Data de Criação: 09/02/2021
Criado por: Biblioteca SP
Clipping SCA
Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.
Sumário das
Matérias:
Mercado Livre pode ser alvo de ação no Cade
Valor ––09 de fevereiro...01
Debate de ICMS que não vale ver de novo
Valor ––09 de fevereiro...04
Compra de terra por estrangeiros deve “empacar” no Congresso
Valor ––09 de fevereiro...08
SP lança pacote de R$ 100 milhões em crédito para socorro às empresas
Valor ––09 de fevereiro...11
União cobre R$ 336,7 mi em garantia de dívidas
Valor ––09 de fevereiro...13
Câmara pauta regras para o mercado de câmbio
Valor ––09 de fevereiro...14
A maior lição da GameStop
Valor ––09 de fevereiro...15
Precificação efetiva do carbono é cada vez mais urgente
Valor ––09 de fevereiro...18
Para acelerar expansão, Echoenergia entra no segmento de comercialização
Valor ––09 de fevereiro...26
Ibama chega a acordo com Belo Monte
Valor ––09 de fevereiro...27
Duratex dribla pandemia e registra seu melhor ano
Valor ––09 de fevereiro...29
B2W entra com frete grátis e reduz taxa para lojista
Valor ––09 de fevereiro...31
Movimento falimentar
Anac define regra para dividir aeronave
Valor ––09 de fevereiro...40
Especialistas e MPT defendem demissão de trabalhadores que não se vacinarem
Valor ––09 de fevereiro...42
Contribuinte quer prazo maior para usar créditos
Valor ––09 de fevereiro...45
Esvaziamento da reclamação pelo STJ
Valor ––09 de fevereiro...47
Com piora da pandemia, demanda por testamento segue em alta
Folha ––09 de fevereiro...50
Quem recusar vacina pode ser demitido por justa causa, diz MP do Trabalho
Globo ––09 de fevereiro...51
Em meio a megavazamento, caminho da Autoridade de Dados preocupa especialistas
OESP ––09 de fevereiro...53
Encerramento de contas por iniciativa do banco não é abusivo, diz TJ-SP
Conjur - 09 de fevereiro...58
Para MPF, retroatividade do ANPP não pode ocorrer se já há coisa julgada
Conjur - 09 de fevereiro...58
Consumidora que pagava juros de 800% em empréstimo será ressarcida
Migalhas - 09 de fevereiro...62
STF não modula efeitos de decisão sobre imunidade de filantrópicas
Valor Econômico
Caderno: Primeira Página, terça-feira
09 de fevereiro de 2021.
Mercado Livre pode ser alvo de
ação no Cade
Para IDV, a empresa tem grande volume de vendas, entre pessoas físicas, de produtos usados, sem origem comprovada e lojistas que não emitem nota fiscal, apenas a declaração de conteúdo Por Adriana Mattos e Daniela Braun — De São Paulo
O Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), que reúne cerca de 70 grandes varejistas, estuda ir ao Cade
contra o Mercado Livre por
concorrência desleal. Para a entidade, a empresa tem grande volume de vendas, entre pessoas físicas, de
produtos usados, sem origem
comprovada e lojistas que não
emitem nota fiscal, apenas a
declaração de conteúdo. Em um ambiente de concorrência crescente, associadas do IDV observam que a prática favoreceria o Mercado Livre. Em 2020, Magazine Luiza, B2W e Via Varejo assinaram termos de apoio à autorregulamentação para o setor. Mercado Livre e plataformas de “marketplace puras”, porém, dizem que já está em vigor o Marco Civil da Internet.
01
IDV estuda acionar Mercado
Livre no Cade
Empresa nega irregularidades e
diz que há campanha de
desinformação sobre o seu
modelo
Por Adriana Mattos e Daniela Braun — De São Paulo
Há um clima de animosidade no
comércio digital e ontem as
discordâncias ganharam nova força. O IDV, principal entidade empresarial do setor, que reúne cerca de 70 grandes varejistas do país, estuda entrar com ação contra o Mercado Livre no Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (Cade) por
concorrência desleal, a pedido dos associados.
Fundado em 2004 por empresários do varejo como Artur Grinbaum, Luiza Helena Trajano e Flavio Rocha, o IDV está analisando essa demanda das redes, dentro de um contexto de
maior risco ao aumento da
decorrência da atuação do Mercado Livre, disse o instituto.
Ontem, ao Valor, o Mercado Livre
rebateu afirmações de conduta
irregular e criticou o que chama de “movimento de desinformação” no setor e a “falta de entendimento” sobre sua atuação no mercado.
Para embasar uma possível ação, o Valor apurou que representantes do IDV já estiveram em contato com Receita Federal, receitas estaduais e Senacon, ligada ao Ministério da
Justiça, para aprofundar seu
entendimento sobre o funcionamento das cobranças de impostos e de regulações no marketplace (shopping virtual).
Nos bastidores, é sabido que as divergências entre varejistas ligadas ao IDV e plataformas de marketplace já têm quase três anos. Varejistas associadas à entidade entendem que há alto volume de venda entre pessoas físicas, de produtos usados, sem origem da mercadoria, e também de lojistas que não emitem nota fiscal, apenas fornecem a declaração de conteúdo. Parte das associadas do IDV avalia que isso traz desequilíbrios ao setor, e a hipótese de uma ação contra o Mercado Livre está dentro desse contexto, dizem fontes.
Essas diferenças acabaram gerando um desconforto maior de um ano para cá, depois que líderes do setor passaram a associar com maior
frequência marketplaces a
“camelódromos digitais”. Tanto
Flavio Rocha, quanto Marcelo Silva, presidente do IDV e Frederico Trajano, CEO do Magazine, tem criticado grupos que operam fora do compliance com as regras e leis
02 brasileiras - sem citar o nome de qualquer empresa. Ontem, pela primeira vez, o IDV confirmou a ação citando o Mercado Livre.
A empresa também foi alvo de críticas recentes do senador Ciro Nogueira, presidente do Progressistas (PP). Ao comentar sobre reforma tributária em entrevista ao Valor, na sexta-feira, Nogueira disse que as empresas pontocom não pagam impostos no país. “Esse Mercado Livre que virou um camelódromo virtual e até ilegal, às vezes. Não tem sentido, temos que tributar, focar nisso para que a gente possa arrecadar”, disse.
Em 2019, o varejo começou a discutir a responsabilidade das companhias na venda on-line de mercadorias piratas e evoluiu no debate de um projeto de autorregulamentação. O intuito era limitar a venda de
produtos pirateados e ampliar
controles, mas houve cisão no setor sobre o tema.
Na pandemia, o forte crescimento do varejo on-line acabou acentuando mais as disparidades de crescimento entre grupos que operam apenas na venda on-line, como Amazon e Mercado Livre, e outros que tem também operação física.
Mercado Livre e outras plataformas de marketplace “puras” entendem que não têm responsabilidade direta pela
venda e não cabe uma
regulamentação, considerando que já está em vigor o Marco Civil da Internet. Magazine Luiza, B2W e Via Varejo assinaram os termos de apoio à autorregulamentação em 2020. Essas empresas fazem parte do IDV.
Procurado, o Mercado Livre disse que há uma campanha de desinformação de que suas vendas sejam feitas sem nota fiscal. “Há uma falta de entendimento do segmento”, diz
Fernando Yunes, vice-presidente
sênior da plataforma. “O Mercado Livre tem um papel de formalização no Brasil que contribui positivamente para a arrecadação”, diz.
“Vemos algumas pessoas se
engajando num movimento de
desinformação”, afirma Ricardo
Lagreca, diretor jurídico da empresa. Yunes diz que a empresa vem trabalhando na formalização de vendedores, e a partir de uma venda por dia, o lojista é convidado a formar uma empresa. “Conseguimos realizar o processo em até 30 dias”. Em 2020, a empresa diz que 51 mil vendedores se formalizaram - hoje, a plataforma conta com 600 mil vendedores. Cerca de 5% são pessoas físicas, que não
necessariamente precisam ser
formalizadas. Apenas o Mercado Livre opera a venda entre pessoas físicas. Magazine Luiza, B2W, Amazon e Via Varejo não atuam nessa área.
O Mercado Livre diz que as transações na empresa ocorrem pelo Mercado Pago, que inclui CPF, item e
valor do produto, que são
compartilhados com a Receita
Federal. Ainda possui um botão de alerta que pode ser acionado, mesmo sem o cliente adquirir o bem, caso o
consumidor entenda que a
mercadoria é falsa. Nesse caso, se o comprador adquire um item e aceita recebê-lo mesmo sendo pirata, a denúncia não ocorre.
03 “A confusão está com empresas offshore, que não têm operação no país”, diz Lagreca.
Outra forma de reduzir a
informalidade, diz o comando do Mercado Livre, é levar os lojistas a usarem mais os serviços de logística da empresa. Hoje 80% das vendas passam pela logística própria. “A meta é chegarmos ao fim de março com 90%”, diz Yunes.
O Mercado Livre ainda disse que paga todos os tributos federais (IRPJ, CSLL, PIS e Cofins) estaduais (ICMS)
e municipais (ISS), além das
contribuições patronais sobre folha de salários.
https://valor.globo.com/empresas/notici a/2021/02/09/idv-estuda-acionar-mercado-livre-no-cade.ghtml Retorne ao índice
Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 09de
fevereiro de 2021.
Debate de ICMS que não vale
ver de novo
É infrutífero querer discutir mudança no imposto sempre que houver aumento de preço dos combustíveis
Ao anunciar na sexta-feira estudos para mudar a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos combustíveis, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) retomou assunto que ganhou destaque nessa mesma época, há um ano.
É verdade que a temperatura da discussão no início de fevereiro do ano passado já havia alcançado níveis mais elevados do que a deste ano. Em 2020 Bolsonaro chegou a desafiar os Estados a reduzir o ICMS sobre combustíveis, o que resultou em resposta imediata dos entes federados e em bate-boca mais generalizado com governadores. Depois, em março, com a pandemia, que obviamente trouxe novas prioridades e também contribuiu para a queda dos preços do petróleo no mundo, a discussão ficou de lado.
04
Infrutífero debater imposto
sempre que combustível subir
Com a recuperação mais recente do preço da commodity, a ideia de mudar o ICMS volta com o mesmo fim, o de reduzir o preço dos combustíveis no mercado interno. O tom em que a ideia de mudar a cobrança de ICMS foi colocada foi mais ameno este ano. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), se declarou contra no mesmo dia, mas a resposta unificada dos Estados veio por meio das Fazendas estaduais. Na própria sexta-feira, em nota distribuída pelo Comitê Nacional dos Secretários de Fazenda (Comsefaz), os 27 secretários estaduais e do Distrito Federal alegaram que os expressivos aumentos nos preços dos combustíveis ocorridos a partir de2017 não apresentam qualquer
relação com a tributação estadual. Foram, destacam, frutos da alteração da política de gerência de preços pela
Petrobras, que prevê reajustes
baseados na paridade do mercado internacional, repassando ao preço dos combustíveis toda a instabilidade do cenário externo do setor e dos mercados financeiros.
A nota diz ainda que não somente o ICMS incide nas operações de extração, produção, distribuição e comercialização de petróleo e seus derivados, mas também tributos federais que compõem custo e preços do combustível na bomba, sendo PIS, Cofins, IR e CSLL elencados entre eles.
Não à toa a reação dos secretários de Fazenda foi imediata. A sugestão do presidente vem logo após os Estados
fecharem com queda real de
arrecadação de ICMS.
No ano passado, a arrecadação do imposto, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), somou no agregado R$ 518,6 bilhões, com alta nominal de 1,7%, variação abaixo da inflação de 4,5% medida pelo IPCA. Com a crise sanitária e a resultante queda de preços no ano passado, a arrecadação de ICMS sobre petróleo e combustíveis teve desempenho pior que a média do imposto, com redução nominal de 10,5% contra 2019.
Mesmo assim, petróleo e
combustíveis se mantêm como as principais fontes de receita de ICMS dentro do grupo dos chamados preços administrados. Esse grupo concentra as maiores alíquotas do imposto. Na regra geral, o ICMS de 18% sobe para 25% nos preços administrados. Mas esse grupo, que por muito tempo funcionou quase que como uma garantia de receita de ICMS para os Estados, sofreu perda de base de arrecadação nos últimos dez anos.
Composto por comunicação,
combustíveis e energia elétrica, o grupo dos preços administrados representou 34,8% da arrecadação de ICMS em 2010. Em 2020, esse trio respondeu por fatia menor, de 31,8%. Há oscilações, claro, conforme a arrecadação total. Em 2019, esse grupo ainda representava 34,6%. Mas dez anos antes ele alcançou 37,1%. A grande perda nos últimos dez anos
aconteceu nos serviços de
comunicação. Cada vez mais focados na transmissão de dados, esses
05 serviços ficaram em grande parte fora do alcance do ICMS. A fatia de
arrecadação desse segmento
específico caiu de 10,9% em 2010 para 5,5% do imposto total no ano passado.
Com o recuo no recolhimento do ano passado, o ICMS sobre combustíveis perdeu dois pontos percentuais de participação na arrecadação agregada de 2019 para 2020, mas ainda assim manteve fatia representativa, de 15,5%. A energia elétrica caiu 0,4 ponto percentual em igual período e terminou 2020 com fatia de 10,8% do ICMS total.
Não se pode esquecer que as perdas dos Estados com ICMS no ano passado foram compensadas com o pacote de ajuda da União em razão da pandemia. Um pacote generoso que em alguns entes mais do que compensou a perda de arrecadação. Neste início de 2021, porém, em meio ao recrudescimento dos casos de covid-19 e à incerteza em relação ao
ritmo de vacinação, não há
sinalização dessa mesma ajuda. E uma mudança na forma de cobrança do ICMS numa das principais fontes de arrecadação não é debate bem-vindo para os Estados em momento algum.
Colocando à parte a discussão sobre a metodologia de reajuste de preços de combustíveis, é verdade, sim, que os tributos interferem nos preços de forma mais gravosa do que poderiam. E com alíquota geralmente mais salgada para combustíveis, o imposto estadual tende a ter peso importante no seu preço.
É infrutífero, porém, propor mudança no ICMS toda vez que o combustível aumentar e gerar pressão no bolso do consumidor ou no custo do frete do
caminhoneiro. A solução está
indicada na nota dos secretários de Fazenda. Somente uma reforma tributária pode mudar esse cenário. Cientes da corrosão da base de cálculo do ICMS, seu principal tributo, os Estados convergem para a adoção de uma cobrança no modelo de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que reúna os federais PIS, Cofins e IPI ao ISS municipal e ao ICMS estadual. Essa é a oportunidade que
os Estados vislumbram para
conseguir alcançar ao menos parte de serviços que sofreram impacto da tecnologia, como os de comunicação. Em razão da pandemia, a reforma
tributária ficou à espera de
seguimento este ano. Até onde o debate andou, os municípios ainda resistem a uma proposta que
contemple a arrecadação dos
governos regionais e os Estados querem um fundo de compensação que não cabe no espaço fiscal existente. Trata-se de uma discussão difícil e ainda não se sabe se ela será
enfrentada. Mas, se não for,
discussões sobre ICMS tendem a perdurar indefinidamente.
Marta Watanabe é repórter. Hoje,
excepcionalmente, deixamos de
publicar a coluna de Pedro Cafardo E-mail:
marta.watanabe@valor.com.br
06
Bolsonaro insiste que Estados
alterem o ICMS
Equipe econômica não
encontrou fonte alternativa de recursos para zerar PIS/Cofins, como deseja o presidente
Por Matheus Schuch, Edna Simão e Estevão Taiar — De Brasília e de São Paulo
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que não considera justo que os
Estados ampliem receitas em
impostos sempre que houver aumento no preço dos combustíveis. Em
entrevista à TV Bandeirantes,
Bolsonaro voltou a defender que o ICMS tenha valor fixo, assim como o PIS/Cofins, ou que o tributo estadual seja cobrado com base no preço da refinaria, e não nas bombas.
“Nós temos uma emenda
constitucional de 2001 que precisa ser regulamentada no artigo 155, que trata da cobrança da ICMS pelos Estados”, argumentou. “Queremos que o Confaz [conselho que reúne secretários estaduais de Fazenda] decida como será cobrado o ICMS, valor fixo sobre o litro ou percentual nas refinarias.”
Para o presidente, há hoje uma “bitributação”, porque o ICMS é cobrado em cima de um valor médio nos postos e naquele montante já estão embutidos impostos federais. Sem detalhar o raciocínio, Bolsonaro afirmou que a mudança que defende na cobrança de ICMS não significaria perda de arrecadação para os Estados. O presidente também negou que
esteja jogando a responsabilidade sobre aumento nos preços aos governadores.
O presidente disse ainda que há previsão de um reajuste de US$ 10 no preço do barril de petróleo no exterior
nas próximas semanas e isso
impactará novamente nos preços no Brasil. Além da alta do dólar, do petróleo e dos impostos, o presidente atribuiu os problemas vividos hoje pelos caminhoneiros ao excesso de veículos de carga em circulação. A equipe econômica ainda não encontrou uma fonte de recursos para fazer frente ao desejo do presidente
de zerar o PIS/Cofins dos
combustíveis como uma forma de conter o aumento do produto no mercado interno. Ontem Bolsonaro se reuniu com a equipe econômica para discutir preço dos combustíveis, mas não houve uma decisão sobre o assunto. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), redução de impostos deve ser compensada com aumento de tributo ou a criação de outro. Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que estava examinando como desonerar o PIS/Cofins (de R$ 0,35 por litro), mas destacou que poderia ser reduzido tudo de uma vez. Guedes disse ainda que, por um lado, ele gostaria de zerar o PIS/Cofins, mas ressaltou que “cada centavo” são R$ 575 milhões.
07 Na ocasião, Bolsonaro disse que o governo também buscará a aprovação de um projeto de lei complementar que altere o mecanismos de definição das alíquotas de ICMS pelos Estados,
de modo a garantir maior
previsibilidade de custos dos
combustíveis.
https://valor.globo.com/brasil/coluna/d ebate-de-icms-que-nao-vale-ver-de-novo.ghtml
Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 09 de
fevereiro de 2021.
Compra de terra por
estrangeiros deve “empacar”
no Congresso
Até integrantes da bancar
ruralista, antes favoráveis,
acreditam que tema não tem mais apelo para ser aprovado agora
Por Cristiano Zaia e Rafael Walendorff — De Brasília
Rodrigo Pacheco, relator do projeto e agora presidente do Senado: não há ambiente para aprovação na Câmara — Foto: Ailton de Freitas/Valor
Bandeira histórica do setor de agronegócios e muito defendida por multinacionais e bancos nos últimos anos, o projeto de lei que permite a compra de terras por estrangeiros tende a empacar novamente no Congresso, dessa vez contaminado
08
pela forte pressão contrária do presidente Jair Bolsonaro. Para não se indispor com o Planalto, ruralistas já não tratam mais o tema com a prioridade que teve no passado. Após ser aprovada pelo Senado com certa facilidade no fim do ano passado, o PL 2.693/2019, de autoria do senador Irajá (PSD-TO) - tendo como relator o agora presidente da casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) -, já enfrenta resistências mais duras até mesmo de parte da bancada ruralista, aliada de primeira hora do governo, e deve ser deixada de lado, com nova dificuldade de passar na Câmara.
Antes, a onda contrária se
concentrava mais em militares,
ambientalistas e partidos de
esquerda.
Conhecido crítico da permissão para aquisição de terras por estrangeiros, o presidente Bolsonaro afirmou em uma live, na véspera do Natal, que vetaria o projeto, caso fosse aprovado. Quando ainda deputado federal e pré-candidato à Presidência, no fim de 2017, ele criticou o PL na antiga sede da própria bancada ruralista, em Brasília. “Se a Câmara aprovar, tem um veto meu. Falta patriotismo aqui. Não podemos permitir que o Brasil seja comprado”, disse, na live. E se ôpos novamente ao projeto um mês depois, em viagem a Coribe (Bahia). Nesse contexto e com um aliado de Bolsonaro agora na presidência da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), ruralistas já avaliam que o PL não tem clima para aprovação neste ano. E admitem que “o jogo também virou” entre muitos produtores rurais que, agora temem a “invasão” de
investidores estrangeiros no Brasil como chineses, e por uma escalada nos preços das terras.
Entidades importantes da
agropecuária, como a Aprosoja Brasil (produtores de soja) e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), já vêm se manifestando publicamente contra a mudança nas regras.
Ex-ministro da Agricultura, o
deputado Neri Geller (PP-MT), que
também é diretor da Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA), disse ao Valor que em seu Estado, líder na produção brasileira de grãos, “90% dos produtores estão contra” e têm receio de que com o dólar acima de R$ 5 os chineses comprem o “filé das terras” à disposição no país. “Num primeiro momento vamos ser contra o PL do Senado”, disse. “Tenho até uma visão que precisamos captar
recursos internacionais, atrair
investimento estrangeiro em logística e infraestrutura. Não sou totalmente contra, mas hoje não há ambiente politico para votar isso e na Câmara acho que não passa.”
O novo presidente da Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA), Sérgio Souza (MDB-PR), admitiu que o tema não está maduro o suficiente. E o vice-líder do governo na Câmara, Evair de Melo (PP-ES), defendeu que
a proposta ainda precisa ser
aprimorada. “Acho burrice nossa gastar energia em um projeto que o próprio presidente disse que vetará”, afirmou o deputado federal Jerônimo
Goergen (PP-RS), ligado ao
agronegócio, em um evento do Insper sobre o tema.
09 Considerada por seu autor, o senador Irajá, como mais “conservadora” e com várias travas que corrigem ou
amenizam críticas contidas em
projetos anteriores tidos como mais liberais, a proposta de lei chegou até a ganhar um novo slogan em 2019 e passou a ser chamada de “terras para mais empregos e mais alimentos”. Ele permite que empresas brasileiras com participação de capital estrangeiro possam comprar ou arrendar imóveis rurais no Brasil, direito garantido a pessoas físicas de fora do Brasil desde 1971.
O projeto também traz uma série de restrições, como a venda de terras nas fronteiras e na região amazônica. Mantém a limitação de área, já prevista em lei hoje, em 25% do território do município e sem exceder 10% para pessoas, físicas ou jurídicas, de uma mesma nacionalidade. E veda totalmente a participação de ONGs, fundos soberanos e fundações.
Ciente das resistências que o projeto passou a enfrentar, Irajá disse
ao Valor que já começou um
processo de convencimento, tanto entre deputados quanto dentro do governo, e defende que o PL possui
regras claras que estimulam
investimento produtivo no Brasil. “Depois de aprovado no Congresso acredito que a necessidade urgente de um novo ambiente de negócios como este proposto no projeto será determinante no posicionamento do presidente para sancionar o projeto”, disse.
Especialistas de mercado e outros setores da economia defendem uma
lei que facilite investimento
estrangeiro em terras brasileiras.
André Pessôa, sócio-diretor da
Agroconsult e membro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp, diz que a origem da restrição é
“totalmente ideológica”, com o
parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) de 2010, e que a proposta em análise ainda é pouco liberal, já que mantém uma série de restrições. “A
soberania não está ameaçada.
Deveríamos primar pelas leis de mercado e livre funcionamento, com menos cartório, menos papel e menos Brasília. É o projeto possível, mas ainda é tímido”, indicou no evento do Insper.
As principais tradings em atuação no Brasil querem a solução do caso e
alegam insegurança jurídica
“desnecessária e injustificável” para a realização de investimentos no campo brasileiro, como atesta André Nassar, presidente-executivo da Associação das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
Marcelo Schmid, sócio-diretor do Grupo Index, importante consultoria do setor florestal, diz que cerca de R$ 40 bilhões deixaram de ser investidos no país desde 2010. “Conhecemos uma série de grupos estrangeiros que não vêm para o Brasil por causa da restrição da lei”, afirmou. Não só as
indústrias de celulose seriam
beneficiadas com as mudanças, conta, mas o agronegócio como um todo, impulsionando outros investimentos nas regiões produtoras.
10 Segundo o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária
(Incra), o Brasil possui mais de 350 milhões de hectares em imóveis rurais e apenas 4 milhões (1%) estão em posse de estrangeiros. https://valor.globo.com/brasil/noticia/2 021/02/09/compra-de-terra-por- estrangeiros-deve-empacar-no-congresso.ghtml Retorne ao índice
Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 09 de
fevereiro de 2021.
SP lança pacote de R$ 100
milhões em crédito para
socorro às empresas
Estudo inédito na cidade de Serrana vai avaliar impacto da vacinação em massa na redução da transmissão do coronavírus Por Leila Souza Lima — De São Paulo
O governo do Estado de São Paulo anunciou ontem a liberação adicional R$ 100 milhões em crédito para socorrer empresas com receitas afetadas pela pandemia. A linha emergencial já está disponível pelo banco da DesenvolveSP - agência de desenvolvimento do Estado. Micro e
pequenas empresas serão
beneficiadas, disse o governador João Doria.
Os pedidos de empréstimo devem ser
feitas exclusivamente por meio
digital, no site da instituição, detalhou Patrícia Ellen, secretária de
Desenvolvimento Econômico.
Segundo ela, o dinheiro é voltado a empresas com faturamento anual entre R$ 81 mil e R$ 4,8 milhões. Na semana passada, o governo estadual já havia anunciado um pacote no total de R$ 125 milhões
11
para socorrer atividades econômicas, com foco nos segmentos de turismo, eventos, gastronomia e comércio. Além do socorro financeiro, os donos de estabelecimentos comerciais não vão sofrer cortes de gás e água até o fim de março e poderão renegociar dívidas.
“Com o retorno do controle da pandemia, as empresas precisam novamente acelerar a retomada dos seus negócios, e o capital de giro para manter os empregos neste momento é fundamental”, disse ontem Patrícia Ellen.
Para facilitar o acesso ao novo crédito, a DesenvolveSP vai permitir que o empreendedor escolha entre o faturamento de 2019 ou de 2020 na negociação. A captação para capital de giro tem taxa mensal de 0,8%, mais a Selic do Banco Central. O prazo máximo de carência foi estendido para 12 meses, com 60 parcelas mensais para quitação. Doria anunciou projeto que vai imunizar 30 mil pessoas, a partir de 17 de fevereiro, no município de Serrana, interior do Estado. O objetivo é seguir com os estudos de eficácia da Coronavac e verificar também a eficiência da fórmula, que é o desempenho da imunização em massa na evolução da pandemia. O programa vai alcançar moradores da cidade com idade acima de 18
anos, que receberão a vacina
desenvolvida pelo Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. “Qual o efeito da vacinação em massa sobre o curso da epidemia? Todo mundo quer saber isso”,
afirmou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan. “O estudo vai responder isso muito rapidamente. Não vamos ter que esperar o ano que vem para termos essa resposta”, acrescentou Covas.
Segundo ele, é a primeira pesquisa desse tipo no mundo e recebeu o nome de “Estudo Escalonado por Conglomerados”.
Covas afirmou ainda que a vacinação na cidade vai avaliar a transmissão, o uso do sistema de saúde, a imunidade de rebanho e os efeitos indiretos, como os de impacto na economia, circulação de pessoas e aceitação da vacinação. O município foi escolhido
por apresentar alto índice de
prevalência de infecções, entre outros fatores.
A reabertura das escolas ontem também foi tema na coletiva. Segundo
Doria, a retomada das aulas
presenciais nas redes pública e privada de ensino ocorreu de forma gradual e segura. “Sem ser afetada pela paralisação anunciada pelo sindicato dos professores”, disse. As aulas presenciais tiveram início para 3 milhões dos 3,3 milhões autorizados a voltar, em sistema de rodízio. O esquema vale para em 4,5 mil das 5,3 mil escolas da rede estadual. Na rede estadual, a presença é limitada a até 35% dos alunos matriculados. https://valor.globo.com/brasil/noticia/2 021/02/09/sp-lanca-pacote-de-r-100- milhoes-em-credito-para-socorro-as-empresas.ghtml Retorne ao índice 12
Valor Econômico
Caderno: Brasil, terça-feira 09 de
fevereiro de 2021.
União cobre R$ 336,7 mi em
garantia de dívidas
Minas Gerais e Rio de Janeiro são os principais devedores que não honraram os compromissos em janeiro
Por Lu Aiko Otta — De Brasília
A União pagou R$ 336,70 milhões em dívidas de Estados e municípios em que atua como garantidora em janeiro, informou ontem o Ministério da Economia.
Desses, R$ 150,65 milhões (44,7% do total) são dívidas não pagas por Minas Gerais, R$ 79,25 milhões (23,5%) são do Estado do Rio de Janeiro, R$ 78,79 milhões (23,4%) são de Goiás, R$ 16,34 milhões são do Amapá e R$ 11,68 milhões, do Rio Grande do Norte.
Com isso, o total desembolsado pelo governo federal por parcelas não honradas das dívidas de entes subnacionais chegou a R$ 33,3 bilhões, no período que vai de 2016 até janeiro passado.
Os dados estão no Relatório de Garantias Honradas pela União em Operações de Crédito, produzido mensalmente pelo Tesouro Nacional.
13
O ministério informa ainda que alguns Estados e municípios estão temporariamente impossibilitados de contratar novas operações de crédito com garantia da União. Isso ocorre porque eles atrasaram o pagamento de suas obrigações junto ao Tesouro. Outro possível motivo é a União ter honrado parcelas não pagas de empréstimos desses tomadores. São eles: Amapá, Rio Grande do Norte, Bahia, Roraima, Goiás, Tocantins, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, e as prefeituras de Belford Roxo (RJ), Cachoeirinha (RS), Natal, Novo Hamburgo (RS) e São Bernardo do Campo (SP).
O Estado do Rio de Janeiro, apesar de se enquadrar nos casos mencionados
acima, poderá contratar novas
operações de crédito com garantia da União, por estar no Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
https://valor.globo.com/impresso/20210 209/
Valor Econômico
Caderno: Politica, terça-feira 09 de
fevereiro de 2021.
Câmara pauta regras para o
mercado de câmbio
Mudanças no Código de Defesa do Consumidor também podem ser votadas
Por Gabriel Vasconcelos — Do Rio
A Câmara dos Deputados pautou para votação esta semana apenas dois projetos de lei com relevância econômica, um que regulamenta o mercado de câmbio e o fluxo de capitais no país e fora dele e outro que altera o Código de Defesa do Consumidor. Ambos têm chance média de aprovação nos próximos 180 dias, segundo as projeções do Centro de Estudos Legislativos e Análise Política do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap/Ello) para o Valor Política.
O PL 5387/2019, relativo ao mercado de câmbio brasileiro e ao fluxo de capitais nacionais e estrangeiros no país e fora dele é de autoria do governo federal. O texto substitutivo foi aprovado pela Câmara em 22 de dezembro e, no momento, aguarda votação dos destaques para seguir ao Senado.
Em linhas gerais, o texto estabelece que as operações no mercado de
câmbio podem ser realizadas
livremente, sem limitação de valor,
14 mas observada a legislação, pela qual o câmbio é livremente pactuado entre as instituições financeiras autorizadas a operar neste mercado e na relação com seus clientes.
O outro projeto a ser apreciado esta semana, o PL 3515/2015, altera o Código de Defesa do Consumidor com
o objetivo de prevenir o
superendividamento. O texto proíbe, ao fornecedor do crédito, descontar diretamente da remuneração do
consumidor, por financiamentos,
crédito consignado ou outras
modalidades, valor superior a 30% da sua remuneração total líquida.
Apresentado em agosto de 2012, a proposta resulta da conclusão dos trabalhos da comissão de juristas do Senado e foi aprovada no plenário da
Casa em outubro de 2015.
Encaminhado à Câmara dos
Deputados, o projeto foi alterado em comissões e agora aguarda votação em plenário. Se aprovado, retorna ao Senado para ser ratificado.
A probabilidade de aprovação dos projetos é calculada pelo Cebrap/Ello com base num modelo estatístico sobre o histórico de votações desde 1988. O Decisão Legislativa é um serviço exclusivo, desenvolvido em parceria com o Cebrap/Ello, para acompanhar o processo decisório no Congresso Nacional sobre temas relevantes para a economia.
https://valor.globo.com/politica/noticia/ 2021/02/09/camara-pauta-regras-para-o-mercado-de-cambio.ghtml
Valor Econômico
Caderno: Opinião, terça-feira 09 de
fevereiro de 2021.
A maior lição da GameStop
Especulação, não importa o quanto seja compartilhada, não é democraciaPor Rana Foroohar
Muita coisa tem sido escrita sobre a possibilidade de o fiasco dos negócios com as ações da GameStop ter sido resultado de movimentações ilegais de grupos de pequenos investidores
mal-intencionados, ou pequenos
investidores corretos investindo
contra um sistema financeiro
manipulado. A decisão da Robinhood de proibir seus clientes de varejo de adquirir a ação enquanto fundos hedge continuavam negociando em
todo canto, transformou o
acontecimento em uma história do tipo Davi contra Golias.
15
Mas essa história é baseada numa ideia falsa, que é a de que os mercados foram “democratizados” e que as pessoas que negociam a partir de seus telefones de alguma forma representam um capitalismo mais inclusivo.
A principal lição é que uma economia em que as fortunas individuais são tão intimamente ligadas à saúde do mercado de ações, em vez do crescimento da renda, é frágil. Especulação, não
importa o quanto seja
compartilhada, não é
democracia
Elas não representam. Mercados e democracia não são a mesma coisa, embora a maioria dos políticos - democratas e republicanos - venha agindo, desde a década de 80, como se fossem. Esse período foi marcado pela desregulação do mercado, maior intervenção do banco central para suavizar o ciclo de negócios via política monetária após o fim do sistema cambial de Bretton Woods, e
ascensão do capitalismo dos
acionistas. Isso combinou com o início da transformação da economia americana de um sistema em que a prosperidade era baseada no emprego seguro e no crescimento da renda, para outro em que empresas e muitos
consumidores passaram a se
concentrar, cada vez mais, nos preços sempre em alta dos ativos como a medida mais importante da saúde econômica.
No momento, o estímulo fiscal de curto prazo visando amenizar os problemas econômicos causados pela covid-19 está distorcendo esse
quadro. Mas deixando isso de lado, a
economia dos Estados Unidos
encontra-se num ponto em que os ganhos de capital e as distribuições
das contas individuais de
aposentadoria representam uma
parcela tão grande dos gastos pessoais com consumo, que será difícil o crescimento prosseguir se houver uma grande correção nos preços dos ativos.
Este é um dos motivos de a GameStop ter afligido tanto as pessoas. Ele lembra os americanos do quanto somos dependentes dos mercados, que podem ser muito, muito, voláteis. A mudança de curso de 40 anos a que o presidente George W. Bush
referiu-se como uma “sociedade
proprietária”, aconteceu num
momento em que a natureza da corporação e o pacto entre as empresas e a sociedade também estava mudando. É claro que os dois fenômenos estão relacionados.
A transformação dos mercados
colocou mais pressão de curto prazo sobre as empresas, que cortaram os custos via terceirização, automação, uso de menos mão de obra sindicalizada e trocando os planos de pensão de benefícios definidos pelos
planos 401k, que deposita a
responsabilidade pela escolha dos
investimentos e os riscos de
resultados ruins individualmente
sobre os trabalhadores. Em 1989, 31% das famílias americanas tinham ações. Hoje, esse número é de quase 50%. Agora, ao que parece, somos todos “day traders”. Meu filho de 14 anos recentemente me disse que eu deveria “comprar na baixa”, o que nada fez para afastar meus temores
16 de que podemos estar em meio a uma bolha épica.
A GameStop é o reflexo perfeito de tudo isso. O esforço em última análise mal-sucedido de apertar os “short-sellers” (vendedores a descoberto) forçando uma alta no preço da ação demonstra os riscos dos mercados. Ao mesmo tempo, a própria companhia ilustra como a natureza do emprego mudou.
Em um estudo de 2015 da Brookings Institution, o sociólogo e professor de administração da Universidade de Michigan, Jerry Davis, monitorou o crescimento do nível de emprego, ligado a todas as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) realizadas entre 2000 e 2014, e constatou que o maior criador individual de novos
empregos orgânicos foi,
surpreendentemente, a GameStop. A então rede de lojas em crescimento acelerado tinha um exército de entusiastas por videogames que
trabalhavam meio período e
geralmente ganhavam menos de US$ 8 por hora. Eles eram “a nova face da criação de empregos na América”, escreveu Davis, cujo livro de 2009 é uma história maravilhosa sobre a ascensão da sociedade “proprietária”. Entrei em contato com Davis, que hoje está na Universidade Stanford trabalhando em um novo livro sobre a natureza mutante das corporações, para saber o que ele pensa sobre a GameStop e a controvérsia que a cerca. Ele resume o cenário geral tão bem quanto qualquer um: “Resgatar de vendedores a descoberto um empregador que paga salários tão baixos, bombando o preço das suas ações, não é exatamente algo parecido com invadir a Bastilha”, E mais,
acrescenta ele: “O acesso fácil da Robinhood aos negócios com ações não democratiza o mercado acionário mais do que a Purdue Pharma democratizou o vício em opiáceos. A democracia diz respeito à voz, e não a negócios”.
Espero que os políticos e as autoridades reguladoras tenham em mente essa verdade fundamental durante as próximas audiências sobre a GameStop e a Robinhood. Acredito plenamente que a secretária de Estado, Janet Yellen terá, com base em sua promessa recente de enfrentar a desigualdade de longo prazo.
Embora os aplicativos e as redes sociais tenham levado mais gente a negociar ações, isso não tornou mais forte o nosso capitalismo orientado para o mercado. Nossa economia é
muito baseada nos gastos do
consumidor e esse consumo se apoia na inflação dos preços dos ativos, que agora pode ser produzida por adolescentes em seus quartos. Se as
tendências de emprego atuais
continuarem, muitos desses
adolescentes acabarão trabalhando em empregos informais sem uma rede de segurança para apanhá-los quando suas carteiras colapsarem.
Isso não é sustentável nem
encorajador da democracia liberal. É por isso que aplaudo a promessa de Joe Biden de transformar a economia dos EUA de uma que prioriza a “riqueza” para uma que recompense o trabalho.
Os detalhes do fiasco da GameStop deveriam ser analisados e os vilões punidos. Mas não podemos nos esquecer da principal lição: uma economia em que as fortunas
17 individuais são tão intimamente ligadas à saúde do mercado de ações, em vez do crescimento da renda, é frágil. Especulação, não importa o quanto seja compartilhada, não é democracia. (Tradução de Mario Zamarian).
Rana Foroohar é colunista e editora do Financial Times em Nova York
https://valor.globo.com/opiniao/coluna/ a-maior-licao-da-gamestop.ghtml
Valor Econômico
Caderno: Especial, terça-feira 09 de
fevereiro de 2021.
Precificação efetiva do carbono
é cada vez mais urgente
Para se planejarem, empresas e investidores têm de saber qual será o custo real das emissões de carbono e como esse valor será cobrado. E nada disso está claro ainda. O preço do carbono, porém, terá de subir para estimular a redução de emissões Por Vanessa Houlder e Alan Livsey — Financial Times, de Londres
Emissões de usina movida a linhito, na Alemanha. Impacto financeiro para descarbonizar será desigual entre setores — Foto: Krisztian Bocsi/Bloomberg
As mudanças climáticas, com suas temperaturas malucas, a devastação de colheitas e a migração forçada, vêm impondo custos cada vez maiores. Com grande atraso,
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governos, empresas e investidores tentam descobrir como impor um custo monetário proporcional sobre os responsáveis.
Mais do que nunca, isso torna a tarefa de aferir um preço às emissões de carbono uma das questões financeiras mais importantes que o mundo precisa solucionar. O valor é essencial
pois cria incentivos para a
descarbonização, ao agregar os custos gerados pela emissão de gases de efeito estufa ao preço de mercadorias e serviços.
O nível previsto para os preços do carbono está subindo. A gigante BP trabalha com um preço do carbono de US$ 100 por tonelada de CO2 em 2030. Calcula que é o patamar necessário para que ocorra uma queda rápida e prolongada nas emissões de carbono. Os bancos centrais agora estão dizendo para outras empresas fazerem o mesmo tipo de análise. O Banco da Inglaterra (o BC britânico) avaliará em junho como bancos e seguradoras se sairiam
nesse quesito. Outras agências
reguladoras na Ásia e Europa planejam testes de estresse diante dos custos climáticos.
Cerca de 20% das emissões mundiais estão hoje cobertas por impostos sobre o carbono
O valor de US$ 100 seria mais do que o quádruplo do valor médio usado internamente por empresas que usam o preço do carbono para gerenciar riscos e reduzir as emissões, segundo a organização sem fins lucrativos CDP. É ainda dez vezes maior do que a média global em 2019 das
iniciativas governamentais de
definição de preço.
A possibilidade de que os preços do carbono cheguem a US$ 100 em 2030 está longe de ser irreal. Em janeiro, o Banco da Inglaterra citou o preço como plausível se os esforços para
limitar o aumento médio da
temperatura a 2°C acima dos níveis pré-industriais prosseguissem sem solavancos. O preço pode até subir mais, se a transição for repentina, diz o BC britânico.
Um preço de US$ 100 energizaria os investimentos em tecnologias de
baixa emissão, mas também
desestabilizaria empresas que não consigam se adaptar ou garantir apoio governamental. Cerca de US$ 2,1 trilhões do valor de mercado das mil maiores empresas de capital aberto no mundo, ou 3,7% do total, podem sumir do mapa, segundo cálculo feito pela consultoria Planetrics, da Vivid Economics, para a coluna Lex, do “Financial Times”.
19 As cem empresas menos resistentes perderiam pouco menos da metade de seu valor de mercado. As 100 de
melhor desempenho teriam
valorização de 28%.
Em vista do que está em jogo, dependendo do preço do carbono que se usa e de como ele é usado, há uma série de dúvidas que precisam ser resolvidas. Qual é a melhor maneira de se chegar a uma boa estimativa para o preço do carbono? Como os
governos devem proceder para
implementar um preço? Qual será o impacto na competitividade? E que empresas e setores deverão ser as mais afetadas?
O impacto do preço do carbono dependerá de até onde elas conseguirão repassar custos aos clientes
Como os preços são
definidos? As autoridades
econômicas têm duas maneiras de pensar o preço. A primeira considera o preço do carbono necessário para induzir mudanças de comportamento - particularmente as que balizam
investimentos em tecnologia -
suficientes para o cumprimento das promessas feitas no Acordo de Paris, de 2015, sobre o clima, isto é, manter o aumento da temperatura média mundial bem abaixo de 2°C. Uma comissão financiada pelo Banco Mundial em 2017, sob a presidência dos economistas Joseph Stiglitz e Nicholas Stern, filtrou evidências de vários modelos e concluiu que, para atingir a meta, o preço do carbono precisaria chegar a US$ 100 por tonelada em 2030.
Tais abordagens são incertas por natureza. Nem os mais otimistas previam uma queda de mais de 30% no custo da energia eólica em 2019, para um nível em que ela dificilmente precisará de subsídios. A abordagem
alternativa, estimar um valor
monetário aos danos ambientais futuros, não é menos sensível às suposições usadas.
Isso ficou evidenciado quando o governo de Donald Trump revisou para baixo o custo estimado para a sociedade da emissão de dióxido de carbono no ar. A mudança foi usada para justificar a rejeição às restrições impostas ao setor energético na era Obama. Uma diferença é que o governo Trump apenas considerou os danos climáticos domésticos. Isso resultou num custo social do carbono sete vezes menor do que a estimativa
anterior, baseada no impacto
mundial.
Se todos os países adotassem o critério mais estreito, só um décimo do custo dos danos climáticos futuros estaria refletido nos preços do carbono, segundo Kate Ricke, da Universidade da Califórnia (San
Diego) e colegas. Os grandes
emissores não são necessariamente os
mais vulneráveis a mudanças
climáticas, com alguns países frios, por exemplo, ganhando o benefício de temperaturas mais quentes.
Também é importante a taxa de desconto usada para converter os custos futuros dos danos climáticos em valor presente.
As projeções de taxas de juros de
longo prazo caíram, o que
provavelmente levará o governo do presidente Joe Biden a usar uma taxa
20 mais baixa, dando um peso maior aos custos futuros em valores de hoje. Essa questão será examinada por um grupo de trabalho reestabelecido por um dos primeiros decretos do presidente. Mudar de uma taxa de desconto de 3% para uma de 2% elevaria o “custo social do carbono” (valor líquido presente do impacto de emitir uma tonelada adicional de carbono) de US$ 53 para US$ 125 em 2021, diz Richard Newell, presidente
do Resources for the Future,
especializado em economia
ambiental.
O número resultante será usado pelo governo Biden para definir as diretrizes sobre o uso de combustíveis e a regulamentação das usinas de energia, exemplos de precificação do carbono em seu sentido mais amplo. Também será relevante para um esquema de tributação ou de
comercialização de licenças de
emissões de gases, caso um seja
adotado, ainda que a taxa
provavelmente será muito menor. Ganhar a aprovação do Congresso dos EUA para um esquema tributário ou de compra e venda de licenças de carbono será um desafio, embora
algumas empresas estejam
começando a aceitar ideia. A Business Roundtable, entidade que representa mais de 200 grandes empresas americanas, jogou seu poder de
influência nessa sugestão em
setembro. A Câmara de Comércio americana anunciou uma mudança similar em janeiro.
Implementando o preço do carbono. Cerca de 20% das emissões mundiais estão hoje cobertas por impostos sobre o carbono ou por
esquemas de compra e venda de licenças de emissão de carbono.
Um esquema nacional de
comercialização de licenças de
emissões para o setor de energia da China, a ser lançado neste ano, será o maior do mundo. Superará o da União Europeia (UE), embora esta use um preço muito maior para o carbono, que está sendo ampliado para incluir o setor marítimo.
As empresas muitas vezes preferem esquemas de compra e venda aos de
impostos. Argumentam que as
licenças representam direitos de propriedade definidos legalmente, o que dá uma base sólida para decisões de investimentos.
Mas os políticos frequentemente cedem a pressões para emitir licenças em excesso, reduzindo o impacto desses esquemas. Os mais críticos também não gostam da complexidade administrativa e da incerteza sobre preços. Os preços do carbono no esquema da UE colapsaram após a crise financeira, embora tenham se recuperado e atingido o recorde de € 38 por tonelada na semana passada. De forma correspondente, os tributos impõem diretamente um preço sobre o carbono, mas não garantem o nível de emissões resultante. A principal
desvantagem desses impostos,
normalmente aplicados sobre os setores de energia e transportes, é que os políticos, sujeitos a grandes pressões, algumas vezes cedem. Isso
dificulta o planejamento das
empresas. A reversão em 2014 do imposto de carbono da Austrália, após uma campanha eleitoral marcada por promessas de redução tributária, é um exemplo. Mais recentemente, na
21 França, os protestos dos “gilets jaunes” (coletes amarelos) forçaram o governo de Emmanuel Macron a cancelar planos de subir os impostos sobre os combustíveis. O aumento fora anunciado como uma política ambiental, mas foi vista como uma
forma de abocanhar mais
arrecadação.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que as contas de eletricidade domésticas subiriam em média 43% ao longo dos próximos dez anos se o carbono fosse tributado
apropriadamente. Os aumentos
seriam maiores nos países mais dependentes do carvão. Isso poderia gerar reações contrárias em alguns países.
Uma forma de reduzir a oposição seria reciclar a arrecadação com impostos sobre o carbono ou a venda das licenças de emissões na forma de benefícios ou cortes tributários. Esse conceito de “dividendos de carbono” tem atraído apoio dos dois maiores partidos nos EUA, inclusive da secretária do Tesouro, Janet Yellen.
Mas, até agora, os governos
canalizaram a maior parte dos fundos que arrecadaram com esquemas de impostos ou de compra e venda de licenças para o orçamento público ou em projetos ambientais. Em 2019, pouco mais de 10% dos US$ 45 bilhões arrecadados com impostos e
esquemas de licenças foram
direcionados a cortes tributários ou transferências diretas, segundo o Banco Mundial.
O impacto sobre a competitividade. O impacto do alto
preço do carbono sobre a
competitividade das empresas é um
grande obstáculo. Empresas
intensivas em emissão de carbono, como siderúrgicas, poderiam ficar em desvantagem se suas tarifas locais de carbono forem maiores que as dos concorrentes estrangeiros.
A ArcelorMittal pretende cortar suas emissões na Europa em 30% até 2030, sobre os níveis de 2018. Mesmo assim, seus custos europeus com o carbono poderão chegar perto de US$ 6 bilhões, ou mais do que o seu lucro
antes dos juros, impostos,
depreciação e amortização (Ebitda) global de 2019, se ela for submetida ao preço do carbono a US$ 100. Se concorrentes estrangeiros ficarem isentos, o preço será um subsídio às
exportações, encorajando a
transferência de produção para outros países.
A UE defende a ideia de uma tributação fronteiriça do carbono ou outro mecanismo de “ajuste de fronteira” do carbono para criar “igualdades de condições ecológicas” enquanto aumenta o preço interno do
carbono. “É uma questão de
sobrevivência do nosso setor
industrial”, disse em janeiro Frans
Timmermans, encarregado da
Comissão Europeia para as questões climáticas. A UE espera definir uma posição comum com Biden, que já disse que vai impor tarifas de carbono ou cotas sobre produtos de países que não cumprirem com suas obrigações climáticas.
Alguns membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) já manifestaram suspeitas de que a UE
22 tem motivos protecionistas. Bloquear as exportações de setores intensivos
em carbono de países em
desenvolvimento é algo que poderá desencadear protestos, uma vez que eles estão sujeitos a contenções menos rígidas nas emissões, sob o Acordo de Paris.
Até mesmo um imposto de fronteira bem menor que o europeu seria algo polêmico. Se, por exemplo, o carbono embutido nas exportações da China para a UE for precificado em US$ 35 a tonelada, isso implicaria numa tarifa de cerca de 3%, segundo cálculo da coluna Lex, usando dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Isso, a grosso modo, dobraria tarifas médias sobre bens não industriais. Desequilíbrios
setoriais. Descarbonizar as
economias pode trazer benefícios igualitários, mas o impacto financeiro não será distribuído igualmente.
Alguns setores, como os que
dependem muito de energia, arcarão com custos maiores do que outros. Na Europa, as empresas vêm informando sobre suas emissões de dióxido de carbono há algum tempo. Em algum momento, serão forçadas a reconhecer o custo das emissões, que poderão ser grandes para setores responsáveis por mais emissões, como aço, serviços públicos (água, eletricidade e transportes), cimento e energia.
Com base nas emissões informadas, pode-se fazer uma estimativa decente do custo do carbono para empresas específicas. Isso permite o cálculo da potencial despesa (passivo) das emissões para os setores. Levando-se
em conta as emissões das 29 maiores companhias europeias de setores relevantes, tem-se uma indicação do que está por vir. Suas emissões diretas e indiretas totalizaram 965 megatoneladas (mt) em 2019. A US$ 100 a tonelada, isso equivale a US$ 96 bilhões, ou 45% do Ebitda de 2019. Nesses setores, siderúrgicas como ArcelorMittal e empresas de energia, como a RWE, da Alemanha, são as que têm mais a perder. Em termos de intensidade de CO2 por tonelada de produção, a Anglo American é uma das maiores entre os grupos de siderurgia e mineração, com 7,7 megatoneladas de CO2, segundo o
Deutsche Bank. Entre as
mineradoras, a Glencore possui a maior pegada de emissões diretas e indiretas, avaliada em um quarto do seu Ebitda de 2019.
Esses números dão uma ideia do que esperar - e parte disso os investidores
já precificaram. Outros setores
merecem ser considerados, como refino de petróleo, químico e papel. Eles usam muita energia e terão grandes obrigações com o carbono a US$ 100 a tonelada. Mas seus custos
diretos não deverão ser
proporcionalmente tão altos quanto os das siderúrgicas. As 19,4 mt de CO2 da BASF equivalem a um quinto do Ebitda da empresa.
Vencedores e perdedores. Na
prática, o impacto do preço do carbono sobre as avaliações das empresas dependerá de até onde elas conseguirão repassar custos extras aos clientes. Por exemplo, a S&P Global Trucost estima que o custo das emissões de carbono do setor de serviços públicos será duas vezes os seus lucros, se o preço do carbono
23 subir para US$ 120 em 2030. Mas menos de 40% do valor do setor estaria ameaçado porque ele poderá aumentar os preços sem sofrer uma grande queda na demanda, segundo o instrumento que o próprio setor usa para avaliar o risco representado pelo preço do carbono.
Outro fator crucial é a disponibilidade de tecnologias de baixa geração de carbono. Em alguns setores, como
aviação e agricultura, essas
tecnologias ainda estão um pouco distantes, minimizando o impacto no preço do carbono. Em última análise, poderá haver a necessidade de depender de tecnologias de “emissões negativas”, que removem os gases do efeito estufa da atmosfera. Essas vão de projetos florestais baratos, mas controversos, a instalações que sugam o dióxido de carbono do ar. O custo desses planos poderá ficar abaixo de US$ 100 por tonelada.
De modo contrário, os setores de energia e transporte rodoviário deverão ser os mais reativos aos preços mais altos do carbono, uma vez que alternativas de baixas emissões já foram desenvolvidas. O aumento do custo do carbono torna mais fácil para essas tecnologias competirem em preço.
Haverá vencedores e perdedores dentro dos setores, segundo constata a análise da Planetrics. No setor de serviços públicos, por exemplo, algumas empresas que operam à base de carvão poderão perder até 90% de seu valor, enquanto aquelas que usam mais energias renováveis poderão mais que dobrar o seu valor.
No geral, o setor de energia seria o mais duramente atingido por um impacto negativo de quase 40%, segundo constatou a Planetrics. Ela adotou uma abordagem ascendente na análise do impacto das mudanças nos preços sobre as empresas individualmente. A linha de partida foi uma previsão “tudo na mesma”, que deverá levar a um aquecimento de mais de 3ºC.
Ela então inspirou-se em cenários de bancos centrais para considerar o impacto da alta dos preços do carbono para US$ 100 em 2030 e US$ 350 em 2050. A capacidade de cada empresa de repassar custos para clientes, tornar-se mais eficiente energeticamente e adotar tecnologias de baixas emissões foram levadas em consideração. O efeito sobre lucros foi descontado de volta para 2021, para se calcular o impacto sobre as avaliações.
Algumas regiões serão mais afetadas pelos preços maiores do carbono do que outras. As companhias analisadas pela Planetrics, baseadas no Canadá e na Austrália - ambos voltados para setores extrativistas - perderam em média 8% de seu valor. Por outro lado, aquelas baseadas nos EUA
perderam pouco mais de 1%,
refletindo o impacto relativamente modesto dos altos preços do carbono sobre as empresas de tecnologia. Cálculos desse tipo são baseados na
premissa de que os governos
cumprirão suas promessas. Muitas empresas e investidores desconfiam antecipadamente das decisões das autoridades. Contar com um grande aumento no preço do carbono não é algo isento de risco. Se políticos não agirem de acordo com sua retórica, os
24
investimentos poderão não
compensar. Bolhas especulativas são possíveis.
Mas a crise do clima não pode ser resolvida sem uma precificação efetiva do carbono. Se os governos demorarem, isso poderá resultar em preços maiores no futuro. Fazer empresas arcarem com o custo total de suas emissões é algo que terá um grande impacto sobre seu valor no longo prazo. Se as empresas e os investidores não computarem as
emissões em seus cálculos
financeiros, eles estarão voando às
cegas. (Tradução de Mario
Zamarian e Sabino Ahumada) Want to read more from the FT? Sign up for a free corporate trial
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at: www.ft.com/am730.
https://valor.globo.com/mundo/noticia/ 2021/02/09/precificacao-efetiva-do-carbono-e-cada-vez-mais-urgente.ghtml
Valor Econômico
Caderno: Empresas, terça-feira 09 de
fevereiro de 2021.
Para acelerar expansão,
Echoenergia entra no
segmento de comercialização
Nova operação da companhia tem a meta de comercializar 250 MW médios no primeiro ano Por Letícia Fucuchima — De São PauloEdgard Corrochano, CEO:
comercializadora integra estratégia de
crescimento — Foto: Silvia
Zamboni/Valor
25
Dona de um dos maiores portfólios de usinas eólicas do país, a Echoenergia vai estrear em comercialização de energia, segmento que vem atraindo cada vez mais agentes à medida que o ambiente de contratação livre (ACL) cresce e ganha complexidade.
A companhia, controlada pela gestora britânica Actis, enxerga na nova atividade uma forma de se aproximar de consumidores e da dinâmica do mercado livre de energia. Com mais acesso às operações de mercado, a geradora espera conseguir otimizar a venda de energia de suas usinas,
potencializando a estratégia de
crescimento do portfólio para os próximos anos. Ao todo, a companhia tem em seu “pipeline” cerca de 2
gigawatts (GW) em projetos,
principalmente da fonte eólica.
“Não podemos ficar sentados olhando o quanto de energia minhas usinas geram e vender isso para o cliente, essa era acabou. Agora, a conta é de trás para a frente: começa com quanto [de energia] o cliente precisa, quanto as usinas geram e o quanto falta. Aí entram várias formas de mitigar riscos e evoluir nos negócios, a comercialização é uma delas”, afirma Edgard Corrochano, CEO e
membro do conselho de
administração da Echoenergia.
A ideia da companhia é atuar com “trading” de energia - ou seja, fazendo operações com outros geradores e
comercializadores - e também
captando negócios entre sua geradora e consumidores do mercado livre.
Para o primeiro ano de vida, o novo braço da Echoenergia traçou a meta de comercializar 250 megawatts (MW) médios. “Se conseguirmos atingir esse volume e o mantivermos
constantemente, ele ajudaria a
viabilizar um parque gerador de 500 MW de potência”, explica Marco Sureck, que comandará as operações da comercializadora.
Recém-contratado, Sureck é
engenheiro elétrico e tem mais de 40 anos de experiência no mercado, com passagem por empresas como a Engie
e contribuições em debates
importantes, como o do novo modelo do setor, em 2004.
Segundo o diretor, a comercializadora deve começar a operar no mês de
março. Quando as atividades
estiverem consolidadas, a
Echoenergia pretende atender
também o “varejo” do setor elétrico,
comercializando energia a
consumidores de pequeno porte. “Temos perspectivas de mudanças
regulatórias que permitirão ao
consumidores residencial se tornar livre em 2024, 2025. Temos que nos preparar para esse cenário”, afirma Sureck.
Fundada em 2017, a Echoenergia tem hoje pouco mais de 1 gigawatt (GW) em usinas eólicas operacionais no Rio Grande do Norte sua principal base -, Pernambuco-, Ceará e Bahia. Parte
desses empreendimentos foram
adquiridos pela companhia e
herdaram contratos do mercado
regulado. Já nos projetos
desenvolvidos do zero, a geradora se concentrou nas negociações bilaterais do mercado livre, com grandes consumidores.
26 A companhia se prepara para entregar, no segundo semestre, o complexo eólico Serra do Mel II (RN), com 206 MW, que fornecerá energia para quatro consumidores livres. Em meados do ano passado, a geradora concluiu a fase I do “cluster” potiguar,
com 273 MW. Somados, os
empreendimentos receberam R$ 2,5 bilhões em investimentos.
O movimento da Echoenergia e outras
geradoras, que também
intensificaram a aposta no segmento de comercialização, ocorre em meio ao forte crescimento do mercado livre de energia. Em 2020, o ACL viveu nova onda migratória, com a adesão de 1.732 consumidores que antes
compravam energia das
distribuidoras. https://valor.globo.com/empresas/notici a/2021/02/09/para-acelerar-expansao- echoenergia-entra-no-segmento-de-comercializacao.ghtml Retorne ao índice