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Desenhar a memória, comunicar a história: concepções de práticas museográficas em exposições temporárias no Museu Histórico Abílio Barreto

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Desenhar a memória, comunicar a história:

concepções de práticas museográficas

em exposições temporárias no

Museu Histórico Abílio Barreto

Nathália Larsen Michele Mafra Ramon Vieira Santos

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Resumo

A concepção de exposições para o Museu Histórico é uma tarefa que necessita de exercícios de reflexão, estabelecendo o lugar de memória e espaços de invenção. A proposta de estabelecer uma comunicação ao passado concretiza-sepor meio de um discurso estabelecido pelos recursos museográficos, às imagens e aos objetos históricos, relacionando o espaço, os objetos e o visitante. A exposição surge como um texto, em que a expografia é seu corpo, os objetos são as palavras e a curadoria, os argumentos. Dar forma a exposição é pensar e praticar exercícios museográficos específicos, acrescentado de uma boa intimidade ao espaço. A partir de experiências realizadas no Museu Histórico Abílio Barreto, pretende-se buscar reflexões que delinearam as formas das exposições temporárias: “Paisagem em mutação: a invenção”, “Ao redor dessas mesas uma cidade: bares e o lugar na história de Belo Horizonte”.

Palavras-chave: Museografia, Museu Histórico Abílio Barreto, Exposições, Paisagem em

Mutação, Em torno dessas mesas uma cidade.

La actividad expositiva para el museo histórico es una tarea que demanda un importante ejercicio de reflexión, estableciendo el lugar de memoria, espacio de invención y concientización. La propuesta de instituir un dialogo com el pasado, se concretiza a través de un discurso determinado por recursos museográficos, imágenes y objetos históricos, relacionando el espacio, los objetos y el visitante. La exposición se presenta como un texto, donde la expografia es su cuerpo, los objetos las palabras y la curaduría los argumentos. Dar forma a una exposición es reflexionar y poner en practica ejercicios museográficos específicos, añadido de una gran intimidad con el espacio. A partir de experiencias realizadas en el Museu Histórico Abílio Barreto, museo histórico de la ciudad de Belo Horizonte, desea se buscar reflexiones que delinearon el formato de las exposiciones temporarias: Paisagem em mutação: a invenção de Belo Horizonte, Ao redor dessas mesas uma cidade: bares e o lugar na história de Belo Horizonte.

Palabras-llaves: Museografia, Museo Histórico Abílio Barreto, Exposición, Paisage em

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O início, o museu e seu espaço

O Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB) – criado pelo decreto nº. 91, de 20 de maio de 1941 – foi inaugurado em 1943, durante a administração municipal de Juscelino Kubitscheck, com o objetivo de recolher, preservar, pesquisar e divulgar testemunhos da história da Capital. O projeto de criação teve na pessoa do jornalista e historiador Abílio Barreto o principal mentor, o qual se tornou primeiro diretor da instituição, entre 1943 e 1946. Originalmente denominado Museu Histórico de Belo Horizonte, em 1967 recebeu o nome atual, em homenagem ao seu fundador, falecido em 1956.

Um museu de história atual da cidade assenta em Belo Horizonte como uma condecoração no peito de uma criança. Poder-se-ia dizer, com alguma malícia, que fundar, agora, um museu da história de Belo Horizonte equivale a encomendar, desde já, ao alfaiate, o terno de casamento de um pirralho ainda de calças curtas e gorro com nome de navio na frente[...]. No entanto, a iniciativa do Prefeito Juscelino Kubitschek é digna de todos os louvores e poucos, talvez tenha penetrado o pensamento que presidiu esse empreendimento. É que a verdadeira história de Belo Horizonte está começando a se escrever agora. 1

A concepção de um museu para uma cidade que não havia completado 50 anos pode ser compreendida num processo de expansão da cidade que ultrapassava os limites da avenida do Contorno, em direção às regiões dos bairros Cidade Jardim e Pampulha. Essa concepção foi dada pelo jornalista e memorialista Abílio Barreto, que buscou no pequeno arraial as origens de Belo Horizonte. O museu foi instalado na “única” construção remanescente que acreditavam que existia no arraial – casarão – e os objetos recolhidos materializam e confirmam sua tese: “a intenção do fundador do MHBH/ MHAB estabelecer como valor e como verdade a representação de uma comunidade que se ressentia da falta de passado”. 2

Durante seus 50 anos posteriores, o Museu funcionou no casarão. Lá se encontrava a exposição, a reserva técnica e a administração. Em 1993, um fórum de discussões é o divisor de águas na trajetória do MHAB. A elaboração de propostas para o museu e o início de um “Processo de Revitalização” foram discutidos naquela ocasião. Sendo uma das primeiras propostas,retirar do

1 FOLHA DE MINAS. Belo Horizonte, 05 jun. 1941. p.3

2 BITTENCOURT, José Neves. MHBH, MHAB, MhAB: O sítio da fazenda Velha do Leitão, seus diversos prédios e seus museus, 1943-2000. In: PIMENTEL, Thais Velloso Cougo (org.). Reinventando o MHAB: O museu e seu novo lugar na cidade 1993-2003. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2004, p.40.

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casarão a reserva técnica e as atividades administrativas,ele passa a ser explorado pela primeira vez como peça do acervo. Foi realizado então, um diagnóstico das peças que compunham a reserva técnica, para saber o estado de conservação desse material e o que poderia ser salvo.

A partir desse processo, um novo conceito de museu e sua relação com a cidade e o público foi estabelecido, como também, uma ampliação do acervo e a criação de um centro de documentação iconográfica. Nos anos seguintes, o casarão passa por um processo de restauração.

Passados mais de 60 anos, o museu permanece com a vocação de ser o museu da cidade de Belo Horizonte, sob o viés histórico. Em 1998, após ser inaugurada a nova sede e uma nova área externa, as atividades educativas passam a integrar às atividades do museu, nova política de aquisição de acervo e do setor de pesquisa. Com a ampliação, o museu vem desde 2004, sobre caráter experimental, musealizando espaços da cidade e pensando-a como acervo. Denominado “acervos operacionais”, o museu elege logradouros na cidade a fim de proporcionar novos significados a estes, a partir de um tratamento museológico e de pesquisa, transformações, apropriações e potencialidades. São eles: Praça Sete, Pampulha, Lagoa do Nado, Centro Cultural Padre Eustáquio, Catedral da Boa Viagem, onde se encontra o retábulo em estilo rococó da demolida matriz da Boa Viagem do extinto Arraial do Curral Del Rei:

O Museu da cidade não pode falar apenas do passado e dos monumentos que ele gerou – e que lhe cabe preservar e interpretar. Ao Museu da cidade cabe interpretar uma cidade múltipla, produto da dinâmica e da interação de múltiplos lugares e tempos, e, assim, falar de si mesmo, de sua própria multiplicidade. 3

O museu trabalha com a origem da cidade e seu desenvolvimento, possuindo quatro espaços expositivos dentro sua estrutura,em que estão periodicamente em processo de atualizações, são eles: exposições de longa duração, 4 anos; média duração 1 a 2 anos; curta duração 6 meses a um ano.

Situado no bairro Cidade Jardim, o conjunto arquitetônico do MHAB compreende o casarão secular e o moderno edifício-sede, especialmente planejado para sediar o museu. Conhecida e referenciada como Casarão, a sede da antiga Fazenda do Leitão foi construída por Cândido Lúcio da Silveira, em 1883, nos moldes das fazendas mineiras; a construção remanescente do antigo Arraial é escolhida para sediar o museu histórico da cidade. O sobrado de dois pavimentos possui uma grande varanda, um modelo típico das fazendas de seu tempo.

3 PIMENTEL, Thais Velloso Cougo (Org). Pampulha Múltipla: uma região da cidade na leitura do Museu Histórico Abílio Barreto. Belo Horizonte: Museu Histórico Abílio Barreto, 2007, p.11.

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Construída sob a técnica de pau-a-pique, possui uma estrutura de armação de madeiras denominada “gaiola”. Essa armação era fincada ao chão e dava sustentação para as paredes, o piso de tábuas e a estrutura do telhado. As janelas tinham folhas cegas de madeiras, conservadas na parte interna das mesmas e, na revitalização, foram acrescentadas as janelas de guilhotinas respeitando a estética das construções do centro do arraial. Desde o início do museu, o casarão é visto como peça componente do seu acervo.

Apesar de ter passado por vários processos de restauração para a implantação do museu, o casarão integra-se a dinâmica do espaço expositivo. Por se tratar de uma construção colonial, o segundo pavimento possui pé direito elevado e grandes vãos, o que facilita a ventilação cruzada e o conforto climático, dispensando o uso de ar condicionado. No primeiro pavimento, antigo porão, o pé direito é bem mais baixo, mas as restaurações criaram aberturas que possibilitaram a ventilação cruzada também nesse pavimento.

Com o objetivo de exprimir uma abordagem museológica mais dinâmica, abrangente e sintonizada com as demandas culturais contemporâneas, o MHAB iniciou, a partir de 1993, um amplo processo de revitalização institucional. No final de 1998, o sítio histórico da Fazenda do Leitão recebeu uma edificação destinada a abrigar sua nova sede, voltada para a Avenida Prudente de Morais, conforme sinaliza os arquitetos:

Projetado pelos arquitetos Álvaro Hardy e Marisa Machado Coelho e inaugurado em dezembro de 1998, o edifício-sede conjuga aço e vidro, numa linguagem ousada e, ao mesmo tempo, sóbria e imponente. Sua construção, viabilizada com recursos captados pela Associação dos Amigos do MHAB (AAMHAB), representa um marco arquitetônico na cidade, por ser o primeiro local originalmente concebido e edificado para abrigar um museu em Belo Horizonte:

Na área de exposições, todo o detalhamento foi pensado tendo em vista a segurança e conservação do acervo: a luz natural, por exemplo, é proveniente de sheds, que permitem que seja controlada de forma a não causar danos aos materiais expostos. Todos os ambientes foram pensados para serem dotados de sensores de diversos tipos. Anexo a esse bloco, um volume curvo, também com quatro pavimentos, fachada em vidro, voltado para o jardim, abriga, em dois níveis, a administração e o bar-café. 4

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Curadoria, design e concepções das exposições

A exposição é o resultado do processo de comunicação da museologia. É o meio de comunicação entre o museu e seu público, é a forma de museus contarem história. Para atingir este objetivo os museus utilizam uma linguagem própria, servindo-se de elementos que vão além das palavras, como, por exemplo, os objetos.

No universo dos museus, a exposição desempenha um importante papel na representação e comunicação de suas pesquisas e acervo. É um espaço construído não apenas fisicamente, mas também simbolicamente, e pode ser entendido como espaço do imaginário, uma vez que promove a intermediação das imagens dos espaços do imaginário aos espaços reais. (ENNES, 2008, p. 12). Os museus apresentam suas exposições a partir de uma linguagem que pode ser entendida, com o uso, a seleção e combinação de objetos a partir de uma pesquisa prévia. Segundo CURY (2005), a museografia trabalha com a forma, tipo, estética, ambientação desse objeto exposto. Essa metodologia irá trazer diferentes significados ao público, atuando de forma subjetiva.

A exposição surge como um texto, em que a expografia é seu corpo, os objetos são as palavras e a curadoria os argumentos. Dar forma a exposição é pensar e praticar exercícios museográficos específicos, acrescentado de uma boa intimidade ao espaço.

Diferentes públicos visitam o museu: escolar, espontâneo, turistas, pesquisadores, entre outros. A linguagem da exposição é uma só, mas como se trata de uma forma subjetiva de comunicação, muitas vezes é necessário o uso de um mediador que possa dialogar e apresentar a exposição, obedecendo assim os critérios estipulados pela curadoria e pesquisa.

A curadoria que detém e define o recorte ou os temas referenciados pelas coleções ou pelos acervos, capaz de recortar, costurar, selecionar, articular,compor o discurso expositivo pela figura do curador. Esse, que segundo BARBOSA (2008, p. 80), estabelece e desenvolve o tema da exposição e junto com sua equipe de trabalho define a exposição como um percurso: “o que” e “porque” expor e para qual público será idealizada.

Assim, iremos nos aproximar de duas exposições, concebidas e realizadas para o MHAB, o objetivo é exemplificar de forma prática e relatar o processo museográfico. Nossos estudos de caso referem-se à exposição “Em volta dessas mesas uma cidade: bares como lugares na história de Belo Horizonte”, que trata da história dos bares, “botecos” e botequins da cidade, e “Paisagem em Mutação – a invenção de Belo Horizonte”, que conta a história da criação da capital de Minas Gerais.

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Na exposição “Em volta dessas mesas uma cidade” e na “Paisagem em Mutação”, há o uso de recurso cenográfico para reforçar o discurso da curadoria e melhor comunicar a relação do objeto ao espaço. Entendida como um lugar de memória, 5 e espaços de invenção, na medida em

que propiciam a recordação do passado através de um discurso museografado, como a presença de imagens e de objetos.

Ao estabelecer os conceitos, André Desvallées e François Mairesse definem museografia como atividades práticas desenvolvidas nos museus, enquanto o museologia está diretamente ligada, ao estudo e análise.A teoria é proporcionada pela relação do homem com o objeto do museu. Sendo a museografia as técnicas e procedimentos específicos, naconcepção do museu, particularmente relacionadas ao planejamento e ao arranjo de espaços expositivos em geral, da conservação, restauração, segurança e exposição. E como parte da museografia, a expografia foi inicialmente utilizada na França, a partir da década de 1990.Trata-se do corpo estrutural, o que vai relacionar o espaço aos objetos estabelecidos no discurso curatorial.

Ao lado das informações curatorial, o desenho museográfico desempenha um papel estratégico na construção do processo comunicativo, conforme defende GONÇALVES (2004, p. 34). Assim, a escolha da distribuição da obra no espaço, bem como a iluminação, cor e ambientação espacial que irão estabelecer o sentido e apresentar a mensagem estética à exposição, além de aproximar o objeto ao público.

O desenho da exposição está diretamente relacionado à tipologia de objetos, física ou simbólica; ao argumento estabelecido pela curadoria que amarra e comunicaa problemática que a exposição apresenta; ao usuário que irá percorrer o espaço; e ao próprio espaço em si, com suas limitações ou facilidades:

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Figura 1 - Esquema proposto pelos autores.

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Esse espaço não se restringe ao espaço físico, pois a proposta museográfica deve abordar a forma como o museu vê os objetos. Segundo LORD & LORD (2001, p.69), cada exposição existe no espaço, bem como no tempo, e está enquadrado não só na sala de exposição, mas também pelo museu em sua totalidade. Assim, a experiência envolve todo o espaço do entorno da exposição, ou seja, engloba o interior do museu e seu entorno, a cidade.

Para determinar quais os critérios de design que são fundamentais para as instalações de exposição do museu, deve se ater para o desempenho técnico de materiais e sistemas, padrões de acessibilidade e instalação de circulação, o potencial e as preocupações de manutenção. Sendo o mais importantea sensibilidade e o respeito ao acervo, que neste caso é o ator principal da criação.

Sendo assim, o museógrafo é o profissional que irá traduzir um conceito teórico num espaço, dando forma às palavras. Seu trabalho é, acima de tudo, a organização espacial do enredo proposto, visando a conceitos estéticos e utilizando de ícones representativos para dialogarcom o visitante. Normalmente, este acompanha desde o inicio o processo da concepção da exposição, antes mesmo do conteúdo ter sido definido.Seu papel é ter a sensibilidade de trabalhar com um acervo, considerando sua lógica e seus imperativos (formas e particularidades). (CHAUMIER &LEVILLAIN,2006). Por isso, acredita-se que a ausência notável de um museógrafo, a museografia pode ser reduzida a uma expressão mais simples de dioramas, cenários ou mesmo “teatros da memória”.

Os dois estudos de caso a seguir pretendem esclarecer e refletir sobre as escolhas dos recursos museograficos utilizados, a fim de propocionar uma melhor leitura a problemáticaproposta. Os recursos cenográficos permeados nos dois espaços expositivos proporcionaram uma intertextualidade para a comunicação dos objetos expostos, a fim de realçar um efeito estético a eles,criando, assim uma atmosfera construída da narrativa curatorial, buscando melhor ambientar o discurso no espaço.

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Paisagem em mutação: a invenção de Belo Horizonte, a cidade em fragmentos

2 Figura 2 – Convite da exposição. Fonte: Própria

Na exposição Paisagem em mutação: a invenção de Belo Horizonte, instalada no casarão do museu, documentos em exposição vêm afirmar um novo olhar da cidade e maior entendimento quanto a sua origem.

De acordo com as fontes utilizadas na exposição, a tese é norteada pelo projeto moderno e republicano, trazido pela Comissão Construtora. Estes objetos vêm reafirmar a hipótese e a problemática, que a exposição traz da origem da capital. Para respaldar essa hipótese,utilizaram dos objetos da comissão construtora, representando uma ruptura entre o antigo e seu antecessor, o arraial, emergência de uma nova capital, Cidade de Minas, futura Belo Horizonte. Os objetos são uma forma de legitimar o discurso da exposição, confirmando e construindo essa tese, por meio do próprio acervo, que neste processo funcionam como fonte de informação.

O eixo no qual se circunda a exposição está calçado na origem da cidade e sua transposição como a nova capital do estado, conforme explicita o Projeto Museológico da exposição:

Entende-se que a história da construção de Belo Horizonte deve ser vista em suas contradições e múltiplas interpretações, e que, portanto, cabe propor uma reflexão que problematiza esse momento a partir de três pontos de articulação: o contexto do arraial do belo horizonte, a atuação das comissões criadas pelo estado para indicar o local e realizar a construção da nova capital e o debate em torno da decisão e realização da transferência da capital mineira, tal como pode ser investigada a partir das fontes pertinentes. Desse modo, define-se o corte cronológico de pesquisa entre 1890, ano da adoção do novo nome do arraial, e 1901, quando o nome belo horizonte, que se conservara no uso cotidiano, passa a

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ser adotado para a capital, até então denominada oficialmente Cidade de Minas (BARBOSA e GARCIA, 2005,p.1).

No projeto da exposição observamos as diversas e vastas referências que são utilizadas para organizar o espaço expositivo e proporcionar uma representação profícua de fácil identificação, a partir dos documentos e objetos selecionados, justificando-se por uma abordagem diferenciada para o assunto, articulando várias esferas da vida social e política, a partir do modo como constitui seu objeto: a nova capital de Minas Gerais, permitindo renovar e repensar a discussão sobre a criação de Belo Horizonte e múltiplos olhares ao acervo.

Depois de transpor a entrada da exposição passamos para seu núcleo onde a problemática principal e norteadora e difundida em temáticas, pois ele:

[...] contudo, não constitui-se como uma confluência de sentidos, uma vez que a exposição não se propõe a construir respostas, mas sim a levantar questionamentos acerca do tema abordado. A partir da localização espacial do núcleo, o arraial emerge como lugar simbólico de uma identidade que permanece subliminar em discursos que buscam, repetidamente, apagá-lo (BARBOSA e GARCIA, 2005,p.2).

A exposição traz os temas que conduzem e fornecem sustentação para o núcleo, “definidos como estudos articuladores propostos através dos recortes temáticos que perpassaram o trabalho de pesquisa. E sua apresentação visual é heterogênea, de acordo com o acervo que cada um apresentar” (BARBOSA e GARCIA, 2005, p.2). Assim, é possível percorrer a sala passando de um tema a outro, que foram definidos em retrospectiva chegando ao núcleo.

Um dos recursos utilizados pela expografia foi reconstituir a linguagem dos ambientes de salões e espaços da arte, remarcando a temporalidade das obras pictóricas presentes nestes módulos alinhados ao tema. Na última sala, usando cortinas e várias pinturas, com o intuito de recompor o ambiente de salões no final do século XIX e na primeira sala o cubo branco, melhor caracterizando a obra de arte moderna no espaço.

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Figura 3 – Sala de Apresentação da exposição. Fonte: Lilian Leão

Figura 4 – Segunda sala de exposição. Fonte: Lilian Leão

O espaço expositivo de Paisagem em Mutação expõe uma série de textos demarcando os módulos e trazendo reflexões e questionamentos ligados aos objetos expostos e problematizando a cidade.

A exposição Paisagem em mutação: a invenção de Belo Horizonte, a apresentação da história da cidade, é elaborada de forma fragmentada e múltipla em seus recursos. As fontes selecionadas para exposição são de naturezas diversas: textos, objetos, cartas, fotos, dentre outros. Essa linguagem museológica permite ao observador uma apreensão sensorial do legado e trajetória da cidade. Por meio do agregar dos elementos que compõem a exposição, uma fotografia, um objeto, um texto um quadro, o observador vai completando o mosaico que retrata a história da cidade.

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Figura 5 – Ultima sala de exposição, referenciada pelas pinturas acadêmicas de salões. Fonte: Lilian Leão

Figura 6–folder da exposição. Fonte: Própria

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O mesmo princípio foi aplicado na comunicação: inspirados pelo plano de triangulação elaborado no estudo topográfico na época da escolha da nova capital, elaboramos o folder da exposição.

Bares com lugar na história da cidade

A exposição sobre bares iniciou sua pesquisa em 2009 e passou por um novo desenho e articulação em 2010. Sua nova definição foi dada pelo curador Leonidas José de Oliveira, o qual havia determinado algumas diretrizes que foram tomadas com base no projeto museológico inicial. Nela foi desenvolvida uma pesquisa ampliada do acervo MHAB, de objetos que teriam uma interlocução com os textos produzidos pela equipe de pesquisa. Foram pesquisados, também, possíveis acervos de empresas e indústrias de bebidas e acervos de colecionadores, como também realizado um mapeamento dos bares e suas localizações na cidade.

Nesse novo recorte, a primeira temática da exposição, foi denominada:Histórico da

trajetória: os primórdios, nela foram expostos:acervos textuais e bibliográficos.Optou-se por

caracterizar o espaço como a um túnel do tempo,articulando às referências textuais com os acervos do mesmo período histórico.

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Figura 7 – Detalhe do Projeto Executivo do Túnel do Tempo Fonte: Própria

A proposta museológica da exposição resultou em uma disposição dividida da seguinte forma: Entrada – referências históricas, onde o acervo disposto tenta estabelecer a conexão com os primórdios dos bares na capital mineira; estudos de caso e módulos temáticos.

Com a pesquisa praticamente concluída e com a definição do plano da exposição, iniciou-se o processo de museografar o espaço expositivo.A maior dificuldade nesse processo em especifico foi conseguir que no espaço expositivo existissem características de um bar aconchegante, porém que não fosse confundido com um. Para isso, adotou-se a linguagem de elementos de bares mimetizados no espaço museal. Sendo necessária a criação de inúmeros recursos museográficos,

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eles foram responsáveis pelo enredo da temática, permitindo a conexão de um objeto a outro, desta forma, contando-se apenas uma história.

Pode-se dizer que nessa exposição histórica, o principal foco foi utilizar o recurso de acervo como valor imaterial, pois alguns dos objetos inseridos na proposta poderiam ser vistos em bares da cidade, porém, ali, aliado à reflexão subjetiva e à proposta museológica, ele encontrava seu lugar de destaque dentro doconceito de museu.

Outra necessidade, proposta pelo Educativo do museu, era não criar um espaço diminuído, limitados por paredes, e sim espaços amplos, que facilitariam o trabalho com grupos escolares. Dessa forma, o resultado final da exposição é a possibilidade de uma leitura ampla das temáticas, assim como a leitura pormenorizada dos objetos.

Os conceitos utilizados na museografia foram adotados também para as peças gráficas, estabelecendo uma única linguagem. O objetivo foi identificar ícones que fazem parte da construção sociocultural dos bares e explorá-los dentro do projeto. As vitrines foram transformadas em mesas de bares ou balcões e o folder remetia a um cardápio, assim como o convite a um apoiador de copos. As cores e traços simbolizaram também os bares como lugar de diversidade e descontração.

A característica da exposição de bares foi tratar de um assunto latente, hoje em dia, na nossa sociedade, reafirmando a identificação da cidade ao ícone bar, como espaço de socialização presente na urbanização da cidade.

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Figura 8 – Apresentação em 3D do espaço museográficos. Fonte: Própria

Figura 9 – Detalhe exposição Fonte: Lilian Leão

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Conclusão

O museu deve ser pensado como agente comunicador e emissor de informação, considerando que a comunicação é um processo social básico na produção e no intercâmbio de sentido, mediante a produção de signos e códigos. Pode-se dizer, também, que é fundamentalmente cultural, isto é, preocupada tanto com o caráter significativo das formas simbólicas, quanto com a contextualização social (THOMPSON, 2004).

Dessa forma, o trabalho do museu é desenvolvido buscando valorizar as múltiplas interpretações da historia da cidade. Para a criação de um discurso, o museu conta com ações interdisciplinares, que, no caso das exposições, irão concretizar-se com a pesquisa, a curadoria, a conservação, a comunicação e, por fim, a museografia.

Todos os conceitos, signos e reflexões discutidos no grupo interdisciplinar de profissionais, ao final do processo são interpretados pelo museógrafo, que, levando em conta todas as questões discutidas e mais o espaço, pode adotar ou não determinados posicionamentos. Sendo o espaço, também, produtor de significado gerado no processo de fruição. A cenografia estabelece o lugar de apresentação estética no espaço, melhor contextualizado na “situação” do discurso.

Como exemplo, temos a exposição Paisagem e Mutação, que ora conta com a edificação tombada para atingir o discurso estabelecido pela curadoria, e neste momento assume sua tipologia, assim como seus ornamentos e classificação histórica, ora omite todas essas considerações, transformando o espaço em um cubo branco, que melhor dialoga com a pintura contemporânea expressa nesse ambiente.

Essas decisões cabem à sensibilidade do profissional em captar todos os discursos que ele acompanhou durante o processo de criação e conceptualização da exposição, este poderá optar ou não pelo uso dos valores imateriais e materiais do espaço, trazendo-o para dentro do espaço expositivo, como recurso museográfico.

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Nathália Larsen

Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Bauhaus, pós-graduada em Arte Contemporânea pela PUC-MG/Inhotim. Coordenadora de Projetos Arquitetônicos de Restauração da empresa Alta Engenharia e fundadora do escritório de criações artísticas @lice.

Michele Mafra

Bacharel em Comunicação Social, formada pelo Centro Universitário Newton Paiva; doutoranda em História da Arte, pela Universidade de Valladolid. Atualmente é Chefe de Departamento do Museu de Arte da Pampulha.

Ramon Vieira Santos

Bacharel em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis. Diretor de Gestão de Acervo Museológico da Superintendência de Museus e Artes Visuais- MG.

Referências

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