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Déficit habitacional é a principal preocupação da política urbana

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Academic year: 2021

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Déficit habitacional é a principal

preocupação da política urbana

O Estatuto da Cidade prevê a criação de planos pilotos para o

desenvolvimento de cidades e municípios. Para tornar o documento a principal fonte de manutenção do bem-estar público, o Confea pretende se empenhar ao máximo para disseminar o conteúdo da nova Lei.

Ainda este ano o Sistema Confea/Crea vai elaborar uma cartilha com o conteúdo técnico do Estatuto da Cidade, a ser distribuída em todo o país através dos seus 27 Conselhos Regionais. De 15 a 17 de outubro, convidado pela Prefeitura de São Paulo, o Sistema Profissional participou, com uma delegação formada por integrantes da Câmara Nacional de Arquitetura, Conselheiros Federais e

Presidentes de Creas, coordenada pelo Presidente do Confea, eng.º Wilson Lang, do I Congresso Nacional pelo Direito à Cidade, evento que reuniu mais de 700 pessoas. A Comissão de Assuntos Nacionais (CAN) do Confea está estudando também, outras ações de disseminação da nova lei, que deverão ser executadas em parceria com o Fórum Nacional da Reforma Urbana.

Depois de 12 anos de tramitação, o presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou o Estatuto da Cidade, que deve guiar profissionais liberais da área de urbanização, autoridades públicas e comunidade nas ações pelo desenvolvimento estrutural e social de cidades e municípios. A lei está em vigor desde o dia 10 de outubro.

Estudos realizados na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP concluem que a ocupação ilegal do solo atinge quase 10% dos domicílios urbanos do país. Os números mostram que, em São Paulo, cerca de 30% das casas e apartamentos – onde vivem 2,6 milhões de pessoas – estariam construídos em terras invadidas. Em Salvador, a porcentagem de domicílios em loteamentos irregulares e

clandestinos é estimada em 33%. Em Recife, 40% das moradias estariam em local irregular. No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal da Habitação calcula em 2,2 milhões de pessoas (40% da população local) o número de pessoas que vivem em moradias informais. Os exemplos de Salvador e Recife mostram que as

conseqüências da explosão demográfica, combinadas com uma infra-estrutura deficiente, não são exclusividade do eixo Rio–São Paulo, existem em todo o litoral brasileiro. “É entristecedor ver a bagunça nas principais capitais brasileiras. Favelas e cortiços crescem diariamente e mesmo assim ficam ausentes dos planos de expansão urbana”, diz a coordenadora do Fórum Nacional da Reforma Urbana, Grazia de Grazia Veras.

Desde a década de 40, o movimento migratório, do campo para a cidade, contribui para o crescimento da população litorânea. Dados do IBGE confirmam que cerca de 82% da população brasileira, incluindo migrantes do interior, hoje vivem no litoral. O aumento da taxa de urbanização exige maior complexidade dos planos de desenvolvimento urbanos. “O crescimento acelerado das cidades, principalmente pela migração rural–urbana, resulta numa periferização da população que busca

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soluções habitacionais em cortiços e favelas”, explica Grazia Veras. No Estatuto da Cidade, a obrigatoriedade de um plano diretor incentiva o planejamento de ações na administração do desenvolvimento urbano.

Uma vez tomada a iniciativa de planejar democraticamente o desenvolvimento urbano das cidades, o Estatuto aponta como instrumento a convocação de

organizações comunitárias para, junto com secretarias de desenvolvimento urbano e conselhos profissionais, elaborar um plano diretor que norteie o desenvolvimento e assegure o bem-estar físico e social das comunidades. “Sem um plano diretor, o crescimento ordenado dos municípios é praticamente impossível”, afirma Grazia Veras. Para ela, o único problema com o artigo que trata do plano estava na limitação da obrigatoriedade apenas para municípios com mais de 20 mil

habitantes. “Acreditamos que todo município deva ter o seu, mesmo os menores, para que cresçam organizados. Foi por isso que ampliamos as condições para a implantação de planos diretores em cidades que tenham potencial turístico ou tenham áreas ambientais modificadas por futuros empreendimentos imobiliários”, disse.

O plano diretor é um dos instrumentos do Estatuto indispensáveis para o exercício de uma política urbana sustentável. No capítulo dois, em especial no inciso que trata sobre planejamento municipal, está escrito que “todas as cidades com mais de 20 mil habitantes devem obrigatoriamente estabelecer um plano piloto de expansão territorial. Além dessas, cidades que estejam em áreas de interesse turístico e influenciadas por empreendimentos ou atividades com impacto ambiental devem desenvolver um plano diretor”. Em Florianópolis, capital que ocupa a segunda posição no ranking das cidades brasileiras com maior índice de qualidade de vida, os instrumentos participativos servem como diretrizes na gestão administrativa. Um plano diretor tem como principal objetivo prever o crescimento para curto, médio e longo prazos. O planejamento busca antecipar e projetar a ocupação organizada do solo dos 10, 20 e 50 anos seguintes. Dessa forma, são definidas regras e padrões para sua ocupação, com definição de áreas específicas para residências e para atividades que atendam às vocações do município – comércio, serviços, turismo, lazer e indústrias de tecnologia não- poluentes. No exemplo de Florianópolis, cuja administração municipal foi considerada, por duas vezes, a melhor, entre as demais capitais brasileiras, o plano diretor é dividido em várias regiões, permitindo um planejamento minucioso de cada área, atendendo às necessidades especificas dos moradores.

Outro alvo de apreciação nos seminários do Confea foi o artigo sobre especulação imobiliária. A questão é polêmica, pois o mercado especulador imobiliário atua intensamente em cidades desenvolvidas ou em processo de crescimento. “O Estatuto oferece um instrumento ideal para evitar a especulação”, explica o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, o arquiteto Haroldo Pinheiro. Pelo Estatuto, proprietários de terrenos improdutivos, do ponto de vista imobiliário, têm um ano para apresentar um projeto de investimento para o local. Nos dois anos seguintes, a obra deve ser iniciada. Se, num prazo de três anos, o terreno continuar inutilizado, o proprietário começa a pagar taxas de IPTU que aumentam anualmente até atingir 15% do valor total da propriedade. “O IPTU progressivo vai obrigar os donos de terrenos a investir em suas propriedades, valorizando a região da qual fazem parte”, diz Pinheiro. “Existia um lobby muito grande dos grupos de latifundiários contra a aprovação do documento, que, entre outros benefícios, garantia o fim da regularização das terras das favelas”, explicou a coordenadora Grazia Veras. Para combater a ociosidade de terrenos, dois incisos determinam a cobrança do IPTU progressivo no tempo e a desapropriação com pagamento em títulos da divida pública, última das penalidades constitucionais, tornando a desapropriação de imóveis urbanos ociosos semelhante à que ocorre para fins de reforma agrária, mudando apenas a forma de indenização – no lugar de dinheiro, títulos.

Apesar das garantias do texto original, o documento foi aprovado pelo Executivo com veto. “A restrição não representou perdas. O presidente Fernando Henrique prontamente encaminhou uma medida provisória que estipulou a data de ocupação para os casos de moradia em propriedades públicas”, disse o senador Mauro Miranda, relator do projeto. O artigo rejeitado garantia a concessão de uso especial para fins de moradia a qualquer habitante que residisse em imóvel público, sem oposição nenhuma, há mais de cinco anos, pelo direito adquirido por usucapião. A principal preocupação foi em não incentivar a invasão deliberada de praças e outros espaços públicos. “Se fosse aprovado o texto original, qualquer pessoa que se apropriasse de áreas públicas e constituísse residência teria direito de posse”, afirma o senador.

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As ferramentas oferecidas pelo Estatuto aplicam-se a importantes aspectos das políticas de desenvolvimento de cidades e estados. Os debates e orientações vão garantir a implantação na medida certa para atender aos interesses da sociedade. “A partir do momento que iniciativas como a do Confea começarem a acontecer, haverá a conscientização dos profissionais liberais. Isso é determinante para que o Estatuto cumpra sua função”, explica o senador Mauro Miranda. Das 645 cidades brasileiras, 412 têm menos de 20 mil habitantes e 78% delas não têm um plano diretor. “Mas a população hoje quer qualidade de vida, e as mudanças terão de ocorrer de qualquer forma”, diz Grazia Veras, “e como o documento é formado por ferramentas, existem diversas maneiras de aplicá-las. O papel de sistemas como o Confea/Crea é fundamental na divulgação do conteúdo e na implantação

garantindo interesses populares”, conclui.

Estatuto: longa trajetória

Habitação é o maior gasto da família brasileira Principais pontos do Estatuto:

Quadro de ocupação irregular nas principais cidades brasileiras

Estatuto: longa trajetória

“A difícil e polêmica trajetória da legislação sobre ocupação urbana começou oficialmente em 1964, com a publicação do Estatuto da Terra. Segundo o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, o arquiteto Haroldo Pinheiro, desde a aprovação do Estatuto da Terra já existia a preocupação com o planejamento urbano das cidades. Somente em 1988, a edição aprovada da Constituição brasileira trazia, pela primeira vez na história, um capítulo reservado às questões do desenvolvimento urbano. Em dois artigos (art.182 e art. 183), os autores do texto colocaram no papel os primeiros tópicos legais de uma política administrativa democrática. Em 1989, o Estatuto era aprovado no Senado. De autoria do ex-senador Pompeu de Souza (já falecido), o projeto de lei original foi enviado à Câmara dos Deputados em 1990, onde passou mais de 10 anos e transformou-se em substitutivo, que condensava todos os projetos sobre a mesma questão. O Projeto de Lei 181/89, aprovado e sancionado em 10 de julho deste ano, teve como relator o senador Mauro Miranda. Segundo o senador Roberto Pompeu de Souza, que apresentou o projeto, a participação da sociedade é aberta e fundamental para o propósito social. “Ele funcionará como um instrumento valioso, garantindo a participação democrática no processo de planejamento urbano”, disse. Antes dos ajustes e da palavra final do presidente, o Estatuto da Cidade já tinha sido aprovado, na íntegra, pela Comissão de Assuntos Sociais da Câmara e pela plenária do Senado. Com a sanção, a lei passa a estabelecer normas de ordem pública de interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo. Antes, a propriedade urbana era vista somente como bem individual. Depois de sancionado, o Estatuto passa a reconhecer a propriedade sob o ponto de vista de bem coletivo, da segurança, do bem-estar do cidadão e do equilíbrio ambiental. A partir daí, incorpora o direito à cidade sustentável, ou seja, que ofereça condições básicas de habitação, segurança, trabalho e lazer para todos os seus habitantes. As demais medidas do Estatuto garantem às comunidades de cidades brasileiras o direito ao desenvolvimento, ao

planejamento, à proteção do meio ambiente natural e do patrimônio cultural, à produção de bens e serviços nos limites da sustentabilidade ambiental e à recuperação pelo poder público de investimentos que tenham resultado na valorização de imóveis urbanos.

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Cálculos de 2001 da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), apontam índices de distribuição de gastos mensais do trabalhador brasileiro:

Habitação (2,05%) Despesas pessoais (1,00%) Vestuário (0,57%) Saúde (0,29%) Alimentação (0,11%) Educação (0,10%) Transportes (-0,25%)

Principais pontos do Estatuto:

- Gestão democrática, por meio da ação dos órgãos colegiados de política urbana, da realização de debates, audiências e consultas públicas, da iniciativa popular das leis, planos e projetos, do referendo e do plebiscito.

- Plano Diretor obrigatório para as cidades com mais de 20 mil habitantes. Obrigatório também para as cidades integrantes de interesse turístico e para as influenciadas por empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental.

- Parcelamento, edificação ou utilização compulsórios.

- IPTU progressivo no tempo, visando a combater a ociosidade de terrenos urbanos.

- Desapropriação com pagamentos em títulos da dívida pública.

- Usucapião especial, visando a facilitar a regularização fundiária de áreas urbanas de difícil individualização, como as favelas.

- Concessão de uso especial para fins de moradia, permitindo que imóveis públicos ocupados há mais de cinco anos sem oposição nenhuma tenham posse regularizada.

- Direito de superfície que permite a transferência, gratuita ou onerosa, do direito de construir sem que esse alcance o direito de propriedade do terreno.

Quadro de ocupação irregular nas principais cidades brasileiras

CIDADE/ÍNDICE DE OCUPAÇÃO IRREGULAR

São Paulo 30%

Rio de Janeiro 33%

Salvador 40%

Recife 40%

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Todos os direitos reservados à Revista do Confea Confea - Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

Referências

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