas, consideradas menores, em relação ao esforço de captura e que possuem cerca de 665 pescadores. Na bacia do Rio Jamary estão as outras 3 Colônias de Pescadores: Z-6 de Candeias do Jamari, Z-7 de Itapuã do Oeste e Z-8 de Ariquemes, congregando cerca de 850 pescadores artesanais.

A pesca constitui-se em uma das atividades econômicas de expressão dentro das potencialidades do Estado. O setor pesqueiro artesanal contribui para geração de emprego, renda e alimentação para a população rondoniense. Mas, ao lado dessa importância, existem diversos problemas estruturais e sócio-econômicos que tendem, no longo prazo, a comprometer o desempenho integral da cadeia produtiva. Diante deste fato, torna-se necessário conhecer o universo da pesca artesanal no Estado de Rondônia, tanto para realizar o ordenamento da atividade pesqueira, quanto no sentido de vir a subsidiar políticas públicas para o setor.

Neste contexto, apresenta-se como o objetivo central, a realização da análise do setor pesqueiro artesanal estadual, centrando-se na mensuração da importância sócio-econômica desta atividade para o Estado de Rondônia.

Como objetivos específicos têm-se a caracterização da atividade pesqueira artesanal estadual no âmbito de sua estrutura produtiva e a realização de um levantamento global das relações de produção e dos métodos de captura, dos tipos

(14)

de embarcações, das espécies capturadas, da comercialização, do beneficiamento e da infra-estrutura do setor pesqueiro artesanal do Estado de Rondônia.

2 - PESCA ARTESANAL

A pesca é uma atividade extrativa que compõe a dieta alimentar dos seres humanos desde a história. Segundo Cardoso (2001) no Brasil, grupos pré-colombianos já tinham a pesca como atividade essencial em seus modos de vida.

Nos últimos anos, o modelo econômico brasileiro, através de uma política neoliberal e concentradora de renda, voltado para exportação de grandes empresas, veio, conforme salienta Netto, Nunes & Albino (2002, p. 93) “acentuar o abandono por que passa a pequena produção tanto agrícola, quanto pesqueira, em particular a pesca artesanal”.

Porém, a partir de 2003, com a criação da Secretária Especial de Aqüicultura e Pesca - ligada a Presidência da República - ocorreu uma mudança de direção na tomadas de decisões das políticas públicas voltadas ao setor pesqueiro, começando a surgir os primeiros efeitos positivos, que apesar de ainda pequenos, demonstram um possível caminho para consolidação das políticas de Estado de longo prazo para o potencial aquícola e pesqueiro brasileiro.

Buscando-se um conceito para pesca artesanal, destaca-se Diegues (1988) apud CARDOSO (2001, p. 1) que afirma que é

[...] aquela realizada com embarcações pequenas ou de médio porte, motorizadas ou não, sem instrumentação de bordo e onde a remuneração se faz através da venda do pescado para atravessadores, peixarias, bancas de peixe ou banca própria, podendo ocorrer ainda atividades econômicas complementares sazonais.

A pesca artesanal tem como características o uso de embarcações a motor e redes confeccionadas em náilon (DIEGUES, 1983). Além disso, é uma atividade praticada principalmente através da mão-de-obra familiar, com embarcações de pequeno e médio porte, canoas, chatas, jangadas (pesca marinha). Sua atuação é em rios, lagos, cachoeiras e nas proximidades da costa brasileira. Os equipamentos utilizados são os mais variados possíveis em função da espécie a ser capturada. Os equipamentos mais utilizados são arrasto simples, rede de cerco, rede de emalhe, linha, anzol, tarrafa, espinhel, rede caçoeira ou descaída etc.

Há, na pesca artesanal, basicamente o trabalho manual do pescador, em todas as etapas, incluindo a manipulação das artes de pesca (redes e outros

(15)

apetrechos). É baseada em conhecimentos transmitidos aos pescadores por outros mais velhos e experientes da comunidade, ou através da interação com outros companheiros de profissão.

2.1 - Pesca Artesanal na Amazônia

Segundo Isaac, Milsteins & Ruffino (1996) a pesca artesanal na Amazônia brasileira é de vital importância para o fornecimento de alimento para a população local e como fonte de renda, obtida através da comercialização do pescado nos mercados dos centros urbanos regionais, escoamento da produção para o sul do país ou mesmo para o exterior (exportação).

A pesca artesanal é uma das atividades humanas mais importantes na Amazônia, constituindo-se em fonte de alimento, comércio, renda e lazer para grande parte de sua população, especialmente a que reside nas margens dos rios de grande e médio porte. O próprio processo de colonização dessa região, desencadeado a partir dos séculos XVII e XVIII e centrado ao longo da calha do Solimões/ Amazonas e de seus principais tributários é, em certa medida, o reflexo da importância dos rios e dos recursos pesqueiros na vida do homem amazônico. Mesmo em épocas mais remotas, há cerca de oito mil anos, quando a região era explorada apenas pelos índios, os peixes já se constituíam em recursos naturais importantes para a manutenção das populações humanas (SANTOS & SANTOS, 2005, p. 196)

A pesca na região Amazônica assume grande importância e destaca-se em relação às demais regiões brasileiras, tanto costeiras como de águas interiores, pela riqueza de espécies exploradas, pela quantidade de pescado capturado e pela dependência da população tradicional a esta atividade.

A riqueza da ictiofauna da Bacia Amazônica ainda é desconhecida, sendo esta responsável pelo grande número de espécies da região neotropical, que pode alcançar 8.000 espécies (VARI & MALABARBA,1998). Outra questão relevante é a unidade populacional explorada pela pesca. A maioria das espécies importantes para a pesca comercial é razoavelmente bem conhecida, mas pouco se sabe se os indivíduos destas estão agrupadas numa única população, ou estoque pesqueiro, ou em várias (BAYLEY& PETRERE, 1989).

Segundo Santos & Santos (2005) citando Cerdeira et al. (1997) e Batista et al. (2004), as taxas de consumo de pescado na Amazônia são as maiores do mundo, sendo este consumo, responsável pela principal fonte de proteína de origem

(16)

animal para a população amazônica, com média estimada em 369 g/ pessoa/ dia ou 135 kg/ ano, chegando a cerca de 600 g/ dia ou 220 kg/ pessoa/ ano em certas áreas do baixo rio Solimões e alto Amazonas, constituindo-se na principal fonte de proteínas para as populações humanas residentes.

De acordo com Santos & Santos (2005, p. 168) uma característica da importante ictiofauna a ser destacada no contexto da pesca amazônica diz respeito às categorias taxonômicas e/ ou ecológicas nas quais os peixes são enquadrados. De maneira sumária, elas são as seguintes:

Characiformes ou peixes de escama: a maioria é formada de espécies migradoras de curta distância, movimentando-se entre rios e lagos. O principal representante dessa categoria é o Tambaqui (Colossoma macropomum), que alcança cerca de 1 m e 30 kg e até a década de 1980 era a espécie mais abundante na pesca. Os demais membros são de menor porte, entre 20 e 50 cm de comprimento, mas muito apreciados, destacando-se entre eles o jaraqui (Semaprochilodus spp), matrinxã (Brycon spp), curimatã (Prochilodus spp), pacu (Myleus spp, Mylossoma spp), sardinha (Triportheus spp) etc. Normalmente, esses peixes são vendidos em gelo, por quilo ou cambada, com várias unidades. Sua pesca é feita com rede de lanço ou arraste, aplicada sobre cardumes que estão se deslocando pelo canal para desovar (peixe ovado) ou à procura de novas áreas para alimentação e dispersão (peixe gordo).

Siluriformes, bagre ou peixe-liso: a maioria é formada por espécies que empreendem migrações longas, através do canal principal do sistema Solimões-Amazonas. Os principais representantes desse grupo são o sorubim (Pseudoplatystoma fasciatum), caparari (P. tigrinum), dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), piramutaba (B. vaillantii) e piraíba (B. filamentosum), sendo esta o maior bagre de água doce, alcançando cerca de 2,4 m e 130 kg. A pesca desses peixes é feita normalmente no canal ou em áreas de cachoeiras, com uso de redes de emalhe, espinhéis e linhada. Muitas pessoas, especialmente aquelas oriundas do interior, possuem certo tabu em relação ao consumo dos peixes lisos; por outro lado, trata-se de um tipo de pescado muito apreciado em outras regiões do Brasil e de países vizinhos, daí que grande parte da sua produção é exportada, especialmente para a Colômbia e Peru.

Perciformes, peixes sedentários, típicos de lagos e caracterizados por espinhos nas nadadeiras. Seus principais representantes são o tucunaré (Cichla spp) e a pescada de água doce (Plagioscion spp), ambos carnívoros e formados por várias espécies biológicas. Além da pesca comercial típica, o tucunaré é também bastante visado pela pesca esportiva, a qual vem se intensificando em certas áreas da Amazônia, especialmente nos rios de água clara e nos reservatórios de hidrelétricas.

O setor pesqueiro na Amazônia contribui para alavancar a economia regional, movimentando cerca de R$ 472 milhões/ano, dos quais os frigoríficos atuam sobre 50%; pequenos pescadores artesanais 22%; pescadores comerciais 20%; e as feiras abertas 8%. (BATISTA; ISAAC; VIANA, 2004)

A importância social do setor pesqueiro na Amazônia é demonstrada através de dados que indicam a existência de 250.700 pescadores profissionais na

(17)

Amazônia, o qual significa que mais de 700.000 pessoas são envolvidas direta ou indiretamente nesta atividade. Soma-se a este montante, cerca de 1,5 milhão de moradores das “várzeas”, os ribeirinhos, que ocupam 30% do território e são os maiores consumidores de pescado do mundo, dependendo da pesca para sua segurança alimentar e laboral. (SEAP/PR, 2008)

A região Amazônica apresenta uma rica e diversificada biodiversidade e é um dos ecossistemas mais íntegros e produtivos do planeta que chama a atenção do mundo e enfrenta grandes desafios para se desenvolver de forma harmônica e sustentável.

O ponto principal a considerar quando se evoca a sustentabilidade do setor pesqueiro é que a redução dos estoques pesqueiros e demais efeitos negativos que se abatem sobre a ictiofauna não advêm exclusivamente da pesca, mas de impactos negativos do entorno, como a derrubada das matas ciliares, a destruição de nascentes, o assoreamento, a poluição e o represamento de rios. Assim sendo, atividades potencialmente impactantes e em processo de desenvolvimento na Amazônia, como a cultura de soja, a mineração, a construção de barragens e estradas devem ser enfaticamente levadas em consideração quando se trata de política ambiental voltada para a preservação e sustentabilidade dos recursos naturais (SANTOS & SANTOS,2005, p. 174).

No Estado de Rondônia o desmatamento acelerado das matas ciliares no Vale do Guaporé; a expansão da agricultura voltada para a exportação, especificamente a soja; a construção de empreendimentos hidrelétricos; o aumento de dejetos lançados no curso de água sem tratamento prévio; a ineficaz fiscalização contra a pesca clandestina tem provocado a diminuição dos estoques de algumas espécies consideradas nobres como: tambaqui, pirapitinga, pescada, surubim. Tais reduções embora comprovadas empiricamente pelas comunidades pesqueiras, obrigam o direcionamento do esforço pesqueiro a outras espécies ainda subexplotadas.

A falta de informação científica e levantamentos estatísticos sobre a pesca na Amazônia e o aumento descontrolado do esforço de pesca são resultados de uma fraca política de manejo pesqueiro regional. Apenas nos últimos anos, projetos de pesquisa têm dado início à geração de dados sistemáticos de captura e biologia de alguns estoques pesqueiros, bem como aspectos sociais e econômicos dos conflitos que ocorrem nos diversos sistemas de pesca na Amazônia. De acordo com Abdallah & Castello (2003) já na década de 90 estudiosos como Paez (1993) e Giulietti & Assumpção (1995), atribuíam a redução na produção pesqueira à

(18)

sobrepesca de algumas espécies, à predação dos recursos naturais pesqueiros e à conseqüente diminuição dos estoques.

Uma estimativa conservadora do total de estoque pesqueiro desembarcado nos núcleos urbanos e do que é consumido pela população ribeirinha tem-se aproximado em torno de 400.000 toneladas anuais (BAYLEY & PETRERE,1989).

Assim como na região amazônica, o setor pesqueiro nacional apresenta suas potencialidades ainda inexploradas, atualmente existem mais de 800 mil pescadores, piscicultores e maricultores no país. Este setor é responsável pela geração de 3,5 milhões de empregos e a sua produção é de cerca de 1,1 milhão de toneladas/ano, gerando R$ 5 bilhões de Produto Interno Bruto. A previsão é que o Brasil produza mais de 1,5 milhão de toneladas/ano até 2011, aumentando para 5 milhões o número de pessoas empregadas na atividade pesqueira. (SEAP/PR, 2009).

Estudos realizados pela Secretária Especial de Aqüicultura e Pesca, comprovam que o Brasil possui um enorme potencial em relação a sua produção pesqueira. Numa visão de longo prazo, o país apresenta um potencial de produção de 20 milhões de toneladas, gerando U$ 40 bilhões/ano ao nível primário e U$ 160 bilhões/ano em toda a cadeia, acarretando em 10 milhões de pessoas envolvidas neste segmento econômico.

Segundo a SEAP/PR, o desenvolvimento econômico e social do setor pesqueiro na Amazônia é um dos seus objetivos principais, numa visão de longo prazo, estima-se que somente na região amazônica, existirá 680.000 pescadores artesanais, ampliando a captura e recuperando os estoques pesqueiros regionais.

Leva-se em consideração o mercado externo cuja demanda vem crescendo continuamente, a projeção é que passe dos 16kg/ano por habitante para 22,5 kg/habitante/ano em 2025. O mercado interno também apresenta dados estimulantes para a produção pesqueira, justificando-se pelo aumento de 15% nas vendas dos supermercados nos últimos 3 anos. Em 2007, 15% do consumo interno teve origem na importação de pescado.

Para que esses objetivos sejam concretizados, foram traçadas diretrizes pautadas na consolidação de uma Política de Estado, na sustentabilidade, na inclusão social, na estruturação da cadeia produtiva, no fortalecimento do mercado interno e organização do setor pesqueiro nacional. Tendo como estratégias o aumento da renda e fortalecimento da cidadania para o setor pesqueiro artesanal,

(19)

consolidação da frota nacional e aumento da captura para o setor pesqueiro industrial e garantia de regularidade de oferta e aumento do consumo da produção advinda da aqüicultura.

A região Amazônica destaca-se na produção pesqueira possuindo uma infra-estrutura física constituída de 20 grandes frigoríficos (avaliados em US$ 5 milhões cada) e indústrias pesqueiras em pólos como Belém, Manaus e Santarém. Mais da metade da produção é destinada ao abastecimento do mercado nacional. A exportação é destinada aos Estados Unidos, Holanda, Japão, Nigéria entre outros países, inclusive subprodutos. Na Amazônia, o Seguro Defeso atende 150.118 beneficiados e seu valor é estimado em R$ 281.396.070,00.

2.2 - Regulamentação da Pesca Artesanal

Adota-se com bastante freqüência, em qualquer tipo de organização social, um planejamento como meio para implementar uma política econômico-social estabelecida para atingir fins de desenvolvimento (LOPES, 1995).

A pesca artesanal é uma das mais antigas atividades do Brasil, se fazendo presente desde o período colonial. Entretanto, a primeira regulamentação se deu em 12 de fevereiro de 1765, e diz respeito às pescarias de baleia na costa brasileira (AGGIO, 2008).

Conforme Aggio (2008) em 1962 a Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE), órgão que foi criado buscando a “modernização” ou industrialização da pesca nacional através da transformação da pesca artesanal.

Com essa finalidade, teve início a atuação dos chamados incentivos fiscais da pesca, que eram representados principalmente por deduções tributárias e implantação de unidades de beneficiamento do pescado (CARDOSO, 2001).

Apenas para se ter uma idéia, em 1968, 69 e 70, os incentivos fiscais a 134 projetos aprovados pela SUDEPE totalizavam a quantia de CR$1.644.379.113,00. Porém, a produção pesqueira equivalente a estes 3 anos atingiu o valor de CR$1.222.915.000,00, ou seja, apenas 75% do valor investido. Aliados ao prejuízo financeiro ocorreram ainda a sobrepesca de determinadas espécies, a pesca predatória de outras e a destruição de ecossistemas de alta produtividade, o que reduziu o pescado junto à costa, prejudicando os pescadores artesanais (AGGIO, 2008, p. 4).

Conforme explicita Aggio (2008, p. 5) mesmo sem o retorno dos investimentos, houve um incremento na produção nacional, que:

(20)

[...] passou de cerca de 300.000, na década de 1960, para 900.000 toneladas por ano na década de 1980, o que para a infelicidade das indústrias pesqueiras, durou pouco tempo. Já na década de 1990 a produção não só estagnou como decresceu, o que fez com que, além dos prejuízos já causados, as embarcações industriais atuassem em águas mais rasas, disputando e reduzindo a oferta de pescado para os pescadores artesanais.

A partir desta perspectiva, alterou-se o curso histórico da pesca nacional. A SUDEPE foi extinta em 1989 e criou-se o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), sendo que as atribuições da SUDEPE foram transferidas para o IBAMA.

No ano de 1988 é criado o Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA), subordinado ao Ministério da Agricultura, órgão que não tem uma grande sobrevida, sendo extinto em 2003 e criada a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República (SEAP-PR), também tendo sido as funções do primeiro transferidas para a segunda (PROZEE, SEAP/PR, & IBAMA, 2006).

Para analisar o desenvolvimento de forma abrangente seria necessário considerar seus vários aspectos, entre os quais cabe destacar o econômico, o social, o político e o cultural. (CLEMENTE, 1994).

2.2.1 Políticas Públicas voltadas para a Pesca Artesanal

Segundo Höfling (2005), Política Pública pode ser definida como “O Estado em ação”. Políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais, visando a redução das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico.

Fundamentada pela soberania, cidadania, dignidade da pessoa, valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e pluralismo político (Art. 1, CF 1988), o projeto histórico-político da sociedade brasileira define como seus objetivos: a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; a garantia do desenvolvimento nacional; a erradicação da pobreza e da marginalização; a redução das desigualdades sociais e regionais; a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Art 3º).

(21)

Na concepção de Höfling (2005, p. 17), o processo de definição de políticas públicas para uma sociedade reflete “os conflitos de interesses, os arranjos feitos nas esferas de poder que perpassam as instituições do Estado como um todo”. Como linhas mestras do projeto da sociedade, esses fundamentos são também o critério de definição para projetos e políticas setoriais, adquirindo especificidades para cada campo.

A política e o planejamento participam naturalmente com a análise na procura do desenvolvimento. O desenvolvimento impõe condições de ordem qualitativa cuja verificação vai depender grandemente da racionalidade que seja possível impor à organização espacial da sociedade, e exige ainda, numa perspectiva temporal, que a utilização dos recursos garanta permanência e estabilidade, se não melhoria, aos quadros de vida futuros, pelo qual a organização espacial de hoje deve salvaguardar as condições de vida das gerações de amanhã, isto é, o desenvolvimento do futuro. (LOPES, 1995).

O processo de construção das políticas públicas voltadas para a pesca artesanal deve ser norteado para motivar o desenvolvimento local, conceito este de fundamental importância para o progresso das comunidades extrativistas ribeirinhas.

O desenvolvimento local pode ser conceituado como um processo endógeno de mudança, que leva ao dinamismo econômico e à melhoria da qualidade de vida da população em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos. Para ser consistente e sustentável, o desenvolvimento local deve mobilizar e explorar as potencialidades locais e contribuir para elevar as oportunidades sociais e a viabilidade e competitividade da economia local; ao mesmo tempo, deve assegurar a conservação dos recursos naturais locais, que são a base mesma das suas potencialidades e condição para a qualidade de vida da população local. Esse empreendimento endógeno demanda, normalmente, um movimento de organização e mobilização da sociedade local, explorando as suas capacidades e potencialidades próprias, de modo a criar raízes efetivas na matriz socioeconômica e cultural da localidade (BUARQUE, 2002, p. 25).

A constituição de órgãos do governo com o intuito de coordenar o desenvolvimento da atividade pesqueira foi marcada, em 1910, pela criação da Inspetoria de Pesca, cuja atuação limitou-se ao levantamento das espécies marinhas, sendo extinta em 1918.

Em 1923, criou-se o Serviço de Pesca e Saneamento do Litoral, organismo que teve grande importância notadamente na organização e defesa da pesca

(22)

artesanal. No início dos anos 30, em substituição ao Serviço de Pesca e Saneamento do Litoral, foi criada a Divisão de Caça e Pesca.

A criação desse órgão marca o começo de um período qualificado como etapa de “tecnificação do setor”, já caracterizado pelo direcionamento da regulação pública para o processo cumulativo de capital. Promoveu melhorias e capacitação de mão-de-obra, com a implantação da Escola de Pesca de Tamandaré que, em última instância, teria como objetivo aumentar a produtividade do trabalhador e a produção pesqueira. Nesse contexto, foi criada a Caixa de Créditos da Pesca, financiada com recursos governamentais dos serviços prestados pelos entrepostos federais (5% das vendas efetivas), que tinha por objetivo atender às exigências do setor empresarial, no que concerne a financiamento de projetos de ampliação de plantas das empresas de pesca, instalação para armazenamento e até mesmo para montagem de pequenas indústrias.

Em 1961, foi criado o Conselho de Desenvolvimento da Pesca (Codepe), órgão de caráter normativo que buscava dar uma orientação única à política de desenvolvimento pesqueiro, em contraposição à pulverização de competências então observada.

Em 11 de outubro de 1962 foi criada a Superintendência do desenvolvimento da Pesca (Sudepe), autarquia que centralizou todas as funções políticas e econômicas da Divisão de Caça e Pesca, Caixa de Crédito da Pesca e Codepe, com a conseqüente extinção destes organismos. O modelo de desenvolvimento do setor pesqueiro esteve, durante toda a existência da Sudepe, atrelado a uma concepção voltada ao crescimento da produção.

Em 22 de fevereiro de 1989, a Lei 7.735 cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA que recebe então, da extinta Sudepe, a gestão da pesca e da aqüicultura como atribuição. A administração da pesca sofreu uma mudança significativa, à medida que a sustentabilidade ganhou um peso considerável na gestão do uso dos recursos pesqueiros. Essa nova fase, propiciando outra visão ao ordenamento dos recursos pesqueiros, se por um lado nega a política de exploração levada em período anterior, por outro vincula a atividade pesqueira quase que exclusivamente à dimensão ambiental.

Em maio de 1998, com a nova reestruturação organizacional da Presidência da República e dos Ministérios, foi transferida a competência relacionada com o

(23)

apoio da produção e o fomento da atividade pesqueira para o MAPA, através do Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA), permanecendo no MMA e IBAMA as responsabilidades relacionadas com a política de preservação, conservação e uso sustentável dos recursos naturais.

Por fim, em 1º de janeiro de 2003, o Governo editou a Medida Provisória 103, hoje Lei 10.683, na qual foi criada a Secretaria Especial da Aqüicultura e Pesca - SEAP, ligada a Presidência da República. A SEAP/PR tem status de Ministério e atribuições para formular a política de fomento e desenvolvimento para a aqüicultura e pesca no Brasil, permanecendo a gestão compartilhada do uso dos recursos pesqueiros com o Ministério do Meio Ambiente.

A SEAP foi criada para atender uma necessidade do setor pesqueiro, na perspectiva de fomentar e desenvolver a atividade, no seu conjunto, nos marcos de uma nova política de gestão e ordenamento do setor mantendo o compromisso com a sustentabilidade ambiental.

Atualmente (2009) existem projetos e comissões criadas para transformar em Ministério a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca. Essa transformação seria de grande importância para os que vivem da pesca e para o meio ambiente. A criação do Ministério da Pesca é um resgate histórico da classe dos pescadores, que sempre foi marginalizada.

A criação desse novo Ministério se consolida pelo consenso sobre sua importância e visa a trabalhar todas as etapas da cadeia produtiva, a estimular o crescimento da produção de pescado no país, de forma sustentável, a resguardar os direitos dos pescadores e a construir mecanismos eficientes de regulação e fiscalização dos recursos pesqueiros.

Outro aspecto relevante ao setor pesqueiro trata da aprovação da nova Lei da Pesca, que passa a considerar pescadores e aqüicultores como produtores rurais com direito a créditos rurais com acesso a recursos mais baratos para financiar a produção. Assim, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) Mais Alimentos que possui no seu orçamento R$ 25 bilhões para a agricultura familiar aplicar em tratores e implementos agrícolas, será estendida à linha do setor de pesca.

A nova Lei da Pesca também reconhece como trabalhadoras da pesca as mulheres que desempenham atividades complementares à pesca artesanal.

(24)

Se essa nova Lei for aprovada, empresas de beneficiamento, transformação e industrialização de pescado poderão se beneficiar das linhas de crédito, desde que comprem a matéria-prima dos pescadores ou de suas cooperativas. Pescadores e aqüicultores terão financiamentos para aquisição de redes e de vários outros materiais de pesca, além de modernização e reforma de embarcações, o que inclui melhorias nas condições de manipulação e conservação do pescado a bordo e melhorias nas condições de saúde e segurança do trabalhador. Os tomadores dos empréstimos devem ser produtores familiares com renda de até R$ 110 mil anuais, no caso dos pescadores, e de até R$ 165 mil para os aqüicultores.

Tabela 1 - Produção pescado 2003/2004.

(Em toneladas)

Produção (t) 2003 2004 Crescimento

relativo (%)

Pesca extrativa marinha 484.592,5 500.116,0 + 3,2 Pesca extrativa continental 227.551,0 246.100,5 + 8,2

Maricultura 101.003,0 88.967,0 (-) 11,9

Aqüicultura continental 177.125,5 180.730,5 + 2,0

Total 990.272,0 1.015.914,0 + 2,6

Fonte: Anuário Estatístico da Pesca. IBAMA, 2004.

A produção de pescado no ano de 2004 correspondeu a 1.015.914,0 toneladas, fazendo uma análise comparativa do desempenho do Setor Pesqueiro Nacional em relação ao ano anterior (2003) observamos um aumento na produção total, na ordem de 2,6%, determinado principalmente pelo desempenho da pesca extrativista marinha e continental. O pesca extrativista continental teve um acréscimo de 8,2%, destacando-se mais que as demais.

Tabela 2 - Produção total (t) participação relativa (%) da pesca extrativa e da aqüicultura em águas marinhas e continentais, 1998 - 2004.

(Em toneladas)

Ano PESCA EXTRATIVA AQUICULTURA TOTAL

(T) MARINHA CONTINENTAL TOTAL (T) % MARINHA CONTINENTAL TOTAL (T) %

1998 432.599,0 174.190,0 606.789,0 85,4 15.349,0 88.349,0 103.914,5 14,6 710,703,5 1999 418.470,0 185.471,5 603.941,5 81,1 26.513,5 114.142,5 140.656,0 18,9 744.597,5 2000 467.687,0 199.159,0 666.846,0 79,1 38.374,5 138.156,0 176.530,5 20.9 843.376,5 2001 509.946,0 220.431,5 730.377,5 77,7 52.846,5 156.532,0 209.378,5 22,5 939.756,0 2002 516.166,5 239.415,5 755.582,0 75,0 71.114,0 180.173,0 251.287,0 25,0 1.006.869,0 2003 484.592,5 227.551,0 712.143,5 71,9 101.003,0 177.125,5 278.128,5 28,1 990.272,0 2004 500.116,0 246.100,5 746.216,5 73,5 88.967,0 180.730,5 269.697,5 26,5 1.015.914,0 Fonte: IBAMA/DIFAP/GREP

(25)

Figura 1 - Produção (em toneladas) Pesca 1998 a 2004.

Fonte: Anuário Estatístico da Pesca. IBAMA, 2004.

A pesca extrativa em 2004 apresentou uma pequena recuperação alcançando uma participação relativa na produção de pescado de 73,5%, contra a 71,9% registrada em 2003. No período de 1998-2003, a participação relativa da pesca extrativa apresentou um comportamento de declínio.

Tabela 3 - Produção estimada e participação relativa da pesca extrativa industrial, artesanal e aqüicultura no Brasil e na Região Norte, por Unidade da Federação, ano de 2004.

(Em toneladas)

Região e Unidades da

Federação

Pesca Extrativa Aquicultura Total (t)

Industrial % Artesanal % Total %

BRASIL 240.961,5 23,7 505.255,0 49,8 269.697,5 26,5 1.015.914,0 Norte 19.647,0 7,8 214.940,5 85,2 17.773,5 7,0 252.361,0 Rondônia 0,00 0,00 3.853,5 48,8 4.041,0 51,2 7.894,5 Acre 0,00 0,00 1.609,5 46,7 1.839,0 53,3 3.448,5 Amazonas 0,00 0,00 59.695.5 92,6 4.775,0 7,4 64.470,5 Roraima 0,00 0,00 419,5 19,7 1.710,0 80,3 2.129,5 Pará 19.647,0 12,8 131.875,5 85,7 2.283,5 1,5 153.806,0 Amapá 0,0 0,00 15.791,0 98,5 235,0 1,5 16.026,0 Tocantins 0,00 0,00 1.696,0 37,0 2.890,0 63,0 4.586,0

Fonte: Anuário estatístico da pesca – IBAMA, 2004.

3 - ANÁLISE E IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA DA ATIVIDADE PESQUEIRA EM RONDÔNIA

(26)

A rede hidrográfica de Rondônia é composta por 7 Bacias, destacando-se principalmente as Bacias do rio Madeira, Guaporé e Mamoré. A pesca artesanal se constitui em uma das mais importantes e tradicionais atividades extrativistas e também de subsistência. O potencial pesqueiro do Estado de Rondônia é significativo, apresentando vasta variedade de espécies de peixes.

No Estado de Rondônia a produção de pescado é derivada de dois segmentos de atividade: a aqüicultura e a pesca artesanal. A pesca artesanal assume grande dimensão sócio-econômica sendo desenvolvida em vários municípios do Estado. De uma maneira geral a pesca artesanal em Rondônia caracteriza-se por se desenvolvida com regularidade, mesmo no período de defeso.

Os pescadores artesanais desenvolvem suas atividades combinando objetivos comerciais e também de subsistência, empregam embarcações de pequeno e médio porte, geralmente de madeira, construídas por si mesmos utilizando matérias-primas naturais com propulsão motorizada ou não. Os petrechos e insumos utilizados na atividade são rústicos, geralmente comprados no comércio local ou confeccionados pelo próprio pescador. As capturas proporcionadas sob estas condições envolvem volumes pequenos ou médios de pescado.

Atualmente a pesca artesanal representa 50% da produção estadual de pescado e, considerando apenas os filiados às Colônias de Pescadores existentes no Estado, envolve aproximadamente 6 mil pessoas (SEAP/PR, 2009).

Em função da conjuntura econômica, de fatores climáticos e, em menor escala, os de natureza fitossanitária, em 2006, a economia rondoniense acusou um crescimento no Produto Interno Bruto (PIB), a preços correntes, à taxa de 1,75% (com a incorporação dos impostos líquidos dos subsídios), inferior às taxas medidas para o Brasil (10,36%) e região Norte (12,75%). Em valores a preços correntes, o PIB de Rondônia, com R$ 13,1 bilhões, participou com 10,92% e 0,55% no PIB da região Norte e no do Brasil, respectivamente. (SEPLAN/RO).

Tabela 4 - Produto Interno Bruto a preços correntes Brasil, Região Norte e Rondônia e participação (%) do PIB de Rondônia em relação ao Brasil e Região Norte - (2002 – 2006).

(Em R$ milhões)

Brasil,Região e UF Especificação Ano

2002 2003 2004 2005 2006

(27)

Variação (%) - 15,03 14,21 10,60 10,36

Região Norte PIB 69.310 81.200 96.012 106.442 120.014

Variação (%) - 17,15 18,24 10,86 12,75

Rondônia PIB 7.780 9.751 11.260 12.884 13.110

Variação (%) - 25,33 15,48 14,42 1,75

PIB Rondônia / PIB Brasil (%) 0,53 0,57 0,58 0,60 0,55

PIB Rondônia / PIB Reg. Norte (%) 11,22 12,01 11,73 12,10 10,92

Fonte: IBGE/SEPLAN, Contas Regionais do Brasil – 2002 – 2006.

Em 2006, o Estado de Rondônia reduziu sua participação em relação ao PIB do Brasil (-8,33%) e ao da Região Norte (-9,75%). Comparativamente às variações do PIB Brasil e Região Norte, Rondônia apresentou o crescimento nominal de 25,33% em 2003, 15,48 em 2004, 14,42 em 2005 e 1,75 em 2006.

Tabela 5 - Variação Anual do PIB Brasil, Região Norte e Rondônia – 2003/2002, 2004/2003, 2005/2004, 2006/2005. (Em %) Especificação 2003/2002 (%) 2004/2003 (%) 2005/2004 (%) 2006/2005 (%) Brasil 1,15 5,66 3,16 3,97 Região Norte 5,90 8,60 6,68 4,79 Rondônia 5,32 9,61 4,47 3,57

Fonte: IBGE/SEPLAN, Contas Regionais do Brasil – 2002 – 2006.

Com o PIB na 3ª posição no ranking da região Norte, Rondônia se qualifica como o terceiro pólo indutor de desenvolvimento regional, perdendo apenas para os estados do Pará e Amazonas. Embora não tenha perdido a posição no ranking nacional (22ª no período 2002-2006), o Estado, em decorrência de retração do setor agropecuário, cresceu abaixo da média da região Norte.

Tabela 6 - Produto Interno Bruto (PIB) a preços correntes Brasil, Região Norte e estados da Região Norte – (2002 – 2006).

(Em R$ milhões)

Brasil, Região e UF Ano

2002 2003 2004 2005 2006 Brasil 1.477.822 1.699.948 1.941.498 2.147.239 2.396.797 Região Norte 69.310 81.200 96.012 106.442 120.014 Rondônia 7.780 9.751 11.260 12.884 13.110 Acre 2.868 3.305 3.940 4.483 4.835 Amazonas 21.791 24.977 30.314 33.352 39.166 Roraima 2.313 2.737 2.811 3.179 3.660 Pará 25.659 29.775 35.563 39.121 44.376 Amapá 3.292 3.434 3.846 4.361 5.260

(28)

Tocatins 5.607 7.241 8.278 9.061 9.607

Fonte: IBGE/SEPLAN, Contas Regionais do Brasil – 2002 – 2006.

O setor da agropecuária - constituída pelas atividades agricultura, silvicultura e exploração florestal; e pecuária e pesca – representa a 2ª maior participação no PIB do Estado de Rondônia, tendo peso significativo na economia, quer na geração de matérias primas para as agroindústrias, quer na geração de emprego e renda para toda população estadual.

Tabela 7 - Participação (%) no valor adicionado bruto por setor de atividade econômica, Estado de Rondônia – (2002 – 2006).

(Em %) Setor 2002 2003 2004 2005 2006 Agropecuária 19,71 23,05 22,03 20,49 19,45 Indústria 13,89 12,21 12,67 13,94 14,23 Serviços 66,40 64,74 65,30 65,57 66,32 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: IBGE/SEPLAN, Contas Regionais do Brasil – 2002 – 2006.

Com 66,32% (2006), o setor serviços apresenta a maior participação no valor adicionado estadual, seguindo-se a agropecuária com 19,45% (setor onde está inserida a atividade pesqueira artesanal estadual); e, em terceiro lugar, a indústria com 14,23%.

Tabela 8 - Valor adicionado bruto por setor de atividade econômica, Estado de Rondônia – (2002 -2006). (Em R$ milhões) Setor Especificação 2002 2003 2004 2005 2006 Agropecuária Valor 1.374 2.000 2.205 2.347 2.246 Variação em % - 45,54 10,25 6,45 - 4,29 Indústria Valor 968 1.059 1.268 1.598 1.644 Variação em % - 9,43 19,72 25,99 2,87 Serviços Valor 4.629 5.619 6.537 7.514 7.660 Variação em % - 21,39 16,34 14,96 1,94 Total Valor 6.971 8.678 10.010 11.459 11.550 Variação em % - 24,49 15,35 14,48 0,79

Fonte: IBGE/SEPLAN, Contas Regionais do Brasil – 2002 – 2006.

Relativamente à participação das atividades econômicas no valor adicionado bruto do Estado de Rondônia (2006), a da administração, saúde e educação públicas foi a que apresentou maior peso (31,07%), seguindo-se pecuária e pesca (12,43%); comércio e serviços de manutenção e reparação (11,76%); atividades imobiliárias e aluguel (8,81%); agricultura, silvicultura e exploração florestal com

(29)

(7,02%). No conjunto, essas atividades contribuíram com 71,09% do valor adicionado estadual.

Tabela 9 - Participação (%) no valor adicionado bruto das atividades econômicas do setor agropecuária, Estado de Rondônia (2002 – 2006).

(Em R$ milhões)

Atividade 2002 2003 2004 2005 2006

Valor % Valor % Valor % Valor % Valor %

Agricultura, Silvicultura, Exploração Florestal 538 39,14 872 43,62 870 39,47 964 41,08 811 36,11 Pecuária e Pesca 836 60,86 1.128 56,38 1.335 60,53 1.383 58,92 1.435 63,89 Setor Agropecuário 1.374 100,0 2.000 100,0 2.205 100,0 2.347 100,0 2.246 100,0

Fonte: IBGE/SEPLAN-GEP, Contas Regionais do Brasil – 2002 – 2006.

Segundo os dados (2006), observa-se que a agricultura, silvicultura e exploração florestal contribuíram com 36,11% do valor adicionado bruto do setor, enquanto a pecuária e pesca contribuíram com 63,89% do valor adicionado bruto do setor agropecuária do Estado de Rondônia.

A atividade pecuária e pesca apresentou a variação real anual de -0,12%, porém representou 63,89% do valor adicionado bruto da agropecuária e 12,43% no do Estado.

O setor de pesca artesanal no Estado de Rondônia é responsável pelo emprego de um contingente considerável de mão-de-obra, geralmente não qualificada.

A População Economicamente Ativa (PEA) do Estado de Rondônia está estimada em 770 mil pessoas entre 16 e 64 anos de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo dados da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP/PR), entre pescadores, carregadores, revendedores de insumos (gelo, óleo diesel, lubrificantes, alimentação, redes, etc.), serviços autônomos (mecânico, eletricista, confecção de rede, carpintaria, etc.) estimam-se que no estado existam cerca 35 mil pessoas envolvidas direta e indiretamente no setor de pesca extrativista.

A partir dos dados acima, concluí-se que aproximadamente 4 % da População Economicamente Ativa (PEA) do Estado de Rondônia está envolvida (direta ou

(30)

indiretamente) com a atividade pesqueira artesanal praticada no Estado de Rondônia.

Segundo o IBGE, das 770.000 pessoas que compõem a PEA, 95% possuem trabalho fixo, o que revela uma taxa de desocupação 5%, este é o índice de desemprego estimado no Estado de Rondônia. Durante o período de maior pico da safra (produção) pesqueira que acontece entre os meses de junho a dezembro é observado a inserção de um grande contingente de desempregados e trabalhadores informais que necessitando obter seu sustendo invadem o setor pesqueiro, prejudicando os pescadores e revendedores tradicionais.

O conteúdo exposto revela a importância da pesca artesanal para a economia rondoniense. Neste sentido torna-se importante analisar os vários aspectos associados à atividade pesqueira, destacando-se, nesse contexto, aqueles associados a população envolvida diretamente com a pesca artesanal.

Figura 2 - Mapa do Estado de Rondônia, com indicação dos municípios de maior produção de pescado

(31)

Fonte: Federação dos Pescadores do Estado de Rondônia 3.1 - Relações de Produção e Métodos de Captura

A pesca artesanal é praticada utilizando-se métodos tradicionais e equipamentos rudimentares, de um modo geral confeccionados pelos próprios pescadores.

As pescarias artesanais são complexas, utilizando várias artes de pesca, capturam várias espécies, demandam um conhecimento tradicional refinado, apresentam sistemas de apropriação social de espaços naturais (territórios), inúmeros pontos de desembarque e diversas cadeias produtivas, incluindo processos de socialização do pescado. Por estas características, a pesca artesanal se apresenta mais resistente frente a perturbações e variabilidades de ordem natural ao longo do tempo.

No Estado de Rondônia, é grande a informalidade na atividade de pesqueira artesanal, com pouca tecnologia associada às diversas etapas da cadeia produtiva, existindo uma série de questões sociais, sanitárias e ambientais a serem superadas.

Embora não existam muitas pesquisas sobre a cadeia produtiva da pesca artesanal, está cada vez mais disponível um conjunto de teorias elaboradas para avaliar as atividades econômicas informais e que possuem outros atributos como

(32)

solidariedade, tradição, sustentabilidade, que se distinguem das análises de outras atividades econômicas mais formais e de maior porte. (SEAP/PR, 2009)

O pescador artesanal exerce sua atividade de maneira individual ou de pequenos grupos e está sob efeito de pressões econômicas que governam sua estratégia de pesca, selecionando os peixes de maior valor. Sua relação com o mercado é caracterizada pela presença de intermediários. A relação de trabalho parte de um processo baseado na unidade familiar ou no grupo de vizinhança e tem como fundamento o fato dos pescadores, ou parte deles, serem proprietários do seu meio de produção. Via regra, o escoamento de pescado ocorre de maneira informal, havendo perdas substanciais da produção ao longo do processo. O pescado oriundo da atividade artesanal do Estado de Rondônia abastece principalmente o mercado interno.

Os métodos empregados pelos pescadores artesanais são variados, pois a atividade pesqueira é sazonal, exigindo métodos específicos de acordo com a espécie a ser capturada e o local onde a atividade pesqueira será realizada. De uma maneira geral a pesca artesanal em Rondônia caracteriza-se por se desenvolvida com regularidade, mesmo no período de defeso que é estabelecido anualmente de novembro à março. Neste período a legislação tanto federal com estadual especifica as espécies protegidas e que não podem ser capturadas, bem como as regiões a serem preservados. Os pescadores normalmente se dedicam as espécies liberadas ou paralisam parcialmente suas atividades de acordo com a bacia hidrográfica e a colônia de pescadores onde atuam.

A prática mais utilizada na pesca artesanal envolve a utilização de redes (emalhe, cerco e tarrafa). A prática de pesca com espinhel também é utilizada, principalmente para a captura de bagres (dourado, filhote, jaú, pirarara, etc.) principalmente na colônia de Porto Velho e nas localizadas no Vale do Guaporé. Esta prática consiste da utilização de uma linhada com vários anzóis de tamanho médio e grande dispostos ao sabor da correnteza.

Em ambientes lenticos (lagos e baias) a zagaia e o arpão embora com restrições na legislação são utilizados notadamente para a captura do tucunaré, principalmente no rio Guaporé e afluentes e a pesca do pirarucu no lago Cuniã situado na bacia do Madeira.

A rede de lance (cerco) e de emalhe (espera) são utilizadas geralmente para peixes de pequeno porte com jaraqui, curimatã, pacu, piau, branquinha, sardinha,

(33)

etc. Este método de captura utilizando a rede de lance consiste na utilização da rede, a partir de um barco de capacidade média, apoiado por uma ou mais canoas pequenas, que quando detectam o cardume, lançam a rede fazendo o conhecido “cerco”.

Em algumas áreas próximas as cachoeiras localizadas na bacia do Madeira e Guaporé-Mamoré ocorre a prática da pesca de grandes bagres através do método denominado “burras” que consiste em trapiches de madeira erguidos na áreas próximas as cachoeiras com grandes correntezas e onde os pescadores lançam aleatoriamente sua linhada com um ou mais anzóis. Os pescadores neste tipo de atividade normalmente estão amarrados com uma corda envolvida no seu abdômen para evitar que sejam arrastados eventualmente durante a captura de um grande bagre.

Segundo dados da SEAP/PR, de todos os métodos de captura citados, com certeza a rede de emalhe (espera) e a rede de lance (cerco) são responsáveis por mais de 70% da captura da produção pesqueira artesanal em Rondônia.

Tabela 10 - Produção Total de pescado (em toneladas) oriunda da pesca e aqüicultura no Estado de Rondônia no período de 1997 a 2007.

(Em toneladas)

As oscilações na produção anual da pesca artesanal no estado de Rondônia em alguns anos referem-se basicamente ao período de cheias das bacias hidrográficas. Os períodos de cheia acima da média refletirão em uma produção maior de pescado no ano seguinte, pois as águas que saíram das calhas dos rios e invadiram lagos marginais durante as enchentes, ao retornar ao seu ritmo normal trazem grande quantidade de pescado que, se desenvolverão nas calhas dos rios.

(34)

Os custos de produção da pesca artesanal praticada no Estado de Rondônia podem ser classificados em fixos e variáveis.

Os custos fixos são aqueles que permanecem inalterados, independente do grau de utilização da capacidade da embarcação e equipamentos dos pescadores. Entre os custos fixos se destacam a depreciação dos meios de produção, as taxas anuais para licença de operação das embarcações, custos de manutenção com a embarcação e equipamentos de suporte à pesca.

Os custos variáveis ou operacionais envolvem os desembolsos efetuados somente durante o esforço de pesca (produção pesqueira) e englobam a aquisição do gelo para a conservação do pescado, combustíveis, taxas para entidades representativas de classe, manutenções dos aparelhos de captura e outros custos não previstos que ocorrem durantes as pescarias assim como a alimentação, comumente chamada de rancho.

Na pesca artesanal a composição dos custos se diferencia entre as embarcações de acordo com o seu tamanho, ambiente de captura, o método de pesca, a diversidade e sazonalidade das espécies exploradas entre outros fatores.

A duração média de captura é de 1 a 2 dias para as embarcações de pequeno porte e de 10 a 15 dias para as embarcações de médio porte que possuem caixas isotérmicas com capacidade de 1,5 a 4 toneladas. Em algumas comunidades pesqueiras a pesca é feita normalmente em apenas 1 dia onde os pescadores saem em suas embarcações ao amanhecer e armam as redes de espera e espinhéis, retornando no período da tarde para verificar a produção eventualmente capturada. O principal produto deste método de captura são pequenos e médios bagres.

Tabela 11 - Estimativa de custos de produção da pesca artesanal no Estado de Rondônia, 2009.

(35)

Discriminação Embarcação de médio porte ( 1,5 a 4 toneladas)

Embarcação de pequeno porte (300 a 700 kg) R$ 1,00 % R$ 1,00 % Gelo 480,00 26,67 40,00 22,72 Alimentação 350,00 19,44 30,00 17,04 Combustível (Diesel , gasolina óleo lufricante) 660,00 36,65 60,00 34,11 Taxa - Colônia 90,00 5,00 15,00 8,52 Depreciação 70,00 3,89 11,00 6,25 Manutenção-Pretechos 150,00 8,35 20,00 11,36 Total 1800,00 100 176,00 100 Fonte: FEPEARO (2009). 3.2 - Tipos de Embarcações

As embarcações de pesca de águas continentais da Amazônia, e em especial no estado de Rondônia, apresentam características que lhes permitem apoiar a pesca de várias espécies.

No rio Madeira, uma das principais áreas de pesca do estado, com cerca de 30 comunidades pesqueiras, as embarcações de médio porte (1,5 a 4 ton) e grande porte (acima de 4 ton) foram reduzidas de 70 embarcações na década de 80, para o total de 15 embarcações de médio porte, em função da legislação pesqueira governamental, que limitou a pesca em várias áreas da bacia aquática de Rondônia.

As embarcações de pequeno porte, estruturada na forma de canoas de madeira de 4 a 6 metros com motores de rabeta de 3 a 5,5 HP aumentaram nas comunidades pesqueiras do rio Madeira. Tais embarcações tem capacidade de carga que variam de 400 à 700 kg e totalizam só na região da bacia do Madeira um número superior a 200 embarcações.

Na região do rio Guaporé as embarcações predominantes tem capacidade de carga variando de 1 a 3 toneladas e estão concentradas nas 4 colônias de pescadores desta bacia. Além das embarcações convencionais, o rio Guaporé, com uma extensão superior a 1300 km no Estado de Rondônia, apresenta embarcações específicas conhecidas como “chatas” caracterizadas por apresentarem a sua popa (parte frontal) construída de forma retangular que segundo os pescadores tornam-se mais adequadas para a navegação nas águas da bacia Guaporé-mamoré. As

(36)

maiorias destas embarcações estão concentradas na colônia de pescadores Z-4 de Costa Marques, e adaptadas principalmente para a captura das espécies curimatã, tucunaré, bagres em geral e tambaqui.

Na região do rio Machado compreendida pelas colônias de Ji-Paraná, Machadinho do Oeste e Presidente Médici a frota pesqueira é limitada a pequenas embarcações do tipo canoa ou casqueta de madeira que variam de 3 a 6 metros com capacidade de aproximadamente 400 kg e motores rabeta de 3,5 HP. Essas embarcações são utilizadas para captura de pouca duração, em média de 1 a 2 dias, sendo que o pescado é acondicionado em caixas de isopores, e a produção não ultrapassa normalmente a média de 150 kg por viagem.Na região do rio Jamary compreendidas pelas colônia de Ariquemes, Itapuã do Oeste e Candeias do Jamari as embarcações possuem perfil semelhantes as rio Machado, porém com a captura de espécies especificas à região: tucunaré, piau, pacu, pequenos bagres e piranha.

3.3 Caracterização da Mão-de-obra da Pesca Artesanal

A mão-de-obra atuante no setor de pesca artesanal é composta na sua totalidade por trabalhadores não qualificados e com índice de escolaridade baixo. Esse perfil é inerente a maioria das populações tradicionais que atuam no setor extrativista tanto vegetal como animal, perfil este onde está inserida a pesca artesanal.

Essa situação justifica-se pelo fato de que a maior proporção de pescadores está situado numa faixa etária em que na infância e adolescência o acesso à escola era ainda mais difícil que nos dias atuais. Outro aspecto que merece destaque é a falta de tempo associada à incompatibilidade entre o horário de trabalho e estudo que inibe o pescador de freqüentar os cursos regulares das escolas locais.

Com exceção dos comandantes das embarcações de médio porte, onde alguns possuem alguma habilitação credenciada pela capitania dos portos, quase toda a tripulação está composta por pessoas semi-alfabetizadas ou analfabetas.

O setor de revenda - comercialização - de pescado, muito representativo no Estado, emprega um grande contingente de pessoas que depende desta atividade informal para a sobrevivência de suas famílias. O número de revendedores ambulantes que trabalham com o pescado é significativo em todos os municípios,

(37)

principalmente em Porto Velho, onde segundo informações da Colônia de Pescadores Z-1 Tenente Santana, ultrapassa a 300.

A presença do intermediário, também denominado atravessador, na atividade da pesca artesanal é inerente ao setor, pois o pescador que captura sua produção geralmente não tem condições de revendê-la, e acaba repassando para o mesmo.

No período da safra que geralmente ocorre nos meses de junho a dezembro, além do segmento já tradicional, é observada a inserção de um grande contingente de desempregados e trabalhadores informais que necessitando obter seu sustendo invadem o setor pesqueiro, prejudicando os pescadores e revendedores tradicionais. Segundo dados da SEAP/PR, entre pescadores, carregadores, revendedores de insumos (gelo, óleo diesel, lubrificantes, alimentação, redes, etc.), serviços autônomos (mecânico, eletricista, confecção de rede, carpintaria, etc.) estima-se que no estado existam cerca 35 mil pessoas envolvidas direta e indiretamente no setor de pesca extrativista.

Tabela 12 - Pescadores cadastrados em todas as colônias do Estado de Rondônia, 2009.

(Em %)

Município Colônia de

Pescadores cadastradosPescadores %

Porto Velho Z-1 3.503 58,33 Guajará-Mirim Z-2 408 6,79 Pimenteiras do Oeste Z-3 145 2,41 Costa Marques Z-4 307 5,12 Machadinho d’Oeste Z-5 284 4,73 Candeias do Jamari Z-6 280 4,66 Itapuã do Oeste Z-7 132 2,20 Ariquemes Z-8 437 7,29 Ji-Paraná Z-9 235 3,91

São Francisco do Guaporé Z-10 129 2,15

Presidente Médici Z-11 145 2,41

Total 11 6.005 100

Fonte: SEAP/PR (2009).

3.4 - Espécies Capturadas

Segundo dados do IBAMA (2005/2006) a produção anual se concentra em torno de 3500 ton/ano, sendo que o maior percentual das espécies capturadas são representadas pelos caracoídes, destacando-se as espécies curimatã, pacu, jaraqui, branquinha, jatuarana, piau, sardinha, pirapitinga e tambaqui que representam um total de 70% da captura comercial. Os bagres totalizam 20% da produção, tendo na

(38)

espécie dourada, a sua maior expoente, seguida pelo filhote, surubim, pirarara, jaú, piramutaba e outros bagres menores.

Tabela 13 - Pesca extrativa, segundo as principais espécies de água doce, Rondônia. (Em toneladas)

PRINCIPAIS

ESPÉCIES TOTAL (t) INDUSTRIAL (t) ARTESANAL (t)

Acara-açu 29,0 0,00 29,0 Acari-bodó 4,5 0,00 4,5 Apapá 11,0 0,00 11,0 Aruanã 5,0 0,00 5,0 Bagre (mandi) 49,0 0,00 49,0 Barbado 12,5 0,00 12,5 Branquinha 88,0 0,00 88,0 Cachorra 1,0 0,00 1,0 Cubiu 0,5 0,00 0,5 Cuiu-cuiu 3,5 0,00 3,5 Curimatã 1.054,0 0,00 1.054,0 Dourada 236,0 0,00 236,0 Filhote 112,0 0,00 112,0 Jaraqui 471,0 0,00 471,0 Jatuarana 223,0 0,00 223,0 Jaú 19,0 0,00 19,0 Jundiá 4,0 0,00 4,0 Mapará 15,5 0,00 15,5 Matrinxã 5,5 0,00 5,5 Pacu 801,0 0,00 801,0 Pescada 29,5 0,00 29,5 Piau 57,0 0,00 57,0 Pintado 76,0 0,00 76,0 Piramutaba 28,0 0,00 28,0 Piranha 1,5 0,00 1,5 Pirapitinga 17,0 0,00 17,0 Pirarara 75,5 0,00 75,5 Pirarucu 32,0 0,00 32,0 Sardinha 143,5 0,00 143,5 Surubim 39,5 0,00 39,5 Tambaqui 45,5 0,00 45,5 Tamoatá 9,0 0,00 9,0 Traíra 3,0 0,00 3,0 Tucunaré 49,5 0,00 49,5 Outros 102,0 0,00 102,0 TOTAL 3.853,5 0,00 3.853,5

Fonte: Anuário estatístico da pesca - IBAMA, 2004.

A falta de um estudo científico amplo e o frágil sistema de estatística governamental e das colônias de pescadores não permite afirmar que os estoques pesqueiros estão sendo reduzidos de uma maneira global. Porém, concretamente, algumas espécies indicam uma redução ou dificuldade no processo de captura, especificamente as espécies consideradas nobres como: tambaqui, surubim, pirapitinga, jatuarana e pescada.

Referências

Documentos relacionados

Dessa forma, a partir da perspectiva teórica do sociólogo francês Pierre Bourdieu, o presente trabalho busca compreender como a lógica produtivista introduzida no campo

da quem praticasse tais assaltos às igrejas e mosteiros ou outros bens da Igreja, 29 medida que foi igualmente ineficaz, como decorre das deliberações tomadas por D. João I, quan-

Objetivou-se com este estudo avaliar a qualidade de leite pasteurizado com inspeção estadual pela pesquisa de estafilococos coagulase positiva, sua

As instruções sobre a atividade foram dadas por meio de apresentação em formato Microsoft PowerPoint e incluíam desde a orientação para baixar o CmapTools, a leitura de

6 Num regime monárquico e de desigualdade social, sem partidos políticos, uma carta outor- gada pelo rei nada tinha realmente com o povo, considerado como o conjunto de

Foram analisados a relação peso-comprimento e o fator de condição de Brycon opalinus, em três rios do Parque Estadual da Serra do Mar-Núcleo Santa Virgínia, Estado de São

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não

você estiver grávida ou pretende engravidar, informe seu médico que lhe ajudará a avaliar os benefícios do medicamento e os possíveis riscos. Uma vez que muitos