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Os contos tradicionais como elemento desencadeador da produção escrita do aluno do 6 ano do Ensino Fundamental II

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Academic year: 2021

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Os contos tradicionais como elemento desencadeador da produção escrita do

aluno do 6° ano do Ensino Fundamental II

Autora Luciene Freitas Mota1

Co-autora Luciene Souza Santos2

Educação, Sociedade e Práticas Educativas

RESUMO

Esta pesquisa objetivou investigar os Contos Tradicionais como elemento desencadeador da Produção Escrita do aluno do ensino fundamental II. Para alcançar esse objetivo fez-se um estudo bibliográfico com autores que discutem o ensino de Língua Portuguesa contextualizado e autores que discutem a importância da narração oral de Contos Tradicionais em sala de aula. Para isso, construiu-se um projeto de intervenção com sequências didáticas constituídas de atividades de contação de história, leitura e produção de textos narrativos com base nos Contos. Esse projeto foi aplicado na turma do 6° ano A da Escola Municipal Chico Mendes localizado em Feira de Santana, Bahia. Com a análise dos textos coletados durante os cinco dias de atividades observou-se que os Contos Tradicionais contribuíram para que os alunos desenvolvessem o gosto pela a Leitura e aprimorassem sua Produção Escrita.

Palavras-chave: Escrita, Leitura, Produção Escrita, Contos Tradicionais. RESUMEN

Esta investigación tuvo como objetivo investigar los Cuentos Tradicionales como elemento desencadenador de la Producción Escrita del alumno de la escuela primaria II. Para lograr este objetivo se hizo un estudio bibliográfico de autores que hablan de la enseñanza de la Lengua Portuguesa contextualizada y de autores que discuten la importancia de narración de los Cuentos Tradicionales. Para ello, se construyó un proyecto de intervención con secuencias didácticas constituidas de actividades de contación de historias, lectura y producción de textos narrativos basados &8203;&8203;en los cuentos. Este proyecto se llevó a cabo en la clase de 6 º año A de la Escuela Municipal Chico Mendes ubicado en Feira de Santana, Bahia. Con el análisis de los textos recogidos durante los cinco días de actividades se observó que los Cuentos Tradicionales contribuyeron para que los estudiantes desarrollasen el gusto por la lectura y perfeccionasen su Producción Escrita.

Palabras-clave:, Escrita, Lectura, Producción escrita, Cuentos Tradicionales. 1 Graduada em Letras com Espanhol, lucieneaec@gmail.com

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2 Doutora em Educação, Educação e Linguagem - GELING, lucienesantoz@gmail.com INTRODUÇÃO

O ensino de língua materna nas escolas sempre foi um desafio rodeado de questionamentos. Um desses questionamentos diz respeito a como inserir os estudantes na cultura Escrita. O problema se apresenta na abordagem que é dada a essa cultura, como se ler e escrever se resumisse em aprender estruturas gramaticais ou se resumisse em uma forma de avaliação, afastando desse modo o sujeito do mundo da Escrita.

Os professores se deparam todos os dias com questões de como conduzir os alunos ao mundo da Leitura e da Escrita. E os alunos por sua vez possuem inúmeras dificuldades na hora de ler e escrever. São tomados pelo medo de ler ou escrever “errado”, de serem corrigidos pelos professores ou colegas e esse medo muitas vezes é confundido com a falta de interesse em aprender. Assim o ato de ler e escrever, que deveria ser prazeroso e natural, torna-se um momento de tortura e exposição. Diante disso nos perguntamos como tornar o ato de Leitura e Escrita mais dinâmico, significativo e prazeroso? Que ferramentas e caminhos seguir para redimensionar esses atos?

Nessa pesquisa decidimos trabalhar com os Contos Tradicionais, partindo do imaginário e da experiência pessoal de cada estudante para o grande universo dos Contos e dessa forma aproximar o texto a realidade do aluno. Nos Contos Tradicionais encontram-se características parecidas com a realidade linguística dos alunos da escola pública, desde a linguagem aproximada do coloquial até a capacidade disparadora da memória afetiva que permeia seu universo.

Por que trabalhar com os Contos Tradicionais em sala de aula? Será que eles realmente podem funcionar como elemento motivador para a Produção Escrita? Antes de buscar respostas nas teorias vou justificar contando um pouco a história da minha relação com os Contos Tradicionais.

Os Contos Tradicionais entraram na minha vida desde cedo, tive ainda a sorte de ser criada dentro de uma cultura na qual os jovens sentavam nas calçadas a noite para ouvir as histórias contadas pelos mais velhos. Nas noites de verão depois do jantar minha mãe, meus irmãos e eu sentávamos na calçada para ouvirmos “causos”; os principais contadores eram minha mãe, um senhor cego e uma senhora que parecia ter uns 100 anos. Os “causos” mais contados eram os de visagem, contos com um pouco de terror e de cunho religiosos que falam de “almas penadas” e da vida após a morte. O mais interessante nesses contos era que os contadores quase sempre eram os protagonistas.

Essas histórias encantaram minha infância e me serviram de escape para os problemas que estavam ao redor de uma menina de família sertaneja com poucos recursos. Eu sempre queria ouvir mais histórias. Logo descobri que existia um monte delas nos livros, assim que aprendi a ler “comia” contos e mais contos o que alimentava diariamente os meus sonhos. Dos contos fui para histórias maiores e não por coincidência decidi estudar Letras.

Essa experiência é um exemplo de que os Contos Tradicionais estão inseridos no cotidiano do individuo desde o seu nascimento e o acompanham durante toda a sua vida. Ao trabalhar os contos em sala de aula partimos do principio de que o Conto Tradicional já faz parte da realidade dos estudantes. As atividades montadas a partir dos Contos possibilitam uma maior inserção dos alunos ao mundo da Leitura e da Escrita, pois acreditamos que partindo de algo que compõe a identidade deles essa inserção será facilitada.

As atividades com Contos Tradicionais em sala de aula “transversalizam” a Leitura e a Escrita com temáticas que dialogam com essas narrativas: valores, formação de cidadania, formas diferentes de ver o mundo e de pensar sobre ele. O trabalho com os Contos Tradicionais ultrapassam os limites do ensino de Língua Portuguesa se expandindo ao que chamamos de formação integral do ser humano.

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Monográfica, um trabalho feito em conjunto com o Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa. Com esse híbrido pretendeu-se trabalhar na perspectiva da práxis pedagógica na qual, segundo Freire (1983) a teoria trabalha em função da prática e a ação e a reflexão se dão simultaneamente.

METODOLOGIA

A metodologia construída para este trabalho está baseada nos critérios da Pesquisa-Ação. Segundo Kurt Lewin (1946 apud FRANCO, 2005) a Pesquisa-Ação é um processo que envolve três fases: planejamento, que envolve o reconhecimento da situação; Tomada de decisão; E o encontro de fatos sobre os resultados da ação.

Esse trabalho de pesquisa passou por essas três fases. Primeiro uma etapa de observação, reconhecendo a situação e os sujeitos inseridos nela. Nessa etapa foram observadas as dificuldades dos alunos em ler e principalmente escrever nas aulas de Língua Portuguesa. Na segunda fase, tomada de decisão, escolheu-se montar um projeto de intervenção com os Contos Tradicionais, acreditando que eles poderiam servir de elemento desencadeador no desenvolvimento da Escrita desses alunos. Na terceira fase, encontro dos fatos, aplicou-se o projeto de intervenção.

Para a coleta de dados utilizou-se dos seguintes instrumentos de pesquisa: 1. Avaliação das informações dos alunos;

2. A observação; 3. O registro escrito;

4. A análise das atividades escolares.

Todos esses instrumentos foram aplicados e usados dentro do projeto de intervenção. Traçamos como objetivo principal do projeto de intervenção contribuir para que os alunos do 6º ano do ensino fundamental II desenvolvessem o gosto pela Leitura e pela Escrita através dos Contos Tradicionais durante o Estágio Supervisionado de Letras. Com esse objetivo construímos as sequências didáticas que estão divididas por momentos diários que tentam alcançar os objetivos específicos para cada dia.

Concomitante ao objetivo geral do projeto de intervenção criamos o objetivo geral da pesquisa que foi, a saber, investigar se os Contos Tradicionais funcionam como elemento desencadeador da Produção Escrita do aluno do Ensino Fundamental II.

O projeto foi aplicado na turma 6° ano A da Escola Municipal Chico Mendes localizado no bairro Campo Limpo, Feira de Santana, Bahia. Com a experiência durante a semana do estágio e os resultados obtidos podemos afirmar que os contos de fato funcionaram como elemento desencadeador da produção Escrita desses alunos.

2. DISCUSSÃO TEORICA

As discussões sobre o ensino de Língua portuguesa (LP) nas nossas escolas têm sido cada vez mais frequentes proporcionando reflexões, reformulações e inovações sobre tal. Essas discussões são plantadas e direcionadas por educadores e linguistas preocupados com o ensino/aprendizagem de LP e como isso reflete na formação de seus jovens usuários.

Por muito tempo o ensino de LP foi visto apenas como o meio pelo qual os alunos aprenderiam ou memorizariam um grupo de regras gramaticais que supostamente o tornariam um falante e um escritor culto da língua. Esse era voltado para uma gama de conteúdos chamado por Kirst de “arsenal de coisas insignificantes” (KIRST, 1992, p. 10). Essa forma de ensino de LP, tradicional, foi por muito tempo visto como a única e correta maneira de ensinar, era a forma cultuada pela sociedade que esperava que o bom professor a utilizasse.

Kirst critica categoricamente esta forma de ensino e nos chama atenção para uma reflexão a respeito disso.

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conteúdos e atitudes que podem ser considerados relevantes para os interesses dos alunos, e não para a imagem social do professor." (KIRST, 1992, p. 10)

Um ensino de LP voltado para a formação do sujeito comunicativo reza sobre um tripé composto por Leitura, produção de texto e análise linguística que deverá ser trabalhado num contexto no qual o aprendiz se torna o sujeito principal do processo de construção do conhecimento (GERALDI, 1946)

Pelos autores usados aqui como referencia podemos constatar que de fato as discussões em torno do ensino de LP apesar de atuais, não são recentes. A pesar da notável melhora nas aulas de Língua Portuguesa ainda nos encontramos num cenário escorregadio e preocupante. Isso, porque muitos dos estudos e teorias em torno dessas discussões não são conhecidos pelos professores de ensino médio e fundamental e quando conhecidos muitas vezes não são aplicados, denunciando dessa forma que não existe uma harmonia ou cumplicidade entre o que diz a teoria e o que de fato acontece na sala de aula. Diante disso acreditamos que os professores de LP precisam ser também pesquisadores de suas ações. Transformar sua sala de aula no seu campo de pesquisa, alinhando teoria e prática. Dessa forma nos aproximaremos com mais rapidez e eficácia a um ensino de português mais abrangente e coerente com a realidade e a necessidade dos nossos alunos.

O ensino de Língua Portuguesa (LP) nas escolas tem se tornado cada vez mais difícil para os docentes que encaram a atividade como um trabalho árduo e muitas vezes insatisfatório. Por outro lado para os alunos o estudo da língua materna nas escolas não passa de uma chata obrigação na qual eles não conseguem enxergar sua função na vida prática. Esse tipo de ensino da nossa língua materna é para Faraco (1984) uma verdadeira “praga”.

Quando falamos em ensino de LP logo pensamos no desenvolvimento das competências leitoras e escritora. Desenvolvê-las em sala de aula tem sido um dos grandes desafios enfrentados diariamente por professores e estudantes. Diante da dicotomia Leitura e Escrita nos perguntamos: Como tornar o ato de ler e escrever mais prazeroso e natural? É possível que os nossos alunos desenvolvam o gosto pela Leitura e pela Escrita?

A Leitura proporcionada na escola é na maioria das vezes feita de maneira didatizante, quer seja para responder a um questionário, a uma prova ou ainda para analisar personagens ou responder questões gramaticais (FARACO, 1984). A impressão que se tem sobre o ensino da Leitura nas escolas é a de que ele não é feita com o objetivo principal de fomentar o gosto, o prazer, a fruição do aluno pelo ato de ler. Geraldi (1984) defende a Leitura para diversos propósitos e um deles é simplesmente pelo propósito da fruição, “ler por ler”, ler para se deleitar.

Como educadores precisamos proporcionar aos nossos alunos oportunidades de lerem aquilo que os interessa, que foi recomendado por um amigo, que está sendo debatido através de um filme; devemos também mediar momentos de leituras em bibliotecas públicas, sempre que possível, para que possam folhear livros e encontrar o que lhes parece mais interessante. Quando o aluno lê pela “via da fruição” ele faz isso com mais competência e num ritmo de produção ainda maior e cheio de sentidos. Trata-se de uma Leitura de qualidade, pois um aluno que lê muito conhece muito, e esse conhecer vai contribuir para a análise de um livro, para o entendimento das próximas leituras e certamente vai transformá-lo num escritor dinâmico e coerente.

É sobre o processo de Escrita que voltamos mais uma vez nossa atenção. Alunos não gostam de escrever? Faraco explica por que:

Queremos que nossos alunos escrevam, mas não lhes criamos as condições para tal. O processo rotineiro de orientar a redação tem sido mais ou menos assim: damos um titulo ou aumentamos o sofrimento deles, deixando o tema livre e esperamos tranquilos o fim da aula para recolher o produto suado daqueles angustiados minutos. Todos sabemos o quanto nos custava atingir os limites mínimos de linhas. Mas, assim mesmo, continuamos a submeter nossos alunos a essa tortura monstruosa que é escrever sem ter idéias. Consequência: os alunos deixam a escola sem saber redigir, sem ter desenvolvido a capacidade de

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escrever, incapazes de preencher, de modo inteligível, algumas poucas linhas. (FARACO, 1984, p. 19-20) Faraco deixa claro assim que as atividades de Escrita na sala de aula devem ser contextualizadas e significativas para os nossos estudantes e que não podem ser simplesmente propostas de qualquer forma, mas planejadas e direcionadas.

O texto é sem dúvida a melhor forma de aprender e se aperfeiçoar como usuário da língua materna como afirma Marcuschi (2008) o ensino de língua deve dar-se através de textos. Enquanto docentes precisamos pensar e buscar formas de trabalhar o texto em sala de aula para que não se torne uma atividade mecânica e sem sentido para os alunos.

O texto deve ser apresentado aos estudantes como algo especial, interessante, interativo e múltiplo. Especial pela valorização do seu conteúdo e da sua produção; Interessante porque ao escolher um texto devemos pensar se ele se relaciona de alguma forma com os interesses do grupo que estamos trabalhando e de quais formas será significativo para o grupo; Interativo pelo seu potencial de interagir com o leitor abrindo-o novas possibilidades e novos caminhos para seu crescimento como ser humano; E por fim múltiplo porque um texto não se encerra nele mesmo nem numa só idéia. Com apenas um texto é possível listar inúmeras idéias e a partir deles criar muitas outras.

Em suma o trabalho com texto em sala deve ser bem direcionado com atividades que tornem a Leitura e a Escrita significativa e prazerosa para os estudantes. O trabalho com o texto em sala de aula de forma contextualizada é uma importante ferramenta no ensino LP como língua materna.

Nesse projeto escolhemos trabalhar com os Contos Tradicionais por sabermos que eles estão presentes no imaginário de nossos alunos desde sua primeira infância e os acompanham ao longo da vida. Sendo assim acreditamos que os Contos Tradicionais podem servir de elemento desencadeador na produção Escrita dos alunos por potencializar a construção de sentidos nos processos de Leitura e Escrita.

Os Contos Tradicionais fazem parte do imaginário e da cultura popular em todos os cantos do nosso planeta.

A unidade de repertório principal do contador de histórias, portanto, são os contos tradicionais, “obras de arte de tempos imemoriais, transmitidas ao longo dos séculos e das diferentes culturas, oralmente, de geração a geração” (MACHADO, 2004, p.13).Eles pertencem, primeiramente, a cultura de transmissão oral o que lhes proporciona flexibilidade e dinamismo e a capacidade de se incorporar e ser incorporados por outras culturas (MATOS, 2009)

Os Contos Tradicionais conseguem migrar de um povo para outro por causa da sua cultura oral, mas também por possuir uma essência universal. Essa essência permite que os contos viajem por diversas culturas sem perder “os fios”. (CASCUDO, 2004) O pensamento de Matos (2009) dialoga com o de Cascudo, ambos falam do dinamismo dos contos de sua pluralidade e contato com diferentes povos e sua capacidade de se adaptar a culturas diversas, mas sem perder sua essência.

Matos compara o conto, na voz do contador, com o corpo humano. Ela divide o conto em: esqueleto que é a parte fixa do conto, aquilo que não muda. Os músculos que são as imagens do conto. O sangue a respiração que são as intenções que conduzem o conto. E o coração que a mensagem principal do conto. Ao comparar o conto ao corpo humano Matos esclarece as partes compõe a narrativa. E mostra a complexidade e a leveza envolvidas ao conto. Complexidade pelas suas múltiplas partes e significados que cada uma dela pode produzir no contador e no ouvinte. Leveza pela fluidez que todas as partes se integram e interagem, assim como o próprio corpo humano.

A tradição de contar oralmente histórias ultrapassa séculos e gerações sendo difícil definir com precisão dados como data e autoria de tais contos. (SIMONSEN, 1987) Entretanto isso não significa que os contos não possuem uma estrutura e uma razão social, ao contrário, os contos tem se mostrado ser uma importante ferramenta social e cultural ao disseminar valores e costumes dos povos a qual pertencem. Cascudo (2004. pg. 12) comunga do mesmo pensamento de Simonsen ao dizer que “o conto popular

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revela informação histórica, etnográfica, sociológica, jurídica e social. É um documento vivo, denunciando costumes, idéias, mentalidades, decisões e julgamentos”.

Graças aos esforços de muitos compiladores como a exemplo dos irmãos Grimm na Alemanha e de Luís Câmara Cascudo no Brasil de coletar e escrever os Contos Tradicionais, hoje há um grande número deles escritos. Vale ressaltar que muitos contos considerados clássicos e comprados pelas grandes indústrias que trabalham com o universo infantil beberam da fonte dos Contos da tradição oral (SIMONSEN, 1987). Os Contos Tradicionais conquistaram ao longo dos séculos o poder de encantar, entreter e especialmente de educar. Os Contos partem da oralidade e da memória afetiva dos nossos alunos. Eles de alguma forma já tiveram contato com os Contos Tradicionais sejam por meio dos pais, avós, tios, um vizinho, ou seja, dificilmente encontraremos alguém que nunca ouviu um Conto Tradicional (CASCUDO 2004).

O indivíduo naturalmente faz parte da cultura oral e quando se encontra no espaço escolar temos que inseri-lo cada vez mais no mundo da Escrita, desse modo não existe melhor ponto de partida para fazê-lo do que a própria oralidade. Por isso acreditamos que eles podem ser uma importante ferramenta para desencadear a Leitura e a Escrita dos estudantes em fase de desenvolvimento das mesmas.

Com o estudo bibliográfico de autores que defendem um ensino de língua portuguesa contextualizada a exemplo de FARACO, GERALDI e MARCUSCHI. E de outros autores, a exemplo de CASCUDO, SIMONSEN e MATOS que acreditam no uso dos Contos Tradicionais como algo além um recurso didático. Propormos experimentar em sala de aula práticas diversas em que os Contos Tradicionais são uma ferramenta para trabalhar LP com um enfoque comunicativo interacional fugindo do ranço tradicional no qual a gramática é o centro.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta pesquisa foram analisados os textos produzidos pelos alunos do 6° ano A da Escola Municipal Chico Mendes localizado no bairro Campo Limpo, Feira de Santana. Os textos foram coletados por meio da oficina “Contos para encantar”, feita para cumprir o requisito do estágio obrigatório da disciplina Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa sob a orientação e supervisão da professora Luciene Santos Souza. A oficina foi desenvolvida no turno vespertino durante cinco dias, de 9/07/2012 á 13/072012, com a participação média de 25 alunos por dia.

Durante a oficina foram desenvolvidas atividades diversas voltadas para Leitura e Escrita tendo como elemento desencadeador os Contos Tradicionais. As analises foram voltadas para as produções textuais, pois nelas se consegue acompanhar o desenvolvimento da Escrita dos alunos durante a semana. No total foram coletados 85 textos sendo 20 no primeiro dia, 24 no terceiro, 18 no quarto e 23 no quinto dia. No segundo dia de oficina foram realizadas atividades menores de leitura, interpretação e compreensão de texto.

Por meio das análises observamos que houve um avanço na escrita desses alunos entre o primeiro e quinto dia da oficina. Avançaram em todos os critérios analisados. Na Organização Discursiva os alunos apresentaram muitas dificuldades no primeiro texto analisado. Alguns até confundiram o texto narrativo com o descritivo. Na avaliação diagnostica processual percebemos que a partir do segundo texto analisado eles começaram a organizar o discurso de forma mais coerente. Na avaliação diagnóstica de saída observamos que o conceito de organização Discursiva foi absorvido pelos alunos.

No critério Estrutura da Narrativa foi possível observar pelas análises feitas que os alunos possuíam problemas para estruturar o “esqueleto” da narrativa, principalmente o final. Observamos que esses problemas começaram a se resolver a partir do segundo texto da avaliação diagnostica processual. Com avaliação diagnostica de saída constatamos que eles internalizaram a estrutura básica da narrativa.

A Descrição do Cenário foi um critério pouco explorado nos textos. Observamos que os alunos até iniciavam uma descrição, mas não davam continuidade. Acreditamos que isso pode estar relacionado com a faixa etária dos alunos, que são na maioria pré-adolescentes. Nesta fase eles são muito agitados e não

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querem perder tempo em descrever o Cenário, preferem pular para os acontecimentos na sua maioria com muita ação e aventura.

Nos primeiros dois textos analisados observamos que os alunos utilizaram com pouco frequência os Marcadores Temporais. Eles apareceram de forma mais significativa a partir do terceiro texto analisado na avaliação diagnóstica processual, mostrando que os alunos começaram a usar os exemplos contidos nos Contos Tradicionais.

No critério Criatividade e Imaginação percebemos desde os primeiros textos analisados o potencial dos alunos. Com o andamento da oficina esses elementos foram ficando evidentes. Os textos passaram a ter mais situações inusitadas e personagens com alguma complexidade. Estes resultados mostram que é possível tornar o ensino de Língua Portuguesa mais próximo a realidade do aluno e por consequência mais eficaz.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ato de ler e escrever são naturais e significativos para os nossos alunos quando proporcionamos meios para isso. Por conta disso, apostamos em um projeto de intervenção em que levamos para a turma do 6° ano A da Escola Municipal Chico Mendes, localizada no bairro Campo Limpo, Feira de Santana, uma oficina com atividades de Leitura e Produção Escrita com base nos Contos Tradicionais. Durante o desenvolvimento da oficina acompanhamos o desempenho da turma e constatamos que eles escrevem mais e melhor quando motivados por uma idéia inicial ou um exemplo. Não adianta pedi-los que escrevam sobre algo sem antes trazer um modelo, um vídeo ou uma imagem, precisamos instigá-los por meios de idéias e exemplos.

Freinet (2004, p17) ilustra isso com o conto “o cavalo não está com sede”. O conto fala de um rapaz que está hospedado numa fazenda e como forma de agradecimento aos donos ele decide levar o cavalo para o campo. Mas antes resolve dar água ao animal. Primeiro o animal recusa-se em ir ate o bebedouro. Em seguida recusa-se a tomar da água. O rapaz fica furioso e tenta forçá-lo a beber. Não entende porque o cavalo não quer beber da água. Um camponês que por ali passava explica que não adianta forçá-lo. Pela manhã o cavalo não tem sede, precisa somente comer. Depois ele terá sede e seguirá sozinho até o bebedouro para se fartar de água. Assim não adianta forçar os alunos para que produzam um resultado, como escrever um texto. Precisamos criar um ambiente educativo que desperte “a sede” para que eles mesmos tenham o desejo de ir ao “bebedouro”.

As atividades com os Contos serviram como um elemento instigador para a Escrita desses alunos. Com os Contos foi possível envolvê-los nos momentos de contação de história com total concentração por parte deles. Motivá-los a ler textos sem reclamar, a criar e recontar histórias dando vazão a sua imaginação. Levá-los a refletir sobre os valores transmitidos pelos Contos. A exemplo da sabedoria passada pelo conto o “Rapaz e o reino distante” que contribuiu para que a turma percebesse que trabalhar em cooperação, usando o que há de melhor em cada pessoa, produz bons resultados. Dessa forma podemos afirmar que os Contos Tradicionais, durante a aplicação do projeto de intervenção, cumpriram com seu papel milenar de educar.

Ter vivenciado as experiências da aplicação do projeto de intervenção na Escola Municipal Chico Mendes, me fez refletir sobre o Estágio Obrigatório Supervisionado que é indispensável para nós enquanto estudantes de licenciatura, já que para alguns é a primeira experiência como regente em sala de aula. Ele nos oportuniza a ver como está acontecendo à prática educacional e qual é o nosso papel nessa prática. O estágio nos Cursos de Licenciatura em Letras na UEFS se dá apenas no último semestre. O que pode ser analisado por duas vertentes. Primeira que os alunos estagiando no último semestre já passaram por todas as teorias que os ajudarão na prática. Mas por outro lado perde-se a oportunidade de trabalhar teoria e prática de forma concomitante além de deixar o tempo reservado ao estágio muito curto. Um tempo maior para o estágio poderia, por exemplo, ter proporcionado um amadurecimento maior no desenvolvimento desse projeto.

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O projeto de intervenção foi aplicado na turma do 6° ano A da Escola Municipal Chico Mendes localizado no bairro Campo Limpo próximo a Universidade Estadual de Feira de Santana. Este contato entre universidade e comunidade permite a aplicação direta do que está sendo produzido dentro da universidade pública nas escolas campos.

A ponte entre O Estágio Supervisionado de Língua Portuguesa e O Trabalho Monográfico proporcionou-me vivenciar uma experiência na qual o professor em formação é também agente pesquisador e interventor da sua prática. Estas atividades de pesquisa e ação certamente contribuíram para o amadurecimento da minha prática enquanto pesquisadora e professora.

REFERÊNCIAS

CLEMENTE, E. e KIRST, M. H. (organização) Linguística aplicada ao ensino do português. 2 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1992, p.127-143

FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia da Pesquisa-ação. Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 31, n. 3, p. 483-502, set./dez. 2005.

FREINET, Célestin. Pedagogia do bom senso. Tradução de J. Baptista. 7 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

GERALDI, João Wanderlei. Portos de passagem. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993. JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

JOLIBERT, Josette. Formando Crianças Produtoras de Textos Vol. II. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

MACHADO, Regina. Acordais: fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias. São Paulo: DCL, 2004.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 9 ed. São Paulo: Cortez, 2008.

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

MATENCIO, Maria de Lourdes Meireles. Leitura, produção de textos e a escola. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1994.

SIMONSEN, M. O conto popular. Tradução de Luís Claudio de Castro e Costa. São Paulo: Martins Fontes, 1987.

Referências

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