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Pinto, Henrique- Uma vida ao Violão - Biografia e Artigos

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Academic year: 2021

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Henrique Pinto – Uma vida ao Violão

Enviado por Violão Brasil em (16/04/2007)

Hoje acima do bem e do mau, um dos grandes ícones ditatas da nossa história. Com o título de “Notório Saber”, expedido pelo MEC, dentre outros vários títulos, Henrique tem a humildade ao seu lado como uma das suas qualidades,“uma pessoa super humilde de

lidar” ouvi de meu professor que o conheceu pessoalmente. Se o assunto for violão, basta dizer HP. Gostaria de convidá-los a ler um

pouco de sua biografia seguida de uma entrevista á revista concerto em 1999.

B I O G R A F I A

Como formação musical inicia com Sérgio Scarpiello, estudando sucessivamente com Manoel São Marcos, Isaias Sávio, Carlos Barbosa Lima, José Thomaz (Santiago de Compostela-Espanha) e Abel Carlevaro (Uruguai); harmonia, contraponto, análise e interpretação com Guido Santórsola e Mario Ficarelli.

Sua trajetória como professor é bastante intensa, tendo ministrado aulas na: Fundação das Artes de São Caetano do Sul, Conservatório Musical Brooklim Paulista. Posteriormente recebe o título de “Notório Saber”, expedido pelo MEC, por seu currículo como concertista e camerista, passando a lecionar em faculdades, como: Instituto Normal de Música, Faculdade Mozarteum de São Paulo, e São Judas Tadeu.

Hoje leciona da FAAM-FMU, Escola Municipal de Música, Faculdade Cantareira e particularmente. É convidado a lecionar em cursos de férias, tais como: Porto Alegre, Montenegro e Vale Veneto, Caxias do Sul e Foz do Iguaçu (PR) Joinville, Brusque e Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Brasília (DF), Campos de Jordão (SP), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Campo Grande (MS), Belém (PA), Vitória (ES), Medellim (Colômbia), Cochabamba e La Paz (Bolívia), Santo Tirso e Aveiro (Portugal) e Koblenz (Alemanha).

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Tem editado uma série de trabalhos didáticos pela Ricordi Brasileira. Seu “Ciranda das Seis Cordas” foi reeditado na Itália e é utilizado em escolas de música de vários paises da Europa. Como integrante do “Violão-Câmara-Trio”, lançou em 1.989 um LP, que foi comentado pelo maestro Júlio Medaglia como “…..um dos melhores discos de música instrumental do ano”.

Coordenou cursos de técnica e interpretação violonística na Faculdade Mozarteum de São Paulo e Conservatório Musical Brooklim Paulista. Hoje é organizador dos concursos e Seminários de Violão do Conservatório Souza Lima. Tem participado como membro-presidente de Bancas Examinadoras para seleção de docentes universitários-cadeira de violão.

Organiza e coordena a série de recitais “Projeto-Violão no MASP”. Foi articulista da revista Cover Guitarra (Brasil) e Guitarreando (Portugal) e atualmente escreve para Guitar Player do Brasil e Violão Intercâmbio. É membro da Academia Paulista de Música, ocupando a cadeira que pertenceu ao professor Isaias Sávio. É integrante do “Violão-Câmara-Trio”, e do duo com cello “Violãocellando” Faz parte do Conselho da Academia de Violão da cidade Koblenz (Alemanha).

HP POR ELE MESMO EM ENTREVISTA Á REVISTA CONCERTO EM 1999

Iniciei meus estudos de música no Conservatório Musical Heitor Villa-Lobos, onde tive aulas de violão com o professor Sergio Scarpiello, depois passei a estudar com o professor Manoel São Marcos, continuando com Isaias Savio, Carlos Barbosa Lima, José Thomaz (Santiago de Compostela-Espanha) e Abel Carlevaro (Uruguai).

Fiz estudos de harmonia, contraponto e análise com Guido Santorsola e Mario Ficarelli. Me formei no Conservatório Musical Alexandre Levy, onde também lecionei e tive meu primeiro contato com o ensino do violão.

Todos os professores foram importantes, cada um tem uma particularidade na sua maneira de ensinar, mas destaco Isaias Savio e Abel Carlevaro. Savio pelo incentivo, sempre nos colocava ? tocar, dando motivo para o estudo ter um objetivo e Abel Carlevaro pôr sua forma científica, tendo em cada movimento uma razão de ser, a técnica como um todo físico, desde ? maneira de sentar até os movimentos mais sutis da mecânica do violão, seu trabalho com a memória muscular é rico em minúcias, abrangendo técnica e música como um todo indissociável.

Através de Carlevaro conheci toda a possibilidade do violão como um instrumento de uma variedade tímbrica rica, foi a passagem para um novo estágio de meu desenvolvimento musical. Outro professor marcante foi Guido Santórsola, hoje falecido, seu conceito de interpretação e trabalho técnico, aprender a ouvir em detalhes toda nota dando seu real valor temporal e expressivo, uma experiência que também enriqueceu minha formação como intérprete e professor.

A forma simples e direta como ponderava sobre música, foi uma das grandes aquisições que obtive para meu trabalho como professor. Com Mario Ficarelli que trabalhei harmonia, contraponto e análise, compreendi definitivamente este aspecto da música. Comecei a dar aulas aos 14 anos.

Sempre fui muito curioso para saber a razão de ser do desenvolvimento de cada aluno, na época usei todos os métodos existentes, foram eles nacionais ou estrangeiros, para saber o que funcionava melhor, o que tinha uma sequência mais lógica e didática e dava resultados mais concretos. Como tinha muitos alunos eu praticava esta experiência como se fosse um laboratório, que mais tarde foi muito útil para eu criar meu próprio método.

Sempre organizei recitais de alunos desde o inicio de minha carreira, e também série de concertos, e esta forma de estímulo, da valorização do trabalho do estudante sempre foi o que alavancou sua vontade de realizar o melhor que podia em determinado momento de sua carreira.

Posso chamar de afetividade a mola propulsora do ensino, quando você tem um objetivo seu energético é maior e o estímulo é canalizado para sua realização final, que no caso do artista é a apresentação, assim todo trabalho técnico e musical é abreviado e o resultado é mais pleno.

Quem trabalhava na Editora Ricordi era o professor Isaias Savio, mas quando de seu falecimento, os diretores me chamaram para ocupar seu cargo, fiquei feliz pôr esta esperada oportunidade e comecei com meus primeiros trabalhos. O primeiro foi o “Técnica da Mão Direita”, depois veio o “Iniciação ao Violão”, “Curso Progressivo do Violão” e “Ciranda das Seis Cordas”. Fiquei surpreso da aceitação que teve em quase todas escolas do Brasil.

O “Ciranda das Seis Cordas”, foi reeditado na Itália e soube que vários países da Europa usam este trabalho e isto me deixa muito lisonjeado. Atualmente estou terminando o “Iniciação ao Violão-Volume II”, que é um complemento e fica como intermediário entre o “Iniciação” e “Curso Progressivo”, que sairá ainda este ano. Outro trabalho que tenho desenvolvido é um livro de “Harmonia

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Aplicada ao Violão”, que acoplo harmonia tradicional e funcional, iria substituir os tradicionais livros que são usados para serem realizados no piano.

Acredito que será bastante útil para o estudante do violão espero que saia o próximo ano. Tenho viajado muito para lecionar, fui duas vezes ? Medelin (Colombia) e várias para Cochabamba (Bolívia), nesta cidade toquei o Concerto de Vivaldi para dois violões e orquestra (originalmente é para dois bandolins) com o violonista boliviano Fabricio Gallegos, e com este mesmo violonista já fiz tourne em vários cidades da Bolívia tocando em duo, inclusive tocamos em La Paz.

O ano passado estive em Santo Tirso (Portugal), como convidado para participar representando a revista “Guitar Player” do Brasil e Guitarreando de (Portugal), nas quais sou articulista, que participou grandes figuras do violão como: Leo Brouwer, Abel Carlevaro, David Russell, Roberto Aussell e outros de igual porte.

Este ano fui convidado para participar do Festival de Aveiro (Portugal) como professor e para fazer uma palestra sobre o violão erudito brasileiro. No Brasil já participei dos Festivais de Londrina, Porto alegre, Montenegro, Vale Veneto, Curitiba, Foz do Iguaçu, Joinville, Brusque, Florianópolis, Goiânia, Brasília, Campos de Jordão, Salvador, João Pessoa, Campos Grande. Belém, Vitória e Juiz de Fora. Atualmente coordeno o Concurso de Violão do Conservatório Souza Lima e seu Curso de Técnica e Interpretação Violonística.

O “Projeto-Violão no MASP” já está em seu 8º ano, e é uma importante série de recitais, reunindo concertistas já consagrados com jovens talentos, sempre é uma sequencia de 10 apresentações em sábados consecutivos. Leciono na Escola Municipal de Música, FAAM (Faculdades Integradas Alcântara Machado) e também particularmente. Tenho um duo, formado há 3 anos, com a violoncelista Gretchen Miller, iremos tocar no Festival de Juiz de Fora, e tocamos regularmente em São Paulo e outros estados e pretendemos num futuro próximo gravar um CD.

Gosto muito de tocar com os alunos em duo ou trio de violões e faço este trabalho regularmente na Escola Municipal de Música Quanto aos alunos, hoje eles tem mais referências com discos, literatura, professores que tem uma formação mais sólida, seu desenvolvimento é mais rápido pôr vivenciar um leque de informações maior que na época que iniciei a estudar violão.

Existem os concursos, que são estimulantes, maior número de oportunidades para apresentações, bolsas de estudos para fora do Brasil para mestrado e doutorado, enfim, uma quantidade de canais para uma profissionalização do violonista, Hoje o violão é aceito como um instrumento tão nobre como um instrumento de orquestra , mas já foi o tempo que tocar violão não seria uma boa escolha musical.

Como formação musical inicia com Sérgio Scarpiello, estudando sucessivamente com Manoel São Marcos, Isaias Sávio, Carlos Barbosa Lima, José Thomaz (Santiago de Compostela-Espanha) e Abel Carlevaro (Uruguai); harmonia, contraponto, análise e interpretação com Guido Santórsola e Mario Ficarelli.

Sua trajetória como professor é bastante intensa, tendo ministrado aulas na: Fundação das Artes de São Caetano do Sul, Conservatório Musical Brooklim Paulista. Posteriormente recebe o título de "Notório Saber", expedido pelo MEC, por seu currículo como concertista e camerista, passando a lecionar em faculdades, como: Instituto Normal de Música, Faculdade Mozarteum de São Paulo, e São Judas Tadeu. Hoje leciona da FAAM-FMU, Escola Municipal de Música, Faculdade Cantareira e particularmente.

? convidado a lecionar em cursos de férias, tais como: Porto Alegre, Montenegro e Vale Veneto, Caxias do Sul e Foz do Iguaçu (PR) Joinville, Brusque e Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Brasília (DF), Campos de Jordão (SP), Salvador (BA), João Pessoa (PB), Campo Grande (MS), Belém (PA), Jaraguá do Sul (SC), Vitória (ES), Medellim (Colômbia), Cochabamba e La Paz (Bolívia), Santo Tirso e Aveiro (Portugal), Koblenz (Alemanha), Tucson (EUA) e Bogotá (Colômbia). Tem editado uma série de trabalhos didáticos pela Ricordi Brasileira. Seu "Ciranda das Seis Cordas" foi reeditado na Itália e é utilizado em escolas de música de vários paises da Europa. Como integrante do "Violão-Câmara-Trio", lançou em 1.989 um LP, que foi comentado pelo maestro Júlio Medaglia como "...um dos melhores discos de música instrumental do ano".

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Conservatório Musical Brooklim Paulista. Hoje ? organizador dos concursos e Seminários de Violão do Conservatório Souza Lima.

Tem participado como membro-presidente de Bancas Examinadoras para seleção de docentes universitários-cadeira de violão.

Organiza e coordena a série de recitais "Projeto-Violão no MASP".

Foi articulista da revista Cover Guitarra (Brasil) e Guitarreando (Portugal) e atualmente escreve para Guitar Player do Brasil e Violvo Intercâmbio.

É membro da Academia Paulista de Música, ocupando a cadeira que pertenceu ao professor Isaias Sávio. É integrante do "Violão-Câmara-Trio", e do duo com cello "Violãocellando".

Faz parte do Conselho da Academia de Violão da cidade Koblenz (Alemanha).

Publicações:

MÉTODOS

• Henrique Pinto

RB 0630 - Ciranda das 6 Cordas (iniciação infantil ao Violão)

RB 0381 - Curso Progressivo de Violão (Nível Médio) para 2º, 3º e 4º ano RB 0150 - Iniciação ao Violão (Princípios básicos e elementares)

RB 0962 - Iniciação ao Violão - Volume II RB 0600 - Técnica da mão direita - arpejos

MÚSICAS E ESTUDOS PARA VIOLÃO

• Autores vários

RB 0214 - Duas Peças da Renascença 1 - CUTTING, F. - Green Sleeves

2 - DOWLAND, J. - Tarleton's resurrection • J. S. Bach

RB 0396 - Ária na quarta corda • M. Carcassi

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• M. Giuliani

MCM 0330 - 6 Canções Campestres (peças fáceis) RB 0633 - Le Papillon - op. 50 (32 peças fáceis) • J. Teixeira Guimarães (João Pernambuco)

RB 0287 - Cecy - Valsa RB 0282 - Lágrima - Tango RB 0281 - Sentido - Tango

RB 0286 - Seu Coutinho pegue o boi RB 02000 - Sons de Carrilhões • Américo Jacomino (Canhoto)

RB 0961 - Abismo de Rosas • Ernesto Nazareth

RB 0930 - Odeon - Tango Brasileiro • Henrique Pinto RB 0563 - 7 Canções Brasileiras RB 0564 - 5 Canções Norte-Americanas • G. Santórsola RB 0413 - Prelúdio nº 2 • D. Scarlatti RB 0215 - Três Sonatas (L. 83 - L. 97 - L. 483) • F. Sor RB 0216 - 25 Estudos - op. 60 • F. Tárrega

RB 0136 - Capricho Árabe - serenata RB 0137 - Recuerdos de La Alhambra RB 0138 Rosita - polca

• S. L. Weiss

RB 0139 - 4 peças para alaúde

1 - Prelúdio; 2 - Minueto; 3 - Bourré; 4 - Courante

MÚSICAS PARA 2 VIOLÕES

• F. Carulli

RB 0663 - 12 Romances - op. 333 MCM 0353 - Duos op. 34 nº 1 e 2 MCM 0354 - Duos op. 34 nº 3 e 4 MCM 0355 - Duos op. 34 nº 5 e 6

Editora Ricordi S/A. Tel: (011) 220-6766 FAX: (011) 222-4205

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Artigos:

Conceito de Relaxamento

Uma das preocupações no estudo de qualquer instrumento e, particularmente, mais em nosso instrumento, é o princípio que regerá o relaxamento necessário para podermos executar qualquer obra com liberdade muscular, isto é, usar o mínimo de esforço para se obter o maior rendimento na movimentação. Mas o que vem a ser este estado que implica uma postura adequada (considerando todo o conjunto do corpo, desde como e onde sentar, postura das mãos e forma de atacar as cordas - mão direita - e como pressionar as cordas - mão esquerda) até a escolha de um repertório adequado que irá influenciar na movimentação das mãos? Acredito que seja todo este conjunto de fatores que irá influenciar no resultado final, mas podemos individualizar, ou dissecar, todos estes elementos e oferecermos uma pequena tese sobre este assunto.

Se recuarmos na história do violão, vamos ver que ele se transformou como móvel, passando por diversas formas e tamanhos até chegar em meados do século XIX com Antonio Torres, construindo um instrumento com o formato definitivo e sua elaboração interna que veio caracterizar a sonoridade do violão moderno, tendo sido o modelo da maioria do luthiers que vieram posteriormente. Juntamente com Antonio Torres, surge uma das maiores figuras que veio revolucionar a técnica do violão, Francisco Tárrega, que dedicou toda sua vida a acrescentar um novo conceito de repertório e uma técnica que é utilizada até hoje para o desenvolvimento do violonista. Com Tárrega não foi apenas o que revolucionou o repertório e a técnica, mas teve que adaptar em seu corpo este novo violão, o de Antonio Torres, para poder executar o repertório por ele desenvolvido e ter a possibilidade de poder estudar durante um largo tempo, sem sofrer dores em sua coluna. Tárrega praticou todos os elementos técnicos que poderiam surgir durante a execução de uma obra, tinha como princípio que exercitando diariamente escalas, arpejos, ligados, saltos, trilos, aberturas e fórmulas mecânicas que ocasionalmente surgissem em suas transcrições e obras originais. Disciplinadamente praticava sua técnica diária, para que seus dedos não encontrassem surpresas quando tocava uma determinada obra. Sua ética em reproduzir exatamente o texto ao qual se propunha interpreter, o levou a criar inúmeras fórmulas de exercícios para que seus dedos tivessem a maior objetividade quando solicitado determinado movimento, movimento esse carregado de intenções dinâmicas e expressividade. Todo este trabalho com o instrumento, que incluia desde postura, os inúmeros exercícios de técnica pura e estudo específico de uma obra, é o que iria dar a liberdade e fluência no momento de mostrar a obra como um todo, plena em todos os detalhes e poder ser desfrutada pelo intérprete e pelo ouvinte, formando um elo e unindo estes dois elementos indissociáveis.

O estudo constante do instrumento irá formar uma ligação, ou melhor, uma extenção do instrumento com o instrumentista, dará liberdade de movimentação, o ato de tocar não será uma atitude de realização com algo externo, o violão não será um objeto extranho que terá sempre que ser conquistado, mas será uma segunda natureza do violonista, o instrumento e o complexo dedilhado que é peculiar para a realização de uma obra deverá fluir com leveza, como o simples andar, com um simples comando. O pensamento de Tárrega estava correto, em sequência a todo seu trabalho vieram grandes violonistas que confirmaram seu raciocínio pedagógico, como Miguel Llobet e Andrés Segovia. Termos como fluência, leveza, comando imediato, orgânico e incorporado fazem parte do vocabulário da técnica que Tárrega desenvolveu obstinadamente, foi o espaço conquistado por seu imenso trabalho, para finalmente conseguir o “conceito de relaxamento”, que abarca todos estes termos. Porém, podemos confundir este conceito com “reflexo condicionado” , que é necessário ao trabalho de executar uma obra sem problemas de interrupção, tendo a memoria muscular sido totalmente resolvida, que abarca o complexo dedilhado da mão esquerda e direita. A história caminha em espiral , ela vai buscar os elementos de complementação em níveis anteriores para seguir sua ascenção contínua, toda nova formulacão terá componentes que foram utilizados em sua primeira construção, é o princípio da evolução, do aperfeiçoamento, do conhecimento do mecanismo da natureza, do sentido evolucionista de todo pensamento que procura compreender o homem e sua relação com tudo que o rodeia, enfim, sua relação com o mundo.

O ato de tocar implica nas várias memórias que estarão coligadas e principalmente a muscular, que irá resolver objetivamente todos os movimentos para resultar no ato de tocar, de dedilhar, é o contato direto com o instrumento para o resultado sonoro surgir e ser comandado pelo pensamento sonoro, é o ato de interpretar, de estar junto com o autor e dizer com “suas palavras” o texto sonoro, é compor novamente dando uma nova ênfase, valorizando com a dinâmica inerente do intérprete, particularizando a obra. Se a peça for tocada por vários intérpretes, cada uma destas audições mostra uma nova maneira de ser, ela terá a personalidade de quem a toca, seu estado de espírito por cada momento sonoro e todo jogo de cores que o instrumento poderá oferecer. Mas esta luminosidade será dada pelo intérprete, ele será o centro solar que irá irradiar sua luz, com maior ou menor intensidade. Toda esta dinâmica interior é resultado de uma organização de elementos adquiridos desde o primeiro momento de contato com o instrumento até a elaboração mais sofisticada de uma complexa obra, num estágio superior de compreenção de um texto musical e da técnica do

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instrumento. Quanto maior for o desenvolvimento técnico do instrumentista maior será sua elaboração sonora, seja ela quantitativa (maior volume) ou qualitativa (sonoridade com mais harmônicos e maior variedade de timbres). Este espaço de liberdade adquirido irá produzir a sensação de relaxamento, o comando para a realização de um momento sonoro numa obra é imediato, para o ouvinte a impressão causada é sempre de fluidez, sem dificuldades, a música acontece expontânea e livre, como se não houvesse instrumento nem instrumentista, pensamento e fato sonoro se fundem para produzir a música pura e simples, assim como foi concebida.

Podemos deduzir que reflexo condicionado está ligado à repetição contínua e sistemática de movimentos pré-estabelecidos, resolvendo a necessidade da obtenção do dedilhado necessário à realização de um momento sonoro, ou uma obra completa. Durante o processo de desenvolvimento de todo trabalho mecânico de uma peça, acontecem momentos de maior ou menor dificuldade técnica a serem resolvidos, e todo nosso corpo percebe e reage conforme acontecem esses momentos. Se tivermos alguma passagem de fácil resolução, não haverá alteração nervosa, mas durante uma passagem de maior dificuldade, todo nosso corpo irá reagir à esta dificuldade, e como consequência surgirão pontos de tensão, que será um impedimento ao ato de tocar.

A dificuldade mecânica de uma obra é um dos motivos desta inervação, ou tensão, que poderá acontecer, resultando numa contração muscular que irá dificultar a livre movimentação dos dedos, tornando-os lentos e pesados. A não compreenção da linguagem musical da peça estudada é outro fator de contração muscular, no ato de executa-la só estará presente a memória muscular e esta não estará fazendo conexão com o fator orgânico musical do intérprete. O mecanismo utilizado no momento da execução de uma obra é extremamente complexo, além do uso de todas memórias (como a muscular, visual e auditiva), o intérprete terá que perceber a reação de seu corpo e atenuar qualquer sinal de contração, voltando à disposição anterior de tranquilidade.

A disposição do corpo de forma a receber o violão e formar uma única unidade (violão e violonista), é imprescindível, pois todos os músculos do corpo estarão pré-dispostos a não terem constrações inúteis. Alguns itens como sentar, onde sentar, colocação da coluna ereta, ombros descontraidos, o braço estar completamente livre do ombro para braço, ante-braço e mão formarem um conjunto independente. A musculatura das costas deve ser firme para sustentar toda coluna (firme, não tensionada). A altura do banquinho para o pé esquerdo deve ser tal que não cause problemas de dores nas costas ou contração em toda região esquerda posterior. Os dedos da mão esquerda não devem pressionar mais que o suficiente para conseguir a nota desejada. A mão direita deverá estar colocada a não forçar os tendões para uma posição de limite de sua extensão, o pulso e ante-braço deverão estar em linha reta ou aproximado desta linha reta. O toque da mão direita deverá ser articulado sem o uso da força, mas sim com a pressão suficiente para se obter a sonoridade desejada e não causar enervação inútil em todo ante-braço.

Podemos colocar outro item que sentimos de igual importância com os expostos anteriormente. Sempre que iniciamo o estudo nossa mente deve estar tranquila e assim teremos maior concentração e resultado maior em todo tempo de estudo. Uma mente dispersa além de causar cansaço mental, só iremos desenvolver nossa memória muscular, a concentração é imprescindível para um maior aproveitamento do tempo que estamos com o instrumento. Concentrar é nossa atenção estar centrada no objetivo de nosso estudo, estar atento para todos os fatores que influenciam na execuçao de uma obra. O “conceito de relaxamento” tem um sentido amplo, não é somente o afrouxar a musculatura, mas sim, o funcionamento de todo complexo psicológico e fisiológico, como uma engrenagem , em que todas as peças tenham um encaixe perfeito e o funcionamento de um relógio preciso. Uma má orientação, ou uma falta de conciencia no processo do estudo, poderá acarretar problemas que dificilmente poderão ser solucionados, como o famoso LER (lesão por movimento repetitivo), bloqueio por uma enervação excessiva, degeneração gradativa do processo de articular as notas e dificuldade progressiva para atingir um determinado objetivo.

IX Seminário de Violão Souza Lima

Ter caminhado nove Seminários de Violão é um a longa jornada, que depende de toda uma estrutura para se manter com vida e toda boa vontade dos participantes docentes. Se manter com um generoso recurso financeiro (que geralmente vem do Estado, temos o exemplo do Festival de Campos de Jordão e similares) só é necessário uma coordenação artística coerente que vá de encontro ao projeto previamente estabelecido. Mas a quantidade de recursos utilizados nesses mega-projetos daria para fazer uma reformulação em todo ensino artístico do ano, como a contratação de novos profissionais do ensino e atividades que iriam se desenvolver durante todo o ano letivo, como concertos, exposições, palestras, concursos e atividades que trariam um incentivo maior ao estudante e teriam como meta a função formativa, como continuismo ao seu dia-a-dia de estudo. Mas, o interesse do evento, quase sempre, não é educacional, mas o grande show dado por artistas e o aplauso à performance do evento, findo o grande espetáculo resta um grande

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saldo político, normal, como sempre, ad infinitum. Mas (voltando ao IX Seminário de Violão Souza Lima), coordenar um evento com um alto nível de concertos, proporcionar ao estudante uma diversidade de informações, abrangendo as várias tendencias pedagógicas, sem contar com o apôio financeiro mínimo que dê para as despesas básicas, como um cachê razoável aos artistas convidados e um translado de seu lugar de origem à São Paulo é um mérito que precisou da insistência obsessiva de seu coordenador artístico (eu) e da paciencia e boa vontade do organizador geral, Antonio Mario da Silva Cunha, e com toda a estrutura do Conservatório Souza Lima, que foi imprescindível. Sempre, só foi contado com o que os alunos pagaram como taxa de participação, para poder bancar todo Seminário e ajuda financeira de Antonio Mario.

Este Seminário (janeiro de 2.001) houve atuações de artistas nacionais e internacionais, com uma carreira de profissionais concertistas e professores de larga experiência. A presença de Paulo Amorim (Portugal), já participando pela segunda vez, foi brilhante, com um recital primoroso, apresentando autores poucos divulgados, como Dusan Bogdanovic e sua Sonata nº 1, obra de extrema complexidade técnica e de escrita, foi executada com a maestria que é peculiar ao Paulo, como um presente aos ouvintes, todo seu recital transcorrendo num alto nível executando obras de J.K.Mertz, F.Sor e Piazzolla. Outra presença internacional foi a do espanhol José Manuel Dapena, que foi aluno de David Russell e Manuel Barrueco, executou um programa com compositores espanhóis, iniciando com o clássico F.Sor (Sonata op. 22) seguindo com os mais modernos Vicente Asencio (Suite Mística) e Salvador Bacarisse (Intemezzo e Balada) , Joaquim Rodrigo (Tiento Antiguo, Junto al Generalife e En los Trigales) e encerrando com Joaquim Turina (Sonata), Manuel é um artista com vasta bagagem internacional e uma formação musical bastante ampla, que demonstrou em sua execução com pleno conhecimento do texto executado e criatividade nas várias situações exigidas pelas obras, foi um bonito concerto, executado com segurança e delicada musicalidade. O recital de Paulo Martelli trouxe novidades de seu último CD, com Dois Estudos Populares Brasileiros de Geraldo Vespar, de Paulo Bellinati Tres Estudos Litorâneos (Brisa do Oceano, Acalanto das Águas e Mar e Chuva), de Carlo Domenicone (Kuiumbaba) belíssimo trabalho sonoro do compositor, apresentando o violão com uma afinação inusitada, trabalhando com o minimalismo e efeitos do instrumento e Agustin Barrios (La Catedral) em suas tres partes: Prelúdio, Andante Religioso e Allegro Solene. Martelli é um artista completo em sua formação, demonstrando em seu impecável trabalho com o instrumento, em que técnica e sentido musical se fundem resultando numa viajem onírica em todo trajeto de seu recital. Luiz Claudio Ribas Ferreira apresentou um repertório que é parte integrante de seu dizer musical, foi iniciado com F.Tárrega (Marieta, Dois Prelúdios e Capricho Árabe), Alexander Tansman (Variações sobre um tema de Scriabin e Mazurca) e Leo Brouwer (Sonata). Em todo transcorrer de sua apresentação Luiz Claudio demonstrou controle do texto musical e desenvoltura na realização de todo trabalho técnico, o que se torna mais presente é sua robusta sonoridade e um trabalho colorístico que enriqueceu todo o repertório apresentado. Rogerio Dentello fez uma apresentação com obras suas e arranjos, mostrando um bonito violão, descendendo de Baden Powell e Paulinho Nogueira, feliz fusão. Rogerio reside atualmente na Alemanha e leva a música brasileira em todas suas apresentações pela Europa. O Trio Bartoloni (Carmo, Giacomo e Fábio) formado com dois violões (Giacomo e seu filho Fabio) e marimba (Carmo), realizaram um repertório de música brasileira, inusitada formação com arranjos dos integrantes, de Paulo de Tarso Salles e Edmundo Villani-Cortez. Foi um concerto mostrando a integração do violão com um instrumento de percussão, a marimba, bastante pedagógico para o público presente, trabalho com músicos de larga experiencia profissional e excelente resultado camerístico.

Os recitais apresentados pelos vencedores do Concurso Souza Lima foram de não menos mérito que os apresentados a noite, os já descritos. O dúo: Douglas Lora e João Luiz Resende Lopes, fizeram uma apresentação que destacamos de Castelnuovo-Tedesco, Prelúdio e Fuga em Dó sustemido menor, E.Granados, Intermezzo de “Goyescas” e de Douglas Lora, Inverno e Dança num. 1. Douglas e João Luiz, já são vencedores de vários concursos de interpretação e o mais importante foi o de Koblenz (Alemanha) como destaque do referido concurso. Seu trabalho camerístico merece um destaque especial, possuem uma fusão musical que é resultado de um longo trabalho, certamente farão uma carreira promissora.

Fernando Lima é um dos grandes talentos de sua geração, com fluente técnica e musicalidade que é peculiar ao seu fazer musical, realizou um repertório complexo com a Fantasia Hongroise de J.K.Mertz, Valsa op. 8 num. 3 e 4 e o trêmulo Un sueño em la Floresta e Agustin Barrios, e Sonata em Homenagem à Boccherini. Fez um recital impecável, deixando ressaltar sua robusta sonoridade e segurança na realização de todo transcorrer de sua apresentação. O duo Zanin e Lima (Fabiano e Luciano), refletem a segura orientação que possuem de Luiz Claudio Ferreira. Além das obras originais que realizam fizeram felizes transcrições de D.Scarlatti (Sonata K. 525 e 455) e de Georg Gershwin (3 prelúdios). São músicos que possuem uma técnica fluente e musicalidade para realizar obras de todos os períodos, tocando com convicção e fraseado perfeito.

Ivan Claus Lima apresentou um recital bastante variado, demonstrando competencia em todo trranscorrer de sua apresentação. M.Ponce, J.S.Bach, Carlos Fariñas e Sergio Assad foram os autores que foram eleitos pelo intérprete. Deixo em destaque a obra de Sergio Assad, Aquarelle, de complexa elaboração técnica e feliz resultado sonoro, aproveitando toda a organicidade do violão.

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Além dos recitais aconteceram as palestras de Paulo Martelli sobre a ornamentação do barroco, forma sonata com Luiz Claudio Ferreira e a master-class com Paulo Amorim, que foram complementares das aulas de instrumento que aconteceram pela manhã e os recitais.

Palestra sobre a importância dos Festivais

Lembro da primeira aventura de sair de meu país para viajar com a intenção de frequentar um Festival de Música, isto foi no ano de 1.970 e o Festival era em Santiago de Compostela, na Espanha. Já estudava violão há algum tempo e o universo que freqüentava era da cidade de São Paulo e seu professor maior era Isaias Sávio. Era ele que praticamente comandava todo movimento violonístico que acontecia, desde os concursos, concertos de seus alunos e era a escola que determinava o aprendizado do chamado "violão erudito" . Foi ele que trouxe a escola européia com sua técnica, repertório e o processo pedagógico que frutificou em discípulos que seguiram seu aprendizado, tendo como exemplo maior Antonio Carlos Barbosa Lima, hoje sendo uma das grandes figuras do violão internacional. Foi com este violonista, que tive aulas durante um ano, que me estimulou na aventura de ir à Santiago de Compostela, mas tinha outro atrativo maior, este Festival possuía a cadeira de violão e sua posse era de Andrés Segovia. É claro que eu já sabia antecipadamente que o sucessor era seu aluno José Thomaz, mas estar em Compostela e saborear o requinte que o nome Segóvia emanava já era o suficiente para ir à busca de subsídios para esta viajem. Tive um patrocinador, João Teixeira Pinto, um parente médico que pagou minha viajem e acreditou que eu faria um bom aproveitamento desta que, realmente, foi fundamental para meu desenvolvimento no instrumento e visão musical. E lá vou eu, saindo do aconchego de minha cidade para um país que fica há 12 horas de viajem de avião, falando uma língua semelhante à minha, mas difícil de entender, mas aos tropeções fui inventando um portunhol que dava para trocar algumas informações. O primeiro movimento, estando na cidade de Madri, foi ter que ir à oficina de José Ramirez, o construtor do violão mais ambicionado naquele momento, fui buscar um instrumento que alguém de São Paulo havia encomendado, foi uma experiência e tanto estar ali e conversar com o luthier dos violões que Segóvia usava. Fiquei um dia em Madri e em seguida fiz um vôo para Compostela. Tudo isto em minha cabeça era um pouco caótico, mas fui seguindo todos os detalhes de estar no alojamento do Festival e à noite estar para a abertura, que foi na Prefeitura de Santiago de Compostela, juntamente com o Sr. prefeito e autoridades. Mas o mais importante foi vivenciar o "Hostal de los Reyes Católicos", um magnífico prédio erigido no século XVI, todo construído com pedras, tendo um vão em seu interior e alí um magnífico jardim e fontes que o ornamentavam, nos passando a visão mítica das "mil e uma noites". Ladeando este jardim estão as salas que são ministradas as aulas, muito amplas, com suas paredes em pedras, sendo um ambiente ideal para a sonoridade do violão, com uma reverberação adequada que traz conforto ao violonista, ampliando sua sonoridade e retornando, realizando uma equalização perfeita. Foi nesta sala que tive as impressões que iriam acrescentar um universo novo do violão à minha pequena vivência musical.

Fui apresentado ao professor José Thomaz, eu e mais 40 alunos que participamos de suas aulas, todos tocamos o primeiro dia para sua avaliação, mas a grande surpresa foi conhecer colegas como Ishiro Suziki (Japão), Gabriel Estarellas Espanha), Balthazar Benitez (Uruguai), Evangelos Buduniz (Grécia) e outros de igual estatura artística, que vieram acrescentar e modificar minha visão sobre meu instrumento, ampliando minhas perspectivas de trabalho e me colocando como aluno que teria um longo caminho pela frente para crescer e desenvolver a profissão que tinha escolhido, a de violonista.

As obras que foram solicitadas para frequentar o Festival foram: Peças Características de Federico Moreno Torroba e a Suíte Inglesa de John Duarte e levei trabalhadas algumas outras obras que fui apresentando durante as aulas em que pude tocar. Devo ter tocado para Thomaz 4 vezes, mas o mais importante foi ouvir os colegas que trouxeram obras como a Chaconne de J.S.Bach, Sonatas de M.Ponce, peças de M.Castelnuovo-Tedesco, de Leo Brouwer (que ainda me era desconhecido), enfim, todo repertório importante existente naquele momento, realizado com perfeição e em instrumentos com sonoridades que jamais tinha sonhado. Mas o que mais me chamou a atenção foi o violonista uruguaio Balthazar Benitez, que tinha uma maneira de tocar diferenciada, mas não por seu virtuosismo, mas sua forma de segurar o instrumento, sua técnica da mão esquerda e direita, a sonoridade mais clara e limpa, enfim, um conjunto de detalhes que o diferenciava dos colegas, e seu perfeito trêmulo que era seu cartão de visitas. Nos tornamos amigos e soube que seu professor no Uruguai era Abel Carlevaro, que além de excelente didata era compositor. Conheci algumas de suas composições que Benitez tocava: Campo, da série "Prelúdios Americanos" e alguns estudos de seu livro "Técnica da Mão Esquerda".

As aulas transcorreram sempre com algumas surpresas quanto ao repertório e a performance dos colegas. Teve no final do Festival um concurso na classe de violão, que eu tambem participei, mas ficou como vencedor Gabriel Estarellas, e em segundo lugar Balthazar Benitez. O prêmio foi o almejado violão Ramirez. Concluindo o curso fui para Madri onde fiquei alguns dias e fui até as lojas de música para comprar algum material e em seguida fui até Paris, que fiquei uma

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semana, onde conheci outros dois grandes violonistas: Alberto Ponce e Beethoven Davesac, mas a minha meta era ir até a loja da editora Max Eschig e Henry Lemoyne, que pude comprar um bom material para minha pesquisa sobre o repertório violonístico. Voltei outra vez para Madri, onde estava hospedado com um dos colegas de Compostela, o mexicano Pedro Sérgio Salcedo e depois de alguns dias voltei para o Brasil. Uma das resultantes importantes desta minha primeira aventura, foi a troca de correspondência que mantive com alguns colegas que ficaram mais próximos, foram muitos anos que troquei informações e o andamento do violão em várias partes do mundo, e vários deles foram organizadores de Festivais ou se tornaram concertistas, professores e compositores, que tive a oportunidade de seguir seus trabalhos por um longo período.

Por uma feliz coincidência, logo que cheguei ao Brasil soube do Seminário Internacional de Violão Palestrina, que era realizado em Porto Alegre e que Abel Carlevaro estaria lá dando aulas. Fui saber como fazia para se inscrever neste evento e assim que aconteceu, foi no mês de julho de 1.971, estava eu lá neste outro evento violonístico. Assim vim a conhecer este grande mestre que veio modificar e organizar minha maneira de dar aula e meu enfoque da técnica do instrumento. É claro que em meu primeiro contato com Carlevaro e tendo assistido suas aulas em master-classes, não pude nesta ocasião compreender seu sistema, mas tive outra surpresa, ele me convidou para ir ao Uruguai me dando uma bolsa de estudos, isto é, me daria aulas de graça, e no outro ano estava em Montevidéu tomando suas aulas e compreendendo melhor seu sistema, pois tinha todo o dia para estudar todos os detalhes que ele expunha em suas aulas. O que facilitou muito a compreensão da "Escola Carlevariana" outra grande vantangem era eu estar hospedado na casa de Eduardo Fernandez, que me tirava todas dúvidas que ocasionalmente aconteciam; Fernandez foi aluno de Carlevaro durante muitos anos.

Em outro Seminário Palestrina que participei, fiquei conhecendo Guido Santorsola, que foi personagem importante em minha formação, aprendi com ele o valor exato das notas, limpeza na condução de todo movimento realizado, o fraseado com um acabamento perfeito, conduzir uma obra conforme o sentido dado por seu autor. Estudei com ele, tambem, harmonia, contraponto e análise musical. Com Santorsola tive uma visão do compositor não violonista, do maestro que exige uma ética na interpretação de uma obra, que não adianta apenas imitar um grande intérprete, mas você tem que analisar o que foi escrito e desenvolver sua própria visão do que está sendo tocado, colocar todos os componentes dentro da linguagem do violão e detalhar minuciosamente tudo o que foi escrito, dando ao ouvinte algo acabado e compreendido.

Estes dois maestros, Carlevaro e Santorsola, vieram no momento certo de minha carreira de violonista, cada um acrescentou componentes que foram enriquecer minha formação, que com o tempo amadureci e criei minha maneira particular de me expressar musicalmente, violonística e pedagogicamente. Mas foi o casuísmo de te-los conhecido nos Festivais que freqüentei que me foi oferecida esta rara oportunidade. Como aluno freqüentei estes dois Festivais, o de Compostela e o Seminário Palestrina e em seguida passei a ser convidado a outros como professor, como o de Londrina (PR), Goiânia (GO), Montenegro, Vale Veneto e Palestrina (RS), Brasília, Vitória (ES), Fortaleza (CE) Cochabamba (Bolívia), Santo Tirso e Aveiro (Portugal) e Koblenz (Alemanha)

Posso acrescentar que um encontro de músicos, incluindo professores e alunos, por um determinado período, pode ser muito útil para reciclar conceitos, conhecer novas formas de tocar e ensinar, ampliar a visão quanto às reais possibilidades de fazer música, a diversidade quanto à prática centrada na originalidade de cada intérprete ou professor, ampliação do círculo de amizades com pessoas afins com seu instrumento, a possibilidade de novo direcionamento na maneira de estudar, conhecimento de um repertório novo, enfim, um complemento na formação do estudante. Além de reciclar os conhecimentos já adquiridos, os fortalecendo com uma visão nova, mostrando novos ângulos a serem explorados, é uma oxigenação de conhecimentos que irá aumentar as possibilidades de resoluções que não foram formuladas anteriormente, enriquecendo sobremaneira o sentimento prático e filosófico da profissão do músico. A profissionalização do artista requer esta constante reciclagem, a partir de um novo trabalho à realizar seja como intérprete, compositor, professor, arranjador ou qualquer uma das muitas possibilidades do ato de fazer músico, são atos contínuos de criatividade e uma nova idéia sempre dará a possibilidade de se chegar mais longe, de ampliar nosso ato artístico, de abrir novas portas em nossa mente e vislumbrarmos caminhos mais amplos. A multiplicação dos Festivais e Seminários que acontecem em todo mundo de hoje, é um sinal que desejamos estar participando em conjunto desta evolução. Não existe hoje o artista isolado da sociedade, ele tem que participar e compartilhar com seu trabalho de todo processo de aprimoramento da capacidade de pensar e selecionar o que convém à sua inteligência, esse poder seletivo nos fará crescer, desenvolvendo nosso espírito criativo em todas as direções assim nos tornando mais sensíveis em nosso relacionamento humano.

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III Festival e II Concurso de Violão Erudito - Pró-Música/SESC

A louvável iniciativa de dois idealistas que pela 3a vez realizam este Festival, não só pela coragem, mas a tenacidade e determinação que foi o impulso maior desta realização, que trouxe artistas internacionais dentro de uma organização exemplar. É raro no trabalho do músico erudito se propor a sair de seu círculo vicioso, que são as aulas ,seu estudo sistemático do instrumento, enfim, o trabalho voltado para sua realização profissional, se pôr em campo como organizador de um evento de larga proporção que necessita de muitos meses de organização e o contato pessoal de todos que participarão, trabalho hercúleo mas de resultado positivo para todos que usufruíram dos dias de intensa atividade, sejam as aulas, concertos e até o passeio à Gramado e Canela, que foi uma gentileza da organização. Esteve presente os violonistas, que foram professores e concertistas, de muitas partes do mundo, que mantiveram um alto nível de profissionalismo nestas duas atividades. Harris Backer (USA), Cem Duruöz (Turquia), Francisco Gil (México), Ezequiel Piaz (Brasil), Henrique Pinto (Brasil), Amanda Cook (Inglaterra), Luz Maria Bobadilha (Paraguai), Marcos de Ros (Brasil), Boris Gaquere (Bélgica), Carlos Pons (Espanha), Gabriel Guillén (Austria) Andrés Tapia (Suiça) e também Roberto Gomes (Brasil) que mostrou seu belíssimo trabalho de lutheria.

A presença destes artistas foi significativa, além do repertório tradicional do violão, novos compositores foram ouvidos, sempre com um trabalho técnico e interpretativo impecável, nos deu durante todas as apresentações um nível artístico raramente visto numa série de apresentações de violão, com uma diversidade de escolas e enfoques diferenciados que enriqueceu a todos que apreciaram suas apresentações.

Queremos frisar o concurso, que foi de altíssimo nível. Os 4 finalistas foram: Cecília Siqueira (Uruguai), Fernando Lima (Brasil), João Paulo Figueiroa (Brasil) e Victor Hugo Nopo (Peru). O 1o prêmio foi repartido entre Cecília Siqueira e Fernando Lima, sendo o julgamento bastante justo, pois os dois participantes, além de suas diferenças de estilo e repertório, foram impecáveis em suas interpretações.

Quero ressaltar o local da realização do Festival, o SESC de Caxias do Sul, pela impecável acomodação dos alunos, a alimentação oferecida e seu teatro, que parece que foi feito para recitais de violão, com uma acústica na justa proporção da sonoridade do instrumento.

O prêmio maior deve ser dado aos diretores do Festival: Ivan Montanha e Géris Lopes, que esperamos que sigam com seu ideal de continuar com este evento. A finalidade de um encontro desta proporção é levar aos alunos uma mensagem que trará novas perspectivas para sua futura profissão, é mostrar o amplo leque de possibilidades que a música poderá proporcionar, enfim, é todos voltarmos querendo que no próximo ano esteja acontecendo de novo.

Caxias do Sul, 23 a 27 de julho de 2001

A valorização da música como identidade cultural (2)

O primeiro instrumento musical que veio para o Brasil, trazido pelos portugueses, instrumento este que tinha a função de harmonizar melodias simples, que os jesuítas utilizavam para catequisar os índios foi a vihuela. Este instrumento tinha como encordatura: a primeira simples e as demais cinco duplas. Tinha 10 casas e se assemelhava em possibilidades sonoras ao nosso violão atual; nele se executavam acordes, linhas melódicas e também se praticava polifonia. Este instrumento era utilizado na Espanha e Portugal por compositores que enriqueceram seu repertório com obras que o eternizaram, obras estas com elaborado labor, que nos lembram os madrigalistas. Luiz de Narvaes, Luis de Milan e Valderrabano foram alguns nomes desta extirpe de vihuelistas que tiveram seu auge durante o século XVI. Este instrumento tinha sua construção muito elaborada, os luthiers utilizavam as madeiras mais nobres para sua construção, como o pinho europeu para o tampo, sua escala era de ébano e a lateral e fundo de atchero. Suas cordas eram de tripa e seu custo era bastante alto, enfim, era um instrumento utilizado nas côrtes e somente nobres e as pessoas ligadas a essa casta social podiam adquiri-lo. Ao ser transportado para o Brasil ele passou a ter outras características de construção e sua aclimatação deu origem a vários instrumentos derivados deste primeiro exemplar. Temos a viola de cocho, a mais rude cópia, muito utilizada no Brasil central, construída pelo caboclo com madeiras típicas da região. Mas o instrumento que mais se assemelhou a esta primeira vihuela, foi a nossa chamada viola caipira, que construída de forma mais simples e substituindo a primeira corda da vihuela por cordas duplas e diminuindo seu número de cordas para cinco, seu tornou nacionalmente conhecida a adotada para as mais diversas manifestações

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musicais, seja como instrumento acompanhante de cantores, e em especial as duplas, chamadas de "duplas caipiras" e em todas manifestações folclóricas. Sua sonoridade se assemelha ao cravo, e as possibilidades de construção de melodias e harmonias são infinitas. A viola se tornou um instrumento tipicamente brasileiro, ele cria uma unidade na mais pura manifestação das raízes de nossa música, que é um misto da européia, negra e indígena. Esta viola não tem uma única afinação, mas em cada região ela tem sua característica, que posso dar algumas delas; rio abaixo, rio acima, cebola, cebolinha, cebolão e mais quantidade. Isto demonstra a criatividade do povo mais simples, que com seu artesanato , sua criatividade e sua necessidade de se manifestar musicalmente amplia, diminue, simplifica e torna seu instrumento adaptado ao seu fazer musical. Esta forma de manifestação artística é de âmbito nacional, criando uma unidade, dando forma a cada individuo, a cada região e mantendo viva a pureza de sua maneira musical. Nos últimos anos a viola vem se sofisticando e compositores eruditos, como Ascendino Theodoro Nogueira criou uma obra significativa para ela, como o Concertino para viola e orquestra, gravada por Carlos Barbosa Lima e mais uma série de prelúdios, este mesmo compositor transcreveu para viola a famosa Chaconne de J.S.Bach, obra original para violino e foi gravado por Geraldo Ribeiro. Seu reconhecimento foi tanto que hoje ela está incluída no curso de música da UNESP de Ribeirão Preto, sendo seu professor Ivan Villela, virtuosi da viola e criador da Orquestra Filarmônica de Violeiros de Campinas, com todos os naipes como uma orquestra tradicional. Se formos colocar a um instrumento como Unidade Cultural Brasileira, podemos colocar nossa viola caipira, que é um suporte para quase a totalidade de nossa musica regional. Posso citar alguns nomes importantes que valorizam este instrumento como instrumento solista: Renato Teixeira, Paulo Freire, Fernando Deghi, Fernando Lima e mais uma quantidade de músicos que vão se formando no rastro destes musicos excepcionais.

GRAVAÇÕES COMENTADAS

Love me with guitars - Baden Powell

Gravadora: Imagem

Baden Powell é um patrimônio da música brasileira, as nuances de sua criatividade não possuem um território delimitado, elas extrapolam todo o limite que possamos determinar, nos envolvendo com sua expressão e sua generosidade musical. Este CD é um apanhado de seus melhores momentos. Seu violão virtuose supera todas as barreiras por ele criadas, do emaranhado técnico, como o Chôro para Metrônomo, Samba em Prelúdio, Deve ser Amor, os criativos arranjos como o Adágio de Albinoni e Preludio de J.S.Bach, mostram um painel largo de suas múltiplas possibilidades como violonista e criatividade sonora. É o criador da música afro-brasileira, com uma rítmica determinante e envolvente, iniciando o CD com esta mostra de seu fazer musical com a antológica Deve ser Amor. Viajar com a música de Baden é um presente dos deuses, ele faz parte dos gênios que fazem que seu labor se torne perene, como o também nosso H.Villa-Lobos.

Duo Barbieri - Schneiter no Caraça

Gravadora: EGTA

O Duo Barbieri - Schneiter é original em sua sonoridade e interpretação, mostrando um repertório sempre renovado e de altíssimo nível, tanto técnico como musical. É confortável ouvi-los, em toda extensão das obras executadas flui naturalmente uma musicalidade inerente ao Duo, com um trabalho de acabamento primoroso em todos aspectos, que nos envolve com sua segurança e perfeccionismo. O sentido camerístico é consequência de extenso e inteligente trabalho, resultando numa química musical rica e generosa. O repertório deste CD é todo com composições do Duo, as Suites Caraça, duas obras, cada uma de um dos componentes, formam o centro deste trabalho, com uma singularidade criativa, mostrando os muitos aspectos deste lugarejo (Caraça), titulando cada momento, nos transportando a este espaço, viajem sonora e paradisíaca.

Podemos nos deixar levar por este ato artístico, sem concessões ao sucesso fácil, mas de uma profunda reflexão criativa e maturidade musical.

dbs@alternex.com.br

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Cantocantins

Participantes: 2º Festival da Canção

Gravadora: We Studio Patrocínio: Fundo Nacional da Cultura - MEC

Cantocantins é um passeio musical pelo mais novo estado do Brasil, Tocantins, que era um pedaço de Goiás e se transformou no pequeno filho, que agora cresce com a personalidade de quem quer ser grande, independente e caminhar com suas pernas, rápido para seu futuro que está chegando célere e impaciente. Os artistas escolhidos e o repertório pintam um quadro musical com todas as cores representativas do imenso cabedal de melodias e ritmos que compõe a música de Tocantins. Ficamos impressionados com a qualidade das composições e suas interpretações, quase sempre injustamente anônimos para nós aqui do Sul, mas como se isso não tivesse importância, seguem seu caminho, continuam compondo. A necessidade criativa do artista não depende do estímulo externo, mas sim fazer presente seu bem maior, que é o objeto de sua criação.

São 12 faixas de igual valor, mas posso citar Amanhecer de Sabiá de Quésia Rodrigues e Graça Graciosa de Braguinha Barroso. Foi um prazer conhecer obras de tão boa qualidade.

Fantasia Concertante - Ricardo Lopes Garcia interpreta música de câmara

Gravadora: EGTA

Ricardo pertence ao grupo de artistas que saíram do Brasil e realizaram uma sólida carreira como intérpretes, participando de concursos que vieram dar o aval de sua competência. Vencedor do 1º Prémio de Virtuosidade do Conservatório de Música de Genebra (Suíça) e 2º Prémio do Concurso Internacional de Violão "Andrés Segovia" de Palma de Mallorca (Espanha) e participando ativamente de uma carreira como solista e camerista, excursionando por países como Alemanha, França, Suíça e também no Brasil. Neste CD que apresenta obras de Feliu Gasull, compositor catalão, Giulio Regondi, suíço, e uma inesperada composição sua, Fantasia Concertante para violão, violino e violoncelo, é demonstração de sua competência profissional, seu amplo conhecimento de música e criativa interpretação por todo repertório que se propôs a realizar.

Trio GTR

Ouvi atentamente o CD do Trio GTR, é surpreendente observar o trabalho de conjunto e a escolha de seu repertório. Todo ele é composto com obras originais de compositores brasileiros e abrange diversas linguagens, desde as peças com cunho nacionalista até as de vanguarda, formando um todo coerente e diversificado.

Quanto à interpretação, é indiscutível seu valor, em cada ambiente sonoro, que é inerente à cada peça, traz um trabalho técnico e interpretativo de profissionais com larga experiência na música e especificamente no violão. Atribuo à este CD um conceito de ótimo, merecendo estar na discoteca de todo violonista e apreciador da boa música, por seu inédito repertório, qualidade de execução e excelente trabalho sonoro na gravação.

Intimate Barrios - Berta Rojas

Gravadora: Dorian Recordings

Nestes últimos 10 anos houve uma quantidade enorme de gravações das obras de Agustin Barrios, realizadas por violonistas do naipe de John Williams e David Russell, cada um refazendo este imenso repertório com uma interpretação particular, uma visão do mundo daquele que é o maior representante do romantismo do violão. Neste universo de obras que fluíram de forma expontânea, com uma sólida estrutura, todas dentro da linguagem técnica e sonora do violão, faz de Barrios um compositor único, que nos conduz para um encantamento em suas belas melodias e sua condução harmônica e também pela força expressiva da rítmica, extraídas do folclore de seu país (Paraguai) e pelos países que o destino o conduziu, incluindo o Brasil.

Berta Rojas, sem dúvida, passeia neste mundo imenso de formas expressivas de Barrios com uma liberdade que nenhum outro violonista conseguiu esta intimidade. Berta consegue um equilíbrio entre liberdade e estrutura, o lirismo das frases longas e colorido harmônico, a elegância violonística e poesia musical. Todo este fazer musical, em parte é de sua origem, igualmente como Barrios, o Paraguai, um controle absoluto da técnica de seu instrumento e sua imensa cultura musical, que faz de Berta Rojas uma expressão maior do mundo violonístico de hoje. Quero acrescentar a belíssima capa de seu CD, que estampa seus tranquilos e imensos olhos amendoados, completando esta obra de arte.

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All in Twilight - guitar music of the 80's - Augustin Wiedemann

Gravadora: Arte Nova - classics

O repertório pós-Segóvia traz uma linguagem musical mais livre, rompendo com a fórmula clássica-romântica de construir uma obra, em que a linha melódica traçada estava sempre em primeiro plano e harmonia e contraponto completava a construção, sempre muito definido o campo tonal e sequência melódica, uma continuação do fazer musical do século XIX. Rompendo esta linha de construção, o violão assumiu, novamente, a obra composta pelo violonista, explorando suas possibilidades sonoras, dando uma nova dimensão ao instrumento.

Neste CD, sua particularidade está em apresentar um repertório com compositores que trabalham este aspecto, e o que se destaca como a obra mais complexa em sua construção e interpretada com pleno domínio técnico e compreensão em toda sua extensão é a de Toru Takemitsu, All in Twilight, que dá o seu nome à este trabalho. Augustin Wiedemann, além do conhecimento da técnica de seu instrumento, demonstra em todo CD, seu amplo conhecimento de música e domínio deste complexo repertório. Também faz parte deste recital autores como: Roland Dyens, Sérgio Assad, Joe Zawinul e Leo Brouwer.

My hands... my soul - Marcos Vinícius

Gravadora: Pongo Edizioni Musicali

A coletânea de peças elaboradas e interpretadas por Marcos Vinícius com sua rara habilidade é mais um lançamento da violonística contemporânea, trazendo toda elaboração técnica e musical com o compromisso de mostrar com clareza e fluência o repertório apresentado.

O CD apresenta compositores de quatro países: Espanha, Brasil, México e Paraguai, mantendo uma linha condutora que segue da primeira à última obra executada. Recuerdos de Alhambra de Francisco Tárrega é obra comum de todo violonista , faz parte do trabalho técnico de desenvolvimento e também uma obra prima, da qual Marcos demonstra compreensão plena de sua linguagem e acrescenta um segundo violão, embelezando e enriquecendo a composição. Outro destaque é a obra à ele dedicada de Cláudio Tupinambá, expressiva e envolvente composição usando todos artifícios sonoros do instrumento, soando com intensidade e plenitude, com o sugestivo nome "Around the Fire". Completa este álbum Milonga de Jorge Cardoso, Asturias de I.Albeniz, Dolor do padre José Antonio de San Sebastian, Scherzino Mexicano de Manuel Ponce, Rondeña de Regino Sainz de la Maza, Junto al Generalife de Joaquim Rodrigo, Oracion de Agustin Barrios, Prelúdio em Re e Capricho Árabe de Francisco Tárrega e Jongo de Paulo Bellinati. Marcos Vinícius é mineiro de nascença e atualmente mora na Itália. Tem uma carreira bastante intensa como concertista, realizando apresentações em toda a Europa.

http://www.pongo.it

http://www.marcosvinicius.it

Compagnia Vocale

Componentes: Johannette Zomer, Maria Luiz Alvarez (soprano), Elizabeth Ingen Housz, Rita Hoffer (violino), Sara Waldez (Cello), Regina Albanez (theorba e guitarra barroca), Mary Sayre (harpsichord)

Gravadora: Mediatrack

Na música antiga, cantores e instrumentistas formam um agrupamento que nos traz a música de uma época em que o popular e erudito se fundiam, trazendo a liberdade de sua realização, seja nos timbres ou na dinâmica, nos fazendo sentir o fluido sonoro em toda sua realização. Mas, buscar em tempo tão remoto a origem e pureza para sua execução é um longo trabalho de pesquisa e um mergulho neste material sonoro.

A "Conpagnia Vocale" interpreta um repertório de obras napolitanas e espanholas com a maestria de profundo conhecedor, nos conduzindo a uma viajem sonora onírica, pôr sua perfeição vocal e instrumental. Coloco em realce a participação de Regina Albanez, que toca theorba e guitarra barroca, trazendo um solo do compositor Antonio de Santa Cruz, na guitarra barroca, demonstrando um raro virtuosismo e musicalidade, colocando toda a linguagem técnica do instrumento e do autor numa perspectiva de plena realização. A indicação para um raro momento de apreciação musical para este CD que, certamente, é um dos melhores do gênero.

Duo Fabiano Mayer e Moacyr Teixeira Neto

É surpreendente o movimento violonístico que surgiu no Brasil neste final de século e a descoberta do repertório que faz parte do instrumento mais brasileiro dos instrumentos. A composição para dois violões começa a ser divulgada e avaliada em sua complexa

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estrutura, com sua linguagem rica em combinações melódicas e rítmicas, demonstrando toda a criatividade e liberdade de expressão de nosso celeiro de compositores. A brasilidade inerente nestas obras só podem ser expressadas por intérpretes que se identifiquem com esta linguagem e transpo-las à sonoridade do violão, criando ambientes e formulando imagens, nos conduzindo ao mundo onírico de seu criador.

Este mais recente duo, Fabiano Mayer e Moacyr Teixeira Neto, artistas competentes e profissionais em seu labor, nos presenteia com este excelente CD, que viajamos com suas interpretações por um inusitado Brasil.

Nas asas do moinho - Paulinho Nogueira

Gravadora: Brasis

No universo discográfico dos violonistas a figura de Paulinho Nogueira é antológica, ele vem de uma geração de músicos que transformou a linguagem e a estética das composições e arranjos para o instrumentista e o cantor, com uma harmonização fora dos padrões da música popular que era usual em sua época, recebendo influencia do jazz, criou uma nova forma de harmonizar e formular uma linha melódica com intervalos pouco usuais, fazendo da dissonância um lugar comum.

Neste CD, Paulinho faz a música de poemas e empresta sua agradável e expressiva voz para cantá-las, dando um tom de tranquilidade e fluência com a rica e criativa harmonização por ele elaborada. É um músico que fez a história de nossa música popular mudar de rumo, junto Antonio Carlos Jobin, Garoto e João Gilberto. É importante ouvi-lo e aprecia-lo em todas suas nuances harmônicas.

Música Contemporânea para violão - Mário da Silva

Gravação: independente

Mário da Silva é um violonista sui generis, é dono de uma sólida formação musical e uma técnica que abarca todas as possibilidades de realização em seu instrumento. Sua trajetória como intérprete, foi construída passo a passo , hoje sendo um dos representantes maiores da nova linguagem musical para violão.

Neste CD, representado somente com compositores brasileiros, é um trabalho corajoso, caminhando de peças de simples construção e propositalmente singelas, como a de Eduardo Gramani (Suite Araucária) às mais arrojadas como as de Norton Dudeque (Continuum), ou de Arrigo Barnabé (Fragmentos) ou a de Chico Mello (Entre Cadeiras).

Transpor todas as barreiras técnicas e de linguagem colocando todas em sua devida dimensão exigiu uma compreensão maior, que Mário conseguiu com um raro humor, como na obra de Chico Mello, nos colocando como um espectador e ouvinte, visualizando todo desenvolvimento da obra.

Arrigo Barnabé presenteia este CD com uma rara obra original para violão, como sempre, de complexa construção mas de um feliz resultado instrumental.

Guilherme Campos, Octávio Camargo e Norton Dudeque se fazem presentes, mas o resultado final deste passeio por obras inusitadas, é imergir neste CD junto com Mário, apreciando este novo mundo sonoro.

Contato: mariodasilva@netpar.com.br

Tetralogia

Componentes: Carlos Tarcha (Vibrafone, marimba e percussão), Newton Carneiro (Violão e viola), Dimos Gourdaroulis (Violoncello), Luís Afonso - Montanha (clarinete e clarone)

Gravadora: independente

Músicos de primeiríssima linha fazem parte deste "Tetralogia", unindo a garra de profissionais, a genialidade dos arranjos e o virtuosismo destes instrumentistas, que fazem parte do universo musical do Brasil, mas estão muito além de nossas fronteiras em sua grandiosa realização. Ouvi-los foi uma rara surpresa, os arranjos são obras primas deste genial instrumentista e compositor Newton Carneiro, que é também violista da Sinfônica da USP, que o conheço de longa data, mas seu momento maior me pareceu a realização deste CD. Nossa música possui compositores de primeiro escalão e a escolha deste repertório foram obras primas de Tom Jobin (Chovendo na Roseira) Edu Lobo (Choro Bandido), Egberto Gismonti (Sonhos de Recife) e Ary Barroso (Aquarela do Brasil), que praticamente foram motivos para desenvolver um longo bordado musical, completando todo CD com estas 4 peças. Certamente esta gravação merece uma grande gravadora e uma distribuição em nível internacional, que faço a sugestão a toda gravadora que tenha um

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alto nível seletivo em seu catálogo.

Contato: 6281.8034 ou 9963.0332 (São Paulo)

catarcha@zaz.com.br

Violão Brasileiro - Piaz (Ezequiel Piaz)

Gravação independente

O título deste CD sugere o conteúdo desta excelente gravação, com um repertório original e um trabalho técnico de gravação muito bem realizado. Piaz é um músico sui generis, além da contracapa não fornecer maiores informações de sua origem ou formação, ouvi-lo foi uma surpresa agradável. Possuidor de uma técnica brilhante e uma musicalidade envolvente, passeia por todo CD com uma liberdade e fluência de um profissional com larga experiência, além de sua pouca idade. O que mais chama atenção é sua capacidade de compor, explorando as mais difíceis fórmulas de dedilhado de seu instrumento, com andamentos e rítmos só realizados por um grande virtuosi. Mas o mais importante é que flui uma envolvente música, que da primeira à última faixa nos transporta por seu universo, cativado por sua natureza criativa.

Contatos: (5541) 343.2945 - 225.7584 / (5544) 269.1546 Fax. (5541) 222.5007

Antique - Quaternaglia (Breno Chaves, Eduardo Fleury, Fábio Ramazzina, Sidney Molina)

Gravadora: Paulinas - COMEP

O repertório violonístico abrange um extenso período da história da música. Se formos garimpar autores e obras, teremos um farto material compreendendo um longo período, que se inicia no século XVI caminhando até nosso dias, com as mais variadas linguagens e formações, considerando as obras compostas originalmente. A necessidade da transcrição ampliou consideravelmente este universo do violão, e quase todos autores usaram deste artificio, transcrevendo suas composições para instrumentos similares aos originais, ou até os de constituição física, técnica e sonora diametralmente opostos, mas resultando em nova sonoridade, e muitas vezes enriquecido pelo novo timbre.

Quaternaglia faz uso deste procedimento, a transcrição, e enriquece sobremaneira às obras que fazem parte deste belíssimo CD. Seu trabalho é de uma elaboração primorosa em todos os detalhes, fruto de um labor intenso, conhecimento de causa e um talento notório, que permanece da primeira à última obra executada.

Sem dúvida, Quaternaglia representa o ponto mais alto dos grupos violonísticos contemporâneos, e é uma honra te-los como nossos companheiros do violão. Eles representam a síntese da escola brasileira do violão, e certamente já fazem parte não somente da história do violão, mas da história da música do Brasil.

quaternaglia@quaternaglia.com.br http://www.quaternaglia.com.br

Rio Abaixo Violeiro: Paulo Freire

Gravadora: Pau Brasil

Viola, instrumento que traduz toda uma maneira de ser de um tipo humano brasileiro, originaria de uma longa história, enriquecida por muitas gerações por toques e maneira de ser peculiar do caboclo a contar a história da natureza, quem melhor que ele pode traduzir todas estas sensações que vem do contato direto com a terra, com os seres que povoam o espaço que ele habita, o dia, a noite, o vento, o sol, as intempéries ocasionais. Tudo é sentido em sua pele, interiorizado, formando um único conjunto. Seu respiro com a natureza é um pulsar cheio da vida que esta lhe proporciona, uma palavra significa mil intenções e sensações. Mas para se perceber este universo tem que ser caboclo ou conviver com ele, aspirar o ar que ele respira, andar com seus passos, imitar o toque de sua viola, voltarmos à nossa inocência primeva e mergulhar neste mundo, pronto para saborea-lo por todos os poros possíveis.

Viajar pelo "Rio Abaixo" nos coloca frente a este mundo, foi a pesquisa despojada do homem urbano, Paulo Freire, que conviveu e amou o homem violeiro, vestindo todos seus hábitos, que nos proporcionou esta viajem. Paulo, amigo de nosso caminhar violonístico, sempre carregou sua viola como instrumento paralelo ao seu fazer musical erudito, mas a viola foi mais forte e o arrebatou todo para ela, como uma amante ciumenta. O violeiro Paulo surgiu, despojado de qualquer maneirismo urbano com este verdadeiro hino ao

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sertão, numa incrível viajem sonora mostrando as mil facetas do caboclo, pelo caboclo Paulo.

Rio Abaixo, em 1995, foi a Revelação Instrumental, recebendo o Prêmio Sharp. Só ouvindo este CD fazemos idéia de seu conteúdo, cuidado com todo desvelo de um artista maior, que é, sem dúvida, Paulo Freire.

Arnaldo Savegnago interpreta suas obras Volume I

Gravadora: Los Calientes Produções

Arnaldo Savegnago interpreta suas obras Volume II

Gravadora: LC Produções e Gravações

A vasta obra deste professor, compositor e intérprete se estende com uma linguagem que nos lembra as serestas de cantores e instrumentistas que habitaram nosso cenário musical que aconteceu do início do século até os anos sessenta, em que o rádio era o grande divulgador de nossos músicos. Lembro muito de Silvio Caldas, Francisco Alves e outros cantores deste mesmo naipe que povoaram nosso cancioneiro, cujo cantar era uma declamação musical, suas letras poesias extensas, sempre falando da mulher amada e idealizada. Dilermando Reis e Américo Jacomino pertenceram a este período e fizeram de seus instrumentos a extensão deste cantar dos seresteiros, com todas suas inflexões expressivas.

Estes dois CDs de Arnaldo, contém esta linguagem emocional, todos com composições de sua autoria, retratam sua maneira de ser, sua vivência como homem do campo, depois estudando e indo para a cidade, mas sempre voltando às suas raízes, fiel à sua origem, convicto e verdadeiro, traduzida em música. Sua formação como violonista erudito embasa sua interpretação, podendo expressar-se com maior clareza instrumental, sempre límpido e cristalino. Suas obras tem uma linguagem fluente, como a inspiração, brotam com uma estrutura completa, como uma fonte interminável de idéias sonoras, sempre visualizando uma situação concreta, verdadeira música incidental.

Gostei de ouvir Arnaldo, cada música sua conta uma história e seu relato é muito convincente.

Contrastes - Paulo Amorim

Gravadora: Independente

Um artista com uma sólida formação e uma personalidade marcante, que impõe sua maneira de ser musical em todo repertório, nos prendendo da primeira a última música, com sua rica sonoridade e seu jogo colorístico, explorando este aspecto em todo repertório. Paulo nos apresenta um violão maiúsculo em que a música flui em todos detalhes, criando desde os momentos mais sutís a um poderoso crescendo, expressivo e envolvente.

O repertório se estende desde a Sonata III do mexicano Manuel Ponce, com sua linguagem neo-romântica, com uma interpretação perfeita em todos os detalhes e original em sua descrição. M.Diego-Pujol tem esta belíssima "Elegia por la muerte de un tanguero" que faz uma homenagem à Astor Piazzolla, coloco esta intepretação de Paulo como referência, ele soube captar a essência da música porteña. Philip Houghton, compositor australiano traz estas quatro peças "Stéllé", obra com uma linguagem descritiva e de complexa construção. Paulo nos traz "4 Impressões", obra descritiva de sua autoria, mostrando seu lado criativo, são momentos descrevendo estados de espírito, peças de muito fôlego técnico e expressividade. Guido Santórsola é presente com o "Capricho Secondo". Radamés Gnatalli conclui este CD com "2 danças", aqui Paulo demonstra uma compreensão plena da linguagem brasileira.

Este CD é surpreendente em todos os aspectos, mostrando um Paulo Amorin como expoente violonista português e que se coloca dentre os melhores de sua geração.

TRIO DE GUITARRAS DE LISBOA - António Ferreirinha, Fernando Guiomar e José Mesquita Lopes

Gravadora: Numérica - Editora Discográfica (Portugal)

A diversidade de repertório que o violão está passando, com múltiplas combinações, está deixando de ser um instrumento estritamente solístico e se combinando com todo tipo de timbres. Atualmente os compositores descobriram o violão e o violonista descobriu sua polivalência combinatória. Já no século 18 e 19, compositores como Mauro Giuliani, Ferdinando Carulli, Felipo Gragnani e muitos outros, deixaram obras de significativo valor com dois, três e quatro violões e duo de violão com: flauta, violino, cello e oboé. Seguindo este fluxo de composições, chegamos ao século XX e este leque de possibilidades se amplia, gerando obras inusitadas no campo da música de câmara como violão e: trompa, contrabaixo, percussão, colocando o violão como elemento integrante de todas as

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