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FEMINISMO: A ROUPA COMO FORMA DE PROTESTO

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Academic year: 2021

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FEMINISMO: A ROUPA COMO FORMA DE PROTESTO

Feminism: clothes as a form of protest

CARLOS, Rebeca de Oliveira Bento; Universidade Federal do Ceará, rebecaabento@hotmail.com1 SILVA, Mariana Colaço Morais de Oliveira e; Universidade Federal do Ceará, mari.colaco26@gmail.com 2 GOMES, Adriana Pereira; Universidade Federal do Ceará, adriana.pgomes1@gmail.com3 MENDES, Francisca Raimunda Nogueira; Doutora; Universidade Federal do

Ceará, franciscarnmendes@gmail.com4

Programa de Educação Tutorial do Curso Design-Moda da Universidade Federal do Ceará

Resumo: Este trabalho tem por objetivo investigar a ligação entre moda e feminismo,

compreendendo como a roupa pode atuar como forma de protesto na atualidade. Fez-se uso de pesquisa bibliográfica e quantitativa realizada com estudantes do curso de Design-Moda da Universidade Federal do Ceará, em busca de entender a relação entre a forma de vestir-se e assédio.

Palavras chave: Moda; Feminismo; Assédio.

1

Rebeca de Oliveira Bento Carlos. Graduanda do décimo semestre do curso de Design - Moda pela Universidade Federal do Ceará/ UFC e bolsista no Programa de Educação Tutorial (PET Moda UFC).

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Mariana Colaço Morais de Oliveira e Silva. Graduanda do sexto semestre do curso de Design - Moda pela Universidade Federal do Ceará/ UFC e bolsista no Programa de Educação Tutorial (PET Moda UFC).

3

Adriana Pereira Gomes. Graduanda do sexto semestre do curso de Design - Moda pela Universidade Federal do Ceará/ UFC e bolsista no Programa de Educação Tutorial (PET Moda UFC).

4Francisca Raimunda Nogueira Mendes. Graduada em História, mestre em Sociologia e doutora em Sociologia.

Professora e Tutora do Programa de Educação Tutorial do Curso de Design-Moda da Universidade Federal do Ceará. (PET Moda UFC).

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Abstract: This paper aims to investigate the connection between fashion and

feminism, understanding how clothing can act as a form of protest today. We used bibliographic and quantitative research held with students of the course Design-Moda of Universidade Federal do Ceará, with the goal of understanding the relationship between the way of dressing and harassment.

Keywords: Fashion; Feminism; Harassment.

Introdução

Este trabalho resulta de uma pesquisa feita no primeiro semestre de 2018, realizado pelo Programa de Educação Tutorial do curso de Design-Moda da Universidade Federal do Ceará (Pet-Moda UFC), possuindo como tema a resistência por meio das roupas, com foco no feminismo.

No universo feminino, a roupa pode ter um significado controverso, principalmente nos espaços onde predomina a presença masculina, sobretudo nos ambientes de trabalho e universidades, onde nota-se um maior desrespeito e assédio às mulheres. Este trabalho visa observar qual é o papel da roupa nesse contexto e entender o posicionamento de mulheres que foram vítimas de algum tipo de assédio.

Entende-se por assédio qualquer ação que deixe o indivíduo desconfortável, física e/ou psicologicamente. Esse tipo de ação faz com que as mulheres repensem sua forma de vestir-se e portar-se dentro da sociedade. Diante desse contexto, o vestir tornou-se um meio de protesto dando às roupas e ao corpo feminino um significado político e de luta.

Foi realizada uma pesquisa bibliográfica acerca do feminismo, moda e da violência contra a mulher, em especial o assédio, e como isso pode estar atrelado

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3 à roupa. Inicialmente, conceituamos o movimento feminista e a construção social do que é ser mulher e observamos o posicionamento destas na história da sociedade ocidental contemporânea. Posteriormente, estudamos o papel da indumentária nesse contexto e discutimos essas práticas de assédio a partir das vestimentas, através de dados obtidos com um formulário aplicado às alunas do curso Design-Moda da Universidade Federal do Ceará.

A História do Feminismo e sua Relação com a Moda

Os termos masculino e feminino são utilizados para designar características que são atribuídas cultural e socialmente aos homens e às mulheres. Para Molinier e Welzer-Lang (2009), essas atribuições são confundidas com as diferenças ligadas à fisiologia da reprodução. Ainda segundo os autores, as relações sociais entre ambos são marcadas pela dominação masculina e é com base nisso que a sociedade determina o que seria um comportamento adequado para o homem e para a mulher.

Segundo Oliveira e Vieira (2011), o movimento feminista, que surge na segunda metade do século XIX, possui caráter social e político e busca essencialmente refutar a desigualdade de direitos entre homens e mulheres. Para Fougeyrollas-Schwebel (2009), essas lutas partem do reconhecimento das mulheres como específica e sistematicamente oprimidas, sabendo que essa organização social não é natural e que a política pode vir a ser um instrumento para modificar essa situação. As reivindicações feministas surgem da percepção da desarmonia entre os direitos universais de igualdade declarados e real partilha do poder na sociedade.

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4 Para Joaquim e Mesquita (2012), foi a partir das manifestações das primeiras intelectuais que lutaram pela emancipação da mulher que teve início o questionamento e a desestruturação das relações de gênero vigentes.

No século XXI, são notadas algumas conquistas que servem de amparo para as mulheres e que foram obtidas durante os dois séculos anteriores. Segundo Mota (2017), o direito ao voto, a licença-maternidade, a criminalização do assédio sexual nas relações de trabalho, a Lei Maria da Penha, a Lei do feminicídio e a legalização do aborto para casos de anencefalia são exemplos dessas conquistas no cenário brasileiro. Apesar do que foi conquistado, ainda persistem diversas opressões sofridas diariamente. Atualmente, as mulheres ainda têm que lidar com desigualdade salarial, baixa representação política, violência doméstica, assédio e criminalização do aborto.

Para Joaquim e Mesquita (2012), a moda, como portadora de significados ideológicos, acaba por determinar relações de poder e de gênero dentro da sociedade. Dessa forma, a partir do momento em que a mulher busca por igualdade, ela irá questionar a sua vestimenta. Para as autoras, as noções mais delimitadas de identidade de gênero estão dando lugar para uma multiplicidade de identidades femininas no século XXI. Trazendo assim, uma grande diversidade nas linguagens do vestuário.

A Relação Entre a Roupa e o Corpo Feminino

É fácil observar na história da indumentária as relações de binarismo. Antes do período da Revolução Industrial, no século XVIII, os homens tendiam a vestir-se de forma exagerada, usando mais babados e rufos, por exemplo. No

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5 século XIX, os papéis se inverteram, e a mulher passou a utilizar trajes mais exagerados e complexos, principalmente as de classes mais altas da sociedade. “Ao lhe ser negado efetivamente tudo - salvo uma participação muito limitada na esfera pública - as mulheres eram identificadas por suas roupas” (CRANE, p. 199, 2013).

Além da aceitação social, durante muito tempo as mulheres deveriam ser submissas aos homens, em especial ao pai ou marido, sendo tratada muitas vezes como propriedade masculina. Desse modo, para agradar o sexo oposto, elas deveriam se vestir de acordo com as modas da época. Segundo Freyre (2009, p.53) “sociologicamente importante, as modas de mulher, em sociedades burguesas, vêm desempenhando um papel valioso”.

Segundo Crane (2013), foi ainda durante o século XIX que o sexo feminino passou a adotar signos do guarda roupa masculino, sendo o principal deles a calça. Aquelas que tiveram esse pioneirismo no uso da peça foram deixadas à margem da sociedade, além de ser motivo de piada. Apenas no século XX, quando as mulheres passaram a ocupar mais os espaços de trabalho, devido à escassez de mão-de-obra masculina nas fábricas causada pela Segunda Guerra Mundial, que estas tiveram o aval da sociedade para utilizar a peça. Mesmo com a dita “permissão”, ainda era possível notar o papel de submissão delas dentro desses espaços.

Percebe-se que existe uma preocupação feminina com a aceitação da sociedade e, também, com a integridade física e psíquica ao escolher a roupa. Segundo Baggio (2011, p.1) “muitas vezes, a saia é evitada pelas mulheres devido ao potencial risco de assédio e violência, de serem vistas como ‘disponíveis’”.

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6 As Relações de Poder e Violência

A violência em todas as suas esferas - agredir, matar e estuprar - é um fato recorrente ao longo da história em civilizações distintas, principalmente naquelas que há um predomínio cultural masculino. A essas civilizações que possuem o homem como centro de tudo - tanto na estrutura familiar, como na sociedade em geral - se dá o nome de patriarcado. Esse modelo se instituiu e consolidou-se na Roma Antiga, onde segundo Xavier (1998), o soberano da família possuía o poder de decisão e controle sobre os membros de sua família. "Tinha poder sob a mulher, os filhos, os escravos e vassalos, além do direito de vida e de morte sobre todos eles."

Essa relação entre homem (dominador) e mulher (submissa) é acentuada, principalmente no vestuário, pois enquanto o traje masculino se resumia na simplicidade Souza (1987) caracteriza como sendo influenciado pelo costume inglês de montar, constituído pelo redingote (casaca), pela cartola e pela calça. O traje feminino permanecia extravagante, mas agora com uma maior valorização do corpo da mulher que possuía como função agradar seu parceiro e demonstrar, através da riqueza de sua roupa, a posição social de sua família.

Observa-se, então, que ao longo da história foi atribuída à figura feminina uma imagem de passividade e de desmoralização da mesma em relação a capacidade que possui de realizar outras atividades que não sejam baseadas somente em tarefas domésticas. A partir desse contexto histórico e social, percebe-se ao longo do tempo, um número cada vez mais crescente de casos em que a mulher sofre algum tipo de agressão, seja ela física, psicológica, sexual, patrimonial e/ou moral.

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7 A partir disso surgiram movimentos que tentam confrontar essa estrutura de poder, um exemplo contemporâneo ficou conhecido por Marcha das Vadias. Teve origem a partir da declaração de um policial do campus da Universidade de York, em Toronto, Canadá, no ano de 2011, em que culpa as mulheres pela maneira que se vestem; dizendo que a partir do momento em que usam roupas de "vadias" seriam estupradas. Para Gomes e Sorj (2014) a Marcha das Vadias surgiu como forma de protestar contra esse pensamento, que se tornou um grande exemplo de como a violência sexual é justificada pelo comportamento da vítima, e não do agressor, se tornando uma das principais bandeiras da manifestação.

Análise de Dados

Para melhor entender a relação entre roupa e assédio as alunas do curso Design-Moda da Universidade Federal do Ceará foram submetidas a um questionário, abordando possíveis episódios de violência sofridos e como a vestimenta influenciou nas ocorrências. Buscou-se também entender o pensamento por trás da escolha do vestuário sob a influência da presença ou ausência de público masculino.

Quando questionadas sobre a escolha da roupa utilizada em ambiente público, 59.1% afirmaram que não baseiam suas decisões na presença masculina. Em contra partida 56.8% das entrevistadas, afirmam evitar usar saias ou decotes na presença masculina. Isso mostra que, a maior parte da amostra não deixa a escolha da sua indumentária ser influenciada pelos homens, mas ainda existe um receio em usar peças consideradas mais “reveladoras” em sua presença. Baggio (2014) afirma que a própria decisão

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8 entre usar saia ou calça já muda a postura da mulher na sociedade. A autora destaca que o fato de usar a saia por si só já induz uma postura na mulher que a veste, com as pernas fechadas e ocupando pouco espaço.

Em outra pergunta indagou-se sobre a escolha da vestimenta usada em ambientes que continham um público misto de homens e mulheres, o nosso objetivo era compreender se a presença feminina representava algum tipo de encorajamento na decisão do que elas iriam vestir. A maior parte afirma que não é influenciada por isso, mas uma parte considerável relata ainda preferir roupas mais largas e menos decotadas mesmo com uma presença mista.

Foi indagado também quais delas já haviam sofrido assédio por causa das roupas e 86.6% responderam que já sofreram algum tipo de constrangimento desse tipo. Porém 60% afirmam não ter deixado de utilizar as roupas em questão por conta do ocorrido. Para Joaquim e Mesquita (2012), a perspectiva de igualdade de gênero vem fazendo com que a mulher se imponha através do vestir. Essa imposição começou com a gradativa eliminação das diferenças entre os vestuários masculino e feminino, mas também se dá através da escolha livre do vestuário.

Considerações Finais

A roupa funciona como um símbolo que demarca a posição do indivíduo dentro de um determinado grupo social. Desse modo, durante vários períodos da história a forma como a mulher se vestia era vista de uma maneira e indicava um status. A partir do século XIX, as vestes femininas sofreram uma revolução, quando a calça passou a ser adotada por este grupo.

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9 Nesse contexto a roupa adquire novos significados. Torna-se protagonista e símbolo de luta e resistência. As mulheres passam a se manifestar a partir de um elemento que foi posto pela sociedade como um meio de justificar os atos de violência contra o gênero feminino.

Desde então, a roupa passou a ser utilizada, em muitas circunstâncias, como um ato de protesto. Atualmente, a indumentária tem essa relevância, como pode ser visto pela análise das entrevistas feitas às estudantes do curso de Design-Moda UFC, que afirmam, em sua grande maioria, não deixar de vestir o que lhe agrada em ambientes de público masculino, resistindo ao assédio.

Referências

ALVES, Branca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. São Paulo: Brasiliense, 1982.

BAGGIO, Adriana Tulio. Saia ou calça? Construção publicitária de papéis sociais femininos por meio da roupa. 10º Colóquio de moda - 7ª Edição Internacional. 1º Congresso brasileiro de iniciação científica em design e moda. 2014.

CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade de roupas. 2 ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2013.

FREYRE, Gilberto. Modos de homem e modas de mulher. São Paulo: Global, 2009.

FOUGEYROLLAS-SCHWEBEL, Dominique. In: HIRATA, Helena. et al. Dicionário crítico do feminismo. São Paulo. Editora UNESP. 2009. p. 144 a 149.

GOMES, Carla; SORJ, Bila. Corpo, geração e identidade: a Marcha das vadias no Brasil: A Marcha das vadias: continuidades e mudanças no feminismo. 2014.

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10 JOAQUIM, J.T, & MESQUITA, C. Rupturas do vestir: articulações entre moda e feminismo. In: Anais do 1. Design, Arte, Moda e Tecnologia (p. 15–58). São Paulo, 2012.

MOLINIER, Pascale. WELZER-LANG, Daniel. In: HIRATA, Helena. et al.

Dicionário crítico do feminismo. São Paulo. Editora UNESP. 2009. p. 101 a 105. MOTA, Keli Rocha Silva. Feminismo contemporâneo: como ativistas de São Paulo compreendem uma terceira onda do movimento no país. Revista Extraprensa. 2017. p. 109 a 127.

OLIVEIRA, Michele Ribeiro de. VIEIRA, Maria do Socorro de Souza. Feminismo e a politização do enfrentamento à violência de gênero no Brasil. III Seminário nacional: gênero e práticas culturais, olhares diversos sobre a diferença. 2011. João Pessoa.

XAVIER, E. (1998). Declínio do patriarcado: a família no imaginário feminino. Rio de Janeiro: Record, Rosa dos Tempos.

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