• Nenhum resultado encontrado

ORGANIZAÇÃO SINDICAL NO BRASIL PASSADO PRESENTE FUTURO (?)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ORGANIZAÇÃO SINDICAL NO BRASIL PASSADO PRESENTE FUTURO (?)"

Copied!
17
0
0

Texto

(1)

O

RGANIZAÇÃO

S

INDICAL

NO

B

RASIL

(2)
(3)

J

OSÉ

C

ARLOS

A

ROUCA

Academia Nacional de Direito do Trabalho e do Instituto de Direito Social Cesarino Júnior

O

RGANIZAÇÃO

S

INDICAL

NO

B

RASIL

(4)

EDITORA LTDA.

Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-001 São Paulo, SP — Brasil Fone (11) 2167-1101 www.ltr.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índice para catálogo sistemático:  Todos os direitos reservados

Produção Gráfica e Editoração Eletrônica: R. P. TIEZZI X

Projeto de Capa: RAUL CABRERA BRAVO Impressão: HR GRÁFICA E EDITORA Fevereiro, 2013

R

Arouca, José Carlos

Organização sindical no Brasil / passado, presente, futuro (?) / José Carlos Arouca. — São Paulo : LTr, 2013.

Bibliografia

1. Relações industriais — Brasil 2. Sindicalismo — Brasil 3. Trabalho e classes trabalhadoras — Brasil I. Título.

12-13051 CDU-34:331.88(81)

1. Brasil : Relações de trabalho e organização sindical : Direito do trabalho 34:331.88(81)

Versão impressa - LTr 4732.9 - ISBN 978-85-361-2423-0 Versão digital - LTr 7507.1 - ISBN 978-85-361-2443-8

(5)

para meus vivos e meus mortos e também para os velhos e novos companheiros para Irene sempre

(6)
(7)

S

UMÁRIO

PARTE I. INTRODUÇÃO... 11

PARTE II. O SINDICATO. PASSADOE PRESENTE I. PASSADO... 13

Organização sindical no Brasil. Da Era Pré-Vargas à Era Lula. II. PRESENTE... 20

1. Liberdade sindical. 2. Autonomia sindical. 3. Registro. 4. Estrutura. 5. Base territorial. 6. Representação e representatividade. 7. Administração. 8. Sustentação financeira. 9. Negociação coletiva. 10. Direito de greve. 11. Solução arbitral dos conflitos coletivos. 12. Dissídio coletivo. 13. Participação política. 14. Repre-sentação nos locais de trabalho. III. FUTURO... 35

PARTE III. AUTONOMIAE LIBERDADE SINDICAL I. AUTONOMIA... 37

II. AUTONOMIACOLETIVAPRIVADA... 37

III. AUTONOMIAEA CONSTITUIÇÃO... 39

IV. AUTONOMIA. EXTENSÃO... 39

1. Autonomia frente ao Estado. a) A Era Pré-Vargas; b) A Era Vargas; c) A Era militar; d) A Era neoliberal; e) A Era Lula; 2. Autonomia à frente aos patrões e suas organizações de classe. 3. Autonomia frente às igrejas. 4. Autonomia frente aos partidos políticos. 5. A retomada do controle. a) Contribuição de custeio; b) Cadastramento; c) Registro sindical. A Portaria n. 186; d) Depósito e registro das convenções coletivas.O Sistema Mediador; e) O Conselho Nacional de Relações do Trabalho e o restabelecimento do enquadramento sindical; f) O Sistema Homologanet. V. LIBERDADESINDICAL... 80

PARTE IV. FORMASDE ORGANIZAÇÃO I. FORMASDEORGANIZAÇÃOSINDICAL... 85

II. ORGANIZAÇÃOVERTICAL ... 86

1. Sindicato. 2. Federação. 3. Confederação. III. ORGANIZAÇÃOHORIZONTAL... 91

1. União. a) Movimento Unificado dos Trabalhadores — MUT; b) Pacto de Unidade Intersindical — PUI; c) Pacto de Unidade e Ação — PUA; d) Comissão Permanente das Organizações Sindicais da Guanabara —

(8)

C

C

C

C

C

8

8 JOSÉ CARLOS AROUCA

CPOS; e) Pacto de Ação Conjunta — PAC; f) Fórum Sindical de Debates — FSD; g) Movimento Intersindical Antiarrocho — MIA. 2. Central. 1) História; 2. Tentativas de disciplinação legal; 3. O Comando Geral dos Trabalhadores — CGT. 4. O ressurgimento das centrais. a) Central Única dos Trabalhadores — CUT; b) Confederação Geral dos Trabalhadores — CGT; c) Central Geral dos Trabalhadores Brasil — CGTB; d) Força Sindical — FS; e) União Sindical Independente Brasil — USI; f) Central Autônoma dos Trabalhadores — CAT; g) Social Democracia Sindical — SDS; h) Central Brasileira de Trabalhadores e Empreendedores — CBTE; i) Nova Central Sindical dos Trabalhadores — NCST; j) União Geral dos Trabalhadores — UGT; k) Central dos Trabalhadores do Brasil — CTB; e l) Coordenação Nacional de Lutas. Central Sindical e Popular — Conlutas. 5. O reconhecimento das centrais. a) Conceito; b) Pluralidade; c) Prerrogativas; d) Representatividade; e e) Sustentação financeira.

IV. LIBERDADE SINDICALEA CONVENÇÃON. 87 DA OIT ... 104

1. A Convenção n. 87; a) A Convenção n. 87 e sua compatibilidade com a Constituição brasileira; b) A Convenção n. 87 x Constituição depois da Emenda n. 45. Direitos humanos. V. UNICIDADESINDICAL... 108

VI. PLURALIDADESINDICAL... 113

VII. UNICIDADENAPLURALIDADE. O SINDICATOMAISREPRESENTATIVO... 115

VIII. ORGANIZAÇÃONOSLOCAISDETRABALHO... 117

1. Introdução. 2. Representação do pessoal. 3. Comissão mista de consulta e colaboração. 4. Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho — CIPA. 5. Comissão interna para instituição de plano de participação nos lucros ou resultados. 6. Comissão de conciliação prévia. 7. Comissões específicas. 8. Dele-gados sindicais. 9. Comissão de empresa. 10. Organização nos locais de trabalho no Brasil. 11. Conclusão. IX. QUALIFICAÇÃOSINDICAL... 1. Categoria; a) Categoria diferenciada. 2. Base territorial. 3. Dissociação e desmembramento. 4. Enquadramento sindical. 5. Dupla atividade. 6. Atividade preponderante. 7. Atividade principal. X. A VEZEAVOZDOSTRABALHADORES... 149

PARTE V. SINDICATOE SEUS FINS I. FINSSINDICAIS... 153

II. FINSSINDICAISCONFORMEADOUTRINA... 153

III. FINSSINDICAIS. DE 1903 A 1988 ... 156

IV. PROJETOSDEANTESEDEPOISDA CONSTITUIÇÃO... 158

V. FINSSINDICAISNA CONSTITUIÇÃODE 1988 ... 160

VI. DEFESADEDIREITOSINDIVIDUAIS... 160

1. Direitos individuais e litígios. 2. A conciliação; a) Passando pela história; b) A conciliação nos dissídios individuais. 3. Quitação e assistência ao pagamento das verbas rescisórias. 4. Comissões internas. 5. Comis-sões de conciliação prévia. 6. Mediação e arbitragem. 7. Semana de conciliação. 8. A conciliação nas negociações e dissídios coletivos. 9. Conciliação e ação sindical. VII. DEFESACOLETIVADEDIREITOSINDIVIDUAIS. AÇÃOCOLETIVASINDICAL (SUBSTITUIÇÃOPROCESSUAL) ... 179

VIII. DEFESADEINTERESSESCOLETIVOS... 188

IX. SINDICATOEMINISTÉRIOPÚBLICO. DEFESACONCORRENTEDEDIREITOSEINTERESSES ... 189

1. Introdução. 2. Direitos individuais. 3. Direitos sociais. 4. Direitos difusos. 5. Direitos coletivos. 6. Direitos individuais homogêneos. 7. Anulação de cláusulas convencionais. 8. Defesa de direitos e interesses de menores, incapazes e índios. 9. Interesses coletivos.

(9)

C

C

C

C

C

9

ORGANIZAÇÃO SINDICALNO BRASIL — PRESENTE. PASSADO. FUTURO (?)

X. NEGOCIAÇÃOCOLETIVA... 196

1. Conflito coletivo. 2. Legitimação. 3. Autonomia coletiva privada. 4. Princípios da negociação coletiva. a) Princípio da boa-fé; b) Princípio da transparência; c) Dever de informação; d) Princípio da razoabilidade; e) Princípio da pacificação; f) Princípio da negociação permanente. 5. Espécies. 6. Flexibilização de direitos. 7. As Convenções ns. 98 e 154 da OIT. 8. Negociações coletivas e os trabalhadores domésticos. 9. Nego-ciações coletivas e os servidores públicos. 10. Controle. 11. Crítica à prática das negoNego-ciações no Brasil. 12. Obstáculos da lei. 13. Obstáculos do Estado. 14. Obstáculos do Ministério Público do Trabalho. 15. Obstáculos da justiça do Trabalho. 16. O que fazer? XI. GREVE... 228

1. Coneito. 2. Um pouco de história. 3. Greve e os servidores públicos. 4. Greve e a OIT. 5. Greve política. 6. Greve de solidariedade. 7. Greve geral. 8. Outras modalidades. 9. Piquete. 10. Greve abusiva, ilegal, ilícita. XII. CONVENÇÃOCOLETIVADETRABALHO ... 262

1. Introdução. 2. Denominação. 3. Natureza jurídica. 4. Convenção coletiva e a OIT. Tratado de paz. 5. Projetos de disciplinação. 6. Fragilidade. 7. Convenção coletiva. Disciplinação hoje. 8. Acordo coletivo de trabalho. XIII. MEDIAÇÃO... 286

XIV. ARBITRAGEM... 291

1. Arbitragem e litígios individuais. 2. Arbitragem e interesses coletivos. XV. DISSÍDIOCOLETIVO... 295

1. Histórico. 2. Espécies. 3. Dissídio coletivo de natureza jurídica. 4. Poder normativo. 5. Processo de dissídio coletivo. 6. Extensão da decisão. 7. Limitações. 8. O dissídio coletivo e a EC n. 45, de 2004. 9. A Reforma do dissídio coletivo segundo o Fórum Nacional do Trabalho. 10. O dissídio coletivo depois da EC n. 45. XVI. FINSPOLÍTICOS... 313

XVII. FINSECONÔMICOS... 333

XVIII. FINSSOCIAIS ... 339

IXX. FINSASSISTENCIAIS... 341

PARTE VI. REPRESENTATIVIDADEE REPRESENTAÇÃO I. REPRESENTATIVIDADE... 345

II. REPRESENTAÇÃO... 349

III. MAIORREPRESENTATIVIDADEOUUNICIDADENAPLURALIDADE... 350

IV. REPRESENTAÇÃOAMPLAOULIMITADA? ... 351

V. REPRESENTAÇÃODASINSTÂNCIASSUPERIORES... 352

PARTE VII. ADMINISTRAÇÃOE CUSTEIO I. ADMINISTRAÇÃO... 353

II. CUSTEIODA AÇÃO JUDICIAL... 357

1. Contribuição associativa. 2. Contribuição sindical. a) Natureza jurídica. 3. Contribuição confederativa. 4. Contribuição negocial. 5. Contribuição retributiva de representação sindical. PARTE VIII. PRÁTICAS ANTISSINDICAIS I. O ANTISSINDICALISMO... 378

(10)

C

C

C

C

C

8

10 JOSÉ CARLOS AROUCA

II. A PRÁTICAANTISSINDICALNADOUTRINA... 380 III. PRÁTICAANTISSINDICALNAVISÃODA OIT ... 381

a) em relação aos trabalhadores; b) quanto à proteção dos delegados sindicais; c) quanto ao exercício do direito de greve; d) sobre piquetes; e) quanto ao interdito proibitório; f) sobre a aplicação de multas contra o sindicato; g) quanto à atuação do Poder Executivo; h) quanto ao Poder Judiciário.

IV. PRÁTICASANTISSINDICAIS... 384

1. Considerações. 2. Práticas antissindicais cometidas pelo empregador e suas organizações de classe. 3. Práticas antissindicais cometidas pelos sindicatos de trabalhadores. 4. Práticas antissindicais cometidas pelo Poder Executivo. 5. Práticas antissindicais cometidas pelo Poder Legislativo. 6. Práticas antissindicais come-tidas pelo Poder Judiciário. a) Contribuição de custeio; b) Direito de greve; c) Interdito proibitório; d) Diri-gentes sindicais; quantidade e proteção; e) ação coletiva sindical; f) Dissídio coletivo. 7. Práticas antissindicais cometidas pelo Ministério Público do Trabalho.

V. A REAÇÃODASCENTRAIS ... 401 VI. PROPOSTADESOLUÇÃO... 402 PARTE IX. SINDICATO. FUTURO?

I. O VELHOEONOVOSINDICATO... 408

1. O velho sindicato. 2. O novo sindicato.

II. A CRISESINDICAL... 426 III. REPRESENTAÇÃOEDEMOCRACIA... 432

1. Democracia. 2. Democracia sindical. 3. Partidos políticos. 4. Controle.

IV. REPRESENTAÇÃOEIDEOLOGIA... 444 V. UMNOVOSINDICALISMO... 453

1. Um sindicato único. 2. Representação. 3. Organização a partir dos locais de trabalho. 4. Liberdade individual e coletiva, negativa e positiva. 5. Órgãos: 1) Assembleia geral; 2) Diretoria executiva; 3) Conselho sindical. 6. Custeio. 7. Sindicato patronal. 8. Solução dos litígios trabalhistas. 9. Defesa de interesses coleti-vos de natureza trabalhista. 10. Práticas antissindicais. 11. Serviços. 12. Convenção coletiva de trabalho. 13. Atuação.

CRONOLOGIA... 463 BIBLIOGRAFIA... 473

(11)

P

ARTE

I — I

NTRODUÇÃO

Tanto já se escreveu sobre sindicato, de modo que se aventurar numa empreitada será repetir autores consagrados e tudo que já foi escrito, a menos que haja algo novo que mereça estudo e reflexões.

Comecei repensando o sindicato para procurar compreendê-lo num mundo globalizado e me pareceu que foi o bastante. Mas admito que não encontrei solução para colocá-lo de pé num mundo que já se pensa desglobalizar. Os acadêmicos, respeitáveis, de saber notável, elevaram o sindicato a tema jurídico, tratado no chamado Direito Coletivo do Trabalho. No Brasil, o modelo adotado pela “velha” CLT foi a Carta del Lavoro, fascista, seguida à risca no Decreto-lei n. 1.402 do Estado Novo conforme os princípios traçados na constituição (minúscula) outorgada pela ditadura Vargas de 1937. Só em 1978 o sindicato tornou-se tema para os analistas, estudiosos de inegável valor: sociólogos, economistas, historiadores e também jornalistas, empolgados pelo que se chamou Novo Sindicalismo.

A organização sindical e também a negociação coletiva, a convenção coletiva, greve, dissídio coletivo (conflito), ocuparam páginas preciosas de nossa literatura jurídica, de estudos vários, das colunas dos jornais até chegar à crise que ainda não foi superada. Dessindicalização, o fim dos sindicatos, a negociação não mais coletiva, mas individualizada, o abafamento da greve pela Justiça do Trabalho ou pela força policial, a retomada da tutela estatal, pouco importa. Para o pensamento acadêmico, tal qual a avaliação dos analistas, no Brasil, a crise sindical resolve-se com a superação da trindade maldita: unicidade, custeio mediante contribuição compulsória, intervenção da Justiça do Trabalho na solução dos conflitos coletivos. Trocando em miúdos, só se legitima com a liberdade sindical consagrada na Convenção n. 87 da OIT. Outra, n. 158, que garante o emprego, nem pensar.

O sindicato, no modelo tradicional, é próprio do sistema capitalista e a liberdade sindical em todo mundo tem o mesmo tamanho da liberdade política. A negociação coletiva é um processo de concessões para atenuar o conflito histórico entre o capital e o trabalho, concluída com um tratado de paz. Não tivemos atuação sindical durante o Estado Novo. A democracia relativa do Governo Dutra responde pelo fechamento de uma central e cerca de 400 intervenções em sindicatos, federações e confederações, além do Decreto-Lei n. 9.070 que criminalizou a greve. A ditadura militar implantada 18 anos depois foi além, marcando mais de 1.500 intervenções. Passados pouco mais de 23 anos, uma nova Constituição adotou autonomia com unicidade de representação. A democracia revivida é assim ainda jovem, mas fora de dúvida, o capitalismo avançou e vitorioso decretou uma nova ordem social para conviver com a terceirização da mão de obra, flexibilização dos direitos trabalhistas, o desmonte da legislação trabalhista. O Novo Sindicalismo chegou ao poder com seu personagem mais importante sem conseguir reformar a legislação sindical que tanto combateu. E nem jogou a CLT no lixo como prometera.

Neste quadro, compreender o sindicato exige segui-lo ao longo da história, saber que houve um Congresso Operário no distante ano 1906 que vergastou o assistencialismo, dando-lhe feição de órgão de resistência, passar pelas greves que sacudiram o país e fizeram tremer os donos do capital, abafadas pela ação policial, e também seu ressurgimento após cada ingerência do Estado repressor, a formação de centrais como o CGT sufocada pela

(12)

C

C

C

C

C

8

12 JOSÉ CARLOS AROUCA

ditadura militar. De fato, a história nos dá uma análise mais apropriada que não se encontra nos livros de direito, mas que se pode conhecer nas entrelinhas dos jornais, principalmente na voz daqueles que lutaram, resistiram, até caíram ou sobreviveram nos tempos de chumbo.

Pensar o sindicato como associação voltada para a defesa de direitos e interesses simplesmente trabalhistas será negar o sentido da organização de classe dirigida para a ascensão dos trabalhadores na escala social e na possível igualdade de todos numa sociedade sem classes. Para tanto, indispensável resgatar os fins sindicais, trabalhistas também, mas fundamentalmente sociais, econômicos e principalmente políticos.

A representação política indireta a cargo de partidos não resolveu a questão social nem permitiu a participação popular no exercício do poder. Os partidos políticos só possuem programas de papel, que até seus membros desconhecem; falta-lhes ideologia capaz de identificá-los e cada vez mais servem a seus dirigentes e não a quem deviam servir: o povo.

A Constituição de 1988 diferenciou os sindicatos das associações comuns, dando-lhes poder de representação além do grupo organizado, mas dos trabalhadores como coletividade, legitimados para defender não somente seus direitos individuais e coletivos, mas também seus interesses, vale dizer interesses de todos que vivem de seu trabalho, manual, técnico, intelectual, autônomo, liberal, urbano e rural, inclusive no serviço público. Logo um poder popular, de representação e ao mesmo tempo de resistência.

Não se sabe ao certo se os Constituintes de 1998 se esmeraram na redação de um poema ou se conscientemente traçaram os rumos do país quando escreveram alguns de seus dispositivos, a começar pelo primeiro, que colocou num mesmo plano capital e trabalho, repetindo que todo o poder emana do povo. Traçando os objetivos da República, destacou o propósito de construir uma sociedade livre, justa e solidária, sem pobreza e desigualdades sociais. Manteve-se o direito de propriedade e ressalvou seu caráter social. A ordem econômica não ficou só voltada para o capital, mas também para a valorização do trabalho humano, tendo por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observado, dentre seus princípios o pleno emprego. A ordem social, por sua vez assentou-se no primado do trabalho, tendo como objetivo o bem estar e a justiça social. A educação, a alimentação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados foram qualificados como direitos sociais. O Estado Democrático de Direito tem como um de seus fundamentos a pluralidade política, na qual se incluem não só os partidos, mas todas as organizações que de qualquer modo atuam politicamente, inclusive o sindicato. Sendo assim, se este tem como prerrogativa a defesa de interesses também sociais e políticos, cumpre-lhe promover a representação da classe trabalhadora para a construção do Estado Social traçado pela Constituição da República. A associação comum só representa seus filiados ao passo que o sindicato representa a categoria para a qual foi constituído, mas categoria sem a conotação fascista, criada pelo Estado, portanto grupo, nele compreendidos todos que se ativam numa mesma atividade, sem distinguir filiados ou não. Por isto a atuação do sindicato não é simplesmente trabalhista, mas fundamentalmente político-social e portanto popular. O sindicato é a classe trabalhadora organizada e não pedaços da classe atomizada, dispersa e concorrente.

Pensar o sindicato e compreendê-lo através da história, reconhecendo-o na crise que, de qualquer modo, bem ou mal, enfrenta no presente, e projetá-lo para um futuro, não poderá desprezar a resistência contra o desemprego e a desconstrução da legislação de proteção ao trabalho que foi conquistada sem favores do Estado. Mas é pensar num sindicato geral, de todos, logo sem associados, dotado de autonomia mas também de autocontrole, custeado pela classe que representa conforme a vontade dos trabalhadores, sem precisar de tutela. Enfim, um sindicato não partidarizado mas politizado, ideologizado.

Foi o que nos animou a alinhavar este trabalho ao longo de quase cinco anos, pensando a organização sindical com seus componentes: autonomia, liberdade individual e coletiva, positiva, organização nos locais de trabalho, litígios e conflitos, individuais e coletivos, formas de solução, ação coletiva sindical, negociação coletiva, greve, inclusive política, convenção ou contrato coletivo de trabalho, tanto faz, mediação, arbitragem, também judicial, práticas antissindicais. Mas principalmente seus fins, trabalhistas, sociais e políticos, enfim, sem preconceitos e utopia, um novo sindicato.

(13)

(1) Art. 139 da Carta de 1937. A Constituição de 1934 já instituíra a Justiça do Trabalho, mas para dirimir “questões” e não “conflitos” entre empregados e empregadores (art. 122).

(2) Arts. 135 e 140 da Carta de 1937.

P

ARTE

II — O S

INDICATO

. P

ASSADO

E

P

RESENTE

I. PASSADO. ORGANIZAÇÃOSINDICALNO BRASIL. DAERA P-VARGASÀERA LULA

A origem de nossa legislação sindical não é boa. Formou-se com o Estado Novo, cópia do fascismo de Mussolini, juntamente com a Justiça do Trabalho, para substituir os sindicatos na solução dos conflitos coletivos(1). Por isto mesmo proibiu-se a greve. O modelo corporativo prendia-se à intervenção do Estado no domínio econômico e o sindicato assumia papel de ator coadjuvante para que “a economia da população” fosse “organizada em corporações, e estas, como entidades representativas das forças do trabalho nacional, colocadas sob a assistência e a proteção do Estado, como órgãos destes”, exercendo “funções delegadas de Poder Público”(2).

Foi com esta roupagem que em 1943 entrou como Título V da Consolidação das Leis do Trabalho.

Nossa primeira lei sindical, Decreto n. 979, de 6 de janeiro de 1903, de inspiração católica, ficava restrita “aos profissionais da agricultura e indústrias rurais” e mais próxima do cooperativismo. Pregava a união do capital e trabalho no campo — afinal, o Brasil era um país essencialmente agrícola. Vigia a Constituição Republicana de 1891, cujo art. 72, no § 8º permitiu a organização associativa: “A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: (...) § 8º A todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas; não podendo intervir a polícia senão para manter a ordem pública”. A medida rompia com o sistema da Constituição do Império, de 1824, que no art. 179, item 25, proibia toda forma de organização de classe: “A inviolabilidade dos direitos civil e políticos dos cidadãos brasileiros que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império pela maneira seguinte: (...) Ficam abolidas as corporações de Ofícios, seus Juízes, Escrivães e Mestres”. A Lei deveu-se à iniciativa do Deputado Joaquim Inácio Tosta atendendo solicitação de 15 corporações operárias e da Federação Cristã de Pernambuco, sendo promulgada no governo Rodrigues Alves. Adotava a autonomia, registro em cartório, liberdade negativa de filiação e retirada, e permitia a formação de uniões ou sindicatos centrais.

Os desacertos foram corrigidos cinco anos depois para permitir a organização por “profissionais de profissões similares ou conexas, inclusive as profissões liberais”. Autonomia, registro em cartório, organização em federações, uniões e sindicatos centrais, liberdade negativa de filiação e formação mista entre capital e trabalho para a solução dos conflitos. Foi o Decreto n. 1.637, com a mesma origem católica e autoria. Projeto de 1905 só foi sancionado no dia 5 de janeiro de 1907 no governo Afonso Pena. Abria seu alcance para todos os trabalhadores, inclusive profissionais liberais, mas sem mudar o âmbito de representação das duas classes antagônicas, às quais atribuía, quando constituídas “com o espírito de harmonia, como sejam os ligados por conselhos permanentes de conciliação

(14)

C

C

C

C

C

8

14 JOSÉ CARLOS AROUCA

e arbitragem, destinados a dirimir as divergências e contestações entre o capital e o trabalho” feição de “representantes legais da classe integral dos homens do trabalho”, podendo como tais, “ser consultados em todos os assuntos da profissão”.

Foi um tempo de agitação, de reivindicações sentidas, um período rico de protestos e greves, como registrou Evaristo de Morais no pioneiro Apontamentos de Direito Operário(3). Os imigrantes chegaram para substituir o trabalho escravo. Foram 220 mil no período de 1871 a 1880, 2 milhões, de 1901 a 1930.

Getúlio Vargas chegou ao poder em 1930 e fiel à plataforma da Aliança Liberal logo criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio para administrar a questão social ou oficialmente para “superintender as questões relativas ao trabalho”, que para seu antecessor, Washington Luiz, era mais uma questão de polícia, maldade de seus opositores, como se viu depois(4). Inicia-se a “Era Vargas”, que ainda não chegou ao fim. O Decreto n. 19.770, de 19 de março de 1931, nossa terceira lei sindical, a primeira do ciclo Varguista, destinava-se a “organizar as profissões idênticas, similares ou conexas para defender os seus interesses de ordem econômica, jurídica, higiênica e cultural. Adotava a liberdade negativa, permitia a organização em federações e confederações e também de uma Confederação Brasileira do Trabalho. A submissão ao Estado era tanta que já se proibia a propaganda de “ideologias sectárias, de caráter social, político ou religioso”. Deixou de lado a autonomia para domesticar os sindicatos submetendo-os à tutela do Estado como órgãos de colaboração. Não havia simplesmente registro, mas reconhecimento estatal. Seus fins: defesa — mas por intermédio do Ministério, como foi apresentado pelo primeiro ocupante de Pasta, Lindolfo Collor(5). Embora a Lei Sindical tenha sido escrita por dois socialistas, o advogado carioca Evaristo de Moraes e o professor pernambucano Joaquim Pimenta, acostumados na luta em defesa dos desfavorecidos, o controle estatal era tanto que sindicatos, federações e confederações eram obrigadas a enviar “anualmente ao Ministério relatório dos acontecimentos sociais”, especificando as alterações do quadro associativo e a situação financeira; proibia-se a interferência de pessoas estranhas às associações “sob qualquer pretexto”. Expressão significativa do intervencionismo estava no art. 15: “Terá o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, junto aos sindicatos, às federações e confederações, delegados com a faculdade de assistirem as assembleias gerais e a obrigação de, trimestralmente, examinarem a situação financeira dessas organizações, comunicando ao Ministério, para os devidos fins, quaisquer irregularidades ou infrações do presente decreto”. Claro, os servidores públicos ficaram de fora. Adotou a unicidade de forma confusa no art. 9º: “Cindida uma classe e associada em dois ou mais sindicatos, será reconhecida a que reunir dois terços da mesma classe, e, se isto não se verificar a que reunir maior número de associados. Parágrafo único. Ante a hipótese de preexistirem uma ou mais associações de uma só classe e pretenderem adotar a forma sindical nos termos deste decreto, far-se-á o reconhecimento de acordo com a fórmula estabelecida neste artigo”. A lei falava em profissão entendida como classe. Privilegiava como forma de cooperação com o Poder Público a pacificação entre o trabalho e o capital através de Conselhos mistos e permanentes de conciliação e julgamento, embriões da Justiça do Trabalho. Facultava o ajuste de convenções ou contratos de trabalho para seus associados, dependentes da ratificação ministerial. Proibia a filiação individual a sindicatos internacionais, ficando as entidades coletivas subordinadas à aprovação do Ministro do Trabalho. Nada de luta de classes, de atuação política, mesmo as reivindicações só eram admitidas através do Ministério do Trabalho.

Enfim, a domesticação dos sindicatos.

Na breve democracia, quando Vargas se elegeu presidente pela via indireta, uma nova Lei Sindical, Decreto lei n. 24.694, de 12 de junho de 1934, seguiu a Constituição para adotar a pluralidade. Mas a lei só permitiu o pluralismo limitado a três entidades no máximo; como regra apenas duas, na observação de Evaristo de Moraes Filho, “porque dificilmente se daria a divisão ótima desta quantidade (1/3) para a constituição de cada nova

(3) FILHO, Evaristo de Moraes. A ordem social num novo texto constitucional. São Paulo: LTr, 1986. p. 60 e 61. O filho anota que “os primeiros anos da República foram de grande agitação e a explicação é fácil: 1888 significou, por si só, a primeira grande lei social entre nós, acabando com a escravidão e instituindo o regime do trabalho livre” (p. XXXII).

(4) Decreto n. 19.433, de 26 de novembro de 1930.

Evaristo de Moraes Filho repete as palavras do presidente deposto por Vargas: “Eu jamais disse, ou escrevi, e jamais poderia ter dito que a questão social era uma questão de polícia, frase que o mais bisonho político, mesmo em nossa terra, não ousaria empregar” (Washington Luiz

e a questão social, temas atuais do trabalho e previdência. São Paulo: LTr, 1976, p. 103).

(5) AROUCA, José Carlos. O sindicato em um mundo globalizado. São Paulo: LTr, 2003. p. 771.

(15)

C

C

C

C

C

15

ORGANIZAÇÃO SINDICALNO BRASIL — PRESENTE. PASSADO. FUTURO (?)

associação. Bastava não coincidir tal número perfeito — e é o que se dava na realidade — para desfalcar o último sindicato, que poderia ser criado, do mínimo exigido por lei”(6). Já não se falava em órgão de colaboração, mas de “coordenação de direitos e deveres recíprocos entre empregados e empregadores”, inclusive para a celebração de convenções coletivas e atuação junto às comissões e tribunais do trabalho para a solução dos conflitos. Permitia-se a formação de uniões, federações e confederações. Os servidores mais uma vez ficaram de fora. A autonomia era também relativa, pois o Ministério podia fechar o sindicato por prazo limitado a seis meses.

Foi nossa experiência pluralista.

1937 marcou o Estado Novo fascista, a ditadura cruel e a carta constitucional outorgada; sua redação deveu--se a Francisco Campos que anos mais tarde redigiria o Ato Institucional n. 1 da ditadura militar, portanto um especialista em “democracias autoritárias” conforme a adjetivação empregada por Oliveira Vianna, o responsável pela Lei Sindical de 1939(7). Seu art. 138 colocava o sindicato como categoria de produção e assim, peça do Conselho da Economia Nacional. O Conselho tinha como atribuições, dentre outras, “editar normas reguladoras dos contratos coletivos de trabalho entre os sindicatos da mesma categoria de produção ou entre associações representativas de duas ou mais categorias; emitir parecer sobre todas as questões relativas à organização e reconhecimento de sindicatos ou associações profissionais; propor ao Governo a criação de corporação de categoria”(8). Daí o significado maldito de categoria para os dias de hoje, se bem que mantida na Constituição atual, incisos II, III e IV do art. 8º. O art. 138 já outorgava aos sindicatos funções delegadas de Poder Público e facultava a estipulação de contratos coletivos, mas apenas para os associados. O autor da carta acreditava que pudesse extinguir a luta de classes e assim deu à Justiça do Trabalho, recriada na Constituição de 1934, competência para resolver os conflitos coletivos, mantida à margem do Poder Judiciário. A greve, por fim, foi declarada recurso antissocial, nocivo ao trabalho e ao capital e incompatível com os superiores interesses da produção nacional. Daí nossa 5ª Lei Sindical — Decreto-lei n. 1.402, de 5 de julho de 1939. Naturalmente, substituiu profissão por categoria. O sindicato voltou a ser órgão de colaboração, dependente de reconhecimento pelo Estado, submetido à tutela, agora repressiva do Ministério do Trabalho, sujeito a punições de toda ordem, desde suspensão até destituição de seus dirigentes, intervenção até fechamento das entidades. Proibida qualquer propaganda de doutrinas incompatíveis com os interesses da Nação e também a filiação às organizações internacionais. Mas dava-se aos sindicatos a prerrogativa de impor contribuições a todos aqueles que participassem das profissões ou categorias representadas. E mais uma vez ficavam de fora os servidores públicos.

Complementando a Lei Sindical vieram o Decreto-lei n. 2.377, de 8 de julho de 1940, instituindo o imposto sindical e o Decreto-lei n. 2.381, de 8 de julho do mesmo ano, implantando o enquadramento com a criação prévia das categorias num sistema de paralelismo e correspondência.

Estava criado o sindicato oficialista.

Mais tarde, em 1943, tudo foi dar na CLT, constituindo seu Título V, que atravessou o governo mais ou menos democrático de Dutra (31.1.1946 a 31.1.1951), que fora ministro da guerra do Estado Novo de Vargas. Seu maior feito foi fechar a Confederação dos Trabalhadores do Brasil, central criada por iniciativa do Partido Comunista, e intervir nas entidades a ela filiadas, contabilizando cerca de 400 ações(9). Como podia legislar por decreto-lei enquanto se votava a Constituição de 1946, mesmo sendo o Brasil signatário do Tratado de Chapultepec, firmado no ano anterior, baixou o Decreto-lei n. 9.070 criminalizando a greve, direito consagrado na Declaração de Princípios da América.

E atravessou, também, o governo democrático e nacionalista de Vargas (31.1.1951 a 24.8.1954), o período desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek (31.1.1956 a 31.1.1961), a breve experiência janista (31.1.1961 a 25.8.1961) e o precário meio-parlamentarismo, meio-presidencialismo de João Goulart (24.1.1963 a 1.4.1964),

(6) O problema do sindicato único. São Paulo: Alfa-Omega, 1978. p. 226. (7) Problemas de direito sindical. Rio de Janeiro: Max Limonad, 1943. p. 9. (8) Art. 61.

(9) Naturalmente, tanto o governo dos Estados Unidos como seu embaixador no Brasil negaram qualquer participação no golpe. Agora, 37 anos passados, revela-se diálogo travado entre o presidente John Kennedy e Lyndon Gordon, que diante da vacilação do primeiro, sugere sem rodeios: “O fundamental é organizar forças políticas e militares para reduzir seu poder (de João Goulart) e, num caso extremo, afastá--lo” (O Estado de S. Paulo, 5.4.2011).

(16)

C

C

C

C

C

8

16 JOSÉ CARLOS AROUCA

quando acontece a ruptura com o sistema e a criação do Comando Geral dos Trabalhadores, o CGT, fora de dúvida a maior central que já tivemos.

A frágil democracia não resistiu à pressão orquestrada pelas forças da direita, alimentada pelos Estados Unidos através de seu embaixador Lincoln Gordon, com apoio da imprensa. — leia-se O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo etc. — mais as centrais “pelegas” e reacionárias: Movimento Sindical Democrático, MSD, Resistência Democrática dos Trabalhadores Livres — REDETRAL, Movimento Renovador Sindical — MRS e até de outra, União Sindical dos Trabalhadores — UST, situada mais ao centro.

1964 e outro golpe de estado, de novo a ditadura que marcou 1.565 intervenções em sindicatos(10). Novidades: o Decreto-lei n. 229, de 1967, e o Decreto-lei n. 1.682, de 1978, que completou a Lei n. 4.330, de 1964 para proibir a greve. A ditadura via o sindicato como uma associação prestadora de serviços.

Criou-se o sindicalismo assistencialista.

O regime militar chegou ao fim quando seu último agente deixou o governo pela porta dos fundos e pediu ao povo que o esquecesse, no que foi prontamente atendido. Havia um desejo doído de liberdade como escreveram Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri no seu Arena Conta Zumbi, e portanto, desejo de democracia. Instalada a Assembleia Constituinte abriu-se um novo cenário de feição nitidamente reformista.

Mudar a CLT, ainda nova, já fora pensado cinco anos após sua vigência. O Projeto João Mangabeira de 1948 inovava com as seguintes medidas: a) trocava categoria por profissão; b) registro perante a Justiça do Trabalho; c) interiorização nas empresas através de comissão de empregados compostas por delegados sindicais; d) constituição de Câmara Sindical na Justiça do Trabalho como órgão de controle, formada por representantes do patronato, dos trabalhadores e do Estado; e) manutenção da contribuição sindical; f) limitação das despesas para remuneração dos dirigentes e empregados a 5% da arrecadação da contribuição sindical; g) organização vertical tendo no vértice uma Confederação Geral de Empregados, outra dos Empregadores e uma terceira dos Trabalhadores Autônomos, mas formadas pelas confederações; h) remessa da sindicalização dos funcionários públicos e autárquicos para lei especial; i) representatividade mínima de 1/4 dos trabalhadores ou dos empregadores. Adotava, também, a unicidade sindical: “Art. 2º (...) § 1º Dentro do âmbito territorial, não pode haver mais de um sindicato da mesma profissão ou da atividade econômica. Em caso contrário, o registro do segundo sindicato será cancelado a pedido do primeiro”(11).

Dois anos depois Segadas Vianna, um dos “consolidadores”, Ministro do Trabalho no governo democrático de Vargas, apresentou o Projeto de Código do Trabalho n. 606/1950. Suas características principais: a) profissão e não categoria; b) autonomia; c) registro no Cartório de Registro de Títulos e Documentos; d) e ainda audiência prévia do Ministério Público do Trabalho para emitir parecer que, sendo favorável, depois de publicizado, implicará no registro e, se contrário, com recurso para a Comissão Sindical Regional; e) organização das confederações em uma Confederação Geral dos Trabalhadores e outra dos Empregadores; f) manutenção do imposto sindical; g) reconhecimento dos delegados sindicais; h) representatividade de, no mínimo 1/4 dos trabalhadores ou das empresas. E unicidade sindical: “Art. 530. (...) § 1º Dentro do âmbito territorial não poderá haver mais de um sindicato da mesma profissão ou atividade econômica, não se procedendo o registro a que se refere o § 5º no caso de existência de outra entidade já registrada”(12).

Cinco anos mais tarde o Deputado Carlos Lacerda (UDN-RJ) apresentou o Projeto de Código do Trabalho n. 429, de 1955, escrito por Dorval Lacerda, outro consolidador: Seus pontos básicos no que se refere à organização sindical: a) profissão e não categoria; b) registro no Ministério do Trabalho como simples depósito; c) autonomia; d) abolição do imposto sindical; e) idem do enquadramento; f) nada de confederação geral ou de organização nos locais de trabalho; g) funcionários públicos e paraestatais e profissionais liberais ficaram de fora, dependentes de lei especial; h) unicidade sindical: “Art. 328. Não poderá ser registrado mais de um sindicato representativo da mesma profissão ou atividade na mesma base territorial”. Dorval Lacerda na justificação colocou-se contrário ao

(10) ALVES, Maria Helena Morais. Estado e oposição no Brasil (de 1964 a 1979). Petrópolis: Vozes, 1984. p. 244. (11) Projeto n. 1.267-A de 1948. João Mangabeira, deputado socialista.

(12) Revista do Trabalho, Rio de Janeiro, n. 5, p. 285 e ss., maio 1951

(17)

C

C

C

C

C

17

ORGANIZAÇÃO SINDICALNO BRASIL — PRESENTE. PASSADO. FUTURO (?)

sindicato mais representativo: “A solução que os pluralistas preconizam do sindicato mais representativo — ou seja, da escolha, através critérios preestabelecidos, entre os quais prepondera o do maior número de associados do sindicato que, no seio da pluralidade, deva falar e ser a expressão de toda a profissão — não me parece sincera nem aconselhável. Isso porque a ideia de sindicato mais representativo é uma ideia, queiram ou não, tipicamente unitária; pode haver vários sindicatos, mas só um representa a profissão”(13). Mesmo assim, admitiu-o.

No breve regime parlamentarista e no brevíssimo Gabinete Hermes Lima (18.9.1962 a 24.1.1963) a pasta do Ministério da Justiça foi ocupada por João Mangabeira, que iniciou a reforma da legislação brasileira, atribuindo a feitura de um Código do Trabalho a Evaristo de Moraes Filho. Seu anteprojeto foi divulgado em 1963, pouco antes do golpe militar. Aposentado compulsoriamente da cátedra conquistada por seus méritos de jurista, só podia mesmo vê-lo desprezado, como, aliás, foram os demais. O texto, avançado, na linha dos anteriores, punha fim ao resquício fascista da CLT eliminando categoria (se bem que também a use, mas como sinônimo de profissão), imposto sindical, enquadramento. Mantinha, porém, a tutela repressiva e a subordinação ao Estado, o registro no Ministério do Trabalho, a proibição de “proselitismo religioso e atividade política, além de exclusão dos funcionários públicos e paraestatais. Permitia às Confederações organizarem-se em uma confederação geral. Adotava, também, a unicidade sindical com pluralidade de associações, que poderiam assumir a natureza de sindicato em substituição ao já reconhecido, se mais representativas.

Na ditadura militar o Marechal Castelo Branco anunciou a extinção do imposto sindical, mas contentou-se em mudar seu nome, passando num passe de mágica de imposto para contribuição(14).

Em 1975, já no governo do General Ernesto Geisel foi constituída a Comissão de Atualização da CLT presidida por Arnaldo Lopes Süssekind, outro consolidador. Na justificação do projeto foi destacado que mantinha os postulados consagrados pela “Revolução de 1964”. Concluído em 1976, decidiu-se que seria encaminhada ao Congresso Nacional aos pedaços, por capítulos. Foram mantidas a unicidade, o enquadramento, o imposto sindical, a margi-nalização dos servidores públicos e a tutela repressiva a cargo do Ministério do Trabalho. A reação do sindicalismo que renascia foi expressiva e o projeto não vingou.

José Sarney, que chegou à presidência sem nenhum voto, aproveitou o restinho do regime regido pela Cons-tituição da ditadura e mandou, em agosto de 1986, para o Congresso projeto de lei sindical que permitia a pluralidade e a autonomia, mas a liberdade era negada pela punição dos dirigentes pelos “excessos praticados no exercício das atividades inerentes à vida sindical”. Mantido o enquadramento, a contribuição sindical seria extinta gradativamente, substituída pela que fosse fixada nos acordos e convenções, também compulsória(15).

A estrutura da organização sindical foi exaustivamente discutida na Assembleia Constituinte. Ao final, 269 constituintes apoiaram a unicidade sindical, contra 78 votos favoráveis ao pluralismo e 6 abstenções(16). Cedendo à pressão das confederações patronais e de trabalhadores, foi criado o sistema confederativo da representação sindi-cal e a contribuição para seu custeio, com um rabicho que ressalvava a continuação da prevista em lei, nada menos do que a sindical, compulsória.

No após Constituição seguiu-se a chamada “modernização das relações de trabalho” na forma pensada pelos acadêmicos, sem nenhuma participação dos trabalhadores, e é claro, prevaleceu o propósito de mandar para o lixo o entulho que entendiam bloquear a “liberdade sindical”, melhor dizendo: unicidade sindical, contribuição de custeio compulsória, poder normativo da Justiça do Trabalho(17). Fernando Collor de Mello bateu o metalúrgico Lula na disputa pela presidência do país, prometendo matar com um tiro só os marajás da República. Logo, para conquistar a simpatia do movimento sindical, colocou na pasta do Trabalho o presidente da CGT “confederação”,

(13) Revista do Trabalho, Rio de Janeiro v. XXIII, p. 231, jul./ago. 1955.

(14) Decreto-lei n. 229, de 28 de fevereiro de 1967. Antes, no mês de setembro de 1964, o General encaminhou ao Congresso Nacional o anteprojeto elaborado pelo Ministro do Trabalho Arnaldo Lopes Süssekind para extinguir o imposto, mas progressivamente, conforme plano a ser elaborado por uma comissão tripartite (Folha de S. Paulo, 25.9.1964).

(15) O sindicato em um mundo globalizado, cit., p. 267. (16) Diário da Assembleia Constituinte n. 289, 10.8.1988.

(17) Prefiro acadêmicos (juristas, professores) a operadores do direito, qualificativo que não alcança outros estudiosos do sindicalismo, que chamo de analistas: historiadores, economistas, sociólogos, jornalistas.

Referências

Documentos relacionados

O fato de a porcentagem de mulheres no sistema prisional ser baixa (6,3% no Brasil e entre 0% e 29,7% no mundo) faz com que suas necessidades não sejam consideradas

Pretendo, a partir de agora, me focar detalhadamente nas Investigações Filosóficas e realizar uma leitura pormenorizada das §§65-88, com o fim de apresentar e

Sentido a necessidade de organizar melhor os louvores de grupo decidi trabalhar neste documento utilizando ferramentas gratuitas.. Por n˜ ao ser vers˜ ao final, n˜ ao deve ser

The chemical composition of elephant grass and dehydrated cashew bagasse used in silage are shown in Table 1.. The regression equations, determination coefficients, and

As inscrições serão feitas na Comissão Permanente de Vestibular da UFMG (COPEVE), situada no Prédio da Reitoria da UFMG, à Av. Presidente Antônio Carlos, 6627 – Campus da

Dessa maneira, é possível perceber que, apesar de esses poetas não terem se engajado tanto quanto outros na difusão das propostas modernistas, não eram passadistas. A

0 presente trabalho surgiu do fato de que, nos livros de Matemática Financeira, no mercado livreiro nacional, não abordarem fórmulas matemáticas nos capitulos onde tratam

Cursos Conteúdos Administração e Recursos Humanos 10 questões de conhecimentos gerais 15 questões de matemática 10 questões de português Direito 20 questões de