• Nenhum resultado encontrado

Firedman_ Metodologia Da Economia Positiva Friedman

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Firedman_ Metodologia Da Economia Positiva Friedman"

Copied!
38
0
0

Texto

(1)

EDJ(;OES MUL11PUC Vol.1,

N!

3,Fevereiro,1981

John Neville Keynes, em seu adminivel The Scope and Method of Political Economy, distingue "uma ciencia positiva ... ( , ) corpo sistematizado de conheci-mentos relatlvos ao que e, de uma ciencia normativa, ou reguladora, ... ( , ) corpo sistematizado de conhecimentos em que se analisam criterios acerca do que devia ser e de uma arte ... ( , ) sistema de regras para a consecuyll'o de urn determinado objetivo"; observa que "a confusll'o entre elas e comum e tern sido a fonte de nume-rosos erros serios" e lembra a importancia de "reconhecer uma ciencia positiva au-tonoma da economia politic a" . (1 )

o

presente artigo volta-se principalmente para certos problemas de carater metodol6gico, manifestos quando se constr6i a "cic~nciapositiva autonoma" recla-mada por Keynes, e focaliza, em particular, a questll'o de como proceder a fim de decidir se uma hip6tese ou uma teoria deve ser aceita, ainda que provisoriamente, como parte do "corpo sistematizado de conhecimentos relativos ao que e". Toda-via, a confusll'o deplorada por Keynes ainda se manifesta com frequencia e impede notar que a econornia pode ser - e em parte IS - uma ciencia positiva, de modo que

• Acrescentei, no presente artigo, sem alusoes espec{ficas, a maior parte de meu breve "Co-mentario", que apareceu em Survey of Contemporary Economics, Vol. II ·(B.F. Haley, organi-zador) (Chicago, Richard D. Irwin, Inc., 1952), pp. 455-57 .

. Agrade~o, pois muito me ajudaram, os comentarlos e cr{ticas feitos por Dorothy S. Brady, Arthur F. Burns e George J. Stigler.

(1)

(tondles, Macmillan &Co., 1891), pp. 34-35 e 46. Original: "The Methodology of Positive Economics"

Reprinted from Essays in Positive Economics by Milton Friedman by permission of The University of Chicago Press. Copyright 1953 by the University of Chicago. Tradu~o: Leonidas Hegenberg.

(2)

parece oportuno prefaciar 0 artigo, juntando-lhe algumas observa~{'les a prop6sito da rela~ao que vige entre econornia positiva e econornia normativa.

I - A RELA<;AO ENTRE ECONOMIA POSITIV A E ECONOMIA NORMATIV A I

I Confundir economia positiva e economia normativa e, ate certo ponto,

inevi-tavel. Quase todos consideram os temas centrais da econornia como algo de impor-tancia vital e como algo que se coloca no ambito de sua pr6pria experiencia e com-petencia; esses temas dao origem a amplas .controversias e s[o objeto de legisla~fo frequente. Pessoas que se dizem "peritos" na materia formulam opinilSes divergen-tes e dificilmente poderiamos considera-las, todas, como pessoas desinteressadas, ou imparciais. De qualquer forma, em assuntos de tal monta, a opinifo "abalizada nao seria endossada, por ato de fe, ainda que os "peritos" concordassem entre si e fos-sem claramente imparciais. ( 1 ) As concluslSes da econornia posiuva parecem rele-vantes e sao, de fato, de relevancia imediata para diversos problemas normativos importantes, para quest{'les relativas ao que deveria ser feito e relativas ao modo pelo qual se pode atingir urn determinado objetivo. Leigos e peritos, indiferente-mente, tendem a acomodar as conclus{'les positivas aos preconceitos normativos fortemente aceitos e tendem a rejeitar essas conc!us{'les positivas quando as suas conseqtiencias normativas (ou aquilo que se presume sejam suas conseqiiencias normativas) se mostram desagradaveis.

A economia positiva independe, em tese, de qualquer posi~fo etica especial ou de juizos normativos. No dizer de Keynes, ela trata "do que e" e n[o "do que deveria ser". A tarefa dessa economia positiva e a de provar um sistema de generali-za~(jes passivel de ser utilizado para fazer previsOes corretas acerca das conseqtien-cias de qualquer altera~[o das circunstanconseqtien-cias. 0 desempenho de uma tal econornia sera ajuizado em term os da precis50 e do alcance das previs{'les e em termos do ajus-te que haja entre tais previs{'les e a experiencia. Em suma, a econornia positiva

e

ou

(1)

Quanto a isso, nada ha de peculiar nas ciencias sociais ou na Economia, como se podera consta-tar pensando na irnportlincia que adquirirem, em geral, as cren~s pessoais ou, na Medicina, os remedios caseiros, sempre que falte a evidencia obviamente convincente da opiniao dos "peri-tos", 0 prestigio e a aceita~ao de que gozani, nos dias de hoje, as conce~es dos estudiososda Fisica (seja quando se manifestam a respeito de temas de sua propria uea de especializa~o, seja - como anas, ocorre muito frequentemente - quando se pronunciam sobre temas de olJ1rU areas) derivam nao apenas da fe, mas da evidencia que as apoia, do exito de suas previsaes e du dramaticas conquistas feitas com base nos resultados que propiciam. Quando a Economia pare-ceu garantir a sua valia, na Gra-Bretanha da primeira metade do secuto XIX, com evidencia do mesmo naipe, 0prestigio e a aceita~o da "Economia cientJ1ica" puderam rivalizar com0atual prestigio das ciencias flsicas.

(3)

pode vir a ser uma ciencia "objetiva", exatamente como qualquer das ciencias fisi-cas. 0 fato de a economia considerat interrela~aes entre seres human os e de0

pes-quisador ser ele mesmo (de modo muito mais claro do que acontece nas ciencias fl· sicas), parte do assunto investigado, geram, como e obvio, dificuldades especiais, quando se cogita de alcan~ar objetividade; entretanto, esses fatos tamMm dll'o, aos cientistas sociais, certas classes de dados que nll'o estll'o ao dispor dos estudiosos que se voltam para as ciencias fisicas. Nem urn nertl outro desses dois itens, porem, permite, no meu entender, que se fa~a uma distin~ao basica entre os dois grupos de ciencias. ( 1 )

A economia normativa e a arte da economia, por sua vez, nlio podem ser in-dependentes da economia positiva. Qualquer concluslio rela'tiva a diretrizes apoia-se, obrigatoriamente, em uma previslio em tomo das conseqiiencias de proceder-se de uma forma e nlio de outra, previslio essa que precisa assentar-se - explicita ou im-plicitamente - na economia positiva. Nao existe,

e

claro, uma rela~ao um-a-um entre as conclusaes relativas a diretriJ:es a seguir e as conclusaes da economia positi-va; se uma tal rela~lio biunivoca existisse,nlio have ria lugar para uma ciencia norma-tiva autonoma. Duas pessoas podem concordar a respeito das conseqiiencias de uma legisla~ll'o especifica qualquer. Contudo, uma dessas pessoas pode achar que tais· conseqiiencias slio desejaveis, inclinando-se, pois, a aceitar a lei, ao passo que a ou-tra,julgando inaceitaveis aquelas conseqiiencias, pode deliberar opor-se a ela.

Atrevo,me a dizer, entretanto, que, presentemente, no mundo ocidentale, de modo especifico, nos Estados Unidos da America, as divergencias, entre cidadll'os imparciais, sobre as diretrizes economicas, derivam muito mais das diferen~as nas previsoes relativas as consequencias economicas de uma a~lio - diferen~as que serll'o eliminadas pelo processo da economia positiva - do que de uma fundamental diver-sific~ao dos valores. basicos - diversifica~ao em tomo da qual os homens, em Ulti-ma analise, so podem lutar. Exemplo claro e nao destituido de importancia eo da legisla~ll'o a pro,posito dos sallirios rninimos. Sob a ampla quantidade de argumentos em favor e contra essa legisla~ao esta a ideia geral de flxar urn "salario vital" para todos - segundo a terminologia ambigua que freqiientemente se usa ao discutir a questll'o. As diversas opiniaes assentam-se largamente em uma diferen~a, explicita

(1)

A intera~ao entre 0observador e0processo observado, que

e

tao marcante caracter{stica das ciencias sociais, possui, a par de urn paralelo obvio, nas ciencias fisicas, uma contraparte mais sutil no principio da indetermina~ao, que resulta da intera~ao entre 0processo de mensura~o e o fenomeno que se procura medir. Esses dois elementos possuem, ainda, uma contraparte na 16gica, a saber, 0teorema de Codel, segundo 0qual

e

impossivel construir uma logica abrangen-te e auto""luficienabrangen-te. Esta em aberto a questao de saber se todos os tIes elementos podem ser vistos como formula~es diversas de urn principio de generalidade ainda maior.

(4)

ou impli~ita, no que conceme

as

previsGes. relativas a eficacia desse particular modo de alcan~ar 0 objetivo desejado. Quem apoia a lei acredita (preve) que os sahirios minimos legais diminuem a pobreza pois elevam os vencimentos de pessoas que re-cebem menos do que 0sahirio minima, assim como os vencimentos de algumas pes-soas que recebem mais do que esse minimo, sem provocar aumento do mlmero de pessoas desempr~gadas ou com empregos piores do que os empregos que teriam sem a lei. Quem se op~e

a

lei acredita (Preve) que os salarios minimos legais aumentam a pobreza pois elevam 0mlmero de pessoas desempregadas ou com empregos piores e isso contrabalan~a, e muito, qualquer efeito favoravel que a lei poderia ter sobre os sahirios de pessoas que viessem a manter seus empregos. Acordo quanta as conse-qiiencias economicas de uma lei nao precisa, obrigatoriamente, corresponder a completo acordo a respeito da sua desejabilidade, pois

e

perfeitamente possivel haver diferen~as remanescentes no que conceme as suas conseqiiencias politicas ou sociais. Todavia, existindo acordo em tomo dos objetivos, ter-se-a dado urn largo passo em dire~ao ao consenso.

Diferen~as intimamente associadas, na analise positiva, esta'o nos alicerces de concep~~es divergentes a proposito do papel e da posi~ao dos sindicatos e a prop6-sito da desejabilidade dos con troles qiretos de pre~os e sallirios e das tarifas. Dife-rentes previsoes acerca da importancia das assim chamadas "economias de escala" explicam, amplamente, as concep~oes divergentes a respeito da desejabilidade ou da necessidade de haver pormenorizada regulamenta~ao govemamental da industria e de haver preferencia pelo socialismo em vez da a~l[o das empresas privadas. Essa lista poderia ser indefinidamente prolongada. ( 1 )Meu juizo de que as principais diferen~as em tomo de praticas economicas, no mundo ocidental, SaDdesse genero,

e,

naturalmente, ele mesmo, urn enunciado "positivo", a ser aceito OU rejeitado com base na evidencia empirica.

( 1 )

Exemplo de maior complexidade

e

0das diretrizes de estabiliza\(ao. A urn primeiro olhar, con-cep~oes divergentes a respeito desse problema parecem refletir diferen~as nos objetivos colima-dos. Acredito, porem, que essa prirneira impressao e desnorteadora e que, fundamentalmente, as concep~oes divergentes refletem, principalmente, jUlzos diversificados a propOsito da fonte de flutua~oes, na atividade economica, e do efeito de uma a~o alternativa, contraciclica. Para examinar uma importante considera~o que explica boa parte da controversia, ver "The Effects of a Full-Employment Policy on Economic Stabilitiy. A Formal Analysis", infra, pp. 117 -32. Urn summo da atual posi~o das concep~oes dos profissionais que examinam 0assunto se en-contra em "The Problem of Economic Instability", relatorio de subcomissao do "Committee on Public Issues':, da American Economic Association, American Economic Review, XI (setembro de 1950),501-38.

N.T.: nesta e em outras notas, quando 0Autor diz infra, refere-se a trechos que figuram nas demais partes (II, III e IV) de seu livro ESSAYS IN POSITIVE ECONOMICS (Chicago Press, 1953, edi~ao Phoenix, de 1966), cuja parte I, Introdu~ao, pp. 3-43, esta aqui traduzida.

(5)

Se meu juizo e valida, isso quer dizer que urn consenso acerca de diretrizes "corretas", no campo Economico, depende muito menos do progresso da Econornia normativa, propriamente dita, do que do progresso de uma Economia positiva capaz de conduzir a conclusoes que sao e merecem ser amplamente acolhidas. Quer dizer, tambem, que uma razao pondenivel para distinguir riitidamente a Econornia positiva da normativa e, justamente, a contribui~ao que por essa via se podera dar ao acordo sobrediretrizes.

o

objetivo ultimo de uma ciencia positiva e 0desenvolvimento de uma "tea-ria" ou de uma "hip6tese" capaz de produzir previs6es vatidas e significativas (ou seja, nao banais) acerca de fenomenos ainda nao observados.

Vma

tal teoria e, via de regra, uma complexa mistura de dois elementos. Em parte, e uma "linguagem", des-tinada a fomentar "metodos sistematicos e organizados de raciocinio". ( 1 ) Em parte, e urn corpo de hip6teses substantivas, elaboradas com 0objetivo de collier, por abstra~ao, aspectos essenciais da realidade complexa.

Vista como linguagem, a teoria naQ"possui conteudo substantivo; e urn con-junto de tautologias. Sua fun~ao e a de servir como sistema de arquivamento para organizar material empirico e simplificar a compreensao desse material; os criterios pelos quais sera julgada sao os que se mostram adequados para avaliar urn sistema de arquivamento. Estao as categorias definidas de modo claro e preciso? Sao elas exaustivas? Sabemos onde colocar cada qual dos itens individuais ou M certa ambi-guidade? Esta 0 sistema de Htulos e subtitulos projetado de tal maneira que se toma facil encontrar urn desejado item ou e preciso "ca~a-lo", correndo de urn lado para outro? Os itens que desejariamos considerar conjuntamente acham-se arquiva-dos uns ao lado arquiva-dos outros? 0 sistema de armazenamento contoma as elaboradas referencias cruzadas?

As respostas dadas a tais perguntas dependem, em parte, de considera~eses 16-gicas; e, em parte, de considera~oes factuais. Somente os canones da 16gica formal podem revelar se uma linguagem especifica e completa e coercnte,ou seja, se as proposi~eses da linguagem sao "certas" ou "erradas". Somente a evidencia factual, por seu tumo, pode revelar se as categorias do "sistema analitico de arquivamento" possuem urna contraparte emp~rica significativa, ou seja, se elas sao uteis para a

(l)

A frase f"mal

e

do artigo "The Present Position of Economics" (1885), de Alfred Marshall, que aparece no livro organizado por A.C. Pigou, MEMORIALS OF ALFRED MARSHALL (Lon-dres: Macmillan Co, 1925), p. 164. Ver, ainda, "The Marshallian Demand Curve", infra, pp. 56-57,90-91.

(6)

analise de particulares classes de problemas concretos. ( 1 ) 0 exemplo simples da "oferta" e da "procura" ilustra tanto esse ultimo ponto, quanta a lista precedente de questoes anal6gicas. Vistas como elementos da linguagem da teoria economica, oferta e procura sao as duas principais categorias em que se distribuem os fatores que afetam os pre~os relativos dos produtos ou os fatores de produ~[o. A utilidade da dicotomia de pen de da "generaliza~[o empirica segundo a qual urna enumera~[o das for~as que influem sobre a demanda, em qualquer problema, e das for~as que afetam a oferta, conduz a duas listas que tern poucos itens em comum." ( 2 ) Ora, essa generaliza~ao

e

legitima para mere ados como 0mercado final para urn hem de consumo. Em tal mercado hli clara e precisa diferen~a entre as unidades economic as passiveis de se verem contempladas como relativas

a

demanda do produto e as pas-siveis de se verem contempladas como relativas

a

oferta desse produto. Raramente paira duvida sobre se urn fator especifico deve ser classificado como fator que, de urn lado, afeta a oferta ou como fator que, de outro lado, afeta a demanda; e rara-mente hli necessidade de considerar efeitos cruzados (referencias cruzadas) entre as duas categorias. Em tais casos, 0simples e mesmo 6bvio arquivamento dos fatores relevantes sob os titulos "oferta" e "demanda" representa grande simplific~[o do problema e se tom a maneira efetiva de contomar falacias que, de outra forma, ten-deriam a manifestar-se. Mas a generaliza~ao nao

e

sempre legitima. Nll'o vale, por exemplo, para as flutua~oes diarias dos pre~os, em urn mercado primacialmente especulativo. Pode urn boato a respeito de aumento de imposto sobre'lucros exces-sivos, por exemplo, ser visto como fator que opera primordialmente na oferta de a~oes das empresas, no mercado do dia? Ou sera visto como fator que opera na pro-cura? Quase todos os fatores, alias, podem ser colocados sob 0titulo "oferta" ou, com justificativa similar, sob 0 titulo "procura". Os conceitos, porem, ainda s[o passive is de usa e nao se mostram inteiramente despropositados; ainda s[o "certos", embora, e claro, menos uteis do que 0seriam no primeiro exemplo - porque lhes falta, agora, uma contraparte empirica significativa.

Vista como corpo de hip6teses substantivas, a teoria sera julgada pelo seu poder preditivo, relativamente

a

classe de fenomenos que ela pretende "explicar". Tao-somente a evidencia factual podera mostrar se a teoria e "certa" ou "errada", isto

e,

se ela sera provisoriamente "aceita" ~omo valida ou "rejeitada". 0 unico teste relevante para a validade de uma hip6tese - ponto em que me deterei mais longamente abaixo - e a compara~ao das suas previs<5escom a experiencia. A

hip6-(1)

Ver "Lange on Price Flexibility and Employment: A Methodological Criticism", infn, pp.

282-89.

(2 )

(7)

tese e rejeitada quando suas previsoes sao contraditadas ("com freqiiencia" ou mais assiduamente do que as previsoes oriundas de hip6tese altemativa).

E

aceita quando suas previsoes nao sao contraditadas e tanto maior confian~a desperta quanta maior o numero de oportunidades em que poderia ter-se visto contraditada. A evidencia factual jamais "prova" uma hip6tese; pode, apenas, deixar de refutli-Ia e e isso,jus-tamente, 0que se entende ao dizer, de maneira urn tanto inexata, que uma hip6tese foi "confirmada" pela experiencia.

A fim de evitar confusoes, cabe notar, explicitamente, que as "previsoes" pelas quais se submete a teste a validade de uma hip6tese nao precisam dizer respei-to a fen6menos que ainda nao ocorreram, ou seja, nao precisam ser vaticinios a proposito de eventos futuros. Podem dizer respeito a fen6menos ja ocorridos, mas sem que observa~oes ace rea deles tivessem sido registradas, ou a fen6menos desco-nhecidos para a pessoa que faz as previsoes. Exemplificando,.uma hip6tese pode implicar que tal ou qual evento - face a certas outras circunstancias - deve ter ocorrido em 1906. Se uma pesquisa de registros hist6ricos revel a que 0even to ocor-reu, de fato, a previsao esta confirmada; se revela, ao contrario, que 0evento nao ocorreu, a previsao esta contraditada.

A validade de uma hipotese, no sentido agora elucidado, n[o e, por si mesma, urn criterio suficiente para a escolha de uma dentre varias hip6teses viaveis. 0 nu-mero de fatos observados e invariavelmente finito, ao passo que 0numero de hip6-teses po!>siveis e infmito. Se ha uma hip6tese compativel com a evidencia disponi-vel, entao havera sempre urn numero infinito de hip6teses igualmente compativeis com essa evidencia. ( 1 )Imagine-se, para exemplificar, que urn imposto de consu-mo de urn artigo acarrete aumento de pre~o desse mesconsu-mo artigo - e que 0aumento seja igual ao imposto. Isso e compativel com as condi~oes competitivas, uma curva estavel de demanda e uma curva estavel e horizontal de oferta. Mas tambem e com-pativel com as condi~oes competitivas e uma curva de oferta de declividade positiva ou negativa, com 0exigi do deslocamento de compensa~ao efetuado seja na curva de demanda, seja na curva de oferta. Tambem e compativel com as condi~oes monopo-listicas, os custos marginais constantes e uma curva estavel de demanda, com a con-figura~[o especifica requerida para produzir esse resultado. E assim por diante, indefinidamente. Novas evidencias, com as quais a hip6tese devera mostrar-se com-pativel, poderao, e certo, eliminar algumas das possibilidades; mas nao poderao elimina-Ias todas e delimitar uma unica possibilidade, capaz de revelar-se

compati-( 1 )

A restri"ao

e

necessaria porque a "evidencia" pode mostrar-se internamente contradit6ria, de modo a inexistir hip6tese compativel com ela. Vcr, ainda, "Lange on Price Flexibility and Employment", infra, pp. 282-83.

(8)

vel com a evidencia finita. A escolha de uma das hip6teses possiveis - todas

igualmente compativeis com a evidencia disponivel -

M de ~r, ate certo

ponto, arbitrana, embora se reconhe~a, em geral, que entre as considera~ijes

relevantes a ter em conta estejam os crit6rios de "simplicidade"

(e

de

"fe-cundidade" - n~ijes que, todavia, desafiam caracteriz~lI'o completanlente

obje-tiva. Diz-se que uma teoria e .tanto mais "simples" quanto menor

0

numero de

conhecimentos iniciais que requer para pennitir previs~es, num dado campo de

fenomenos; diz-se que e mais "fecunda" se as previs~s resultantes slI'omais

pre-cisas, se a area em que a teoria permite as previsijese mais ampla e se

0

numero de

linhas de investiga~lfo sugeridas e maior.)A completude 16gica e a .coerencia

16gica slfo relevantes, mas desempenham papel subsidiano, assegurando que a

hip6tese afirma

0

que se pretende seja por ela afirmado e

0

afirme de maneira

anaIoga para todos os seus usuarios. Completude e coerencia atuam, aqui,

exata-mente como atuam, nas computa~ijes estatisticas, as verifiC~ijes de acuidade

aritmetica.

Infelizmente, porem, e raro podermos submeter a teste as previ~s

particula-res, nas ciencias sociais, valendo-nos de experimentos especificamente prOjetados

com

0

fito de eliminar as influencias pertubadoras consideradas de maior

importan-cia. Em geral, precisamos confiar na evidencia recolhida em "experimentos" que,

simplesmente, ocorrem. A dificuldade de realizar os chamados "experimentos

con-trolados" nao corresponde, no meu entender, a uma distin~ao que se deva

estabele-cer entre ciencias sociais e ciencias fisicas; com efeito, nao so a dificuldade e

co-mum as duas areas (cogite-se da Astronomia, por exemplo) como, a par disso, urna

presurnivel diferen~a entre experimentos controladOs e experiencias

nlfo-controla-das

e,

quando muito, uma diferen~a de grau. Nenhurn experimento pode ser

com-pletamente controlado e qualquer experiencia

e

parcialmente controlada - no

sen-tido de que algumas influencias pertubadoras se mantem relativamente constantes

na experiencia.

A evidencia oferecida pela experiencia e abundante e, muitas vezes, tlio

con-cludente como

0

seria a evidencia recolhida por meio de experimentos planejados.

Segue-se que a impossibilidade de realizar experimentos nao e obstaculo

fundamen-tal para submeter a teste uma hipotese, empregando, para isso,

0

exito de suas

pre-visoes. Todavia, essa evidencia fornecida pela experiencia e bem mais dificil de

in-terpretar do que a recolhida em experimentos, porque sempre se mostra indireta e

incompleta e, em geral, se revela complexa. A coleta dessa evidencia e, via de regra,

muito ardua e sua interpret~ao exige anaIises sutis e cadeias de complicados

racio-cinios, que poucas vezes sao efetivamente convincentes.

A

Econornia se nega a

evi-dencia dramatica e direta do experimento "crucial",

0

que gera entraves para

0

(9)

posto

a

tentativa de alcan~ar nipido e amplo consenso a respeito das conc1us~es jus-tificadas pela evidencia acessivel. Assim, torna-se lento e difici10processo de elimi-n~ll'o de hipoteses malogradas, que raramente desaparecem e sempre voltam a ser contempladas.

Ha, e certo, muita varia~ll'o no que concerne a esses temas. Qcasionalmente, a experiencia nos fomece evidencias tll'o diretas, dramaticas e convincentes quanto as que nos poderiam ser apresentadas pelos experimentos controlados. 0 exemplo mais obviamente importante seria, talvez, 0 da evidencia que a infl~ll'o nos da a respeito da hipotese de que urn apreciavel aumento da quantidade de moeda, em' urn periodo relativamente breve, corresponde a urn substancial aumento dos pre~os dos generos. Aevidencia, nesse cas~ e dramatica e a cadeia de raciocinio exigida para interpreta-la e relativamente breve. Sem embargo, apesar dos numerosos casos de aumento substancial dos pre~os, de sua correspondencia urn-a~urn com 0

aurnento das quantias de moeda e da ampla varia~ll'o de outras circunstancias que possam parecer relevantes, cada nova experiencia da infla~ao levanta controversias calorosas (nll'o apenas junto aos leigos, cumpre frisar), afirmando-se ou que 0 au-mento da quantidade de moeda e efeito acidental de uma eleva~ll'o de pre~os, decor-rente de outros fatores, ou que esse aurnento do estoque de moeda nll'o passa de fortUito e desnecessano fenomeno, concomitante ao do aumento de pre~os.

Uma conseqiiencia da dificuldade que cerca 0teste de hipoteses economic as substantivas tern sido a fuga para 0terreno das analises puramente formais e tauto-logicas. ( 1 ) Como ja foi obseIVado, as tautologias ocupam urn importante lugar na . Economia e em outras ciencias, pois sll'Qparte de uma linguagem especializada,ou seja, constituem urn "sistema analitico de armazenamento". A par disso, a logica e a matematica, tambem tautologicas, sao recursos essenciais para a verifica~ll'o da cor-re~ll'o dos raciocinios, para a descoberta das implica~oes das hipoteses e para a anali-se de hipoteanali-ses supostamente diferentes - com 0fito de saber se,afmal, nll'o passam de hipoteses equivalentes ou se sll'o realmente diversas, com a correspondente de-termina~ll'o das diferen~as.

Mas a teoria economica deve ser mais do que uma estrutura de tautologias -se pretende predizer as con-seqiiencias de nossas a~oes, -sem limitar--se a descrever tais conseqiiencias, ou seja, se pretende ser mais do que matematica disfar~ada. ( 2 ) A utilidade das tautologias depende, em Ultima instancia, como ja se ressaltou acima,

(1)

Ver0mesmo artigo, nota anterior, passim.

(2 )

Ver, tambem, Milton Friedman e L. J. Savage, "The Expected Utility Hypothesis and the Measurability of Utility", Journal of Political Economy, LX (Dezembro, 1952),463-94, esp. pp.565-67.

(10)

da aceitabilidade de hip6teses substantivas, capazes de sugerir as particulares

catego-rias em que se distribuem os refratarios fenomenos empiricos.

Efeito mais serio, provocado pela dificuldade de submeter a teste as hip6teses

economicas atraves de suas previsoes, e 0 deela facilitar 0 surgimento de

mal:-enten-didos acerca do papel da evidencia empirica no trabalho te6rico. A evidencia

empi-rica e vital em duas fases diversas, embora intimamente associadas: na fase de

elabo-ra~ao das hip6teses e na do teste de sua validade. Ampla e abrilhgente evidencia

acerca dos fenomenos de uma hip6tese tratara de generalizar e "explicar", alem de

possuir uma importancia 6bvia, como veicu10 para formul~li'o de novaship6teses,

e

indispensavel para assegurar que a hip6tese explica 0 que pretende expIicar -

OU

seja, para garantir que suas implica~ijes, no que conceme aiais fenomenos, nfo

este-jam de antemao contraditadas pela experiencia anterior. (

1 )

Supondo que a

hip6-(1)

Nos Ultimos anos, alguns economistas, partic~ente os do grupo lig~do

a

"Cowles Commi-ssion for Research in Economics", da Universidade de Chicago; enfatizaram a divisiO desse passo (de sele~ao de hip6tese compatlvel com a evidencia conhecida) em duas fases: em primei-ro lugar, a sele~o de um conjunto de hip6teses admisslveis, retiradas da classe de todas as hip6-teses posslveis (0 que corresponde

a

escolha de urn "modelo", de acordo coma terminologia adotada); e, em segundo lugar, a escolha de UJila hip6tese, dentre as admisSlveis (a escolha de urna "estrutura"). Essa reparti~o pode ser heuristicamente valiosa em alguns tipos de trabalho, especialmente quando se trata de aperfei~ar 0uso sistematico de teorias e de evidencias esta-tisticas ja existentes. De urn 3ngulo metodol6gico, porem, temos urna divisiio inteiramente arbi-trana do processo de sel~o de uma especlfica hip6tese, divisi'o que esta em pe de igualdade com Wrlas outras divis5es igualmente convenientes para este ou aquele prop6sito ou que satis-fazem certas necessidades psicol6gicas dos investigadores.

Uma conse~iienci8 dessa particular divisiio foi a de que deu origem ao chamado problema "da identifica~o". Como se observou acima, se uma hip6tese e compativel com a evidencia existen-te, M um nlimero inimito de hip6teses que tambem se mostrariio compattveis com a mesma evidencia. Embora, contudo, isso valha para a classe de hip6teses, como um todo, pode nao valer para a subclasse obtida pela primeira das duas fases acima descritas - a da escolha do "modelo".

:e

posslvel que a evidencia a empregar com0fito de selecionar a hip6tese f'mal (par-Undo da subclasse) seja compatlvel com umad;1s hip6teses (da subclasse), caso em que0 mode-10 esta "identificado"i de outra forma, diz-se que omodelo "nao foiidentificado". Depreende--se dessa maneira de descrever 0 conceito de "identifica!llio" que estamos diante de urn caso especial do problema geral de escolha de hip6teses igualmente compattveis com a evidencia -urn problema que sera resolvido por meio de a1gum principio arbitrano como, digamos, 0da navalha de Ocam. A consider~ao de duas lases, na sele~o de urna hip6tese, faz com que esse problema geral se manifeste duplamente, em cada qual dessasfases, dando-lhe uma conf'JgUIll~o especial. Embora a classe de todas as hip6teses permane~, invariavelmente, nao identificada, a subclasse do "modelo" talvez possa ser identificada, de modo que se apresenta a questao de conhecei as condi~es a que 0"modelo" deve satisfazer para ver-se identificado. Conql1anto a considera~o das duas fases seja muito litil, em alguns contextos; ela gera0perigo de haver dois criterios diferentes, inadvertidamente empregados para realizar 0 mesmo tipo de e:scolha de

(11)

tese e compativel com a evidencia existente, os testes ulteriores dessa hip6tese

en-volver[o deduzir, tomando·a como premissa, fatos novos, passiveis de observ~li'o,

mas n[o previamente conhecidos, e comparar tais fatos deduzidos com evidencia

empirica 'adicional. Para que urn tal teste se mostre relevante, os fatos deduzidos

devem dizer respeito a classe de fenomenos que a hip6tese procura explanar; a par

disso, eles devem estar suficientemente hem defmidos de modo a possibilitar que.a

observa~[o possa revelar-lhesa falsidade.

As duas fases (de elabora~ao de hip6teses e de teste de sua validade)

relacio-nam·se por ·duas vias diversas. Em primeiro lugar, os fatos particulares considerados

em cada fase, s[o, em parte, urna acidental consequencia da maneira de coligir

dados e dos conhecimentos de l:ada investigador. Os fatos que servir[g para

subme-ter a teste a hip6tese, por meio de suas implic~l>es, poderiam, perfeitamente, si·

tuar-se no material bruto empregado para formular a hip6tese - e reciprocamente.

Em segundo lugar,

0

processo jamais tern inicio na estaca zero; a chamada "fase

inicial" envolve'~sempre, compar~ao

da observa~ao com as implica~l>esde urn

previo conjunto de hipoteses. Contradi~l>esque ai se apresentam sli'ourn estimulo

para a elabora~ao de novas hip6teses ou para a revisao das mais antigas. Segue-se

que as duas fases, metodologicamente distintas, andam, em verdade, lado a lado.

Mal-entendidos a prop6sito desse processo aparentemente simples devem-sea

frase "classe de fenomenos que a hip6tese pretende explicar". A dificuldade, nas

ciencias sociais, de obter evidencia n·ovapara essa classe de fenonenos e de avaliar

sua adequ~ao (com respeito as implica~()esda hip6tese) toma tentadora a ideia de

que outra evidencia, de acesso mais direto,se mostre igualmente relevante para a

validade da hip6tese. Toma, em outras palavras, tentadora a ideia de que as

hip6te-ses admitem nli'o apenas "implica~t'5es",mas, ainda, "pressupostos" e de que a

adequa~li'odestes a "realidade" e urn teste de validade da hip6tese, que difere do

teste pelas impIica~()esou a ele se adiciona. Essa conce~ao, amplamente advogada,

e

fundamentalmente erronea e causa de nurnerosos danos. Longe de fomecer meio

mais flicitpara joeirar as hip6teses, separando as vaIidas das nli'o-vaIidas,a conce~ao

apenas obscurece a questli'o, provoca

0

surgimento de mal-entendidos em tome do

significado da evidencia empirica para a teoria economica, desvia boa parte do

hip6teses, cada qual deles utilizado numa das fases em que se desdobra 0passo generico de

sele~o.

A respeito desse enfoque metodo16gico geral, discutido na presente nota, ver Tryvge Haavelmo, "The Probability Approach in Econometrics", Econometrica, Vol. XII (1944), Suplemento; Jacob Marschak, "Economic Structure, Path, Policy, and Predication", American Economic Review, XXXVII (Maio, 1947), 81-84;e "Statistic8l1nference in Economics: An Introduc-tion", em T.C. Koopmans (organizador), STATISTICAL INFERENCE IN DYNAMIC ECO-NOMIC MODELS.

(12)

esfor~o intelectual dos que desejam

0

desenvolvimento de uma Economia positiva e

bloqueia urn consenso quanta as hipoteses preliminares que devam figurar nessa

disciplina.

Na medida em que se possa dizer existirem "pressupostos" de uma teoria e na

medida em que seu "realismo" seja passivel de julgamento, independentemente da

validade de previsoos, a rela~aoentre a importincia de urna teoria e

0

"realismo" de

seus "pressupostos"

e

praticamente

0

oposto do que sugere a conce~lo sob critica.

Hip6teses verdadeiramente importantes tern "pressupostos" que nlo passam de

extravagantes e nlo-acuradas represent~oos descritivas da realidade. Via de regra,

quanta mais significativauma teoria, tanto mais nao-realistas (neste sentido) os seus

pressupostos. (

1 )

A razao

e

simples. Vma hipotese

e

importante quando "explica"

muito com base em pouco, ou seja, quando esta em condi~6es de delimitar, por

abs~lo,

partindo da massa de circunstancias complexas e pormenorizadas que

cercam

0

fenomeno a explicar, uma classe de elementos comuns e fundamentais,

formulando previS6esvli.lidascujo alicerce

e,

just~ente,

apenas essa classe de ele·

mentos cruciais. Consequentemente, para que seja importante, uma hip6tese deve

ser descritivamente falsa em seus pressupostos. Ignora e deixa de explanar vlirias

circunstancias presentes, cuja irrelevancia para

0

fenomenoem

tela decorre do

pr6prio exito da teoria.

A ~un de apresentar esse ponto de maneira menos paradoxal, note·se que a

pergunta relevante a fazer, ao cogitar dos "pressupostos" de uma teoria, nlo diz

respeito ao seu "realismo" descritivo fja que os pressupostos jamais sao descritiva·

mente "realistas"), mas ao fato de se mostrarem ou nlo aproxima~6es suficiente·

mente boas, tendo em conta os objetivos colimados. E essa pergunta sOpoderli.ser

respondida verificando se a teoria "funciona", ou seja, se conduz a previs6eSbastan·

te acuradas. Os dois testes, supostamente independentes, reduzem·se, portanto, a

urn teste unico.

A teoria da competi~ilo monopolista e imperfeita

e

urn exemplo do descaso

com que

880

tratadas essas proposi~oos, na teoria economica. 0 desenvolvimento

desse tipo de anlilise foi explicitamente estimulado - e a aceita~ao e a aprova~ao

que recebeu tambem

880

amplamente explicadas - pelo fato de acreditar·se que os

pressupostos da "concorrencia perfeita" ou do "monop6lio perfeito", subjacentes,

segundo se diz, a teoria economica neoclli.ssica,nos oferecern uma falsa imagem da

realidade. Essa cren~a assentava·se, por sua vez, quase inteiramente, na inocuidade

descritiva dos pressupostos, diretamente percebida, em vez de assentar-se em

(1)

Nao vale,

e

claro, a reciproca dessa proposi~o: pressupostos nao-realistas (neste sentido) nao garantem que a teoria seja significativa.

(13)

qualquer reconhecida contradi~§'o em previs~s deduzidas da teoria econoIDlca

neocllissica. Exemplo ainda mais claro do ponto em tela, embora muito menos

importante, 6 fomecido pela prolixa discuss§'oem tomo da anaIisemarginal,

publi-cada, ha alguns anos, na American Economic Review. Os artigos, de defensores ou

de oponentes, olvidam

0

que me parece a clara quest§'oprincipal - a concordancia

das implica~~s da analise marginal com a experiencia - e debatem pontos

irrele-vantes, procurando saber se os homens de neg6cios chegam

as

suas decis~s

consul-tando programas, ou cuevas ou fun~~s multivariadas que exibam custo marginal e

receita marginal. (

1 )

Espero que esses dois exemplos (e outros que eles

prontamen-te sugerem) se presprontamen-tem para justificar a id6ia de fazer-se, aqui, uma discuss§'oampla

dos principios metodol6gicos pertinentes - uma discuss§'oque, de outra forma,

poderia parecer descabida.

(1)

Ver R. A. Lester, "Shortcomings of Marginal Analysis for Wage Employment Problems", American Economic Review, XXXVI (Mar~o, 1946),62-82; Fritz Machlup, "Marginal Analysis and Empirical Research", American Economic Review, XXXVI (Setembro, 1946), 519-54; R. A. Lester, "Marginalism, Minimum Wages, and Labor Markets", American Economic Review, XXXVII (Mar~o, 1947), 135-48; Fritz Machlup, "Rejoider to an Antimarginalist", American Economic Review, XXXVII (Mar~o, 1947), 148-54; G. J. Stigler, "Professor Lester and the Marginalist", American Economic Review, XXXVII (Mar~o, 1947), 154-57; H. M. Oliver, Jr., "Marginal Theory and Business Behavior", American Economic Review, XXXVII (Junho, 1947), 375-83; R. A. Gordon, "Short-Period Price Determination in Theory and Practice", American Economic Review, XXXVIII (Junho, 1948), 265-88.

Cabe notar que Lester, alem de referir-5e a MOS assuntos que se relacionam a validade dos "pressupostos", na teoria marginal, tambem se,refere

i

evidencia que diz respeito a conformi-dade da experiencia com as implica~es da teoria. Cita, alias, como exemplos em qqe lalta essa conformidade, 0modo pelo qual 0emprego reagiu, na Alemanha, ao plano Papen e, nos

Esta-dos UniEsta-dos da America, as altera~es havidas na legisla~ao a respeito dos saIarios m{nimos. Contudo, 0bteve comentarlo de Stigler eo unico, dentre os demais artigos, em que hli alusao a tal evidencia. Cumpre notar, ainda, que nao deve ser ignorada a completa e cuidadosa exposi~o de Machlup, relativa a estrutura 16gica e ao significado da teoria marginal, porque 0artigo de Lester, ao debater 0tema, estli sensivelmente prejudicado por v3ri.os mal-entendidos que quase chegam a ocultar a evidencia ali apresentada, relevante para 0assunto examinado. Entretanto, Machlup, enfatizando a estrutura 16gica, chega perigosamente perto do ponto de apresentar a teoria como se fosse mera tautologia ...;.embora esteja claro, emMOS pontos, que ele tern

COilS-ciencia do perigo e estli ansioso por evitli-Io. Os artigos de Oliver e de Gordon sao extremados, concentrando-5e exclusivamente na questao da conformidade do comportamento de homens de neg6cios com os "pressupostos" da teoria.

(14)

III - PODE UMA HIPOTESE SUBMETER-SE

A

TESTE PEW REALISMO DE SEUS PRESSUPOSTOS?

Principiemos com urn exemplo fisico simples, 0da lei da queda dos corpos. Aceita-se a hipotes de acordo com a qual a acelera~ao g, de urn corpo que cai no vacuo, e constante, na Terra, com valor aproximado de trinta e dois pes por segun-do (ou seja, 9,8 metros po~ segunsegun-do), e independe da forma do corpo, da maneira pela qual tomba,. etc. Isso acarreta cf\le a distancia percorrida por urn corpo, em queda livre, em qualquer intervalo especificado de tempo, sera dada pela formula s

= (

1/2 ) gt2, on de sea distancia percorrida (em pes ou em metros) e t

e

0

tempo (em segundos). Aplicar a formula ao caso de uma esfera compacta, deixada cair do telhado de urn edificio, equivale a dizer que a esfera se comporta como se estivesse caindo no vacuo. Submeter a teste a hipotese por meio de pressupostos significaria, presumivelmente, medir a pressao real do ar para decidir se seu valor esta ou nfo pr6ximo de zero. Ao nivel do mar, a pressao do ar e de aproximada-mente 15 libras por centimetro quadrado (ou seja, de 6,75 kgf por cm2). Estaria esse numero suficientemente proximo de zero para que a diferen~a fosse julgada destituida de importancia? Aparentemente sim, pois 0tempo real que a esfera s6li-da leva para atingir 0solo esta bem proximo do tempo indicado pel a formula. Ima-gine-se, porem, que em vez da esfera compacta se lance, do alto do edificio, uma pena. A f6rmula conduz, entao, a resultados exageradamente inacurados. Assim, aquele numero (15, no caso de libras, ou 6,75, no caso dos kgf) e significativamente diferente de zero para apena, mas nao para a esfera compacta. Suponha-se que a formula se veja aplicada a uma esfera deixada cair de urn aviao, a trinta mil pes (ou seja, a quase dez mil metros) de altitude. A pressao do ar, nessa altura, e decidida-mente menor do que 6,75 kgf por centimetro quadrado. Sem embargo, 0tempo real de queda, de dez para sete mil metros de altitude (quando a pressao do ar ainda e muito menor do que a pressao ao nivel do mar), difere consideravelmente do tempo dado pela f6rmula - muito mais apreciavelmente do que 0tempo gasto pela

esfera em sua queda do alto do edificio para 0solo. De acordo com a f6rmula, a velocidade da esfera deveria ser gt e deveria, pois, crescer continuadamente. Na verdade, porem, uma esfera deixada caii de dez mil metros de altura atinge a sua velocidade maxima bem antes de chegar ao solo. 0 mesmo acontece com respeito a outras conseqtiencias da formula.

A questao inicial - a de saber se quinze esta ou nao suficientemente pr6ximo de zero para que a diferen~a possa ver-se desprezada - e, portanto, uma questao meio tola. Quinze libras por centimetro quadrado equiparam-se a 2.160 libras por pe quadrado ou a 0.0075 toneladas por polegada quadrada. Nao dispomos de meios que autorizem considerar tais numeros "pequenos" ou "grandes", se nos falta urn

(15)

padnlo exterior de comparayao. E0unico padrao relevante de comparayao e a

pres-sac do ar, relativamente

a

qual a f6rmula "funciona" ou nao, em urn dado conjunto de circunstancias. Isso, porem, levanta a mesma questao, em urn segundo nivel. Que significaria "funciona ou nao"? Ainda que pudessemos eliminar os erros de mensu-rayao, 0tempo de queda, efetivamente medido, dificilmente (ou nunca) se igualaria

ao tempo fornecido pel a f6rmula. Quao grande deveria ser a diferenya entre esses dois valores para ver-se justificada a afir~ao de que "a teoria nao funciona"? Para responder a esta pergunta ha dois importantes padroes exteriores de comparayao. Urn deles seria a acuidade passivel de ser alcanyada por uma teoria altemativa, igualmente aceitavel, com a qual a teoria em pauta fosse confrontada. 0 outro padrao manifesta-se quando existe uma teoria que sabidamente conduz a previsoes mais satisfatorias, mas com maior custo. Os ganhos decorrentes da maior acuidade (e que dependem dos objetivos perseguidos) precisam, nesse caso, ver-se compara-dos com os mais elevacompara-dos custos de sua obtenyao.

o

exemplo ilustra, a urn tempo, a impossibilidade de submeter a teste uma teoria pel os seus pressupostos e a ambiguidade do conceito de "pressupostos de uma teoria". A formula s= (1/2) 9t2 vale para corpos que caem no vacuo e se deriva da analise do comportamento de corpos que caem no vacuo. Cabe dizer, entao, que, em variada gama de circunstancias, os corpos que tombam na atmosfera real se comportam como se estivessem caindo no vacuo. Em linguagem muito usada na Economia, isso traduzir-se-ia, de imediato em: a formula pressupoe 0vacuo. Mas

e

claro que assim nao acontece. 0 que ela verdadeiramente assevera e isto: em muitos casos, a existencia da pressao atmosferica, a forma do corpo, 0nome da pessoa que 0 deixa cair, 0 tipo de mecanismo pelo qual se provoca a sua queda e variadas outras circunstancias presentes deixam de ter efeito apreciavel sobre a distancia que 0 corpo, em sua queda, percorre durante urn especificado intervalo de tempo. A hip6tese pode ser facilmente refraseada, de maneira a omitir qualquer alusao ao vacuo: em ampla gama de condiyoes, a distancia percorrida por urn corpo, em queda livre, num especificado intervalo de tempo, e dado pel a f6rmula s

=

(1/2) 9t2. Deixando de lade a historia dessa formula e a teoria fisica

a

qual se acha associada, tern sentido afirmar que ela pressupoe 0vacuo? Ate onde me

e

dado

saber, ha varios outros conjuntos de circunstancias que poderiam conduzir

a

mesma f6rmula. Ela

e

acolhida porque funciona e nao porque vivamos em urn vacuo apro-ximado - seja qual for 0significado disso.

o

problema importante, em conexao com a hip6tese, e 0 de especificar as circunstiincias em que a f6rmula funciona; mais precisamente,

e

0 de indicar a magnitude geral dos erros que se apresentam em suas previsoes, sob variadas condi-yoes. Em verdade - como esta implicito no refraseamento da hip6tese, linhas acima - nao se tern essa indicay30 da magnitude dos erros, de urn lado, e a propria

(16)

hipo-tese, de outro lado, como coisas diversas. A indica9ao e parte essencial da hip6hipo-tese, uma parte que tendeni a sofrer revisoes e a ampliar-se, na medida em que a expe-riencia vier a acumular-se.

No caso especifico da queda dos corpos, ha uma teoria mais geral, embora ainda incompleta, esb09ada em fun9ao de tentativas de explicar os erros da teoria simples. Essa teoria geral permite avaliar a influencia de alguns fatores de pertuba-9ao e dela se deduz, como caso particular, a teoria simplificada. Entretanto, nao convem usar sempre a teoria generalizada, pois a acuidade adicional que permite nao justifica, via de regra, 0 custo adicional de seu emprego. Permanece, pois, como questao importante, a de saber em que condi90es a teoria simples funciona "sufi-cientemente bem". A pressao do ar e uma - e somente uma - das variaveis que definem tais condi90es; ao lado de outras, sao, tambem, relevantes a forma do corpo e a velocidade atingida. Vma das maneiras de interpretar essas variaveis -diversas da pressao do ar - consiste em encara-Ias como fatores que determinam se e significativo ou nao urn particular afastamento com_respeito ao "pressuposto" do vacuo. Exemplificando, pode-se dizer que a diferen9a de formas dos corpos torn a as quinze libras por polegada quadrada significativamente distantes de zero, no caso da pena, mas nao significativamente distantes de zero, no caso da esfera compacta, deixada cair de moderada altura. Esse enunciado, porem, deve ser nitidamente dis-tinguido de outro, muito diverso, segundo 0 qual a teoria nao vige, no caso da pena, porque seus pressupostos sao falsos. A rela9ao relevante e exatamente a oposta: os pressupostos sao falsos, no caso da pena, porque a teoria nao funciona. Este ponto deve ser enfatizado pois os "pressupostos" sao usados, de maneira perfeitamente correta, a fim de especificar as circunstancias em que a teoria nao vige, mas nao, como erroneamente se admite, com freqiiencia, a fim de determinar aquelas cir-cunstancias - 0 que tern sido, importante fonte de cren9a em que uma teoria possa ver-se submetida a testes pelos seus pressupostos.

Consideremos, agora, outro exemplo, concebido com 0 fito de apresentar-se como ancilogo de muitas hip6teses que surgem em ciencias sociais. Cogitemos da densidade das folhas em uma arvore. Sugiro, como hip6tese, que as folhas se posi-cionam como se cada qual delas procurasse, deliberadamente, maximizar a quanti-dade de luz solar que recebe, tendo em conta 0 posicionamento de folhas vizinhas; como se cada qual delas conhecesse as leis fisicas responsaveis pela quantidade de luz incidente em varios pontos e pudesse mover-se rapida ou instantaneamente de urn ponto dado para qualquer outro ponto nao ocupado. ( 1 ) Ora, algumas das

(1)

Embora esteexemplo tenha origem independente, e similar a urn exemplo usado por Armen A. Alchian, em "Uncertainty, Evolution, and Economic Theory", Journal of Political Economy, LVIII ( Junho, 1950), pp. 211-21. Boa por¢o da discussao subsequente, embora tambem tenha origem independente, acompanha as linhas da discussao de Alchian.

(17)

mais 6bvias implicayoos dessa hip6tese mostram-se perfeitamente compativeis com a experiencia. Exemplificativamente (considerando, e claro, 0 que ocorre nos Estados Unidos da America), a densidade das folhas e maior no lado suI do que no lado norte das arvores, embora isso nlio ocorra ou ocorra de modo menos patente, como a hip6tese implica, em en costas de m~mtes, voltadas para 0 norte, ou quando 0 lado suI das arvores, por alguma razlio,

esteja na sombra. Deve a hip6tese tornar-se inaceitavel porque, ate onde sabemos, as folhas nlio "deliberam" nem exibem comportamento consciente, nlio freqiientaram escolas para aprender as relevantes leis cientificas ou as tecnicas matematicas necessarias para a determinaylio de posiyoes "6timas" e n[o s[o capazes de mover-se de urn ponto para outro? Nenhuma dessas form as de contra-ditar a hip6tese e vitalmente relevante; os fen6menos envolvidos n[o se acham na "classe de fen6menos que a hip6tese pretende explanar". A hipotese n[o afirma que as folhas fayam tudo aquilo que foi men cion ado acima; limita-se a asseverar que a densidade se apresenta como se as folhas fizessem 0que foi dito. Em que pese a aparente falsidade dos seus "pressupostos", a hipotese e muito plausivel, dado 0

acordo entre suas implica~oes e0observado. Tendemos a "explicar" a sua validade com base em que a luz solar contribui para 0desenvolvimento das folhas e que, por conseguinte, elas se acumulam ou se mantem, em maior numero, nos locais em que ha mais sol. Assim, 0 resultado decorrente de adaptay[o puramente passiva as circunstiincias exteriores coincide com 0 resultado que decorreria de acomoday[o

deliberada a tais circunstiincias. A hip6tese altemativa

e

mais atraente do que a concebida, mas n[o porque seus "pressupostos" seja:t;l "realistas" e sim porque ela e parte de uma teoria de maior generalidade, aplicavel a uma variedade maior de fen6menos, de que 0 posicionamento de folhas, numa arvore, e apenas urn caso particular, teoria que admite maior numero de implicayoes passiveis de se verem refutadas e que n[o foi contraditada, em ampla gama de condi~oes. A evidencia direta para 0 crescimento das folhas esta, pois, refor~ada pela evidencia indireta que deflui de outros fen6menos a que essa teoria geral se aplica.

A hipotese concebida so

e

presumivelmente valida (ou seja: conduz a previsoes "suficientemente" acuradas, relativas a densidade das folhas) para uma classe restrita de circunstiincias. Niio sei quais seriam estas circunstiincias e nem como defini-Ias. Parece 6bvio, entretanto, que os "pressupostos" da teoria, neste exemplo, nlio tern qualquer papel na sua determinay[o. 0 tipo da arvore, as caracteristicas do solo, etc., sao as variaveis que, provavelmente, definirlio 0 iimbito de validade da teoria - validade que nao dependera da capacidade matematica das folhas, nem da possibilidade de elas se moverem de urn para outro ponto.

(18)

Savage e eu discutimos, em outro local, (1 )urn exemplo similar, porem rela-tivo ao comportamento humano. Consideremos 0problema de determinar (prever) os pontos feitos por urn eximio jogador de bilhar. Nlio parece descabido supor. que excelentes previsOes seriam obtidas a partir da hipotese de que 0jogador executa as tacadas como se conhecesse as complicadas formulas matematicas pelas quais fica-riam fixadas as trajetorias otimas, fosse capaz, de relance, de fazer estimativas acu-radas sobre os angulos e demais elementos que descrevem as posi~lles relativas das bolas, estivesse apto, usando as formulas,

a

realizar caIculos em fra~lles de segundos; e como se pudesse fazer com que as bolas se movessem ao longo das trajetorias indi-cadas pelas formulas: A confian~a que depositamos em tal hipotese nao provem da cren~a em que jogadores de bilhar, ainda que eximios, possam atravessar ou atraves-sem, de fato, as fases do processo descrito; provem, ao contrario, da cren~a em que as pessoas, se nao atingissem, de alguma forma, os mesmos resultados praticos, deixariam de ser eximios jogadores de bilhar.

Urn pequeno passo nos leva do afirmado nos exemplos ao que se afirma na hipotese da Economia segundo a qual, em ampla gama de circunstancias, as firmas (individualmente consideradas), atuam como se estivessem tratando, racionalmente, de maximizar seus esperados rendimentos (ou "lucros", segundo a terminologia usual, urn tanto desnorteadora) ( 2 ) e tivessem cabal conhecimento dos dados

(1)

Milton Friedman e L. J. Savage, "The Utility Analysis of Choices Involving Risk", Journal of Political Economy, LVI (Agosto, 1948), p. 298. Reimpresso no livro READINGS IN PRICE THEORY, organizado pela American Economic Association (Chicago, Richard D. Irwin, Inc., 1952),pp.57-96.

(2 )

Parece apropriado 0usa do termo "lucros" para aludir Iidiferenlia entre resultados reOOse "es-perados", entre recebimentos ex post e ex ante. Como sublinha Alehian (op. cit., p. 212), acompanhando Tintner, os "lucros" sao frutos de incerteza e nao podem, portanto, ver-se, de modo deliberado, antecipadamente maximizados. Face Iiincerteza, os indivlduos e as frrmas escolhem uma dentre varias antecipadas distribuiliOes de probabilidade, relativas aos recebimen-tos ou rendas. 0 conteudo especifico de uma teoria da escolha de uma de tais distribuil(c5es depende de criterios que permitam hierarquiza-las. Uma hip6tese e a de que devam ser hierar-quizadas segundo a expectativa matematica da utilidade que a elas se associa (cf. Friedman e Savage, "The Expected-Utility Hypothesis and the Measurability of Utility",\op. cit.). Caso especial dessa hip6tese, ou alternativa para ela, hierarquiza as distribuil(c5es de probabilidades segundo a expectativa matematica das rendas em dinheiro associadas a elas. Esta ultima alterna-tiva

e,

possivelmente, mais facil de apliCar (e moos freqiientemente aplicada) ao caso de f'rrmas do que ao caso de indivlduos. 0 termo "rendas esperadas" sera entendido de modo suficiente-mente amplo para poder abranger qualquer dessas opl(c5es.

Os temas a que se faz referencia na presente nota nilo silo fundamentOOs, cogitando-se das ques-toes metodologicas em tela, de modo que se vem contornados, em geral, nas discussOes subs-seqiientes.

(19)

indispensaveis para aIcanyar hito nessa empreitada; como se - dito de outro modo - conhecessem as relevantes funyoes de demanda e de custo, calculassem custos marginais e rendimentos marginais associados a todas as opyoes possiveis, relativas as ayoes a tomar, e considerassem cada qual dessas linhas de ac;ao, prolon-gando-as ate fazer com que os custos marginais se identificassem aos rendimentos marginais. Ora, e claro que os homens de negocios nao resolvem, na realidade, Iite-ralmente falando 0 sistema de equayoes em que 0economista-matematico

conden-sa aquela hipotese - exatamente como as folhas e os jogadores de bilhar tamoom nao executam complicados caIculos matematicos, ou os corpos em queda nao deci-dem criar 0vacuo. Se perguntarrnos ao jogador de bilhar como escolhe 0ponto da bola em que da a tacada, ele podera responder que "simplesmente da uma calcula· da", embora nao deixe de apertar um pe de coelho, para ter sorte. 0 homem de negocios podera dizer, por sua vez, que fixa preyos em termos de custos medios, permitindo, e claro, alguns desvios, quando 0 mercado 0exige. A resposta do

joga-dor

e

tao "esclarecedora" quanta a do homem de negocios e nenhuma das afirrna· yoes se constitui em teste relevante para a hipotese correlata.

A confianya que possamos ter na hipotese da maximizayao dos rendimentos justifica·se por evidencia de genero bem diverso. Essa evidencia

e,

pelo menos, em parte, semelhante

it

que se utiliza para apoiar a hipotese do jogador de bilhar: se0

comportamento dos homens de negocios nao se assemelhasse, de algum modo, a urn comportamento compativel com a maximizayao dos rendimentos, parece improva-vel que esses homens viessem a ficar por tempo longo no ramo dos negocios. Supo-nhamos haver um determinante imediato aparente para 0comportamento

negocia-dor - 0 habito, 0 acaso ou qualquer outro fator. Sempre que esse determinante conduz a um comportamento compativel com a maximizayao bem informada e racional dos rendimentos, os negocios prosperam e propiciam recursos para haver expansao; caso contrario, os negocios tendem a produzir perda 'de recursos e so poderao manter-se com auxilio de reservas provenientes de fora. 0 processo de "selec;ao natural" ajuda-nos, pois, a validar a hipotese; em outras palavras, admitida a seleyao natural, a aceitayao da hipotese pode assentar-se, largamente, na ideia de que ela sumaria, apropriadamente, as condiyoes de sobrevivencia.

Evidencia de maior importancia, em favor da hipotese da maximizayao dos rendimentos, provem da experiencia colhida em numerosas aplicayoes da hipotese a problemas especificos - e a reiterada verificayao de que suas implicay5es deixaram de se ver contraditadas. Dificlmente se documentara uma tal evidencia, que se acha espalhada em numerosos memorandos, artigos e monografias cuja preocupayao principal nao era a de submeter aquela hipotese a teste mas a de resolver especfficos problemas concretos. Ainda assim, a hipotese tern, a sustenta-Ia, um testemunho indireto e muito forte: 0 seu continuado emprego e a constante acolhida que

(20)

mere-ceu, por muitos anos - a que se associa a inexistencia de qualquer teoria rival

cae-rente, nao auto-contraditoria, capaz de ver-se desenvolvida e tambem amplamente aceita. A evidencia em

favor

de uma hipotese resulta, sempre, de falhas nas tentati-vas feitas no sentido de contradita-Ia; essa evidencia acumula-se enquanto a hipotese e utilizada e, por sua propria natureza, nao pode ser facilmente documentada de maneira abrangente. rende, pois, a tornar-se parte da tradiyao e do fold ore de ilma ciencia, revelada atraves da tenacidade com que as hipoteses sao defendidas e nao atraves de listas explicitas de casos em que deixaram de ver-se contraditadas.

Ate aqui, nossas condusoes relativas ao significado dos "pressupostos" 'de uma teoria foram quase todos negativos: vimos que uma teoria n[o pode ser subme-tida a teste pelo "realismo" de seus "pressupostos" e que 0proprio conceito de "pressuposto" de uma teoria esta cercado de ambigiiidades. Se isso resurnisse tudo, seria dificil explicar 0amplo uso desse conceito e a tendencia que todos temos de falar dos pressupostos de uma teoria, e de compara-Ios com os pressupostos de teorias alternativas. Ha muita fumaya presente para que inexista 0fogo.

Na metodologia, tal como na ciencia positiva, os enunciados negativos s[o formulados, em geral, com maior confianya do que os enunciados afirmativos. Ex-plica-se, pois, porque tenho menos confianya em minhas proximas observayoes, relativas ao significado e ao papel dos "pressupostos", do que nas observayoes pre-cedentes. Ate on de me e dado ver, os "pressupostos de uma teoria" desempenham tres papeis positivos diversos, embora relacionados: a) sao, freqiientemente, modo economico de descrever ou de apresentar uma teoria; b) facilitam, algumas vezes,0

teste indireto da hipotese e de suas impliayoes; e c) slfo, algumas vezes, como se notou acima, urn meio conveniente de especificar as condiyoes sob as quais se espe-ra seja valida a teoria. Os dois primeiros itens requerem discuss[o mais pormeno-rizada.

o

exemplo das folhas ilustra 0primeiro papel dos pressupostos. Em vez de dizer que as folhas tendem a maximizar a luz solar recebida, poderiamos formular uma hipotese equivalente, destituida de pressupostos aparentes, sob a forma de lima lista de regras que perrnitissem predizer a densidade das folhas: se uma arvore esta em urn plano, sem que outras arvores ou· outros objetos impeyam a chegada dos raios solares, entao a densidade das folhas tendera a ter tais e quais peculiaridades; se uma arvore se acha na encosta de urn morro, cercada por diversas outras arvores

(21)

similares, entao ... ; e assim por diante. Esta e, claramente, uma forma bem menos econ6mica de apresentayao da hipotese do que 0enunciado simples segundo 0qual as folhas tendem a maximizar os raios solares que cad a qual delas recebe. Este Ulti-mo enunciado e, na verdade, simples sumario das regras que comp<5em a lista acima - mesmo que esta fosse indefinidamente prolongada - pois indica, ao mesmo tem-po, como determinar as caracteristicas ambientais importantes para 0 particular problema em tela e como avaliar seus efeitos. 0 enunciado e mais compacto e, ainda, nao menos abrangente do que a lista.

Do modo mais geral, uma hipotese, ou teoria, consiste de uma asseryao de que certas foryas se mostram importantes - e, por implicayao, de que certas foryas nao sao importantes - para uma particular classe de fen6menos e de uma especificayao de- como atuam as foryas declaradas importantes. Podemos encarar a hipotese como algo que envolve dois elementos: 0primeiro e urn mundo conceptual, ou urn

mode-10abstrato, mais simples do que "0 mundo real", contendo apenas aquelas foryas que a hipotese da como importantes; 0 segundo e urn conjunto de regras que

defi-nem a classe de fen6menos relativamente aos quais 0"modelo" se tom a adequada representayao do "mundo real", e que, a par disso, especificam a correspondencia entre variaveis ou entidades do modelo e fatos observaveis.

Esses dois elementos tern caracteristicas bem diversas. 0 modelo e abstrato e completo; e uma "algebra", ou uma "logic a" . A matematica e a logica formal ai desempenham seus apropriados papeis e se prestam para verificar a completude e a coerencia do modelo e para explorar as suas conseqiiencias. No modelo nao ha espayo nem papel a dar a vagiiidade, aos "talvez" ou as aproximayoos. A pressao do ar no vacuo e igual a zero, nao "pequena"; a curva de demanda de urn produto, relativamente a urn produto competitivo, e horizontal (tern declividade zero) e nao

"quase horizontal".

As regras que govemam 0uso do modelo, de outra parte, nunca sao abstratas e completas. Precisam ser concretas e, conseqiientemente, incompletas - pois a completude so e viavel em urn mundo conceptual, nao no "mundo real", seja qual for a maneira de entende-lo. 0 modelo e a corporificayao logic a da meia-verdade "Nada ha de novo sob 0sol"; as regras de aplicayao do modelo nao podem, por sua vez, ignorar a igualdade significativa meia-verdade "A Historia jamais se repete". Em apreciavel margem, as regras podem ser explicitamente formuladas - mais facilmen-te, mas, ainda assim, nao de maneira completa, quando a teoria e parte de outra teoria de maior generalidade (como acontece no exemplo da queda dos corpos no vacuo). Tentando tomar "objetiva" uma ciencia, nosso alvo deve ser0de formular as regras explicitamente, na medida do possivel, alargando, continuadamente, 0

ambito dos fen6menos para os quais essa possibilidade se apresente. Seja qual for, porem, 0 exito dessa tentativa, sempre sobra algum espayo para 0 born senso, no

(22)

momenta de aplic~[o das regras. Cada ocorrencia tern tray os tipicos proprios, n[o abrangidos pelas regras explicitadas. A capacidade de 60pesar esses tra~os para saber se devem ser desprezados aU n[o e saber se afetam ou· n[o a forma de associar fenomenos obsemiveis a certas entidades do modelo, e algo que nao se ensina -algo que so se aprende pela experiencia e mediante contato com a "correta" atmos-fera cientifica, mas nunca adotando procedimentos rotineiros. Neste ponto e que 0 "amador" se separa do "profissional", em qualquer ciencia; e por ele passa a linha divis6ria, muito fina, que separa 0 "vigarista'" do cientista.

Urn exemplo simples servini, talvez, para esclarecer a quest[o. A Geometria Euclidiana e urn modelo abstrato, logicamente compl~to e coerente. Suas entidades s[o definidas de maneira precisa: uma reta nao e uma figura cujo comprimento e "muito" maior do que a largura ou aespessura; e uma figura geometrica de exten-s[o zero e largura zero. Uma figura que tambem e, obviamente, "n[o-realista". Nao ha, na "realidade", coisas como os pontos, as retas ou as superficies de Euclides. Apliquemos esse modelo abstrato a Urn sinal deixado, no quadro negro, pelo giz.

0

sinal identifica-se a uma curva euclidiana, a uma superficie euclidiana ou a urn soli-do euclidiano? Sera apropriadamente equiparado a uma'linha ~ 0 empregamos para representar, digamos, uma curva de demanda. Mas podera ser assim entendido se 0 empregarmos para colorir urn mapa, ao delimitar paises, porque jamais chegariamos a cobrir de cores as regioes se 0 sinal fosse visto como curva. Para esse fim, e preciso equiparar 0 sinal a uma superficie. Essa maneira de encara-Io, todavia, esta afastada das cogitayoes do fabricante de giz; de fato, isso acarretaria que 0 giz n[o chegaria a ser usado porque, para esse novo fim, 0 sinal deve ser identificado a urn volume. Neste exemplo simples, os juizos emitidos despertam acordo generalizado. Entre-tanto, e claro que tais juizos - em que pese a viavel formulaya'o de considerayoes amplas que os norteiam - nunca chegam IIatingir cabal abrangencia para dar conta de cada caso possivel. Esta-lhes vedado 0 carater de coerencia e autosuficiencia que e tipico da Geometria Euclidiana.

Discorrendo a respeito dos "pressupostos cruciais" de uma teoria, procura-mbS, segundo penso, enunciar os elementos-chaves do modelo abstrato. Ha, via de regra, muitos modos diversos de descrever completamente 0 modelo - varios con-juntos de "postulados" que tanto implicam quanta s[o implicados pelo modelo,

contemplado como urn todo. Os modos s[o logicamente equivalentes: elementos que vemos como axiomas ou postulados de urn modelo, em uma perspectiva, podem surgir como teoremas, em outra perspectiva - e reciprocamente. Os especi-ficos "pressupostos" chamados "cruciais" s[o selecionados com base em convenien-cias, tendo em conta questoes como a da simplicidade ou da economia, na descriy[o do modelo, da plausibilidade intuitiva e da capacida'de de sugerir mesmo que t[o--somente por implicayao) algumas considerayoes que se mostrem relevantes para

(23)

Quando se formula uma hipotese, parece obvia, em geral, a tare fa de separar, nessa formulayao, os enunciados que correspondem aos pressupostos dos enuncia-dos que aludem as implicayoes. Entretanto, nao e facil distinguir, de modo rigoroso, esses dais tipos de enunciados, pais a distinyao, segundo penso, nao e urn trayo da hipotese, como tal, mas da maneira de emprega-Ia. Se assim acontece, a facilidade de classificayao dos enunciados deve refletir ausencia de ambigtiidade no alvo que a hipotese deve atingir. A possibilidade de haver troca de axiomas por tearemas - e vice-versa - num modelo abstrato, acarreta a possibilidade de troca de "pressupos-tos" por "implicayoes" - e vice-versa - em hipoteses substantivas associadas ao modelo. Nao significa isso que qualquer implicaylto possa ver-se intercambiada com qualquer pressuposto; significa, apenas, que pode haver mais de urn conjunto de enunciados de que os demais decorram.

Exemplificando, considere-se uma proposiyao particular, na teoria do com-portamento oligopolista. Se admitirmos que ( a) os empresarios procuram maximi-zar seus rendimentos por quaisquer vias, inclusive par meio de aquisiyao ou de am-pliayao do poder monopolista, isso acarretara que ( b ) as empresarios, quando a demanda por urn "produto" e geograficamente instavel, os custos de transporte sao apreciaveis, os acordos quanta a prey as slto ilegais e 0numero de produtores do referido artigo e relativamente pequeno, tenderlto a fixar sistemas de prey os de ponto-de-referencia. ( 1 ) A afirmaylto ( a ) e vista como pressuposto e ( b ) como implicayao, pois, aceitamos que a analise tern par objetivo a previsao do comporta-menta do mercado. 0 pressuposto sera considerado aceitavel se concluirmos que as condiyoes especificadas em ( b ) se associam, em geral, ao apreyamento de ponto-de--referencia e reciprocamente. Alteremos 0 objetivo; ele

e

0de identificar aqueles casos em que vale a pena instaurar urn processo judicial assentado na lei anti-truste, de Sherman, pela qual se prOlbe "ajuste fraudulento para atentado ao livre comer-cio". Se admitirmos, entlto, que ( c ) 0apreyamento de ponto-de-referencia

e

artifi-cio deliberado, com 0 proposito de facilitar a coluslto, nas condiytks indicadas em ( b ), isso acarretara que ( d ) os empresarios que participam de uma tatica de apreyamento de ponto-de-referencia estarao ligados a urn "ajuste fraudulento para aten-tado ao livre comercio". 0 que era urn pressuposto, na verslto anterior, passa a

(1)

Ver George J. Stigler, "A Theory of Delivered Price Systems", American Economic Review, XXXIX (Dezembro, 1949), 1143-57.

(24)

ser uma implica9li'0, nesta segunda versli'o - e reciprocamente. 0 pressuposto ( c ) sera dado como valido se concluirmos que, tendo os empresarios adotado urn siste-ma de apre9amento do ponto-de-referencia, existe, comumente, evidencia adicional - sob a forma de cartas, memorandos, ou coisa anaIoga - de que estamos diante do que as cortes de justi9a encarariam como "ajuste fraudulento para atentado ao livre comercio"

Imaginemos que a hip6tese funciona, tendo em vista 0primeiro objetivo, ou seja,o da previsao do comportamento do mercado. Nao deflui dai, claramente, que ela funciona quando se tern em vista 0 segundo objetivo, ou seja, 0de prever se existe ou deixa de existir evidencia da presen9a de urn "ajuste fraudulento para atentado ao livre comercio" a justificar uma a9ao judicial. Reciprocamente, se a hip6tese funciona com respeito ao segundo objetivo, nao deflui, dai que ha de funcionar com respeito ao primeiro. T6davia, faltandoevidencia adicional, 0exito da hip6tese em urn caso - explicando uma classe de fen6menos - toma maior a confian9a que nela depositamos ao cogitar de outro caso - explicando outra classe de fen6menos.

E

dificil, todavia, dosar esse au~ento de confian9a, pois ele depende de qUaD intimamente julguemos estarem relacionadas as duas classes de fen6menos o que, por sua vez, depende, em intricada maneira, de tipos anaIogos de evidencia indireta - ou seja, de experiencia que possamos ter, em outras areas, de como uma dada teoria esta em condi90es de explicar fen6menos que, em certo sentido, se mostram "similarmente diversos".

Apresentando 0mesmo ponto em"perspectiva mais geral, 0que denominamos

pressupostos de uma hip6tese presta-se para dar-nos alguma evidencia indireta rela-tiva

a

aceitabilidade da hip6tese, na medida em que os pressupostos possam ver-se, eles mesmos, considerados como implica9t'5es da hip6tese (de modo que seu acordo com a fealidade seja uma forma de nao contraditar algumas implica90es) ou na medida em que os pressupostos lembrem outras implica9t'5es da mesma hipotese, susceptiveis de observa9ao causal empirica. ( 1 ) A razao que toma indireta essa evidencia e a seguinte: os pressupostos ou as implica9t'5es correspondentes referem--se, via de regra, a uma classe de fen6menos que difere da classe que a hipotese pre-tende explanar; em verdade, como se deixou indicado acima, ai esta 0principal

criterio de que lan9amos mao ao decidir quais os enunciados que consideraremos "pressupostos" e quais os que consideraremos "implica90es".

0

peso associado a essa evidencia indireta depende de qUaD irltimamente julguemos estarem relaciona-das as duas classes de fenomenos.

(1)

Ver Friedman e Savage, "The Expected-Utility Hypothesis and the Measurability of Utility", op. cit., pp. 466-67, em que se acha outro exemplo especial desse tipo de teste.

Referências

Documentos relacionados

A série de tabelas a seguir mostra como os atributos gênero-estado conjugal e cor- origem dos chefes de domicílio variavam de acordo com o tamanho das posses de

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários

CARTOGRAMAS (Mapas Temáticos)– em geral, os cartogramas são definidos como mapas sobre os quais são inseridas informações qualitativas ou quantitativas. Os cartogramas

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

Os métodos estatísticos para análise de dados podem ser classificados como métodos descritivos (Estatística descritiva) e métodos inferenciais (Estatística

Jorge, por culpas de solicitar mulheres, maneira canónica de dizer que as apalpava e fornicava, decerto começando na palavra do confessionário e terminando no acto recato da

2 No caso do controlo de grupo, estabeleça as ligações elétricas do controlo remoto com a unidade principal quando ligar ao sistema de operação simultânea (as ligações elétricas

Essa inclusão da família em tempo integral, no ambiente hospitalar, e sua participação no cuidado com a criança têm desencadeado novas formas de or- ganizar a assistência à