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Leia os textos a seguir e reflita como o conceito de território é fundamental para analisarmos esse processo.

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Academic year: 2021

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Módulo 1 Reconhecendo o Território

Aula 1

O Processo de Ocupação do Território Fluminense

OBJETIVO

Descrever e analisar o processo de ocupação do território fluminense, enfatizando a importância do quadro natural e a lógica da rede

estabelecida para dar suporte à circulação da produção como elementos essenciais para esse processo.

INTRODUÇÃO

A organização espacial do território fluminense durante o período colonial foi condicionada por uma lógica que atendia a interesses externos,

sendo, desta forma, o território organizado a partir de suas funções: exportar e defender.

Dentro desta racionalidade, o quadro natural foi, em muitos momentos, um facilitador ao processo de ocupação e mesmo interiorização dessa ocupação, através da vasta rede hidrográfica que compõe o território fluminense. Associa-se ainda como um facilitador desta interiorização as trilhas e caminhos indígenas encontrados pelos portugueses. Quanto às características do relevo, embora a Serra do Mar tenha sido um

importante obstáculo a ser superado no processo de ocupação das áreas interioranas, não se deve supravalorizar as feições íngremes e

escarpadas da Serra do Mar em razão do sistema técnico do período, visto que no momento em que a interiorização foi necessária para se escoar o ouro advindo das minas, ela deixou de ser um obstáculo e conseqüentemente foi transposta. Nesse sentido, o quadro natural fluminense, associado às populações indígenas que aqui habitavam, deram um sentido próprio à organização do território durante a fase inicial do seu processo de configuração (RAHY, 1999).

As economias de exportação também tiveram papel relevante no processo de ocupação e povoamento do território fluminense, seja de forma direta por meio das áreas produtoras em território fluminense, como foi com a cana, o gado e o café; seja de forma indireta, servindo como entreposto para outras áreas produtoras, como ocorreu durante o período de mineração em Minas Gerais. A rede de circulação estabelecida para dar suporte à circulação da produção, dentro da lógica de atender aos interesses da coroa portuguesa, resultando em uma organização espacial caracterizada pelo grande papel desempenhado pelos portos, foi responsável pelo estabelecimento de novos caminhos para o Rio de Janeiro.

A implementação das ferrovias, na segunda metade do século XIX foi um importante dinamizador do processo de articulação e integração do território fluminense, contribuindo, entretanto, muito pouco para o surgimento de novos núcleos urbanos, limitando-se, na maioria das vezes, a interligar áreas já ocupadas anteriormente.

Leia os textos a seguir e reflita como o conceito de território é fundamental para analisarmos esse processo.

O "Sentido" da Organização Espacial da Colônia O Meio Natural e o Povoamento

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fluminense

O "Sentido" da Organização Espacial da Colônia

A conquista e povoamento do atual estado do Rio de Janeiro devem ser vistos dentro de um quadro geral que extrapola as fronteiras nacionais e remonta ao período das grandes navegações européias e em específico a constituição de Portugal como uma grande potência colonial. A

colonização das terras brasileiras, a partir do século XVI, vai ser

resultante da iniciativa de empresas comerciais portuguesas levadas a efeito pelos navegadores daquele país.

O traço mais marcante da colonização do Brasil, embora o seja de outras partes do continente americano, foi o de servir à manutenção do pacto colonial. De fato, o que Caio Prado Jr. chama de "sentido" da nossa colonização está expresso na organização a partir dos interesses da metrópole guiados, de um lado, na manutenção da posse desse território e, de outro, na exploração comercial, isto é, na busca por metais

preciosos e na obtenção de altos lucros com a venda de mercadorias tropicais demandadas pela Europa.

Como aponta RAHY (1999), não por acaso a organização espacial desse período vai ser caracterizada pela constituição e fortalecimento das cidades e vilas portuárias, de forma que no litoral surgiriam não só os primeiros embriões e/ou cidades fluminenses (Rio de Janeiro e Cabo Frio), como também as primeiras freguesias e vilas (como por exemplo, Angra dos Reis).

O caráter periférico e litorâneo do povoamento da colônia é explicado como conseqüência ora da existência de obstáculos entre o litoral e o interior, como a Serra do Mar, ora da tropicalidade do Brasil, que tornaria difícil a adaptação dos europeus. No entanto, embora estes fatores

tenham se configurado em obstáculos, eles devem ser vistos com certas ressalvas, em decorrência da precariedade técnica dos europeus do século XVI, verdadeira se comparada com a tecnologia de hoje, não chega a ser relevante se nos lembrarmos de que os indígenas, com recursos técnicos ainda mais rudimentares, criaram inúmeros caminhos e trilhas entre o litoral e o interior e nunca se fixaram na periferia atlântica do território. Soma-se ainda o fato de sempre que corriam boatos sobre a existência de ouro no interior, ou quando havia a necessidade de escravizar indígenas, os obstáculos deixavam de ser tão importantes e grandes contingentes de colonizadores dirigiam-se para aquela porção do continente.

O povoamento do litoral sul fluminense nos fornece alguns exemplos do quadro mencionado. Se a transposição da Serra do Mar foi em

determinado momento posta em segundo plano, resultando na

concentração de população junto ao litoral nas vilas de Angra dos Reis e Paraty. Com a descoberta de ouro nas Minas Gerais e a necessidade de escoamento deste metal precioso, a Serra do Mar deixou de ser

obstáculo por meio da utilização do caminho indígena que ligava a vila de Paraty ao caminho dos paulistas, fornecendo uma rota de escoamento, conforme demonstra a figura abaixo.

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Fonte: Companhia Nacional de Planejamento Integrado, CNPI

O MEIO NATURAL E O POVOAMENTO

Retomando o "sentido" da colonização - exportar e defender -, os portugueses consideravam como relevantes as condições do meio natural, tais como: a localização de baías, estuários, rios, baixadas e gargantas entre serras.

Nesse sentido, o quadro natural que compõe o cenário fluminense apresentava diversos desses fatores favoráveis aos objetivos portugueses.

A presença de algumas baías, como a da Guanabara e da Ilha Grande, favorecia o aporte seguro dos navios, possibilitando a instalação de portos em torno dos quais se desenvolveram núcleos populacionais. As feições naturais da Baía da Guanabara, com uma entrada não muito larga e balizada por morros de encostas íngremes, a garantiam enquanto posição estratégica, tanto no que se refere à manutenção da unidade territorial e política, quanto no tocante ao controle da navegação no Atlântico Sul.

O reconhecimento da inegável importância geopolítica representada pela Baía de Guanabara ficou demonstrado pelo empenho dos colonizadores portugueses em expulsar os franceses da área. Para assegurar sua posse, Estácio de Sá transferiu do Morro Cara de Cão para o Morro de São Januário, mais tarde conhecido como Morro do Castelo, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (BARROS, 2005). Desta elevação dominava-se a entrada da baía.

Assim como as baías, os estuários não só foram abrigos naturais para os navios portugueses, como também permitiram a penetração para o interior, subindo os vales dos rios principais e de seus afluentes. Os rios que descem a Serra do Mar e que, antes de lançarem suas águas no oceano, atravessam a Baixada Fluminense, foram utilizados como a forma mais fácil para transpor os inúmeros trechos de brejos da área. O mesmo ocorreu com o rio Paraíba do Sul, pelo qual se atingiram o Norte e o Noroeste Fluminense, assim como com o rio São João, o qual

possibilitava a ligação do litoral com a encosta da Serra do mar.

Somam-se ainda enquanto importantes rios no processo de penetração para o interior, os tributários da Baía de Guanabara, como o Iguaçu, o Inhomirim e o Macacu, dentre outros (LAMEGO).

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rios que penetram pelo interior do continente, foram de grande auxílio no processo de povoamento. RAHY (1999) chega a mencionar que "os povoados surgidos às margens desses rios, sobretudo junto às embocaduras, transformaram-se em marcos da presença lusitana no litoral fluminense, garantindo aos portugueses a posse da terra". Esta autora cita como exemplo Barra de São João, Macaé e São João da Barra, às margens dos rios São João, Macaé e Paraíba do Sul respectivamente.

Se de um lado a rede hidrográfica foi um elemento facilitador da ocupação das terras interioranas, o mesmo não ocorreu com o relevo fluminense. Marcado pela Serra do Mar, com suas escarpas íngremes e altitudes elevadas, o relevo foi durante longo período um "obstáculo" a ser transposto. Cabe ressaltar as feições da Serra do Mar, onde

encontram-se dois blocos soerguidos: o da Serra dos Órgãos, ao norte da Baía de Guanabara,a Pedra do Sino chega a 2.218 metros de altitude e o da Serra da Bocaina, nos limites com o estado de São Paulo.

Diante da pujança da Serra do Mar, os vales foram importantes

formações geomorfológicas no sentido da ocupação do interior das terras fluminenses. A passagem entre o litoral e o Médio Vale do Paraíba do Sul realizava-se através dos locais onde a linha de cristas se deprime, isto é, nos colos intermontanos e gargantas como mencionado por RAHY, que destaca como os mais importantes: Tinguá, Quitandinha, Alto da Serra da Estrela, Rodeio e Sapé. Em suas origens, inúmeras vilas e cidades têm sua localização relacionada às vias de penetração, cujos traçados foram condicionados por esses caminhos naturais (como por exemplo: Petrópolis, Engenheiro Paulo de Frontin e Paty de Alferes).

Mapa 2: Relevo

Além dos acessos facilitados pelo quadro natural, os portugueses se beneficiaram dos caminhos e trilhas indígenas já encontrados no território. Dentre os grupos indígenas que ocupavam as terras

fluminenses destacavam-se os tupis, os jês e os goitacás. O aldeamento das tribos indígenas serviu para garantir aos portugueses o sucesso necessário na empreitada de conquista e colonização. Muitos desses aldeamentos constituíram-se em embriões de futuras vilas e cidades: Niterói (séc. XVI), Mangaratiba, São Pedro da Aldeia e Macaé (séc. XVII), Itaguaí e São Fidelis (séc. XVIII), Valença, Itaocara e Santo Antônio de Pádua (séc. XIX), conforme exposto no mapa 3.

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Mapa 3 - Índios e Capitanias

A economia de exportação e o "sentido" da organização espacial fluminense

Se a defesa do território brasileiro foi garantida por intermédio da instalação dos fortes, beneficiados pela morfologia da Baía de

Guanabara, a exportação foi resultado dos diversos "ciclos" econômicos que serviriam de suporte à colonização e caracterizaram a economia brasileira durante séculos. E assim foi desde o século XVI até o inicio do século XX, quando então se completou o desbravamento e a ocupação das terras fluminenses, sendo o processo de conquista e povoamento resultado, direto ou indireto, da defesa do território e da economia de exportação.

A Cana-de-açúcar e o Gado

A introdução da agricultura canavieira na Baixada Fluminense, principal área do Rio de Janeiro produtora de açúcar desde o século XVI até o século XX, teve inicio após a expulsão dos franceses, em 1567, em concomitância com a doação das primeiras sesmarias no recôncavo da Baía de Guanabara, às margens da qual estava a cidade do Rio de

Janeiro. RAHY (1999) aponta que a cidade do Rio de Janeiro, fundada em 1565, foi o centro irradiador do cultivo da cana pelo recôncavo da Baía de Guanabara, mantendo-se ao longo dos séculos XVI e XVII com posição de destaque neste setor da produção, constituindo a "zona velha" do açúcar.

O cultivo da cana-de-açúcar em geral era praticado nas áreas de mata, em terrenos não embrejados, livres de enchentes. Nos campos, com os objetivos de servir para alimentação e transporte, assim como para a moagem da cana, criava-se gado bovino como atividade complementar. A criação de gado vai se manter até meados do século XVII, quando os canaviais substituíram definitivamente os criatórios, espraiando-se pelas aluviões argilosas, tanto da margem direita do rio Paraíba do Sul (entre o rio e a Lagoa Feia), quanto da sua margem esquerda (entre o rio e a Lagoa de Campello) e do baixo curso do rio Muriaé (ver mapa 4). Com a expansão da lavoura canavieira se consolida a "zona nova" do açúcar, caracterizada, ao contrário da "zona velha", por pequenas propriedades, que seriam, no século seguinte, absorvidas pelas usinas, decorrendo daí o deslocamento dos pequenos proprietários,

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principalmente para a região de Itaperuna, onde se plantaria café. Cabe destacar que, ainda no século XVIII, o cultivo da cana espraiou-se tanto no sentido leste quanto para oeste do recôncavo da Guanabara. Pelo norte e pelo sul do maciço costeiro, atingiu terras correspondentes aos atuais municípios de Itaboraí, Rio Bonito, Aruruama, Maricá e Saquarema. Para oeste, os canaviais instalaram-se nos terrenos aluvionais da restrita planície litorânea e nas colinas mais suaves das pequenas baías que se apresentam entre Mangarartiba e Paraty. Se a cana-de-açúcar espraiou-se por diversas partes do território fluminense, foi na região de Campos que essa cultura se consolidou a partir das usinas instaladas na região. Um dos indícios desta consolidação pode ser visto a partir da fundação em Quissamã, do primeiro "engenho central" (1877), nome então dado às usinas. Já em 1885, funcionavam na baixada goitacá 17 usinas e seis grandes engenhos. No entanto, em contrapartida a esse progresso técnico observado na baixada, os

"empresários" campistas se caracterizavam como grandes detentores de mão-de-obra escrava.

Mapa 4 - Ocupação do território Séc. XVIII

A Mineração

Embora tenha sido realizada essencialmente nas Minas Gerias, a mineração acarretou em algumas transformações significativas no processo de ocupação do território fluminense, visto que para abastecer a região das minas, assim como para escoar o metal para a metrópole, foi necessário abrir caminhos ligando o litoral à área da mineração. Os caminhos indígenas que ligavam o litoral ao interior foram de grande utilidade para que o percurso entre o porto e as minas fosse realizado. Ao longo desses caminhos, instalaram-se registros, pousos de tropas e, nas redondezas, fazendas voltadas para a produção de alimentos visando ao abastecimento dos mineradores. Em decorrência destes entrepostos, desenvolveram-se muitos povoados, os quais mais tarde se

transformariam em vilas e cidades, como ocorreu com Paraíba do Sul e Paty do Alferes (RAHY, 1999).

Se de um lado a mineração possibilitou indiretamente o desenvolvimento de algumas cidades e vilas, por meio da função de entreposto comercial destas áreas, a mineração também foi responsável direta pelos núcleos iniciais de povoamento de outras parcelas do território fluminense. Em

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fins do século XVIII, desiludidos com a escassez de ouro em Minas Gerais, alguns mineradores tiveram a iniciativa de procurar ouro na região de Cantagalo, onde já havia sido encontrado o metal nos aluviões dos rios Negro, Grande e Macuco.

O ouro de Cantagalo atraiu pessoas não só de Minas Gerias, mas

também de outras partes do Rio de Janeiro, como a Baixada Fluminense. No entanto, devido à inexpressiva produção, assim como à dificuldade de mineração, essa atividade não se desenvolveu por muito tempo na região, ao passo que a ocupação desta só ocorreria efetivamente com o cultivo do café.

As transformações provocadas pela mineração deram como resultado final o deslocamento do eixo econômico da colônia, antes localizado nos grandes centros açucareiros do nordeste (Pernambuco e Bahia), para a cidade do Rio de Janeiro. A própria capital da colônia transfere-se em 1763 da Bahia para o Rio de Janeiro, como resultado da maior centralidade ganha pela cidade.

Referências

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