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Capítulo 1. A Família dos Mumins.indd 13 01/10/15 14:17

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Capítulo 1

No qual o Mumintroll, o Farisco e o Sniff encontram o Chapéu do Papão; como aparecem inesperadamente cinco pe quenas nuvens e como o

Hemulo arranja um novo passatempo.

Numa manhã de primavera às quatro horas, o pri‑ meiro cuco chegou ao Vale dos Mumins. Empoleirou‑ ‑se no telhado azul da casa dos Mumins e cantou oito vezes — um bocado roucamente, pois a primavera mal tinha chegado.

Depois voou para leste.

O Mumintroll acordou e ficou deitado na cama a olhar para o teto antes de perceber onde é que estava.

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Tinha dormido cem noites e cem dias e ainda tinha a cabeça cheia de sonhos que o tentavam voltar a ador‑ mecer.

Mas quando se virava na cama à procura de uma posição confortável para dormir, algo despertou a sua atenção, acordando ‑o de imediato — a cama do Farisco estava vazia!

O Mumintroll sentou ‑se na cama.

Sim, o chapéu do Farisco também não estava lá. — Mas é incrível — exclamou, dirigindo ‑se para a janela na ponta dos pés. Ah ‑ha, o Farisco tinha usado a escada de corda. O Mu mintroll trepou para o parapei‑ to da janela e as suas curtas pernas começaram a descer com muito cuidado. Via perfeitamente as pegadas do Farisco na terra molhada, saltitando daqui para ali e muito difíceis de seguir, até que, de repente, davam um grande salto e voltavam para trás.

— Devia estar muito contente — decidiu Mumintroll. — Deu aqui um salto mortal… nota ‑se perfeitamente.

Subitamente, o Mumintroll levantou o nariz e pôs ‑se à escuta. Muito longe, ouvia ‑se o Farisco a tocar a sua canção mais alegre: «Todas as Pequenas Criaturas De‑ viam Usar Laços nas Caudas.» E o Mumintroll começou a correr na direção da música.

Junto do rio, avistou o Farisco que estava sentado no parapeito da ponte com as pernas a balouçar por cima da água e com o chapéu enterrado até às orelhas.

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— Olá — disse o Mumintroll, sentando ‑se ao lado dele. — Olá para ti — disse o Farisco, e continuou a tocar. Agora o Sol já ia alto e brilhava em cheio nos olhos deles, obrigando ‑os a pestanejar. Ficaram sentados com as pernas a balouçar sobre a água, sentindo ‑se felizes e despreocupados.

Tinham vivido muitas aventuras estranhas neste rio, levando para casa muitos novos amigos. A mãe e o pai do Mumintroll recebiam sempre bem estes amigos, limitando ‑se a fazer mais uma cama e a pôr mais uma folha na mesa da sala de jantar. E assim a casa dos Mu‑ mins estava sempre cheia — era um lugar onde cada um fazia aquilo de que gostava e raramente se preocupava com o dia de amanhã. Costumavam acontecer coisas inesperadas e perturbadoras, mas ninguém tinha tempo para se aborrecer, o que era uma coisa boa.

Quando o Farisco chegou ao último verso da sua can‑ ção sobre a primavera, guardou a harmónica no bolso e disse:

— O Sniff já acordou?

— Acho que não — respondeu o Mumintroll. — Ele dorme sempre mais uma semana do que os outros.

— Então temos de o acordar — disse o Farisco, sal‑ tando do parapeito da ponte. — Hoje temos de fazer uma coisa especial, pois vai estar um dia lindo.

Assim o Mumintroll fez o sinal secreto debaixo da ja‑ nela do Sniff: primeiro três assobios normais e depois um

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mais comprido com a ajuda das patas, e isto significava: «Vai acontecer uma coisa boa.» Ouviram o Sniff parar de ressonar, mas tudo continuou sossegado lá em cima.

— Outra vez — disse o Farisco. E fizeram o sinal ainda mais alto do que da primeira vez.

Então ouviram a janela bater.

— Estou a dormir! — berrou uma voz irritada. — Anda cá para baixo e não fiques zangado — disse o Farisco. — Vamos fazer uma coisa muito especial.

O Sniff endireitou as orelhas encarquilhadas pelo so‑ no e desceu pela escada de corda. (Devo talvez referir que eles tinham escadas de corda em todas as janelas, porque era muito mais demorado descer pelas escadas normais.)

Não havia dúvida de que prometia ser um belo dia. Por todo o lado, pequenas criaturas estonteadas, acaba‑ das de acordar do seu longo sono de inverno, estavam muito atarefadas redescobrindo velhas tocas, arejando roupas, penteando os bigodes e preparando as casas para a primavera.

Muitas construíam casas novas, e parece ‑me bem que algumas estavam a discutir. (Depois de um sono tão longo, podemos acordar de mau humor.)

Os Espíritos que encantam as árvores estavam senta‑ dos a pentear os seus longos cabelos e, do lado norte dos troncos das árvores, ratinhos bebés escavavam túneis por entre os flocos de neve.

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— Feliz primavera! — disse um Verme da Terra já velho. — Como foi o vosso inverno?

— Foi muito bom, obrigado — respondeu o Mu‑ mintroll. — O senhor dormiu bem?

— Lindamente — disse o Verme. — Dá cumprimen‑ tos meus ao teu pai e à tua mãe.

Continuaram a andar, conversando com muita gente pelo caminho, mas, quanto mais subiam o monte, me‑ nos pessoas encontravam, e por fim apenas viram uma ou duas mães ratinhas a cheirar os cantos e a fazer as limpezas da primavera.

Estava tudo molhado.

— Bah… que porcaria — disse o Mumintroll avan‑ çando cuidadosamente através da neve que se derretia. — Tanta neve não é nada bom para um Mumin. Foi o que a minha mãe disse. E espirrou.

— Escuta, Mumintroll — disse o Farisco. — Tenho uma ideia. Que me dizes a ir até ao cimo da montanha e fazer um monte de pedras, para mostrar que fomos os primeiros a lá chegar?

— Sim, boa! — disse o Sniff, e largou a correr para chegar lá antes dos outros.

Quando alcançaram o topo da montanha, o vento de março fazia piruetas à volta deles e o horizonte azul cobria tudo aos seus pés. Para oeste era o mar; para leste, o rio serpenteava por entre as Montanhas Solitá‑ rias; para norte, estendia ‑se o grande tapete verde da

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floresta e, para sul, o fumo saía da chaminé dos Mu‑ mins, pois a Mamã Mumin estava a fazer o pequeno‑ ‑almoço. Mas o Sniff não viu nada disto, porque no cimo da montanha estava um chapéu — uma cartola preta.

— Já esteve aqui alguém antes de nós! — exclamou. O Mumintroll pegou no chapéu e olhou para ele. — É um belíssimo chapéu — disse. — Talvez te sir‑ va, Farisco.

— Não, não — disse o Farisco, que adorava o seu velho chapéu verde. — É demasiado novo.

— Talvez o pai goste dele — refletiu Mumintroll. — Bom, de qualquer modo levamo ‑lo connosco — disse o Sniff. — Mas agora quero ir para casa… Estou morto por tomar o pequeno ‑almoço, vocês não?

— Eu cá estou — disse o Farisco.

E foi assim que eles descobriram o Chapéu do Papão e o levaram para casa com eles, sem desconfiar, nem por um instante que fosse, que ele ia lançar um feitiço sobre o Vale dos Mumins e que daí a pouco tempo iriam co‑ meçar a ver coisas muito estranhas…

Quando o Mumintroll, o Farisco e o Sniff chegaram ao terraço, os outros já tinham tomado o pequeno‑ ‑almoço e desaparecido em várias direções. O Papá Mu‑ min estava sozinho a ler o jornal.

— Ora, ora! Com que então também já acordaram — disse. — Há pouquíssimas notícias no jornal esta

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manhã. Um ribeiro rebentou com um dique e inundou uma data de formigas. Salvaram ‑se todas. O primeiro cuco chegou ao vale às quatro horas e depois voou para leste. (Isto é um bom presságio, mas quando o cuco voa para oeste ainda é melhor…)

— Olha o que eu encontrei — interrompeu o Mu‑ mintroll todo vaidoso. — Uma bonita cartola novinha em folha!

O Papá Mumin largou o jornal e examinou a cartola com muita atenção. Depois colocou ‑a na cabeça e viu ‑se

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