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PROCESSO CIVIL TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL

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Academic year: 2021

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2021

Revista, atualizada e ampliada

edição

Paula Sarno Braga

Coordenação Leonardo Garcia

sinopses

PARA

CONCURSOS

18

PROCESSO CIVIL

TEORIA GERAL DO

PROCESSO CIVIL

(2)

III

Normas fundamentais

do processo civil

1. NOÇÕES INICIAIS

As normas fundamentais do processo civil são os princípios e regras estruturantes e determinantes do modelo de processo civil brasileiro, que permitem a compreensão das demais normas pro-cessuais. Juntas, compõem o chamado “direito processual funda-mental” (DIDIER, 2015, v. 1, p. 61; cf. enunciado 370, do FPPC, “Norma processual fundamental pode ser regra ou princípio”.).

` Atenção!

A norma processual pode estar localizada no capítulo dedicado às normas fundamentais no CPC/2015, e estar, pois, catalogada como tal (quando será formalmente fundamental), bem como pode ser estru-turante do modelo do processo civil brasileiro (quando será material-mente fundamental).

Algumas normas processuais são materialmente fundamen tais, mas es-tão localizadas fora do capítulo específico das normas fundamentais do Código, estando dispersas ao longo do texto do Código, seja na Parte Geral e Especial, como também fora do Código, no plano constitucional. Os doze artigos iniciais do CPC/2015 não esgotam as normas funda-mentais do processo civil brasileiro, pois elas se desdobram em três diferentes núcleos:

i. direitos fundamentais processuais, i.e., aquelas previstas na Cons-tituição Federal, não sendo exclusivamente aquelas constantes no seu art. 5°;

ii. normas fundamentais for mais/materiais, i.e., aquelas localizadas nos arts. 1° ao 12, do CPC/2015;

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iii. normas fundamentais materiais, i.e., aquelas situadas no restante da Parte Geral e na Parte Especial do CPC/2015 (a ex. do constante nos arts. 190, 489, §1º, 926, 927 e 928), além das normas fundamen-tais processuais setoriais (regras, princípios e postulados respon-sáveis por disciplinar um determinado setor do Direito Processual Civil, tais como o direito probatório, direito recursal, execução civil, etc.) (DIDIER, 2019, p. 86 e 87; PEREIRA, 2018, p. 106-111).

Algumas têm sede constitucional. Outras têm sede infraconstitu-cional – ainda que estejam implícitas na Constituição –, estando con-centradas no Capítulo I do Livro I do CPC-2015 (arts. 1.º a 12), em pese existam outras ao longo do Código (como nos arts. 190, 926 e 927).

O objeto desse capítulo é o estudo desses princípios e regras fundamentais, em especial aqueles que abrangem, sistematicamen-te, os principais e mais basilares direitos fundamentais a serem observados no processo jurisdicional brasileiro.

2. DEVIDO PROCESSO LEGAL

O primeiro e mais fundamental princípio processual é o devido processo legal (cf. sobre o tema BRAGA, 2008, p. 155 ss.).

Trata-se de conquista histórica da humanidade, originariamen-te prevista, para a maioria dos estudiosos, na Magna Carta de 1215, selada pelo rei inglês João Sem-Terra, em ato de comprome-timento com o respeito aos direitos e liberdades da comunidade politicamente articulada.

Inicialmente reconhecida na expressão law of the land, só subs-tituída pelo vocábulo due process of law (devido processo legal) em lei inglesa de 1254 – por obra de um legislador desconhecido –, foi gradativamente incorporada nos mais diversos ordenamentos jurí-dicos em todo mundo, tardando a ser adotada no Brasil.

E foi só a CF/1988 que trouxe a primeira previsão explícita do devido processo legal em nosso ordenamento, estabelecendo, no art. 5.º, LIV, CF, que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Assim, o princípio do due

process of law resta positivado como limite ao poder estatal de

produzir leis e decisões judiciais e administrativas, que deve ser exercido por um processo devido (legislativo, jurisdicional ou ad-ministrativo) (BRAGA, 2008, p. 180, citando outros).

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Mas o princípio do devido processo legal deve ser analisado em duas diferentes dimensões: a processual (ou procedimental) e a substancial (ou material) (assim e citando outros, BRAGA, 2008, p. 182 ss.).

O devido processo legal processual/procedimental

(procedu-ral due process) confina os poderes estatais no que tange à forma

como produz seus atos normativos/decisórios (leis e decisões ad-ministrativas ou jurisdicionais), exigindo-se que se siga um percur-so pautado nas formalidades legais, respeitando-se as garantias mínimas de um Estado Democrático de Direito. Vem sendo associa-do à noção de um processo que conte com ampla participação das partes e tutela justa e efetiva dos seus direitos.

O devido processo legal substancial (substantivo ou material)

restringe o exercício de tais poderes no que se refere à substância (matéria ou conteúdo) de seus atos normativos/decisórios (leis e decisões administrativas ou jurisdicionais), reclamando resultados essencialmente corretos, justos e razoáveis.

O devido processo legal, em sua origem (Inglaterra Medieval e Cartas Coloniais), só era concebido em uma dimensão estritamente processual – inicialmente para o processo criminal, estendendo-se, após, ao cível. Mas não ficou restrito aos processos jurisdicionais. Com o tempo, abrangeu, outrossim, os processos administrativos e legislativos – como já se percebe, aqui, por exemplo, a partir do enunciado n.º 312 da súmula do STJ, do Resp n.º. 6601, 1.ª T., Min. Rel. Pedro Acioli, j. 18.9.1991 e Resp n.º. 536463, 1.ª T., Min. Rel. Luiz Fux, j. 25.11.2003.

Sobrevieram, séculos mais tarde, as menções iniciais ao

substan-cial due process, no seio da doutrina e jurisprudência

norte-america-nas. Teve como marco inicial a decisão da Suprema Corte norte-ame-ricana no caso Calder x Bull, em 1798, com o voto do Juiz Chase, que fala em controle jurisdicional do conteúdo de atos normativos (que ferirem os direitos fundamentais), com base no due process. Mas a faceta material do due process começou a se desenvolver, de fato, entre o fim do século XIX – quando se sobressai o case Allgeyer v.

Lou-isiana – e o início do século XX.

No Brasil, encontra-se doutrina e, também, desde a década de 1970, decisões do STF, com menção à razoabilidade, invocando-se como fundamento seu a cláusula do due process do ordenamento

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norte-americano (STF, Rp n.º 930-DF, Pleno, Rel. Min. Cordeiro Guerra, j. 05.05.1976, publicado no DPJ de 02.09.1977; e nas ADIns n.º 958-3-RJ, n.º 966-4-DF).

Perceba-se que, a princípio, o devido processo legal substancial foi concebido primordialmente para o controle da justiça e razoabili-dade de atos legislativos (leis). Modernamente vem balizar qualquer ato estatal (legislativo, administrativo e jurisdicional), de forma a impedir que viole abusivamente direitos fundamentais do homem.

O art. 8.º, CPC-2015, inova ao impor, explicitamente, o dever judicial de observar a proporcionalidade e a razoabilidade no ato de aplicação do ordenamento jurídico.

` Atenção!

A doutrina encontra outros fundamentos constitucionais para o reco-nhecimento da razoabilidade e proporcionalidade em nosso ordena-mento, tais como:

a) Estado de Direito – como defendem Willis Santiago Guerra Filho e

Gustavo Ferreira Santos;

b) Isonomia – na linha de Paulo Bonavides, Humberto Ávila e Willis

Santiago Guerra Filho (cf. apanhado de BRAGA, 2008, p. 188 e 189);

c) Liberdade – como defende Humberto Ávila, denunciando inclusive,

ser construção teórica nacional extraí-lo do devido processo legal substantivo – que sequer é reconhecido pelo autor nessa dimensão material, afinal no Brasil (sob a égide de constituições anteriores) e em outros países (como na Lei Fundamental Alemã), mesmo sem previsão expressa do devido processo legal, são reconhecidas as exigências de razoabilidade (ÁVILA, 2008, p. 56 e 57; cf. críticas de DIDIER, 2011, p. 52).

` Como esse assunto foi cobrado em concurso?

No XIII Concurso para provimento do Cargo de Promotor Público do MPE/MS, de 2006, percebe-se que foi admitido o emprego da pro-porcionalidade e razoabilidade para afastar obstáculos irrazoáveis à efetivação de outros direitos fundamentais processuais – ainda que no âmbito penal –, exigindo-se justiça e ponderação no conteúdo das decisões judiciais que deliberem sobre tal matéria (choque de direi-tos fundamentais processuais). Por isso, considerou-se incorreta a se-guinte assertiva: “Os princípios da publicidade, ampla defesa e devido processo legal, por traduzirem garantia constitucional ao processado,

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no âmbito do processo penal brasileiro, não admitem interpretação limitativa ou valorada pela proporcionalidade”.

Já no concurso público para provimento do Cargo de Juiz do Trabalho Substituto (TRT8), de 2012, foi considerada correta proposição que re-conhece a faceta material do devido processo legal – em que pese tra-tando-a como postulado, na linha de expressiva doutrina brasileira –, com o seguinte texto: “Origina-se da expressão inglesa due process of law um dos postulados fundamentais do processo, que, em sentido material, revela-se em uma decisão substancialmente razoável e cor-reta, o chamado princípio do devido processo legal substantivo e, em sentido formal, constitui-se, basicamente, no direito a ser processado e a processar de acordo com as normas previamente estabelecidas”. No concurso público para provimento no cargo de Juiz Substituto, do TJ-AM, de 2016, considerou-se incorreta a seguinte assertiva: “A garan-tia do devido processo legal se limita à observância das formalidades previstas no CPC”.

É firme na doutrina e na jurisprudência brasileiras o reconhe-cimento do devido processo legal como garantia de contenção do poder estatal (jurisdicional, legislativo e administrativo), no contex-to das relações jurídicas públicas.

Tem sido cada vez mais comum, contudo, a menção ao devido processo legal como direito fundamental oponível aos particulares, que contém/limita o exercício do poder privado (autonomia priva-da), estendendo-se a garantia para as relações particulares. É o que se diz ao exigir-se contraditório e ampla defesa para a associação expulsar o associado (cf. art. 57, CC/2002), ou para o condomínio punir o condômino, por exemplo (cf. Enunciado n.º 92, Conselho de Justiça Federal) (cf., por todos, BRAGA, 2008, p. 203 e 213).

Nesse sentido, ao lado dessa incipiente preocupação doutriná-ria, tem-se significativo número de julgados em tribunais locais, já acompanhados por precedentes do STJ e STF – como, por exemplo, o STJ no REsp n.º 50543, 3.ª T., rel. Min. Nilson Naves, j. 21.05.1996, e o STJ no AgRg no AgI n.º 34650.1, 1,ª T., rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 16.12.2004.

Mas paradigmático é o acórdão dado pela Corte Suprema no julgamento do RE n.º 201.819, 2.ª T., rel. Min. Ellen Gracie, j. 11.10.2005.

Atendo-se à aplicação do devido processo legal na esfera ju-risdicional, percebe-se ser corriqueiramente identificado como o

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princípio-base (supraprincípio ou postulado fundamental) do di-reito processual, de conteúdo complexo, por sedimentar em seu conceito (indeterminado), de forma harmônica, os mais variados princípios constitucionais – como o acesso à justiça, contraditório, ampla defesa, juiz natural, razoabilidade/proporcionalidade, igual-dade, publicidade etc.

` Como esse assunto foi cobrado em concurso?

No XIII Concurso para provimento do Cargo de Procurador Municipal de São Paulo – SO, de 2002, VUNESP, entendeu-se correta a assertiva de que “a garantia do jus actionis é manifestação do devido processo legal”, ratificando-se o conteúdo complexo do princípio.

No concurso público para o provimento no cargo de Titular de Serviços de Notas e de Registros, do TJ-MA de 2011, esperou-se que o candidato assinalasse como alternativa correta, a seguinte: “O devido processo legal, como princípio constitucional, significa o conjunto de garantias de ordem constitucional, que de um lado asseguram às partes o exercício de suas faculdades e poderes de natureza processual e, de outro, legitimam a própria função jurisdicional”.

Já no concurso público para o provimento no cargo de Defensor Público de DPE-AM, de 2011, considerou-se incorreta a afirmativa de que “o princípio do devido processo legal significa, em processo judicial, a garantia ao contraditório e à ampla defesa, bem como às regras pre-viamente estabelecidas sobre o modo de solução judicial do conflito”.

Em que pese parecer suficiente a previsão e concretização do devido processo legal para que se tenha acesso a uma ordem ju-rídica justa, optou-se pela consagração constitucional (e infracons-titucional) explícita ou implícita (cf. art. 5.º, § 2.º, CF) dos direitos fundamentais dali decorrentes.

São explicitamente previstos na Constituição e no CPC, por exemplo, o contraditório, a ampla defesa (art. 5.º, LV, CF, e arts. 7.º, 9.º e 10, CPC), a duração razoável do processo (art. 5.º, LXXVIII, CF, e arts. 4.º e 6.º, CPC), a publicidade (art. 5.º, LX, CF, arts. 8.º e 11, CPC) etc.

São implicitamente extraídos da CF, com base no art. 5.º, § 2.º, pela doutrina – em que pese alguns estejam expressamente previs-tos no CPC (arts. 3.º, 4.º e 6.º, CPC) –, a efetividade, a adequação e a boa-fé, por exemplo, como decorrência do regime e dos princípios constitucionalmente adotados (direitos implícitos internos), ou dos

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tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte (direitos fundamentais implícitos externos) – cujo status supralegal ou constitucional, a depender da visão adotada, fora comentado no capítulo dedicado à norma processual.

Segue-se com sua abordagem.

` Atenção!

A dignidade da pessoa humana é sobreprincípio que sedimenta, em seu conteúdo, todos os outros princípios e regras fundamentais, implí-citos ou explíimplí-citos no ordenamento brasileiro.

Constata-se a preocupação, em doutrina, de abordar a dignidade da pessoa humana (fundamento da república, cf. art. 1.º, III, CF) como norma fundamental no processo civil. A postura torna-se ainda mais indispensável diante do fato de o art. 8.º, CPC-2015, dispor que o juiz, enquanto agente estatal, ao aplicar o ordenamento jurídico, resguar-dará e promoverá a dignidade da pessoa humana, atendendo aos fins sociais e às exigências do bem comum.

Resguardar a dignidade da pessoa humana implica não violá-la (ex.: res-peitando a impenhorabilidade de determinados bens, cf. art. 833, CPC). Promover a dignidade da pessoa humana pressupõe a adoção, inclusi-ve de ofício, das providências necessárias para realizar esse direito a um tratamento digno (ex.: garantir trâmite prioritário ao processo de portadores de outras doenças graves não elencadas no art. 1.048, I, CPC). Quando for o caso, o juiz pode se valer, para tanto, de medidas atípicas de execução, cf. arts. 139, IV, e 536, § 1.º, CPC. Entretanto, o juiz deve observar que o seu poder de promoção da dignidade encontra limites na liberdade processual das partes, que, no exercício de sua autonomia (art. 190, CPC), podem afastar a possibilidade de medidas judiciais nesse sentido. São casos em que a realização do ideal de tra-tamento digno poderá comprometer irrazoavelmente a autonomia da vontade das partes e sua liberdade processual, que também é norma fundamental do processo civil (art. 190, CPC). Essa liberdade é, inclusi-ve, uma das mais importantes facetas da própria dignidade.

A questão é que não há diferença digna de nota entre a dignidade da pessoa humana e o devido processo legal no processo civil. O devido processo legal é exigência de um processo digno para seus sujeitos, em que se assegure o contraditório, a ampla defesa, a boa-fé, um juiz im-parcial e competente, decisões motivadas etc. Por isso, diz-se que a dig-nidade da pessoa humana é o devido processo legal no processo civil. Entretanto, a dignidade da pessoa humana é mais recente, mais im-precisa, e tem um viés humanístico que pode contribuir para uma re-definição do devido processo legal: i) seja determinando a criação de

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novos enunciados normativos (ex.: direito do portador de deficiência auditiva de comunicar-se em audiência pela Língua Brasileira de Sinais, ou equivalente, cf. art. 162, III, CPC); ii) seja na releitura de enunciados normativos existentes (ex.: interpretação extensiva da regra da impe-nhorabilidade para abranger prótese ou cão-guia de um cego) (DIDIER, 2015, p. 75-77).

` Como esse assunto foi cobrado em concurso?

No Concurso para provimento do Cargo de Juiz Militar Substituto do TJM-SP, de 2016, VUNESP, entendeu-se incorreta a assertiva de que: “Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e eco-nômicos e às exigências do bem público, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana”, tendo em vista que o art. 8.º do CPC, só fala em atendimento de fins sociais (e, não, econômicos) e das exi-gências de bem comum (e, não, público). Essa mesma assertiva constou como incorreta no Concurso para provimento do Cargo de Procurador Municipal da Pref. de Porto Alegre-RS, de 2016, FUNDATEC.

3. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

O princípio do contraditório, também chamado de princípio da audiência bilateral, está explicitamente consagrado no art. 5.º, LV, CF, ao dispor que “aos litigantes, em processo judicial ou adminis-trativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Revela-se como direito fundamental à participação das partes do processo de produção e cumprimento da decisão judicial, como a mais pura manifestação da democracia no exercício do poder jurisdicional, que lhe confere legitimidade. É tão intimamente rela-cionado ao exercício do poder que a doutrina moderna considera inerente à própria noção de processo (CINTRA; DINAMARCO; GRINO-VER, 2009, p. 61).

E se costuma dizer que caminha lado a lado com a isonomia das partes e o direito de ação (e a correlata exceção/defesa), por traduzir-se na prerrogativa dos litigantes de serem ouvidos pari-tariamente no processo, em igualdade de condições, deduzindo pretensões e defesas, bem como produzindo provas. Não é à toa que o art. 7.º, CPC (a ser lido com o art. 139, I, CPC), assegura às

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partes “paridade de tratamento em relação ao exercício de direi-tos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz

zelar pelo efetivo contraditório”. As partes têm o direito de exercer

o contraditório isonomicamente. E, para garantir isso, admite-se que o juiz intervenha no processo, alterando e adequando sua rota – conforme se verá no estudo do princípio da adequação –, desde que preservada a imparcialidade judicial e a esfera de autonomia da vontade das partes (art. 190, CPC).

O juiz pode cumprir esse seu dever de zelar pelo contraditório equânime promovendo uma adequação típica (ex.: dilatar prazo de defesa do réu, diante da complexidade da demanda do autor, cf. art. 139, VI, CPC) ou uma adequação atípica do processo (ex.: nomear curador especial em audiência de instrução para aquele desacompanhado de advogado) (DIDIER, 2015, p. 85).

Hodiernamente, o princípio do contraditório também tem sido estudado em duas diferentes dimensões: formal e material.

O contraditório formal assegura o direito de participação do processo, através do clássico binômio: obrigatoriedade de infor-mação dos atos e termos processuais e possibilidade de reação/ manifestação. Para o pensamento mais tradicional é o que basta para que o princípio se efetive.

O contraditório material, reconhecido por alguns como a ve-dação à decisão-surpresa, é o que a doutrina alemã chama de

“poder de influência” – e que vem sendo acolhido em legislações processuais estrangeiras como a alemã, portuguesa e francesa. Não basta que a parte, obrigatoriamente informada, tenha assegu-rada a simples possibilidade de reagir (manifestar-se). É necessá-rio que essa reação/manifestação se dê em tempo e em condições de influenciar no convencimento do magistrado e no teor da sua decisão. (OLIVEIRA, 1999, p. 143 e 144; MARINONI, 1999, p. 258 e 259; DIDIER, 2011, 56).

Fala-se em um “poder-dever” judicial – ou simplesmente po-der, como preferem alguns – de ouvir as partes sobre todos os pontos do processo, sobretudo aqueles que serão resolvidos por ele, de ofício ou a requerimento. Veda-se, portanto, a decisão sur-presa, que é nula, por ofensa ao contraditório.

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Partindo dessa premissa, em que pesem as divergências, há quem defenda:

a) que o juiz pode impor sanções de ofício (ex.: arts. 77, § 2.º, 79 e 81, CPC), desde que, antes, ouça as partes, quando ainda pos-sível interferir na sua convicção em torno do ocorrido, adver-tindo-as da possibilidade de punição, como sugerem os arts. 77, § 1.º, e 772, II, CPC. Assim, a doutrina de RUI STOCO (2002, p. 101), FREDIE DIDIER JR (2011, p. 57) e o STJ no REsp n.º 250781-SP, 1.ª T., rel. Min. JOSÉ DELGADO, j. 23.05.2000, DJ. 19.06.2000, sendo os demais omissos ou contrários (como SPADONI, 2002, p. 191; e OLIVEIRA, 2000, p. 78);

b) que o juiz pode examinar questão de fato ou de direito de ofício, (a teor dos arts. 493 e 933, CPC, e dos brocardos iura novit curia, “do direito cuida a corte”, e da mihi factum dabo tibi ius, “dá-me os fatos, que eu te darei o direito), desde que, antes, ouça as partes, quando ainda possível interferir na sua convicção em torno do ocorrido. É o que resta consagrado com a regra geral extraída do art. 10, CPC, que veda a decisão sur-presa: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício” – embora haja precedente excluindo o fundamento legal novo (aplicação de lei não discutida pelas partes), da incidência dessa regra, (cf. STJ, 4.ª T., REsp n. 1280825, rel. Min. Isabel Gallotti, j. em 27.6.2017, publicado no DJe de 1.º.8.2017). Há, também, regras especiais com essa exigência decorrentes dos arts. 493, pará-grafo único, e 933 CPC, e do art. 40, § 4.º, da Lei n.º 6.830/1980, que impõe esse limite para o reconhecimento de prescrição de ofício contra a Fazenda Pública;

c) que o juiz pode examinar parecer do Ministério Público ( cus-tos legis) ou de jurista, memoriais da parte ou de amicus curiae, que suscitem questão nova, desde que, antes, ouça as partes, quando ainda possível interferir na sua convicção em torno do ocorrido – o que é interessante destacar porque o MP normalmente fala depois das partes (arts. 10 e 179, CPC) (NERY, 2010, p. 230).

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` Atenção!

O STJ já se manifestou algumas vezes sobre quais condutas judiciais implicariam ou não violação à vedação à decisão surpresa, seja sob a égide do CPC/1973, seja sob a égide do CPC/2015. Confira-se o teor desses precedentes:

i. A 3.ª T., ao julgar o REsp n. 1.725.225, por exemplo, reconhecendo que o princípio da não surpresa também é extraído do CPC/1973, definiu-se que há violação a esse princípio quando se decide con-trovérsia acerca da complementação do preparo com base em cri-tério não informado anteriormente para a parte prejudicada pela decisão (STJ, 3.ª T., REsp n. 1725225/SP, r. Min. Paulo de Tarso Sanse-verino, julgado em 13.03.2018, publicado no DJe de 26.03.2018). ii. Já no julgamento do AgInt no REsp n. 1854579/DF, a 3.ª T. firmou

entendimento no sentido de que o julgamento com base em fatos notórios não viola o princípio da não surpresa (rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. em 14.09.2020, publicado no DJe de 21.09.2020). iii. A mesma 3.ª T., na análise do REsp n. 1.178.562, embora sem

afirma-ção expressa nesse sentido, considerou violaafirma-ção à vedaafirma-ção à decisão surpresa, a inadmissão de apelação por não ter sido instruída com os documentos pertinentes, mesmo diante de desapensamento dos autos originários dos embargos à execução, no bojo do qual o ape-lo foi interposto. Considerando que os embargos à execução foram opostos antes da entrada em vigor da Lei n. 11.382/06 que não previa a instrução da peça de defesa com as peças processuais relevantes para o deslinde do feito e que o desapensamento dos autos só foi determinado após a interposição da apelação, entendeu-se que, em observância ao acesso à justiça, deveria ter sido dada oportunidade às partes para juntarem os documentos pertinentes antes de se con-cluir pelo não conhecimento da apelação (STJ, 3.ª T., REsp n. 1178562/ RS, r. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10.09.2013, DJe de 23.09.2013). iv. Demais disso, no bojo do REsp n. 1.755.266, a 4.ª T. fixou o

enten-dimento de que o Tribunal que decide por fundamento diverso daquele adotado pela sentença, apesar de mantê-la, incorre em julgamento surpresa, apto a vulnerar o princípio do contraditório (STJ, 4.ª T., REsp n° 1755266/SC, r. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18.10.2018, publicado no DJe de 20.11.2018).

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