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PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO: O CASO DOS PROFESSORES SUBSTITUTOS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Resumo

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Academic year: 2021

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PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO: O CASO DOS PROFESSORES  SUBSTITUTOS DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE J ANEIRO.  Viviane Dias – Uerj – diasviviane01@hotmail.com  Melissa Machado – Uerj – melissagmac@yahoo.com.br  Resumo  O estudo analisa o trabalho docente no Brasil considerando o atual contexto dos processos  de reestruturação produtiva em curso, em especial, o processo de precarização do trabalho  que  atingiu  as  Instituições  de  Ensino  Superior.  Para  a  análise  realizaram­se  pesquisas  documentais, estatísticas e bibliográficas sobre trabalho contemporâneo, trabalho precário e  seus desdobramentos no trabalho docente; tendo como campo empírico a Universidade do  Estado  do  Rio  de  Janeiro  (Uerj).  Discute­se  em  que  medida  o  patamar  alcançado  pelas  mudanças de ordem político­sócio­econômica e pela precarização pôde ser evidenciado no  trabalho do professor universitário, com enfoque mais especifico, no trabalho do professor  substituto.  Entende  o  processo  de  precarização  como  caracterizado  pelas  formas  de  sub­  contratação,  trabalho  em  tempo  parcial  ou  temporário  com  efeitos  significativos  nos  direitos  trabalhistas.  Apresenta  uma  melhor  compreensão  do  professor  substituto  no  contexto  das  reformas  de  viés  neoliberal  que  atravessaram  as  IES  públicas,  concluindo,  diante das análises, que na Uerj são amplamente utilizadas formas flexibilizadas de gestão,  contribuindo  para  o  crescimento  do  número  de  contratos  temporários,  precários,  o  que  trouxe aumento da insegurança desses trabalhadores. 

Introdução. 

Este trabalho tem por objetivo expor alguns resultados de uma investigação que tem  como enfoque o trabalho docente nas instituições de ensino superior, mais especificamente  o trabalho do professor substituto. Ele se insere na pesquisa “Trabalho Docente: políticas e  subjetividades”  coordenada  por  Deise  Mancebo 1  e  na  qual  somos  bolsistas 2 .  O  campo  empírico desta investigação foi a Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 

Profª.  Drª.  Deise  Mancebo,  professora  titular  do  Departamento  de  Psicologia  Social  da  Uerj,  atuando  no  Programa de Pós­graduação em Políticas Públicas e Formação Humana.

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Para a pesquisa utilizou­se análises quantitativas e qualitativas, através da realização  de  levantamentos  de  dados  documentais,  estatísticos  e  bibliográficos  sobre  o  trabalho  contemporâneo, trabalho precário e seus desdobramentos no trabalho docente perpassando  uma  consolidação  do referencial  teórico  e  pesquisa  de  campo.  Para  a  pesquisa  de  campo,  ainda  em  andamento,  foram  realizadas  entrevistas  semi­dirigidas  individuais  com  professores substitutos da Uerj. 

Neste  trabalho,  pretende­se  discutir  em  que  medida  o  patamar  alcançado  pelas  mudanças de ordem político­sócio­econômica e pela precarização pôde ser evidenciado no  trabalho do professor universitário, com enfoque mais especifico, no trabalho do professor  substituto. Entendendo o processo de precarização como caracterizado pelas formas de sub­  contratação,  trabalho  em  tempo  parcial  ou  temporário  com  efeitos  significativos  nos  direitos trabalhistas, buscamos apresentar uma melhor compreensão do professor substituto  no  contexto  das  reformas  de  viés  neoliberal  que  atravessaram  as  IES  públicas  e  particularmente a Uerj. 

1.  Capitalismo: br eve contextualização 

No  último  século,  no  período  posterior  à  Segunda  Guerra  Mundial,  especialmente  entre  as  décadas  de  50  e  60,  vimos  o  modo  de  produção  capitalista  atingir  sua  fase  mais  estável  e de  maior crescimento. O capitalismo tem  sua  hegemonia alcançada no  momento  em  que  se  colocam  em  cena  novas  configurações  do  mundo  de  trabalho,  sendo  este  um  sistema historicamente eficaz. Na configuração do capitalismo, merece destaque o período  compreendido entre o final da Segunda Guerra e  meados da década de 1970,  mesmo que  restrito  aos  países  industrializados,  pois  seus  efeitos  foram  atingidos  em  escala  mundial,  ainda  que  isto  não  signifique  um  acesso  à  riqueza  para  a  maior  parte  da  população  do  mundo. 

Após esse período teve início uma crise mundial, com conseqüências sociais muito  graves.  Durantes  os  últimos  30  anos,  ou  seja,  no  início  da  década  de  70,  houve  um  esgotamento  do  modelo  de  acumulação  fordista­keynesiano  (tanto  como  forma  de 

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organização do trabalho como modo de regulação sócio­econômica). Deflagra­se uma crise,  em âmbito planetário, materializada pelo colapso do socialismo real, pelo esgotamento do  Estado  do  Bem­Estar  Social  e  do  modelo  fordista  de  acumulação  e  regulação  social.  A  reestruturação tem como base a microeletrônica e a busca por novos meios que possibilitem  a  elevação  da  produtividade.  Também  a  partir  da  década  de  80,  as  empresas  ocidentais  tentaram incorporar, de diversas formas, algumas inovações tecnológicas e organizacionais  difundidas com o avanço do ideário japonês. A implementação deste conjunto de inovações  ao longo desta década foi denominada de reestruturação produtiva. 

Em resposta à crise do capital começam a surgir outros modelos considerados mais  “flexíveis”  e  melhor  adequados  às  novas  exigências  capitalistas  de  um  mercado  cada  vez  mais globalizado. É neste cenário  que surge o chamado “padrão de acumulação  flexível”,  no  qual  à  reestruturação  produtiva  articulam­se  a  ascensão  das  políticas  neoliberais  e  o  processo de globalização. 

Esse  padrão  de  acumulação  flexível  se  opõe  à  característica  de  rigidez  do  modelo  fordista. Segundo Harvey essa idéia se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos  mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. É elucidativa esta longa citação  do autor: 

[...]a  acumulação  flexível  é  marcada  por  um  confronto  direto  com  a  rigidez  do  fordismo.  Ela  se  apóia  na  flexibilidade  dos  processos  de  trabalho,  dos  mercados  de  trabalho,  dos  produtos  e  padrões  de  consumo.  Caracteriza­se  pelo  surgimento  de  setores  de  produção  inteiramente  novos,  novas  maneiras  de  fornecimento  de  serviços 

financeiros,  novos  mercados  e,  sobretudo,  taxas  altamente 

intensificadas  de  inovação  comercial,  tecnológica  e  organizacional.  A  acumulação  flexível  envolve  rápidas  mudanças  nos  padrões  de  desenvolvimento  desigual,  tanto  entre  setores  com  entre  regiões  geográficas,  criando,  por  exemplo,  um  vasto  movimento  no  emprego  no  chamado  “setor  de  serviços”,  bem  como  conjuntos  industriais  completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas [...] esses  poderes  aumentados  de  flexibilidade  e  mobilidade  permitem  os  empregadores  exercerem  pressões  mais  fortes  de  controle  do  trabalho  [...]  (HARVEY, 1996, p.140) 

Dentre  as  novas  formas  de  organização  surgiram  alternativas  ao  taylorismo­  fordismo,  considerado  muito  rígido.  Emerge  em  várias  partes  do  mundo,  diante  da

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aceleração do progresso técnico­científico, uma mudança do paradigma tecnológico com a  chamada tecnologia da informação. 

Vários  ajustes  foram  estabelecidos  ao  sistema  produtivo,  e  dentre  os  principais  estava a  implantação de  inovações tecnológicas e organizacionais oriundas,  sobretudo, do  chamado  modelo  japonês  de  produção.  Essa  modalidade  de  produção  flexível  em  massa  vem sendo implantada nos países de capital industrial mais avançado, até mesmo no Brasil. 

1.1 Mundo global: um processo ideológico 

Para  entender  a  nova  realidade  deste  modo  de  produção  reestruturado,  é  preciso  compreender  o que  muitos autores definem como processo de globalização. Vale  lembrar  que nos últimos anos muito tem se falado em “globalização” da produção industrial. Alguns  autores  apontam  este  processo  para  a  busca,  pelas  empresas  multinacionais,  por  maiores  taxas de  lucro, com a extensão da sua presença por regiões geográficas e econômicas que  oferecem  forças  de  trabalho  com  salários  baixos  e  menos  dispêndios  com  benefícios  sociais.  Outros  vêem  a  globalização  como  um  tipo  específico  de  projeto  político  (HARVEY, 2004). Para este autor, a globalização é como um processo que há muito tempo  está presente na história do capitalismo. Em sua análise, o autor indica que: 

O  capitalismo  tem  recorrido  repetidas  vezes  à  reorganização  geográfica  (tanto  em  termos  de  expansão  como  de  intensificação)  como  solução  parcial para as suas crises e seus impasses. Assim, ele constrói e reconstrói  uma  geografia  à  sua  imagem  e  semelhança.  Constrói  uma  paisagem  geográfica distinta, um espaço produzido de transporte e comunicações, de  infra­estruturas e  de  organizações territoriais  que  facilita a acumulação  do  capital numa dada fase de sua história, apenas para ter de ser desconstruído  e  reconfigurado  a  fim  de  abrir  caminho  para  uma  maior  acumulação  num  estágio  ulterior.  Se,  portanto,  a  palavra  “globalização”  significa  alguma  coisa  relativa  à  nossa  geografia  histórica  recente,  é  bem  provável  que  designe  uma  nova  fase  de  exatamente  esse  mesmo  processo  intrínseco  da  produção capitalista de espaço (HARVEY, 2004, p.80­1). 

Este autor argumenta que o termo globalização ascende num momento de profunda  reorganização geográfica promovida pelo capitalismo, afinal uma organização territorial  e  de sistemas de lugares ligados por meio de uma divisão “global” do trabalho e das funções  é  apropriada  à  própria  dinâmica  de  acumulação.  Pontua  que  o  capitalismo  está  sempre

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movido pelo ímpeto de acelerar o tempo de giro do capital, assim como sente­se instigado a  eliminar todas as barreiras espaciais. 

No  entanto,  as  mudanças  estruturais  pelas  quais  passou  o  modo  de  produção  capitalista,  proporcionadas  pela  ­  (1)  desregulamentação  financeira  com  passagem  de  um  sistema  global  hierarquicamente  organizado  e  centralizado  para  um  sistema  mais  descentralizado,  coordenado  pelo  mercado;  (2)  um  grau  concentrado  de  mudanças  tecnológicas definido pelo ritmo acelerado de transferências e imitação de tecnologias entre  as,  e  dentro  das,  diferentes  zonas  de  economia  mundial;  (3)  revolução  da  informação,  produzindo  mudanças  na  organização  do  consumo  e  da  produção;  (4)  pelo  custo  e  transporte  de  mercadorias  e  pessoas  ­  também  trouxeram  mudanças  para  a  concepção  do  termo “globalização”. 

Vinculado  a  uma  nova  fase  do  capitalismo  multinacional,  o  atual  processo  de  globalização  diz  respeito  às  profundas  mudanças  no  campo  econômico,  político,  sociocultural  e  tecnológico,  caracterizando,  assim,  o  contexto  histórico  em  que  vivemos.  Esse processo tem sido analisado através de molduras político­ideológicas que acabam em  julgamentos  moralizantes,  tornam  seu  entendimento  fragmentado  e  não  evidenciam  suas  contradições. 

A globalização contemporânea se caracteriza pela crescente concentração de renda e  exclusão  social,  face  à  subordinação  dos  Estados  Nacionais  a  interesses  meramente  econômicos.  As  mazelas  e  desigualdades  geradas  por  esse  sistema  são  justificadas  como  pré­condições de um ajuste que traria a  nível  mundial uma utópica  nova era de paz  e um  novo padrão de relações sociais, bem­estar e prosperidade. 

1.2. Transfor mações no mundo do trabalho. 

O  capitalismo  traz  consigo  muitas  contradições,  algumas  delas  relacionadas  ao  mundo do trabalho. 

Muitos impactos se deram na esfera do trabalho devido à reestruturação política em  tempos  de  revolução  tecnológica  e  globalização  da  economia.  Diante  dos  sinais  de  esgotamento do padrão de acumulação do capital e em  meio à crise estrutural vivida pelo  capitalismo, o paradigma taylorista­fordista passa a conviver ou até mesmo ser substituído

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por  modelos  mais  flexíveis,  adequados  às  exigências  capitalistas  de  um  mundo  cada  vez  mais globalizado. O processo de reestruturação das atividades produtivas, principalmente a  partir da década de 1970, inclui novas formas de organização e gestão da força de trabalho. 

Procurando encontrar uma resposta para a crise já avançada, o capital investiu num  modelo  de  acumulação  flexível,  na  qual  o  avanço  tecnológico  exerce  papel  central,  cujo  principal  representante  é  o  toyotismo  japonês.  No  Ocidente,  surge  a  ideologia  neoliberal  como uma resposta à crise, através de uma reorganização do capital. Ocorre a privatização  do Estado, desregulamentação dos direitos do trabalho e a desmontagem do setor produtivo  estatal,  seguido  de  reestruturação  da  produção  e  do  trabalho.  O  novo  sistema  é  capaz  de  promover um rápido atendimento às flutuações de mercado, é extremamente flexível, seja  em relação à tecnologia, seja em relação à administração do espaço e tempo. 

O  processo  de  reorganização  da  economia  mundial  e  as  transformações  técnico­  organizacionais não só têm afetado as condições, os meios e as relações de trabalho, como  também  estão  associados  à  construção  de  novas  formas  de  representação  das  noções  de  trabalho, qualificação, competência e formação profissional. 

No Brasil, desde o início da década de 1990, várias transformações ocorreram  nos  diferentes  setores  da  economia,  e  conseqüentemente,  é  possível  observar  realidades  diferenciadas,  heterogêneas,  contraditórias,  mostrando  que  não  é  possível  concluir,  que  o  caráter  inovador das atuais transformações  na  base do trabalho se expressa por ganhos de  qualificação  por  parte  dos  trabalhadores.  Mas,  ainda  que  se  observe  a  combinação  e  a  sobrevivência  de  várias  estratégias  de  qualificação  e  requalificação  do  trabalho,  houve  a  emergência de um "novo perfil de qualificação da força de trabalho". 

Vista  por  muitos  como  inevitável  dentro  da  racionalidade  do  mercado,  essa  reestruturação,  no  entanto,  tem  trazido  graves  problemas  sociais  quanto  ao  nível  de  emprego e à garantia dos direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo do século XX. 

Os  índices  de  desemprego  se  tornam  elevados  em  muitos  países  do  mundo,  e  é  possível notar a aplicação de uma política de desmantelamento da ação do Estado nas áreas  sociais.  Nos  países  subdesenvolvidos,  a  flexibilização  das  relações  de  trabalho  só  faz  aumentar o mercado de trabalho informal e o desemprego. 

O  trabalho  não  é  menos  qualificado,  pelo  contrário,  na  maior  parte  das  situações,  exige  do  trabalhador  conhecimentos  múltiplos  para  dominar  as  novas  “ferramentas”.    Os

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avanços  tecnológicos,  diferentemente  do  que  se  possa  pensar,  levaram  à  diminuição  do  tempo necessário de trabalho, devido à automação, sem, contudo, a equivalente diminuição  da  quantidade  de  trabalho;  tendo  as  tarefas  se  multiplicado,  em  vista  do  mesmo  fator.  (BULARD, APUD MANCEBO, 2006). 

Para  dar  conta  das  novas  demandas,  nasce  um  trabalhador  mais  qualificado,  “participativo”,  multifuncional,  polivalente.  Produz­se  novas  performances  para  o  trabalhador,  que  vêm  afetando  sua  organização,  na  qual  trabalhos  em  equipes  são  valorizados, bem como a “competência” pessoal é incentivada. 

Na  estrutura  de  produção  o  trabalho  sofre  mudanças  de  ordem  quantitativa  e  qualitativa  no  emprego  e  nas  práticas  de  gestão  do  trabalho,  como:  uma  tendência  à  profissionalização  do  trabalho;  aumento  do  grau  de  qualificação  dos  trabalhadores  com  conseqüente aumento no nível de escolaridade; e desenvolvimento de estratégias de gestão  do trabalho, com vistas à estabilização do vínculo empregatício. 

Muitos  autores  têm  voltado  sua  atenção  para  analisar  as  principais  mutações  no  mundo do trabalho. Entre eles, está Ricardo Antunes que, num esforço de síntese aponta as  principais tendências do mundo do trabalho, determinadas pela crise estrutural, entre elas:

·  redução do proletariado estável e estabilizado, devido a reestruturação produtiva do  capital,  dando  lugar  a  formas  mais  desregulamentadas  de  trabalho,  reduzindo  o  conjunto  de  trabalhadores  estáveis  que  se  estruturavam  por  meio  de  empregos  formais;

·  de  forma  oposta  ao  que  foi  apontado  anteriormente,  observa­se  um  aumento  significativo do novo proletariado fabril e de serviços, em escala mundial, presente  nas  diversas  formas  de  trabalho  precarizado.  Estes  são  os  terceirizados,  subcontratados, part­time, entre outras formas semelhantes;

·  significativa  feminização  do  mercado  de  trabalho,  principalmente  no  universo  do  trabalho temporário e desregulamentado;

·  crescimento do setor de serviço, com visível submissão à racionalidade do capital e  à lógica dos mercados;

·  crescente exclusão dos jovens e trabalhadores considerados idosos pelo capital; ·  expansão  do  trabalho  em  domicilio,  permitida  pela  desconcentração  do  processo 

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precarização do trabalho e avanço da horizontalização do capital (ANTUNES, 2004,  p.336­341). 

Em  suma,  na  esfera  da  produção  fica  cada  vez  mais  evidente  um  cenário  crescentemente globalizado, de abertura de  mercados e de forte competição internacional,  as unidades produtivas de grande porte ficam mais “enxutas” e aumentam a produtividade;  a atividade produtiva passa a exigir trabalhadores polivalentes,  flexíveis às determinações  mercadológicas;  a  parcela  do  trabalho  fora  do  foco  principal  da  empresa  passa  a  ser  subcontratada a outras empresas (ou terceirização); o setor industrial perde  volume  frente  ao setor de serviços e a flexibilização das atividades produtivas leva também a um aumento  da  precarização  dos  contratos  de  trabalho;  na  esfera  sindicalista,  o  desemprego  e  a  informalização corroem grandemente o poder de agenciamento das instituições sindicais. 

2.  A Universidade Brasileira e o Trabalho Docente. 

Na  lógica  do  capital,  as  instituições  de  ensino  superior  (IES)  têm  refletido  as  transformações pelas quais vem passando o mundo do trabalho. Funcionam nos moldes de  controle de qualidade para provar “produtividade”, como empresas que visam à geração de  lucros.  Neste  novo  cenário,  a  universidade  e  o  trabalho  docente  ganham  novas  características para atender às demandas do mercado de trabalho e produzir conhecimento  que possam ser aplicados para propiciar geração de lucros para o setor privado. 

Os  investimentos  públicos  nas  IES,  na  maior  parte  das  vezes,  priorizam  os  interesses do mercado. Como aponta Mancebo (2007) 

As instituições de ensino superior são “convidadas” não só a se adaptar às  novas  composições  trabalhistas,  como  também  ajustar  seu  produto  às  exigências mais recentes do capital. Assim, o cotidiano da universidade e a  conformação  das  atividades  docentes  se  vêem  duplamente  atingidos  pela  organização produtiva emergente (MANCEBO, 2007, p.76). 

Um  novo  modelo  gerencial  vem  sendo  adotado  pelas  IES,  em  conformidade  à  flexibilidade,  ao  produtivismo  e  ao  individualismo.  O  atual  modelo  de  flexibilização  de  gestão  se  justifica  pela  exigência  de  ampliação  do  sistema,  tomando  como  regra o  menor  custo.  Isso  fica  visível  ao  se  observar  as  colocações  de  Rodrigues  Dias  (2004)  acerca  da

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análise sobre a educação superior feita pelo Banco Mundial em documento lançado há dez  anos.  Segundo  o  autor,  no  documento  o  Banco  Mundial  fala  objetivamente  da  educação  superior  e  de  seu  papel  na  economia,  propondo:  a  privatização  da  educação  superior;  a  cobrança  de  matrículas;  a  criação  de  cursos  mais  breves,  não  universitários,  sendo  mais  flexível  à  demanda  do  mercado;  não  mais  fazer  das  universidades  centros  de  pesquisa.  (RODRIGUES DIAS, 2004, p. 899). 

Ainda  sobre  o  papel  do  Estado,  além  da  diminuição  dos  investimentos,  Mancebo  (2004)  observa  que  desde  os  governos  passados,  é  possível  assistir  a  uma  mudança  nas  políticas educacionais de acordo com as transformações do mercado. Esse fato trouxe e traz  algumas repercussões desastrosas para a educação, tais como a deterioração das condições  de  trabalho  na  educação  superior;  desarticulação do  ensino  em  relação  à  dinâmica  social;  mercantilização  do  conhecimento  e  produções  acadêmicas,  com  uma  submissão  da  universidade  ao  mercado;  desvalorização  das  atividades  de  extensão;  um  modelo  de  avaliação  que  prioriza  a  quantidade  de  produção,  incentivando  a  competitividade;  e  diminuição da capacidade crítica que a universidade deve ter, entre outras conseqüências.  (MANCEBO, 2004, p.858­859). 

No  que  diz  respeito  ao  trabalho  docente,  vem­se  observando  uma  crescente  precarização  do  trabalho  deste  profissional,  além  da  flexibilização  de  suas  tarefas  e  uma  nova relação estabelecida com o tempo de trabalho. 

A  precarização  do  trabalho  docente  é  definida  articulando­a  às  novas  formas  de  trabalho, cada vez mais desregulamentadas, tendo como principais características a redução  de salários, diminuição dos direitos trabalhistas, intensificação da jornada de trabalho, entre  outras formas de exploração. Ela pode ser observada até mesmo nas grandes universidades  públicas, onde proliferam as (sub)contratações temporárias de professores, pagos por hora  aula ministrada em turma de graduação. 

Mancebo  (2007)  aponta  algumas  causas  para  crescente  aumento  do  trabalho  precário nas IES, assim como algumas conseqüências deste processo: 

O aumento do trabalho precário nas universidades públicas apresenta como causa  primeira  a  progressiva  erosão  do  volume  de  recursos  públicos  destinados  ao 

financiamento  da  universidade.  O  enxugamento  orçamentário  gera, 

indubitavelmente,  inúmeros  efeitos  danosos,  e  um  deles  recai  na  contratação  de  novos docentes, quer para o atendimento minimamente adequado ao crescimento

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quantitativo  e qualitativo  de  cursos  e  alunos,  quer  para a reposição paritária  das  vagas  geradas  por  aposentadorias,  óbitos,  desligamentos  voluntários  e  afastamento  de  docentes.  Assim,  a  contratação  de  professores  substitutos  vem  sendo uma  saída  econômica para o sustento  das universidades,  que  infelizmente  se  naturalizou  no  cotidiano  de  diversas  unidades,  sendo  mesmo  incentivada  acriticamente por muitos (MANCEBO, 2007, p.77). 

O uso recorrente dos contratos mais ágeis e econômicos, como os “temporários”, na  maior  parte  das  universidades  públicas  brasileiras  reflete  a  adoção  de  um  novo  modelo  gerencial nas instituições de educação superior, que reproduziu no âmbito universitário um  mercado de trabalho flexível. 

Os  docentes  das  IES,  portanto,  foram  atravessados  pelo  conjunto  dessas  modificações que ocorreram no campo do trabalho, pelas novas exigências que se colocam  para  as  universidades  e  também  pela  diminuição  da  participação  do  Estado  no  financiamento da educação superior. 

Desta forma, entende­se que a proposta de flexibilização da gestão das instituições  de  acordo  com  o  perfil  do  mercado  favoreceu  o crescimento  desses  contratos  de trabalho  mais ágeis e econômicos. 

3.  Trabalho precário na Universidade do Estado do Rio de J aneiro. 

Na  tentativa  de  uma  melhor  compreensão  do  trabalho  docente  no  contexto  das  reformas de viés neoliberal e de problematizar a forma como os docentes da Universidade  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro  se  ajustam  a  este  cenário  reestruturado,  bem  como  suas  relações e suas formas de resistência e enfrentamento, foram observadas sistematicamente  as  situações  de  trabalho  e  a  saúde  dos  docentes  dessa  universidade,  considerando  alguns  fatores  como  número  de  empregos,  situação  funcional,  carreira,  jornada,  condições  de  trabalho, organização  do trabalho  e  tipos  de  gestão,  bem  como  o  levantamento  estatístico  realizado que, em conjunto, forneceram uma noção clara das reestruturações pelas quais a  universidade vem passando. 

Na  pesquisa  de  campo,  foram  utilizados  dados  estatísticos  obtidos  pela  Universidade  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro.  O  levantamento  estatístico  histórico  pôde  nos  fornecer uma noção clara das reestruturações pelas quais a Uerj vem passando. No período  investigado,  entre  1994  e  2007,  averigua­se  que  o  corpo  docente  da  universidade

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apresentou grande fragmentação. Desta forma, destaca­se o fato de que na UERJ, em 2007,  (data  de  realização  do  último  levantamento  sistemático  realizado)  havia  2980  docentes,  contratados  por  regimes  de  trabalho  diferentes,  sendo  22,30%  de  professores  contratados  em  regime  de  substituição  (os  quais  entendemos  como  contratos  precários).  Também  é  possível observar um aumento considerável de 73,37% no quadro desses professores, entre  1994  e  2007,  em  contraposição  ao  quadro  de  docentes  efetivos,  que  aumentaram  apenas  17,13%.  Apesar  do  incremento  do  quadro  de  professores  contratados  como  substitutos,  houve  uma  diminuição  do  número  de  professores  visitantes  em  21,51%,  conforme  tabela  abaixo. 

Tais dados, foram coletados no sistema DataUerj e forneceram uma noção clara das  reestruturações  pelas  quais  a  universidade  vem  passando.  Observamos  uma  alarmante  proliferação  de  (sub)contratações  temporárias  de  professores,  que  enfrentam  condições  precárias de trabalho

Foram  realizadas  ainda  entrevistas  individuais,  semi­dirigidas,  com  docentes  da  universidade  (fase  da  pesquisa  que  se  encontra  ainda  em  andamento)  e  o  critério  básico  para a escolha dos entrevistados que compõem a amostra: ser professor substituto na UERJ.  Também levou­se em consideração as faculdades e institutos que possuíam maior e menor  número de professores contratados. Juntamente com a observação estatística, as entrevistas  nos  fizeram  observar  que  o  trabalho  do  professor  universitário  não  passou  imune  às  transformações  da  esfera  laboral,  trazidas  pela  globalização  de  forte  viés  neoliberal;  seu  trabalho foi flexibilizado e precarizado.  Cor po docente da UERJ   1994  1995  1996  1997  1998  1999  2000  2001  2002  2003  2004  2005  2006  2007  População total  2391  2473  2511  2701  2593  2779  2723  2832  2795  2813  2837  2918  2959  2980  EFETIVOS  Númer os  1915  1915  1970  1974  1991  2070  2132  2130  2207  2184  2218  2218  2228  2243  %  da População Total  80,1  77,4  78,5  73,1  76,8  74,5  78,3  75,2  79,0  77,6  78,2  76,0  75,3  75,3  VISITANTES  Númer os  93  128  62  126  102  148  69  87  107  69  82  73  74  73  %  da População Total  3,9  5,2  2,5  4,7  3,9  5,3  2,5  3,1  3,8  2,5  2,9  2,5  2,5  2,4  SUBSTITUTOS  Númer os  383  430  479  601  500  561  522  615  481  560  537  627  657  664  %  da População Total  16,0  17,4  19,1  22,3  19,3  20,2  19,2  21,7  17,2  19,9  18,9  21,5  22,2  22,3

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Mesmo  não  tendo  sido  concluída,  as  entrevistas  permitiram  a  verificação  clara  da  situação  marginal  em  que  se  encontram  os  docentes  contratados  temporariamente.  Os  professores  substitutos  encontram­se  limitados  em  suas  atuações  às  salas  de  aula,  impedidos  de  pesquisa  e  extensão,  de  orientação  de  monografia  ou  projetos,  desavisados  das reuniões departamentais, desvinculados das discussões institucionais, são praticamente  “impedidos” de manterem vínculos orgânicos com a universidade. 

Seus salários são menores do que um docente efetivo (o equivalente a um professor  auxiliar, independentemente do seu grau de qualificação), mesmo que sua carga horária seja  similar  ao  professor  do  quadro  permanente.  O  contrato  deste  professor  é  de  um  ano  podendo ser  renovado por mais dois, no entanto o cancelamento do mesmo pode se dar  a  qualquer momento. Nem mesmo o direito a férias está estabelecido no contrato. 

Todos  esses  fatores  provocam  uma  série  de  sentimentos,  sensações,  pensamentos  que levam a uma atitude diferenciada do professor substituto em relação à instituição e aos  demais docentes. 

Porém, em seu discurso, apesar do professor estar ciente do seu trabalho precarizado  (excluído  do  direito  à  pesquisa  e  extensão,  bem  como  de  alguns  direitos  trabalhistas),  o  professor  substituto  da  Uerj  afirma  com  orgulho  a  importância  de  trabalhar  numa  universidade pública, sendo esta vista como uma forma de ganhar pontos no currículo, e de  adquirir experiência. 

Paradoxalmente, os professores substitutos assumem uma posição de satisfação por  trabalhar  numa  instituição  pública  como  a  Universidade  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro,  ao  mesmo  tempo  em  que  sentem  a  angústia  por  terem  que  dar  conta  das  novas  formas  de  trabalho e atividades que lhes são propostas. 

Diante desta posição paradoxal, Mancebo (2007) considera que “o trabalho docente  constitui­se  num  lugar  contraditório  que  suscita,  a  um  só  tempo,  sobretrabalho  e  prazer;  assujeitamento e captura acrítica dos envolvidos para as novas demandas colocadas para a  universidade,  mas  também  espaço  para  invenções,  pensamento  e  crítica”  (p.79).  Nesse  sentido, pode­se pensar que o encontro das subjetividades no âmbito da universidade, com  a variedade de estimulações trazidas pelos recursos globais, somadas às demandas flexíveis  dos  campos  do  trabalho,  fizeram  com  que  se  complexificassem  as  “exigências”  comportamentais.  No  caso  dos  professores  substitutos,  tais  exigências  vêm  sendo

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significadas enquanto experiência necessária à vida e à carreira. Trata­se de uma “curiosa”  ressignificação subjetiva, obviamente reforçada e alimentada pela instituição e pelos que a  habitam, para a intensa precarização do trabalho desse professor, submetidos a jornadas de  trabalho mais intensas e extensas. 

Diante  das  análises  feitas  pudemos  observar  mudanças  na  instituição  pública  de  ensino,  em  especial  na  Universidade  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro,  dando  destaque:  a  precarização  do  trabalho  docente,  pois  observou­se  um  aumento  significativo  de  (sub)contratações temporárias de professores; além de diferenças entre os docentes efetivos  e  contratados,  especialmente  quando  se  verifica  a  qualificação  acadêmico­científica,  salários,  direitos  empregatícios  e  trabalho  realizado,  uma  vez  que  os  professores  contratados  são  excluídos  de  atividades  de  pesquisa  e  extensão,  exercendo  apenas  atividades  de  sala  de  aula.  Houve  ainda  intensificação  do  trabalho  e  transfiguração  das  atividades docentes básicas: ensino, pesquisa e extensão; aumento do sofrimento subjetivo;  neutralização da mobilização coletiva e aprofundamento do individualismo. 

Diante dos resultados observados, é possível  compreender  as transformações pelas  quais  a  Universidade  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro  vem  passando,  além  de  se  observar  a  ampla  utilização  de  formas  flexibilizadas  de  gestão,  contribuindo  para  o  crescimento  do  número  de  contratos  temporários,  precários  o  que  trouxe  aumento  da  insegurança  desse  trabalhador. 

Refer ências Bibliográficas: 

ANTUNES, Ricardo. Mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital.  Revista Educação & Sociedade, Campinas, vol. 25, n. 87, p.335­351, 2004. 

ANTUNES,  Ricardo. Os  sentidos  do  trabalho:  ensaio  sobre  a  afirmação  e  a  negação  do  trabalho. São Paulo: Boitempo editorial, 2003. 

HARVEY, David. Condição pós­moder na. 6ª ed. São Paulo: Loyola, 1996. p.13­184. 

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MANCEBO,  Deise.  Trabalho  docente,  políticas  e  subjetividade:  ampliando  o  debate.  Relatório de pesquisa, Universidade do Estado do Rio de Janeiro/Prociência, 2006. 

______________. Trabalho Docente: Subjetividade, Sobreimplicação e Prazer. Psicologia:  Reflexão e Crítica, v.20, n. 1, p.74­80, 2007. Disponível em www.scielo.br/prc 

______________. Reforma universitária: reflexões sobre a privatização e a mercantilização  do  conhecimento.  Educação  e  Sociedade,  Campinas,  v.25,  n.88,  p.845­  866,  número  especial 2004. 

RODRIGUES DIAS, Marco Antônio. Dez anos de antagonismo nas políticas sobre ensino  superior  em  nível  internacional.  Educação  e  Sociedade,  Campinas,  v.  25,  n.  88,  p.  893­  914, número especial 2004.  Documentos consultados:  UERJ. Datauerj. Indicadores estatísticos.Disponível em http://www.datauerj.eng.uerj.br/,  2008.  UERJ. Datauerj. Disponível em: <http://www.uerj.br>. Último acesso em: abril. 2008.  Palavras chave: trabalho docente, educação superior, professor substituto, trabalho precário

Referências

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