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GESTÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA: Em busca de uma educação empreendedora

Alex Sandro TOMAZINI1

Ivan Claudio GUEDES2

RESUMO: Este artigo tem como objetivo fundamental analisar a Educação Ambiental sobre o ponto de vista da Educação Empreendedora, com base em experiências desenvolvidas em uma escola pública no município de Guarulhos-SP. Aborda as mudanças de hábitos da Unidade Escolar, a questão ambiental e seus desdobramentos educativos, contribuindo para situar os educadores a respeito das propostas e desafios da educação ambiental empreendedora nas unidades escolares, que hoje se apresentam na constituição das práticas de Educação Ambiental no Brasil. Discute também a formação do aluno tido como “sujeito ecológico”, tomado como tipo ideal, portador de valores éticos, atitudes e comportamentos ecologicamente orientados para o empreendedorismo, que incidem sobre o plano individual e coletivo. Na esfera educativa temos assistido à formação de um consenso sobre a necessidade de problematização dessa questão em todos os níveis do ensino. Assim a Educação Ambiental vem sendo valorizada como uma ação educativa que deveria estar presente, de forma transversal e interdisciplinar, articulando o conjunto de saberes, formação de atitudes e sensibilidades ambientais.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Emprendedorismo. Escola.

ABSTRACT: This paper main objective is to analyze Environmental Education from the point of view of Entrepreneurship Education, based on experiences carried out in a public school in the city of Guarulhos-SP. Approach changes in habits of the School Unit, an environmental issue and its educational consequences, contributing to the situation of educators about the issues and challenges of environmental education entrepreneurship in the school, which today are presented in the constitution of Environmental Education practices in the Brazil. Discourse the formation of the 1 Prof. Doutorando em Ciências da Educação pela Unibrasil. E-mail:

alextomazini@bol.com.br

2 Geógrafo e Pedagogo. Docente do Curso de Licenciatura em Pedagogia e do curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia (Faculdade Progresso). Docente da Prefeitura Municipal de São Paulo. E-mail: ivanclaudioguedes@gmail.com

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student considered as an "ecological subject", considered as ideal, bearer of ethical values, attitudes and performances ecologically oriented towards entrepreneurship, which affect the individual and collective plan. In the educational sphere, we have witnessed the formation of a consensus on the need to problematize this issue at all levels of education. Thus, Environmental Education has been valued as an educational action that must be present, in a transversal and interdisciplinary way, articulating or set of sabers, training attitudes and environmental sensitivities.

Keywords: Environmental Education. Entrepreneurial. School.

1. INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental é uma prática educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e a atuação lúdica e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente. Nesse sentido, contribui para a tentativa de implementação de um padrão civilizacional e societário distinto do vigente, pautado numa nova ética da relação sociedade-natureza, utilizando-se da vertente da Educação Empreendedora para realizar melhorias na qualidade de ensino da comunidade local.

Dessa forma, para a real transformação do quadro de crise estrutural e conjuntural em que vivemos, a Educação Ambiental, por definição, é elemento estratégico na formação de ampla consciência crítica das relações sociais e de produção que situam a inserção humana na natureza. Assim, a pedagogia empreendedora é uma metodologia para fortalecimento da prática de empreender que pode ser ensinada aos alunos das Unidades Escolares, de uso amplo, podendo ser restringida ao campo do empreendedorismo que coexistirá com as orientações adotadas pela escola e pela comunidade externa, proporcionando condições para o desenvolvimento sustentável local.

Pode-se utilizar a mesma linha de raciocínio na observação da prática de professores que se preocupam com o bom profissionalismo, no que se refere à competência técnica, mas ignoram suas atribuições e compromissos sociais e políticos junto aos sujeitos com os quais se relacionam (a comunidade escolar). Pela formação docente brasileira demonstram capacidade na implementação de programas curriculares e transmissão de conteúdos formais, mas incapacidade na apropriação e desenvolvimento de currículos que atendam aos objetivos pedagógicos de construção de cidadãos que constituam sujeitos do processo de mudança histórica.

No âmbito da Educação Ambiental, essa dissociação comum entre o técnico e o político-social-emprendedor, pelos professores, que atuam na prática educativa, pode ser explicada como resultante

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do processo de individualização da ação em sociedade e da lógica mercantil-privatista que enfatiza as dimensões técnicas, em nome da eficiência produtiva no cumprimento de metas estabelecidas e em detrimento da dimensão humanística, entre outros fatores específicos relativos à própria dinâmica do ambientalismo.

A presente pesquisa tem o objetivo geral compreender como a temática da Educação Ambiental Empreendedora é trabalhada no Ensino Fundamental II numa escola pública estadual, tendo como instrumento a análise das práticas pedagógicas na Unidade Escolar. Diante do objetivo geral exposto, os objetivos específicos se delimitam em: realizar o levantamento bibliográfico sobre as concepções de Educação Ambiental Empreendedora; compilar e analisar os pressupostos legais da Educação Ambiental com vistas ao empreendedorismo; investigar e apresentar as características socioambientais empreendedoras da Unidade Escolar.

Justifica-se esta pesquisa pela relevância da escola ter como missão promover transformações culturais e sociais através de projetos de Educação Ambiental associado a Educação Empreendedora, possibilitando que os sujeitos escolares se apropriem de novos conhecimentos e, com isso, possam atuar criticamente na sociedade transformando a realidade em que vivem. O presente estudo pretende contribuir para a pesquisa em Educação Ambiental Empreendedora utilizando de aportes teóricos-metodológicos que subsidiem o desenvolvimento de projetos de Educação Ambiental em uma perspectiva crítico transformadora na rede pública em Guarulhos/SP.

O problema da pesquisa que se coloca é de formular um planejamento empreendedor aliado à Educação Ambiental que seja crítico e inovador, devendo ser acima de tudo uma ação voltada para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva de ação holística que relaciona o homem e a natureza, tomando como referência a esgotabilidade dos recursos naturais e conscientizando-se de que o principal responsável pela sua degradação é o homem.

A discussão conceitual deste trabalho procura estabelecer uma analogia entre uma experiência vivenciada, tendo como ponto de partida uma problemática ambiental específica, buscando entender a cadeia de relações entre teoria e prática, local e global, ambiente e sociedade.

A hipótese deste artigo procura estabelecer o real sentido do planejamento empreendedor ambiental, seus fundamentos, seus propósitos e contribuições da região de Guarulhos/São Paulo. Com base nisso será discutido a relação natureza e cultura visando enxergar os fundamentos do distanciamento e das desigualdades, entre os seres humanos e a natureza, sua relação com a educação, até aproximar-se da situação específica que constitui o objeto desta pesquisa.

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2. CAMINHOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

A Educação Ambiental é parte do movimento ecológico. Surge da preocupação da sociedade com o futuro da vida e com a qualidade da existência das presentes e futuras gerações. Nesse sentido, podemos dizer que a Educação Ambiental é herdeira direta do debate ecológico e está entre as alternativas que visam construir novas maneiras de os grupos sociais se relacionarem com o meio ambiente. A formulação da problemática ambiental foi consolidada primeiramente pelos movimentos ecológicos. Estes foram os principais responsáveis pela compreensão da crise como uma questão de interesse público, isto é, que afeta a todos e da qual depende o futuro das sociedades (CARVALHO, 2012).

Assim, a Educação Ambiental é concebida inicialmente como preocupação dos movimentos ecológicos com uma prática de conscientização capaz de chamar a atenção para a finitude e a má distribuição no acesso aos recursos naturais e envolver os cidadãos em ações sociais ambientalmente apropriadas. É em um segundo momento que a Educação Ambiental vai-se transformando em uma proposta educativa no sentido forte, isto é, que dialoga com o campo educacional, com suas tradições, teóricas e saberes (ANDRADE, 2012). Portanto:

O plano internacional, a Educação Ambiental começa a ser objeto da discussão de políticas públicas na I Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente, realizada em 1972 em Estocolmo, Suécia. Depois disso, 1977, foi tema da I Conferência sobre Educação Ambiental em Tbilisi (na ex-URSS), e, 20 anos depois, da II Conferência, em Tessalônica, Grécia. Tais encontros foram promovidos pela Organização das Nações Unidas (ANDRADE, 2012, p. 19).

Essa mobilização internacional estimulou conferências e seminários nacionais, bem como a adoção, por parte de diversos países, de políticas e programas mediante os quais a Educação Ambiental passa a integrar as ações do governo. No Brasil, a Educação Ambiental aparece na legislação desde 1973, como atribuição da primeira Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema). Mas, é principalmente nas décadas de 80 e 90, com o avanço da consciência ambiental, que a Educação Ambiental cresce e se torna mais conhecida (ANDRADE, 2012).

Na sociedade brasileira, o evento não governamental da última década mais significativo para o avanço da Educação Ambiental foi o Fórum Global, que ocorreu paralelamente à Conferência da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, no Rio de Janeiro, em 1992, conhecida como Rio-92. Nessa ocasião, as ONGs e os movimentos sociais de todo o mundo reunidos no Fórum Global

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formularam o Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis, cuja importância foi definir o marco político para o projeto pedagógico da Educação Ambiental. Esse tratado está na base da formação da Rede Brasileira de Educação Ambiental, bem como das diversas redes estaduais, que formam grande articulação de entidades não governamentais, escolas, universidades e pessoas que querem fortalecer as diferentes ações, atividades, programas e políticas em Educação Ambiental (ANDRADE, 2012).

Essa aposta na formação de novas atitudes e posturas ambientais como algo que deveria integrar a educação de todos os cidadãos passou a fazer parte do campo educacional propriamente dito e das preocupações das políticas públicas. Essa compreensão também é ratificada pela Política Nacional de Educação Ambiental, que entende por esse tipo de educação:

Os processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Carvalho (2012) pontua que com esse breve panorama histórico da Educação Ambiental no Brasil, objetivou-se destacar que ela constitui uma proposta pedagógica concebida como nova orientação em educação a partir da consciência da crise ambiental. No Brasil, a Educação Ambiental que se orienta pelo Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis tem buscado construir uma perspectiva interdisciplinar para compreender as questões que afetam as relações entre os grupos humanos e seu ambiente e intervir nelas, acionando diversas áreas do conhecimento e diferentes saberes, também os não escolares, como os das comunidades e populações locais e valorizando a diversidade das culturas e dos modos de compreensão e manejo do ambiente.

Carvalho (2012) afirma que no plano pedagógico, a Educação Ambiental tem-se caracterizado pela crítica à compartimentalização do conhecimento em disciplinas. É, nesse sentido, uma prática educativa impertinente, pois questiona as pertenças disciplinares e os territórios de saber/poder já estabilizados, provocando com isso mudanças profundas no horizonte das concepções e práticas pedagógicas.

2.1. Sujeito ecológico em formação empreendedora

A existência de um sujeito ecológico põe em evidência não apenas um modo individual de ser, mas, sobretudo, a possibilidade de um mundo transformado, compatível com esse ideal. Fomenta

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esperanças de viver melhor, de felicidade, de justiça e de bem-estar. Assim, além de servir de fonte de identificação para os ativistas e ecologistas, mobiliza sensibilidades que podem ser experienciadas por muitos segmentos de nossa sociedade. Os educadores que passam a cultivar as ideias e sensibilidades ecológicas em sua prática educativa estão sendo portadores dos ideais do sujeito ecológico (DOLABELA, 2003).

Como pontua Dolabela (2003), a incumbência da educação empreendedora é basicamente consolidar os valores empreendedores na sociedade, gerando valores para a comunidade, capacitando com inovações, buscando a autonomia, o desenvolvimento sustentável e o protagonismo juvenil.

Contribuir para a constituição de uma atitude ecológica caracteriza a principal aspiração da Educação Ambiental. É por isso que ela traz consigo forte potencial para alimentar esse ideal de sujeito ecológico, ao mesmo tempo em que opera como importante mediação, pela qual esse ideal vai sendo transformado em experiências concretas de identificação e subjetivação de indivíduos e coletividades (CARVALHO, 2012).

Carvalho (2012) afirma que a Educação Ambiental está efetivamente oferecendo um ambiente de aprendizagem social e individual no sentido mais profundo da experiência de aprender. Uma aprendizagem social e individual, no sentido radical, a qual muito mais do que apenas prover conteúdos e informações, gera processos de formação do sujeito humano, instituindo novos modos de ser, de compreender, de posicionar-se ante os outros e a si mesmo, enfrentando os desafios e as crises do tempo em que vivemos.

Neste sentido, cabe a formação continuada dos professores e as atividades de reflexões e práticas, dentro e fora do ambiente escolar. Professores e alunos como protagonistas do processo tendem a efetivar melhor as ações, do que seguindo apenas planejamentos e manuais prontos e acabados, que se expressam nos currículos escolares.

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A ideia da implantação da horta surgiu da necessidade de manter o terreno do entorno do prédio da escola limpo, livre do mato e de possíveis criadouros do vírus da dengue e também da necessidade de reciclar o lixo orgânico produzido na cozinha da Unidade Escolar. Houve a oportunidade de proporcionar aos alunos aulas diferenciadas ao ar livre através de práticas de Educação Ambiental.

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Em reuniões com os professores, percebeu-se que a postura da direção da escola é fundamental para sustentar o projeto de Educação Ambiental, já que mesmo o professor estando motivado, a direção pode criar barreiras que efetivamente o desestimule a capacitar-se, buscar parcerias, desenvolver novas metodologias, enfim, trabalhar fora do padrão de aula. Em função disso, os mesmos professores que levaram consigo o interesse em retornar as ações de Educação Ambiental na escola, levaram os alunos para ajudar na adubação do terreno e posteriormente no plantio de hortaliças.

Após três meses, foram colhidas as primeiras hortaliças que foram utilizadas na merenda escolar e também foram distribuídas para alunos para levarem aos seus respectivos lares. O corpo docente também levou os alunos para a praça, em frente à escola e montaram uma banca com hortaliças e sementes para distribuir para os transeuntes que por ali passavam.

Figura 3. Distribuição de mudas e sementes na praça em frente da Unidade Escolar. Fonte: Foto do autor, 2019.

A Educação Ambiental empreendedora ocorreu também no ambiente externo da escola, como parte da ação humana de transformar a natureza em cultura, atribuindo-lhe sentidos, trazendo-a para o campo da compreensão e da experiência humana de estar no mundo e participar da vida. O aluno é por natureza um intérprete, que pode aprender e repassar os conhecimentos aprendidos para toda comunidade.

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O professor está sempre envolvido na tarefa reflexiva que implica provocar outras leituras da vida, novas compreensões e versões possíveis sobre o mundo e sobre nossa ação no mundo. O importante é lembrar que não há apenas uma leitura sobre dado acontecimento, seja este social ou natural. Sempre podemos repensar, reinterpretar oque vemos e o que nos afeta à luz de novas considerações, do diálogo com nossos interlocutores, de novas percepções e sentimentos e das experiências acumuladas ao longo de nossa trajetória de vida.A ideia de interpretação não remete à de decodificação ou de descoberta de um sentimento preexistente, mas traz sempre a possibilidade de nova leitura possível, sem supor a revelação de somente um sentido autêntico ou de uma univocidade escondida no fenômeno interpretado. Assim, a interpretação quanto do mundo da vida e do universo cultural do sujeito que interpreta. Interpretar, nesse sentido, aproximar-se mais da experiência, ou seja, de uma interação criativa que leva as marcas de seu intérprete e de sua visão de mundo, do que de um cientista empiricista, que persegue a verdade última escondida atrás dos fenômenos, oculta apenas pela ignorância do conhecimento humano (CASTRO, 2019, p. 18).

O ensino é um ato de criação, mediante o qual se estabelecem sentidos culturais para o aluno. Para Paulo Freire (1996), a aprendizagem muda o sujeito e seu campo de ação, ao conferir-lhe a possibilidade de novas leituras do mundo e de si mesmo. Essas ideias estão na base da sua consagrada metodologia de ensino- aprendizagem, no qual o entendimento do ato de educar foi empregada ao processo de alfabetização:

O analfabeto aprende criticamente a necessidade de ler e escrever. Prepara-se para ser o agente desta aprendizagem e consegue fazê-lo na medida em que a alfabetização é mais do que o simples domínio mecânico das técnicas de ler e escrever. É entender o que se lê e escrever o que se entende. É comunicar-se graficamente. É uma incorporação. Implica não em uma memorização mecânica das sentenças, das palavras, das sílabas, desvinculadas de seu universo existencial – coisas mortas ou semimortas – mas uma atitude de criação e recriação. Implica uma autoformação da qual pode resultar uma postura atuante do homem sobre seu contexto (FREIRE, 1996, p. 72).

Retomando a ideia do educador ambiental como empreendedor, um de seus desafios mais importantes seria o de articular as camadas de tempo de curta e longa duração, relativas às

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compreensões das relações entre sociedade e natureza; compreensões essas que constituem as raízes do ideário ambiental de nossa sociedade que está marcado pela tensão entre o repúdio e o enaltecimento da natureza. Ao empreender, o educador ambiental seria um provocador de novas compreensões dessas relações, ampliando percepções já estabelecidas no senso comum e questionando preconceitos bem como visões ingênuas e pouco ponderadas com as quais muitas vezes nos deparamos (DIAS, 2012).

Para Dias (2012), a Educação Ambiental, por sua vez, tem a oportunidade de problematizar essas diferenças e forças sociais que se organizam em torno das questões ambientais. Ela, como prática educativa reflexiva, abre aos sujeitos um campo de novas possibilidades de compreensão e auto compreensão da problemática ambiental. Nesse caso, acreditamos que a contribuição da Educação Ambiental estaria no fortalecimento de uma ética que articulasse as sensibilidades ecológicas e os valores emancipadores, contribuindo assim para a construção de uma cidadania ambientalmente sustentável.

Nessa mesma linha de considerações para Feldmann (2009) a expressão saber ambiental, para designar o saber que desponta das margens da racionalidade científica, surgindo como problematizador da razão instrumental, do conhecimento especializado em disciplinas, e sinaliza o desejo de novo marco epistêmico capaz de entender a complexidade das interações entre sociedade e natureza.

Esse saber ambiental interdisciplinar, constituído entre as disciplinas ou à margem delas, será sempre profundamente motivador para os alunos e comunidade local, ou seja, um saber que, por sua própria natureza, estará sempre transgredindo os limites da disciplina, instaurando fronteiras empreendedoras que possam beneficiar a sociedade (DIAS, 2012).

No entender de Feldmann (2009), faz-se necessário assumir uma nova postura interdisciplinar como abertura a novos saberes e situar-se intencionalmente da escola e os saberes escolares, enquanto espaços de sua manutenção e legitimação. É desse difícil lugar de não pertença que a Educação Ambiental aponta a educação escolar como tradicional, parte inseparável da racionalidade moderna, reprodutora de seus dualismos e segmentações.

A Educação Ambiental desperta enorme expectativa renovadora do sistema de ensino, da organização e dos conteúdos escolares, convidando a uma revisão da instituição e do cotidiano escolar mediante os atributos da transversalidade e da interdisciplinaridade. Essa é tarefa bastante ousada. Trata-se de convidar a escola para a aventura de transitar entre saberes e áreas disciplinares, deslocando-a de seu território já consolidados rumo a novos modos de compreender, empreender, ensinar e aprender (IBRAHIN, 2014).

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No mundo, os aspectos tomados isoladamente pelas disciplinas estão permanentemente relacionadas, como a trama de um só tecido. Ao puxar um fio, tratando-o como fato único e isolado, cada área especializada do conhecimento não apenas perde a visão do conjunto, como também pode esgarçar irremediavelmente essa trama em que tudo está imbricado. Com isso, a multiplicidade das camadas de significados que constituem a realidade é traduzida em fatos unidimensionais, vistos de somente uma perspectiva (IBRAHIN, 2014).

Como afirma Jacobi (2003), o desafio da Educação Ambiental empreendedora repousa no fato de que uma prática interdisciplinar de Educação Ambiental pode tanto ganhar o significado de estar em todo lugar quanto, ao mesmo tempo, não pertencer a nenhum dos lugares já estabelecidos na estrutura curricular que organiza o ensino. Por outro lado, como ceder à lógica segmentada do currículo, se a Educação Ambiental tem como ideal a interdisciplinaridade e nova organização do conhecimento. Diante de um projeto não ambicioso, o risco é o da paralisia ante o impasse do tudo ou nada: ou mudar todas as coisas ou permanecer à margem, sem construir mediações adequadas e experiências significativas de aprendizado pessoal e institucional.

Nos caminhos da interdisciplinaridade, uma receita pronta seria algo muito antagônico aos ideais pretendidos. Essa busca exige disponibilidade para construir as mediações necessárias entre o modelo pedagógico disciplinar, já instituído, e as ambições de mudança. A construção de práticas inovadoras não se dá pela reprodução, mas pela criação, pela readaptação e, sobretudo, no caso da interdisciplinaridade, por novas relações na organização do trabalho pedagógico (JACOBI, 2003).

Lisboa (2012) afirma que ao constituir-se como prática educativa empreendedora, a Educação Ambiental posiciona-se na confluência do campo ambiental e as tradições educativas, as quais vão influir na formação de diferentes orientações pedagógicas no âmbito da Educação Ambiental ou, dito de outro modo, produzir diferentes educações ambientais. Contudo, é importante não esquecer que esse encontro entre o ambiental e o educativo, no caso da Educação Ambiental, se dá como um movimento proveniente do mundo da vida, não da puramente biológica, mas da vida refletida, ou seja, do mundo social. A preocupação ambiental presente na sociedade repercute no campo educativo. A educação, neste sentido, tem-se mostrado um campo altamente sensível às novas demandas e temáticas socioculturais, elegendo-as como objeto da prática pedagógica.

O desafio que se coloca é o de formular uma Educação Ambiental que seja crítica e inovadora tanto no nível formal como no não formal. Assim, a Educação Ambiental deve ser acima de tudo um ato público voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva de ação holística que relacione o homem, a natureza e o universo, tomando como referência o fato de que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem (JACOBI, 2003).

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Quando nos referimos à Educação Ambiental, estabelecemos uma educação para a cidadania; configurando-se como elemento determine para a consolidação de sujeitos cidadãos. O desafio do fortalecimento da cidadania para a população como um todo, e não para um grupo restrito, concretiza-se a partir da possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e por conta disso converter-se responsável na defesa da qualidade de vida (LOUREIRO, 2011).

A forma como o currículo é oferecido ainda não permite um arranjo flexível para os professores possam implementar a dimensão ambiental em suas aulas. Considerando-se que o principal objetivo da Educação Ambiental é contribuir para as mudanças de atitudes humanas em relação ao meio ambiente, há uma grande dificuldade em avaliar esses comportamentos (DIAS, 2012).

A Educação Ambiental permite que o processo aconteça sob diferentes aspectos, que se complementam uns aos outros. Assim, há espaço para momentos onde ocorrem transmissões de conhecimento (pode ser do aluno para o professor), construção do conhecimento (inclusive entre os professores de diferentes disciplinas) e a desconstrução das representações sociais, principalmente a dos próprios professores, fundamentados na interação entre ciência e cotidiano; conhecimento científico, popular e representações sociais; participação política e intervenção cidadã, descartando completamente a relação predominante de que o professor ensina e o aluno aprende, e estabelecendo o processo dialógico entre gerações diferentes (professore e alunos), discutindo possibilidades de ações conjuntas, que possam garantir vida saudável para todos, sem se esquecer da herança ecológica, que deixamos às gerações futuras (PEDRINI, 2014).

Com a Educação Ambiental, a escola, os conteúdos e o papel do professor e dos alunos são colocados em uma nova situação, não apenas relacionada com conhecimento, mas sim com o uso que fazemos dele e a sua importância para a nossa participação política cotidiana. Todas as pessoas envolvidas no processo têm conhecimentos específicos e representações sociais sobre a problemática ambiental em que está inserida cotidianamente (CATRO, 2009).

A Educação Ambiental possibilita e busca a desconcentração de clichês e slogans simplistas sobre as questões ambientais e a construção de um conhecimento mínimo (ou representações sociais qualitativamente melhores) sobre temas complexos e desafiadores de nossa época. Assim a Educação Ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas (REIGOTA, 2009).

O grande desafio para a educação ambiental no ensino formal é criar condições para a formulação de projetos pedagógicos diversificados e participativos. A escola representa um espaço de trabalho fundamental para iluminar o sentido da luta ambiental e fortalecer as bases da formação

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para a cidadania. Entretanto, e educação ambiental não se limita ao cotidiano escolar, cada vez mais se expande para diversos setores sociais envolvimentos na luta pela qualidade de vida. E não poderia ser diferente, já que toda a sociedade tem responsabilidade sobre os impactos da ação humana no ambiente (DIAS, 2012).

Partindo desta ideia, o desenvolvimento da Educação Ambiental na realidade escolar requer uma reflexão sobre qual o papel da escola no cenário ambiental atual, e, como ela, a partir de sua complexidade de relações e estrutura, pode interagir com a realidade e desenvolver processos pedagógicos voltados à formação de cidadãos críticos e participativos. Por estas questões pode-se dizer que a Educação Ambiental Empreendedora traz muitos desafios à escola e surge para recriar as formas de se trabalhar os conteúdos e até mesmos de encarar as relações (DIAS, 2012).

Reigota (2009) apresenta que a Educação Ambiental é um exercício constante de mudança das práticas educativas, de valorização das diversas correntes pedagógicas e de desenvolvimento de uma preocupação ambiental efetiva, questões até então deixadas em segundo plano pela escola moderna. Isto porque os processos educativos, no compasso do movimento global, afastam-se da dimensão ambiental, selando a visão compartimentada da realidade e a ruptura homem-natureza.

Considerando que os professores das Ciências Humanas e Biológicas, assim como os demais profissionais, precisam atender e lidar com as problemáticas atuais, é um diferencial o fato de a Educação Ambiental possibilitar a atualização e a capacitação dos profissionais da escola para atender à demanda de educar na modernidade. Uma das premissas da Educação Ambiental Empreendedora é então, preparar a comunidade escolar para realizar um trabalho interdisciplinar baseado em princípios libertários, transformadores, propositivos e problematizadores da sociedade.

Em suma, não podemos nos satisfazer com respostas e concepções simples para uma Educação Ambiental voltada para o empreendedorismo que tem como gênese e motivo de ser um contexto que pode mover a comunidade escolar e seu entorno. A intensificação do diálogo com os movimentos sociais tem ampliado a interface entre a esfera educacional e os acontecimentos voltados ao empreendedorismo na Unidade Escolar. E isso tem ocorrido não apenas com relação ao ambiente, mas também no caso de outras educações de fronteira, como a educação para a paz, a educação de gênero, a educação para os direitos humanos, etc. O que essas novas educações têm em comum é o fato de tratarem as questões emergentes da vida social sob uma perspectiva interdisciplinar, convocando diferentes saberes e áreas de conhecimento para compreendê-las (JACOBI, 2003).

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Ao longo dos últimos anos, a Educação Ambiental tem sido cogitada e adotada como uma das ações capazes de colaborar na transformação do padrão de degradação socioambiental vigente na nossa sociedade. A escola foi um dos primeiros espaços a absorver esse processo de ambientalização da sociedade, recebendo sua cota de responsabilidade para melhorar a qualidade de vida da população, por meio da informação e conscientização.

Entende-se que uma escola com práticas de empreendedorismo formam alunos autônomos, habilitados para exercer habilidades e competências de liderança, inovação, criação para a emancipação do educando com a finalidade de exercer sua condição de cidadão de forma prudente e consciente.

Sabe-se que a Unidade Escolar é um local onde as discussões acerca do pensamento de pertencimento é um dos pontos fortes da Educação Ambiental aliada ao empreendedorismo, dificultado pela conjuntura institucional que organiza a rotina escolar.

O Projeto de Educação Ambiental emprega um método que pode ser considerado distinto, aplicando nas suas atividades como: subsídios teóricos, aulas práticas de horticultura e jardinagem para o corpo docente e discente, estudo da legislação ambiental e pesquisa de campo na Unidade Escolar. Visando que os alunos, professores e comunidades envolvidos compreendam o local onde vivem, levando-os a criar um vínculo de pertencimento, ao serem preparados e estimulados a propor soluções para os problemas da comunidade local.

O estudo aponta que houve pequenos avanços significativos a partir da difusão desse debate na comunidade local, contudo, ainda há um desequilíbrio acentuado entre a teoria e a ação em todo, pois todo projeto é desenvolvido sem ajuda de custo.

O Projeto denominado Eco-Escola é programado anualmente e desenvolvido há oito anos. Trabalhado por etapas e em todas as séries, o tema de 2019 é horticultura e jardinagem.  No ano passado, o assunto tratado foi à reciclagem de alumínio. No total foram arrecadados 3 mil quilos de alumínio, sendo necessário de pelo menos quatro caminhões para realizar o transporte do material. Os valores arrecadados com a reciclagem foram investidos em livros para biblioteca, onde os próprios alunos puderam escolher as obras. Já em 2017 o tema foi o de reciclagem de óleo de cozinha.

A escola foi laureada por cinco vezes com o Selo Ambiental de Guarulhos, premiação anual criada desde 2002 pela Câmara Municipal de Guarulhos, pelo Decreto Legislativo 003/202 e Lei Municipal 7.047/2012 (GUARULHOS, 2012). A premiação tem como proposta reconhecer, valorizar e divulgar projetos de defesa e de preservação do meio ambiente, com resultados significativos para a melhoria da qualidade ambiental. Atualmente, é a principal premiação ambiental de Guarulhos, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do município.

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Em suma, a escola representa um espaço de trabalho fundamental para iluminar o sentido de luta ambiental e fortalecer as bases da formação para a Educação Ambiental com vistas ao empreendedorismo, apesar de carregar consigo o peso de uma estrutura desgastada e pouco aberta às reflexões relativas à dinâmica socioambiental. Isto não significa, porém, que a Educação Ambiental se limita ao cotidiano escolar. Pelo contrário, cada vez mais se expande para os diversos setores sociais envolvidos na luta pela qualidade de vida. E não poderia ser diferente, já que toda a sociedade tem responsabilidade sobre os impactos da ação humana no ambiente.

BIBLIOGRAFIA

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CARVALHO, Isabel Cristina e Moura. Educação Ambiental: A formação do sujeito ecológico. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2012.

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Referências

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