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O Código de Ekman - O Cérebro, a Face e a Emoção.pdf

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O Código

de Ekman

O Cérebro, a Face

e a Emoção

A. FREITAS-MAGALHÃES

F

(3)

A. Freitas-Magalhães eBooks

F

FEELab Science Books

www.feelab.org

Porto, Portugal

O Código de Ekman

(4)

© 2013 - A. Freitas-Magalhães

ISBN 978-989-98524-2-6

Foto “Da face do código” © 2008 - S. Po

Reservados todos os direitos. Toda a reprodução ou transmissão, por qualquer forma, seja esta mecânica, eletrónica, fotocópia, gravação ou qualquer outra, sem a prévia autorização escrita do autor, é ilícita e passível de procedimento judicial

contra o infrator.

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Obras de A. Freitas-Magalhães

O Sorriso de Darwin: Os Vestígios Emocionais do Cérebro na Face Humana (2013)

O Código do Medo (2013)

Dez anos, Dez Faces:

Porque Sou do Tamanho das Minhas Emoções (2013)

Facial Expression of Emotion: From Theory to Application (2013, 2ª ed.)

The Face of Lies (2013)

(6)

Por Que Me Mentes? Ensaio Sobre a Face da Mentira (2013)

A Face Humana: Paradigmas e Implicações (2012)

O Código de Ekman: O Cérebro, a Face e a Emoção (2011)

A Psicologia das Emoções: o Fascínio do Rosto Humano (2011, 3ª ed.)

A Psicologia do Sorriso Humano (2009, 2ª ed.)

Emotional Expression: The Brain and The Face (Ed.) (2013, vol 4)

Emotional Expression: The Brain and The Face (Ed.) (Ed.) (2011, vol 3)

Emotional Expression: The Brain and The Face (Ed.) (2010, vol 2)

(7)

Emotional Expression: The Brain and The Face (Ed.) (2009, vol 1)

(8)

Segueatuaemoçãoeencontrarásatuaface.

OLivroAbertodasEmoções

(9)

Para o Gonçalo.

A minha surpreendente emoção.

Todos os dias.

Para a Msuasy,

Por um quarto de século de emoções.

Para sempre.

(10)

Ín

d

ice

8 | Agradecimentos

Somos o que sorrimos

12 | Prefácio

O código de Ekman

23 | Introdução

A cartografia da face humana

(11)

PARTE I

O CÉREBRO DA EMOÇÃO

34 | Capítulo 1

Emoção:

fenómeno complexo e muldidisciplinar

93 | Capítulo 2

Do cérebro à face: a viagem da emoção

102 | Capítulo 3

Expressão facial:

(12)

134 | Capítulo 4

Expressão facial:

contributo para o estudo da emoção

143 | Capitulo 5

Emoção na face:

teorias em confronto

PARTE II

A EMOÇÃO DO CÉREBRO

150 | Capítulo 6

(13)

Macroexpressões e microexpressões

155 | Capítulo 7

Estrutura neuromuscular da expressão facial

158 | Capítulo 8

Face humana: variáveis moderadoras

169 | Capítulo 9

Expressão facial verdadeira e expressão facial falsa

184 | Capítulo 10

Face humana:

(14)

PARTE III

A FACE AO MICROSCÓPIO

189 | Capítulo 11

Os vestígios emocionais

292 | Conclusão

Face a face:

o futuro está na emoção

295 | Notas

(15)

Agrade

c

imentos

(16)

Somos o que sorrimos

Dei início a este livro na noite em que fui buscar o Paul ao aeroporto, em 2004. Era Outono e foi no Porto que tudo começou. O livro foi escrito, entre avanços e recuos, nos intervalos das aulas, nas viagens aos congressos e, sobretudo, quando me sentia maçado do trabalho científico empírico. Desde o início que não impus a mim mesmo um tempo para acabar este livro. As minhas actividades científica e académica, desde 2003, têm sido vividas a um ritmo difícil, muito difícil, de objectivar, para não ter de rasurar o que agora escrevo. Pelo meio deste percurso, fui escrevendo outros livros e outros artigos científicos, sem a preocupação de terminar este que agora leio, devagar, em provas, enquanto, de soslaio, vejo e ouço o mar no sossego do Outono de Aver-o-Mar. Sou também um homem de lugares, também eles com uma face para analisar. Talvez, um dia, fale dos lugares que dão sustento às emoções. E digo, em 2008, ao Paul que continuo a escrever o livro. Olha-me nos olhos, e, no meu laboratório, diz-me que os livros são como as pessoas: devem ir vivendo, até um dia... E é em Oslo, em 2009, que aproveito para redigir a maior parte dos capítulos deste livro, porque a chuva e o frio me sossegam e me enchem as mãos de vontade e constato que as emoções determinam a qualidade da nossa vida, não é Paul? Lembro-me, agora que o meu filho me chama para ir brincar, com um sorriso do tamanho do mundo, aquela simples dedicatória, deixada no meu último livro, em jeito de memória ao meu pai, que já não está há 13 anos, “Somos o que sorrimos”. E é verdade. E os livros são sempre o resultado de interacções, apesar de a sua criação ser um acto solitário. É a partir de contextos de vida que é possível escrever. E um desses contextos influenciou a minha visão sobre a problemática das emoções – o nascimento do meu filho Gonçalo há seis anos e um mês. Estou certo, hoje mais do que nunca, que a vivência das emoções fortalece o conhecimento das emoções. Ver crescer um filho é, entre outras coisas, o melhor laboratório de emoções que jamais se pode criar em toda a vida. A emoção do primeiro choro, numa madrugada de fim de Agosto, a emoção do primeiro sorriso, de manhã… E assim, pelos dias seguintes, como se fosse uma descoberta sem limite e sem fim. E, outrossim, aprendo (ou reaprendo) que a emoção é o eixo primordial da vida, como se fosse um cordão umbilical que nunca se deve cortar. Os livros não são o resultado de vivência isolada. Daí que este é o momento, e aproveitando que o Gonçalo vai atrás da bola, mais além, para deixar, aqui e agora, o justo agradecimento a

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quem, sem amarras, me mostrou que fazer da face e das emoções um projecto de vida valeu, vale a pena, sobretudo se a alma não for pequena, não é Pessoa?

Ao meu amigo Paul, com quem aprendi que, de facto, é pela face que vamos. O sonho está mais adiante... Este livro é, pois, um tributo, simples e modesto, à minha maneira, a quem me deu uma bússola para me orientar na cartografia da face humana.

Ao Prof. Salvato Trigo, Reitor da Universidade Fernando Pessoa (UFP), para quem, desde a primeira hora, o projecto do Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab/UFP) (1) nunca lhe levantou dúvidas e foi, e é, e será um aliado sério. Lembro, a este propósito, as palavras que lhe escrevera, em 3 de Abril de 2008, justamente configuradas em “Três Notas que Sustentam um Agradecimento Particular”, e após a cerimónia de Doutoramento Honoris Causa ao Prof. Paul Ekman: “A cerimónia foi um exemplo de dignidade académica e de promoção da credibilidade da configuração científica da Universidade Fernando Pessoa (UFP), nacional e internacionalmente. A emocionalidade do Prof. Paul Ekman – porque fez questão de ma transmitir, em privado, e a adesão da comunidade, sem precedentes, são dois estigmas que ficam para a história. Permita-me que, a este propósito, lhe faça chegar a informação de regozijo por parte dos cientistas que se dedicam ao estudo da expressão facial da emoção em todo o mundo, com particular destaque para Nico Frijda, Professor Emérito da Universidade de Amesterdão, para quem, e cito, “a distinção, para além de justa, é uma afirmação da universidade portuguesa que a outorga no contexto da ciência da emoção”, reforçando, assim, o conteúdo do meu discurso. A distinção ao Prof. Paul Ekman tem sido mencionada em todos os circuitos universitários mundiais, com especial destaque para a American Psychological Association (APA). A Universidade de Nova Iorque vai outorgar, em Setembro, idêntico título. A cerimónia comprovou o que lhe havia dito em reunião prévia que tivemos na pretérita semana - tratou-se de um acto de indelével importância e contributo para a sustentação da credibilidade científica e pedagógica da Universidade Fernando Pessoa (UFP). Para além da satisfação profissional e pessoal, a cerimónia foi um sinal de que a UFP pode, e deve, dar exemplos ao mundo, homenageando quem, pelo seu mérito, figura, no caso em particular, entre os 100 mais importantes psicólogos do século XX (2). a concluir, e porque é justo, e compete-me fazê-lo, ao encerrar este capítulo da minha vida, permita-me que lhe estenda a mão de agradecimento pelo trato, disponibilidade e, sobretudo, empenho na consumação do propósito enunciado. É confortante saber, e partilhar, que a minha bússola científica e pedagógica é acarinhada e estimulada. Porque sou grato a quem, sem amarras de qualquer espécie ou pedidos de resgate, sabe retribuir e reconhecer. É o caso. Só assim a vida faz sentido, impulsiona a crença em novos desafios e reclama a conjugação dos verbos certos em tempos certos”.

(18)

Á Msuasy, minha mulher, porque conhece a matéria da emoção que configura os nossos dias e aceita a minha intolerável ausência presente, quando o tempo dos livros me requisita, com o mesmo sorriso de há um quarto de século.

E, por fim, ao Gonçalo, meu filho...

... E, agora, já podes brincar comigo?

Aver-o-Mar, 9 de Outubro de 2010.

(19)

Pre

f

ácio

O código de Ekman

Estou na fase final deste livro quando acabo de terminar o artigo “Facial Expression of

Emotion” para a Encyclopedia ofHuman Behavior, da Elsevier, em Oxford (3). Trata-se, de

facto, de uma experiência emocional sem precedentes. O convite da mais reputada editora médica e científica do mundo implicava uma reflexão, e consequente síntese, em quatro dezenas de páginas, sobre a expressão facial da emoção, desde Darwin até aos nossos dias. Foi uma viagem fascinante, uma descoberta pelos territórios da emocionalidade humana, e, sobretudo, pelo privilégio de revisitar a discussão científica em torno do fenómeno da expressão facial da emoção e a vontade de criar instrumentos para a sua inerente mensuração. Os estudos científicos, apoiados em diversas teorias, abordavam os eixos estrutural e funcional da expressão facial da emoção e argumentavam pela necessidade de desenvolver-se um método de avaliação objectivo e rigoroso. A partir da década de sessenta, particularmente com os trabalhos de Paul Ekman, verifica-se que a criação de tal instrumento era inevitável. Ao longo dos anos, foram desenvolvidos vários métodos de análise, sendo que o Facial action Coding System (sistema criado por Ekman e Friesen, em 1978) foi, e é, aquele que regista um amplo consenso na comunidade científica, apesar da configuração crítica saudável que o envolve. E, nem de propósito, no ano em que se comemora o bicentenário do nascimento de Darwin, lancei dois projectos científicos de grande envergadura: o FACE e o “E se às Vezes Digo que as Flores Sorriem” (4). Falei, pela vez primeira, no projecto FACE no I Congresso Luso-Brasileiro de Psicologia da Saúde, que decorreu, de 5 a 7 de Fevereiro de 2009, na Universidade do Algarve, em Faro. E a

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apresentação pública decorreu no FEELab World 2009, na Universidade Fernando Pessoa, no dia 27 de Março de 2009. E apresentei o projecto “E se às Vezes Digo que as Flores Sorriem”, na Qualific@ 2009, que decorreu, de 12 a 15 de Fevereiro de 2009, na Exponor, no Porto. O primeiro é o projecto científico pioneiro que permitirá carto- grafar, ao nível neuropsicofisiológico, a expressão facial dos portugueses, com recurso a tecnologia de imagiologia e visa ser um contributo para a constituição de um banco de dados de expressão facial disponível para as mais diversas aplicações sociais, como, por exemplo, na saúde, na justiça e na educação. O segundo é o projecto de literacia emocional, inspirado num verso de Fernando Pessoa. Aquele inédito projecto tem o objectivo de facilitar a identificação, reconhecimento, regulação e uso das emoções em diversos contextos psicossociais, como, por exemplo, escolas (desde a pré-escola), serviços públicos e privados de saúde, instituições de acolhimento social e organismos judiciários. Continuo a considerar que a educação assertiva dos estados emocionais, contribui, decisivamente, desde a infância, para o exercício da felicidade e de boas práticas e, por consequência, diminui os sintomas clínicos, a violência, o stresse, e o abuso de drogas e de álcool. Dei conta destes dois projectos a James Bray e a Merry Bullock, Presidente da APA e Directora dos Assuntos Externos da American Psychological Association (APA), respectivamente, no dia 10 de Julho de 2009, à margem do 11th European Congress of Psychology, que decorreu em Oslo, na Noruega, para quem o futuro da Psicologia não está na cognição, mas sim na emoção, sublinhando, assim, o pensamento do colega Daniel Kahneman. Aqueles dois projectos são o resultado do exercício científico diário desenvolvido no Laboratório de Expressão Facial da Emoção e sustentado no legado de Darwin e de Ekman. Aliás, o contributo do meu amigo Paul é o código que vou decifrando, com a bússola chamada emoção sempre por perto. E este livro é um tributo a esse código…

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O tributo emocional (5)

“O único mistério é haver quem pense no mistério”, disse, um dia, Alberto Caeiro, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, o patrono da nossa universidade. Aquele ditame assenta na perfeição ao trabalho desenvolvido, durante mais de quarenta anos, pelo Professor Paul Ekman (6). Habituei-me a tratá-lo por Paul desde o tempo em que o conheci e porque mo pediu, trejeito de humildade de quem é o pioneiro da ciência da face humana.

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Figura P-1: Prof. Paul Ekman na Universidade Fernando Pessoa (UFP), em 2008. © 2008, UFP.

Li-o, primeiro, nos seus livros e artigos científicos. Foi a primeira face e, depois, veio a face ao vivo que encaixou nos milhares de palavras que lera. Por isso, Paul, ou melhor, Professor Paul Ekman, é uma referência incontornável em todo o meu trabalho. Devo-lhe ensinamentos científicos para a vida. Devo-lhe a mão estendida da amizade sem o resgate do compromisso ou a retribuição de qualquer exigência. a par da grandiosidade enquanto homem – as suas refinadas simplicidade e humildade são ímpares - constatei no Professor Paul Ekman a dimensão única de quem fez da face humana um projecto de vida. E é graças ao seu intenso e rigoroso trabalho que, hoje, é possível identificar e reconhecer a cartografia fascinante da face humana. O Professor Paul Ekman descobriu o mapa da face humana quando, em finais dos anos setenta, deu a conhecer ao mundo o Facial Action Coding System (FACS), a codificação dos 44 músculos faciais, o qual, objecto de revisão, em 2002, é utilizado, entre outros profissionais, por psicólogos, psiquiatras, neurologistas, em todo o mundo. Comemora-se, precisamente este ano, o trigésimo aniversário daquele instrumento científico

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revolucionário que mudou a face da face. É com ele que a comunidade científica mundial sustenta o seu exercício experimental. O Professor Paul Ekman sabe, porque mo disse diversas vezes, que “Emotions never tell us their source. So when you interview someone who’s afraid as a suspect in a crime, you don’t know if it’s the fear of being caught or the fear of being disbelieved. It looks just the same. You can tell by facial expressions what the emotion is but not the cause”. E é por isso que estudar a expressão facial da emoção é um fascínio. O Professor Paul Ekman é um assumido darwinista e, a par do seu trabalho de consultoria (por exemplo, The Defense Advance Research Projects Agency – DARPA -, do Departamento de Defesa, dos Estados Unidos) prepara o lançamento do seu novo livro, em Setembro próximo, sobre os seus encontros com Dalai Lama e que aborda a problemática “Emotional Balance and Global Compassion”, associando-se, assim, a um conjunto de cientistas, como, por exemplo, o seu amigo Daniel Goleman. O Professor Paul Ekman é, recidivamente, convidado a dar o seu parecer ou a dinamizar workshops em todo o mundo. Instituições como The Federal Bureau of Investigation (FBI), The Central Intelligence Agency (CIa), nos Estados Unidos, e a Scotland Yard, no Reino Unido, são alguns exemplos. No ano da comemoração do vigésimo aniversário da UFP, a consagração, por via da atribuição desta distinção, de uma vida ao serviço da ciência da face humana faz todo o sentido, porque a diacronia científica do Professor Paul Ekman sublinha e reforça o lema académico que nos une e motiva: nova et nove – ensinar o novo de forma nova. E fazer do Professor Paul Ekman um dos nossos é, para além do orgulho, um amplo e merecido reconhecimento mundial a quem, com o seu incansável trabalho, deu um contributo único e excepcional à Ciência, e em par- ticular à Psicologia da expressão facial da emoção. Quando submeti a proposta de atribuição desta distinção ao magnífico Senhor reitor, em meados de Setembro de 2007, e aprovada em 31 de Outubro desse mesmo ano, fi-lo com o propósito de que esse tributo fosse um marco de reconhecimento académico e público a quem, pelo seu mérito, regista um enorme consenso científico mundial em torno das suas teorias. Fi-lo, ainda, porque devem ser os académicos a reconhecer o trabalho dos seus pares, sem constrangimentos de qualquer espécie e com a nobreza de carácter que o mesmo estimula. O título de tributo ao Professor Paul Ekman, agora atribuído pela Universidade Fernando Pessoa, é um acto de justiça e uma prova indelével a quem nada pediu, antes pelo contrário, tudo deu em prol do conhecimento das emoções humanas. O Professor Paul Ekman nasceu em 1934 e o seu estudo científico pela expressão facial nasceu pelo gosto da fotografia. Porém, a morte da mãe foi o motivo básico: “my mother, who I now believe had bipolar disorder, committed suicide when I was 14. I decided that the way to deal with that was to try to help people like her, by trying to understand emotional disorders”. Nos anos 50, quando iniciou a sua viagem, a Ciência entendia que a expressão facial apenas exibia sinais estereotipados. Não havia um instrumento para utilização no estudo das expressões faciais. O Professor Paul Ekman começou por estudar a voz e os gestos das mãos. Em 1965, alterou o seu rumo científico. Seguin- do o testemunho de Darwin, Hjortsjö e Duchenne, entre outros, e até 1970, prosseguiu a sua viagem para comprovar se os gestos e a expressão facial mudavam com a cultura, como defendia Margaret Mead - as expressões e os gestos aprendem-se no contacto social. mas Darwin havia dito e escrito (“The Expression of the Emotions in Animals and Man”, 1872) o contrário: as expressões humanas são inatas e, portanto, universais. Aos 30 anos, e suportado na fotografia, dispôs-se a decifrar o mistério. E então viajou pelo Chile,

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Argentina, Brasil, Japão e Estados Unidos e solicitou às pessoas que identificassem e reconhecessem as emoções exibidas nas imagens. Perante imagens idênticas, os japoneses e americanos moviam os mesmos músculos faciais. Os japoneses mascaravam mais com o sorriso situações desagradáveis. Foi, então, até à Papua Nova Guiné. O propósito era o de comprovar, definitivamente, quem tinha razão: Mead ou Darwin. Na civilização virgem, os habitantes nem sequer sabiam, por exemplo, o que era uma câmara fotográfica, não havia uma linguagem escrita que identificasse as emoções. Pediu para contarem histórias e registava a expressão da sua face. E esta face expressava a emocionalidade das histórias. Nos Estados Unidos, os estudantes do Professor Paul Ekman viram as imagens em bruto e não tiveram dificuldade em identificar as emoções exibidas pelos habitantes da Nova Guiné. Assim, o Professor Paul Ekman confirmava que Darwin tinha razão, e reforçava a sua teoria neurocultural das emoções. As expressões de alegria, tristeza, cólera, surpresa, aversão, medo e desprezo são básicas e universais, independentemente do grupo cultural ao qual pertencem. Um outro exemplo da distinção entre emoções básicas e sentimentos é apresentado pelo Professor Paul Ekman: “romantic and parental love are more enduring than emo- tions, though they are highly emotionally laden. I don’t just feel happy with my daughter. Sometimes I’m worried, sometimes I’m surprised, and sometimes I might feel anger. It’s an attachment, not a fleeting emotional state. a mood, by the way, is different still. It doesn’t last as long as an attachment, though it can last for hours or even longer”. Os gestos, esses sim, são apreendidos. Em 1978, cria o Facial Action Coding System (FACS) - um sistema de codificação da actividade facial que permite medir, com todo o rigor científico, os movimentos musculares da face. E, assim, descobriu que a face pode gerar mais de dez mil expressões, e que é possível identificar e reconhecer vestígios para detectar a mentira, o que o levou, em 1985, a publicar o livro sobre a detecção de mentiras (“Telling Lies”), o qual, ainda hoje, é uma referência nuclear em diversos contextos, como, por exemplo, na perícia forense. O pressuposto é simples: se há diversas formas de expressão do conteúdo das emoções básicas, então há perfis de alterações psicofisiológicas. James J. Newberry, agente da CIA, por exemplo, é um dos muitos que aplica o código do Professor Paul Ekman. A mentira não se dilata tipo “nariz de Pinóquio”. Uma pessoa inocente pode ter a mesma reacção que um culpado. A má interpretação de uma emoção pode ser fatal ao juízo. Não é fácil detectar a mentira. Tenho, aliás, sérias dúvi- das sobre a profecia de Blaton quando advoga que todos seriam mais felizes se deixássemos de mentir. E nós não somos maus a detectar a mentira – nós não queremos é admitir a mentira. é preciso usar de todo o cuidado no exercício do vocabulário da face e conjugar, na perfeição, as notas da pauta facial universal. A sua teoria sobre a expressão facial da emoção resulta – e foi posta à prova – do trabalho permanente, ao longo de 32 anos, como Professor de Psicologia no Departamento de Psiquiatria, da Faculdade de Medicina, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, e no Human Interaction Lab, que fundou e onde es- tudou o comportamento de, por exemplo, esquizofrénicos e homicidas. E é, ainda, fundador (juntamente com o Professor Klaus Scherer) da International Society for research on Emotion (ISRE). Actualmente, acompanha, com atenção redobrada, e no âmbito do programa norte-americano contra o terrorismo, o desenvolvimento do Secreening Passenger by Observational Techniques (SPOT). A presença do Prof. Paul Ekman na Universidade Fernando Pessoa (UFP) representa um momento histórico para a Ciência em Portugal, principalmente para a Psicologia das Emoções. E tal se

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deve ao facto de, em mais de 40 anos de trabalho científico e académico no espectro da expressão facial da emoção, ser a primeira vez que uma universidade portuguesa lhe outorga este título. O reconhecimento mundial das suas teorias, principalmente da aplicabilidade do Facial Action Coding Sys- tem (FACS), e da sua conversão para a referência dos estados emocionais através do EMFACS, é reforçado pelos inúmeros livros e artigos científicos publicados em revistas da especialidade que o citam obrigatoriamente e que se podem consultar, por exemplo, no livro “What the Face Reveals: Basic and Applied Studies of Spontaneous Expression Using The Facial action Coding System”, escrito com a Professora Erika Rosenberg e publicado, em 1997, pela Oxford University Press. O Professor Paul Ekman foi reconhecido, recentemente, pela American Psychological Association (APA) como um dos 100 mais destacados e influentes psicólogos do século XX. Recebera, antes, o Scientific Contribution Award, igualmente pela American Psychological association (APA), o qual representa a mais alta distinção atribuída na área da investigação em Psicologia. Tal distinção resulta do seu trabalho científico, único e exclusivo, alicerçado em 16 livros (best sellers e traduzidos em dezenas de línguas em todo o mundo) e em mais de duas centenas de artigos. Por isso, a outorga deste título constitui um estigma histórico. Ao Professor Paul Ekman deve-se a assunção consensual da comunidade científica mundial quanto ao quadro das emoções básicas (tristeza, cólera, surpresa, medo, aversão, alegria e desprezo). Uma das preocupações do Professor Paul Ekman passa pelo facto de as emoções determinarem a nossa qualidade de vida. Por isso, é importante o seu conhecimento e saber conjugá-las no quotidiano, sem se recorrer a máscaras e subterfúgios. Se as emoções fazem parte da nossa vida, temos de saber viver com elas, é a máxima do último livro do Professor Paul Ekman, “Emotions Revealed: Understanding Faces and Feelings”. Outra das preocupações passa pelos procedimentos sérios que devemos adoptar quando se pretende detectar a incongruência do discurso facial com o discurso verbal em todos aqueles que estão indiciados pela prática de crime. Assim, no campo da Psicologia Forense, o primeiro interrogatório devia ser filmado. Não faz sentido utilizar aquele procedimento em plena sessão de tribunal. O estudo da expressão facial da emoção é muito ténue em Portugal, apesar do interesse e dos diversos campos sociais de aplicação. O estudo científico da face humana não se faz com o interesse que se esperaria. É na senda do trabalho desenvolvido pelo Professor Paul Ekman que o Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab), da Faculdade de Ciências da Saúde (FCS), da Universidade Fernando Pessoa (UFP) se assume como pioneiro em Portugal. Se aquele pioneirismo sublinha uma redobrada satisfação, desde finais de 2003, reflecte também uma séria responsabilidade em deixar um legado de incentivo que contribua para o aparecimento de outros protagonistas e outras plataformas em estudar a face humana, as emoções e, em particular, o sorriso - considerado, por Sptiz, um dos principais organizadores do psiquismo humano. O Professor Paul Ekman tem colaborado com o Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab), desde a primeira hora, tendo oferecido, graciosamente, o Facial Action Coding System (FACS), The Micro Expression Training Tool (METT) e The Subtle Expression Training Tool (SETT). Aliás, o Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab) é o único em Portugal devidamente certificado para os utilizar. A estreita colaboração sairá reforçada da parceria com o Ekman Group Training. Em conclusão, a lição que o Professor Paul Ekman nos propõe traduz-se, simples e assertivamente, na necessidade imperiosa de estudar-se cientificamente a face humana para

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que estejamos aptos, de facto, e sem reservas, a assumir que “emotions determine the quality of our lives”. E porque de um código, pioneiro e único, estamos a falar quando falamos do Professor Paul Ekman, deixo-lhe ficar a notação AU7+AU6+AU12 [(que traduz as action Units (AUs) do “enjoyment smile” – nas suas próprias palavras, a clara distinção: “In a fake smile, only the zygomatic major muscle, which runs from the cheekbone to the corner of the lips, moves. In a real smile, the eyebrows and the skin between the upper eyelid and the eyebrow come down very slightly. The muscle involved is the orbicularis oculi, pars lateralis”)], a acompanhar um profundo e emocional obrigado português, e do tamanho do mundo, pelo legado e pela partilha da sua bússola".

(27)

Intro

d

ução

A cartografia da face humana

A face (7) é a parte do corpo que mais se mostra durante a vida. Daí a sua inequívoca

importância no desenvolvimento psicossocial do indivíduo. A face (8) é um sistema

complexoe multidimensional que tem sidoalvo de amplos e diversos estudos ao longo dos

anos. Aface pode exibir mais de dez mil expressões. No percurso da investigação sobre a

expressão facial da emoção, e num primeiro momento, o objectivo foi identificar e

caracterizar o eixo estrutural dos movimentos faciais. Numsegundo momento, o objectivo

foi identificar e caracterizar o eixo funcional daqueles movimentos faciais. Os

investigadores da expressão facial da emoção dedicam agora o seu tempo a perceber as

implicações e aplicações da face nos mais diversos contextos sociais (e.g., saúde, justiça e

educação).Afaceéúnica,éumamatrizde cadaindivíduo,não há duas faces iguais.Porém,

há padrões de comportamento facial que são comuns e passamde geração emgeração. A

expressão facial funciona como adaptação. Será a face um código genético que se vai

descodificando, ao longo da vida, na partilha social?, é a interrogação que, ainda hoje,

motiva recorrente debate científico. O actual estado da arte do estudo científico sobre a

expressãofacialdaemoçãomuitodevea investigadores, como,por exemplo,e entre outros,

Bell, Darwin, Duchenne, Schlosberg, Landis, Hjortsjö, Tomkins, Ekman, Frijda, Izard,

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Figura I-1:

Darwin influenciou os estudos da expressão facial da emoção. ©

2010, S. Po.

(29)

A identificação e o reconhecimento de um programa facial, com consequente mensuração, representaram a preocupação das linhas de investigação ao longo dos anos. Por exemplo, Bruce e Young analisaram o processamento da face como um conjunto de sete tipos de códigos de informação. É um modelo teórico que envolve dissociações neuropsicológicas para aceder à informação específica e semântica do reco- nhecimento de expressões faciais. Outras abordagens teóricas (e.g., Burton) sugerem o envolvimento de redes neurais artificiais derivadas de sistemas complexos. A emoção pode provocar expressão facial, mas também pode ocorrer sem expressão e esta também pode ocorrer sem emoção. Por isso, a compreensão do trinómio cérebro-emoção-face é primordial. Há circuitos neuronais próprios para cada uma das emoções e para a percepção das mesmas. Nesse sentido, é fundamental analisar os vestígios emocionais do cérebro na face humana. a expressão facial humana resulta de movimentos musculares que exprimem mensagens ou sinais emocionais. Para que serve a face e o que significam os movimentos musculares da face, os olhos, o nariz, a boca, as pálpebras, as sobrancelhas, a testa, e o pescoço, asseguram a discussão no contexto das abordagens genética e da ecologia comportamental. Ler a cartografia facial continua a ser um desafio para a Ciência moderna. A expressão facial da emoção pode provocar contágio entre os indivíduos na interacção social. O debate sobre o feedback facial, a aprendizagem, com referência às perspectivas cerebral, fisiológica e situacional, pode constatar-se na literatura. A face foi sempre vista como um mecanismo de adaptação e sobrevivência, e tal é comprovado pela investigação empírica (e.g., ver Capítulo 11). No confronto das teorias sobre expressão facial da emoção, a abordagem holística, que postula o reconhecimento da expressão facial como o resultado de diversas e complexas variáveis moderadoras, é aquela que tem conquistado mais. seguidores.

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A face da face

Quando Ekman iniciou o seu estudo sobre a expressão facial, há mais de 45 anos, estava convencido que a sua origem era cultural. O primeiro artigo publicado por Ekman remonta a 1957. Primeiro os gestos das mãos, depois a face. “Paul Ekman began this work at Langley Porter Neuropsychicitric Institute in 1961 (...)” pode ler-se no texto “Studies in Communication Through Nonverbal Behavior”, disponível na American Psychological Association (APA) (9) e que indica Paul Ekman como Director do Laboratory for the Study of Human Interaction and Conflict e Professor of Psychology, Department of Psychiatry University of California School of Medicine San Francisco, Califórnia, nos Estados Unidos. Foi consultor da Disney, Pixar e Industrial Light and Magic. Paul Ekman dedicou a sua vida a estudar as emoções e as expressões faciais. É considerado um dos mais influentes investigadores pela comunidade científica e esteve em Portugal em 2004 e 2008 (Ver Figura I-2). Os seus primeiros estudos superiores foram desenvolvidos na Universidade de Chicago. O seu doutoramento foi obtido na Adelphi University. Exerceu a Psicologia no Exército dos Estados Unidos. Os seus primeiros estudos científicos foram sobre os gestos das mãos na Universidade da Califórnia em San Francisco. A sua investigação sobre a expressão facial da emoção foi feita, ao longo dos anos, com o desenvolvimento de trabalho de campo em diversas e variadas culturas. Descobriu e assumiu perante a comunidade científica a universalidade da expressão facial da emoção, desenvolvendo o Sistema de Anotação da Expressão Facial, originalmente conhecido como Facial Action Coding System (FACS), em 1978, ou seja, há mais de trinta anos.

(31)

Figura I-2: Prof. Paul Ekman no Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab/ UFP), em Março de 2008. © 2008, S. Po.

Darwin é o ponto de partida para toda a sua aventura no campo da expressão facial da emoção. A sua investigação começa em 1950, com a abordagem ao comportamento não verbal. O comportamento é inato ou adquirido? A pergunta que serviu de alavanca para um projecto de vida. Fez as malas e partiu em busca de novas culturas na Nova Guiné. A expressão da emoção é inata, a forma como se exibe obedece ao que Ekman definiu como “regras de exibição”. Os seus estudos levaram-no a concluir que nos Estados Unidos o sorriso, por exemplo, é exibido para esconder ou mascarar emocionalidade negativa. Faz a clara distinção entre emoção e expressão da mesma. Paul Ekman foi reconhecido pela National Science Foundation (NSF), tendo, também, recebido o mais reconhecido prémio de contribuição científica da American Psychological Association (APA). Foi considerado um dos mais significativos psicólogos do século XX. Desenvolve o seu trabalho junto do FBI e da CIA. Paul Ekman disse, em 1992: “When I began my study of facial expressions, I thought there was just one question to be answered. I found more than one answer. more important, pursuit of that one question has continued to raise many new and challenging questions about expres- sion and emotion. The research on the face and emotion has just begun”.

Na senda do seu trabalho, coordeno, desde 2008, o projecto universitário e científico internacional “Emotional Expression: The Brain and The Face”, (Studies in Brain, Face and Emotion), o qual já produziu dois volume (10). O primeiro volume, organizado em 11 capítulos, fornece um mapa detalhado do importante e crescente campo da regulação das

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emoções. as temáticas abordam, em concreto, a expressão facial e as emoções em doentes com Parkinson, dos mecanismos neuronais à funcionalidade da interacção social, o reconhecimento das emoções em psicopatas, o poder e a função das emoções na saúde, a constituição neuropsicofisiológica das emoções e a representação e experiência emocional ao longo da vida. Este manual universitário e científico apresenta estudos pioneiros com contributos de alguns dos maiores especialistas mundiais. O segundo está organizado em 13 capítulos e é mais um contributo para a compreensão dos mecanismos associados ao processamento das emoções, desde as estruturas cerebrais até ao palco da face humana - a parte do corpo que mais mostramos durante a vida. As dimensões temáticas abordam as competências cerebrais humanas para a percepção facial, a teoria sobre a percepção emocional, a perspectiva emocional na reacção a faces emocionais, a expressão facial em pacientes de Parkinson, a compreensão das emoções através de uma abordagem indiana, a interpretação de estados emocionais através de vestígios visuais, as diferenças e os estereótipos de género na interpretação da emocionalidade através de expressões faciais, a regulação emocional na interacção diádica, a escala de percepção do medo, a literacia emocional em serviços de saúde e cuidados primários, o sorriso na interacção social, as emoções e a expressão facial como facilitadores da comunicação em toxicodependentes. A heterogeneidade dos artigos releva a plasticidade da emoção, desde as suas origens, as implicações e as consequentes aplicações psicossociais. O terceiro volume está em fase adiantada de produção, estando previsto o seu lançamento em 2011.

(33)

A pauta facial universal

O Código de Ekman faz todo o sentido, uma vez que se comprovou que muitos dos movimentos faciais são involuntários. Já fiz vários estudos com bebés e adultos. E a comparação, por exemplo, dos sorrisos do bebé com os sorrisos do adulto não deixa qualquer margem para dúvidas: os primeiros não mentem. Ler e avaliar a face humana, para além de um fascínio, como já o disse em livro anterior (11), é um desafio ao qual a sociedade não pode, nem deve, virar as costas. Porque em jogo está a segurança do ser humano. Há anos que o Código de Ekman é utilizado, por exemplo, nos aeroportos americanos na detecção de presumíveis criminosos. Porque mais importante que apanhar criminosos, é prevenir, impedindo, que eles o sejam. As habilidades emocionais (emotional skills, como lhe chamou Paul Ekman na sessão de Doutoramento Honoris Causa, na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, no dia 31 de março de 2008) são essenciais na identificação e reconhecimento da pauta facial. Na linha de Darwin, Ekman refutou a teoria de Mead - a expressão facial da emoção não é um produto cultural. Daí que a análise dos compósitos faciais seja de uma utilidade científica inquestionável. O corpo acompanha a emocionalidade humana durante a vida. Quando o indivíduo se zanga, por exemplo, a cabeça inclina-se para a frente e está em posição de ataque; quando exibe medo, tal representa a activação fisiológica para a defesa e para a fuga. Os trabalhos de Ekman abriram as portas para o incremento de teorias e desenvolvimento de instrumentos de avaliação da face. A simples detecção da contracção do orbicular palpebral inferior, que não pode ser feita voluntariamente, ou a verificação da dilatação da pupila são tarefas que conduzem à leitura da face humana e podem (e devem) estar ao serviço nos mais diversos contextos sociais. As perguntas que, há anos, se fazem e para as quais já há respostas, como, por exemplo, como se desencadeia uma emoção? É possível controlar as emoções? As emoções são iguais em qualquer parte do mundo ou alteram-se em função do contexto cultural? É possível identificar e reconhecer as emoções das pessoas pela expressão facial?, convocam os trabalhos de Ekman e conferem-lhe amplitude. Tomemos, por exemplo, o sorriso e a detecção da mentira. O sorriso funciona como uma máscara. A mentira é feita por falseamento ou por ocultação. O sorriso é a máscara mais utilizada, porque é a mais fácil e está ali à mão, ou melhor, à face. A assimetria facial é um dos

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vestígios da mentira, a par da ausência de suavidade, pela rapidez, pela microexpressão. Ekman disse-me, um dia, que as mentiras mais fáceis de detectar são aquelas que levam associadas uma emoção, porque do combate entre o que se sente de verdade e o que se tenta fazer sentir é a armadilha de quem mente. A Neuropsicologia sugere que o cérebro humano possui detectores especializados para as emoções discretas específicas. Porém, o comportamento sugere que os seres humanos reconhecem expressões como entidades similares e não discretas. Existe um para protótipo da cognição da expressão. O trinómio cérebro-face-emoção tem sido a minha bússola no âmbito científico. Ler, com olhos de ler, a face humana não é tarefa fácil. Porém, é uma tarefa aliciante e surpreendente. A cartografia da face passa por diversos territórios emocionais. Tomemos, por exemplo, os indicadores sobre a felicidade: uma revista (12) de um jornal semanário português publicou, em 2007, um dossier sobre o assunto. A acompanhar o texto, podem ver-se fotografias estereotipadas. Na página 38, pode ler-se: “(…) Não é por um infeliz acaso que os portugueses são um dos povos menos sorridentes da Europa”. E, claro, estampam a informação: “(…) Um estudo da Universidade de Cambridge, no reino Unido, refere que nós e os italianos estamos nos últimos lugares da tabela (também) em relação a esta ma-téria”. Não diz é onde se pode consultar o tal estudo e como foi feito (inquérito a 20 mil pessoas das 180 regiões, de 2002 a 2004, nos então 15 países da EU e cujas conclusões foram reveladas em 2007). Nessa mesma página, pode ler-se “(…) a felicidade não tem idade, raça ou credo”. Os estudos científicos dizem o contrário. O uso estereotipado do Senhor “Smiley”. O que diria Jonatham Haidt, da Universidade da Virgínia (EUA), sobre o assunto? No seu livro “A Conquista da Felicidade” ("The Happyness Hipothesis”), o investigador advoga a existência de diversos tipos de felicidade. A felicidade é o bem-estar. Acredita que uma parte significativa da felicidade é biológica e acredita que muitas pessoas nascem infelizes. Não concordo. Ninguém nasce infeliz. A sua investigação diz que os crentes são mais felizes que os não crentes, os conservadores mais crentes que os liberais e os ricos mais felizes do que os pobres. Também não concordo. A felicidade é uma construção e não um fim adquirido. E a felicidade vê-se na face? É claro que sim. Já Darwin argumentava que a exibição das emoções é essencial para a interacção social, uma vez que, para além da função expressiva, tem a função regulativa. No espectro da comunicação não verbal, interessa-me a expressão facial da emoção. As emoções são consensualmente definidas na literatura como reacções complexas a determinado estímulo. Neste particular, o trabalho desenvolvido por Ekman é inquestionável e consequente como está plasmado neste livro.

(35)

Conceitos

Expressão facial Actividade neuromuscular que permite exprimir mensagens e sinais.

Emoção Reacção neuropsicofisiológica pulsional, espontânea e intensa que leva o

organismo a produzir uma acção.

Comunicação não verbal Expressão e percepção dos sinais não linguísticos entre os

indivíduos.

(36)

Cultura Padrão de significados, de atitudes e de

comportamentos específicos de um grupo cultural.

(37)

I

.

PARTE I O cérebro da emoção

(38)

1

Emoção:

fenómeno complexo e multidimensional

Maisdedoisséculostranscorreramdesdeque Bell publicoua base anatómicada expressão

facial, que serviria de motivoaos estudos científicos subsequentes,e, ainda hoje, é objecto

decitação.Foi umdos primeiros contributospara se chegar a uma definição,embora ténue,

de emoção. A definição de emoção não é consensual, por ser um fenómeno complexo e

multidisciplinar. Por exemplo, alguns sentimentos estão relacionados com as emoções. Se

todas as emoções originamsen- timentos,nemtodos os sentimentos provêmde emoções. A

diferença passapeloscritériosdeduração, intensidade efrequência. Apesar da dificuldade

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envolvimento dos processos neuronais, motores e experienciais. A emoção é uma resposta

automática, intensa e rápida, inconsciente e/ou consciente, perante o perimundo, e um

impulso neuronal que levao organismo a produzir uma acção. As funções da emoção estão

ligadasà adaptaçãoe à expressão.Aemoçãofunciona como catalisador entrea condutae o

meio,eéumapreparação paraaacção. A emoçãoexerce papel crucial no desenvolvimento

da aprendizagem. A experiência da emoção provoca aprendizagem emocional para lidar

comsituaçõesfuturas eéummeiodepreparaçãoda conduta. Aemoção manifesta-se através

dos processos quinésicos e cinéticos no âmbito do repertório da comunicação não verbal.

Contribui para a exibição dos afectos e pode reflectir, ao nível da configuração facial, o

estatutoepodersociais.Ostiposdeemoçãosão umcontributopara que a comunicação seja

maisfluídaeauxiliaaidentificação ecompreensãodosmecanismos de defesa ea regulação

da interacção. Os componentes da emoção são a vivência consciente (sensação), as

reacções fisiológicas (órgãos e sistemas da actividade emocional) e o comportamento expressivo.Ossistemasdaemoção, apresentadosde- talhadamente na literatura,integrama

cognição, a expressão facial e as actividades do sistema nervoso autónomo (SNA). O

reconhecimento universal da expressão facial é resultante de umprograma inato para cada

uma das emoções básicas. Porém, a mudança de expressividade altera o que se sente. As

características da emoção espelham o sinal distintivo pancultural para cada emoção, as

expressões faciais univer- sais determinadas filogeneticamente, a envolvência de diversos

sinais, a duração élimitada, a expressãofacial reflecte aspectos da experiência emocional,

osgrausdeintensidadediferentesparamedirasubjectividadedaexperiência, as expressões

faciais podem ser inibidas, as expressões podem ser dissimuladas, cada emoção regista

aspectos próprios e cada emoção activa padrão de alteração ao nível do sistema nervoso

autónomo(SNA)edosistemanervosocentral (SNC).

(40)

O código da face

Paul Ekmané considerado o pioneiro da ciência do estudo da expressão facial humana. O

seu trabalho científico procurou sobretudo mapear a face humana e, consequentemente,

desenvolver ummétodode mensuração atravésdomovimento muscular. Oseupropósitofoi

amplamente conseguido quando, em 1978, apresentou o Facial Action Coding System

(FACS), umsistema de análisefacial baseado emunidades de acção, o qual caracterizarei

ao longo deste livro e que serve de sustento ao seu título. Avontade de aprender e de ser

capaz de dar um contri- buto científico pioneiro é bem patente quando escreve “In 1965

when Ibegantostudyfacialexpression,Ifewthoughttherewasmuchto be learned” (p.376)

no artigo“Facial expressionandemotion” (13),em Abril, de 1993. Aconcluir, argumenta:

“When I began my studyof facial expressions, I thought there was just one question to be

answered are they universal or culture specific. I found more than one answer; different

aspectsofexpressionarebothuniversal andculture specific. more important,pursuit ofthat

one question has continued to raise many new and challenging questions about expression

and emotion, questions I could notimagine 27 years ago. Inthat sense, the research onthe

faceandemotionhas justbegun” (p.391). De facto,o número de estudos sobre aexpressão

facial da emoção tem vindo a aumentar. Todavia, o consenso em torno dos conceitos

“emoção” e“expressão facial daemoção” ainda estámuito longe,devido,emgrandeparte,

à complexidade dos mesmos.Umdos exemplos é esta simples interrogação: as expressões

faciaisreflectemsentimentos?ousãodispositivossociais parainfluenciarosoutros? Ao fim

de mais de meio século de pesquisas sobre a expressãofacial da emoção como mecanismo

deinteracção, e apesardejásesabermuito,ocertoéqueaindahámuito adescobrir sobre a

facehumana.Desdeadécadade sessenta que o objectivodos investigadores era mensuraro

comportamentofacialecompreendera ligaçãoentreaquelee umgrupode emoções básicas.

Nosúltimosanos, ainvestigaçãotentademonstrarquenãoexisteaquelaligação,ouseja, não

sepodefalarsemprequeaexpressãofacialimpliquenecessariamente aemoção. De facto,o

motordadiscórdiaestáemsaber se a expressãofacial revela o estado psicológicode quem

a emite.Assim, as linhas de investigação apontamno sentido de a expressão facial ser um

meio e não um fim de revelação do estado psicológico. É uma parte importante de um

(41)
(42)

Os primeiros passos na cartografia da face

Ekmane Izard foramdos primeirosa identificar ea reconhecer anecessidade dese tornar os

movimentos musculares mensuráveis. Para isso, deram o seu contributo ao fundarem a

metodologiaaoserviçodaanálisedaexpressãofacialdaemoção.Osistemamaisconhecido e

mais utilizado pela comunidade científica é o Facial Action CodingSystem(FACS), criado,

em1978, por Ekmane Friesen. As expressõessão assimmen-suráveis e desenvolvem-se em

contextos específicos tendo emconta as denominadas regras de exibição. Aexpressão facial

foi, é, e será, ao longo do ciclo evolutivo, umsinal poderoso sobre o estado psicológico da

pessoa que aemite e dá preciosas informações a quema observa. Aface funciona como um

interruptor,porexemplo.Expressarecompreendersãodoisverbosqueseparamosestudiosos

da expressão facial da emo- ção. Se, por umlado, há os que defendem que a relevância do

estudo deveestaremquememiteaexpressãofacial,ocasodeEkman,háoutros que defendem

queaquelarelevância deveestar emquema compreende, o casode Fridlund.Eeste aparente

posicionamentocontraditóriosustenta asduas principaisabordagens sobre aexpressão facial

daemoção.Porexemplo,aexpressãofacialevoluiuparamoldar o comportamento dos outros,

oquesignificaserumaatitudeeminentementesocial,mesmo setal acontece quandoestão sós,

porque hásempre umdiálogocom outras pessoas, ou imaginando esse diálogo. A expressão

facial,umavezactivada,vaiafectartoda atrajectóriasocial do indivíduo.Assim,a expressão

facial da emoção é mais um instrumento ao serviço da interacção social e ocorre mais

frequentementeemsituaçõesderegrassociais, como,por exemplo, emcumprimentos.Apesar

dotalaparente posicionamentocontraditório,ocertoéqueháconcordânciaquantoaofactode

expressão facial registar afinidades com determinados estados emocionais, como sustenta

Frijda na suateorética. Outroaspecto que suscita discussão ésaber qual o lugarque ocupa o

sentimento quando se fala de expressão facial. Russell é taxativo quando afirma que a

expressão fornece pistas, mas não fornece uma informação global do estado psicológico da

(43)

ocorrernaausênciadasemoçõesqueelassupostamenterepresentam.Porém,eseécertooque

severificanas crianças,menosverdadeéassumiracríticadequemafirmaquenãohá nunca,e

sublinho o nunca, uma ligação entre a expressão facial e a emoção. Ekman explica que a

expressãofacialésempreumsinalquemotiva arespostade quema percepciona. Se a pessoa

que a percepcionanão temacesso a informação sobre o ritmo cardíaco ou outras alterações

fisioló- gicas, pensará que quem emite a cólera irá bater-lhe e não que está, de facto, com

cólera. A cólera, por exemplo, não significa necessariamente a consequência da agressão

física,masservedesinal,otalsinaldealerta quese constata.Os sinais expressos naface não

existemdissociadosdo processoneuropsicológicodaconstruçãodasemoções.

(44)

O poder da face

Leio,agora,anotícia (14) sobreoestadodesaúdedeIsabelleDinoire,a primeirapessoano

mundoareceberoprimeirotransplantedeface,em 2005,após ter sido mordida por umcão.

Segundoleio,Isabelle “pode falar,sorrir, comer.Sónão conseguedar umbeijo…”, e tal se

deve à dificuldade manifesta emexercitar o músculo orbicular,o qual, para além de outras

funções, permite que o bebé mame. É, para já, e atenuadas as normais rejeições do

transplante,aúnicadificuldadeapresentadaao níveldosmúsculos faciais. Sobre asua nova

face,Isabellediz-sefeliz porque“voltouatergrandealegriade viver”,após seismeses sem

a face. Este exemplo serve para vos falar do poder da face humana, a parte do corpo que

mais se mostra durante a vida. E as primeiras impressões são, de facto, ummecanismo de

afirmaçãodaface.Afaceéonossobilhetede identidade diário que está sempreà vista eas

primeiras impressões não são resultado apenas da imagemque o cérebro traduz ao ver a

face.Éoresultado de umprocessoneuropsicobiológico muito complexo.A informação que

a face emite pode ser incongruente. Porém, o córtex cerebral consegue decifrar, quase que

instantaneamente, quando o discurso facial traduz uma emoção que não encaixa na matriz

inata e nas regras de exibição que se aprendem no contexto social. No processo das

primeirasimpressões,fazsentidofalarempulsões.Eo movimentodosmúsculosécomoque

uma chave que temde encaixar na fechadura do córtex.Há umpadrão inato que condiciona

asprimeirasimpressõeseoqualémodelado pelas regras de exibiçãosociais. A percepção

daface,porexemplonoprocessode atracção, modera a escolha dos parceiros,argumentam

recentes pesquisas, as quais,de facto,não trazemnadade novo. Esse tipo de análise já foi

feito por Da- rwin, em 1872, epelo meu amigo Paul Ekman. E é bom nãoesquecer que se

está a falar de percepção da face. A escolha de umindivíduo em função da face pode ser

influenciadaporumavontademomentânea quenãocorresponde, de facto,àemocionalidade

real.Istoé,abusca doprazersexual,porexemplo,temorigemnasatisfaçãodeumdesejo, já

recalcado e sublimado, do que propriamente com a face em si. A face funciona como

mecanismode atracção emfunçãoda imagemque se constrói do desejoenão da impressão

que se tem da face. a face revela tudo e esse tudo pode ser nada. Explicando, pela face é

possível verificar as congruências e incongruências emocionais. Cientificamente, a face é

(45)

deve ser feitacomtodo o rigor ecuidado. Aface é umavariável moderadora na tomada da

decisão se essa decisão se sustentar mais no desejo do que na razão. Por exemplo, um

indivíduo que chora porque cometeuumerro,tal não significa que a decisão dequemo vai

penalizar seja alterada por tal conduta. A penas sucede se a decisão a tomar assentar em

pressupostos emocionais. Outro exemplo, é o choro que está catalogado como a primeira

reacçãoemocionalapósoparto.Ovalordochoroéinquestionável (em2003,argu- mentava

também sobre o valor inquestionável do sorriso humano). O choro nem sempre é um

indicadordedor,segundoinvestigação (15)feita por colegasbritânicos comautilização da

escala de avaliação de dor no recém-nascido (PIPP). A experiência foi feita com bebés

prematuros. A observação da expressão facial foi feita antes 15 e 30 segundos depois da

punção.As inúmeras investigações,no espectro das teorias emocionais, apontamque, após

o nascimento, o programa emocional vai ampliar-se e desenvolver-se em função da

realidade contextual. O primeiro ano de vida é crucial. Um dos exemplos apontados e

esclarecedores é a expressão facial da aversão emrecém-nascidos. A acidez é motivo de

reacçãofacial.Talconstato,agora,quandovejoaapresentaçãodeumtrabalhodesenvolvido

pelas minhas alunascomcrianças de dois anos e sobre a reacção a estímulos. A expressão

facial da aversão é exactamente a mesma. Outras expressões, como o medo, a cólera e a

tristeza,sãofacilmenteconstatáveisna primeira infância.Acodificação daexpressão facial

dobebé éfeita através dobabyFACS, produzido por Oster,e numa adaptação do FACS, de

EkmaneFriesen,desenvolvidoduranteadécadadesetenta.OsresultadosobtidosnoMAXe

no AFFEX, plataformas desenvolvidas por Izard nas décadas de setenta e oitenta,

respectivamente, não são concordantes com os obtidos no ba- byFACS, o que torna as

conclusõespoucosustentáveis.Acóleraéuma emoçãomuitomanifestadanoprimeiroanode

vida.Omedoéaoutra emoção.Éimportantesalientarque,noprimeiroanodevida, como se

repercutiráaolongodavida,aemoçãonãoéapenasaexpressãofacial emsi, masoutrossim

o resultado da experiência no perimundo. Durante o primeiro ano de vida, observei as

expressõesfaciaisdomeufilho Gonçalo e pudeconstar a expressividade da cólera, medo e

aversão. Muito facilmente passava de uma expressividade emocional positiva para uma

negativa.Porexemplo, a emoçãomedo é mais reconhecida pelo cérebroque outro qualquer

tipo de emoção. E tal se deve ao facto de as estruturas cerebrais estarem previamente

preparadas para reagir, de imediato, aos sinais de alarme e de perigo. Numa escala de

reconhecimento, a emoção alegria surge em último lugar no reconhecimento cerebral. As

expressões negativas implicam, por exemplo, a contracção dos músculos orbiculares dos

olhos.Quandoumacriançamanifesta dor,osolhosestãocerrados,equandomanifestacólera

osolhosestão abertos.Asexpressõesfaciais sãoidênticas,oquevaivariar,apartirde agora

e ao longodociclo vital, éo quadro de frequência e intensidade. Nos adultos, a adaptação

emocionalestámatura, enquanto na infância talnãosucede. Desdeo nascimento que o bebé

expressa as emoções e as negativas não se expressam de forma tão diferenciada e nítida

quandoestassãocomparadas,porexemplo,comaemoçãopositivaalegria. E é por issoque

a emoção é um episódio que põe, ao longo da vida, em acção os cinco subsistemas

orgânicos: a cognição, o suporte neuropsicológico, a motivação, a expressão motora e a

sensaçãosubjectiva.

(46)

Uma equação chamada felicidade

A felicidade é uma equação commuitas variáveis, disse, emJaneiro de 2008, à jornalista

Olga Teixeira (16), que me visitou no Laboratório de Expressão Facial da Emoção

(FEELab/UFP). O sorriso é apresentado mais como uma reacção de tensão do que de

satisfação. O sorriso é ummediador de tensões. A felicidade é a realização de uma ideia,

uma congruência de emoções, porque tem a ver como complexo processo decisional. E a

expressão facial é visível na tomada de decisão. A face é a parte mais visível que

apresentamos ao mundo. Por isso, é o palco da metacognição. Tudo o que se faz, no caso

concreto da tomada de uma decisão, tem reflexos na expressão facial da emoção. E tal se

nota na configuração morfo-esquelética. Os músculos da face reflectem estados

psicológicos associados a uma determinada decisão. Por exemplo, quando uma decisão é

tomada sob condicionamentos espácio-temporais, a electromiografia revela contracção

muscularintensaemvolta dos olhos enas comissuras labiaisque semovimentampara cima

e para trás. Quando a tomada de decisão implica mergulhar na emoção felicidade, a face

exibe movimentos musculares de descontracção e distensão, levando ao estado de

relaxamento. As mulheres e os homens diferem na exibição da tomada da decisão: elas

exibem expressões mais em tensão, e são mais afectivas, enquanto que eles são mais

descontraídose mais cognitivos. Por isso, a mulher põe mais afectividade nas decisões do

que os homens. A tomada de decisão é um exemplo particular que atesta a hipótese do

feedbackfacial, istoé,se o cérebro dá instruções para a exibição da face satisfeita coma

decisão,asimples exibiçãovai reforçar no cérebroa assertividadedessa mesmadecisão, e

assimpor diante, emciclo. Uma decisão que está tomada no cérebro pode ver-se na face

antes mesmode ser revelada verbalmente. Eesse é o valor inquestionável da comunicação

humana através da face– não se pode esconder nada. E quando se tenta, estamos a revelar

ainda mais. a decisão tomada: a face é a face da decisão. E, agora, a título de exemplo,

relembro, de relance, as expressões de um guitarrista no momento de uma entrevista ao

António Macedo, na RTP Antena 1, que toca, ao vivo, a guitarra portuguesa, sem fundo.

Quasequeexibeumaexpressãofacialporcadaacorde. Noto-lhe umesgar de prazer quando

(47)
(48)

O valor da amígdala

A identificação e o reconhecimento das emoções básicas (alegria, tristeza, cólera, medo,

aversão, desprezo e surpresa) através da expressão facial da emoção configuram os

desenhos das linhas de investigação. A Neuropsicofisiologia e a neuroimagem permitem

revelar os contributos do sistema límbico, da amígdala e do hipotálamo no processamento

emocional. Os trabalhos de Davidson e Irwinreforçamo valor atribuído, em particular, à

amígdalanoprocessode produção, identificaçãoe reconhecimento dos estados emocionais

associados àexpressão facial. Por exemplo, osportadores de Epilepsia do Lobo Temporal

registam dificuldades na construção emotiva, as quais são justificadas por um fluxo

bioeléctrico inconstante no complexo límbico. A verificação de uma lesão na amígdala,

como refere a literatura, vai criar dificuldades quer na produção quer na identificação e

reconhecimento da expressão facial da emoção. Estou a estudar no Laboratório de

ExpressãoFacialdaEmoção(FEELab/UFP),daFaculdadedeCiências da Saúde (FCS),da

Universidade Fernando Pessoa (UFP), as competências emocionais em crianças e adultos

portadoresdeepilepsia.Oobjectivoées- tabeleceruma comparaçãoentre a identificaçãoe

reconhecimentodas emoções básicas emadultos e emcrianças e,assim, sustentar acriação

daplataformainformáticai-Epilepsy(i-Epi),paraajudaraspessoas portadorasdeepilepsia

(comousemlesãodolobotemporal).Trata-sedemaisumestudopioneiroemPortugal e dos

poucos no mundo que envolvem, neste caso, crianças com epilepsia. O novo instrumento

resulta da investigação “A Neuropsicofisiologia das Emoções: O Efeito dos Estímulos

VisuaiseAuditivos”edalinhadeinvestigaçãoemcurso “OProcessamentodasEmoçõesem

PessoascomEpilepsia do LoboTemporal: Estudo Empírico comPortugueses comRecurso

à F-MPortugueseFace Database (F-MPF)”,plasmadas no Capítulo11.A identificação e o

reconhecimento das emoções básicas pela expressão facial são importantíssimos no

processamento das emoções e as estruturas do lobo temporal mesial são cruciais no

processamento de estados emocionais, com destaque para as conexões

amígdala-hipotálamo. Dado que uma lesão na amígdala condiciona a capacidade e competência de

identificação e reconhecimento da expressão facial de uma emoção, propõe-se com este

estudo empírico pioneiro avaliar o processamento das emoções básicas e determinar a sua

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decorrer em contexto hospitalar, será feitaatravés de ressonância magnética funcional e da

F-M Portuguese Face Database (F-MPF) (17), uma base de dados única de expressões

faciais emocionais de portugueses apresentada em 2003. Os dados sobre esta linha de

investigação foram apresentados durante a conferência “The Science of The Human Face”

que proferi, em 2010, no evento internacional SWiTCH, na Faculdade de Ciências e da

Tecnologia(FCT),daUniversidadedeCoimbra(UC).

(50)

Breve história do código

Antes de abordar o Código de Ekman,empormenor (ver Capítulo3), faz sentidoreferir, de

forma sumária, a incursão teórica sobre a filogénese e ontogénese das expressões faciais

humanas, desde as teorias de Darwin até às de Ekman. Em entrevista à revista Visão,

quando da sua primeira visita a Portugal, em Novembro de 2004, a meu convite, Ekman

disse que o sorrisoé universal e fazparte dorepertório das ex- pressões faciais inatas. Foi

Darwin,em1872,quemlançouassementes paraacompreensãoda evolução das expressões

faciais desde os primitivos, o carácter inato das expressões faciais e a interacção das

expressões faciais e processos psicológicos. O reconhecimento das emoções na exibição

facial,enquantoprocessodeevolução,nãosó decorre nas estruturas orgânicas, mastambém

naexpressividadedavivência emocional.Para Darwin,a exibiçãodas emoções éessencial

paraainteracçãosocial,umavezque,para alémda função expressiva, temtambéma função

regulativa. No espectro da comunicação não verbal, interessa-me a expressão facial da

emoção.Asemoçõessão,apesarde continuadaacesa discussão, consensualmente definidas

na literatura como reacções complexas a determinado estímulo. E foi com base na teoria

evolucionista que Ekman criou o Facial Action Coding System (FACS), o qual irei

desenvolver, em detalhe, a partir de agora e nos capítulos seguintes, identificando-o e

decifrando-o,comorecursoaalgunsexemploseimagens(verapêndice na edição publicada

em 2011),mantendoaversão americana,de 2002, e ajustando-a à língua portuguesaquando

achar oportuno. O manual (“The manual on CD ROM”) do Facial Action Coding System

(FACS), quemefoi oferecido, em2004,por EkmaneHager, é constituídopor 513 páginas.

Para já,e para que se fique a saber – a identificação e descrição das Action Units far-se-à

maisadiante–,oCódigoécomposto pelasseguintesáreas:

(51)

UpperFaceActionUnits;

ScoringUpperFaceActionUnits;

LowerFaceActionUnits-up/downActions;

LowerFaceActionUnits-horizontal Actions;

LowerFaceActionsUnits-ObliqueActions;

LowerFaceActionUnits-OrbitalActions;

MiscelaneousActionsandSuppementaryCodes;

Headandeyepositions;

Referências

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